A QUALIDADE DO BOM TEXTO Caps 6 “O resultado do trabalho dependerá, consequentemente, de atender uma demanda muito simples, mas decisiva: a necessidade de que a redação atinja o leitor, que o persuada e o influencie e que de fato o convença. Para alcançar esse resultado é indispensável que o texto seja preciso e acessível e que transmita ao leitor exatamente o que se quer dizer. Em outras palavras, o texto precosa ser lido e entendido." p. 77 “No mundo do Direito (…) é indesejável que todos escrevam de maneira virtualmente idêntica. Você é (ou em breve será) um advogado, um profissional das letras jurídicas, alguém que ganha o sustento argumentando e usando da palavra; jamais será substituído (felizmente) por um software de computador." p. 77 Correção Organização Clareza Precisão Legibilidade (trata nesse capítulo) O TEXTO EFICAZ O principal fator para a eficácia é a legibilidade, isto é, a rapidez com que o texto pode ser lido e a facilidade com que pode ser compreendido e memorizado. ALGUNS CONSELHOS DUVIDOSOS Por um raciocínio simplista e equivocado, esses parâmetros de legibilidade passaram a ser considerados, em muitos manuais de redação, fundamentais para a produção de textos mais compreensíveis e eficazes. Adiante uma típica lista desses “passos para uma redação mais eficaz”. Nenhum deles, entretanto, pode ser considerado em absoluto, embora devam ser levados em conta na hora da produção, especialmente para evitar exageros. ALGUNS CONSELHOS DUVIDOSOS 1. Use apenas frases curtas 2. Use apenas a voz ativa; evite a passiva 3. Não fale na primeira pessoa 4. Não use sujeitos indeterminados ou vagos 5. Troque os substantivos abstratos pelos verbos correspondentes 6. Corte os adjetivos e os advérbios 7. Prefira sempre verbos de ação aos verbos de ligação 8. Corte as palavras vazias (“fato”, “aspecto”, “elemento”, etc.) “Os defensores dessa teoria, no entanto, não se dão conta de que esses conselhos podem ser interessantes para escrever um bom texto doméstico, mas são contraproducentes quando se trata de produzir textos em que esteja presente a tensão retórica. (…) A única regra absoluta que defendemos nesse livro é a de que não existem regras predeterminadas para a construção de um bom texto." p. 82-3 ESTRATÉGIA E ESTILO • A frase longa através do período composto po subordinação é uma grande ferramenta para argumentar e persuadir; • A ordem passiva é uma valiosa opção estilística e estratégica, inclusive porque pode ocultar o agente; • É fundamental que a posição de destaque da frase – o início – seja ocupada pelo tema de nosso interesse e para o qual desejamos atrair a atenção do leitor; ESTRATÉGIA E ESTILO • A importância do “eu” afirmativo, irônico ou amigo; do “nós” imperial e de modéstia; • Importância da impessoalidade quando queremos dar ao texto autoridade (caso da lei); • Importância de obscurecer o agente através do sujeito indeterminado; ESTRATÉGIA E ESTILO • Importância do uso de substantivos abstratos originados de verbo para a coesão textual; • Uso do adjetivo e advérbio para marcar posição sobre aquilo que se está narrando ou descrevendo; • Coesão se dá, ainda, por repetição de palavras, uso de sinônimos, troca de substantivo por termo generalizante e substantivos ocultos. “Um advogado que costuma ler Machado de Assis, Eça de Queirós, Nelson Rodrigues, Gilberto Freyre, Câmara Cascudo estará se preparando para sua profissão tanto quanto se estivesse lendo Pontes de Miranda, Nelson Hungria, Caio Mário da silva Pereira, Miguel Reale, Coqueijo Costa… Só os grandes autores de nossa literatura podem ensinar as sutilezas do idioma e a riqueza de seus recursos." p. 83 UM CASO CONCRETO Veja o exemplo a partir das razões finais de um advogado, em uma situação de legítima defesa em que teria havido excesso por parte do agredido. 1) O acusado estava sem proteção e exposto à luz, pelo que reagiu. Não houve excesso ou dolo, mas apenas legítima defesa. A arma utilizada foi a única que dispunha, qual seja, uma faca. Ocorreu a hipótese permissiva do art. 23, II do Código Penal. O réu deve ser absolvido. 2) Ao sentir-se atacado e, ao mesmo tempo, desprotegido por estar exposto à luz de um poste de iluminação pública, a vítima esboçou uma reação. Valendo-se de uma simples e pequena faca, praticamente sem fio e usada no trabalho do campo, defendeu-se como pôde, acabando por ferir o agressor. A morte do infeliz marginal (também uma vítima por problemas sociais) não foi desejada pelo agora acusado, que em momento algum deixou de ser exatamente isso: uma vítima. Assim, não houve excesso culposo ou doloso, mas apenas uma fatalidade que em momento algum foi desejada; por força de tais motivos, peço a absolvição. Apesar de flagrante superioridade do segundo texto e da verdadeira catástrofe processual que seria o primeiro, foi o primeiro que observou as normas e conselhos das fórmulas de legibilidade. Este material estará disponibilizado no ambiente EAD