MECÂNICA DOS FLUIDOS Cláudio Messias da Silva A mecânica dos fluidos é o estudo dos fluidos em movimento (dinâmica dos fluidos) ou em repouso (estática dos fluidos) e dos efeitos subseqüentes do fluido sobre os contornos, que podem ser superfícies sólidas ou interfaces com outros fluidos. Os gases e os líquidos são classificados como fluidos e o número de aplicações dos fluidos na engenharia é enorme, bombas, ventiladores, turbinas, aeronaves, embarcações, moinho de vento, tubos, mísseis, icebergs, motores, filtros, jatos aspersores. Se fizermos uma análise veremos que quase tudo neste planeta ou é um fluido ou se move em um fluido ou próximo dele. INTRODUÇÃO Em primeiro iremos aprender a conceituação de fluido. Do ponto de vista da mecânica dos fluidos, toda matéria encontrase em somente dois estados, fluido e sólido. A diferença entre os dois é perfeitamente óbvia para qualquer estudante. A distinção técnica está ligada ao seguinte conceito. Um sólido pode resistir a uma tensão de cisalhamento por uma deformação estática e um fluido não pode. Qualquer tensão cisalhante aplicada a um fluido, não importa quão pequena, resultará em movimento desse fluido, sendo assim o fluido escoa e se deforma continuamente, enquanto a tensão de cisalhamento permanece. Como já é sabida a definição de um fluido agora vamos definir as duas classes de fluidos, os líquidos e os gases. Novamente a distinção é técnica, ligada aos efeitos das forças de coesão. O liquido, sendo composto de moléculas relativamente agrupadas com forças coesivas fortes, tende a manter sue volume e formar uma superfície livre em um campo gravitacional, se não estiver confinado na parte superior. Um gás tendo suas moléculas amplamente espaçadas, com forças coesivas desprezíveis, um gás é livre para expandir ate que encontre paredes que o confinem. Um gás não tem volume definido e, quando é deixado sem confinamento, forma uma atmosfera que é essencialmente hidrostática. Dimensões e unidades Uma dimensão é a medida pela qual uma variável física é expressa quantitativamente. Uma unidade é um modo particular de ligar um número à dimensão quantitativa. Sendo assim, como o exemplo tem o comprimento que é uma dimensão associada com variáveis como distancia deslocamento, largura, deflexão e altura, enquanto centímetros e polegadas são ambos as unidades numéricas para expressar comprimento. A dimensão é um conceito poderoso sobre o qual uma ferramenta esplêndida chamada análise dimensional foi desenvolvida. Na engenharia o sistema de unidades é muito importante, pois, não se pode projetar e construir um sistema de dutos cujo diâmetro seja D e cujo comprimento seja L. No estudo de mecânica dos fluidos há somente quatro dimensões primárias das quais todas as outras dimensões podem ser derivadas: massa, comprimento, tempo e temperatura. Uma lista de algumas variáveis importantes em mecânica dos fluidos, com dimensões derivadas como combinações de quatro dimensões primárias será apresentada na tabela abaixo: Prefixos compatíveis em potência de 10 Alguns dos resultados obtidos pro problemas em engenharia são frequentemente muito pequenos ou muito grandes para unidades comuns, com muitos zeros de uma forma ou de outra. Por exemplo, escrever p = 114.000.000 Pa é um tanto complicado pela quantidade de zeros sendo assim pode-se utilizar um prefixo “M” sendo assim para simplificar 106, convertemos a enorme quantidade de zeros em um simples p = 114 MPa (megapascal) A tabela abaixo apresentará os prefixos convenientes par unidades de engenharia. euleriano de descrição. No método euleriano, calculamos o campo de pressão, por exemplo, p(x, y, z, t) do padrão de escoamento, não as variações de pressão p(t) que a partícula experimenta quando ele se move no campo. O segundo método, que segue uma partícula individual movendo-se no fluido, é a chamada de descrição lagrangiana. A aproximação lagrangiana que é mais apropriada à mecânica dos sólidos, não será considerada neste curso. Para ficar mais claro para estudantes exemplificaremos de forma bem clara as duas descrições. As duas diferentes descrições podem ser comparadas na analise do fluxo de trafego ao longo de uma auto-estrada. Pode-se selecionar certo comprimento de auto-estrada para estudo, chamado campo de fluxo. Com o passar do tempo, vários carros vão entrar e deixar o campo e a identidade dos carros específicos dentro do campo mudará constantemente. O engenheiro de trafego ignora carros