Razão - Admfortium

Propaganda
Razão
Os vários sentidos da palavra razão
Em nossa vida cotidiana usamos a palavra razão em muitos sentidos. Dizemos por
exemplo, “eu estou com a razão”, ou “ele não tem razão”, para dizer que temos certeza de
alguma coisa. Também falamos num momento de raiva que “alguém perde a razão”, como se a
razão fosse alguma coisa que se pode ter ou não ter.
Esses poucos exemplos nos mostram os diversos significados que a razão pode
transmitir como: certeza, lucidez, motivo, causa, etc.
A consciência é a razão. Para muitos filósofos, porem, a razão não é apenas a
capacidade moral e intelectual dos seres humanos, mas também uma propriedade das próprias
coisas existindo na própria realidade.
Origem da palavra razão
A palavra razão é originaria de duas fontes: a palavra latina Ratio e a palavra grega
Logos. Logos vem do verbo legeim que quer dizer: contar, reunir, juntar, calcular. Ratio vem do
verbo reor que quer dizer as mesmas coisas que logos, porem com distinções entre separar e
medir. Por isso logos, ratio ou razão significa pensar e falar ordenadamente.
Os princípios racionais:
Principio da identidade: é a condição do pensamento e sem eles não podemos pensar,
ou seja, é a condição para que possamos conhecer as coisas e as pessoas a partir de suas
definições.
Principio da não contradição: esse principio traz diversas relações e dimensões do que
seja e não seja correto, ou seja, vai muito a fundo quando o assunto é a expressão “talvez”. Ex:
“que o homem seja e não seja mortal”, “que o vermelho seja e não seja vermelho”, etc.
Principio de terceiro excluído: descarta a possibilidade de que uma preposição ou
afirmação possua uma espécie de 3º alternativa ou 3º opção. Ex: “ou este homem é ou não é
Sócrates”, “ou faremos a guerra ou a paz”, ou esta certo ou esta errando, mesmo havendo varias
escolhas possíveis, só há realmente duas, certas ou erradas.
Principio da razão suficiente: tudo o que existe e tudo o que acontece tem uma razão
para existir ou para acontecer;
Atividade racional
A filosofia distinguiu duas grandes modalidades da atividade racional: intuição e o
raciocínio.
A razão discursiva segue uma realidade ou um objeto, percorrendo um caminho
realizando atos do conhecimento para conseguir capta-lo. São procedimentos passando por
etapas sucessivas do conhecimento para chegar ao conceito ou a definição do objeto.
A razão intuitiva ao contrario, parti da intuição ao ver tal fato acontecendo ou através de
um contato direto e imediato com o objeto não necessita de provas ou realiza um processo de
conhecimento sobre a coisa.
A intuição racional pode ser de dois tipos: intuição sensível ou empírica e intuição
racional. Intuição empírica é o conhecimento direto e imediato das qualidades sensíveis do
objeto externo cores, sabores, adores, paladares, texturas, dimensões, distancias. Intuição
sensível refere-se aos estados do conhecimento do sujeito individual, sensações, lembranças,
imagens, sentimentos, desejos e percepções pessoais.
A intuição difere das demais justamente por sua universatilidade e necessidade sendo o
conhecimento direto e imediato dos princípios da razão.
Na filosofia o exemplo mais celebre da intuição intelectual é conhecida como o códito
cartesiano, a afirmação de Descartes: “Penso logo existo”. Ao dizer penso logo existo, esta
afirmando que é um ser pensante sem a necessidade de provas ou demonstrações.
A razão discursiva: dedução, indução e abdução.
A dedução é um procedimento pelo qual um fato ou objeto particular são conhecidos
numa teoria geral. A razão oferece regras especiais para realizar uma dedução e, se tais regras
não forem respeitadas, será considerada falsa.
Indução realiza um caminho contrario da dedução. Pois partimos de casos particulares
iguais ou semelhantes e buscamos a lei geral, conhecendo todo o caminho percorrido e ao final
do percurso obtemos a definição ou lei geral.
A dedução e a indução são conhecidas com o nome inferência, concluir alguma coisa a
partir de outra já conhecida.
Abdução é o processo percorrido através de sinais, indícios, que a pessoa passa para
conhecer um fato ainda não conhecido, através da busca constante sobre a causa, gerando uma
conclusão.
De modo geral, a indução e a abdução são procedimentos racionais que empregamos
para a aquisição de conhecimentos enquanto a dedução e o procedimento racional que
empregamos para verificar ou comprovar a verdade de um conhecimento já adquirido.
