5º dia de vivência – 22/07/2015 Hoje aconteceu o 5º dia de vivência no Ver-SUS Uberaba. Após o café da manhã, cada grupo se deslocou para seus respectivos locais de visita. Um grupo se dirigiu para uma UBS e para uma URS, enquanto meu grupo se dirigiu para um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de saúde mental. Quando chegamos à unidade, esperamos na recepção pela pessoa responsável por conduzir-nos na visita. Enquanto aguardávamos, conversávamos uns com os outros e fazíamos anotações, já que havia algumas informações da instituição em cartazes no local. Em determinado momento, alguns pacientes começaram a chegar na unidade, e os mesmos passavam pela recepção para adentrarem para suas atividades. À medida que eles entravam, nós viventes íamos os cumprimentando. Em determinado momento, uma paciente entrou e eu a cumprimentei. No entanto, a mesma, após me cumprimentar, voltou e me deu um tapa na cabeça. Fiquei meio sem reação, assim como os outros viventes, que ficaram bem preocupados comigo. Apesar de eu ficar meio sem graça, fiquei calma e encarei a situação com naturalidade. Após pouco tempo, a mesma paciente voltou e pediu desculpa para mim. Pouco depois do incidente, Adriana, responsável pela parte administrativa, nos conduziu para outra sala e iniciou a apresentação do CAPS Inácio Ferreira, já que a responsável pela condução da visita iria se atrasar um pouco. A instituição funciona de segunda a sexta, das 7:00 da manhã até as 17:00, realizando cuidados ambulatoriais, semi-intensivos e intensivos, por meio de um plano terapêutico, à pacientes portadores de transtornos mentais graves. São atendidos adultos de ambos os sexos, por demanda espontânea, encaminhados das ESF, ambulatórios ou de regresso do Sanatório Espírita de Uberaba. Os pacientes passam por uma triagem com a Equipe de Psicólogos e, na primeira sexta-feira após a triagem, o caso é discutido na reunião com os outros profissionais e, caso seja necessário, o paciente passa por uma avaliação com médico psiquiatra e é cadastrado no CAPS. A equipe da unidade é formada por assistente social, auxiliar de enfermagem, enfermeiros, farmacêutico, psiquiatras, psicólogos e terapeuta ocupacional. Ao todo, há 210 pacientes e 22 funcionários. Cada paciente possui um plano terapêutico, definido de acordo com a necessidade dos pacientes. O objetivo do CAPS é tratar o paciente com a tentativa de reinserir o mesmo na sociedade na medida do possível. As críticas realizadas abordaram a falta de funcionários para o período noturno, o que limita o horário de funcionamento da unidade, e a falta de assistência psicológica aos profissionais do CAPS. No entanto, também houve pontos positivo ressaltados, como a inexistência de fila de espera para a triagem psicológica e o fato de a instituição não se assemelhar de forma nenhuma a um hospital ou manicômio, pois a estrutura física é de uma casa comum, os profissionais de saúde não usam jalecos nem estetoscópios. Durante a reunião, a responsável por conduzir a visita chegou, mas como possuía outro compromisso, achou melhor deixar Adriana terminar o encontro, pois ela conhece bem o funcionamento da instituição. Pude perceber, durante a visita, que os viventes estavam um pouco receosos em relação aos pacientes quando os mesmos passavam próximo à sala em que estávamos, mas isso não influenciou o andamento da conversa. Durante a conversa, os viventes fizeram perguntas sobre quais transtornos os pacientes que eram atendidos ali possuíam, se haviam usuários de drogas e/ou álcool, a questão religiosa no tratamento, o relacionamento da CAPS com o sanatório e a família, etc. Enfim, pudemos esclarecer muitas dúvidas, de modo que a vivência foi muita proveitosa. Após o fim da mesma, percorremos a estrutura física do lugar e encerramos a visita da manhã. Depois de almoçarmos, partimos para as visitas da tarde. O grupo ao qual eu pertencia visitou o Hospital