UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DISCIPLINA DE INFORMÁTICA MÉDICA NÚCLEO DE INFORMÁTICA BIOMÉDICA INFORMÁTICA MÉDICA - NOÇÕES BÁSICAS SUA DIVULGAÇÃO E APLICAÇÃO EM UMA COOPERATIVA MÉDICA Trabalho apresentado como parte dos requisitos para a conclusão do VII CURSO DE CAPACITAÇÃO DOCENTE EM INFORMÁTICA EM SAÚDE 8 a 21 de Janeiro de 1996 Coordenador: Prof Renato M. E. Sabbatini Aluno: Dr. Jonas Ubirajara Husni Campinas, 29 de Março de 1996 INFORMÁTICA MÉDICA 1. INTRODUÇÃO - CONCEITO BÁSICOS PERREAULT et all afirma que ‘’Computadores tem sido usados em todos aspectos na área de saúde, de um simples processamento de dados administrativos, ao registro e interpretação de dados fisiológicos, à educação de médicos e enfermeiros.’’ Eles identificam oito tópicos que definem a extensão das funções básicas que podem formar um sistema médico de computação: Aquisição de dados, onde a anamnese computorizada tem o seu grande papel, pois libera o profissional de saúde da necessidade de coletar e entrar rotineiramente a informação demográfica e da historia do paciente. Manutenção de registro, a qual é uma função primária dos vários sistemas médicos de computador, sendo úteis para o processamento de grandes quantias de dados. Como exemplo é citado um sistema de faturamento automatizado, o qual é o primeiro componente instalado quando um hospital, clínica ou instituição privada decide usar tecnologia computadorizada. Comunicação e Integração, que entre os membros da equipe é essencial para a eficiência dos resultados do tratamento, sendo que os dados devem estar disponíveis para quem for decidir quando e onde eles precisarem. Portanto os computadores ajudam no armazenamento, transmissão e exibição de informação. Auditoria. Os sistemas de auditoria e monitorização podem ajudar estes profissionais a lidar com o enorme número de dados relevante ao atendimento do paciente, permitindo ao médico a observância de dados importantes, como por exemplo, lembrando-os da importância em pedir exames de screening e outras medidas preventivas, ou avisando quando um ou mais eventos perigosos foram detectados. Armazenamento e recuperação de informação, que é a parte essencial de um sistema de computadores. É uma função de fundamental importância em sistemas que trabalham com arquivos de informação. Aqui fazemos algumas considerações sobre o uso de computadores em cirúrgias, onde os sistemas poderão não sómente monitorar e armazenar os sinais vitais, como também dados clinícos dos pacientes. Vale aqui ressaltar a questão do armazenamento confidencial e seguro destes dados, implicando em problemas de ordem médico-legal, onde dados clinicos que necessitem permanecer confidenciais poderão ser protegidos, com acesso restrito a determinados profissionais. Além de protegidos eles poderão ser armazenados com segurança contra possíveis tentativas de adulteração. Analise de dados, para a qual há necessidade que os sistemas apresentem a informação de uma forma mais fácil de entender do que os dados primordiais, Os dados poderão ser apresentados graficamente para facilitar a analise de tendências, ou poderão ser computados os parâmetros secundários (médias, desvio padrão, taxas de mudanças, etc..) dos dados primários. Apoio à decisão, onde são citados os sistemas de consulta clinica que usam estatísticas populacionais ou conhecimento especializado e codificado para dar assistência aos médicos, segundo SABBATINI, nas treis importantes situações, que basicamente estão relacionadas à resolução de problemas que caracterizam a Medicina clinica: o diagnóstico, o planejamento terapêutico e o prognóstico. Vale citar que desde a década de 70 vem sendo utilizadas técnicas de Inteligência Artificial , com o desenvolvimento de um grande número de sistemas de apoio à decisão. Educação. SABBATINI (1993) em seu editorial para a Revista Informédica cita ‘’um levantamento recente, feito pela Biblioteca Nacional de Medicina, em Washington, nos EUA, revelou um dado preocupante: o volume de informação publicado nas ciências da saúde está duplicando a cada quatro anos e meio! Até o final do século, espera-se que este tempo seja reduzido para três anos. Isso é uma loucura. Significa que nenhum profissional de saúde pode aspirar sequer a se manter atualizado em sua subespecialidade. Significa também que ao terminar o curso médico, que tem os mesmos seis anos de duração desde o século XII, boa parte do conhecimento ali transmitido ao estudante já está obsoleto. Conclusão: se não mudarmos radicalmente a forma de