A razão Inata ou adquirida
Inatismo ou empirismo?
O inatismo afirma que nascemos trazendo em nossa inteligência não só os princípios
racionais, mais também algumas idéias inatas. O empirismo ao contrario afirma eu a razão com
seus princípios seus procedimentos e suas idéias são adquiridas por nos através da experiência.
O inatismo
Sócrates dialoga com um jovem escravo analfabeto. Fazendo-lhe perguntas certas na
hora certa, o filosofo consegue que o jovem escravo demonstre sozinho um difícil teorema de
geometria (teorema de Pitágoras). As verdades matemáticas vão surgindo no espírito do escravo
á medida que Sócrates vai-lhe fazendo as perguntas e vai raciocinando com ele. Como isso seria
possível, indaga Platão, se o escravo não houvesse nascido com a razão e com os princípios da
racionalidade? Como dizer que conseguiu demonstrar o teorema por um aprendizado vindo da
experiência, se ele jamais ouvirá falar na geometria?
Conhecer diz Platão é recordar a verdade que já existe em nós, é despertar a razão para
que ele exerça por si mesmo. Por isso Sócrates fazia perguntas e a traves delas as respostas
poderiam lembrar-se da verdade e do uso da razão. Se não nascêssemos com a razão e com a
verdade indaga Platão como saberíamos que temos uma ideia verdadeira ao encontrá-la? Como
poderíamos distinguir o verdadeiro do falso?
Inatismo Cartesiano
Descarte mostra que nosso espírito possui três tipos de idéias que se diferenciam
segundo sua origem e qualidade.
1Idéias adventícias: são aquelas que se originam de nossas sensações, percepções,
lembranças; são idéias que nos vem por termos tido a experiência sensorial ou sensível das
coisas a que se referem. Exemplo: a ideia de arvore, de pássaro, de instrumentos musicais etc.
2Idéias Fictícias – são aquelas que me criamos nossa fantasia e imaginação compondo
seres inexistentes com pedaços ou partes de idéias adventícias que estão em nossa memória, são
as fabulações das artes, da literatura, dos contos infantis.
3Idéias inatas- são aquelas que não poderiam vir de nossas experiências sensorial por que
não há objetos sensoriais ou sensíveis para elas, nem poderiam vir de nossas fantasias, pois não
tivemos experiência sensorial para compo-las a partir de nossas memórias, as idéias inatas são
inteiramente racionais e só podem existir por que já nascemos com elas. Segundo descartes as
idéias inatas são as mais simples que possuímos as mais famosas das idéias inatas e cartesianas
é o PENSO LOGO EXISTE. A tese central dos inatistas é a seguinte: se não possuirmos em
nosso espírito a razão e a verdade, nunca teremos como saber se um conhecimento é verdadeiro
ou falso, isto é nunca saberemos se uma ideia corresponde ou não a realidade a que ela se refere.
O empirismo
Contrariamente aos defensores do inatismo, os defensores do empirismo afirma que a
razão, a verdade e as idéias racionais são adquiridas por nos através da experiência. Antes da
experiência, dizem eles nossa razão é como uma folha em branco, onde nada foi escrito.
No decorrer da historia da filosofia muitos filósofos defenderam a tese empirista, mas os
mais famosos e conhecidos são os filósofos ingleses dos séculos XVI ao XVIII, chamados, por
isso, de empirista inglês: Francis Bacon, John Locke, George Berkeley e David Hume.
Nossos conhecimentos começam com a experiência dos sentidos isto é com as
sensações. Os objetos exteriores excitam nossos órgãos dos sentidos e vemos cores, sentidos,
sabores e odores, ouvimos sons, sentimos as diferença entre o áspero e o liso, o quente e o frio
etc.
As percepções por sua vez, se combinam e associam. A associação pode dar-se por três
motivos: por semelhança, por proximidades ou contiguidade espacial e por sucessão temporal.
A razão pretende através de seus princípios, seus procedimentos e suas idéias, alcançar
a realidade em seus aspectos universais e necessários.
Problemas do inatismo
Se os princípios e as idéias da razão são inatos e por isso universal e necessário, como
explicar que possam mudar? Platão afirmava que a ideia de justiça era inata, vinha da
contemplação intelectual do justo em si ou do conhecimento racional das coisas justas em si.
Senso inato era universal e necessária.