específicos e concentra-se na sua velocidade media como uma função do tempo e da posição dentro do campo, mais a taxa de fluxo ou o número de carros por hora passando em uma dada seção da autoestrada. Esse engenheiro está utilizando uma descrição euleriana do fluxo de trafego. Outros pesquisadores, policiais ou os cientistas sociais, podem estar interessados na trajetória ou na velocidade ou no destino de carros específicos no campo. Seguindo um carro especifico como uma função do tempo, eles estão usando uma função do tempo, eles estão usando uma descrição lagrangiana do fluxo. Propriedades Termodinâmicas de um Fluido Descrições Euleriana e Lagrangiana em mecânica dos fluidos Existem dois pontos diferentes na análise de problemas em mecânica. A primeira visão, apropriada à mecânica dos fluidos, preocupa-se com o campo de escoamento e é chamada de método As propriedades termodinâmicas mais comuns para um fluido é a pressão (p), a massa específica (ρ) e a temperatura (T). Outras propriedades termodinâmicas tornam-se importantes quando balaços de trabalho, calor e energia são tratados, energia interna (u), entalpia (h), entropia (s) e calores específicos (cp) e (cv). Por exemplo, a pressão. A pressão é a tensão (de compressão) em um ponto no fluido estático, junto com a velocidade, a pressão p é a mais importante variável em mecânica dos fluidos. Diferenças ou gradientes de pressão frequentemente dirigem um escoamento, especialmente em dutos. Em escoamentos a baixas velocidades, a magnitude real da pressão nem sempre é importante, a menos que caia tão baixo que cause a formação de bolhas de vapor no liquido. A temperatura T é uma mediada do nível de energia interna de um fluido, podendo variar consideravelmente durante um escoamento a alta velocidade de um gás, se as diferenças de temperatura são grandes, a transferência de calor pode ser importante, mas a preocupação aqui neste curso é principalmente com os efeitos dinâmicos. A massa específica de um fluido, designada por ρ (letra minúscula grega rô) é a massa por unidade de volume. A massa específica é altamente variável em gases e aumenta quase proporcionalmente ao nível de pressão, no caso dos líquidos a massa específica é quase constante, por exemplo, a massa específica da água em torno de 1000 kg/m3 e aumenta somente 1% se a pressão for aumentada a um fator de 220, sendo assim a maioria dos escoamentos de líquidos é tratada como aproximadamente “incompressível”. Em geral os líquidos são mais densos que os gases à pressão atmosférica. O líquido comum mais pesado é o mercúrio, e o gás mais leve é o hidrogênio. Como se pode observar tem-se as duas massas específicas a 20 ºC e 1 atm. Mercúrio: ρ = 13580 kg/m3 Hidrogênio: ρ = 0.0838 kg/m3 Eles diferem de um fator de 162000. O peso específico de um fluido, designado por γ (gama), é seu peso por unidade de volume. Da mesma maneira que uma massa tem um peso P = mg, massa específica e peso específico são simplesmente relacionados pela gravidade: molecular, esta é comumente designada como energia interna û. Um ajuste geralmente aceito a essa situação estática para um escoamento é acrescentar mais dois termos de energia que surgem da mecânica é a energia potencial e a energia cinética. A energia potencial é igual ao trabalho necessário para se mover o sistema de massa m da origem até uma posição (local) contra um campo gravitacional g (aceleração da gravidade), sendo o valor da energia potencial a multiplicação da massa pela gravidade local. A energia cinética é igual ao trabalho necessário para variar a velocidade da massa de zero até a velocidade V, sendo o seu valor a multiplicação da massa pela velocidade ao quadrado dividida por dois. Sendo assim, a energia total armazenada e por unidade de massa em mecânica dos fluidos é a soma de três termos: e = einterna+ecinética+epotencial Onde e = û + ½V2 + gz Relações de estado para gases As propriedades termodinâmicas são encontradas tanto teoricamente como experimentalmente e relacionadas umas com as outras por relações de estados que diferem para cada substância. Como já é sabido todos os gases a altas temperaturas e a baixas pressões estão em boa concordância com a lei dos gases perfeitos: P = ρRT R = cp-cv = constante do gás Sendo cp calor específico a pressão constante e cv calor específico a volume constante. γ = ρg Onde tem como unidades peso por unidade de volume, em N/m3. A densidade, designada por d, é a relação da massa