Combinação de fármacos anti-hipertensivos na diabetes mellitus Hipertensão e diabetes, epidemia em expansão A associação entre diabetes mellitus (DM) e hipertensão arterial sistêmica (HA) é muito freqüente na prática clínica, uma vez que esta é responsável por 50% das doenças cardiovasculares (CV), atinge cerca de um bilhão de indivíduos no mundo, 70 milhões nos Estados Unidos e 36 milhões no Brasil(1). O diabetes, e suas diferentes formas de alterações do metabolismo glicídico, são uma verdadeira epidemia em expansão. Acometem de 10 a 30% da população adulta dos países ocidentais e cerca de 246 milhões de indivíduos no mundo, prevendo-se aumento de 60% nas duas próximas décadas(1, 2). A freqüência de HA em diabéticos varia de 20 a 60%, dependente de classe social, obesidade, idade e etnia. Na coexistência destas patologias a mortalidade aumenta 7,2 vezes(2). Hipertensão, diabetes e risco cardiovascular A maioria dos adultos com diabetes 1 e 2 (DM1, DM2) deve ser classificada na faixa de alto risco CV. A exceção compreende pacientes jovens, com curta duração da doença e sem complicações ou outros fatores de risco (FR) cardiovasculares. Na história natural do DM1 o desenvolvimento de pressão arterial (PA) em nível superior a 130/80 mmHg é o maior preditor da nefropatia e do futuro declínio da função renal. Pacientes assintomáticos portadores de DM2 apresentam riscos de eventos mórbidos iguais aos de pacientes não diabéticos com acidente vascular encefálico (AVE) ou infarto do miocárdio (IAM) prévio. Em termos prognósticos, ter DM equivale a ser portador de disfunção renal, isto é, os mesmos riscos atribuíveis aos pacientes com filtração glomerular abaixo de 60 ml/min. As implicações da hipertensão quanto ao risco CV são semelhantes nos dois tipos de diabetes, com grande impacto no território micro e macrovascular (aterosclerose), em especial a progressão da lesão renal. Luiz César Nazário Scala Professor Adjunto da Faculdade de Medicina e Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso. Mestre em Cardiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutor em Cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo. Diretor Administrativo do Departamento de Hipertensão – Sociedade Brasileira de Cardiologia Metas do tratamento de hipertensos e pré-hipertensos com diabetes e risco cardiovascular aumentado O principal objetivo para definir as metas do tratamento anti-hipertensivo é orientar os clínicos sobre os valores de PA abaixo dos quais o maior benefício clínico é presumivelmente obtido. Até 2009 as diretrizes das principais entidades médicas (Européia, Brasileira, Americana-VII Joint, Associação Americana de Diabetes-ADA, National Kidney Fundation-NF) recomendavam que a meta da PA a ser atingida em hipertensos com diabetes, ou em portadores de doença renal crônica, deveria ser inferior a 130/80 mmHg. Esta meta foi fundamentada principalmente em dois estudos o UKPDS e o HOT(3, 4, 5). Metas ainda mais baixas (<125/75 mmHg), deviam ser alcançadas em presença de nefropatia com proteinúria superior a 1 g /dia ou insuficiência renal grave. Rui Póvoa Professor Adjunto da Disciplina de Cardiologia da Universidade Federal de São Paulo. Mestre e doutor em Cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo. Chefe do setor de Cardiopatia Hipertensiva da Universidade Federal de São Paulo 44 Recebido para publicação: Março de 2011 Aceite para publicação: Março de 2011 Revista Factores de Risco, Nº22 JUL-SET 2011 Pág. 44-49 « … que o controle pressórico estrito, mais do que os efeitos de classe das drogas, é o principal mecanismo de redução de eventos e proteção cardiovascular.» -se a necessidade de mais estudos prospectivos com análises de regressão, é prudente considerar que a meta da PA nestes pacientes deve