Comportamento do Consumidor de Alimentos: Informações e Reflexões 1-Introdução Dentre as muitas tendências apontadas em relação ao comportamento do consumidor de alimentos destacam-se duas que encontramos em vários autores Kaynak(1984), Frazão&Allshouse(1994), Mennell(1992), Lazer et alii(1994) que discutem o tema. Uma é a questão do tempo cada vez menor para preparar as refeições, ou seja, a necessidade de um alimento rápido e conveniente e a segunda, que é o principal alvo de nosso interesse, é a questão do alimento associado à saúde que tem despertado a atenção dos consumidores em relação aos atributos nutricionais dos alimentos. Os sistemas agroindustriais começam a se conscientizar da crescente importância dos aspectos nutricionais dos alimentos para os consumidores e as versões nutricialmente melhoradas começam a crescer dentro do leque das ofertas nesse setor de atividade. Pesquisadores tem descoberto que o modo como comemos influencia diretamente nossa saúde física e emocional exercendo um papel determinante em muitas doenças. A indústria de alimentos começa a se movimentar. Produtos como um suco de laranja com cálcio e cereais com beta caroteno são alguns exemplos de alimentos formulados para aqueles preocupados com a saúde. Alimentos com novos atributos nutricionais começam a ser produzidos com as mais diferentes finalidades: melhorar a performance do atleta, prevenir câncer, alterar o humor ou a sexualidade. Devagar as pessoas começam a receber as mensagens e os alimentos a serem divididos em bons e maus. Por exemplo, pão, feijão, azeite, brócolis e cenoura são, em geral, reconhecidos como bons e manteiga, carne vermelha, queijos e doces como não tão bons. Geralmente esta associação está relacionada com a obesidade, probabilidades cancerígenos ou com problemas de colesterol. O interessante é que essas “verdades” tem muitas vezes mudado à medida que os cientistas aprendem mais sobre os nutrientes dos alimentos e como agem sobre o organismo humano. As informações oficiais ou não chegam aos consumidores muitas vezes de forma confusa. Este ensaio faz parte da primeira etapa de um estudo que pretende aprofundar o tema “Informações Nutricionais e Comportamento do Consumidor”. Neste início, estamos preocupados, principalmente, em entender como o consumo de alimentos tem sido estudado por diferentes Ciências Sociais (Antropologia, Psicologia e Sociologia), conhecer estudos recentes que possam contribuir para nossa pesquisa e, finalmente, começar a compreender o comportamento do consumidor de alimentos e as associações feitas pelo consumidor entre alimento e saúde. Além de pesquisa bibliográfica, buscamos algumas informações na Internet e realizamos entrevistas com uma amostra de quinze consumidores. Procuramos entender, através das entrevistas, questões mais gerais como: o que gostam e o que não gostam de comer, o que gostariam de modificar nos hábitos alimentares e os alimentos que percebem como bons ou maus para a saúde. Procuramos ainda algumas informações que se relacionam ao consumo de leite e derivados, que deverão ser o foco de estudos futuros. Tanto a pesquisa bibliográfica 1 quanto as entrevistas apontam sobreposições, dilemas, contradições, inquietudes e confusões no estudo do comportamento do consumidor de alimentos. Enfim, parecem ser muitas as dificuldades encontradas para pesquisar esse tema: “gente” é sempre muito complicado e “comida” é sempre muito diversificada. Juntar os dois não poderia ser mesmo fácil. 2- As Ciências Sociais e O Comportamento do Consumidor de Alimentos Apesar de sermos há muito tempo consumidores apenas, recentemente, o consumo passou a ser objeto de estudo formal. De acordo com Solomon(1994), o estudo do comportamento do consumidor sofre influências das mais diferentes áreas de conhecimento sendo difícil pensar num tema mais interdisciplinar. Dentre as Ciências Sociais, no entanto, destacamos as contribuições da Sociologia, da Antropologia e da Psicologia no estudo do comportamento do consumidor de alimentos. 2.1- A Sociologia e o Comportamento do Consumidor de Alimentos De acordo com Gofton(1986), o sociólogo, diferente de outros cientistas sociais, não se deteve na análise do consumo de alimentos. Os textos que analisam as influências de fatores sociais no comportamento de consumo tem sido produzidos em sua maioria por pesquisadores da área de marketing. Os sociólogos da academia pouco produziram sobre consumo em geral e menos ainda sobre o consumo de alimentos. Uma das explicações colocadas por Turner(1984, 1982), é de que a sociologia tradicionalmente tem encontrado dificuldades em lidar com fenômenos fundamentados em uma necessidade natural como sexo e alimento que, apesar de universais, possuem infinitas variações. Mennell et alii(1992) também levantam algumas possíveis razões para que só, recentemente, os sociólogos tenham despertado o seu interesse intelectual para o alimento e para o ato de comer. O primeiro motivo que apresentam coincide com as colocações de Turner(1984,1982), ou seja, a alimentação é uma necessidade vital do ser humano e as refeições que ocorrem na maioria das sociedades são um acontecimento muito óbvio para ser alvo de suas análises. O segundo, refere-se ao trânsito da alimentação, quase sempre, na esfera doméstica comparativamente de menor status que as esferas política e econômica que eram sempre preferidas pelos sociólogos. Por que alimentos e o ato de comer tem emergido como uma área substancial de pesquisa