Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola CONEXÕES IMPERATIVAS – GEOGRAFIA E PRÁTICAS ESCOLARES CONTEMPORÂNEAS Ivaine Maria Toninii Resumo - Aprofundar estudos na interface entre Geografia e tecnologias digitais sob a ótica da cultura escolar, mais especificamente, estabelecer reflexões sobre o grande desafio que consiste em a escola hoje trabalhar com o imperativo da conexão entre as práticas pedagógicas e mundo contemporâneo para propiciar ensino com significados para nossos estudantes foram objetivos centrais da pesquisa. Para os jovens estudantes do século XXI, dada a centralidade das tecnologias digitais nas quais foram nascidos e criados, o aprender passa pela rede, a escola não pode se eximir de lincar em suas práticas escolares estas outras formas de aprender. O solo teórico deste estudo esta na conexão entre Geografia e Estudos Culturais por permitir estabelecer reflexões tensionadoras ao colocar interrogações nas análises dos dados. Para tanto, o caminho metodológico percorrido foi através de aplicação de um questionário e entrevista, onde foram levantadas questões referentes aos usos das tecnologias e dos meios de comunicação no cotidiano escolar. Fizeram parte da coleta de dados alunos e professores da Educação Básica, de algumas escolas públicas de Porto Alegre, durante os anos de 2012-2013. As analises dados foram direcionadas para mostrar a operacionalidade e a potencialidade das tecnologias digitais para as práticas escolares de Geografia. Como resultados destas análises, pode-se observar que, embora todos os dois grupos façam uso diário de tecnologias e dos meios de comunicação, estes são poucos utilizados nas práticas escolares da Geografia. No entanto, elas se fazem efetivamente presentes no dia-dia da escola, para os estudantes se fazem presentes de forma “escondida” na sala de aula e para os professores se fazem nas formas de se relacionarem com o mundo fora da escola. É preciso encontrar caminhos que estabeleçam conexões entre eles. Palavras-chave – contemporaneidade; tecnologias digitais; ensino de Geografia. DOS INÍCIOS Ampliar o debate sobre práticas escolares de Geografia apoiado nos modos de sermos e estarmos numa sociedade contemporânea, tanto professores como estudantes, centrada na mediação pela maneira como se relacionam com tecnologias de informação e comunicação, é a centralidade deste textoii. Somos uma sociedade cada vez mais plugada, ou seja, sem fio, onde nossa rotina vem sendo aceleradamente mediada digitalmente. E muitas vezes, a vida social já se transformou em vida eletrônica ou cibervida por se passar muitas horas na companhia de um computador, Tv ou celular e, apenas secundariamente, ao lado de livros impressos. Em termos relativos, a cultura impressa vem cedendo espaço para a visual. Se antes construíamos nossos conhecimentos principalmente a partir de conteúdos provindos de instituições tradicionais consolidadas (escola, família, clubes, etc) EdUECE- Livro 1 01421 Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola atualmente são outros espaços sociais que estamos construindo conhecimentos. As culturas midiáticas, as comunidades virtuais, entre outros, são exemplos disso. Trata-se de espaços sociais que se diferenciam dos tradicionais por ser mais voláteis e cambiantes. A conexão entre práticas escolares e tecnologias digitais amplia as capacidades cognitivas, conecta novos recursos e formas de atuar e de relacionar-se tanto dos estudantes como dos professores. Ambos estão cada vez mais ligados a ambientes digitais e os utilizam como mediações para lincar-se com o mundo, mas ainda é muito pouco. Pesquisas realizadas pelo Comitê de Gestor da Internet no Brasil, TIC Educação 2012, revelam resultados de propostas limitadas que envolvem a operacionalidade do mundo digital em uso na sala de aula. Isto permite evidenciar que estamos ainda num processo de acesso digital, de universalização, antes de já estarmos inseridos em novas práticas escolares, capazes de estabelecer outras maneiras de construção do conhecimento na sala de aula. A importância de se pensar a centralidade das tecnologias digitais passa pela