A terceirização no Brasil: realidade e hipocrisia Muito se discute sobre a questão da terceirização de serviços no Brasil. O governo, que tanto se queixa da altíssima taxa de informalidade no emprego, é o mesmo que se insurge contra empresas que contratam outras empresas para prestar serviços. Para o governo, a terceirização é uma aberração que prejudica os trabalhadores. E, se for a terceirização de serviços da mesma atividade fim, então é uma ilegalidade mesmo! "Estão querendo prejudicar o Brasil", afirmam os mais exaltados. Devíamos lembrar aos nossos governantes que as empresas contratadas são empresas formais, que pagam impostos e seguem as leis trabalhistas. A cadeia produtiva de terceirização é formal, contrata trabalhadores e concede emprego. Logo, do ponto de vista do trabalho, os impostos são pagos. Seguindo este raciocínio, as empresas contratadas com atividade fim(?) semelhante à da contratante, também pagam seus impostos dentro da lei. "Ah! Mas pode ser que sejam empresas individuais prestando serviços", argumentam os burocratas. "Elas não pagam os mesmos impostos que os trabalhadores registrados diretamente", repetem continuamente. Ora, elas pagam exatamente os impostos a que são submetidas. Para não evidenciar o conjunto de erros de uma obra toda remendada, o governo impede que o país evolua, criando barreiras para o trabalho produtivo. Infelizmente, o governo atrapalha a cadeia produtiva do Brasil. O mais incrível é que a hipocrisia reina abertamente. O próprio governo é usuário costumaz da terceirização. Mas não na atividade fim, lembram os incautos. Será? Em primeiro lugar, toda atividade de uma empresa é atividade fim. Ou será que uma empresa pode realizar a sua atividade sem contabilidade, limpeza, rh? Imagine se alguém gostaria de ser operado num hospital cuja sala de cirurgia estivesse imunda! Todas as atividades levam aos objetivos e ao cumprimento da missão da empresa. A restrição sobre o que seja atividade fim e sua definição é uma grande desculpa. A quem interessa esta confusão reinante no Brasil? Certamente não aos empresários nem aos trabalhadores, pois ambos querem produzir dentro da legalidade e da realidade do mercado, usando o melhor do que estiver ao seu alcance. Portanto, basta de rodeios, basta de leis que batem na mesma tecla e não enxergam que o Brasil mudou, que o Brasil quer crescer, quer produzir, quer ocupar o seu espaço como exemplo de sociedade moderna e socialmente estruturada. O problema é o INSS? Pois que se enfrente o problema, e que se mude o que for preciso para que este tenha a sua fonte de receita. Está na hora do Brasil enfrentar a sua realidade e mudar o que tem que ser mudado. Que toda a sociedade - governo, legisladores, empresas e trabalhadores se una para elaborar uma legislação adequada ao que o Brasil precisa: de uma economia pujante e produtiva. Ilan Goldman Presidente da Assespro-RJ