acesso à informação, como a geramos, como a distribuímos e como a utilizamos, vamos fatalmente nos afogar nesse maremoto irresistível de informação’’. Como consequência, médicos e enfermeiros tem a sua disposição programas selecionados e projetados para ajuda-los a adquirir e atualizar o conhecimento e a destreza que precisam para cuidar de seus pacientes. Podemos então definir a informática médica como sendo o ’’ramo do conhecimento que cobre todos os métodos e procedimentos que envolvem a coleta, controle, armazenamento. recuperação, avaliação e interpretação de dados e informações na área clinica, usando o computador, incluindo modelos matemáticos de simulação, tecnologias na área de bioengenharia e administração hospitalar’’. 2. ÁREAS DE APLICAÇÃO DA INFORMÁTICA MÉDICA A Informática Médica têm se expandido intensamente nos últimos anos, e graças ao avanço tecnológico, têm surgido uma vasta área de aplicação para o seu desenvolvimento, onde podemos citar A Realidade Virtual, a Telemedicina, a Multimídia, o Processamento Digital de Sinais Biológicos, o Processamento Digital de Imagens Médicas e finalmente a Internet, através da qual a Telemedicina está tendo o seu grande fator de expansão e desenvolvimento. 2a.REALIDADE VIRTUAL SABBATINI (1993) a define como ‘’uma combinação de software, computadores de alto desempenho e periféricos especializados, que permitem criar um ambiente gráfico de aparência realística, no qual o usuário pode se locomover em treis dimensões. Nele, objetos imaginários, criados por software, podem ser sentidos e manipulados’’. Um exemplo de aplicação que vem sendo desenvolvida em Realidade Virtual é a simulação cirúrgica. Outra aplicação que vem se desenvolvendo bastante é a Telepresença, ou seja a manipulação remota de aparelhos biomedicos. 2b. TELEMEDICINA MACERATINI e SABBATINI (1994) a definem como ‘’a utilização de recursos de Informática e Telemática (redes de computadores conectados por meios de telecomunicação) para a transmissão remota de dados biomédicos e para o controle de equipamentos biomédicos à distância.’’ Ainda segundo os mesmos autores as aplicações da telemedicina podem ser classificadas em cinco tipos fundamentais: Telediagnóstico, que é o envio remoto de dados, sinais e imagens médicas, dados laboratoriais e outros para fins diagnósticos. Como exemplos bem sucedidos podemos citar o ECG, o EEG, o eletrogastrograma, a pressão sanguínea, a temperatura corporal e as frequências cardíaca e respiratória. Telemonitoração, que como o nome diz é o acompanhamento de pacientes à distância com a consequente monitorização dos parametros vitais de cardiacos, gravidez de alto risco, epilépticos etc., proporcionando condição de vigilância e alarme. Para isso há a necessidade de digitalização e envio de sinais biológicos por via telefônica, desde o local onde o paciente se encontra, a um centro especializado de interpretação e análise. Teleterapia que é o controle de equipamentos à distancia, como exemplo os hemodialisadores. Teledidática que é a aplicação das redes telemáticas na implementação de cursos médicos à distância. Telefonia social. É a telecomunicação para pessoas deficientes, como surdos, cegos e mudos e o apoio à medicina preventiva e suporte a pessoas idosas. Ela consiste em terminais domésticos equipados com um pequeno controle portátil, o qual pode ser acionado pelo paciente( geralmente idoso ou incapacitado temporário ou permanente) de qualquer ponto da casa, sendo recebido por uma central médica que dispõe dos dados do paciente, providenciando socorro imediato. Em relação a Telemedicina conclui-se portanto que o seu ponto forte é o fato de que quem viaja é a informação e não o paciente. 2c. MULTIMIDIA NA MEDICINA. CARVALHO JR, P.M.e SABBATINI a definem como ‘’a integração de vários meios de informação (ou mídias, provindo do plural do inglês medium) no computador, tais como sons, imagens e texto. Corresponde a informatização do que em arte e pedagogia se conhece como multimeios, com a vantagem da interatividade, ou seja, da possibilidade do usuário comandar o acesso a informação nela contida, de múltiplas formas, como em um diálogo’’. Ela teve um particular desenvolvimento a partir de dois importantes meios que são o CD-ROM e o videodisco, os quais permitem armazenar grandes quantidades de informação em formato multimídia. Cada CD-ROM (Compact-Disc, Read-Only Memory) armazena cêrca de 600 MB , o que corresponde a cêrca de 200 livros com 300 páginas cada. O Videodisco é um disco laser semelhante ao CD-ROM, mas de maiores dimensões, ainda pouco comum no Brasil, com muitas aplicações didáticas em países desenvolvidos, provido de um equipamento leitor especial, que pode ser acoplado ao microcomputador e por ele comandado. Tem capacidade de mais de 54.000 imagens coloridas estáticas, ou duas horas de vídeo e som estéreo. 