Uma ideia verdadeira ao contrario por ser verdadeira é inata universal e necessária não
sofrendo as variações das opiniões que alem de serem variáveis são no mais das vezes falsas,
pois nossa experiência tende a ser enganosa ou enganada.
Se as idéias são racionais e verdadeiras é por que corresponde a realidade. Ora a
realidade permanece a mesma e, no entanto as idéias que a explicavam perderam a validade. Ou
seja, o inatismo se depara com problema da mudança das idéias feita pela própria razão e com
problema da falsidade das idéias demonstrada pela própria razão. O empirismo por sua vez se
defronta com um problema insolúvel.
Os problemas do inatismo e do empirismo: soluções filosóficas
Inatismo e empirismo: questões e respostas
A razão enfrenta problemas sérios quanto à sua intenção de ser conhecimento universal
e necessário da realidade. Como consequência de conflitos e impasses entre o inatismo e o
empirismo, surgiu na Filosofia a tendência ao ceticismo, isto é, passou-se a duvidar de que o
conhecimento racional, como conhecimento certo, verdadeiro e inquestionável, seria possível.
Neste capítulo vamos examinar algumas soluções propostas pela Filosofia para resolver
essa questão. Os problemas criados pela divergência entre inatistas e empiristas foram
resolvidos em dois momentos: o primeiro é anterior à filosofia de David Hume e encontra-se na
filosofia de Leibniz; o segundo é posterior à filosofia de Hume e encontra-se na filosofia de
Kant.
A solução de Leibniz no século XVII
Leibniz estabeleceu uma distinção entre verdades de razão e verdades de fato.As
verdades de razão enunciam que uma coisa é, necessária e universalmente, não podendo de
modo algum ser diferente do que é e de como é.As verdades de razão são inatas. Isso não
significa que uma criança, por exemplo, nasça conhecendo a matemática e sabendo realizar
operações matemáticas, demonstrar teoremas ou resolver problemas nessa área do
conhecimento. Significa que nascemos com a capacidade racional, puramente intelectual, para
conhecer idéias que não dependem da experiência para serem formuladas e para serem
verdadeiras.
As verdades de fato, ao contrário, são as que dependem da experiência, pois anunciam
idéias que são obtidas através da sensação, da percepção e da memória. As verdades de fato são
empíricas e se referem a coisas que poderiam ser diferentes do que são, mas que são como são
porque há uma causa para que sejam assim.As verdades de fato são verdades porque para elas
funciona o princípio da razão suficiente, segundo o qual tudo o que existe, tudo o que
percebemos e tudo aquilo de que temos experiência possui uma causa determinada e essa causa
pode ser conhecida. Pelo princípio da razão suficiente – isto é, pelo conhecimento das causas –
todas as verdades de fato podem tornar-se verdades necessárias e serem consideradas verdades
de razão, ainda que para conhecê-las dependamos da experiência.
Observamos, assim, que, para Leibniz, o princípio da razão suficiente ou a ideia de
causalidade universal e necessária permite manter as idéias inatas e as idéias empíricas. É
justamente o princípio da causalidade, como vimos que será alvo das críticas dos empiristas, na
filosofia de David Hume. Para esse filósofo, o princípio da razão suficiente é apenas um hábito
adquirido por experiência como resultada da repetição e da frequência de nossas impressões
sensoriais. A crítica de Hume à causalidade e ao princípio da razão suficiente leva à resposta de
Kant.
A solução kantiana no século XVIII
A resposta aos problemas do inatismo e do empirismo oferecida pelo filósofo alemão do
século XVIII, Immanuel Kant, é conhecida com o nome de “revolução copernicana” em
filosofia. Por quê? Qual a relação entre o que propõe Kant e o que fizera Copérnico, quase dois
séculos antes do kantismo?
O que diz Kant?
Inatistas e empiristas, isto é, todos os filósofos, parecem ser como astrônomos
geocêntricos, buscando um centro que não é verdadeiro. Qual o engano dos filósofos?
Considerar que o conhecimento se inicia tendo como ponto de partida a realidade: no caso dos
inatistas, como Descartes, a realidade inicial é o interior, o espírito, a alma humana, que
Descartes chama de “coisa pensante” ou “substância pensante”; no caso dos empiristas, a
realidade inicial é exterior, o mundo ou a natureza.