ser igual a 130/80 mmHg, conforme as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão(4). A tabela 1 contém as metas da PA a serem obtidas no tratamento da HA em função do risco CV. Em relação à pré-hipertensão, a estimativa dos índices de controle da PA na população diabética pode conter imprecisões, uma vez que diabéticos com PA na faixa de 130-139/80-89 mmHg não são classificados como hipertensos, embora necessitem de fármacos para alcançar PA inferior a 130/80 mmHg(5). De acordo com IV NHANHES (National Health Survey), tais metas dificilmente são obtidas na prática clínica, pois apenas 37% dos pacientes com insuficiência renal crôinica alcançam PA <130/80 mmHg. O insucesso em atingir estas metas implica em dano à hemodinâmica glomerular, intensificação da ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) e aumento da microalbuminúria e/ou proteinúria. O controle adequado em longo prazo da PA reduz a incidência de insuficiência cardíaca em 50%, AVE em 40% e IAM em 25%. Considerando-se a associação independente e sinérgica entre insuficiência renal crônica e DM, atribui-se à microalbuminúria e à proteinúria a condição de “marcadores de risco” a serem determinados antes e após o início da terapêutica destes pacientes. Em 2010, os resultados do estudo ACCORD-BP (Action to Control Cardiovascular Risk in Diabetes – Blood Pressure) divergiram das recomendações das diretrizes vigentes quanto à redução agressiva da PA em pacientes com DM e doença CV associada(6). Observou-se que nestes pacientes níveis de PAS <130 mmHg associaram-se com taxas de mortalidade mais elevadas que os controles com meta de PA <140 mmHg. Como era de se esperar, pacientes com PAS de 130 a 140 tiveram menos desfechos do que aqueles com PAS >140 mmHg, porém aqueles com PAS <130 mmHg não tiveram benefício adicional, além de apresentar taxa de mortalidade mais elevada. Conseqüentemente preconizou-se que a PAS neste grupo de pacientes não deve ser reduzida aquém de 130 mmHg, recomendando-se melhorar a dieta e o estilo de vida. No entanto o tratamento agressivo proporcionou resultados positivos devido à redução de 41% nos casos de AVE, desfecho secundário do estudo. Resultados similares foram observados no estudo INVEST (International Verapamil-Trandolapril Study) em diabéticos de alto risco cardiovascular e portadores de doença arterial coronária. Aqueles cuja PAS foi reduzida para 130 a 140 mmHg apresentaram menos desfechos CV que os com PAS >140 mmHg. Segundo as atuais evidências e considerando- Tabela I Metas de pressão arterial a serem obtidas com o tratamento Categorias Meta - mmHg Hipertensão estágios 1 e 2 com Risco Cardiovascular baixo e médio 1< 140/90 mmHg Hipertensão e Pré-Hipertensão com Risco Cardiovascular alto e muito alto* = 130/80 mmHg Hipertensão mais Nefropatia e Proteinúria > 1,0 g < 120/70 mmHg *Inclui diabetes. Fonte: VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, modificada(4). Vantagens da terapia combinada em hipertensão e diabetes e principais classes de fármacos As medidas de correção do estilo de vida são decisivas para a prevenção e controle dos FR, em especial em portadores de síndrome metabólica. A orientação nutricional e a atividade física aeróbica modificam o perfil lipídico, reduzem os níveis de PA e são fundamentais no manejo da glicemia e no controle de peso. Portadores de DM sem nefropatia podem ser assim tratados por um período de três meses. Caso a PA não seja controlada, ou haja indícios de nefropatia, a terapia farmacológica deve ser iniciada. A terapêutica anti-hipertensiva visa, simultaneamente, a proteção renal, CV e o alcance das metas da PA para cada situação. Estudos bem conduzidos como o UKPDS, ABCD, MDRD, HOT e AASK, mostraram que a monoterapia é inadequada para o controle