FERNANDA MACHADO-PSICO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
FERNANDA MACHADO
GRUPO DE APOIO AOS FAMILIARES DE PACIENTES PORTADORES DE
TRANSTORNOS MENTAIS
FLORIANÓPOLIS (SC)
2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
FERNANDA MACHADO
GRUPO DE APOIO AOS FAMILIARES DE PACIENTES PORTADORES DE
TRANSTORNOS MENTAIS
Monografia apresentada ao Curso de Especialização
em Linhas de Cuidado em Enfermagem – Opção
Atenção Psicossocial do Departamento de
Enfermagem da Universidade Federal de Santa
Catarina como requisito parcial para a obtenção do
título de Especialista.
Profa. Orientadora: Giovana Dorneles Callegaro
Higashi
FLORIANÓPOLIS (SC)
2014
FOLHA DE APROVAÇÃO
O trabalho intitulado Grupo de apoio aos familiares de pacientes portadores de
transtornos mentais de autoria do aluno FERNANDA MACHADO foi examinado e
avaliado pela banca avaliadora, sendo considerado APROVADO no Curso de
Especialização em Linhas de Cuidado em Enfermagem – Área Atenção Psicossocial.
_____________________________________
Profa. Dra. Giovana Dorneles Callegaro Higashi
Orientadora da Monografia
_____________________________________
Profa. Dra.Vânia Marli Schubert Backes
Coordenadora do Curso
_____________________________________
Profa. Dra.Flávia Regina Souza Ramos
Coordenadora de Monografia
FLORIANÓPOLIS (SC)
2014
DEDICATÓRIA
Dedico este projeto aos Familiares de Portadores de Transtorno Mental, que sofrem
tanto ou até mais que seus entes, devido à agonia das incertezas, a impotência perante a
doença e as descriminações sofridas.
Este projeto só se tornou viável devido a estas pessoas.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, pessoas simples e humildes, que me ensinaram valores éticos e
morais, que levarei por toda minha vida. A eles que foram meus primeiros grandes
mestres.
A meu noivo Vitor, companheiro de todas as horas que sempre tem uma palavra de
apoio nos momentos necessários.
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO..........................................................................................................08
2 FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA............................................................................10
3
MÉTODO....................................................................................................................1
3
4 RESULTADO E
ANÁLISE......................................................................................16
5 CONSIDERAÇÕES
FINAIS....................................................................................22
REFERÊNCIAS...........................................................................................................2
4
APENDICES.................................................................................................................2
6
ANEXOS........................................................................................................................31
RESUMO
A assistência aos familiares de pacientes portadores de doenças mentais é tão importante
quanto à própria assistência do paciente. A criação de grupos de apoio a estes familiares,
além de contribuir para a terapia do paciente, cria um vínculo importante e primordial
com a equipe. O objetivo deste estudo é criar um grupo de apoio á familiares de pacientes
que freqüentam uma unidade de saúde que presta atendimento a saúde mental no
município de Imbé, litoral norte do Rio Grande do Sul. Gerando a possibilidade de
mudança, referente ao convívio, aceitação da patologia e ressocialização do paciente. A
metodologia utilizada para aplicação do plano de ação foi passeada em uma pesquisa
convergente assistencial, a ênfase foi proposta a partir de uma tecnologia da educação.
As análises dos resultados basearam-se em três dimensões: A interferência da doença na
vida familiar, a importância da inter-comunicação entre profissionais e familiares e
pacientes com transtornos mentais, desafios e perspectivas para a atuação
multiprofissional com pacientes com transtornos mentais, além de um plano de ação. A
experiência de construir um projeto como este, me proporcionou uma experiência única.
O poder compartilhar experiências, vivenciar o cotidiano, foi muito além do que eu
imaginava.
Palavras chaves: Grupo de apoio, Transtorno mental, saúde mental.
1 INTRODUÇÃO
A arte do cuidado remonta a pré-história, desde os primórdios desenvolvemos um
senso de cuidado essencial para nossa existência, sendo este instintivo ou técnico. Porém,
nem todas as pessoas estão preparadas para prestar assistência, principalmente quando
esta é uma patologia onde os sinais, muitas vezes não são visíveis e de pouca
compreensão.