Ora, diz Kant, “o ponto de partida da filosofia não pode ser a realidade (seja interna,
seja externa), e sim o estudo da própria faculdade de conhecer ou o estudo da razão”. De fato, os
filósofos anteriores, em lugar de, antes de tudo, estudar o que é a própria razão e indagar o que
ela pode e o que ela não pode conhecer o que é a experiência e o que ela pode ou não pode
conhecer; em vez, enfim, de procurar saber o que é conhecer, o que é pensar e o que é a
verdade, preferiram começar dizendo o que é a realidade (a natureza e o espírito humano),
afirmando que ela é racional e que, por isso, pode ser inteiramente conhecida pelas idéias da
razão. Colocaram a realidade ou os objetos do conhecimento no centro e fizeram a razão, ou o
sujeito do conhecimento, girar em torno dela.
Façamos, pois, uma revolução copernicana em filosofia, escreve Kant em sua obra
Critica da razão pura: até agora, julgava-se “que nosso conhecimento devia ser regulado pelos
objetos”, mas agora devemos “admitir que os objetos devem regular-se pelo nosso
conhecimento”.
Copérnico escreve Kant, “não completou sua explicação, ela foi completada e corrigida
por Kepler e Newton, que mostraram que o que ele julgava ser uma boa hipótese era, realmente,
a verdadeira e necessária explicação astronômica”. À maneira copernicana, prossegue Kant,
“demonstremos também de maneira universal e necessária, que os objetos se adaptam ao
conhecimento e não o conhecimento aos objetos”. Ou seja, comecemos colocando no centro a
própria razão.
Não é a razão a Luz Natural? Não é ela o sol que ilumina todas as coisas e em torno do
qual tudo gira? Comecemos, portanto, pela Luz Natural no centro do conhecimento.
Comecemos, então, pela razão, porque, por meio de seu estudo, compreenderemos o que são o
sujeito do conhecimento e o objeto do conhecimento. Comecemos pela crítica da razão pura.
Por que crítica? Com essa palavra, Kant quer dizer que não serão examinados os
conhecimentos que a razão alcança, e sim as condições nas quais o conhecimento racional é
possível. Por que pura? Porque se trata do exame da razão antes e sem os dados oferecidos pela
experiência.
Escreve ele que a crítica não é a crítica de livros e de sistemas filosóficos, e sim da
própria faculdade da razão em geral, considerada em todos os conhecimentos que pode alcançar
sem se valer da experiência. Ou seja, é verdade que todos os nossos conhecimentos começam
com a experiência, mas não é verdade, que todos eles provenham dela.
Como os estudos se referem às condições necessárias e universais de todo o
conhecimento possível antes da experiência e sem os dados da experiência, tal estudo não é
empírico. Ou seja, é a priori, e não a posteriori. Kant diz que ele é transcendental, explicando
que chama de transcendental “todo conhecimento que, em geral, se ocupa menos dos objetos e
mais do nosso modo de conhecer, na medida em que este deve ser a priori“.
A resposta de Hegel
Um filósofo alemão do século XIX, Hegel, ofereceu uma solução para o problema do
inatismo e do empirismo posterior à de Kant. Hegel criticou o inatismo, o empirismo e o
kantismo. A todos endereçou a mesma crítica, qual seja a de não haverem compreendido o que
há de mais fundamental e de mais essencial à razão: a razão é histórica.
De fato, a Filosofia, preocupada em garantir a diferença entre a mera opinião (“eu acho
que”, “eu gosto de”, “eu não gosto de”) e a verdade (“eu penso que”, “eu sei que”, “isto é assim
porque”), considerou que as idéias só seriam racionais e verdadeiras se fossem intemporais,
perenes, eternas, as mesmas em todo tempo e em todo lugar.
Uma verdade que mudasse com
o tempo ou com os lugares seria mera opinião, seria enganosa, não seria verdade. A razão,
sendo a fonte e a condição da verdade, teria também que ser intemporal.
É essa intemporalidade atribuída à verdade a à razão que Hegel criticou em toda a
Filosofia anterior.Ao afirmar que a razão é histórica, Hegel não está, de modo algum, dizendo
que a razão é algo relativo, que vale hoje e não vale amanhã, que serve aqui e não serve ali, que
cada época não alcança verdades universais. Não. O que Hegel está dizendo é que a mudança, a
transformação da razão e de seus conteúdos é obra racional da própria razão. A razão não é uma
vítima do tempo, que lhe roubaria à verdade, a universalidade, a necessidade. A razão não está
na História; ela é a História. A razão não está no tempo; ela é o tempo. Ela dá sentido ao tempo.