2d. PROCESSAMENTO DIGITAL DE SINAIS BIOLÓGICOS E IMAGENS MÉDICAS Entre os sistemas de processamento digital de sinais biológicos, podemos citar o monitoramento de sinais em cirúrgias, na UTI, em exames especializados como Angiocoronariografia, o Holter, etc Entre os sistemas de processamento digital de imagens médicas, encontra-se a Radiografia Digital, a Tomografia Computorizada, a Ressonância Magnética, o Ultrassom, o Ultrassom Doppler, a Termografia. O uso do computador para a geração de imagens é um processo indispensável, indo desde a captura desta imagem até a conclusão do que está representado nela. A Ressonância Magnética é um bom exemplo deste processo. INTERNET 1. O QUE É A INTERNET? A Internet é uma ‘’rede de redes de comunicações’’ , significando que muitas redes de comunicação diferentes, operadas por uma grande quantidade de organizações, estão interconectadas coletivamente. 2. COMO SURGIU? Em 1969, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América, através de sua Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (ARPA), criou uma rede experimental de comunicação subdividida em pacotes, usando linhas telefônicas. A partir desta coleção inicial de redes de comunicação, nasceu a ARPANet, umas das primeiras precursoras da Internet. A ARPANet permitiu que cientistas, pesquisadores e militares, em locais diversos, se comunicassem usando o correio eletrônico (e-mail) ou através de conversações on-line em tempo real . Em pouco tempo, outros locais que não estavam conectados a ARPANet começaram a enxergar as vantagens das comunicações eletrônicas. Muitos destes locais encontraram formas de conectar a ARPNet, suas redes privadas de comunicação. Isto levou a necessidade de interligar sistemas de computadores que eram fundamentalmente diferentes uns dos outros. Nos anos 70, a ARPA desenvolveu um conjunto de regras, chamadas de protocolos, que ajudou esta comunicação a se concretizar. Antes do fim daquela década, esta loucura de conexão se espalhou de tal forma que organizações em todo o mundo estavam conectadas a rede de comunicação. Durante os anos 80, as redes de comunicação conectadas a ARPANet continuaram a crescer. Em 1982, a ARPANet se juntou a MILNet ( a rêde de comunicação militar) e a algumas redes de comunicação. A Internet nasceu desta consolidação das redes de comunicação. A Internet é um nome reduzido que significa internetwork system (sistema de interconexão de rêde de comunicação). 3. SEU POTENCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO DA INFORMÁTICA MÉDICA A Internet é a maior e mais rápida rêde mundial de computadores. É uma rêde virtual voltada para fins acadêmicos e de pesquisa, englobando mais de 22.000 redes de comunicação (universitárias, científicas, comerciais e militares), com mais de 4 milhões de computadores e cerca de 45 milhões de usuários em mais de 100 países, que se comunicam entre si através do uso de um protocolo comum, o TCP/IP. Ela vem apresentando um crescimento exponencial, estando conectados atualmente não só os principais laboratórios e universidades, como também faculdades menores, bibliotecas e escolas secundárias. Além do envio de mensagens eletrônicas, a Internet proporciona a seus usuários acesso a recursos de informação tais como: bancos de dados, gráficos, fotos, sons, softwares, livros, catálogos de bibliotecas, bbs, informativos, jornais, revistas, arquivos, discussão de casos clinicos entre médicos separados geograficamente, bem como o acesso a revistas eletrônicas onde poderão localizar e resumir apenas a informação desejada. INFORMÁTICA MÉDICA - SUA DIVULGAÇÃO E APLICAÇÃO EM UMA COOPERATIVA MÉDICA. 