VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO E IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS URBANOS: ARACAJU DE 1986 A 2015 MÁRCIA ELIANE SILVA CARVALHO1 FRANCISCO DE ASSIS MENDONÇA2 JOSEFA ELIANE DE S. S. PINTO3 JOÃO LUIZ SANTANA BRAZIL4 Resumo Esta pesquisa foca no terceiro subsistema do clima urbano, o hidrometeórico, no qual são analisados os eventos extremos de precipitação no meio urbano e seus impactos em Aracaju/SE (1986 a 2015). Para tal, foi realizada uma análise da variação da precipitação diária no intervalo de 30 anos a partir de dados do INMET. Os impactos foram analisados a partir de dados da Defesa Civil e da EMURB, atendendo ao pressuposto do enfoque sistêmico. Os eventos extremos provocaram no meio urbano de Aracaju diversos casos de alagamentos, desmoronamentos e de desalojados, que prevalecem na região periférica da cidade, cuja população, em função da situação socioeconômica e do ambiente onde se acomodam, é considerada de alta vulnerabilidade. Palavras-chave: Eventos extremos – Clima Urbano – Alagamentos Abstract This research focuses on the third subsystem of the urban climate, hidrometeoric, which are analyzed precipitation extreme events in the urban environment and its impact in Aracaju / SE (1986-2015). To this end, an analysis of the variation of daily precipitation within 30 years from INMET data was performed. The impacts were analyzed from data of the Civil Defense and the EMURB, in view of the systemic approach assumption. Extreme events caused in urban areas of Aracaju several cases of flooding, landslides and displaced persons, which prevail in the peripheral region of the city, whose population, due to the socio-economic situation and the environment where they accommodate, is considered highly vulnerable. Keywords: Extreme Events - Urban Climate - Flooding 1 - Introdução A abordagem geográfica da climatologia, no que se refere a análise dos impactos pluviais nas áreas urbanas tem sua base teórico-conceitual nos estudos desenvolvidos por Monteiro, tanto em relação ao paradigma da análise rítmica (MONTEIRO, 1971) quanto em relação ao enfoque sistêmico com que trata o clima urbano (MONTEIRO, 1976). O clima urbano consiste na alteração do clima local, imposto pela materialidade física das cidades e das atividades dela decorrentes, que acabam promovendo alterações nos 1 Profª Drª do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe, Pós-doutoranda pelo LABOCLIMA/UFPR. E-mail: [email protected] 2 Prof. Dr. do Departamento de Geografia, do PPGeografia da Universidade Federal do Paraná e coordenador do LABOCLIMA/UFPR. E-mail: [email protected] 3 Profª Drª do Departamento de Geografia, do PPGEO e do PRORH da UFS. E-mail: [email protected] 4 Mestrando em Geografia pelo PPGEO da UFS. E-mail: [email protected] 1430 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG balanços energético, térmico e hídrico (MONTEIRO & MENDONÇA, 2003). Essas alterações podem originar fenômenos como as ilhas de calor e de frescor, desconforto térmico, concentração da poluição e inundações, etc. (MENDONÇA, 2000). De acordo com Monteiro (1976), o clima urbano é compreendido como um sistema no qual podem ser identificados três subsistemas: Termodinâmico, Físico-Químico e Hidrometeórico. Os eventos pluviais extremos e os desastres climáticos naturais se configuram atualmente como graves problemas para a sociedade, em razão dos prejuízos que causam a sociedade. São resultantes de processos naturais, e quando em contato com a sociedade, decorrem na formação dos riscos. Dessa forma, o risco configura-se como a probabilidade dos eventos ocorrerem e propiciarem vulnerabilidade. As inundações configuram-se nos mais impactantes eventos pluviais que ocorrem no mundo (CRED, 2013 apud HOFFMANN, MENDONÇA & GOUDARD, 2014). Em Aracaju, capital de Sergipe, são registrados processos de alagamentos em decorrência ou insuficiência ou falta de gestão das águas urbanas. De acordo com a SEMARH/SRH (2010), os principais problemas relacionados a estes processos na capital sergipana se devem: aumento das áreas impermeáveis nas bacias de drenagem urbana; contaminação das águas pluviais com esgoto devido a falta da rede coletora separadora; contaminação com material sólido e obstrução da drenagem; ocupação urbana desordenada sem a implantação do sistema de macrodrenagem, etc. Considerando o exposto, esta pesquisa foca no terceiro subsistema do clima urbano de Monteiro (1976), o hidrometeórico, no qual são analisados os eventos extremos de precipitação no meio urbano e seus impactos em Aracaju/SE, no período de 1986 a 2015, constituindo interesse eminente da climatologia geográfica. 