e de interesse de sociólogos recentemente? Mennell et alli(1992) tentam responder essa pergunta.Uma das razões pode estar ligada ao crescimento da importância dos problemas de nutrição que vão desde a questão da fome até ao crescimento, a partir das sociedades industriais de doenças como a obesidade e a anorexia nervosa.Uma outra razão está relacionada à profissionalização do nutricionista, do dietista e o crescimento da medicina preventiva que envolveu muitos sociólogos nesta área de estudo. Começou-se a desenvolver então a sociologia da cultura, negligenciada por muitos sociólogos por parecer muito trivial, que significou uma mudança do foco da atenção dos sociólogos da produção industrial para o consumo industrial. Essa mudança possibilitou uma abertura da Sociologia para trocas com disciplinas estreitamente relacionadas como História e Antropologia. Mennell et alii(1992) fazem conexões interessantes entre alimento e diversos assuntos chaves da Sociologia mas observam que a Sociologia é como um bolo que pode ser cortado de diferentes maneiras e que a “sociologia da comida” não é ainda uma sub-área unificada da Sociologia. A maioria dos 2 sociólogos que tem estudado o tema estão, antes, envolvidos com áreas de interesse mais estruturadas como, por exemplo, a família ou a estratificação social. Mesmo assim, Gofton(1986) não tem dúvidas quanto a considerar o consumo de alimentos uma questão social. Como comemos, como preparamos a comida, quando comemos, com quem comemos, o que usamos no preparo, como nos comportamos antes, durante e depois de nos alimentarmos, as regras e significados que permeiam todos os aspectos relativos à prática de consumo de alimentos, são todos, com certeza, questões sociais, mesmo reconhecendo todas as dimensões biológicas, psicológicas, políticas, econômicas, culturais, dentre outras, que também estão envolvidas. 2.2-A Antropologia e o Comportamento do Consumidor de Alimentos De acordo com Murcott(1992), cozinhar, como uma prática cultural, está extremamente ligada à identificação do grupo. Literalmente e simbolicamente, segundo a autora, é através da cozinha que nós nos asseguramos de sermos humanos e não animais, civilizados e não selvagens mesmo que, como animais, tenhamos de comer para sobreviver. Lévi-Strauss(1966) também se refere a esse paradoxo lembrando que todos nós sabemos que o ser humano tem um caráter dual. Enquanto espécie, somos animais com necessidades biológicas semelhantes às de outras espécies como, por exemplo, comer. Ao mesmo tempo temos a linguagem, a inteligência e a cultura que são únicas no nosso planeta. Portanto, somos criaturas da natureza e da cultura simultâneamente. Leach(1970) coloca que o alimento como um mediador muito apropriado porque quando comemos estabelecemos uma identidade direta entre nós mesmos(cultura) e nosso alimento(natureza).Cozinhar é uma maneira universal de transformar natureza em cultura e formas de cozinhar são sempre apropriadas para serem usadas como símbolos de diferenciação fala o autor. Para Murcott(1992), nós não conseguimos alcançar os inúmeros significados que envolvem as mudanças nas rotinas das refeições familiares, o ato de sentar para jantar com alguém ou a mudança de um menu rotineiro. Uma das primeiras dificuldades quando nos aprofundamos no assunto alimentos encontra-se na tradução da palavra “food” para o português. Esta palavra da língua inglesa pode ser traduzida para o português como alimento ou comida. Embora Gofton(1986) até reclame daqueles que chegam a sugerir que ingerimos “nutrients” e não “food” que seria a palavra correta de ser usada pois carrega as dimensões sociais, a língua inglesa parece não ter muitas dúvidas como a portuguesa. Sobre essa questão, DaMatta(1984 ) quando analisa a alimentação dos brasileiros faz uma distinção importante e esclarecedora entre alimento e comida para quem pretende estudar o comportamento do consumidor brasileiro: “Para nós, nem tudo que alimenta é sempre bom ou socialmente aceitável. Do mesmo modo, nem tudo que é alimento é comida. Alimento é tudo aquilo que pode ser ingerido para manter uma pessoa viva; comida é tudo aquilo que se come com prazer... Temos então alimento e comida. Comida não é apenas uma substância alimentar, mas é também um modo, um estilo e um jeito de alimentar-se”. 3 O autor continua a sua diferenciação ressaltando a universalidade do alimento que diz respeito a todos os seres humanos, sejam eles amigos ou inimigos, do Brasil ou de fora enquanto a comida se refere ao costume, o que auxilia as pessoas grupos ou classes a se identificarem. Da Matta(1984) faz colocações interessantes que se aplicam a qualquer cultura como: “o jeito de comer define não apenas aquilo que é ingerido como também aquele que a ingere”, “dize-me o que comes que te dir-te-ei quem és” ou observações muito próprias da cultura brasileira quando fala da nossa comida misturada que seria um reflexo da nossa mistura de raças e da característica relacional da nossa culinária, origem de uma sociedade igualmente relacional. 