O Globo, 3 de dezembro de 2015 Acolhimento de pedido de impeachment e paralisia no Congresso preocupam setor de petróleo Professor diz que problemas do segmento no país são maiores do que no mundo por Ramona Ordoñez RIO - A indústria do petróleo brasileira, que já estava preocupada com seu futuro diante da redução de investimentos da Petrobras atingida pela Operação Lava-Jato, que também atingiu fornecedores, ficou mais temerosa ainda com o acolhimento, pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. a preocupação é clara no Seminário Sobre o Futuro da Indústria do Petróleo, em realização na Firjan, no Rio, promovido pela Organização Nacional das Indústrias do Petróleo (Onip). — O impeachment significa mais crise política por mais algum tempo. E o setor de petróleo no Brasil precisa de decisões importantes porque a crise do setor petrolífero no Brasil é maior do que a crise do setor de petróleo no mundo — disse o professor Edmar Almeida, do Grupo de Estudos da Economia da Energia do Instituto de Economia da UFRJ. Segundo ele, enquanto os investimentos do setor petrolífero caíram em torno de 26% no mundo neste ano, a Petrobras cortou investimentos em 42% neste ano. E ano que vem os cortes serão maiores. Ele afirma que o setor precisa aumentar o nível dos investimentos e a Petrobras não tem condições. Por isso é preciso resolver uma série de entraves para permitir maiores investimentos privados. — A crise política por que o país está passando dificulta a tomada de decisões importantes para o Brasil. São decisões urgentes que tem que vir para dar um encaminhamento mais seguro para o ajuste da Petrobras e em segundo lugar poder atrair investimentos privados para o setor — destacou Almeida. O professor citou a questão da obrigatoriedade de a Petrobras ser operadora única nos campos do pré-sal e as questões relativas ao conteúdo local como algumas questões regulatórias que dificultam maior participação do setor privado nos investimentos. NOVO LEILÃO A crise no Congresso Nacional, deixando de discutir temas importantes para a economia, também foi o maior temor demonstrado por empresários e executivos que estão participando do seminário. O secretário-executivo do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), Antônio Guimarães, destacou sua preocupação em relação a uma provável paralisia do Congresso de discutir temas importantes para a indústria do petróleo como o fim de a Petrobras ter que ser operadora única nos campos do pré-sal e a questão de conteúdo local. — Precisamos pensar como isso vai impactar a nossa agenda de reivindicações. Minha preocupação é numa certa paralisia do Congresso em não pensar em outra coisa senão sobre o impeachment e isso pode atrasar discussões como a questão do operador único. até porque está se falando eventualmente em um leilão de áreas de unitização — destacou Guimarães. Segundo ele, no leilão, cerca de 20 áreas estão em discussão sobre a unitização que têm reservas estimadas iguais ao campo de Libra no pré-sal, entre 8 bilhões e 12 bilhões de barris de petróleo. Por isso, afirma, é importante o setor de petróleo destravar os vários problemas que hoje inibem os investimentos privados. O processo de unitização vem sendo discutido na Agência Nacional do Petróleo (ANP) em conjunto com a PPSA, estatal de petróleo que coordenará a exploração de petróleo no pré-sal. — Hoje existem recursos descobertos que precisam fazer o processo de unitização, e que são do tamanho de Libra. São mais de 20 acumulações que precisam passar pelo processo de unitização. E provavelmente a gente terá um leilão ano que vem de pré-sal para destravar esses investimentos — destacou Guimarães.