Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo Scalabrinianas Sistema de Saúde Mãe de Deus O ROSTOS DOS MIGRANTES NA ATENÇÃO EM SAÚDE MENTAL ABORDAGEM AOS ITINERANTES, ENTRE A RAZÃO, A CULTURA E O VÍNCULO À TERRA Ir. Lúcia Boniatti, mscs Dr. Fabio Leite Gastal Arlete Fante Maximiliano das Chagas Marques “Jesus foi aonde ela estava, segurou sua mão e ajudou-a a se levantar. Então a febre deixou a mulher, e ela começou a servi-los”. (Mc 1, 31) “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância.” (Jo. 10,10) A pessoa fragilizada pela doença mental perde sua liberdade, e com ela deixa o agir cidadão, rompendo com os laços familiares e sociais, além dos parâmetros de normalidade da sociedade. O migrante pode se envolver com o consumo da droga e do álcool por estar em um ambiente social e econômico pouco favorável, onde fatores que afetam sua saúde, pela dificuldade em manter seus costumes originais, levam-no à frustração e desesperança. A experiência reflete as estratégias implementadas pelo Sistema de Saúde Mãe de Deus com as equipes designadas ao atendimento de pessoas fragilizadas pelo álcool e outras drogas, migrantes entre os territórios da normalidade e da dependência. Contexto A doença mental é classificada como uma doença crônica. Neste caso, o objetivo do tratamento não é a cura, mas o estímulo à mudança do comportamento de risco do consumo, promovendo a abstinência e a minimização das sequelas e recaídas. A Igreja fez a opção pela vida quando Cristo enviou seus apóstolos a pregar o Reino de Deus e a curar os enfermos (Cf. DA 417), a Congregação das Irmãs, mscs colocam-se a serviço da vida sempre que procura meios de assistir aos migrantes nas diferentes instâncias do sofrimento humano. A urgência dada pela ascensão do consumo de drogas nas famílias e na sociedade, além da frágil resposta das instituições públicas, traz o desafio de estruturar e apresentar serviços de saúde integrados à Política Nacional de Saúde Mental e de Combate ao Álcool e Outras Drogas, contribuindo para a reconstrução das vidas devastadas pela doença. A Igreja nos alerta para não ficarmos indiferentes diante do flagelo do álcool e das drogas, pois está destruindo a humanidade, especialmente as novas gerações. Nossa missão envolve a recuperação da vida física, emocional e espiritual junto aos enfermos, acompanhando e apoiando as políticas governamentais para ajudar a diminuir essa pandemia (Cf. DA 422). Gráfico 1 – Fluxos migratórios no Rio Grande do Sul de 1940 a 1999 (FEE, 2001); Como resposta demandada pela sociedade, foram constituídos os seguintes serviços: CAPS AD Vila Nova CAPS AD IAPI Pronto-atendimento em Saúde Mental do IAPI Unidade de Internação São Rafael Hospital Bom Jesus Hospital Santo Antônio Hospital Nossa Senhora dos Navegantes Hospital Santa Luzia Porto Alegre Taquara Santo Antônio da Patrulha Torres Capão da Canoa A experiência apresenta resultados na atenção aos doentes mentais e usuário de álcool e outras drogas, mostrando respostas positivas de pessoas que perceberam no tratamento uma oportunidade para a restituição de sua liberdade e cidadania para uma outra vida possível. O foco dos serviços O foco do tratamento da doença mental e da dependência química se baseia no fortalecimento dos laços entre os profissionais de saúde e o paciente, na extensão da capacidade de adaptação, resposta ao meio e manutenção da abstinência, e na minimização dos danos físicos, psicológicos e sociais. Trabalha-se o livre arbítrio, a liberdade da vontade humana para aderir ao bem ou ao mal. Através da escuta e do acolhimento tentamos contribuir para que, na linha da fé, tome decisão livre e consciente, que brota do espírito com coragem e honestidade racional. O primeiro passo é obter a liberação da prisão provocada pela química das drogas. A vivência da hospitalidade junto aos grupos dependentes de drogas é um caminho de esperança para um novo dia. “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque graças a ela alguns, sem saber, acolheram anjos...” (Hb 13, 1-2). O processo de atendimento de cada paciente é seguir o caminho da compaixão, da acolhida, na esperança do resgate da identidade de cada um servindo de ponte entre a vida prisioneira da droga e a liberdade da volta ao lar. No contexto da Saúde Pública os serviços de Saúde Mental do Sistema de Saúde Mãe de Deus, encontram-se: Distribuição dos usuários em relação ao Município de nascimento e o Município de Residência atual (n=1.084) Onde Nasceu (%) Onde Mora(%) Porto Alegre 31 (9,5) 52 5 (48,4) Santo Antônio da Patrulha 86 (26,4) 135 (12,5) Taquara 39 (12,0) 113 (10,4) Torres 23 (7,1) 65 (6,0) Capão da Canoa 21 (6,4) 39 (3,6) 126 (38,6) 207 (19,1) Outros p-valor <0,001 Distribuição dos usuários em relação ao motivo de internação (n=1.084) CID-10 Descrição Frequência F14 Transtornos mentais devido ao uso de cocaína 26,1% F19 Transtornos mentais devido ao uso de múltiplas drogas 17,3% F32 Episódios depressivos 16,4% F10 Transtornos mentais devido ao uso de álcool 12,0% F06 Transtornos do humor orgânicos 5,6% Fonte: SAME- Hospital Mãe de Deus, setembro, 2011 As modalidades de tratamento variam conforme as necessidades dos usuários, do tipo de serviço disponível, podendo ocorrer de modo hospitalar ou ambulatorial, por vezes combinando ambas as situações. Durante o Tratamento é Oferecido: • • • • • • • Escuta e acolhimento individual Escuta e acolhimento em grupo Articulação com as famílias Articulação com as comunidades Articulação com os Serviços de Saúde Interconsultas Visitas Domiciliares As Equipes Multidisciplinares, voltadas para o “acolhimento” e o fácil acesso ao atendimento, tem parcerias estabelecidas com outras organizações que permitem oferecer ao paciente, opções terapêuticas para refletir que uma nova vida é possível. CONCLUSÃO A experiência revela o valor da acolhida aos rostos sofridos e fragilizados pela doença. Quando a cura não se mostra possível, o tratamento necessita prever o resgate dos laços familiares e sociais, levando ao entendimento do problema pelo paciente e seus familiares, promovendo a reinserção social , laboral e religiosa. DESAFIOS O Sistema de Saúde Mãe de Deus postou-se frente ao problema e o tem enfrentado, com o apoio da ciência e os princípios e valores da Congregação por isso é desafiado a: • Aprofundar a relação com o Gestor Público aprimorando a parceria Público X Privado; • Articulação com instituições intersetoriais (educação, serviço social, segurança pública, Igreja...)incentivando a prevenção; •Afirmar ações de promoção de qualidade de vida “ Alarga o espaço de tua tenda, estende a lona, estica as cordas, não te detenhas”. (Is. 54,2)