Tendo em vista que, as unidades de saúde se dinamizam por um trabalho de
natureza inter - relacional, envolvendo aspectos objetivos e subjetivos de quem cuida e
de quem é cuidado, seu aprimoramento requer a consideração dos aspectos que definem
e compõem a ideia de cuidado.
Neste sentido, a assistência aos familiares de pacientes portadores de doenças
mentais é tão importante quanto à própria assistência do paciente. O entendimento da
doença, causas e sintomas, além de desmistificar a patologia é de extrema valia para o
sucesso da terapia.
Grande parte dos familiares quando se deparam com diagnostico de doença mental
e a partir daí começam a “cuidar” desta pessoa, além do surgimento de inúmeras duvidas,
por vezes, acabam “adoecendo”, por frustrações, sobrecarga e falta de apoio da equipe
assistente.
No município em que resíduo, possuímos uma Unidade de Saúde Básica de Saúde,
onde é prestado atendimento aos pacientes portadores de transtornos mentais, mas não é
um Centro de Atenção Psicossocial (CAPs), porém possui grupos terapêuticos já
formados, oficinas e um suporte de apoio profissional invejável.
A importância deste estudo se baseia em modificar uma realidade onde não há
auxílio aos familiares, coma criação de um grupo de apoio aos familiares dos pacientes
com transtornos mentais, pois estes sofrem tanto ou mais do que os próprios pacientes,
uma vez que, sentem-se impotentes perante a doença. Além disso, em alguns casos,
ocorrem preconceitos e mistificações, em torno do tratamento e condutas terapêuticas.
A criação de grupos de apoio a estes familiares, além de contribuir para a terapia
do paciente, cria um vínculo importante e primordial com a equipe. Viabiliza não apenas
um cuidado ímpar e especializado, mas possibilita maior compreensão e entendimento
sobre a patologia e os cuidados de saúde que permeiam o viver dos sujeitos envolvidos.
8
O objetivo deste estudo é criar um grupo de apoio á familiares de pacientes que
freqüentam uma unidade de saúde que presta atendimento a saúde mental no município
de Imbé, litoral norte do Rio Grande do Sul. Gerando a possibilidade de mudança,
referente ao convívio, aceitação da patologia e ressocialização do paciente.
9
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Anterior à reforma psiquiátrica, os familiares de portadores de transtornos mentais,
possuíam vínculo antagonista ao cuidado do paciente, este era mediado unicamente ao
cuidado médico, encarregado pela cura, custodia e assistência (BORBA et al, 2008).
A partir do advento da desinstitucionalização, com a reforma psiquiátrica, a
ressocialização dos pacientes, a presença da família como apoio e forma de assistência,
se tornou primordial. A família passa a ser cuidadora, sendo integrado ao contexto do
cuidado (GONÇALVES, LUIS, 2010).
Borba et al (2008) descreve que com a reformulação da assistência psiquiátrica, a
família surge como cuidador e responsável pela ressocialização do paciente. Por isso, a
importância do conhecimento da equipe com o universo familiar.
Nesta perspectiva, Melmann (2008), ressalta que atualmente, a sobrecarga familiar
atinge um novo conceito, sendo este, definido pelos encargos econômicos, físicos e
emocionais, a que estes estão submetidos. E, o quanto isso fica mais aparente e
somatizado, quando esta família se depara com transtorno mental, representado por vezes,
como peso material, subjetivo, organizativo e social.
A inter-relação entre familiares e portadores de transtorno mental implica em
sobrecarga caracterizada por problemas no relacionamento, estresse devido à
instabilidade de humor, dependência do paciente (BORBA et al, 2008).
Gonçalves, Luis (2010) ressaltam acerca dos anseios dos cuidadores, observando
os altos níveis de ansiedade, proveniente das oscilações dos portadores de transtornos
mentais, além de descreverem problemas relacionados a medicação e ao estigma social
que as patologias possuem.
Silva (2000) relata que cuidar, era prestar atenção nas pessoas e fazer por elas o
que estavam precisando no momento, com o que ele estivesse na mão, ou seja, nem
sempre era de medicação que necessitavam. Na maior parte do tempo, elas precisavam
de atenção, de carinho e de uns sorrisos amistosos, solidários, em suma, de um
atendimento humano.
Assim como os familiares, as equipes profissionais, também necessitam de apoio,
por parte da família. Auxiliar no gerenciamento da vida cotidiana, dos pacientes alivia o
peso dos encargos, facilita a cooperação e diminui os estressores em crise. Possibilitando
uma maior qualidade de vida a todos os envolvidos (MELMAN, 2008).
