LUPUS 1. O que é o Lúpus Eritematoso Sistêmico? O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença auto imune (o próprio organismo se volta contra ele) caracterizada por uma inflamação generalizada crônica e difusa em todo o corpo. Pode acometer alguns ou vários órgãos e sistemas do corpo, tais como: pele, articulações, rins, sangue, coração, pulmões, sistema nervoso, sangue, vasos, entre outros. Este pode afetar qualquer órgão do corpo. Porém, as manifestações clínicas iniciais mais freqüentes do LES são febre prolongada, falta de apetite, perda de peso, problema nas juntas, na pele e nos rins. 2. É uma doença freqüente? A verdadeira incidência do lupus é desconhecida em nosso país. Dados provenientes de países da América do Norte indicam que cerca de 0,3 a 7,0 em cada 100.000 crianças e adolescentes têm essa doença. Há um predomínio do sexo feminino, em todas as faixas etárias, sendo que após a adolescência é de 8,0 a 13 vezes mais freqüente no sexo feminino. 3. O que causa o Lúpus Eritematoso Sistêmico? A causa ainda não é conhecida. Fatores desencadeantes hormonais (estrógeno), imunológicos, genéticos, infecciosos (vírus, bactérias, etc), emocionais, medicamentos (como anticonvulsivantes, hidralazina, isoniazida, etc) e ambientais (luz ultravioleta) podem estar envolvidos. Acredita-se que um componente genético predispõe o indivíduo a responder inadequadamente e exacerbadamente aos fatores desencadeantes. Como conseqüência, o indivíduo produz anticorpos direcionados contra seus próprios tecidos (os auto-anticorpos, como FAN, anti-DNA, anticorpos anti-fosfolípides, etc), por isto esta é conhecida como uma doença autoimune. Esses autoanticorpos vão se depositando em vários órgãos e com o evoluir da doença pode haver um progressivo comprometimento da sua função. O Lúpus não é uma doença infecto-contagiosa e os pacientes podem (e devem) freqüentar normalmente trabalho, creches, escolas, clubes, danceterias e piscinas quando a doença estiver controlada. 4. Há diferenças entre o Lúpus Eritematoso Sistêmico da criança ou adolescente e do adulto? O lúpus da criança e do adolescente, embora seja mais raro, apresenta basicamente as mesmas características do lúpus do adulto. Do total de pacientes com Lúpus, 20% se encontram na faixa etária pediátrica (até 16 anos) enquanto 80% manifestam a doença após os 17 anos. A principal diferença entre a doença do adulto e a juvenil se dá no comprometimento renal, mais freqüente e com formas mais graves na forma juvenil. O diagnóstico e o tratamento são parecidos com o lúpus do adulto. 5. Como se diagnostica a doença? O diagnóstico do LESJ baseia-se nos critérios estabelecidos pelo Colégio Americano de Reumatologia de 1997 (Tabela 1). Para o diagnóstico de LESJ é necessária a presença de quatro ou mais dos 11 critérios. Ainda existem poucos exames laboratoriais específicos para esta doença. Nos casos de dúvida diagnóstica, a opinião e o seguimento com um especialista podem ser de grande auxílio. Tabela 1 - Critérios para classificação do Lúpus Eritematoso Sistêmico do Colégio Americano de Reumatologia (Hochberg et al, 1997) Critérios 1. Eritema malar (vermelhidão nas maças do rosto) 2. Lupus discóide (lesão que deixa cicatriz) 3. Fotossensibilidade (sensibilidade ao sol) 4. Úlcera de mucosa oral ou nasal 5. Artrite não erosiva (inflamação nas juntas) 6. Serosites (pleurite e/ou pericardite) 7. Alterações renais (proteinúria superior a 500 mg/dia e/ou presença de cilindrúria) 8. Alterações neurológicas (convulsão e/ou psicose) 9. Alterações hematológicas [anemia hemolítica e/ou leucopenia (menos que 4.000/mm 3) e/ou linfopenia (menos que 1.500/mm 3) e/ou plaquetopenia (menos que 100.000/ mm 3) 10. Alterações imunológicas [presença de anticorpos antifosfolípides (anti-cardiolipina IgM ou IgG e/ou anti-coagulante lúpico e/ou reações sorológicas falsamente positivas para sífilis) e/ou anticorpo anti-DNA e/ou anticorpo anti-Sm] 11. FAN positivo 6. Quais as manifestações, os órgãos e os sistemas mais acometidos no Lúpus? A característica principal do LES é o acometimento vários órgãos e sistemas, com várias formas de apresentação. Portanto, cada caso é único e deve ser individualizado. O início dos sintomas pode ocorrer vagarosamente ou se apresentar já