O BRASIL DOS MORROS: AS EXPRESSÕES COTIDIANAS ATRAVÉS DA MÚSICA NO RIO DE JANEIRO CONTEMPORÂNEO. Reginaldo Aparecido Coutinho (PIBIC/CNPq-UEL), Silvia Cristina Martins de Souza (orientadora), e-mail: [email protected]. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA/DEPARTAMENTO DE LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS/LONDRINA, PR. Ciências Humanas / Área: História / sub-área: História do Brasil Contemporâneo. Palavras-chave: História, Cultura, Funk Carioca, Manifestação Artística. Resumo: Este trabalho busca traçar um perfil da manifestação cultural conhecida como Funk Carioca no Rio de Janeiro contemporâneo, além de apreender as questões de espaço geográfico e alcance social e cultural que esse estilo musical provoca no cenário artístico musical contemporâneo. Introdução O presente artigo visa apresentar os resultados do projeto de pesquisa de iniciação científica, vigente desde janeiro de 2009, cujo título é O Brasil dos morros: As expressões cotidianas através da música no Rio de Janeiro contemporâneo. Este trabalho, em linhas gerais, consiste em realizar um estudo histórico sobre o Funk no Rio de Janeiro, procurando entender suas raízes, desdobramentos e a forma como esta manifestação cultural é hoje vivenciada por seus adeptos. O Funk Carioca, como o vemos hoje, teve sua origem, tal qual o samba, nos morros carioca – periferias de grandes cidades - e desceu pra o “asfalto” onde hoje tem grande repercução e é criticado. No entanto, a grande influência para a criação desta cultura musical, foi a música negra americana, para ser mais específico o soul music de James Brown. O tema por nós abordado contém uma bibliografia ainda pautada pela Ciência Social e Antropologia, sendo que esta manifestação sócio-cultural denominada Funk Carioca ou “Rap de Morro”, como o antropólogo Hermano Vianna autor dos livros "O Mistério do Samba" e "O Mundo Funk Carioca" a denomina, ainda é pouco estudada e aprofundada pelos historiadores, e é por esta razão que escolhemos o nosso objeto de estudo. Materiais e métodos Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Primeiramente, é fundamental mencionar que a pesquisa se pautou na leitura, fichamento e discussão de textos acadêmicos e jornalísticos que tratam do funk, bem como de textos teóricos, sob a perspectiva da História Social, na medida em que ela nos fornece suporte para entendermos as tensões e conflitos que atravessam as experiências dos sujeitos históricos que aderem a esta manifestação cultural e as críticas que tem gerado. O método aqui adotado consistiu basicamente em localizar, reunir, ler, comentar e sistematizar artigos, teses, dissertações que tratassem do funk carioca. Estes artigos foram a princípio separados em dois grupos: artigos de periódicos: que forneciam dados sobre o que os diferentes grupos sociais e os próprios adeptos do movimento pensam sobre este; e os artigos acadêmicos: que trazem no seu conteúdo uma visão academicista sobre o movimento. Está divisão foi de fundamental importância para a pesquisa, pois nos possibilitou entender dentro da história social as diversas nuanças e enfoques que são atribuídos à manifestação artística cultural denominada Funk Carioca. Bem como, nos elucidaram sobre como são caracterizados e elaborados os ataques e as defesas ao movimento. Resultados e Discussão O Funk Carioca, como é conhecido mundialmente, no Brasil, dentre muitas outras variações para denominá-lo, é chamado de Funk do Rio. Ele é uma manifestação artística, pois se trata de um estilo de música desenvolvida para a dança, e ao mesmo tempo é uma manifestação socio-cultural, pois apresenta questões que não se pautam somente no entretenimento de seus adeptos, mas também na possibilidade de dar voz e visibilidade a uma classe social que historicamente é marginalizada geográfica e socialmente no Brasil – a classe pobre das favelas nos morros carioca. O termo funk não faz jus ao tradicional Funk norte americano lançado em 1967 por James Brown. No entanto, não devemos negar a influência da música negra norte americana na origem do Funk do Rio, tendo em vista que compositores brasileiros como Genival Cassiano, Toni Tornado, Tim Maia dentre outros, recriaram e incorporaram o soul music que embalava as discotecas do inicio dos anos 1970, para