trabalho - ABClima

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VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA:
IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016
Goiânia (GO)/UFG
EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO E IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS
URBANOS: ARACAJU DE 1986 A 2015
MÁRCIA ELIANE SILVA CARVALHO1
FRANCISCO DE ASSIS MENDONÇA2
JOSEFA ELIANE DE S. S. PINTO3
JOÃO LUIZ SANTANA BRAZIL4
Resumo
Esta pesquisa foca no terceiro subsistema do clima urbano, o hidrometeórico, no qual são
analisados os eventos extremos de precipitação no meio urbano e seus impactos em
Aracaju/SE (1986 a 2015). Para tal, foi realizada uma análise da variação da precipitação
diária no intervalo de 30 anos a partir de dados do INMET. Os impactos foram analisados a
partir de dados da Defesa Civil e da EMURB, atendendo ao pressuposto do enfoque
sistêmico. Os eventos extremos provocaram no meio urbano de Aracaju diversos casos de
alagamentos, desmoronamentos e de desalojados, que prevalecem na região periférica da
cidade, cuja população, em função da situação socioeconômica e do ambiente onde se
acomodam, é considerada de alta vulnerabilidade.
Palavras-chave: Eventos extremos – Clima Urbano – Alagamentos
Abstract
This research focuses on the third subsystem of the urban climate, hidrometeoric, which are
analyzed precipitation extreme events in the urban environment and its impact in Aracaju /
SE (1986-2015). To this end, an analysis of the variation of daily precipitation within 30 years
from INMET data was performed. The impacts were analyzed from data of the Civil Defense
and the EMURB, in view of the systemic approach assumption. Extreme events caused in
urban areas of Aracaju several cases of flooding, landslides and displaced persons, which
prevail in the peripheral region of the city, whose population, due to the socio-economic
situation and the environment where they accommodate, is considered highly vulnerable.
Keywords: Extreme Events - Urban Climate - Flooding
1 - Introdução
A abordagem geográfica da climatologia, no que se refere a análise dos impactos
pluviais nas áreas urbanas tem sua base teórico-conceitual nos estudos desenvolvidos por
Monteiro, tanto em relação ao paradigma da análise rítmica (MONTEIRO, 1971) quanto em
relação ao enfoque sistêmico com que trata o clima urbano (MONTEIRO, 1976).
O clima urbano consiste na alteração do clima local, imposto pela materialidade física
das cidades e das atividades dela decorrentes, que acabam promovendo alterações nos
1
Profª Drª do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe, Pós-doutoranda pelo
LABOCLIMA/UFPR. E-mail: [email protected]
2 Prof. Dr. do Departamento de Geografia, do PPGeografia da Universidade Federal do Paraná e
coordenador do LABOCLIMA/UFPR. E-mail: [email protected]
3 Profª Drª do Departamento de Geografia, do PPGEO e do PRORH da UFS. E-mail:
[email protected]
4 Mestrando em Geografia pelo PPGEO da UFS. E-mail: [email protected]
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balanços energético, térmico e hídrico (MONTEIRO & MENDONÇA, 2003). Essas
alterações podem originar fenômenos como as ilhas de calor e de frescor, desconforto
térmico, concentração da poluição e inundações, etc. (MENDONÇA, 2000).
De acordo com Monteiro (1976), o clima urbano é compreendido como um sistema
no qual podem ser identificados três subsistemas: Termodinâmico, Físico-Químico e
Hidrometeórico.
Os eventos pluviais extremos e os desastres climáticos naturais se configuram
atualmente como graves problemas para a sociedade, em razão dos prejuízos que causam
a sociedade. São resultantes de processos naturais, e quando em contato com a sociedade,
decorrem na formação dos riscos. Dessa forma, o risco configura-se como a probabilidade
dos eventos ocorrerem e propiciarem vulnerabilidade. As inundações configuram-se nos
mais impactantes eventos pluviais que ocorrem no mundo (CRED, 2013 apud HOFFMANN,
MENDONÇA & GOUDARD, 2014).
Em Aracaju, capital de Sergipe, são registrados processos de alagamentos em
decorrência ou insuficiência ou falta de gestão das águas urbanas. De acordo com a
SEMARH/SRH (2010), os principais problemas relacionados a estes processos na capital
sergipana se devem: aumento das áreas impermeáveis nas bacias de drenagem urbana;
contaminação das águas pluviais com esgoto devido a falta da rede coletora separadora;
contaminação com material sólido e obstrução da drenagem; ocupação urbana desordenada
sem a implantação do sistema de macrodrenagem, etc.