nas primeiras semanas da doença com manifestações clínicas súbitas e graves, com qualquer órgão acometido. É uma doença de evolução imprevisível, possui caráter crônico com períodos de melhora e piora das manifestações. As principais manifestações iniciais do LES compreendem febre prolongada, redução do apetite, perda de peso, comprometimentos articular, da pele e dos rins. Adenomegalia (gânglios ou ínguas aumentados) localizada ou generalizada ocorre em até 50% dos pacientes. Hepatomegalia (aumento do fígado) e esplenomegalia (aumento do baço) discretas a moderadas estão presentes por volta de 30 a 40% dos casos. As dores nas juntas, músculos e ossos são vistos em até 88% dos casos com LESJ. As lesões de pele e mucosa no LES podem se apresentar de diversas formas incluindo mancha vermelhas nas bochechas, feridas na boca e nariz, púrpura palpável, urticária, eritema polimorfo, vermelhidão palma e planta pés, livedo reticular, nódulos, lúpus discóide e lesões bolhosas. O envolvimento renal (nefrite) no LES é precoce, geralmente nos primeiros dois anos da doença, e bastante freqüente. As alterações no exame de urina são variadas podendo ocorrer sangramento e/ou perda importante de leucócitos e proteínas (hematúria, leucocitúria ou proteinúria). Os pacientes podem também apresentar hipertensão arterial, inchaço e insuficiência renal Os envolvimentos do sistema nervoso e psiquiátrico mais freqüentes são: dor de cabeça de forte intensidade (como enxaqueca), convulsão, distúrbios do comportamento (alucinações, depressão, etc) , raramente derrame (AVC) e coma. O comprometimento do sangue pode-se manifestar com redução das plaquetas, anemia hemolítica (redução por destruição das hemácias), redução dos leucócitos e redução dos linfócitos. O comprometimento dos pulmões no LES é geralmente inicial o mais comum é a pleurite (com ou sem “água no pulmão”) 7. Qual o tratamento do Lúpus Eritematoso Sistêmico? Uma boa relação entre médico, paciente e familiares é importante para o sucesso desse tratamento, uma vez que a sua duração é prolongada. Este deve ser sempre individualizado e é fundamental a educação sobre a doença e bons hábitos de vida. A nutrição deve ser balanceada com restrição de sal para os hipertensos e pacientes em uso de corticosteróides, e restrição de sal e proteína para os pacientes em insuficiência renal. Os esportes e atividades de lazer são indicados sempre que a doença estiver controlada. O protetor solar com Fator de Proteção Solar (FPS) igual ou superior a 15, deve ser indicado em todos os pacientes e aplicados 30 minutos antes da exposição solar, mesmo em dias nublados, com reaplicação após 4 horas. Os corticosteróides (como prednisona e prednisolona) e os anti-maláricos (cloroquina e hidroxicloroquina) são os medicamentos iniciais de escolha para uso em pacientes com lúpus. A pulsoterapia endovenosa com metilprednisolona é utilizada em situações de gravidade no lúpus Outros medicamentos podem ser utilizados no controle dos pacientes com LESJ, habitualmente os que não respondem aos corticosteróides e anti-maláricos, e variam de acordo com o órgão ou sistema envolvido. As medicações mais utilizadas são: pulsoterapia endovenosa com ciclofosfamida, metotrexate, azatioprina, micofenolato mofetil, ciclosporina, talidomida, dapsona, rituximabe (anti-CD20), entre outros. 8. Quanto tempo dura o tratamento do Lúpus? É muito variado e depende do órgão ou sistema acometido. Habitualmente, o tratamento continua por muitos anos. O uso de álcool e fumo deve ser evitado. Muitos adolescentes são “inconformados ou rebeldes” ao tratamento e devem ser conscientizados quanto à importância do uso contínuo de medicamentos pelo risco de morte na suspensão destes. A responsabilidade, que sempre é dos pais ou responsáveis até os 18 anos de idade, deve ser transferida gradualmente ao paciente de maneira firme e segura. 9. Como é a evolução dos pacientes com Lúpus? Com o diagnóstico precoce e uma abordagem terapêutica mais eficiente, a evolução do paciente com LES melhorou muito e as crianças estão se tornando adolescentes e adultos com boa qualidade de vida física e mental. Hoje, um paciente com LES tratado adequadamente tem grande possíbilidade de se tornar um portador de uma doença crônica controlada.