filosofia analítica e filosofia política a dimensão

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FILOSOFIA ANALÍTICA E
FILOSOFIA POLÍTICA
A DIMENSÃO PÚBLICA DA LINGUAGEM
THERESA CALVET DE MAGALHÃES
Docteur em Sciences Politiques et Sociales pela UCL (Univerité Catholique de Louvain)
Pós-doutorado em Filosofia Contemporânea (Institut Supérieur de Philosophie – UCL)
Professora aposentada da UFMG (FAFICH - Departamento de Filosofia)
Professora do Curso de Pós-Graduação em Direito da UNIPAC em Juiz de Fora (MG)
FILOSOFIA ANALÍTICA E
FILOSOFIA POLÍTICA
A DIMENSÃO PÚBLICA DA LINGUAGEM
Belo Horizonte
2011
CONSELHO EDITORIAL
Álvaro Ricardo de Souza Cruz
André Cordeiro Leal
Carlos Augusto Canedo G. da Silva
Dhenis Cruz Madeira
Frederico Barbosa Gomes
Gilberto Bercovici
Gregório Assagra de Almeida
Gustavo Corgosinho
Jorge Bacelar Gouveia - Portugal
Jose Antonio Moreno Molina - Espanha
José Luiz Quadros de Magalhães
Luciano Stoller de Faria
Luiz Manoel Gomes Júnior
Mário Lúcio Quintão Soares
Renato Caram
William Freire
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico,
inclusive por processos reprográficos, sem autorização expressa da editora.
Impresso no Brasil | Printed in Brazil
Arraes Editores Ltda., 2011.
Plácido Arraes
Editor
Avenida Brasil, 1843/loja 110, Savassi
Belo Horizonte/MG
CEP 30.140-002
Tel: (31) 3031-2330
M188
Coordenação Editorial: Fabiana Carvalho
Capa: Charlles Hoffert e Vladimir Oliveira Costa
Diagramação: Reinaldo Henrique Silva
Revisão: Alexandre Bonfim
Magalhães, Theresa Calvet de.
Filosofia analítica e filosofia política:
a dimensão pública da linguagem /
Theresa Calvet de Magalhães.
Belo Horizonte: Arraes Editores, 2011.
362 p.
ISBN: 978-85-62741-38-8
1. Ciência política – Filosofia. I. Título.
CDD: 320.01
CDU: 321
Elaborada por: Maria Aparecida Costa Duarte
CRB/6-1047
www.arraeseditores.com.br
[email protected]
Belo Horizonte
2011
“Une philosophie sans politique est-elle possible? Peut-on se donner pour
projet de comprendre le monde, de dénoncer les pièges du langage, se consacrer
à l’expression claire, sensée et véridique de nos propositions sur le monde, en
renonçant au soin de dire ce qu’est une action libre, juste ou efficace ayant pour
objet d’établir ou de rétablir le droit, la liberté ou la dignité? Le champ politique
échappe-t-il aux vérités énonçables? Peut-être même à la vérité tout court?
Mais cette extériorité de la politique à la philosophie n’aurait-elle pas pour
conséquence de vider celle-ci d’une part considérable de son rapport au réel, au
monde dans sa teneur existentielle, précisément au lieu où se joue l’engagement,
la décision, la violence et la mort? [Uma filosofia sem política é possível?
É possível ter como projeto compreender o mundo, denunciar as
armadilhas da linguagem, consagrar–se à expressão clara, dotada de
sentido e verídica de nossas proposições sobre o mundo, renunciando
ao cuidado de dizer o que é uma ação livre, justa ou eficaz que tem
como objeto estabelecer ou restabelecer o direito, a liberdade ou a
dignidade? O campo político escapa às verdades enunciáveis? E talvez
mesmo à verdade simplesmente? Mas essa exterioridade da política
à filosofia não teria como consequência esvaziar esta de uma parte
considerável de sua relação com o real, com o mundo em seu teor
existencial, precisamente no lugar onde se joga o engajamento, a decisão, a violência e a morte?]
(...)
Paradoxalement –mais est-ce vraiment un paradoxe?–, le politique commence
à réapparaître dans le lieu même où on le croyait éradiqué –à savoir, le langage,
l’énonciation, la proposition. En traçant la voie d’une philosophie comme
thérapeutique linguistique contre les abus de langage et la substantialisation des
mots, c’est la voie de la dimension publique du langage qui se trouve ouverte,
S’y trouvent engagés le problème de la dimension contractuelle du langage et,
avec lui, le sens de la communauté et des échanges [Paradoxalmente –mas
trata-se verdadeiramente de um paradoxo?–, o político começa a
reaparecer no lugar mesmo onde se acreditava que tinha sido
erradicado –a saber, na linguagem, na enunciação, na proposição. Ao
traçar a via de uma filosofia como terapêutica linguística contra os
abusos da linguagem e a substancialização das palavras, é a via da
dimensão pública da linguagem que está aberta. O problema da
dimensão contratual da linguagem e, com ele, o sentido da comunidade
e das trocas estão aí engajados].”