pressórico em 40 a 60% dos casos. Em 60 a 75% dos casos foi necessário a utilização da combinação de dois ou mais fármacos(7). A terapia combinada, em dose fixa ou não, pode beneficiar os pacientes através de mecanismos farmacológicos complementares, com efeitos sinérgicos e aditivos dos dife45 Combinação de fármacos anti-hipertensivos no diabetes mellitus Fármacos anti-hipertensivos e resistência à insulina A escolha dos anti-hipertensivos, em especial no tratamento de diabéticos obesos, deve levar em consideração os seus efeitos sobre o peso corporal, os distúrbios metabólicos e as complicações do DM ou da hipertensão, com ênfase no efeito dos fármacos em relação à resistência à insulina e risco de novos casos de DM2. Devem ser evitados os fármacos que pioram os distúrbios metabólicos pré-existentes(8). A tabela 3 contém os resultados do efeito dos fármacos antihipertensivos em relação ao risco de novos casos de DM2. A análise tardia dos estudos SHEP e ALLHAT mostrou que apesar da piora dos níveis glicêmicos causados pelos diuréticos não houve aumento adicional de eventos CV. Especificamente em relação à clortalidona, o estudo SHEP revelou que, apesar do aumento da glicemia, não ocorreu aumento do risco CV e de outros benefícios causados pela redução da PA por este diurético. De forma similar o estudo ALLHAT não mostrou aumento de desfechos CV no subgrupo de diabetes tratado com clortalidona, apesar da piora dos níveis glicêmicos(9). Os diuréticos em doses altas e os betabloqueadores clássicos pioram a resistência à insulina e, conseqüentemente, os níveis glicêmicos destes pacientes, além de aumentar o desenvolvimento de novos casos de DM naqueles com intolerância à glicose. Se houver indi- rentes fármacos. O uso precoce das associações de medicamentos é útil para redução mais rápida e eficiente da PA, com reflexos positivos na adesão. Outra vantagem é a menor freqüência de efeitos adversos comparada à monoterapia, em especial com diuréticos os quais devem ser utilizados em doses baixas. A Tabela 2 apresenta as principais combinações de anti-hipertensivos no tratamento do diabetes. Tabela 2 Principais combinações de anti-hipertensivos IECA + Antagonistas de canais de cálcio IECA + diurético BRA + Antagonista de canais de cálcio BRA + diurético Beta-bloqueador + Antagonista de canais de cálcio Beta bloqueador + diurético Alisquireno + diurético IECA = Inibidor da enzima de conversão da Angiotensina; BRA = bloqueadores de Receptor AT1I. Fonte: Adaptado da European Society of Hypertension(3) Tabela 3 Efeito dos fármacos anti-hipertensivos em relação ao risco de novos casos de diabetes mellitus 2 Estudo Tratamento Duração (anos) Risco Relativo P CHARM BRA vs placebo 3,1 0,78 0,02 HOPE IECA vs placebo 4,5 0,66 < 0,001 PEACE IECA vs placebo 4,8 0,83 0,01 SCOPE BRA vs placebo 3,7 0,81 0,09 ALLHAT IECA vs diurético 4,0 0,70 < 0,001 ALPINE BRA vs diurético 1,0 0,13 0,03 CAPPP IECA vs β bloq. + diurético 6,1 0,86 0,039 BRA vs β bloqueadores 4,8 0,75 < 0,001 LIFE STOP-2 IECA vs β bloq. + diurético 4,0 0,96 0,77 ALLHAT ACC vs diurético 4,0 0,84 0,04 INSIGHT ACC vs diurético 3,0 0,77 0,02 INVEST ACC vs β bloqueadores 2,7 0,85 0,004 NORDIL ACC vs β bloq.+ diurético 4,5 0,87 0,14 STOP-2 ACC vs β bloq.+ diurético 4,0 0,97 0,83 ASCOT ACC vs β bloq.