Título: Validação do método de produção da Forma Farmacêutica Goma contendo o antirretroviral Estavudina (d4t). Autores(as): Bruna Límaco, Indyanara Albino de Assunção. Orientador(a): Ana Guedes. Introdução: A estavudina é um análogo insaturado do nucleosídeo timidina, apresenta atividade comparável à zidovudina, porém apresenta toxicidade, quanto à destruição das células progenitoras da medula óssea, inferior a azitromicina (AZT) (TABORIANSKI, 2003). Sua ação se dá na necessidade de conversão da droga, através de cinases, em trifosfato (d4TTP), deste modo há inibição da transcriptase reversa, havendo uma interrupção da síntese da cadeia de DNA, reduzindo assim a replicação do vírus. Este fármaco é quase completamente absorvido por administração oral, não havendo interferência quando administrado com alimentos. A estavudina atravessa a barreira hemato- encefálica, apresentando como toxicidade mais recorrente a neuropatia periférica (HOWLAND; MYCEK, 2007). Quanto às formas farmacêuticas encontradas no mercado com este fármaco, pode- se perceber a dificuldade encontrada para a garantia de adesão significativa pelos pacientes, pois encontram- se comprimidos grandes, difíceis de deglutir e formas líquidas não palatáveis, comprometendo assim o tratamento de pacientes, principalmente da faixa etária infanto- juvenil, sendo que este público corresponde a um número significativo de pacientes e que estes não entendem o motivo do tratamento, assim pensou- se em adaptar uma forma farmacêutica alternativa para estes, sendo a forma escolhida a forma de goma, apresentando um bom veículo por ser agradável e de fácil aceitação para estes (CARACIOLO; SHIMMA, 2007; CROZATTI, 2007). No Brasil o número de pacientes cadastrados com HIV no ano de 2010 corresponde a 13.520 novos casos, totalizando em 592.914 casos no Brasil, porém se considerarmos apenas a faixa etária de 0 a 12 anos, sendo que nesta faixa pretendese alcançar adesão, obtemos um público alvo de 19.203 crianças infectadas pelo vírus da AIDS, o HIV (BRASIL, 2010). O HIV desarma o sistema imune do hospedeiro, devido à depleção dos linfócitos, levando à susceptibilidade do organismo infectado a outras infecções oportunistas, tendo seu tratamento com objetivo de retardar a progressão da imunodeficiência, aumentando assim a expectativa de vida do paciente, aumentando o tempo e a qualidade de vida (SILVA et.al. 2006). Portanto, estima- se com a produção de uma nova forma farmacêutica, goma, para crianças infectadas por este vírus, para que assim estas possam ter uma expectativa de vida aumentada, otimizando a qualidade de vida destas e para que este procedimento seja realizado de modo eficaz necessita-se da validação do seu método, pois deste modo outros pesquisadores interessados poderão dar continuidade a pesquisa desta forma farmacêutica e a sua afinidade com diversas classes de fármacos, facilitando assim a adesão ao tratamento de diversas faixas etárias, com enfoque infantil. Palavras- chave: Validação de métodos, Estavudina, Tratamento infantil. Métodos: FORMA FARMACÊUTICA GOMA Foram testadas diferentes formulações para o preparo da goma, primariamente foram produzidas as formulações 1 e 2, descritas na tabela 1, sendo necessárias algumas alterações em cada formulação, por apresentarem características físicas não ideais, apresentando-se extremamente aderentes na formulação 2 e líquidas na formulação 1, Tabela 1. Fonte: Adaptado de GARCIA; PENTEADO, 2005. FORMULAÇÃO 1 FORMULAÇÃO 2 Estavudina (d4T) 10 mg – por goma Gelatina 40 g Ácido cítrico anidro 7,5 g Água 130 g Açúcar 165 g Glucose 40DE 157,5 g Aroma morango 0,5 mL Estavudina (d4T) 10 mg – por goma Gelatina 7g Água q.s.p. Xarope de glicose 31 g Sacarose 30 g Polidextrose 3,2 g Ácido cítrico 50% 1 mL Corante q.s. Aromatizante q.s. resultando em problemas no ato de desenformar as gomas. Dentre as principais alterações realizadas, aumentou- se as concentrações de água, reduzindo esta, e gelatina, aumentando a concentração desta, devido ao principal problema ser a consistência. Ao testar as formulações verificou-se a que apresentou melhores características organolépticas. Para o preparo da formulação utilizou- se os ingredientes descritos na Tabela 2, sendo que esta formulação rende 3 gomas, com a perda de cerca de 2mL da solução final, cada goma tem concentração teórica de 10mg de estavudina por goma., deve-se ressaltar que esta formulação teve por base, vários testes de concentração de excipientes até