premissa de não existir mais a opção de usar ou não o ambiente digital – ele já esta aqui, invadindo nosso mundo, a escola e todas as dimensões da sociedade. Da mesma forma que o quando livro começou a ser local de aprender, quem se recusou a usá-lo ficou alienado e marginalizado, agora, o mesmo acontece com o mundo digital. Diante destas constatações, este estudo procurou analisar as potencialidades e operacionalidades das tecnologias digitais como dispositivos pedagógicos implicados no processo de constituição do conhecimento geográfico e interessado em examinar tanto criações de práticas escolares com tecnologias digitais para produzir conhecimentos e como elas operam no processo de ensino-aprendizagem. Examinar tais conexões poderá contribuir para a apreensão de efeitos de sentido destas tecnologias digitais para um ensino de Geografia mais significativo e diversificado na Educação Básica. Implementar propostas de práticas pedagógicas constituídas apenas pelo acesso a tecnologia não garante e nem mobiliza estudantes para construção do conhecimento, é preciso impactar com práticas digitalmente letradas para alunos e professores. DOS MODOS DE PENSAR São incontroláveis as acelerações tecnológicas surgidas numa sociedade liquidomodernas, onde, em um curtíssimo espaço de tempo criam-se novos aparatos tecnológicos, nos dando sempre a sensação de estarmos obsoletos. As tecnologias EdUECE- Livro 1 01422 Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola transformam-se antes de termos a chance de aprendê-las definitivamente, exigindo constantes reinícios. É nesse cenário de velocidade e fluidez que a chamada Geração Y percorre dia-adia. Hoje, os estudantes aprendem a partir de consumos culturais, e a tecnologia facilita o uso dessa linguagem contemporânea. Ainda que sua interação seja pela via do entretenimento, do uso de hipertextos e hiperlinks, não podemos subestimar os diferentes caminhos percorridos para as mais variadas leituras. A importância de se pensar como o mundo virtual está sendo operacionalizado e como a linguagem trazida por ele auxilia na produção do saber, modelando nossas formas de ser, viver e pensar se faz preciso. Esse avanço possibilitou uma nova dinâmica dos fluxos de informação e potencializaram as interações e trocas entre pessoas e onde à vida social de um indivíduo está inserido nestas constantes e aceleradas mudanças. Isto implica em um tempo de profundas modificações nos modos de existência contemporâneas. Esta turbulência atinge de alguma forma nossas práticas escolares a ponto de nos deixarem atônitos. Seja por estarmos diante de uma geração de jovens, seja pela “intromissão” de alguns artefatos tecnológicos de comunicações nossas aulas (GARBIN, 2009). É um acontecimento que vem minando irreversivelmente as formas de estar e aprender o mundo, onde os aparatos das tecnologias digitais trazem consequências importantes para a educação ao gestar gêneros discursivos e comportamentais. Uma vez que a sociedade está cada vez mais higt tech, o consumo das novas tecnologias se faz necessário sob o ponto de vista dos sujeitos, cada vez mais entrelaçados no consumo e no mundo globalizado das informações, fluxos e redes. Por tudo isto, é evidente que o ensino também deve ter o “pé” na tecnologia digital. Preparar as gerações jovens com instrumentos atualizados de seu próprio cotidiano é desafio que devemos nos impor como professores. Mas com práticas que levem ao empoderamento desses jovens frente a este mundo tão complexo. Hoje todos, estudantes e professores, aprendemos a partir de consumos culturais, mesmo que nossa interação seja pela via do entretenimento, não devemos subestimar. Costa (2010) chama atenção para isto ao comentar que “a separação entre o que é educativo e o que seria meramente um produto de entretenimento, de informação ou de publicidade merece ser problematizado” (p.15). EdUECE- Livro 1 01423 Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola Produtos culturais como, por exemplo: MP4, celulares, câmaras digitais não fazem parte da lista de material didático solicitado na matrícula, eles invadem a escola sem ser convidados, perturbam