2 - Procedimentos Metodológicos Para atingir os objetivos propostos, foi realizada uma análise da variação da precipitação diária no intervalo de 30 anos a partir de dados da Estação Meteorológica Automática do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) (www.inmet.gov.br) - Estação 83096, transpostas para planilhas em Excel na qual foi organizado um banco de dados para análise e geração de gráficos. A referida estação fica localizada na área urbana do município de Aracaju, nas seguintes coordenadas geográficas: 10,9º de latitude sul e 37,0º de longitude oeste. Foram identificados os dias nos quais ocorreram eventos extremos de precipitação, os sistemas atmosféricos atuantes, avaliando os reflexos destes no meio 1431 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG urbano de Aracaju, através de dados divulgados pela Defesa Civil e pela Empresa Municipal de Obras e Urbanização de Aracaju (EMURB). Os impactos pluviais concentrados e suas repercussões espaciais na área estudada são analisados a partir do sistema conceitual de Monteiro (clima urbano) através do canal de percepção do impacto meteórico (subsistema hidrodinâmico), valorizando os episódios anômalos e enquadrando-os na categoria dos “eventos extremos ou acidentais” (GONÇALVES, 2003). Neste, os episódios pluviais concentrados foram enfocados, sob dois aspectos téorico-conceituais distintos, porém, relacionados, em perspectiva geográfica voltada para problemas de qualidade ambiental: clima urbano e eventos pluviais extremos. 3 - Resultados 3.1 Aspectos da urbanização Aracaju abrange uma área de 181,8 Km2 e está inserida no Território de Planejamento da Grande Aracaju, que abrange nove municípios (Figura 01). Em 2010 apresentava uma população total de 571.149habitantes, dos quais 85,53% são alfabetizados distribuídos por 39 bairros (Figura 02), com densidade demográfica de 3.140,65. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM 2010) é o melhor do estado (0,770), embora o Índice de Pobreza seja de 27,45%. Um aspecto característico da urbanização do município de Aracaju é a concentração de renda em bairros específicos como, por exemplo, Jardins e 13 de Julho (renda média do responsável acima de R$ 4.000,00, não contabilizando todos os membros da família), centrando também as melhores condições de infraestrutura de saneamento, enquanto que as rendas mais baixas (renda média do responsável até R$ 700,00) concentram-se nas zonas norte e oeste (Figura 03). De acordo com o censo do IBGE (2010), o maior bairro em termos de população de Aracaju é a Farolândia (38.257 habitantes), seguido pelos bairros Santa Maria (33.475) e São Conrado (30.675), ambos integrando a rede de bairros com os menores níveis de renda da cidade. O bairro com o maior percentual de crianças em Aracaju é o Santa Maria (10.5 hab.), seguido pela Zona de Expansão (9,3), Farolândia (com 6.3) e São Conrado (7.1 hab). 3.2 Aspectos do clima de Aracaju A estação chuvosa do Nordeste está concentrada no período de fevereiro a maio, para alguns estados, e de maio a julho para outros (MENDONÇA e DANI-OLIVEIRA, 2007), como identificado na capital sergipana. 1432 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG O clima local de Aracaju é resultante das interações de atuação dos sistemas meteorológicos: Alísios de SE, Zona de Convergência Intertropical - ZCIT, Sistema Equatorial Amazônico – SEA e Frente Polar Atlântica – FPA, que se relacionam com outros fatores locais, como a posição geográfica litorânea, em latitude tropical. As temperaturas giram em torno dos 26 °C e a precipitação média anual é de, aproximadamente, 1.600 mm. Figura 01 – Aracaju / SE – Localização geográfica. Fonte: SRH (Superintendência de Recursos Hídricos), 2013. 1433 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG A climatologia de 1961 a 1990 aponta o mês de maio como preferencial para ocorrência de chuvas extremas em 24h (Figura 04), com pouca variação no tocante a umidade (INMET, 2016). O maior índice de precipitação acumulada em 24h ocorreu em maio de 1964: 171,6 mm. Figura 04 – Aracaju/SE - Normal Climatológica de 1961 a 1990. Figura 02 – Aracaju/SE - Bairros (2010). Fonte: INMET (2016) Org: Márcia Carvalho Figura 03 – Aracaju/SE - Renda média do responsável pelo domicílio (2010). Fonte: SEMARH/SRH (2010). 