2.3- A Psicologia e o Comportamento do Consumidor de Alimentos Procurando entender o papel desempenhado pelos alimentos nas nossas vidas, percebemos que ele é não apenas uma fonte de nutrientes para a sobrevivência, mas também uma fonte de gratificações emocionais e um meio de expressar nossos valores e relações sociais. De acordo com Ackerman (1992), a comida é grande fonte de prazer, um mundo complexo de satisfação tanto fisiológica quanto emocional, que guarda grande parte das lembrança da nossa infância. Rozin et alii(1986) falam sobre a falta de conhecimento quanto a origem das preferências, gostos e atitude das pessoas em relação aos alimentos e atribui essa falta ao fato da psicologia, a ciência apropriada para explorar esta questão, ter se preocupado em entender o que determina as quantidades de alimentos que comemos e não o que comemos ou como selecionamos o que comemos. Os estudos na área de psicologia de alimentos tem tradicionalmente enfocado a aceitação ou rejeição dos alimentos. Como muitos pesquisadores certamente concordariam, é muito difícil separar as dimensões sociais e culturais da escolha de um alimento das dimensões psicológicas ou mesmo biológicas. De acordo com Rozin et alii(1992), no entanto, existem abordagens menos tradicionais para estudar os hábitos de consumo de alimentos. Ao invés de perguntar, por exemplo, “Como Fred passou a rejeitar fígado?”ou “ Será que Fred ficou doente depois que comeu fígado quando era criança?”, pergunta-se, “Será que Fred rejeita fígado por causa do seu cheiro e aparência ou será porque não faz bem para o seu colesterol ou ainda porque não gosta de carnes deste tipo?” Muitos aspectos podem ser destacados para melhor compreensão do que pode se chamar a psicologia da escolha do alimento. Vamos nos limitar a comentar apenas a primeira etapa do modelo psicológico do comportamento do consumidor, a motivação, que é o impulso para a ação. Para conhecer as bases motivacionais que levam as pessoas a aceitarem ou não determinados alimentos, segundo Rozin et alii(1992), é preciso diferenciar três termos: o uso de um alimento que relaciona-se a “o que” ou “quanto” é consumido; a preferência que refere-se à situação de escolha. Exemplificando, o consumidor pode preferir carne mas comer mais pão por razões como preço e praticidade no preparo. Gosto, o terceiro termo, relacionase a uma resposta afetiva sendo um determinante da preferência, ou seja, pode se preferir comer verduras e gostar mais de doces. Se o ambiente no qual vivem os consumidores fosse calmo e não passasse por muitas mudanças, poderíamos imaginar que comemos o que preferimos e preferimos o que gostamos. No entanto, sabemos que a disponibilidade dos alimentos, o preço, a conveniência e vários outros fatores cultural e sociais modificam essa suposição. No trabalho de Krondl&Lau(1982), pode ser constatada a importância da 4 associação do alimento com a saúde como importante atributo para uso e preferência, e da pouca relação com o “gostar”. Mennell et alii(1992) chamam atenção, em especial, para as doenças relacionadas diretamente à alimentação como bulimia e anorexia nervosa, que tem despertado crescente atenção de psicanalistas, psicólogos, médicos, historiadores e até feministas, na medida em que, as manifestações desses desequilíbrios ocorrem predominantemente em mulheres. Os autores não tem conhecimento se essas doenças sempre existiram mas, parece evidente o aumento da incidência do número de casos nas últimas décadas. Por que? Estatísticas mostram que o peso médio da população aumenta enquanto aumentam também as pressões para que se torne magra e diminui sensivelmente o peso da imagem do corpo ideal que aparece nas diferentes mídias. Ser magro não é apenas ser atraente, é também ser associado ao sucesso e ao poder. Por outro lado, estar acima do peso está associado a ser fisica e mentalmente pouco saudável. preguiçoso e relachado. Esses desequilíbrios ao mesmo tempo que despertam atenção de psicólogos e médicos, levam os sociólogos a se interessarem em entender as pressões sociais que estão envolvidas e os antropólogos a compreender as influências das variáveis culturais, um exemplo de como o estudo do comportamento do consumidor requer vários “olhares”simultâneamente. 3- Informações disponíveis para o consumidor de alimentos? Ippolito & Mathios (1994) analisam em seu estudo as tendências na produção de alimentos que possuem variações no conteúdo de gordura e colesterol, para compreender se as informações que ligam esses alimentos a doenças do coração e ao câncer afetam as decisões do consumidor. Eles analisam também se as mudanças na política americana de 1985, que permitiu que produtores falassem nos rótulos e nas propagandas da relação entre dieta alimentícia e doenças, ajudou a melhorar a escolha de alimentos ou não como muitos críticos dessa política colocam. Como a política liberal de 1985 foi modificada em 1990 quando o Nutrition Labeling and Education Act de 1990, autorizou o FDA (Food and Drug Administration) a limitar novamente as mensagens nos rótulos dos alimentos, Ippolito & Mathios (1994) limitaram seu estudo até 1990. Os autores chamam atenção, no entanto, para o fato de que antes de 1985, muitas informações já estavam disponíveis porém eram pouco disseminadas. Os dados da produção de alimentos foram fornecidos pelo Departamento de Agricultura. A produção per capita de carne vermelha, frango, peixe, ovos, leite e cremes derivados, queijos, óleos, cereais, vegetais, frutas, manteigas, margarinas, sorvetes e ice milk. Para cada um desses produtos, os dados foram analisados de 1977-1985(período anterior ao das mensagens liberadas sobre saúde) e de 1985-1990 ( período das mensagens liberadas sobre saúde). Foi usado um modelo de regressão linear para determinar se mudanças estatísticas significativas ocorreram nesses dois períodos. A seguir são apresentados os principais resultados