as pedagogias curriculares, criam lugares nas salas de aulas. A maioria desses produtos culturais é fabricada e circulam em escalas globais, levando a homogeneização deles. Muitos de nós professores somos ativos frente à oferta cultural, aprendemos a lidar com a inovação tecnológica trazida por estes produtos. Isto é um desafio para escola, frente a este novo cenário em que seus estudantes são altamente ativos e aprendem a tecnologia numa velocidade atroz. Diante disso, a escola necessita incorporar as novas manifestações das culturas contemporâneas trazidas pelas tecnologias digitais em suas práticas pedagógicas. Ela deve tornar-se contemporânea também. A circulação da informação é assombrosa nos ambientes digitais, mas devemos estar alerta que a informação não é igual conhecimento. Para transformar a informação em conhecimento é necessário que os estudantes sejam capazes de apropriar-se e raciocinar de maneira critica. Para processar a informação é necessário possuir conhecimentos prévios. Não se trata só de saber o que se passa no mundo, ou seja, a informação, mas de pensar, refletir, entender, saber analisar aquilo que é veiculado para não fazer como comenta Cavalcanti (2008) que a escola se transforme em um “fliperama”, que se organize como se fosse um “casa de jogos eletrônicos. Tampouco o professor de geografia deve se tornar como um animador de TV, como um mediador de reality show. Nem o conteúdo geográfico tem de se tornar um tema de programa de vídeo ou de TV. Acredito que não é assim que a escola vai estar mais “atenada” com o mundo atual (p. 33). No entanto, é preciso a escola prestar atenção na cultura do aluno, a fim de estabelecer conexões entre eles, conforme Sibilia (2012): Nessas circunstâncias, não parece restar à escola outro remédio senão entrar no jogo como a única coisa que ela poderia ser: um produto entre inúmeros outros, que deve competir para captar a atenção dos seus clientes potenciais caso queria conquistar adeptos e subsistir. Mas fica em desvantagem por ser uma mercadoria pouco atraente, destinada a um cliente disperso e por definição insatisfeito, que, por sua vez, vive enfeitiçado pela EdUECE- Livro 1 01424 Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola variada oferta que a maquinaria do entretenimento não para de produzir (p. 66). Trazer as tecnologias digitais para nossas práticas escolares deve ser pelo viés das linhas de visibilidades, de mostrar como pode ser a construção dos significados do mundo. Não se trato de julgar se é bom ou ruim, se é possível ou não. Trata-se de explorar o potencial das linguagens de comunicações para capacitar os jovens estudantes para um alfabetismo digital, para auxiliá-los a estabelecer leituras dos produtos culturais que passam sob os olhos, em que muitos deles se tem acesso em questão de segundos, como a internet (HERNÁNDEZ, 2007). Diante de uma contemporaneidade digital, onde todos os locais que circulamos de alguma forma existem múltiplas linguagens digitais que nos orientam, nos disciplinam, nos educam, nos divertem, enfim nos fornecem valiosas pistas para estarmos no mundo. Por mais corriqueiras que sejam fazem parte do nosso mundo e é possível pensar na fluidez delas para nossas práticas pedagógicas (TONINI e CARDOSO, 2014). Para tanto, ao entender as linguagens digitais como locais inscritos de saberes, onde tentam fixar significados como natural possibilita relevantes indagações iniciais sobre o que se esta vendo com o que esta sendo produzido como conhecimentos geográficos nestas linguagens. É preciso que os professores percebam a riqueza das informações inscritas nas linguagens digitais e como elas são constituidoras de conteúdos pra suas aulas. E mais, são plataformas de novas formas de ensinar e aprender. DAS PROXIMADADES, DOS DISTANCIAMENTOS A intenção das analises dos dados não foram de estabelecer escalonamentos entre as escolas pesquisadas afim de implantar hierarquias entre elas, apenas os dados são trazidos como inventários constituidores da operacionalidade das tecnologias digitais nas práticas pedagógicas da Geografia. Fazem parte desta pesquisa professores e