Considerando o exposto, esta pesquisa foca no terceiro subsistema do clima urbano
de Monteiro (1976), o hidrometeórico, no qual são analisados os eventos extremos de
precipitação no meio urbano e seus impactos em Aracaju/SE, no período de 1986 a 2015,
constituindo interesse eminente da climatologia geográfica.
2 - Procedimentos Metodológicos
Para atingir os objetivos propostos, foi realizada uma análise da variação da
precipitação diária no intervalo de 30 anos a partir de dados da Estação Meteorológica
Automática do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) (www.inmet.gov.br) - Estação
83096, transpostas para planilhas em Excel na qual foi organizado um banco de dados para
análise e geração de gráficos. A referida estação fica localizada na área urbana do
município de Aracaju, nas seguintes coordenadas geográficas: 10,9º de latitude sul e 37,0º
de longitude oeste. Foram identificados os dias nos quais ocorreram eventos extremos de
precipitação, os sistemas atmosféricos atuantes, avaliando os reflexos destes no meio
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urbano de Aracaju, através de dados divulgados pela Defesa Civil e pela Empresa Municipal
de Obras e Urbanização de Aracaju (EMURB).
Os impactos pluviais concentrados e suas repercussões espaciais na área estudada
são analisados a partir do sistema conceitual de Monteiro (clima urbano) através do canal de
percepção do impacto meteórico (subsistema hidrodinâmico), valorizando os episódios
anômalos e enquadrando-os na categoria dos “eventos extremos ou acidentais”
(GONÇALVES, 2003). Neste, os episódios pluviais concentrados foram enfocados, sob dois
aspectos téorico-conceituais distintos, porém, relacionados, em perspectiva geográfica
voltada para problemas de qualidade ambiental: clima urbano e eventos pluviais extremos.
3 - Resultados
3.1 Aspectos da urbanização
Aracaju abrange uma área de 181,8 Km2 e está inserida no Território de
Planejamento da Grande Aracaju, que abrange nove municípios (Figura 01). Em 2010
apresentava uma população total de 571.149habitantes, dos quais 85,53% são
alfabetizados distribuídos por 39 bairros (Figura 02), com densidade demográfica de
3.140,65. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM 2010) é o melhor do
estado (0,770), embora o Índice de Pobreza seja de 27,45%. Um aspecto característico da
urbanização do município de Aracaju é a concentração de renda em bairros específicos
como, por exemplo, Jardins e 13 de Julho (renda média do responsável acima de R$
4.000,00, não contabilizando todos os membros da família), centrando também as melhores
condições de infraestrutura de saneamento, enquanto que as rendas mais baixas (renda
média do responsável até R$ 700,00) concentram-se nas zonas norte e oeste (Figura 03).
De acordo com o censo do IBGE (2010), o maior bairro em termos de população de
Aracaju é a Farolândia (38.257 habitantes), seguido pelos bairros Santa Maria (33.475) e
São Conrado (30.675), ambos integrando a rede de bairros com os menores níveis de renda
da cidade. O bairro com o maior percentual de crianças em Aracaju é o Santa Maria (10.5
hab.), seguido pela Zona de Expansão (9,3), Farolândia (com 6.3) e São Conrado (7.1 hab).
3.2 Aspectos do clima de Aracaju
A estação chuvosa do Nordeste está concentrada no período de fevereiro a maio,
para alguns estados, e de maio a julho para outros (MENDONÇA e DANI-OLIVEIRA, 2007),
como identificado na capital sergipana.
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O clima local de Aracaju é resultante das interações de atuação dos sistemas
meteorológicos: Alísios de SE, Zona de Convergência Intertropical - ZCIT, Sistema
Equatorial Amazônico – SEA e Frente Polar Atlântica – FPA, que se relacionam com outros
fatores locais, como a posição geográfica litorânea, em latitude tropical. As temperaturas
giram em torno dos 26 °C e a precipitação média anual é de, aproximadamente, 1.600 mm.
Figura 01 – Aracaju / SE – Localização geográfica.