e conclusões desse estudo. A produção per capita de carne vermelha, que é a maior fonte de gordura e gordura saturada na dieta americana, declinou durante os dois períodos. Como era esperado, de um substituto da carne vermelha com menos gordura, a produção per capita de frango aumentou de 19775 1990. A regressão revelou uma significante tendência positiva na produção per capita de frango com destaque para o período com mensagens sobre saúde liberadas. O peixe, que também apresentou uma tendência de crescimento de sua produção per capita durante todo o período analisado difere do frango por não ter sido observada mudança significativa no segundo período da análise. Os ovos, considerados a maior fonte de colesterol da dieta americana, assim como as carnes vermelhas, tiveram sua produção per capita diminuída durante todo o período e a regressão linear mostra uma tendência negativa que se acentua no período das mensagens sobre saúde. O leite foi sempre tido como uma grande fonte de gordura e gordura saturada, no entanto existem substitutos como o leite desnatado com muito pouca gordura. Por outro lado, leite contém muito cálcio e, no meio da década de 80, foi muito divulgada a necessidade de consumirmos mais cálcio e a ligação do cálcio na prevenção de osteoporose. Observa-se nos dois períodos analisados um declínio da produção per capita de leite mas um aumento dos seus substitutos com menos gordura. Se as mensagens sobre a questão da saúde associada aos alimentos estivesse sendo efetivamente absorvida pelos consumidores poderíamos esperar tendências negativas no consumo de cremes e queijos, alimentos ricos em gordura, durante o segundo período analisado. Porém, os dados mostram que o consumo, de ambas as categorias, subiu substancialmente e a regressão confirma uma tendência positiva de crescimento. Dois aspectos devem ser observados, no entanto, no consumo de queijo: o primeiro, o grande aumento do consumo de queijo italiano, o que pode estar associado diretamente ao aumento de consumo de pizza e de outras comidas italianas nos Estados Unidos, e o segundo, a política de estabilização dos preços dos produtos derivados de leite do governo americano. Sobre a produção per capita de gordura vegetal e animal, os dados mostram que houve um aumento no período de 1977-1985 em contraste com e o período das mensagens liberadas sobre saúde quando a produção de gordura animal declinou e a de gordura vegetal se estabilizou. Já as farinhas, grãos, frutas e vegetais que são as categorias de alimentos mais recomendadas para substituir as gorduras tiveram sua produção per capita aumentada para todas as categorias durante os dois períodos analisados. O estudo de Ippolito & Mathios(1994), analisa também três pares de substitutos cujos custos e outros aspectos tem influência praticamente igual: manteiga e margarina, sorvetes comuns e sorvetes de iogurte e queijo cremoso e queijo cottage. No caso das manteigas e margarinas, os resultados não foram os esperados, o que atribui-se à interferência do governo neste mercado. Já a análise da produção de sorvetes parece comprovar que as propagandas e rótulos, no segundo período analisado, levaram o consumidor a substituir os sorvetes comuns pela versão com menos gordura. Quanto aos queijos cremosos (4% de gordura do leite) e os queijos cottage(0,5 a 2,0 % de gordura do leite), pode-se observar o declínio da produção do tipo mais gorduroso durante os dois períodos analisados, com um movimento oposto do menos gorduroso, o que parece ser uma clara indicação de substituição de um pelo outro. Dentro das categorias analisadas foi possível perceber, no período de 1977-1985, quando as informações sobre saúde eram proibidas, evidências substanciais que informações sobre gordura, colesterol e doenças associadas estavam chegando até o consumidor e levando a 6 melhoria de muitos aspectos da dieta alimentar. As evidências não são inteiramente consistentes pois existiram exceções quanto aos queijos, cremes, gorduras e óleos que cresceram durante o período inicial. Para a maioria dos grupos de produtos analisados, no entanto, no período de 1985-1990, quando foram permitidas as mensagens explicitando as relações entre os alimentos e saúde, os dados de produção mostram um crescimento das categorias de alimentos com menos gordura, não havendo nenhuma evidência que as mensagens possam levar a efeitos adversos nos padrões da dieta alimentar. No Brasil, não só os produtos alimentares associados à saúde começam a proliferar nas prateleiras dos supermercados mas observa-se também uma grande discussão da questão nos jornais e revistas de grande circulação. Damos destaque especial ao programa de educação para consumo do INMETRO1 ( Instituto Nacional de Metrologia). O projeto de Educação para Consumo tem como objetivo fornecer informações para os consumidores brasileiros para melhorar o processo de escolha de bens e serviços e torna-los mais conscientes de seus direitos como consumidores. Para isso, portanto, não basta realizar análise comparativa da qualidade dos produtos, é preciso encontrar os canais para divulgar o resultado das análises aos consumidores o que tem sido conseguido pelo INMETRO. No setor de alimentos, em particular, o resultado das análises tem sido divulgado no Jornal O Estado de São Paulo, de grande circulação, e através do programa Fantástico da Rede Globo de Televisão, que apresenta um dos maiores índices de audiência da televisão brasileira, atingindo um público