específica de um fluido e a de um fluido padrão de referência, água (para líquidos) e ar (para gases): Onde cada gás tem sua constante R, que é a constante universal C = 8314 m2 / (s2. K) dividida pelo peso molecular do gás. Rgas = C / Mgss Neste caso Car = 8.314 m2/(s2.K) 28,97 resultando dgas = ρgas / ρar = ρgas / 1.205 kg/m3 dliquido = ρliquido / ρagua = ρliquido / 998 kg/m3 e Mar = Rar=287 m2/(s2.K) Exemplo 1.6 Energias Potencial e Cinética Número de Reynolds A única energia em uma substância é aquela armazenada em um sistema por atividade molecular e forças de ligação A primeira coisa que um engenheiro da área de fluidos deve fazer é estimar a faixa do número de Reynolds do escoamento em estudo. O número de Reynolds Re muito baixo indica movimento viscoso muito lento, no qual os efeitos da inércia são desprezíveis. Número de Reynolds Re moderado indica um escoamento laminar com variação suave. Um número de Reynolds alto provavelmente significa escoamento turbulento. Exercícios 1) Um pequeno povoado consome 0,1850 hectares. m/dia de água de seu reservatório. Converta esse uso médio de água para a) metros cúbicos por minuto e b) litros por segundo. 2) Ar a 1 atm e 20 ºC tem uma energia interna de aproximadamente 2,1E5 J/kg. Se esse ar se move a 150 m/s a uma altitude z = 8 m, qual é sua energia total, em J/kg, relativa ao nível de referência z = 0? Alguma dessas contribuições de energia é desprezível? 3) Um tanque contém 0,9 m3 de hélio a 200 kPa e 20 ºC. Calcule a massa total desse gás, em kg, a) na terra b) na lua. Além disso, responda qual a transferência de calor, em MJ, requerida para expandir esse gás à temperatura constante para um novo volume de 1,5 m3? 4) No Brasil, quando dizemos que um pneu de automóvel está cheio “a 32 lb”, isso significa que a pressão interna do pneu é 32 libras-força por polegada ao quadrado (lbf/in2) acima da pressão atmosférica. Esse valor equivale a 220632 N/m2 em unidades do sistema internacional (SI). Considerando que o pneu está ao nível do mar, tem um volume de 85 litros e está a 24 ºC calcule o peso total de ar, em N, no interior do pneu. 5) Um tanque de ar comprimido armazena 142 litros de ar a 827,37 kPa manométrica, isto é, acima da pressão atmosférica. Calcule a energia, em N.m necessária para comprimir esse ar a partir da atmosfera, pressupondo-se um processo isotérmico ideal. 6) Um dirigível é aproximado por um esferóide alongado com 90 m de comprimento e 30 m de diâmetro. Calcule o peso do gás a 20 ºC no interior do dirigível para a) hélio a 1,1atm e b)ar a 1,0 atm. 7) Se a água ocupa 1 m3 a 1 atm de pressão, calcule a pressão necessária para reduzir seu volume em 5%. 8) A viscosidade absoluta de um fluido é principalmente uma função da: a) Massa especifica do fluido. b) Temperatura. b) Pressão. e) Velocidade. 9) Se um corpo sólido uniforme pesa 50 N no ar e 30 N na água, qual o valor de sua densidade? 10) O hélio tem peso molecular de 4,003. Qual é peso de 2 m3 de hélio a 1 atm e 20 ºC? DISTRIBUIÇÃO DE PRESSÃO EM UM FLUIDO Muitos problemas de mecânica dos fluidos não envolvem movimento. Eles se referem à distribuição de pressão em um fluido estático e seus efeitos sobre superfícies sólidas e sobre corpos flutuantes ou submersos. Quando temos um fluido com velocidade nula, na condição hidrostática a variação de pressão deve-se apenas ao peso do fluido. Pressão manométrica e vácuo. Pressão hidrostática nos líquidos Os líquidos são aproximadamente incompressíveis, de modo que podemos desprezar suas variações de densidade em hidrostática. Logo, adotamos uma densidade constante nos cálculos em hidrostática, sendo assim para líquidos: p2 – p1 = - γ (z2 – z1) Quando introduzimos o valor de referência (p1, z1) = (pa, 0) a equação torna-se, para p em qualquer profundidade z (negativa). Todo engenheiro deve estar apto a especificar as pressões. As pressões medidas podem ser maiores ou menores que a pressão atmosfera local, dando-se um nome especial para cada uma: p>pa Pressão manométrica: pman = p - pabs p<pa Pressão vacuométrica: pvac = pabs – p Onde a pressão absoluta ou relativa é a pressão cujo valor é medido em relação a atmosfera ambiente. Sendo assim pode-se utilizar como uma regra conveniente; adiciona-se ou subtrai-se a pressão. A pressão em um fluido estático uniforme, distribuído continuamente, varia apenas com a distancia vertical e é independente da forma do recipiente. A pressão é a mesma em todos os pontos sobre um dado plano