alunos de escolas públicas do ensino fundamental e médio, na modalidade regular de Porto Alegre, localizadas na área central da cidade, as quais foram locais da realização de estágios supervisionados em Geografia pelos nossos alunos de graduação. A coleta de dados ocorreu durante os anos letivos de 2012 e 2013, foram conduzidas entrevistas com questionários especificados para cada um dos públicos. EdUECE- Livro 1 01425 Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola Embora as mesmas se aproximem nas perguntas que desenham o perfil do entrevistado, sobre as atividades realizadas em sala de aula, e na sua vida cotidiana com o uso dos recursos tecnológicos. No âmbito escolar as tecnologias de informação e comunicações tem um reconhecimento potencial de diversificar as práticas pedagógicas ao fomentar dinâmicas mais participativas e colaborativas entre alunos e professores. Embora, elas estejam presentes no projeto político-pedagógico das escolas não assegura prioridade que os professores concedem a ela, como implementar novas práticas dentro da perspectiva de letramento digital. Esta condição de letramento digital esta atrelada no perfil dos professores e alunos analisados. O encontro com as tecnologias digitais dos professores, alunos e entre eles ocorre em todas as escolas. Isto se faz em tempos e espaços diferentes. Professor e aluno tem encontros com as TIC na escola, preponderantemente, através dos laboratórios de informática (principal foco de políticas governamentais na implementação das tecnologias nas escolas), onde o acesso a internet em sua maioria é realizado em banda larga com baixa velocidade de conexão; contata-se poucas escolas com conexões de redes sem fio e as que possuem WiFi são em locais determinados e compartilhados, dificultando na quantidade e qualidade do acesso; observa-se que a manutenção do sistema não é satisfatória e o número de computadores para cada alunos não é suficiente. Já na sala de aula, espaço de uso do maior tempo da materialidade do processo de ensinar e aprender, do encontro mais pontual entre aluno e professor, ainda esta ausente o computador. Estes indicadores são mais de ordens de infraestruturas, mas impactam fortemente ao limitar o processo de mediação da tecnologia com as práticas pedagógicas. Como as politicas públicas tem sido prioridade a disponibilização de computadores na escola, mesmo que seja de uso na gestão administrativa, não tem sido suficiente para garantir acesso e aptidão digital nas escolas. A presença de computadores portáteis, smartphones e tablets pelos professores já esta bastante marcante, principalmente, pelos mais jovens. Provavelmente por fazer partem das gerações X e Y, estão mais familiarizados com os recursos digitais. Os professores, em menor número, que trazem seus aparelhos tecnológicos pra escola apresentam maior uso do computador e da internet nas atividades didáticas, entre elas, pesquisa de informações (busca de conteúdos para ser trabalhados em sala de aula), EdUECE- Livro 1 01426 Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola trabalhos temáticos (download de conteúdos audiovisuais) e produção de materiais pelos alunos. No entanto, o uso das tecnologias é trazida pelo Datashow na linha da receita conhecida: aulas expositiva, ou seja, troca do quadro de giz pela equipamento de informática. O aumento do uso de equipamentos de informática no cotidiano dos professores mais jovens é consideravelmente superior em relação aos mais velhos, dizem não ter dificuldades para realizar atividades de comunicação através da internet. Embora, a maioria dos professores reconhecerem que o acesso a estes recursos possibilita diversificar as práticas pedagógicas, mas não assegura na questão de operar de forma colaborativa e autoral de modo a possibilitar outras formas de ensinar e aprender. Todos os professores, fora da sala de aula, mantêm uma vida conectada, fazem uso da internet como meio de comunicação, utilizam o Facebook, trocam e-mail, lêem jornais eletrônicos, assistem vídeos on line e se dizem um tanto íntimos das tecnologias, ainda que estejam aprendendo, e que apesar de pertencer a