(Yves Charles Zarka em Wittgenstein politique, Cités 38/2009).
V
Para os que foram,
para os que forem,
estudantes comigo
VII
À minha mãe.
IX
Agradecimentos
a Adriana Campos (UFMG), que gostou da primeira versão deste livro (logo
esgotada), pela recomendação de sua publicação; a Nuno Manuel Morgadinho
dos Santos Coelho (UNIPAC, USP), pelo generoso apoio ao longo destes
últimos anos; ao Curso de Mestrado em Direito da UNIPAC, pela oportunidade
de ensino e pesquisa; a Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira (UFMG)
pelos incentivos intelectuais mas sobretudo pelas boas discussões; a José
Expedito Passos Lima (UECE), Odilio Alves Aguiar (UFC), Adriano Correia
(UFG), pelos convites e hospitalidade; a Adamo Dias Alves (FCJ/FEVALE),
pela não espera de um livro; a Vilma Carvalho de Souza (Biblioteca
FAFICH-UFMG), pelo empenho em localizar todos os textos solicitados;
a Silvia Monteil (Livraria Francesa-SP), pelo imprescindível apoio logístico;
e a todos os meus alunos, pela solidariedade quando não a esperava.
XI
SUMÁRIO
Nota do Autor ........................................................................................
XVII
Advertências ...........................................................................................
XIX
INTRODUÇÃO
REALISMO, LOGICISMO E ATOMISMO LÓGICO ................
1
PRIMEIRA PARTE
O EMPIRISMO LÓGICO - SUA EVOLUÇÃO, SUAS CRÍTICAS
CAPÍTULO 1
O CÍRCULO DE VIENA ...................................................................
33
CAPÍTULO 2
AS CRÍTICAS DE POPPER AO EMPIRISMO LÓGICO /O
RACIONALISMO CRÍTICO .............................................................
A “eliminação” da metafísica ...............................................................
A unificação da ciência ..........................................................................
A base empírica da ciência ...................................................................
A lógica indutiva e a concepção da filosofia ......................................
A lógica das ciências sociais .................................................................
65
70
74
77
79
81
XIII
CAPÍTULO 3
AS CRÍTICAS DE HABERMAS AO RACIONALISMO
CRÍTICO DE POPPER ......................................................................
O problema dos enunciados de base e a crítica do
instrumentalismo ....................................................................................
Justificação crítica e prova dedutiva ....................................................
O dualismo dos fatos e das decisões ...................................................
A teoria dos três mundos ......................................................................
Uma explicação e uma defesa da liberdade humana ........................
91
92
96
98
100
108
SEGUNDA PARTE
POR UMA TEORIA DOS ATOS DE LINGUAGEM
CAPÍTULO 4
DO TRACTATUS LOGICO-PHILOSOPHICUS ÀS
PHILOSOPHISCHE UNTERSUCHUNGEN ...............................
121
CAPÍTULO 5
AUSTIN E A FILOSOFIA ...............................................................
A fenomenologia linguística ................................................................
O uso da linguagem ...............................................................................
Performativo/Constatativo ..................................................................
Quando dizer é fazer: a teoria geral dos atos de linguagem ............
Uma classificação provisória dos atos de linguagem ........................
133
135
137
138
143
149
CAPÍTULO 6
A TEORIA GERAL DOS ATOS DE LINGUAGEM ..................
Uma teoria geral dos atos de linguagem .............................................
A estrutura dos atos de linguagem ......................................................
A classificação dos atos ilocucionários ...............................................
Três falácias na filosofia contemporânea ............................................
A reinterpretação pragmática da problemática da validade .............
XIV
153
156
164
173
178
181
TERCEIRA PARTE
LINGUAGEM OU MENTE?
DA TEORIA DOS ATOS DE LINGUAGEM
À REDESCOBERTA DA MENTE
CAPÍTULO 7
A MENTE COMO UM FENÔMENO BIOLÓGICO ................
Naturalismo biológico ...........................................................................
Intencionalidade e consciência .............................................................
A estrutura dos estados mentais intencionais ....................................
A representação é anterior à comunicação ........................................
A intencionalidade coletiva ...................................................................
195
196
205
212
226
231
CAPÍTULO 8
A DIMENSÃO PÚBLICA DA LINGUAGEM ..............................
237
CONCLUSÃO
DA FILOSOFIA ANALÍTICA À FILOSOFIA POLÍTICA:
UMA FILOSOFIA POLÍTICA SEM METAFÍSICA? ..................
259
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................
277
ÍNDICE DE NOMES .........................................................................