Hegel também fez uma crítica aos inatistas e aos empiristas muito semelhantes à que
Kant fizera. Ou seja, inatistas e empiristas acreditam que o conhecimento racional vem das
próprias coisas para nós, que o conhecimento depende exclusivamente da ação das coisas sobre
nós, e que a verdade é a correspondência entre a coisa e a ideia da coisa.
Para o empirista, a realidade “entra” em nós pela experiência. Para o inatista a verdade
“entra” em nós pelo poder de uma força espiritual que a coloca em nossa alma, de modo que as
idéias inatas não são produzidas pelo próprio sujeito do conhecimento ou pela própria razão,
mas são colocadas em nós por uma força sábia e superior a nós (como Deus, por exemplo).
Assim, o conhecimento parece depender inteiramente de algo que vem de fora para dentro de
nós. No caso dos inatistas, depende da divindade; no caso dos empiristas, depende da
experiência sensível.
A razão, diz Hegel, não é nem exclusivamente razão objetiva (a verdade está nos
objetos) nem exclusivamente subjetiva (a verdade está no sujeito), mas ela é a unidade
necessária do objetivo e do subjetivo. Ela é o conhecimento da harmonia entre as coisas e as
idéias, entre o mundo exterior e a consciência, entre o objeto e o sujeito, entre a verdade
objetiva e a verdade subjetiva. O que é afinal a razão para Hegel?
A razão é:
1. O conjunto das leis do pensamento, isto é, os princípios, os procedimentos do raciocínio, as
formas e as estruturas necessárias para pensar, as categorias, as idéias – é razão subjetiva;
2. A ordem, a organização, o encadeamento e as relações das próprias coisas, isto é, a realidade
objetiva e racional – é razão objetiva;
3. A relação interna e necessária entre as leis do pensamento e as leis do real. Ela é a unidade da
razão subjetiva e da razão objetiva.
Por que a razão é histórica?
A unidade ou harmonia entre o objetivo e o subjetivo, entre a realidade das coisas e o
sujeito do conhecimento não é um dado eterno, algo que existiu desde todo o sempre, mas é
uma conquista da razão e essa conquista a razão realiza no tempo. A razão não tem como ponto
de partida essa unidade, mas a tem como ponto de chegada, como resultado do percurso
histórico ou temporal que ela própria realiza.
Que diz Hegel? Que esses conflitos filosóficos são a história da razão buscando
conhecer-se a si mesma e que, graças a tais conflitos, graças às contradições entre as filosofias,
a Filosofia pode chegar à descoberta da razão como síntese, unidade ou harmonia das teses
opostas ou contraditórias.
Empiristas, kantianos e Hegelianos.
Embora Hegel tenha proposto sintetizar a história da razão, considerando, portanto, que
inatistas, empiristas e kantianos eram parte do passado dessa história, isso não significa que
todos os filósofos tenham aceitado a solução hegeliana como resposta final.
Assim, os empiristas não desapareceram. Reformularam muitas de suas teses e posições,
mas permaneceram empiristas. Em outras palavras, persiste, na Filosofia, uma corrente
empirista. Foi também o que aconteceu com os filósofos inatistas; o mesmo pode ser dito com
relação aos que adotaram a filosofia kantiana. Reformularam teses, acrescentaram novas idéias e
perspectivas, mas se mantiveram kantianos.
A razão na filosofia contemporânea
O filosofo alemão Edmund Husserl, criador da fenomenologia que considera a razão
uma estrutura da consciência, mas cujos conteúdos são produzidos por ela mesma,
independentemente da experiência.
Para Husserl o que chamamos de “mundo” ou “realidade”, é um conjunto de
significações ou de sentidos que são produzidos pela consciência ou pela razão. A razão é
“doadora de sentido” e ela “constitui a realidade” enquanto sistemas de significações que
dependem da estrutura da própria consciência.
A razão é razão subjetiva que cria o mundo como racionalidade objetiva. Isto é, o
mundo tem sentido objetivo porque a razão lhe da sentido.
Razão e sociedade
Os filósofos da Teoria Critica consideram que existem, na verdade, duas modalidades
da razão: a razão instrumental, que está a serviço da exploração e da dominação, da opressão e
da violência, e a razão critica que reflete sobre as contradições e os conflitos sociais e políticos
e se apresenta como uma força liberadora.
Cada nova forma de da racionalidade é a vitoria sobre os conflitos das formas
anteriores, sem que haja ruptura histórica entre elas. Mudanças sociais, políticas e culturais
determinam mudanças no pensamento, e tais mudanças soa a solução realizada pelo tempo
presente para os conflitos e as contradições do passado.