+ diurético 5,5 0,70 0,001 STOP-2 IECA vs ACC 4,0 0,98 0,91 VALUE BRA vs ACC 4,2 0,77 < 0,0001 BRA = bloqueadores dos receptores AT1; IECA= inibidores da enzima de conversão; ‚ bloq = beta-bloqueadores; ACC = antagonistas de canais de cálcio. Fonte: Adaptado da European Society of Hypertension3 46 Revista Factores de Risco, Nº22 JUL-SET 2011 Pág. 44-49 cação compulsória de betabloqueadores deve-se dar preferência aos novos betabloqueadores como carvedilol e nebivolol. Além de ação vasodilatadora intrínseca, estes fármacos não alteram os níveis glicêmicos e aumentam a sensibilidade à insulina(10). Diversos ensaios clínicos mostraram que os inibidores da enzima de conversão (IECA), os bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA) e os antagonistas de canal de cálcio (ACC) possuem ação benéfica ou neutra em relação à sensibilidade à insulina e ao controle glicêmico(8). A metanálise do estudo dos “trialistas”(11), e a análise crítica de outros ensaios clínicos de anti-hipertensivos isolados ou em combinação, confirmam que o controle pressórico estrito, mais do que os efeitos de classe das drogas, é o principal mecanismo de redução de eventos e proteção cardiovascular(8). «O uso precoce das associações de medicamentos é útil para redução mais rápida e eficiente da PA, com reflexos positivos na adesão.» Bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRA) Esta classe de fármacos antagoniza a ação da angiotensina II por meio do bloqueio específico dos receptores AT1, apresenta neutralidade metabólica, menor incidência de diabetes além de reconhecida proteção de órgãos-alvo (cardio e nefroproteção) comprovados por diversos estudos clínicos randomizados em pacientes com DM2. Os mecanismos desta proteção não são totalmente conhecidos. Algumas hipóteses seguem raciocínio similar ao aplicado aos IECA ou, alternativamente, pela ação direta destes fármacos no pâncreas, através da estimulação da secreção da insulina pelas células beta. Os BRA mais utilizados são candesartana, irbersartana, losartana, olmesartana, termisartana e valsartana. Existem numerosas combinações fixas de BRA e diuréticos em baixas doses, em especial a hidroclorotiazida, cuja eficácia é potencializada pela ação anti-hipertensiva dos BRA, minimizando os efeitos colaterais induzidos pelo diurético. A dose mais freqüente usada em combinação com BRA é de 12,5 mg, estando disponíveis combinações com 25 mg. O estudo ACCOMPLISH avaliou o efeito de duas combinações fixas, IECA/anlodipina vs IECA/tiazídico em pacientes com predomínio de HA sistólica e alto risco CV, onde 60% eram diabéticos, com vantagem para a primeira combinação de drogas(12). O estudo ONTARGET demonstrou que não houve benefício do duplo bloqueio do SRAA na redução de eventos CV em pacientes de alto risco CV, uma vez que a associação entre ramipril e telmisartana aumentou significativamente a deterioração da função renal. Racional das combinações no tratamento da hipertensão e diabetes Os benefícios da prevenção de eventos nos diabéticos tipos 1 e 2 já foram evidenciados em estudos com IECA, BRA, diuréticos, betabloqueadores, ACC e inibidores diretos da renina (IDR), atualmente o principal conjunto de anti-hipertensivos para o tratamento de diabéticos(7). A questão sobre qual dos grupos farmacológicos é superior para tratar estes pacientes perde o sentido uma vez que são necessários dois ou mais anti-hipertensivos para se atingirem as metas tensionais(7). Inibidores da Enzima de Conversão da Angiotensina (IECA) Os IECA têm seu mecanismo de ação fundamentalmente dependente da inibição da peptidase, enzima que bloqueia a conversão da angiotensina I em angiotensina II. Estes fármacos melhoram a sensibilidade à insulina e o controle da glicemia, além de reduzirem a incidência de novos casos de diabetes(9, 11). Os IECA mais utilizados são: benazepril, captopril, cilazapril, delapril, enalapril, fosinopril, perindopril, quinapril, ramipril, trandolapril. Os efeitos colaterais dessa classe incluem tosse seca, alteração do paladar e reações de hipersensibilidade (erupção cutânea e edema angioneurótico). As combinações mais freqüentes são IECA + diuréticos, e IECA + bloqueadores de cálcio. A maioria das combinações entre os IECA e diuréticos contém hidroclorotiazida, cujos