bastante diverso. Este tipo de divulgação, ao mesmo tempo em que cumpre o seu papel educador junto ao consumidor, parece gerar uma reação, por parte das empresas que fizeram ou não parte da amostra analisada, extremamente positiva incentivando-as a terem maior atenção ás questões relacionadas à higiene e saúde dos alimentos. Os resultados, em geral, não tem sido nada favoráveis às empresas. Na análise de queijo minas tipo frescal, por exemplo, dos 39 testes feitos com as amostras selecionadas de 19 marcas, apenas cinco apresentaram-se “ de acordo com os padrões legais vigentes”. A grande maioria portanto foi classificada como “produto impróprio para consumo” (12), “produto potencialmente capaz de causar toxinfecção alimentar”(17), “produto em condições higiênicas insatisfatórias”(6) e “ produto inaceitável para consumo direto”(1). Outro exemplo: das 57 amostras analisadas de leites tipo B e C em embalagem plástica 35 foram classificadas como “amostra oferece riscos à saúde” e 22 como “ amostra não oferece riscos à saúde”. Informações disponíveis para o consumidor de alimentos? O processo de educação do consumidor em relação à sua dieta alimentar passa, certamente, pelo fluxo das informações que chegam ao consumidor. Deixamos aqui, no entanto, alguns questionamentos a mais que merecem ser alvo de pesquisas futuras. Que tipo de informações os consumidores estão prontos para absorver? Quais são as midias mais adequadas? Qual deve ser a interferência de órgãos oficiais? O que fazer para que as informações nutricionais não se tornem uma “Torre de Babel” para os consumidores? 4- O movimento das empresas produras de alimentos 1 1-http://www.inmetro.com.br (23/05/97) 7 Frazão e Allshouse(1995 ) realizaram um estudo nos Estados Unidos com 37 categorias de produtos alimentícios com aspectos nutricionais melhorados na sua composição, ou seja, produtos que oferecem pelo menos uma característica nutricional melhorada em relação ao seu similar tradicional como, por exemplo: sem colesterol, menos gordura, diet, light. Outros produtos sem indicação da melhoria nutricional no rótulo também foram considerados como, por exemplo, o óleo de canola e o azeite de oliva que oferecem uma vantagem nutricional conhecida quando comparados com outros tipos de óleos e os iogurtes congelados que tem menor teor de gordura que os sorvetes tradicionais. Os dados foram coletados de 1989 até 1993 a partir de scanners de supermercados. O objetivo do estudo foi avaliar o tamanho e o crescimento do mercado de produtos com características nutricionais melhoradas em relação aos seus similares tradicionais e determinar se esses produtos são mais caros que as versões regulares. O estudo, alem de ter observado um grande crescimento da disponibilidade dessas versões melhoradas no varejo de alimentos, concluiu que o volume de vendas desses alimentos cresceu em rítmo mais rápido do que as versões similares tradicionais mesmo as versões melhoradas tendo, em geral, preços mais elevados. Os autores chamam atenção, no entanto, para alguns cuidados que devem ser observados na interpretação dessas informações. Ao desenvolverem produtos nutricialmente melhorados, por exemplo, a tecnologia de alimentos deve se preocupar ao mesmo tempo com o desempenho e com o sabor dos alimentos. Muitos lançamentos, embora tecnicamente bem desenvolvidos, fracassaram por não atenderem ao gosto do consumidor. Outro aspecto refere-se à discordância de alguns especialistas em nutrição quanto ao impacto potencial que alimentos melhorados nutricialmente possam ter na qualidade total da dieta. Os pesquisadores em nutrição advertem que não existe um ingrediente mágico pois existem milhares de componentes químicos nos alimentos que ainda estão sendo estudados. As dietas ricas em frutas e vegetais fazem bem à saúde mas não se sabe se isso se deve ao alto teor de fibra ou a algum outro componente. Por fim, deve ser observado que, atualmente, vem sendo dada ênfase à redução do conteúdo de gordura dos alimentos porém, os especialistas em nutrição começam a avaliar os efeitos que os substitutos de gordura podem estar causando nos seres humanos. Se o consumidor está ingerindo menos gordura, isso não quer dizer que ele está, necessariamente, ingerindo menos calorias. Nos Estados Unidos, por exemplo, os estudos indicam menor consumo de gordura mas cresce o número de obesos na população. Embora o assunto alimento associado a saúde ocupe espaço cada vez maior nos meios de comunicação e nas prateleiras dos supermercados, as empresas parecem ainda relativamente tímidas em suas práticas. Entramos no site do Salão Internacional de Alimentação2(SIAL) que realiza-se a cada dois anos na França e que, segundo analistas do evento, sempre aponta as tendências que traçarão os caminhos do setor agroalimentar e do comportamento do consumidor de alimentos. As inovações apresentadas, em 1996, parecem confirmar três tendências principais no consumo de alimentos: prazer, praticidade e saúde. Neste salão estiveram presentes mais de quatro mil expositores procedentes de 80 países. Cerca de 40% da amostra foi protagonizada por empresas francesas sendo portanto 60% de empresas estrangeiras. 