A razão não determina nem condiciona a sociedade, mas é determinada e condicionada
pela sociedade e suas mudanças. Assim, os inatistas se enganam ao supor a imutabilidade dos
conteúdos da razão e os empiristas se enganam ao supor que as mudanças são acarretadas por
nossas experiências, quando, na verdade, são produzidas por transformações globais de uma
sociedade.
Razão e descontinuidade temporal
Nos anos 60, desenvolveu-se na França, uma corrente cientifica chamada
estruturalismo. Para os estruturalistas, o mais importante não é a mudança ou a transformação
de uma realidade, mas a estrutura ou a forma que ela tem no presente.
A estrutura passada e a estrutura futura são consideradas estruturas diferentes entre si e
diferentes da estrutura presente, sem que haja interesse em acompanhar temporalmente a
passagem de uma estrutura para outra. Assim, o estruturalismo cientifico desconsidera a posição
filosófica de tipo hegeliano, tendo maior afinidade com a kantiana. O estruturalismo teve uma
grande influencia sobre o pensamento filosófico e isso se refletiu na discussão sobre a razão.
Se observarmos bem, notaremos que a solução hegeliana revela uma concepção
cumulativa e otimista da razão:
Cumulativa: Hegel considera que a razão, na batalha interna entre tese e antíteses, vai sendo
enriquecida, vai acumulando conhecimentos da racionalidade do real, quanto como
conhecimento da capacidade racional para o conhecimento.
Otimista: para Hegel, a razão possui força para não se destruir a si mesma em suas contradições
internas; ao contrario, supera cada uma delas e chega a uma síntese harmoniosa de todos os
momentos que constituíram a sua historia.
Por que ainda falamos de razão?
Diante das concepções descontinuistas da razão, podemos fazer duas perguntas:
1.
Se, em cada época, por motivos históricos e teóricos determinados, a razão muda
inteiramente, o que queremos dizer quando continuamos empregando a palavra razão?
2.
Se, em cada ciência, cada filosofia, cada teoria, cada expressão do pensamento, nada há
em comum com as anteriores e as posteriores, por que dizemos que algumas são racionais e
outras não são? A razão não seria, afinal, um mito que nossa cultura inventou para si mesma?
Podemos responder à primeira pergunta dizendo que continuamos a falar em razão,
apesar de haver muitas e diferentes “razões”, porque mantemos uma ideia que é essencial à
noção ocidental de razão. Que ideia é essa? A de que a realidade, o mundo natural e cultural, os
seres humanos, suas ações e obras têm sentido e que esse sentido pode ser conhecido. É o
ideal do conhecimento objetivo que é conservado quando continuamos a falar em razão.
Com relação à segunda pergunta, podemos dizer que, em cada época, os membros da
sociedade e da cultura ocidentais julgam a validade da própria razão como capaz ou incapaz de
realizar o ideal do conhecimento. Esse julgamento pode ser realizado de duas maneiras.
A primeira maneira ou o primeiro critério de avaliação da capacidade racional é o da
coerência interna de um pensamento ou de uma teoria. Ou seja, quando um pensamento ou
uma teoria se propõem a oferecer um conhecimento, simultaneamente também oferecem os
princípios, os conceitos e os procedimentos que sustentam a explicação apresentada.
A segunda maneira é diferente da anterior. Agora, pergunta-se se um pensamento ou
uma teoria contribuem ou não para que os seres humanos conheçam e compreendam as
circunstâncias em que vivem, contribuem ou não para alterar situações que os seres humanos
julgam inaceitáveis ou intoleráveis, contribuem ou não para melhorar as condições em que os
seres humanos vivem. Assim, a razão, além de ser o critério para avaliar os conhecimentos, é
também um instrumento crítico para compreendermos as circunstâncias em que vivemos, para
mudá-las ou melhorá-las.
Razão e realidade
Os dois critérios vistos acima – a coerência interna de um pensamento ou de uma teoria
e o potencial crítico-transformador dos conhecimentos – também nos ajudam a perceber quando
a razão vira mito e deixa de ser razão.
Analisemos como exemplo as teorias que defendem o racismo e que são tidas como
científicas ou racionais.
As teorias racistas se apresentam usando princípios, conceitos e procedimentos
racionais, científicos. Fazem pesquisas biológicas, genéticas, químicas, sociológicas; usam a
indução e a dedução; definem conceitos, inferem conclusões dos dados obtidos por experiência
e por cálculos estatísticos.
Download