efeitos colaterais são minimizados pelos IECA. Estes, por sua vez, têm sua ação potencializada e prolongada. Os diuréticos reduzem a volemia, ativam mais intensamente o SRAA e menos o sistema nervoso simpático além de aumentarem a resistência à insulina e promoverem hipocalemia e hiperuricemia. Contrariamente os IECA reduzem a ativação do SRAA, balanceiam a perda de potássio, diminuem a hiperuricemia e melhoram a sensibilidade à insulina. A dose de hidroclorotiazida mais freqüentemente utilizada em combinação fixa com um IECA é de 12,5 mg e, ocasionalmente, 25mg. Antagonistas dos Canais de Cálcio Por serem metabolicamente neutros estes fármacos não interferem desfavoravelmente na glicemia e nos lípides. Alguns estudos demonstraram uma redução significativa de novos casos de diabetes em hipertensos tratados com ACC em monoterapia ou em combinação com IECA, cujas ações de vasodilatação e aumento do fluxo sangüíneo periférico podem explicar a melhoria da sensibilidade à insulina(9). Os ACC de curta ação aumentam a atividade 47 Combinação de fármacos anti-hipertensivos no diabetes mellitus diuréticos de alça devem ser utilizados em casos de hipertensão associada à insuficiência renal ou insuficiência cardíaca com retenção de volume. Os diuréticos poupadores de potássio apesar de menor eficácia diurética diminuem a hipopotassemia induzida pelos tiazídicos. Os diuréticos mais utilizados são: 1) tiazídicos: clortalidona, hidroclorotiazida, indapamida, indapamida SR; 2) de alça: bumetamida, furosemida, piretamida; 3) poupadores de potássio: amiloride, espironolactona, triamterene. Os efeitos indesejáveis dos diuréticos incluem a hipopotassemia (indutor de arritmias ventriculares), a hiperuricemia, aumento dos níveis séricos de triglicérides e intolerância à glicose, em geral dose-dependente. As diretrizes internacionais são unânimes em indicar associação fixa entre IECA ou BRA ou betabloqueadores + diuréticos em baixas doses, 12,5 ou 25 mg. Ainda não existem evidências de que a associação entre alisquireno e diurético reduza a ocorrência de novos casos de diabetes ou eventos cardiovasculares. simpática e estimulam o SRAA de forma mais intensa. Deve-se dar preferência aos de ação prolongada com estímulo mais discreto da atividade simpática após semanas de tratamento. Considerando que os IECA reduzem a atividade simpática e do SRAA, a combinação IECA/ACC é racional e aditiva, com boa eficácia no controle da PA nas 24 horas. Outro benefício desta combinação é o efeito aditivo de proteção renal em hipertensos e diabéticos com microalbuminúria. Os ACC mais utilizados são verapamil retard, diltiazem nas formulações de liberação prolongada ou controlada (AP, SR ou CD) anlodipina, felodipina, isradipina, lacidipina, lecardipina, nifedipina oros, nifedipina retard, nitrendipina, manidipina. O uso isolado dos ACC podem causar edema perimaleolar em 5% a 25% dos pacientes, decorrente da dilatação predominantemente arteriolar e aumento da pressão intracapilar, culminando na exsudação líquida para o interstício. A associação com IECA/BRA, além de promover venodilatação, reduz a pressão intracapilar e a incidência de edema perimaleolar. As combinações mais encontradas são enalapril + anlodipina, ramipril + anlodipina, benazepril + anlodipina, valsartana + anlodipina e candesartana + felodipina. Há consenso de que os ACC não devam ser combinados com diuréticos uma vez que ambos têm efeito natriurético, com risco de depleção de volume, além de não existirem estudos que confirmem a magnitude da somação destes efeitos. Os ACC são mais eficazes em pacientes idosos, de etnia negra e com volume expandido, enquanto os IECA têm melhor ação em jovens, de etnia branca e com volume constrito. Portanto a combinação de IECA + ACC é