2 http://www.sial.fr (09/05/97) 8 Escolhemos para a nossa análise, os novos produtos derivados de leite e ovos do SIAL. Na categoria analisada, dos 89 produtos apresentados menos de 30%(23 produtos), apresentaram nas suas descrições algum tipo de associação com a questão da saúde e de atributos nutricionais. Esperávamos, na verdade, encontrar um resultado superior, já que a o evento apontou a questão da saúde como um das grandes tendências do setor de alimentos. Ainda no setor de leite e derivados, fizemos uma pesquisa nas home pages de laticínios brasileiros e pudemos observar algumas diferenças interessantes em como algumas marcas estão ou não preocupadas com a associação dos produtos com saúde. A marca Vigor3, que pertence ao maior grupo privado de laticínios no Brasil, por exemplo, ao apresentar seus produtos parece demonstrar estar atenta ao crescimento da preocupação do consumidor em associar sua alimentação à saúde. Todos os produtos, vários tipos de leite, iogurtes e queijos, trazem informações sobre os ingredientes, presença de aditivos, conservação, durabilidade e composição nutricional (calorias, proteínas, lipídios, carboidratos). Além disso, cada ítem do menu principal como “história da empresa”, “produtos” ou “receitas”, está associado a um tipo de esporte como futebol, tênis ou natação, o que também é uma indicação de preocupação da marca com a idéia de unir alimentação e esporte para ter saúde. A marca Selita4, da Cooperativa de Cachoeiro do Itapemirim no Espirito Santo, fornece também informações nutricionais em todos os seus produtos. Chamou-nos atenção as características destacadas nos novos produtos que descreve: um iogurte com polpa de fruta enriquecido com ferro, dois leites desnatados com sabor e vitaminados, contendo oito tipos diferentes de vitaminas e um leite semi-desnatado enriquecido com vitaminas e ferro. Todos os lançamentos, portanto, destacam atributos nutricionais. Mesmo sem termos encontrado a informação sobre as oito vitaminas, quantidade e tipo, toda a apresentação dos produtos Selita indicam uma afinidade clara do alimento com a questão da saúde. Já a marca Centenário5, da Cooperativa dos Produtores de Leite do Vale do Rio Grande Ltda, apresenta seus produtos através de bonitas imagens mas que nada informam sobre ingredientes, conservação ou composição nutricional. As informações fornecidas tem uma preocupação em informar sobre o processo de produção como, por exemplo, “SAIBA COMO É PRODUZIDO O LEITE LONGA VIDA CENTENÁRIO. VOCÊ NÃO VAI QUERER SABER DE OUTRO.” Esse tipo de informação demonstra que predomina orientação para produto e para o processo e não uma preocupação com o que quer o consumidor ou, pelo menos, com as preocupações que tem predominado quando analisamos o comportamento do consumidor de alimentos. 5- Consumidores de Alimentos: impressões extraídas das entrevistas Como estamos iniciando a nossa exploração do tema comportamento do consumidor de alimentos e sua associação com saúde, pretendemos nas nossas entrevistas, além de buscar novas informações, constatar as dificuldades de abordar um tema que, inicialmente, pode 3 http://www.vigor.sial.br (10/05/97) http://www.selita.com.br (10/05/97) 5 http://www.copervale.com.br(10/05/97) 4 9 parecer rotineiro, mas que, à medida que nos envolvemos, deparamo-nos com a influência de inúmeras variáveis. Na busca de um caminho de estudo e de uma melhor compreensão sobre o comportamento do consumidor de alimentos, encontramos poucas direções e muitas sobreposições, dilemas, contradições, inquietudes e confusões. O único filtro usado na seleção dos entrevistados foi que eles deveriam ter o costume de fazer compras em supermercados. Trabalhamos com uma amostra de conveniência já que conversamos com treze alunos do curso de Mestrado e dois do Doutorado em Administração de Empresas do Instituto de Pós Graduação e Pesquisa em Administração (COPPEAD) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Esta amostra parece ter oferecido a vantagem de um grupo com características relativamente homogêneas em termos de grau de instrução, acesso a informações, classe social e idade, que variou de 24 a 44 anos com média de 34 anos. Dos 15 entrevistados, 9 são casados e 6 solteiros sendo que desses, 2 moram sozinhos e 4 com os pais. As entrevistas tiveram uma duração média de 15 minutos. Inicialmente, explicávamos aos entrevistados que o assunto se relacionava a “comida”. Não usamos a palavra alimento pois concordamos com DaMatta(1985) que a palavra comida cria uma maior proximidade entre as pessoas. A entrevista pode ser dividida em quatro partes. Na primeira, perguntamos aos entrevistados o que gostam e o que não gostam de comer que, de acordo com Rozin et alii(1992), relaciona-se a uma resposta afetiva. Na segunda parte nos preocupamos em entender o que os entrevistados gostariam de mudar nos seus hábitos alimentares, na rotina de suas dietas. Mas, quais são os alimentos que fazem bem à saúde e quais os que fazem mal? Foi a questão colocada na terceira parte. Por fim, dado o nosso interesse em pesquisas futuras no setor de leites e derivados, procuramos buscar algumas informações sobre a compra e consumo de leite, queijos e iogurtes. A seguir apresentamos as principais informação anotadas. 