1. INTRODUÇÃO Anápolis, 2a. cidade do Estado de Goiás, com uma população de 260.000 habitantes, situada a 56 km da Capital do Estado, Goiânia, e a 120 km da Capital Federal é o ponto de convergência da Rodovia BelémBrasilia, para onde afluem pessoas de Estados vizinhos, principalmente do Pará e Maranhão, a procura de maiores recursos em assistência médica, como também na área comercial e industrial. A Unimed Anápolis, fundada em 05/03/90 por 24 médicos conta hoje com 226 cooperados. É uma Cooperativa de Trabalho Médico, sem fins lucrativos, fundada com o objetivo de ampliar o campo de trabalho do médico, proporcionando o exercício da medicina dentro de um elevado padrão. Pertence ao Sistema Unimed, ligada a Federação das Unimeds dos Estados de Goiás e Tocantins, que pertence a Confederação Nacional das Cooperativas Médicas (Unimed do Brasil). O Complexo Unimed possui hoje cêrca de 12 milhões de usuários, assistidos por mais de 300 cooperativas e por 77 mil médicos. A Unimed do Brasil, buscando acompanhar o grande desenvolvimento da informática, e em conseqüência da necessidade da interligação de suas Cooperativas, permitindo um fluxo constante de informações de maneira rápida e segura, investiu em um projeto denominado UNIRED. Este projeto começou a ser desenvolvido em 1993, através de uma parceria da Unimed do Brasil com a USP/São Carlos. Consiste na criação de uma rêde de comunicação via satélite, integrando as suas cooperativas. Para isso, já foram instaladas 21 antenas V-Sat em pontos estratégicos do Brasil e uma antena master em Belo Horizonte, que se comunicam através do sistema bicompartilhado da Embratel, que usa o satélite BrasilSat 2. Entre as principais vantagens da UNIRED está a agilização na troca de informações não sómente no setor administrativo e operacional, mas principalmente no atendimento clínico, com benefícios científicos principalmente aos profissionais das cidades do Brasil distantes dos grandes centros nacionais e internacionais de pesquisa, os quais sem precisar sair de seus consultórios, poderão estar constantemente se aperfeiçoando, atualizando-se com as novas descobertas de sua área e até discutindo casos difíceis com seus colegas da Unimed e do mundo. 2. OBJETIVOS Com o presente Trabalho esperamos implantar o Núcleo de Informática em nossa Unimed. Contamos para isso com um número expressivo de cooperados (cêrca de 30), já ligados à área de informática, a maioria através da informatização de seus consultórios. Para a viabilidade deste Projeto, já está em andamento a conexão de nossa Cooperativa à Federação das Unimeds dos Estados de Goiás e Tocantins, através de linha dedicada, e posteriormente a conexão à Brasilia (antena mais próxima). Através da UNIRED os cooperados poderão acessar a INTERNET, podendo assim ter em suas mãos todo o potencial desta poderosa rêde. Com este estimulo esperamos a adesão de mais cooperados ao Núcleo, os quais receberão todo o apoio necessário, como a transmissão dos conhecimentos nesta área, e provavelmente, dependendo de estudos em andamento, até recursos de financiamento para a aquisição dos equipamentos necessários. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o acesso à INTERNET facultado a todos os membros da Cooperativa, a formação de um Núcleo, com grupos de estudo e pesquisa, contribuirá para a atualização permanente na área médica-científica, somandose aos recursos já existentes, como a Videoteca médica, com um acêrvo que abrange diversas especialidades; a Mednet (Biblioteca da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro), a qual permite o acesso a trabalhos médicos-científicos; ao Kit Multimídia, com a consequente disponibilização de todo o potencial que o CDROM oferece nesta área. Repetimos as nossas palavras em nosso Trabalho, apresentado no final do curso: "A Unimed Anápolis, por ser uma Cooperativa, onde o público alvo é o dono, e considerando que há o interesse de uma grande maioria, que esperamos, nos ajudem na germinação desta semente, e como não dependemos de decisões de terceiros, por certo teremos condições de implantar o Núcleo básico". BIBLIOGRAFIA SHORTLIFFE, E. H. e PERREAUT, L. E. Medical Informatics: Computer Aplications in Health Care. Addison - Wesley Publishing. Reading, USA, 1990 SABBATINI, R.M.E. Uma Nova Era na Medicina. Informédica 1(3): 4,1993 MARTINS, A.G. Informática em Saúde. Curso Básico de Informática em Saúde: pg 1, 1995 SABBATINI, R.M.E. Realidade Virtual e Medicina. Informédica 1 (3):11-13, 1993 MACERATINI, R. e SABBATINI, R. M. E. Telemedicina: A Nova Revolução. Informédica 1 (6): 5-10, 1994 CARVALHO Jr., P.M.; SABBATINI, R. M. E. Aplicações da Multimidia na Medicina. Informédica 1 (6): 1518, 1994 VOLPE, R.M.; SABBATINI R.M.E. Aplicações da Multimídia no Ensino Médico. Informédica 2(9): 5-12, 1994 SABBATINI, R.M.E. O CD-ROM na Medicina. Informédica 2(11):5-11, 1994 SABBATINI, R.M.E. O computador no processamento de sinais em Medicina, 2(12): 5-9, 1995 WYATT, A. L. Sucesso com Internet. Editora Érica Ltda, 1995 SABBATINI, R.M.E Aplicações na Internet em Medicina e Saúde. 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