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As unidades de saúde, especializadas na assistência de portadores de transtornos
mentais tem o dever de incluir planos de ação que utilizem como foco principal os
familiares e cuidadores destes pacientes, para estes possam desenvolver formas de
ressocialização (BORBA et al, 2008).
Santin e Klafke (2011) destacam que após a implantação de serviços especializados
em saúde mental, as principais mudanças estão relacionadas com a cidadania dos
usuários, a desmistificação da loucura perante a comunidade e a valorização da inserção
dos familiares no tratamento.
Para Deslandes (2004) na visão do paciente, as formas do atendimento, a
sensibilidade do profissional em compreender suas necessidades, suprem outros fatores
de deficiência da instituição, por exemplo, a falta de medicamento, espaço físico e até
mesmo o tempo de espera para o atendimento.
Pois, segundo Andrade e Donelli (2004), as principais queixas nos atendimento,
na visão dos pacientes são: dificuldade de cuidado global ao doente, dificuldade de
construir uma relação amistosa com a equipe de saúde e dificuldade de criar formas de
abordagem aos pacientes crônicos.
Desta forma, Borba et, al. (2008), enfatiza que a equipe, o usuário e a família
juntos, podem alcançar formas e estratégias que auxiliem em uma melhor assistência
através da interação e vínculo.
Para Melman (2008), o adoecimento mental abala toda estrutura familiar. Abalo
este gerado pela representação de falha do sistema familiar, que reflete em uma
impotência. Ainda, ressalta que a importância dos familiares conhecerem a patologia,
ajuda na interação e gerenciamento da sua vida cotidiana com o paciente, facilita o
processo de cooperação e diminui os fatores de estresse existentes em momentos de crise,
além de melhorar a qualidade de vida de ambos.
Para Munari e Godoy (2004), o atendimento ao usuário é um processo único e
pessoal, que depende da relação profissional x paciente, que é caracterizado pela
instituição em que ela se dá. Para que exista um atendimento satisfatório devem-se
respeitar as diferenças presentes nas relações humanas.
Desta forma Melman (2008) citado por Santin e Klafke (2011), enfatiza que os
grupos de familiares podem acontecer de forma a acolher, através das experiências
vividas pelos participantes, gerando um estimulo, sendo este, uma nova ferramenta para
lidar com os problemas, assim como ampliando o vínculo com os profissionais que
prestam assistência.
11
Todavia, para Minayo (2004) a formação dos profissionais de saúde,
principalmente da equipe de enfermagem, continua marcada pela hierarquia habitual, que
tratam o doente como um corpo funcional, somente como um dispositivo bioquímico.
Como isso, persiste o menosprezo e indiferença ao cliente, sendo está consciente ou
inconsciente. Porém, em tese, esta formação atualmente passa por esforços do projeto de
integralidade e de humanização.
12
3 MÉTODO
A metodologia utilizada para aplicação do plano de ação foi baseada em uma
pesquisa convergente assistencial. Esta implica segundo Trentini e Paim (2004), em uma
orientação para minimizar ou resolver um problema, realizar ou introduzir uma mudança
nas práticas de saúde.
A ênfase foi proposta a partir de uma tecnologia da educação, onde o produto é o
próprio projeto e o plano de ação desenvolvida. Para Niestche (2000) e Prado et al. (2009),
a tecnologia da educação tem o poder de proporcionar formas de auxiliar a construção de
uma consciência para um vida saudável. É importante ressaltar que a pesquisa
convergente assistencial, não é um método definitivo, este pode sofrer alterações em sua
estrutura e forma durante o trajeto da pesquisa.
O estudo iniciou a partir de uma solicitação ao Secretário de Saúde do Município
de Imbé, (Apêndice I), e autorização do mesmo (Anexo I). O estudo baseou-se na criação
de um grupo de apoio aos familiares dos pacientes portadores de transtorno mental, que
são atendidos na unidade de saúde. Esta unidade ainda não possui o credenciamento de
CAPs, porém atendem cerca de 5.000 pacientes com transtornos mentais, gerando cerca
de 300 consultas/mês. A equipe multidisciplinar da unidade é composta por enfermeira,
técnicos de enfermagem, psicólogos, psiquiatra, terapeuta ocupacional, recepção e
serviço de higienização, totalizando 7 profissionais.