5.1- O que gostam e o que não gostam? Como não foi especificado previamente se os entrevistados deveriam citar categorias de alimentos mais amplas como carnes e verduras ou alimentos específicos como espinafre ou frango, os entrevistados mencionavam um ou outro ou ainda uma mistura de ambos. Não era estabelecido um limite de ítens que deveriam ser mencionados mas sugerimos três como um número satisfatório. Foi possível observar uma facilidade maior dos entrevistados para lembrar o que gostam em relação ao que não gostam e também uma tendência a mencionar categorias mais amplas(Ex: massas) para o que gostam e alimentos mais específicos para o que não gostam(Ex: giló). O primeiro aspecto que nos chamou atenção, ao analisarmos essas respostas, não foi o que gostam e o que não gostam os entrevistados e sim a constatação de que muitos alimentos que aparecem como preferidos, também aparecem como rejeitados, valendo o ditado popular de que “gosto não se discute”. Foram eles: carne vermelha, peixe, doces, arroz e feijão, verduras, leite, frutas e até pão de queijo. Dentre os preferidos, as massas em geral e o pão foram os mais lembrados (7 citações cada um ). Os italianos parecem estar mesmo expandindo sua culinária pelo mundo: comida saborosa, prática no preparo, com preço acessível e saudável. Foram lembradas ainda as 10 carnes(vermelha, peixe e frango), os laticínios(queijos e leite), as frutas, biscoitos, doces e chocolates. Dentre os menos apreciados, as verduras foram as mais citadas: verduras em geral, giló, machiche, espinafre e pimentão. Além das verduras, destacamos também as carnes gordurosas e os legumes dentre os rejeitados. 5.2-O que gostariam de comer mais ou comer menos? Considerando as rotinas de suas dietas alimentares, os entrevistados eram perguntados sobre o que gostariam de comer mais ou comer menos. Suas respostas eram questionadas, ou seja, era perguntado o porquê de desejarem aumentar ou diminuir o consumo dos alimentos citados. Nossa expectativa, perguntando sobre as mudanças que gostariam de fazer nas suas dietas, era encontrar preocupações com a saúde, isto é, comer mais o que faz bem para a saúde e comer menos o que faz mal. Essa foi a justificativa que, de fato, prevaleceu nas respostas dadas pelos entrevistados. Comer mais: verduras, frutas, peixe, leite e queijo porque “Compõem uma dita saudável”, “Faz bem para saúde mesmo sendo sem graça”, “Legumes e verduras são saudáveis e engordam menos”. Foram também apresentadas várias justificativas sobre porque não comem os alimentos que acham que deveriam comer mais: “Frutas e legumes são perecíveis, acabou, acabou.”, “Não como muitas verduras e legumes pois lá em casa só eu gosto”, “Como sempre na rua e não confio na higiene que é feita nas verduras”, “Salada dá trabalho para cortar tudo”, “Tenho preguiça de descascar fruta”. Vários entrevistados, no entanto, não pensaram no mais saudável para sua dieta e sim no mais prazeroso. Foram também lembrados os doces, chocolates e guloseimas como ítens que gostariam de consumir mais. Em seguida a esses desejos, porém, vinham as culpas: “Gostaria de comer mais mas não posso porque engordo”, “Não como mais porque lá em casa nunca tem”. Os alimentos mencionados como os que os entrevistados gostariam de comer menos podem ser separados em dois tipos: os mais associados com a preocupação com a saúde como alimentos gordurosos, frituras, chocolate presunto carne vermelha e queijo; e os mais associados a uma preocupação estética. ou seja, aqueles que engordam como, por exemplo, doces, refrigerantes, pães, biscoitos e açucar. Os chocolates foram alvo das duas preocupações: “tem muita gordura e engorda”. 5.3- O que faz bem e o que faz mal para saúde? Os entrevistados eram orientados a não pensar muito quando perguntados sobre os alimentos que fazem bem e os que fazem mal à saúde. Se “gosto não se discute” foi bem aplicado à diversidade de respostas obtidas quando perguntamos o que gostavam e o que não gostavam, quando o assunto é saúde, o ditado parece não se aplicar pois há uma concordância maior nas respostas obtidas. Dos 15 entrevistados, 9 citaram verduras e frutas e 7 citaram os legumes e as carnes brancas como as categorias de alimentos que fazem bem à saúde. Já nas associações de alimentos que fazem mal à saúde, a maior preocupação foi, sem dúvida, com a gordura, lembrada de diferentes formas. Dez citações referiram-se diretamente à gordura componente de vários alimentos; oito mencionaram “frituras”, uma forma de preparação de alimentos que adiciona gordura; cinco citaram carne vermelha e três de porco, que são ricas em gordura saturada; e oito citaram os doces que, em geral, também consomem muita gordura no seu 11 preparo. Ainda foram lembrados o churrasco, refeição típica brasileira rica em gordura e os fast foods, um produto cultural dos nossos tempos que é criticado por vender um tipo de alimentação não adequada à saúde e com muita gordura, em troca principalmente de rapidez e praticidade. 5.4- Os derivados de leite Caso o entrevistado tivesse citado leite, queijo ou iogurte, em algum momento da entrevista, aproveitávamos o gancho para explorar mais o comportamento de compra e consumo desses produtos perguntando, inclusive, sobre o costume de ler os rótulos e as informações neles contidas. Caso não tivessem mencionado nenhum dos produtos que escolhemos ainda assim procurávamos informações sobre a compra e consumo desses produtos. Um dos entrevistados, por exemplo, que não havia citado nenhum dos produtos durante a entrevista, quando perguntado disse adorar leite e consumir diariamente mas “não tinha pensado em leite pois você falou primeiro em comida e aí fiquei pensando em refeição pois leite é no lanche ou café da manhã”. Essa declaração é, sem dúvida, importante para pesquisas futuras nessa classe de produtos. Já o único entrevistado, que disse que gostaria de consumir mais leite na sua rotina alimentar, apresentou uma razão associada à saúde mas não positivamente: “tenho