que se obtivessem boas características físico-químicas. INGREDIENTES QUANTIDADES Ácido benzoico 75mg Ácido Cítrico 75mg Açúcar 7,5g Água deionizada 5mL Estavudina d4T 30mg Gelatina sem sabor 2,5g Glucose 40DE 7,5g Tabela 2. Ingredientes utilizados para o preparo da goma com estavudina. PREPARO DA GOMA As balas de goma representam um ótimo veículo para fármacos hidrossolúveis, pois além de exigirem pouco cozimento no seu preparo, possuem alto teor de umidade, sendo que sua textura provém do agente viscosante selecionado para o seu preparo, dentre estes, pode- se citar a goma arábica, gelatina, pectina e amidos especiais (GARCIA; PENTEADO, 2005), sendo que para este estudo utilizou- se a gelatina sem sabor para geleificação da nova forma farmacêutica. As etapas para a produção das balas de goma estão descritas de forma resumida na figura 1. O processo de preparo das gomas inicia-se com a pesagem dos ingredientes descritos na tabela 2. FIGURA 1. Fluxograma geral do processamento de bala de goma . Embalagem: As balas de goma foram desenformadas e dispostas em saquinhos de polietileno, envoltas com celulose micropulverizada para não aderirem entre si. PONTOS CRÍTICOS NA PRODUÇÃO DA GOMA 1) Na formação da base 1 encontra- se o primeiro ponto crítico, pois a mistura do açúcar com a Glucose 40DE tem de ser realizada com muita atenção, pois o açúcar tende a cristalizar, formando cristais marrons ao redor do Becker, correspondendo a uma perda da amostra; 2) Na formação da base 2 encontra- se outro ponto crítico, pois o conservante ácido benzoico não é facilmente dissolvido em meio hidrofílico, devendo- se atentar para a sua dissolução; 3) Na junção da base 1 e 2, foram testadas duas maneiras, em uma delas adicionou- se a base 1 na base 2 e em outra, a base 2 na base 1, o processo que resultou em menor perda de massa, foi a adição da base 2 (gelatina+ água+ conservante) na base 1, pois a glucose, presente nesta base, é um ingrediente extremamente aderente à vidraria; 4) A deposição da goma, enquanto líquida, nas formas resulta também em perda de amostra na proporção de 8,7%. ANÁLISES FÍSICO- QUÍMICAS DA FORMA FARMACÊUTICA GOMA Quanto ao sabor à forma farmacêutica goma produzida, apresentou sabor suave, levemente adocicado, bem palatável, que em associação do odor obtido alcança facilmente o objetivo desta proposta, que é uma melhor adesão ao tratamento por crianças. No início da produção observa- se odor característico da gelatina sem sabor, esta confere odor desagradável, porém a adição de aroma de morango modifica esta característica a ponto de tornar- se agradável e assim aceitável. Esta formulação apresenta cor amarelada translúcida, por causa do veículo gelatina, porém a adição de corante vermelho para acompanhar o aroma de morango confere cor vermelho- violáceo à formulação. Após desenformar as gomas estas apresentam aspecto pegajoso, porém quando levadas a estufa, deixadas em exposição à temperatura ambiente e envoltas em celulose micro- pulverizada perdem este aspecto, tornando- se semelhantes as gomas comercializadas como confeito. O pH da formulação final é igual a 4,0, sendo que apresenta características ácidas por adição dos excipientes ácido benzóico e ácido cítrico. MÉTODO ANALÍTICO VALIDAÇÃO DO MÉTODO Validar um método entende- se pela padronização do processo a partir da sua documentação e análise de dados, para que outros possam produzir igualmente a mesma formulação, tendo de forma detalhada as variações que podem ser encontradas ao decorrer do processo, assim tem- se como objetivo a reprodutibilidade do produto. Vários testes devem ser realizados, dentre eles testes de precisão e exatidão, bem como estabelecer o limite de aceitação dos erros analíticos (ARAGÃO, 2006). A validação deve garantir, por meio de estudos experimentais, que o método atenda às exigências das aplicações analíticas, assegurando a confiabilidade dos resultados, para que isto ocorra, deve apresentar especificidade, linearidade, intervalo, precisão, sensibilidade, limite de quantificação, exatidão, adequados à análise (BRASIL, 2003). Para o experimento utilizou- se uma goma dissolvida, com auxílio de agitador magnético, em bécker de capacidade de 100 mL, completo com água deionizada, foram selecionadas para o experimento gomas contendo o peso médio de 7,0 gramas, sendo que cada goma deve conter 10mg do fármaco estavudina, para analisar a linearidade na produção e na adição do fármaco por goma. Logo após a dissolução foi