3.3 Eventos Extremos e Impactos no Meio Urbano de Aracaju O período chuvoso de Aracaju concentra-se entre março e agosto (Figura 05), com destaque da concentração da precipitação no mês de maio. Entre 1986 e 2015 foram registrados 14 anos com precipitação abaixo da média e seis acima da média (Figura 06). Para o período em estudo foram registrados 62 eventos acima de 50 mm/24hs, e dentre estes,14 eventos nos quais a precipitação excedeu a 100mm/24hs, considerados eventos extremos. Destaque para o dia 16 de maio de 1999, com precipitação total de 157mm e o dia de 25 de maio de 2011, também com 157mm (Figura 07). Dentre os demais eventos identificados, quatro também ocorreram no mês de maio, mantendo o padrão existente de ocorrência de concentração da precipitação no referido mês; dois eventos ocorreram nos meses tipicamente chuvosos de junho e julho e os outros seis eventos em meses considerados secos em Aracaju (fevereiro, outubro e novembro), sendo que em novembro de 2013 ocorreu o 4º maior episódio de precipitação desde 1964. 1434 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG Figura 05 – Aracaju/SE – Precipitação anual (1986-2015). Fonte: INMET - Estação: ARACAJU - SE (OMM: 83096): 1986-2015 Org: Márcia Carvalho Figura 06 – Aracaju/SE - Totais pluviométricos anuais (1986-2015) Fonte: INMET - Estação: ARACAJU - SE (OMM: 83096): 1986-2015 Org: Márcia Carvalho Figura 7 – Aracaju/SE - Totais pluviométricos acima de 100 mm/dia (1986-2015) Fonte: INMET - Estação: ARACAJU - SE (OMM: 83096): 1986-2015 Org: Márcia Carvalho 1435 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG Vale destacar também que no mês de maio de 2009 a precipitação total foi de 515,8mm, o que causou danos na cidade de Aracaju. A média da pluviosidade ao longo de 30 anos para o referido mês foi de 234,45mm. Ocorreu uma sequência de quatro dias chuvosos (10 a 13 de março) nos quais precipitou um total de 156,6mm, mais da metade do esperado para o mês inteiro, fato este repetido entre os dias 18 a 22 de março, com um total precipitado de 201,9mm em cinco dias. De acordo com dados da Defesa Civil de Sergipe (SERGIPE, 2015), foram 11 bairros afetados: Invasão do Santa Maria, Porto Dantas, Alto da Jaqueira/Getimana, 18 do Forte, Coqueiral, Soledade, Marivã, Maria do Carmo II, América, Cidade Nova, Moro do Avião. Todos localizados em regiões periféricas da cidade, impactados em função da ausência de sistema de drenagem, precárias condições de habitação e renda. No total foram 32 pessoas desalojadas, 480 desabrigados, 1 morte, 5355 afetados, 110 casas destruídas, 63 casas danificadas e 1006 casas em risco (Figura 8). A B C Figura 8 – Aracaju/SE - Impactos no ambiente urbano após eventos extremos em 2009. A - Morro do Avião/2009. B – Coqueiral/2009. C- Avenida Melício Machado/2009. Fonte: Defesa Civil de Sergipe(2016) e http://aracajuantigga.blogspot.com.br/2009/06/as-enchentesem-aracaju.html 1436 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG Em pesquisa publicada por Costa e Cavalcanti (2000), nos dias 13 e 14 de maio de 1999 havia muita atividade convectiva desde a Amazônia até o Nordeste, e a influência da ZCIT e de restos de um sistema frontal atuando no leste do NE. Os valores de umidade aumentam sobre parte do NE do dia 15 para 16. As condições de alta umidade, movimento ascendente, associadas à presença do sistema frontal no litoral leste e da ZCIT no litoral norte, foram responsáveis pelos altos índices de precipitação observados. Dados do CPTEC/INPE (2011) explicam que em 25 de maio de 2011 a atmosfera registrava umidade do ar elevada em superfície, presença de cavados, convergência de massa em baixos níveis, influência em altitude e ar frio nos níveis médios da atmosfera, que em conjunto contribuíram para o elevado total de chuva acumulada em 24 h em Aracaju/SE. Entretanto os fatores principais para causar a precipitação de 157mm foram a umidade do ar elevada em baixos níveis e a presença de ar frio em 500 hPa, que causou alagamentos, fechamento do aeroporto com cancelamento de sete dos 19 voos diários. Onze escolas municipais suspenderam