intolerância a lactose e não posso consumir sempre leite e derivados”. Das declarações do consumidor de leite que foram anotadas podemos extrair alguns exemplos de variáveis que parecem influir na escolha e no consumo do produto: a ocasião de uso “Leite é fase, tem épocas que tomo todo dia e tem épocas que paro. Agora estou tomando desnatado pois estou de dieta”, “Tomar leite depende do momento. No inverno, gosto de tomar com chocolate”; o sabor - “Prefiro semi-desnatado pois desnatado não tem gosto de nada”; a embalagem - “Longa vida é mais prático” “Só tomo Molico em pó”; o preço - “O leite longa vida agora não está caro”; a associação com saúde - “O desnatado é mais leve, tem menos gordura” e a marca - “Leite? Tomo Parmalat” ou “Só tomo Molico”. Quando perguntamos sobre os iogurtes, as respostas dos entrevistados também nos forneceram pistas de variáveis que parecem influir no consumo de produto. A mais enfatizada foi a ocasião de uso - “Não tenho costume de tomar iogurte”, “Tomo raramente”, “Tem fases em que tomo mais”, “Compro quando vou ao supermercado, se acaba, não reponho”, “Tomo quando estou de dieta”. Em seguida, anotamos também a consistência/Sabor - “Só gosto de iogurte líquido”, “Gosto de iogurte menos ácido” e a associação com saúde - “Iogurte só natural”, “Só tomo desnatado”, “Gosto daquela linha nova com vitaminas, cálcio e fibras”. Por fim, a importância da marca - “Gosto do Corpus diet”, “Gosto da linha nova da Danone”, “Compro sempre Bliss”. Quando perguntados sobre o consumo de queijo, os entrevistados tenderam a manifestar suas preferências que, segundo Rozi et alii(1992), refere-se mais à situação de escolha e, não necessariamente, de consumo: “Prefiro branco, prato ou muzzarela”, “Prefiro minas”, “Queijo? Gosto de todos”, “Prefiro prato porque todos lá em casa gostam “. Foram anotadas também algumas preocupações em relação à saúde e estética: “Tenho diminuido a quantidade porque tem muita gordura”, “Evito comer pois estou sempre de dieta”, “Como sempre Polenguinho ou Cottage por causa da dieta”. Observamos ainda a importância da marca: “Compro queijo sempre pela marca”. 12 Por último, perguntamos se os entrevistados tinham o costume de ler os rótulos e informações nele contidas do leite, iogurtes e queijos que compravam. Mais uma vez, nossa pequena amostra, mostrou comportamento variado. Dos 15, 7 declararam só ler o prazo de validade, declararam não ler nada ( “Não leio nada, só me preocupo com a marca que estou comprando”) e os demais mostraram posições curiosas: “Gosto de ler o tipo de corante e conservante mas não deixo de comprar por isso”, “Quando é uma novidade leio. Se gosto, compro sem olhar e não me pergunte o que li porque não vou lembrar”, “Leio todas as informações. Não entendo muito bem, acho tudo meio psicológico.” “Se é diet, comparo as calorias com a versão normal”. 6-Comentários Finais Nossos comentários finais pretendem conduzir aqueles que, de alguma forma, se interessam pelo tema apresentado, a refletir sobre todas as fontes de informações que buscamos, que não são muitas, mas conseguem mostrar mudanças, primeiro nas ciências sociais, que parecem mais interessadas em entender as influências de variáveis diversas quando o tema é comida e o ato de comer e, segundo, mudanças no movimento das empresas e depois dos consumidores ou dos consumidores e depois das empresas, não podemos precisar a direção, quanto à associação do alimento com a saúde. Chegamos a muitas dúvidas e nenhuma certeza já que nos propusemos a apenas explorar o tema. Podemos, entretanto, extrair algumas considerações seguras e, uma delas, é a associação cada vez maior dos alimentos com a questão da saúde e a constatação de que essa associação gera um conflito para os consumidores de alimentos entre, o que devem comer para a sua saúde e para o físico desejável, versus o que os consumidores gostam e realmente preferem comer. Todo mundo está interessado em saúde? As informações que chegam aos consumidores sobre comida saudável, parece estar criando uma certa confusão. Enquanto a maioria parece aceitar a idéia que o excesso de gordura e colesterol pode encurtar vidas, muitos ainda parecem séticos quanto a idéia de que certas vitaminas e vegetais previnem doenças e portanto podem prolongar a vida. Muitas comidas estão tão próximas de nossa história e de nossa cultura que, apesar de evidências contra o seu consumo, são alimentos que vamos continuar consumindo. Na verdade, espera-se um equilíbrio entre o bem e o mal: consumir os alimentos que fazem bem à saúde e também aqueles que dão prazer. Referências Bibliográficas Ackerman, Diane. Uma história natural dos sentidos. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil,1992, p.161-212. 13 DaMatta, Roberto(1985). O que faz O brasil Brasil? Rio de Janeiro. Rocco, 1984 Frazão, Elizabeth & Jane, E. Allshouse (1995) “Novos atributos nutricionais dos alimentos e comportamento do consumidor”. Revista de Administração, São Paulo v.30, n.4, p.65-76, outubro/dezembro. Gofton, Leslie(1986). “The Rules of Table: Sociological Factors Influencing Food Choice” in Ritson, Christopher(1986). The Food consumer. Wiley-Interscience publication. Great Britain, Kaynak, Erderner(1986). World Food. Marketing Systems. Butterworths Krondl, M. and Lau, D. (1982) “Social determinants in human food selection”. in Psychobiology of Human Food Selection, ed. L. M. Barker. Westport, Conn. Ippolito, M. 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