levada a banho ultrassônico para homogeneização completa por 30 minutos, então esta solução foi filtrada e 5mL desta foram transferidas para balão volumétrico com capacidade de 50mL e adicionou- se água até alcance deste volume, obtendo- se então concentração teórica de 10µg/mL do fármaco estavudina (d4t). Seletividade Para este teste foram preparadas gomas, sem o fármaco estavudina, de acordo com a metodologia apresentada em Preparação das Gomas, item XXX, constituindo- se os placebos, sendo que este teste foi realizado em triplicata, estas gomas foram submetidas às mesmas condições analíticas que foram submetidas as amostras com o fármaco, de acordo com a Preparação das Amostras, item XX, deste modo, realizou- se então os estudos de especificidade do método. Linearidade A curva de calibração foi construída com a solução padrão numa concentração média de 10,0 μg de estavudina/mL. A partir deste dado construiu-se uma curva de calibração com diferentes concentrações de estavudina, sendo elas: 8,0, 10,0, 12,0, 14,0, 16,0, 18,0 e 20,0 μg/mL. Utilizou- se o método de espectrofotometria em UV, com absorbância da estavudina em 266 nm para esta análise. Os valores de absorbância foram lidos em triplicata. A curva foi construída, relacionando-se a absorbância media das três leituras contra a concentração em cada nível. Foram calculados os desvios padrão e o coeficiente de correlação. O cálculo da curva foi efetuado pelo método dos mínimos quadrados (BRASIL, 2001). Para cada concentração foram calculadas as médias das leituras, o desvio padrão e o coeficiente de variação, sendo que este último não deve ser maior do que 2% (Jenke, 1996). Robustez Este ensaio foi realizado a partir de pequenas alterações de pH e temperatura, para análise de variações na produção, garantindo segurança aos testes e produção realizados no laboratório, então alterou- se o pH de 4,0 para 3,0 e elevou- se a temperatura da solução, goma em água deionizada, até 40ºC, sendo observados os picos e fatores de retenção. Também analisou- se este dado a partir da exposição de amostras à temperatura ambiente, até que estas demonstrassem características inviáveis ao consumo. Intervalo Conclusão: Esta formulação ainda é pouco estudada em relação à adição de fármacos ou complementos alimentares, como no estudo de LAZAROTTO, 2008. Portanto estima- se com esta publicação o incentivo nesta área, por ser uma forma farmacêutica inovadora e possivelmente obterá boa aceitabilidade no público infantil e em todas as outras faixas etárias. A partir da análise de liberação do antiretroviral em espectrofotômetro podemos perceber que as gomas apresentaram boa liberação do fármaco, sendo boas veiculadoras de fármacos altamente hidrofílicos como a Estavudina. A dosagem de fármaco demonstrou- se aceitável por variação de apenas 5% da estimada, sendo que poderia variar até 10%, devendo conter de 90% à 110% do fármaco desejado. Referências: ARAGÃO, C. F. S. Controle de qualidade de medicamentos: parte I - análise de fitoterápicos e sua validação. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Laboratório de Controle de Qualidade de Medicamentos Disponível em: <www.ciagri.usp.br/plantasmedicinais >. Acesso em: 12 Março. 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução – RE nº 899, de 29 de maio de 2003. Guia para validação de métodos analíticos e bioanalíticos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 20 mar. 2003. BRASIL. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico - Aids e DST. Ministério da Saúde - Secretaria de Vigilância em Saúde - Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Ano VII - nº 1. Brasília – DF. 2010. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2010/45974/boletim_201 0_pdf_29881.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2011. CARACIOLO, Joselita M.M.; SHIMMA, Emi. Adesão - da teoria à prática: Experiências bem sucedidas no Estado de São Paulo. São Paulo: Centro de Referência e Treinamento DST/Aids, 2007. Série: Prevenção às DST/AIDS. Disponível em: <http://www.crt.saude.sp.gov.br/resources/crt_aids/pdfs/adesao.pdf>. Acesso em: 30 de março de 2010. CROZATTI, Maria Terezinha Lonardoni. Adesão ao tratamento anti-retroviral na infância e na adolescência. 2007. 98 f. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. GARCIA, Telma; PENTEADO, Marilene de Vuono Camargo. Qualidade de balas de gelatina fortificadas com vitaminas A, C e E. 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