Fonte: SRH (Superintendência de Recursos Hídricos), 2013.
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A climatologia de 1961 a 1990 aponta o mês de maio como preferencial para
ocorrência de chuvas extremas em 24h (Figura 04), com pouca variação no tocante a
umidade (INMET, 2016). O maior índice de precipitação acumulada em 24h ocorreu em
maio de 1964: 171,6 mm.
Figura 04 – Aracaju/SE - Normal Climatológica de 1961 a 1990.
Figura 02 – Aracaju/SE - Bairros (2010).
Fonte: INMET (2016)
Org: Márcia Carvalho
Figura 03 – Aracaju/SE - Renda média do
responsável pelo domicílio (2010).
Fonte: SEMARH/SRH (2010).
3.3 Eventos Extremos e Impactos no Meio Urbano de Aracaju
O período chuvoso de Aracaju concentra-se entre março e agosto (Figura 05), com
destaque da concentração da precipitação no mês de maio. Entre 1986 e 2015 foram
registrados 14 anos com precipitação abaixo da média e seis acima da média (Figura 06).
Para o período em estudo foram registrados 62 eventos acima de 50 mm/24hs, e
dentre estes,14 eventos nos quais a precipitação excedeu a 100mm/24hs, considerados
eventos extremos. Destaque para o dia 16 de maio de 1999, com precipitação total de
157mm e o dia de 25 de maio de 2011, também com 157mm (Figura 07).
Dentre os demais eventos identificados, quatro também ocorreram no mês de maio,
mantendo o padrão existente de ocorrência de concentração da precipitação no referido
mês; dois eventos ocorreram nos meses tipicamente chuvosos de junho e julho e os outros
seis eventos em meses considerados secos em Aracaju (fevereiro, outubro e novembro),
sendo que em novembro de 2013 ocorreu o 4º maior episódio de precipitação desde 1964.
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Figura 05 – Aracaju/SE – Precipitação anual (1986-2015).
Fonte: INMET - Estação: ARACAJU - SE (OMM: 83096): 1986-2015
Org: Márcia Carvalho
Figura 06 – Aracaju/SE - Totais pluviométricos anuais (1986-2015)
Fonte: INMET - Estação: ARACAJU - SE (OMM: 83096): 1986-2015
Org: Márcia Carvalho
Figura 7 – Aracaju/SE - Totais pluviométricos acima de 100 mm/dia (1986-2015)
Fonte: INMET - Estação: ARACAJU - SE (OMM: 83096): 1986-2015
Org: Márcia Carvalho
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Vale destacar também que no mês de maio de 2009 a precipitação total foi de
515,8mm, o que causou danos na cidade de Aracaju. A média da pluviosidade ao longo de
30 anos para o referido mês foi de 234,45mm. Ocorreu uma sequência de quatro dias
chuvosos (10 a 13 de março) nos quais precipitou um total de 156,6mm, mais da metade do
esperado para o mês inteiro, fato este repetido entre os dias 18 a 22 de março, com um total
precipitado de 201,9mm em cinco dias.
De acordo com dados da Defesa Civil de Sergipe (SERGIPE, 2015), foram 11
bairros afetados: Invasão do Santa Maria, Porto Dantas, Alto da Jaqueira/Getimana, 18 do
Forte, Coqueiral, Soledade, Marivã, Maria do Carmo II, América, Cidade Nova, Moro do
Avião. Todos localizados em regiões periféricas da cidade, impactados em função da
ausência de sistema de drenagem, precárias condições de habitação e renda. No total
foram 32 pessoas desalojadas, 480 desabrigados, 1 morte, 5355 afetados, 110 casas
destruídas, 63 casas danificadas e 1006 casas em risco (Figura 8).
A
B
C
Figura 8 – Aracaju/SE - Impactos no ambiente urbano após eventos extremos em 2009.
A - Morro do Avião/2009. B – Coqueiral/2009. C- Avenida Melício Machado/2009.
Fonte: Defesa Civil de Sergipe(2016) e http://aracajuantigga.blogspot.com.br/2009/06/as-enchentesem-aracaju.html
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Em pesquisa publicada por Costa e Cavalcanti (2000), nos dias 13 e 14 de maio de
1999 havia muita atividade convectiva desde a Amazônia até o Nordeste, e a influência da
ZCIT e de restos de um sistema frontal atuando no leste do NE. Os valores de umidade
aumentam sobre parte do NE do dia 15 para 16. As condições de alta umidade, movimento
ascendente, associadas à presença do sistema frontal no litoral leste e da ZCIT no litoral
norte, foram responsáveis pelos altos índices de precipitação observados.