horizontal no fluido. A pressão aumenta com a profundidade no fluido. p = pa – γz Como se pode observar a figura acima apresenta para lagos e oceanos, o sistema de coordenadas para distribuição de pressão hidrostática em oceanos e atmosferas. Barômetro de mercúrio A aplicação mais simples para a formula p2 – p1 = - γ (z2 – z1) é o barômetro de mercúrio, que mede a pressão atmosférica absoluta local. Um tubo enchido com mercúrio é invertido, e ao mesmo tempo, submergido em um reservatório. Isso provoca um vácuo significativo na extremidade superior fechada, pois o mercúrio tem uma pressão de vapor extremamente pequena a temperatura ambiente (0,16 Pa a 20 ºC). Uma vez que a pressão atmosférica força uma coluna de mercúrio a subir até uma distância h para dentro do tubo, a superfície superior do mercúrio está à pressão zero. Manometria Como já é sabida uma variação de elevação z2 – z1 é equivalente a uma variação de pressão. Sendo assim uma coluna estática de um ou mais líquidos pode ser usada para medir as diferenças de pressão entre dois pontos. Tal dispositivo é chamado manômetro. Se forem utilizados múltiplos fluidos, devemos alterar a massa especifica na formula a medida que nos movermos de um fluido para o outro. Pode-se utilizar o artifício mnemônico: Dois pontos quaisquer de mesma elevação, em uma massa contínua do mesmo fluido estático, terão a mesma pressão. 2) Um tanque fechado contém 1,5 m de óleo SAE 30, 1m de água, 20 cm de mercúrio e um espaço de ar em cima, tudo a 20 ºC. A pressão absoluta no fundo do tanque é 60 kPa. Qual a pressão no espaço de ar? 3) A figura abaixo mostra a pressão manométrica em A = 1,5 kPa. Os fluidos estão a 20 ºC. Determine as elevações z, em metros, dos níveis dos líquidos nos piezômetros B e C. Assim pode-se observar a figura abaixo que apresenta uma avaliação das variações de pressão através de uma coluna com múltiplos fluidos. Exercícios Pode-se utilizar a tabela resolver os exercícios. Fluidos Ar 1 atm Álcool etílico Óleo SAE 30 Água Água do mar Glicerina Tetracloreto de carbono Mercúrio abaixo para Peso específico γ a 20 ºC (N/m3) 11,8 7733 8720 9790 10050 12360 15570 133100 1) O ponto mais profundo conhecido nos oceanos é 11034 m no Mariana Trench no Pacífico. A essa profundidade, o peso especifico da água do mar é aproximadamente 10520 N/m3. Na superfície, γágua mar = 10050. Calcule a pressão absoluta a essa profundidade, em atm. 4) Na figura abaixo, a 20 ºC as superfícies da água e da gasolina estão abertas à atmosfera e à mesma elevação. Qual a altura h do terceiro líquido no ramo direito? 5) O sistema da figura abaixo está a 20 ºC. Se a pressão no ponto A é 90973 Pa, determine as pressões nos pontos B, C e D em Pa. 6) O sistema da figura abaixo está a 20 ºC. Se a pressão atmosférica é 101,33 kPa e a pressão no fundo do tanque é 242 kPa, qual é a densidade do fluido X? 7) Observando a figura abaixo o fluido 1 é óleo (d= 0,87) e o fluido 2 é glicerina a 20 ºC. Se pa =98 kPa, determine a pressão absoluta no ponto A. 8) Para o manômetro invertido demonstrado na figura abaixo todos os fluidos estão a 20 ºC. Se pb-pa = 97 kPa, qual deve ser a altura H em cm? Fig 2.32 9) Considere o escoamento de água para cima em um tubo inclinado de 30º, como na figura abaixo. O manômetro de mercúrio marca h=12 cm. Ambos os fluidos estão a 20 ºC. Qual é a diferença de pressão p1-p2 no tubo? 10) Uma bomba introduz lentamente mercúrio pelo fundo do tanque fechado, como se pode observar na figura abaixo. No momento mostrado, a pressão do ar é pb = 80 kPa. A bomba pára quando a pressão do ar subir a 110 kPa. Todos os fluidos permanecem a 20 ºC. Qual será a leitura do manômetro h nesse momento, em cm, se ele está conectado ao ar ambiente padrão ao nível do mar patm? 13) Na figura abaixo, determine a pressão manométrica no ponto A em Pa. Ela é mais alta ou mais baixa que a atmosférica? 11) Na figura abaixo, o tanque e tubo estão abertos à atmosfera. Se L = 2,13 m, qual é o ângulo de inclinação θ do tubo. 14) Na figura abaixo ambas as extremidades do manômetro estão abertas à atmosfera. Calcule a densidade do fluido X 12) O sistema na figura abaixo está a 20 ºC, calcule a pressão absoluta no ponto A. 15) Para o tanque fechado da figura abaixo, todos os fluidos estão a 20 ºC e o espaço de ar é pressurizado. Sabe-se que a força hidrostática externa líquida no painel de 30 cm por 40 cm no fundo da camada de água é 8450 N. Calcule a pressão no espaço de ar.