útil e eficaz do jovem ao idoso, em brancos e negros e em pacientes com e sem volume expandido. Os BRA têm perfil de tolerabilidade superior aos IECA, pois raramente desencadeiam tosse ou angioedema. Betabloqueadores Os betabloqueadores têm mecanismo anti-hipertensivo complexo. De início promovem a redução do débito cardíaco, seguida da redução da renina, readaptação dos barorreceptores e diminuição das catecolaminas nas sinapses nervosas. As reações metabólicas adversas, potencializadas pelos diuréticos, incluem ganho de peso, hipertrigliceridemia, redução do HDL-c e da liberação da insulina (em duas fases, uma rápida e outra mais lenta), e aumento da resistência vascular periférica. São contra-indicados em pacientes com asma, doença pulmonar obstrutiva crônica e bloqueio atrioventricular de II-III graus. Eventualmente ocorre hipoglicemia devido a acentuação da ação dos hipoglicemiantes orais. Os betabloqueadores da nova geração carvedilol e nebivolol apresentam algumas vantagens em relação aos clássicos: não causam efeitos metabólicos adversos e possuem reduzida incidência de novos casos de DM. Associados aos IECA, BRA ou ACC apresentam baixa incidência de DM. As indicações compulsórias para uso de betabloqueadores em hipertensão e diabetes são insuficiência cardíaca, doença arterial coronária e insuficiência cardíaca. Diuréticos Os diuréticos exercem sua ação por meio de efeitos natriurético e diurético, inicialmente com depleção de volume. Após quatro a seis semanas o volume circulante praticamente se normaliza, com redução persistente da resistência vascular periférica. A indapamida, tão eficaz quanto os tiazídicos na redução da PA, apresenta menos efeitos metabólicos e evidências quanto à proteção de órgãos alvo e redução de eventos cardiovasculares. Os tiazídicos apresentam efeitos desfavoráveis dose-dependentes, isto é, doses elevadas causam efeitos metabólicos comprovadamente adversos(9). Contudo baixas doses podem ser metabolicamente neutras. O aumento da resistência à insulina dos diuréticos pode ser atribuído à estimulação da secreção de renina e angiotensina II, à hipopotassemia e à redução da produção de insulina pelo pâncreas. A intolerência à glicose pode ser atenuada pela combinação de potássio ou IECA aos tiazídicos, com redução de novos casos diabetes. Os Inibidores diretos da renina O alisquireno, primeiro fármaco inibidor direto da renina, administrado por via oral, tem se mostrado seguro e eficaz no tratamento de pacientes com hipertensão isoladamente ou em combinação com hidroclorotiazida ou anlodipina. Apresenta alta afinidade ao sítio ativo da renina, impedindo suas ações. De absorção reduzida, sua eliminação, preferencialmente hepática, também é lenta, permitindo uso único diário. Em doses de 150 a 300mg/dia é bem tolerada, sendo a diarréia o único efeito colateral significante na dose de 600mg/dia. 48 Revista Factores de Risco, Nº22 JUL-SET 2011 Pág. 44-49 Referências Bibliográficas Observaram-se efeitos positivos sobre desfechos substitutos, através de marcadores de lesões CV e renais em pacientes com DM2, nefropatia, hipertrofia ventricular esquerda e nefropatia. Estudos de fisiologia intrácrina sugeriram que o alisquireno promove supressão mais completa do SRAA intra-renal do que os IECA ou BRAs. O estudo AVOID revelou que o alisquireno associado à losartana promoveu significativa nefroprotenção (18% de redução da proteinúria) em hipertensos com DM em comparação à losartana isolada, resultado importante para o tratamento de hipertensos com diabetes e nefropatia proteinúrica(13). 1. Kearney PM, Whelton M., Reynolds K. Global burden of hypertension: analysis of worldwide data. Lancet 2005; 365(9455):217-223. 2. Vijan S, Hayward RA. 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