Dados do CPTEC/INPE (2011) explicam que em 25 de maio de 2011 a atmosfera
registrava umidade do ar elevada em superfície, presença de cavados, convergência de
massa em baixos níveis, influência em altitude e ar frio nos níveis médios da atmosfera, que
em conjunto contribuíram para o elevado total de chuva acumulada em 24 h em Aracaju/SE.
Entretanto os fatores principais para causar a precipitação de 157mm foram a umidade do ar
elevada em baixos níveis e a presença de ar frio em 500 hPa, que causou alagamentos,
fechamento do aeroporto com cancelamento de sete dos 19 voos diários. Onze escolas
municipais suspenderam as aulas, sendo que quadro delas, localizadas nas zonas oeste e
norte da cidade, foram seriamente danificadas pelos alagamentos e infiltrações.
Com relação a novembro de 2013, no qual ocorreu o 4º maior episódio de
precipitação desde 1964 (Figura 9), recorre-se a Pinto et.al. (2002) ao afirmar que “as
chuvas residuais de outubro, embora reduzidas a fracas manifestações próximas ao litoral,
são resultantes da influência da superfície oceânica através das temperaturas das águas”.
Figura 9: Aracaju/SE - Alagamentos após eventos extremos em novembro de 2013.
FONTE: g1.globo.com 2013
No evento extremo ocorrido em 24/05/2015, em decorrência da presença de um
escoamento frontal desde a Bahia, que se estendeu até Sergipe, mantendo a atmosfera
instável, alguns pontos de alagamento prejudicaram o trânsito nas grandes avenidas da
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capital: Hermes Fontes, Desembargador Maynard, João Ribeiro com Airton Teles. No centro
da cidade e em outros bairros, como no Jardim Centenário, os canais transbordaram e ruas
foram alagadas. A cheia do Rio Poxim, no bairro Jabutiana, causou alagamento em ruas dos
conjuntos Santa Lúcia, Sol Nascente, JK e cerca de 60 pessoas ficaram desalojadas na
região do Largo da Aparecida, também no bairro Jabutiana.
Além da interação entre diferentes sistemas meteorológicos, outro aspecto a ser
considerado diz respeito às teleconexões dos fenômenos atmosféricos; a ocorrência dos
fenômenos El Niño e La Niña que apresentam reflexos importantes sobre o Nordeste
brasileiro. Na análise realizada para o município de Aracaju, cuja média de precipitação em
30 anos é de 1221,8mm, foi identificada a redução da precipitação anual nos anos de
ocorrência do El Niño, principalmente nos anos de 1993, e de 2012 a 2015 (Tabela 01).
Na série analisada, o ano mais chuvoso foi 1986, considerado ano de El Niño
moderado, seguido pelos anos de 1996, 1999, 2000 e 2001, estes três últimos de ocorrência
moderada do fenômeno La Niña.
Tabela 01 – Aracaju/SE - Precipitação anual dos anos mais secos e mais chuvosos (1986-2015).
1986-2015
Precipitação total
Precipitação
Ano de
Ano de
anual (dos anos
total anual (dos
ocorrência de ocorrência de
mais secos)
anos mais
El Niño*
La Niña*
chuvosos)
1986
1671,4
Moderado
1992
1190,7
Forte
1993
894,4
Forte
1995
1045,9
Moderado
1996
1562,9
Fraco
1997
1148,7
Forte
1998
1155,9
Forte
1999
1518,8
Moderado
2000
1561,9
Moderado
2001
1478,8
Moderado
2002
1033,5
Moderado
2005
1078,9
Fraco
2006
1443,5
Fraco
2007
1177,2
Fraco
Forte
2012
741,6
Forte
2013
880,7
2014
829,9
2015
952,3
Forte
* CPTEC/INPE (http://enos.cptec.inpe.br/)
Fonte: INMET (1986-2015).