uma geração que só teve contato com as tecnologias na fase adulta, mostram-se com interesse de aprender e a utilizar no dia a dia, vem contribuindo para a evolução tecnológica, continuam conectados e sofisticados no uso das tecnologias, ainda que baseados nas formas tradicionais e analógicas da interação. Nos alunos é arrasante, em relação aos professores, a presença destes aparelhos tecnológicos, não somente de forma numérica como totalmente à vontade com os mesmos, desde criancinhas. São raros os alunos que não tem um celular na sala de aula e que não acessem diariamente a internet. O acesso da tecnologia digital para os alunos é quase condição de sobrevivência, é preciso estar conectado o tempo todo. Esta conexão é crescente com o ano de escolaridade, a comunicação entre eles é a motivação do acesso. O uso do computador pra fins escolares é acessado, em percentuais elevados, em casa na realização de atividades didáticas solicitadas pelo professor. Isto gera distanciamentos quanto a equipamentos, função e local de acesso da tecnologia digital: os alunos usam na escola o celular pra comunicação e em casa usam computador pra atividade escolar; os professores usam computador na escola pra pesquisar e comunicação, o encontro presencial deles se dá no laboratório de informática, quando ocorre. Também a divisória entre eles na escola refere-se ao tipo de aparato tecnológico, os professores são mais usuários de computadores e os alunos são de celulares. O celular EdUECE- Livro 1 01427 Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola permite acessos “escondidos” na sala de aula. Se a escola é apenas uma das instâncias que oportuniza os processos de ensinagem e que poderia exercitar uma escuta mais aguçada das cenas de acesso “escondido” que se desenrolam aula também em sala. Este cenário é comentado por Tonini e Cardoso (2014, p. 201): os alunos não apenas acessam como atribuem significados produzidos no interior destas conexões. Tal assertiva convoca olhar de outros modos para os aparatos digitais, desafiando-nos a pensar em novas pedagogias como condição necessária para operar nesses novos tempos e espaços em que conhecimentos geográficos são constantemente (re)construídos. Os alunos, para além de simples usuários de celulares, estabelecem constantes conexões simultâneas com a televisão, os jornais, o rádio e ainda fazendo uso extremo do celular, como forma de comunicação através das mensagens de texto, multimídia e uso das redes sociais. Mesmo que estas conexões sejam pelas vias do entretenimento, não dá para subestimar os diferentes caminhos percorridos para as mais variadas leituras e complexidades de acesso através do uso de hipertextos e hiperlinks, como exemplos. As novidades digitais são incorporadas pelos alunos de forma veloz, que se tornam tão naturais a ponto de deixar os professores atônitos com tamanha capacidade de seus alunos. Assim, os dispositivos eletrônicos com os quais convivem e que utilizam para realizar as mais variadas tarefas, estão cada vez mais presentes fazendo papel vital em suas vidas. E ao chegarem na escola e se depararem com local de quatro paredes e quadro de giz, cujas aulas são ainda tradicionais, estes alunos entram em conflitos pedagógicos. Com isto, a tecnologia digital não pode ser mais vista apenas como local de comunicação, de trocas e busca de informações, ou encontro entre pessoas através das redes sociais, mas, também, como um local de produção de conhecimento, como comenta Garbin (2010). Assim, alunos e professores transitam entre tempos e espaços às vezes simultâneos, outros não com usos e operacionalidades distantes em relação aos aparatos digitais, que permite pensar que os papéis de ensinar e aprender poderiam ser trocados de maneira colaborativa, principalmente, quando trabalhada com as novas tecnologias. DOS FINALMENTES EdUECE- Livro 1 01428 Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola O grande desafio, alertado por Garcia Pérez (2011) consiste em a escola trabalhar com as tecnologias digitais para que elas propiciem novas e outras práticas com significado para nossos estudantes, sob pena de nos transformarmos