as aulas, sendo que quadro delas, localizadas nas zonas oeste e norte da cidade, foram seriamente danificadas pelos alagamentos e infiltrações. Com relação a novembro de 2013, no qual ocorreu o 4º maior episódio de precipitação desde 1964 (Figura 9), recorre-se a Pinto et.al. (2002) ao afirmar que “as chuvas residuais de outubro, embora reduzidas a fracas manifestações próximas ao litoral, são resultantes da influência da superfície oceânica através das temperaturas das águas”. Figura 9: Aracaju/SE - Alagamentos após eventos extremos em novembro de 2013. FONTE: g1.globo.com 2013 No evento extremo ocorrido em 24/05/2015, em decorrência da presença de um escoamento frontal desde a Bahia, que se estendeu até Sergipe, mantendo a atmosfera instável, alguns pontos de alagamento prejudicaram o trânsito nas grandes avenidas da 1437 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG capital: Hermes Fontes, Desembargador Maynard, João Ribeiro com Airton Teles. No centro da cidade e em outros bairros, como no Jardim Centenário, os canais transbordaram e ruas foram alagadas. A cheia do Rio Poxim, no bairro Jabutiana, causou alagamento em ruas dos conjuntos Santa Lúcia, Sol Nascente, JK e cerca de 60 pessoas ficaram desalojadas na região do Largo da Aparecida, também no bairro Jabutiana. Além da interação entre diferentes sistemas meteorológicos, outro aspecto a ser considerado diz respeito às teleconexões dos fenômenos atmosféricos; a ocorrência dos fenômenos El Niño e La Niña que apresentam reflexos importantes sobre o Nordeste brasileiro. Na análise realizada para o município de Aracaju, cuja média de precipitação em 30 anos é de 1221,8mm, foi identificada a redução da precipitação anual nos anos de ocorrência do El Niño, principalmente nos anos de 1993, e de 2012 a 2015 (Tabela 01). Na série analisada, o ano mais chuvoso foi 1986, considerado ano de El Niño moderado, seguido pelos anos de 1996, 1999, 2000 e 2001, estes três últimos de ocorrência moderada do fenômeno La Niña. Tabela 01 – Aracaju/SE - Precipitação anual dos anos mais secos e mais chuvosos (1986-2015). 1986-2015 Precipitação total Precipitação Ano de Ano de anual (dos anos total anual (dos ocorrência de ocorrência de mais secos) anos mais El Niño* La Niña* chuvosos) 1986 1671,4 Moderado 1992 1190,7 Forte 1993 894,4 Forte 1995 1045,9 Moderado 1996 1562,9 Fraco 1997 1148,7 Forte 1998 1155,9 Forte 1999 1518,8 Moderado 2000 1561,9 Moderado 2001 1478,8 Moderado 2002 1033,5 Moderado 2005 1078,9 Fraco 2006 1443,5 Fraco 2007 1177,2 Fraco Forte 2012 741,6 Forte 2013 880,7 2014 829,9 2015 952,3 Forte * CPTEC/INPE (http://enos.cptec.inpe.br/) Fonte: INMET (1986-2015). Org.: Márcia Carvalho 1438 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG Vale também considerar que a cidade de Aracaju é cercada por águas: em sua porção Norte limita-se com o rio do Sal separando-a do município de Nossa Senhora do Socorro; na porção Sul, com o rio Vaza Barris, abrangendo a Zona de Expansão da cidade, fazendo divisa com o município de Itaporanga d’Ajuda; a Oeste, com o rio Poxim, divisa com São Cristóvão e a Leste com o rio Sergipe e o Oceano Atlântico. Vê-se que Aracaju tem uma área reduzida para os padrões nacionais, mas é influenciada pelos sistemas oceânicos e pela distribuição de bacias e sub-bacias hidrográficas. Tal situação hídrica se depara com a degradação das águas fluviais, pois os canais para recebimento das águas pluviais são utilizados como rede de despejo de esgotos que somados a variação nas marés proporcionam o ambiente adequado para a deficiência na drenagem e transbordamentos, propiciando a perda de bens e deixando a população susceptível a doenças relacionadas com a água contaminada e sem tratamento. Em mapeamento dos pontos de alagamento na cidade de Aracaju, a EMURB em 2007 identificou 64 pontos, a maioria relacionada com problemas de drenagem. No último levantamento dos pontos de alagamento e deslizamentos de encostas de Aracaju (EMURB, 2013), pode-se identificar que a maioria dos casos prevalece na região periférica da cidade, associada com a deficiência na drenagem, na qual historicamente a população de mais baixa renda reside, com a ausência de um sistema de saneamento e drenagem adequados. Em 2013, foram identificados 52 pontos de alagamentos e deslizamentos em Aracaju, distribuídos por 32 bairros (82% do total de bairros da capital) (Tabela 02). Deste total, 41% localizam-se na periferia urbana da cidade, concentradas na zona norte da capital (Porto Dantas, Lamarão, Soledade, Santos Dumont, Japãozinho) e na periferia sociológica da zona sul (Santa Maria), que apresentam as menores rendas médias por responsável pelos domicílios que reflete nas condições de moradia, educação e saúde. 