A unidade atende sua demanda a partir de consultas agendadas, o acolhimento
inicial ocorre pelos psicólogos. Existem oficinas terapêuticas e grupos terapêuticos,
ministrados por psicólogos e estagiários em psicologias que são bolsistas. Porém, não
existe em uma intervenção referente aos familiares destes pacientes.
As oficias e grupos terapêuticos são exclusivos para assistência dos pacientes, os
familiares até vão nas consultas, porém, como o tempo é limitado acabam ficando com
dúvidas sobre o tratamento e condutas.
Devido a isso, a criação de um Grupo de Apoio aos Familiares, despertaria não
somente o interesse destes, como também traria a equipe de trabalho para a realidade de
cada paciente, subjetivando a assistência.
Inicialmente foi pensado na realização com o apoio da equipe multidisciplinar da
unidade, todavia, durante a introdução da proposta, pude constatar o desinteresse dos
psiquiatras e psicólogos da unidade. Somente a equipe de enfermagem se mostrou
13
interessada, a enfermeira com pouca experiência em Atenção Psicossocial, já tinha
vontade de criar um grupo de apoio aos familiares, porém sem apoio de nem outro
profissional, não conseguia construir um norteador.
O grupo para familiares teve como objetivo inicial tirar dúvidas sobre mudanças de
comportamento após a administração de medicações, formas de ressocialização,
sobrecarga do cuidador.
Os encontros deveriam ocorrer semanalmente, seriam de livre demanda e teriam
como interlocutor um psicólogo e a enfermeira da unidade. Todavia, com a realidade já
descrita, os encontros permaneceram semanalmente, somente com o apoio da enfermeira
responsável pelo posto e do Secretário Municipal de Saúde, que demonstrou interesse
imediato, quando apresentei o projeto inicial.
A adesão inicial por parte dos familiares foi bastante complicada. Nas três primeiras
semanas de tentativas, não apareceu ninguém. Pensei em desistir, em realizar outro
projeto, pois não imaginava que a adesão a um grupo de apoio fosse tão difícil.
Então conversando com um amigo psicólogo, este me sugeriu não só realizar
convites formais (apêndice II), e sim conversar com cada familiar que estivesse
aguardando as consultas. Foi o que fiz durante a espera para as consultas dos psicólogos
e psiquiatras, sentava ao lado de alguns familiares e explicava a proposta do grupo, alguns
já me questionavam algumas questões que explicava superficialmente, para gerar uma
curiosidade entre eles.
A todos os familiares foram fornecidos um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, explicando o objetivo do Projeto (Apêndice III).
Na quarta semana apareceram três pessoas interessadas no que tínhamos para falar.
Contudo, demonstravam fragilidade, vergonha e, sobretudo medo. Durante os encontros,
foi elaborado um roteiro semi-estruturada (apêndice IV), para conduzir a conversa.
Alguns levaram seus familiares que possuem transtornos mentais, pois são os únicos
cuidadores. Os encontros foram realizados em uma sala onde ocorrem algumas oficinas
em outros dias da semana, ofertamos durante as conversas um lanche, para tornar o
ambiente mais agradável e menos formal.
14
4 RESULTADO E ANÁLISE
Os resultados extraídos ao longo da construção do projeto, não foi o que imaginava,
vinham de uma expectativa diferente a realidade que encontrei. Não pensava que seria
fácil, que as respostas seriam imediatas e com adesão rápida, entretanto, a proporção do
projeto tomou dimensões diferentes. Tive que moldar à sistemática, de acordo com estas
mudanças. Com isso, pude delimitar algumas dimensões, referentes a aspectos
consideráveis a análise do projeto.
4.1 A interferência da doença na vida familiar
Durante os encontros, observei a desestruturação que um transtorno mental gera na
vida de uma família. Da fragilidade que ocorre dos medos e discriminações decorrentes
da patologia.
Foi observado durante os encontros, que alguns familiares desejavam que seus
parentes estivessem internados, independente desta ser necessária, somente para não
terem que ser responsáveis pelo cuidado. Para alguns, era claro, em suas expressões o
fardo que é prestar assistência 24h por dia a uma pessoa, em muitos casos, totalmente
dependente. A internação para alguns, é sinônimo de “fuga do problema”, como se a
responsabilidade simplesmente passasse para outra pessoa, neste caso, para instituições.