dar início ao que podemos classificar como funk brasileiro. Os primeiros bailes funk do Rio de Janeiro aconteceram em quadras de escolas de samba, tal qual a Portela e o Império Serrano, e em clubes como Os Magnatas, Astória Futebol Clube e Renascença, organizados pelas, também criadas na década de 1970, equipes de som como a Soul Grand Prix e a Furacão 2000. A influência da música norte americana é nítida já no título da primeira equipe de som mencionada, que pode-se dizer sem sombra de dúvidas que era a mais proeminente desta época. Estes bailes eram realizados com vitrolas hi-fi e com o crescimento das equipes de som é que os equipamentos para um melhor som e um melhor alcance foram sendo adquiridos. Sua finalidade era introduzir no cenário musical o Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. movimento de afirmação da negritude conhecida como Black Rio. Não podemos negar também aqui a influência negra no funk brasileiro como no Funk norte americano. Somente a partir da década de 1980 é que com a influência de um novo ritmo proveniente da Florida-EUA com uma batida mais acelerada e com músicas mais erotizadas, o Miami Bass, é que se começa a reconhecer uma produção do Funk Carioca como o temos hoje. Foi nos anos de 1990 que o Funk Carioca toma projeção nacional sob duas vertentes: uma que se trata de maneira a falar a uma classe específica que raramente se desmembra em duas, a pobre e negra; e outra a problematização social feita para o funk até os dias de hoje. Conclusões É impossível falar sobre o Funk Carioca sem falar de lutas de classes no cenário brasileiro. Em se tratando de cultura, seja ela musical ou não, estas lutas se tornam ainda mais evidentes. Nos anos 90, no Brasil, a juventude se dividia em no mínimo duas classes sociais, a pobre e a classe média, e cada qual se identificava com uma vertente diferente do hip-hop: a classe média com o Rock, e a classe pobre com o funk, tendo em vista que este último gênero musical evidenciava o cotidiano e o descaso com a classe e a etnia de seus adeptos. Fora justamente os adeptos do movimento Funk, também conhecidos como funkeiros atualmente, que durante os anos 90 lançaram tentativas bem sucedidas de divulgar os bailes funk e se inserirem no cenário musical. Em contra partida, o Funk, assim como o hip-hop em geral, com a dimensão que começara a ganhar na década de 1990, fora duramente atacado e classificados como meio de recrutar jovens, por parte dos grandes traficantes de drogas, para a vida do crime e do vício. Isso se deu pela grande aceitação por parte da juventude brasileira como um todo a estas manifestações culturais. Agradecimentos Agradeço em primeira mão a minha orientadora Silvia Cristina Martins de Souza pela amizade e apoio nos momentos de realização deste trabalho. Aos amigos da graduação que tornam a vida acadêmica mais agradável e que me incentivaram para a realização deste projeto: Lorena de Paula Balbino, Ingrid Carolina Ávila, Yasmin Carli Albino, Pauline Bitzer Rodrigues, Lahís Moreno, Luiz Fernando dias Lopes e Rafael Aparecido Monpean. Bem como ao meu companheiro e amigo Pedro Luiz Lopes de Oliveira e aos meus pais pela compreensão e paciência ao longo dos estudos para que tudo isso fosse possível. A todos o meu reconhecimento e gratidão. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Referências COELHO, T. O que é Industria Cultural. São Paulo: Editora Brasiliense, 11ª edição, 1988. MAXX, M. As minas do Rei Salomão: Uma viagem ao reino de Mr. Catra. São Paulo: Revista SOMA, nº11, 2009, pp 18-23. MORAES, J. M. V. Polifonia na metrôpole: história e música popular em São Paulo. São Paulo: Revista Tempo, nº 10, 2000, pp 39-62. NAPOLITANO, M. WASSERMAN, M. C. Desde que o samba é samba: a questão das origens no debate historiográfico sobre a música popular brasileira. São Paulo: Revista Brasileira de História, V 20, nº 39, 2000, pp 167-189. VIANNA, H. O movimento funk. In Herschmann,M. (org) Abalando os anos 90: Funk e Hip-Hop: globalização, violência e estilo cultural. Rio de Janeiro, ROCCO, 1997, pp18-19. YÚDICE, G. A funkificação do Rio. In Herschmann,M. (org) Abalando os anos 90: Funk e Hip-Hop: globalização, violência e estilo cultural. Rio de Janeiro, ROCCO, 1997, pp 24-48. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.