em ‘alienígenas’ diante deles. Trabalhar com ferramentas digitais, seu impacto e influência na escola, é um desafio legítimo e sedutor, já que a elas cruzam fronteiras, especificidades e bairrismos, construindo novos modos de aprender. Por tal, pergunto: estaremos nós preocupados com as experiências, preferências e interesses dos escolares e abertos ao compartilhamento de tais experiências? Como? Quais as nossas próprias experiências com as tecnologias digitais e como as trazemos (ou não) para a sala de aula? Somos nós, professores e alunos beneficiados com todas estas experiências? Ao entender que não existe separação entre práticas sociais e escola, então podemos construir práticas pedagógicas com outras linguagens e realidades, carregadas pelas múltiplas culturas que constituem os escolares. Nesse sentido, diminui-se a insatisfação que sentimos com as praticas pedagógicas que estão na escola e que ajudamos a produzir, ao propor formas mais significativas para possibilitar práticas sociais menos discriminatórias, direcionadas para diversidade das culturas dos escolares. É sob essa perspectiva que percebo a produtividade de operar com as tecnologias digitais como produtora de construção do sujeito, por conseguinte construtora de conhecimentos geográficos. Isto possibilitará entrar em contato, mais pontual, com leituras contemporâneas que discutem e teorizam sobre esta temática de novas linguagens gestadas pelas tecnologias digitais. Tais questões apontam uma série de desafios e potencialidades ao campo educacional, justificando a necessidade de articulação de estudos que possibilitem criar compreensões sobre quem são esses jovens estudantes do século XXI: Como se relacionam com as novas tecnologias? Que implicâncias isso traz ao campo educacional? Como nós professores podemos diminuir esta distanciamento entre escola e cotidiano através do uso das tecnologias digitais? Até onde esta nosso impeditivo enquanto formadores de cidadãos? Alunos e professores, hoje, encontram-se livremente conectado aos meios de comunicação através de redes sociais, correios eletrônicos, celulares, etc. Esses dispositivos chamam tanto a atenção ao ponto de serem usados em qualquer hora e lugar, mesmo que driblando proibições, como na sala de aula de muitas escolas pelos alunos, como pelos professores em cinemas, teatros. É preciso então estabelecer pontos de conexões entre eles , via escola, pra que as práticas pedagógicas da Geografia sejam mais significativas e interessantes para ambos. EdUECE- Livro 1 01429 Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola REFERENCIAS BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. ______. Tempos líquidos. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. CAVALCANTI, Lana de Souza. O Ensino de Geografia na Escola. Campinas: Papirus, 2012. COSTA, Marisa Vorraber. A escola tem futuro. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. COMITÊ DE GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. TIC Educação 2012. São Paulo, 2012. GARBIN, Elisabete Maria. Conectados por um fio: Alguns apontamentos sobre internet, culturas juvenis contemporâneas e escola. In: Salto para o Futuro – TV Escola. n.18, nov., 2009. GARCIA PÉREZ. Francisco F. Geografía, problemas sociales y conocimiento escolar. In: Anekumene. v. 2. n. 1, p. 6-21, 2011. 5376. Artículo HERNÁNDEZ, Fernando. Catadores da cultura visual. 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Dra. do Dept. de Ensino e Curriculo/FACED e Programa de Pós-Graduação de Geografia/UFRGS. ii O texto apresentado é um recorte da pesquisa Geografia e Múltiplas Linguagens: contribuições para as práticas escolares contemporâneas, desenvolvida junto ao programa de Pós-Graduação em Geografia e da área de Ensino da Geografia, do Departamento de Ensino e Currículo da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde envolve estudos de graduandos, mestrandos e doutorandos, sob minha orientação, e investigam múltiplos espaços culturais (presenciais e virtuais) nos quais vêm sendo constantemente locais de produções de subjetividades, consequentemente, conhecimentos. EdUECE- Livro 1 01430