Ao longo das conversas, podia notar que os participantes começaram a construir
um vínculo, confiança e demonstraram interesse pelas pautas trazidas por nós. Além
disso, muitas outras surgiram, como por exemplo, questões como sexualidade, libido,
vergonhas, medos com relação à perda do paciente e a não aceitação da doença.
Uma senhora me relatou que seu esposo, portador de depressão maior, não aderia
por vezes o tratamento, devido à diminuição da libido, que este pensava que a esposa iria
lhe deixar, esta situação era visível na concepção do sexo masculino.
Outros ainda, não aceitavam o diagnóstico, o tratamento e a ressocialização, com
estes as conversas eram bastante desgastante, pois queriam somente que os médicos
dessem cada vez mais remédios, para que os pacientes ficassem, como uma me disse:
“dormindo em casa, para não incomodar”, como se isso fosse à solução de seus
problemas. Alguns não aceitavam o diagnóstico, pois discriminam os transtornos mentais,
mistificam as patologias e, principalmente não aceitam a doença por terem vergonha do
familiar, que por vezes não se adéquam aos conceitos da sociedade. Por isso, manter um
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paciente sedado em casa se torna cômodo, além de ser bem mais fácil do que tentar uma
ressocialização.
Pude constatar ainda que alguns familiares criam um exílio social ao seu redor,
devido a patologia de seu ente. Com isso, também acabam por desenvolver depressões,
crises de ansiedade e transtornos de humor. A fragilidade destas pessoas acaba por
delimitar a assistência prestada.
4.2 A importância da inter-comunicação entre profissionais e familiares e pacientes
com transtornos mentais.
Durante os encontros, pude perceber a reprovação de alguns dos profissionais que
formam a equipe multiprofissional, alguns me tratavam com indiferença, uma chegou até
a me questionar a necessidade e o meu interesse referente à construção do grupo de apoio.
Em contra partida, com o desenvolvimento do grupo, um psicólogo demonstrou interesse,
dizendo que futuramente, quem sabe consiga conciliar, suas consultas e o grupo.
Não consegui delimitar o porquê de tanta indiferença. Os profissionais me
pareceram saturados, desmotivados. Aparentavam somente querer cumprir seu horário,
atender suas fichas agendadas e ir embora. A equipe acabava por ver o paciente
singularmente, pouco era comentado entre os profissionais sobre os projetos terapêuticos
aplicados aos pacientes. A única exceção eram os pacientes que participavam das oficinas
e grupo terapêutico, porém mesmo estes, o tratamento me pareceu compartimentado.
Acredito que a possibilidade de mudança, foi o que ocasionou a indiferença, o comodismo
era visível a alguns profissionais.
Com isso, consegui entender a resistência dos familiares em iniciar a vinda ao
grupo, à cultura em torno da assistência se baseava em consultas para renovação de
receitas, não existia um projeto terapêutico em conjunto, a equipe multidisciplinar na
verdade não se comunicava.
O principal motivo desta falta de comunicação se dava pelo simples desinteresse,
pelo comodismo, pela cultura retrógrada que mina os profissionais ao longo dos anos,
quando estes deixam a poeira da inércia abater sobre eles. Para mim foi muito difícil
constatar isso, todavia, ao me deparar com esta realidade descobri que meu projeto se
tornaria algo mais do que simplesmente trabalho de conclusão de curso.
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Devido a isso, pude perceber que minha missão ali, não era somente de realizar meu
estudo, ou simplesmente concluir meu projeto de conclusão. Era construir uma idéia de
que o Grupo de Apoio a Familiares de Pacientes Portadores de Transtornos Mentais, seria
algo que possibilitaria uma intervenção melhor ao cuidado destes pacientes.
Era demonstrar que um Grupo de Apoio á Familiares era tão importante quanto o
grupo terapêutico ofertado aos pacientes, pois estes eram o alicerce da assistência no
domicilio. Que a interação entre equipe e familiares era primordial para um melhor
resultado terapêutico. Surpreendi-me, por me deparar com profissionais com conceitos
desatualizados e antiquados, conheci uma realidade totalmente diferente do que penso.
Por isso, o projeto tornou-se um desafio.