do Pênfigo de Uberaba. Fomos muito bem acolhidos pela recepcionista, pela assistente social e pela presidente da instituição. Inicialmente, ficamos em uma sala onde a presidente contou a história da instituição. Tudo começou quando uma enfermeira – Aparecida Conceição Ferreira – levou para sua casa dez pacientes com “fogo selvagem” (ou pênfigo) para cuidar dos mesmos quando eles estavam desamparados. O que era para durar 10 dias tornou-se 10 anos e uma grande atividade assistencial foi desenvolvida. Depois de sabermos mais da história da unidade, a assistente social contou-nos mais da história recente do Hospital. Na verdade, o Hospital do Pênfigo faz parte de uma instituição maior – o Lar da Caridade -, onde são desenvolvidas inúmeras atividades assistenciais, outras voltadas para a educação e outras para a saúde. Foi com grande surpresa que os viventes descobriram que a unidade não recebe nenhum tipo de verba do SUS, apenas algumas isenções fiscais. Recentemente, a instituição teve que interromper as internações de pacientes devido ao fato de não seguir uma série de padronizações exigidas pelo SUS. Assim, na questão da saúde continuam funcionando apenas atendimentos ambulatoriais. Já no campo da atividade assistencial, alguns projetos foram interrompidos este ano devido à diminuição de doações, já que o Hospital do Pênfigo é mantido devido a esses auxílios. Ao todo, o hospital realiza cerca de 10 mil atendimentos e possui médico clínicogeral, dermatologista, psiquiatra, psicólogos, assistentes sociais, nutricionista, fisioterapeuta, dentista, enfermeira e técnica em enfermagem. Apenas alguns desses profissionais trabalham de maneira voluntária. Após essa apresentação mais detalhada da instituição, percorremos o espaço físico da mesma, que possui uma parte bem simples, onde há a casa onde a fundadora do local morava e galpões, e outra parte mais nova, onde os atendimentos ambulatoriais são realizados. Depois disso, nos reunimos novamente com a atual presidente do hospital – neta da Dona Aparecida – e tivemos espaço para esclarecermos possíveis dúvidas. Ao final, todos nós ganhamos livros e nos sentimos bem acolhidos pelas pessoas que nos acompanharam durante a visita. Pude perceber que o Hospital do Pênfigo é uma instituição muito importante por suas ações sociais e fico muito triste de saber que muitos de seus projetos não estão tendo condições de serem desenvolvidos por falta de verba. Após o fim das visitas do dia, descansamos um pouco e nos reunimos no salão de reuniões, localizado no sexto andar do hotel. Foi um momento para trocarmos informações sobre as visitas que cada grupo realizou no dia. O grupo que visitou pela manhã uma UBS e uma URS disse que a unidade é muito semelhante às outras UBS visitadas e apenas reforçaram um assunto já discutido ontem, o E-SUS, projeto para informatizar todos os dados dos usuários. Na parte da tarde, o grupo ao qual eu não pertencia visitou uma unidade matricial e o que relataram de bastante interessante é que alguns viventes foram atendidos no local. Uma das viventes atendidas foi atendida por um médico cubano (presente no encontro de ontem) e pode confirmar o atendimento humanizado que tal profissional possui. Durante a conversa na reunião, um dos facilitadores reforçou que médicos de Cuba têm o costume de se sentarem ao lado do paciente durante a consulta, de forma que a mesma ocorre realmente de maneira bem próxima. Nessa consulta com o médico cubano, ao fim da mesma, a vivente teve oportunidade de perguntar sobre o salário do mesmo, se realmente parte dele é enviado para Cuba. O médico confirmou a informação e disse que se sente satisfeito com a quantia que sobra para eles, pois sabe que a outra parte do dinheiro vai para seu país auxiliar o mesmo. Assim, ficou claro para nós a diferença cultural entre Cuba e Brasil; no primeiro, há uma noção de responsabilidade coletiva muito maior do que aqui.