329
XV
Nota do Autor
Este livro – ou talvez devesse dizer os cursos que lhe deram origem –,
é uma nova versão, inteiramente reescrita e ampliada, de um pequeno livro publicado em Belo Horizonte, em 1997, pelo Movimento Editorial da
Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Tratavase apenas de uma pequena edição, logo esgotada, das aulas dos cursos de
História da Filosofia Contemporânea, ministradas de 1987 a 1997, no Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade Federal de Minas Gerais. Continuei a lecionar cursos sobre
John Searle e a Filosofia Analítica até a minha aposentadoria, em Agosto
de 2003, e a cada semestre tentava não apenas corrigir o que tinha já dado
antes, mas também apresentar as novas obras publicadas nessa área. Jamais
pensei que um pequeno texto, editado às pressas, e que trazia todos os defeitos da palavra oral, fosse usado por alunos e professores que desejavam
um primeiro acesso à Filosofia Analítica em geral e, mais particularmente,
às obras de Searle. Aceitei a solicitação de uma nova edição e pensei que
seria fácil, com todas as novas obras que tinha agora, corrigir esse pequeno
livro. Foi só começar a nova versão e ficou logo claro que eu teria um longo
trabalho: não apenas ler as obras e textos mais recentes sobre Bertrand
Russell, Ludwig Wittgenstein, Otto Neurath e o Empirismo Lógico, antes
de rever o que tinha escrito na introdução e no primeiro capítulo da
primeira parte, que tratava do Empirismo Lógico, mas também ler todas as
novas obras e os novos textos de Searle publicados depois de 1997. Trata-se,
assim, de um novo livro. Mas escrito, como o primeiro, para os alunos
XVII
dos cursos de graduação em filosofia, direito, letras, comunicação, ciências
políticas e sociais, e – espero – com menos defeitos.
Este livro não é uma história da Filosofia Analítica ou uma história da
Filosofia Analítica no Brasil, nem um livro sobre a Filosofia Analítica e a
História da Filosofia1; mas é apenas uma tentativa de resgatar uma corrente
do pensamento que dominou o século XX e continua ainda muito atual nos
Estados Unidos e, mais recentemente, em França. A introdução e a primeira parte foram revistas e muito ampliadas tendo em vista a presente edição.
Uma atenção maior foi dada, na introdução, à filosofia de Russell e, no primeiro capítulo, à abordagem pluralista do empirismo lógico. O sexto capítulo foi todo reescrito e espero que esta nova versão, atenta às modificações
introduzidas por Searle nas suas últimas obras e, mais particularmente, em
Making the Social World (2010), permita uma visão mais atual da sua teoria
geral dos atos de linguagem. Toda a “Terceira Parte” é nova e é publicada
pela primeira vez; a “Conclusão” retoma, mas numa versão totalmente modificada, o que tinha dito e escrito antes sobre John Rawls.
Recebi no mesmo dia em que entregava este livro aos editores, e não
podia ter chegado em melhor hora, uma obra coletiva, sob a direção de
Sandra Laugier e Sabine Plaud, que acaba de ser publicada em Paris: Lectures
de la Philosophie Analytique (Paris: Ellipses, 2011). Com mais de trinta ensaios de
vários autores franceses, essa obra propõe um quadro da filosofia analítica
na sua diversidade e um olhar novo sobre a importância e a originalidade
filosófica da filosofia analítica. Embora mais modesto, não era outro o
meu propósito.
Gostaria, ainda, de agradecer Renato Caram e Plácido Arraes por terem
acolhido, de uma maneira tão cuidadosa, este livro na sua editora. E também
especialmente a Alexandre Bomfim e Fabiana Carvalho, pela revisão minuciosa do manuscrito.
Belo Horizonte, Agosto de 2011.
1. Ver J. M. Vienne (org.), Philosophie Analytique et Histoire de la Philosophie. Actes du Colloque (Université de Nantes, 1991). Paris: Vrin, 1997.
XVIII
Advertências
No tocante às citações e referências bibliográficas, não confundo as
normas que regem as notas de rodapé com as que regem as Referências
Bibliográficas. Assim, nas notas de rodapé, indico o nome e sobrenome do
autor, o título da obra com o ano da primeira publicação, o número e título
do capítulo, e a página ou páginas citadas, de modo que o leitor possa
encontrar mais facilmente o texto citado; ou o nome e sobrenome do autor, o
título do artigo, com o nome da Revista, o número e data da publicação; por
exemplo: K. R. Popper, Realism and the Aim of Science [Volume 1 do Postscript
to The Logic of Scientific Discovery. William Warren Bartley, III (ed.). London:
Hutchinson, 1983], Capítulo II [Demarcation], §19 [Testability But Not Meaning],
p. 176. Nas Referências Bibliográficas: POPPER, K. R. Realism and the Aim of
Science [Volume 1 do Postscript to The Logic of Scientific Discovery]. William
Warren Bartley, III (ed.). London: Hutchinson, 1983. Todas as citações ao
longo do texto estão sempre entre aspas e não apenas recuadas e com um
tamanho de letra diferente.
Todas as traduções dos textos citados são minhas, salvo explícita
indicação contrária.
XIX
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