4.3 Desafios e perspectivas para a atuação multiprofissional com pacientes com
transtornos mentais
Meus desafios durante o projeto foi tanto em conscientizar os familiares sobre a
necessidade de procurar apoio, referente à patologia de seu ente, como em sensibilizar a
equipe multidisciplinar sobre a importância deste trabalho. Pois culturalmente, tanto
familiares quanto profissionais não pareciam preparados para o que eu estava propondo.
Não que fosse algo muito complexo ou de difícil entendimento, porém para os familiares
expor seus medos e limitações, foi bastante difícil. Em contra partida, acredito que muitos
profissionais não estavam e nem estão preparados para se depararem com uma realidade
avessa aos padrões.
Durante todos os encontros, não me preocupava somente com as respostas dos
familiares, mas também com as expressões e interesse da enfermeira da unidade. Tinha
certeza de que se a motivasse ao ponto desta acreditar que poderia manter o grupo após
eu terminar minha pesquisa, todo o trabalho teria valido a pena.
Ao longo dos encontros, fui mostrando a equipe de enfermagem o quão importante
era o seu trabalho, o quão diferencial era a construção deste grupo e, como a experiência
que este os traria seria importante. A cada encontro, os profissionais demonstravam mais
interesse e determinação para que o Grupo se tornasse uma realizada.
Tenho convicção de que com isso e com os esforços da equipe os quatro primeiros
encontros foram um estopim para a continuidade desde Grupo. Após a avaliação no
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último encontro, os familiares trouxeram inúmeros questionamentos novos, que foram
anotados para a construção de uma etapa de encontros.
Finalizei o quarto encontro com 25 familiares, número ainda pequeno, porém
expressivo em uma população que não possui a cultura de falar sobre seus problemas e
fragilidades. A enfermeira da unidade já está pensando em construir mais um Grupo para
os novos interessados, onde aplicaria novamente os quatro primeiros encontros já semi –
estruturados (apêndice IV). Manterá os dois grupos em horários alternados.
4.4 Plano de Ação
A partir da realização do grupo, foi considerado necessário a realização de um plano
de ação para a implementação e consolidação efetiva de um grupo de apoio para os
familiares de pacientes com alterações/problemas/distúrbios mentais. Uma vez que a
participação dos familiares no cuidado destes pacientes poderá resultar em benefícios
para todos os envolvidos direto e indiretamente, ou seja, para o próprio paciente, os
familiares e por fim, os profissionais de saúde.
4.4.1 Cronograma de Atividades
O grupo foi iniciado com quatro encontros semi – estruturados (apêndice IV),
durante os encontros fomos descobrindo novas necessidades. As atividades foram
desenvolvidas semanalmente, nas quintas – feiras, devida a disponibilidade de uma sala
maior, ocorriam no período da tarde, iniciávamos por volta das 14hs. Nas duas primeiras
semanas, se mantiveram por um tempo inferior à 1h, nos seguintes se estenderam por
mais de uma 1h, com isso, realizamos um novo planejamento, pois havia familiares que
estavam ficando incomodados, por terem afazeres domésticos. Com isso, estipulamos um
tempo mínimo de 40 minutos e Máximo de 1h.
As questões desenvolvidas para os primeiros encontros foram de suma importância
para nortear o processo de investigação e construção do grupo. Após as conversas
primárias foi possível conhecer a real necessidade e especificidades dos familiares.
18
Devido a isso, após o quarto encontro realizei com a enfermeira da unidade um
novo planejamento, criamos uma nova metodologia, não somente com conversas
direcionadas, mas com atividades práticas, as metas iniciais serão:
Criar uma horta – para desenvolvimento de lazer, pois vários familiares
descreveram não possuir um momento destinado a isso;
Construir um Diário – este será escrito por cada familiar, de forma singular,
para que possam expressar seus sentimentos, não precisará ser
compartilhado com o grupo se não for de interesse do participante;
Realizar palestras com profissionais de diversas áreas – serão convidados
profissionais distintos podendo estes estar ou não ligados a saúde, para que
os familiares tirem dúvidas, aprendam algo mais e de distraiam de seu
cotidiano. Estamos pensando inicialmente em convidar uma cabeleireira,
para dar dicas de cortes de cabelo e beleza pessoal;
Estas novas atividades serão extras aos encontros semanais, poderão ser
freqüentadas pelos familiares e pacientes se assim quiserem, com isso, acredito que
iniciará um novo modelo de convivência estreitando laços e aumentando o vínculo.