4. Conclusões O adensamento populacional nas cidades, associado com as condições socioambientais dos centros urbanos, tem gerado impactos de diferentes magnitudes, os quais podem ser ampliados com a ocorrência de eventos extremos de precipitação. Ao analisar o clima urbano de Aracaju, constatou-se que os eventos climáticos extremos não se concentram apenas no mês de maio, tipicamente o mais chuvoso, mas ao longo dos 30 anos analisados, estes episódios também têm sua ocorrência registrada em meses considerado mais secos como fevereiro, outubro e novembro. Estes eventos têm causado impactos, como os desmoronamentos de casas e encostas, deixando várias 1439 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG pessoas desalojas e desabrigadas, vitimando principalmente as populações em condições sociais menos favorecidas e que ocupam áreas ambientalmente mais vulneráveis. Pontos de alagamentos 1, 8 2 3 4,5 6, 21 7, 28, 33 9, 11 10 12 13, 48 14 15, 46 16 17 18 19 20 22, 37 23 24, 42 25 26 27,36 29,49 30, 31 32, 47, 52 34, 43 35, 44 38 39, 40 41 45 50 51 Tabela 02 – Aracaju - Pontos de alagamentos na cidade. Bairros Zona Solução 13 de Julho Grageru Getúlio Vargas Farolândia Siqueira Campos São José Jardins Suissa Centro Ponto Novo São Conrado Cirurgia Sul Sul Centro Sul Oeste Sul Sul Sul Centro Oeste Soledade / Santos Dumont Santos Dumont / Jardim Centenário Jardim Centenário Norte Novo Paraíso José Conrado de Araújo / Olaria 18 do Forte Lamarão (invasão) Japãozinho Coqueiral/Porto Dantas Porto Dantas Industrial Inácio Barbosa Coroa do Meio Santa Maria Olaria Santo Antônio Jabotiana Soledade Cidade Nova América Aeroporto Atalaia Oeste Oeste Existe projeto na DIOB Elaborar projeto Norte Norte Norte Norte Existe projeto / elaborar projeto com indenizações Drenagem não existente. Elaborar projeto Rede de drenagem insuficiente – elaborar projeto Projeto parcialmente implantado Centro Norte Norte Rede de drenagem insuficiente – elaborar projeto Rede precária – elaborar projeto Rede de drenagem insuficiente Elaborar projeto / complemento da drenagem pluvial Rede de drenagem insuficiente – elaborar projeto Rede de drenagem insuficiente – elaborar projeto / Encosta Elaborar projeto de drenagem do lançamento do canal da Av. Jucelino Elaborar projeto de drenagem do lançamento do canal da Av. Comandante Miranda Elaborar projeto de drenagem do lançamento do canal Bairro América Norte Projeto em execução Norte Rede de drenagem insuficiente – elaborar projeto Sul Sul Rede de drenagem insuficiente / obras inconclusas Sul Projeto em estudo / elaborar estudo / elaborar projeto Oeste Drenagem, conclusão de obra / obra paralisada Norte Elaborar projeto de revestimento do canal Oeste Elaborar projeto Norte Obras paralisadas, recontratar Norte Oeste Sul Elaborar projeto Sul Fonte: EMURB (2013). Org.: Márcia Carvalho Tal fato é agravado em virtude de que a cidade de Aracaju apresenta uma rede de drenagem problemática cujos canais de esgotos não tratados, desaguam nos diversos rios da capital. Na ocorrência de eventos extremos, se associados com o regime de maré alta, e 1440 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG considerando que a drenagem funciona exclusivamente por gravidade, têm provocado a ocorrência frequente de alagamentos ao longo do período em estudo, com destaque para os anos de 1999, 2009, 2011, 2013, 2015. A maioria dos casos prevalece na região periférica da cidade, na qual historicamente a população de mais baixa renda reside, com a ausência de um sistema de saneamento, drenagem e habitação adequados, emergindo a necessidade de ampliar estudos no tocante as consequências dos referidos alagamentos para a saúde desta população considerada mais vulnerável em virtude da sua situação socioambiental. 5 – Referências COSTA, Overland Amaral; CAVALCANTI, Iracema F.A. Casos extremos de precipitação no estado de Sergipe em 1999 e 2000. Disponível em: www.cbmet.com/cbm . 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