Conforme a aplicação destas atividades deverá ser realizada auto-avaliações dos
resultados, o objetivo e trazer os familiares para o convívio do posto, para que este se
sinta seguro e interaja com seus entes enfermos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência de construir um projeto como este, me proporcionou uma experiência
única. O poder compartilhar experiências, vivenciar o cotidiano, foi muito além do que
eu imaginava. O transtorno mental, patologia que por anos foi reprimida dentro de
manicômios, subjugada e por que não dizer esquecida, hoje faz parte de uma sociedade
que ainda não está preparada para entendê-la. Uma sociedade preconceituosa, que julga
e condena o que não está de acordo as suas regras.
Acredito que a resistência que presenciei por parte dos familiares na adesão ao
grupo, ocorreu um pouco, por isso, não possuímos uma cultura de expor nossos
problemas, principalmente em uma cidade pequena.
Minha ideia inicial é só realizar um projeto para conclusão do meu curso de
especialização, mas na verdade, tenho a convicção de que ultrapassei todas minhas
expectativas e, tive o privilégio de proporcionar um diferencial de assistência aquelas
pessoas.
A Atenção Psicossocial ainda está iniciando uma longa jornada, todavia, está em
cada profissional fazer a diferença na construção de uma assistência mais humana,
acredito que a criação do Grupo de Apoio aos Familiares de Transtornos Mentais, não é
a solução para todos os problemas dos pacientes, mas é um acalento aos entes que sofrem
tanto quanto ou por vezes mais que os próprios enfermos.
Ao longo de minha experiência profissional, conclui que a sensibilização dos
profissionais e usuários, é a melhor forma para gerar mudanças, por maior de seja a
resistência inicial.
Pude constatar progressos na relação família/paciente/profissional. Com a
integração entre os familiares e a equipe um vínculo foi criado. Esta mudança está sendo
gradual e lenda, porém possível. A compreensão da patologia pelos familiares é
primordial para uma assistência eficiente, quando é criado um vinculo entre familiares e
equipe, todos tem a ganhar a equipe que presta um atendimento mais humanizado com
visão holística, o familiar que aprende a conviver com a doença e o paciente que terá
suporte profissional e afetivo.
Plantei uma semente, está se regada e cuidada, provavelmente trará retorno, tanto
aos profissionais, como aos familiares. O que proporcionará uma melhora futura também
aos pacientes.
20
REFERÊNCIAS
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mudança na recepção aos usuários do setor de emergência/urgência do hospital
municipal de Novo Hamburgo (HMNH). Boletim da Saúde, jul./dez.2004, vol.18, n.2,
p.17-24.
BORBA, Leticia de Oliveira, SCHWART, Eda, KANTORSKI, Luciane Prado. A
sobrecarga da família que convive com a realidade do transtorno mental.Acta Paul
Enferm 2008;21(4):588-94.
DESLANDES, Suely F. Análise do discurso oficial sobre a humanização da
assistência hospitalar. Ciências e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v 9, n.1, p.7-14,2004.
GONÇALVES, Jurema Ribeiro Luiz. LUIS, Margarita Antônia Villar. Atendimento ao
familiar cuidador em convívio com portadores de transtorno mental. Rev. Enferm,
UERJ, Rio de Janeiro, 2010 abr/jun;18(2):272-7
MELMAN, Jonas. Familia e Doença Mental: repensando a relação entre
profissionais de saúde e familiares. 3. Ed. São Paulo: Escrituras, 2008.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Dilemas do setor saúde diante de suas propostas
humanísticas. Ciências e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 9, n.1, p.15-29, 2004.
MUNARI, Denise Bouttelet e GODOY, Maria Tereza Hagen de. Recursos de
relacionamento para profissionais da saúde: a boa comunicação com cliente e seus
familiares em consultórios e hospitais.Rev. Latino-Am. Enfermagem, jul./ago. 2004,
vol.12, n.4, p.689-690.
NIESTCHE, E. A. Tecnologia emancipatória-possibilidade ou impossibilidade para
a práxis de enfermagem. Ijuí(RS): Unijuí, 2000.
PRADO, M. L. do et al. Produções tecnológicas em enfermagem em um curso de
mestrado. Texto Contexto Enferm., Florianópolis, v. 18, n. 3, p. 475-481, jul./set. 2009.
SILVA, Maria Júlia Paes. O Amor é o caminho (maneiras de cuidar). 2.ed. São Paulo:
Gente, 2000.
TRENTINI, M; PAIM,L. Pesquisa convergente assistencial. Florianopolis: Insular,
2004.
21
APENDICE I
Prezado Secretário Municipal de Saúde;
Na oportunidade que o cumprimento, venho lhe solicitar a autorização para realização de
estudo, baseado em metodologia convergente assistência, na UBS – Albatroz. Este terá
caráter de Pesquisa de Conclusão de Pós-graduação em Linha de Cuidado em
Enfermagem: Atenção Psicossocial, ministrada em parceria, pela Universidade Federal
de Santa Catarina e UNA – SUS.
Atenciosamente
Enfª Fernanda Machado
COREN/RS: 159341
22
APENDICE II
Modelo dos convites entregues aos familiares do UBS – Albatroz
CONVITE
Aos familiares e Pacientes que freqüentam
o Posto de Albatroz, Saúde Mental
Encontro para esclarecer dúvidas sobre
medicações e assistência ao paciente
Quando: Quinta-feira às 14hs;
Onde: Posto de Albatroz
Contamos com a participação de todos
23
APÊNDICE III
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Eu, Fernanda Machado, Pós – Graduanda da Universidade Federal de Santa
Catarina estou realizando um Projeto Convergente Assistencial, com a construção de
um Grupo de Apoio á Familiares de Transtornos Mentais. Meu objetivocom este
projeto é criar um grupo de apoio a familiares de pacientes que frequentam uma
unidade de saúde que presta atendimento a saúde mental no município de Imbé, litoral
norte do Rio Grande do Sul. Gerando a possibilidade de mudança, referente ao
convívio, aceitação da patologia e ressocialização do paciente
Para tanto, solicito a sua participação, nos encontros semanais e autorização de
que possa ser utilizado imagens ou frases descritas durante os encontros.Caso venha a
desistir em qualquer momento, asseguro-lhe que tal fato não interferirá na sua
atividade profissional da instituição.Coloco-me à disposição para esclarecimento ou
dúvidas que necessário for, em relação ao trabalho desenvolvido e a entrevista
propriamente. Pelo presente termo de consentimento livre e esclarecido, declaro que
fui esclarecido (a) de forma clara e detalhada sobre o objetivo deste estudo e de minha
participação. Por isso, concordo em participar.
Nome: __________________________________________
Local: _______________________________________________________
Data: _____________________________________________
Assinatura do Participante: _______________________________________
Imbé, de
de 2014.
_______________________
Pós - graduanda Fernanda Machado
Matricula 45120749
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APENDICE IV
PRIMEIRO ENCONTRO
Responda as questões abaixo:
O que você sabe sobre transtornos mentais??
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Qual o transtorno mental que seu familiar possui?
_____________________________________________________________________________
O que você pensa sobre a seguinte frase: “Eu sou uma pessoa, não uma doença!”
_____________________________________________________________________________
SEGUNDO ENCONTRO
Vamos conversar sobre as questões abaixo:
Como é o seu dia-a-dia?
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O que você gostaria de mudar na sua rotina?
_____________________________________________________________________________
Como você cuida de si mesmo?
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O que você acha do lugar onde você vive? Como você cuida dele?
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Como você se sente em relação as pessoas com quem convive?
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Quem são as pessoas com quem você pode contar?
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TERCEIRO ENCONTRO
Hoje vamos conversar sobre os seguintes assuntos:
Quais são suas principais duvidas sobre os transtornos mentais?
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_____________________________________________________________________________
Você sabe quais os principais efeitos das medicações que são utilizadas?
_____________________________________________________________________________
Que efeitos você consegue identificar?
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Você conhece os direitos dos portadores de transtornos mentais?
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Você concorda, discorda, ou não possui opinião formada sobre estes direitos?
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QUARTO ENCONTRO
Agora, vamos realizar uma avaliação sobre nossos encontros:
Você esta gostando das nossas conversas?
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Sobre o que mais gostou de conversar?
_____________________________________________________________________________
Sobre o que ainda não conversamos e gostaria de trazer para o grupo?
_____________________________________________________________________________
O que mudou em sua convivência familiar após nossas conversas?
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ANEXO I
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