Org.: Márcia Carvalho
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Vale também considerar que a cidade de Aracaju é cercada por águas: em sua
porção Norte limita-se com o rio do Sal separando-a do município de Nossa Senhora do
Socorro; na porção Sul, com o rio Vaza Barris, abrangendo a Zona de Expansão da cidade,
fazendo divisa com o município de Itaporanga d’Ajuda; a Oeste, com o rio Poxim, divisa com
São Cristóvão e a Leste com o rio Sergipe e o Oceano Atlântico. Vê-se que Aracaju tem
uma área reduzida para os padrões nacionais, mas é influenciada pelos sistemas oceânicos
e pela distribuição de bacias e sub-bacias hidrográficas.
Tal situação hídrica se depara com a degradação das águas fluviais, pois os canais
para recebimento das águas pluviais são utilizados como rede de despejo de esgotos que
somados a variação nas marés proporcionam o ambiente adequado para a deficiência na
drenagem e transbordamentos, propiciando a perda de bens e deixando a população
susceptível a doenças relacionadas com a água contaminada e sem tratamento.
Em mapeamento dos pontos de alagamento na cidade de Aracaju, a EMURB em
2007 identificou 64 pontos, a maioria relacionada com problemas de drenagem. No último
levantamento dos pontos de alagamento e deslizamentos de encostas de Aracaju (EMURB,
2013), pode-se identificar que a maioria dos casos prevalece na região periférica da cidade,
associada com a deficiência na drenagem, na qual historicamente a população de mais
baixa renda reside, com a ausência de um sistema de saneamento e drenagem adequados.
Em 2013, foram identificados 52 pontos de alagamentos e deslizamentos em
Aracaju, distribuídos por 32 bairros (82% do total de bairros da capital) (Tabela 02). Deste
total, 41% localizam-se na periferia urbana da cidade, concentradas na zona norte da capital
(Porto Dantas, Lamarão, Soledade, Santos Dumont, Japãozinho) e na periferia sociológica
da zona sul (Santa Maria), que apresentam as menores rendas médias por responsável
pelos domicílios que reflete nas condições de moradia, educação e saúde.
4. Conclusões
O adensamento populacional nas cidades, associado com as condições
socioambientais dos centros urbanos, tem gerado impactos de diferentes magnitudes, os
quais podem ser ampliados com a ocorrência de eventos extremos de precipitação.
Ao analisar o clima urbano de Aracaju, constatou-se que os eventos climáticos
extremos não se concentram apenas no mês de maio, tipicamente o mais chuvoso, mas ao
longo dos 30 anos analisados, estes episódios também têm sua ocorrência registrada em
meses considerado mais secos como fevereiro, outubro e novembro. Estes eventos têm
causado impactos, como os desmoronamentos de casas e encostas, deixando várias
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pessoas desalojas e desabrigadas, vitimando principalmente as populações em condições
sociais menos favorecidas e que ocupam áreas ambientalmente mais vulneráveis.
Pontos de
alagamentos
1, 8
2
3
4,5
6, 21
7, 28, 33
9, 11
10
12
13, 48
14
15, 46
16
17
18
19
20
22, 37
23
24, 42
25
26
27,36
29,49
30, 31
32, 47, 52
34, 43
35, 44
38
39, 40
41
45
50
51
Tabela 02 – Aracaju - Pontos de alagamentos na cidade.
Bairros
Zona
Solução
13 de Julho
Grageru
Getúlio Vargas
Farolândia
Siqueira Campos
São José
Jardins
Suissa
Centro
Ponto Novo
São Conrado
Cirurgia
Sul
Sul
Centro
Sul
Oeste
Sul
Sul
Sul
Centro
Oeste
Soledade / Santos
Dumont
Santos Dumont /
Jardim Centenário
Jardim Centenário
Norte
Novo Paraíso
José Conrado de
Araújo / Olaria
18 do Forte
Lamarão (invasão)
Japãozinho
Coqueiral/Porto
Dantas
Porto Dantas
Industrial
Inácio Barbosa
Coroa do Meio
Santa Maria
Olaria
Santo Antônio
Jabotiana
Soledade
Cidade Nova
América
Aeroporto
Atalaia
Oeste
Oeste
Existe projeto na DIOB
Elaborar projeto
Norte
Norte
Norte
Norte
Existe projeto / elaborar projeto com indenizações
Drenagem não existente. Elaborar projeto
Rede de drenagem insuficiente – elaborar projeto
Projeto parcialmente implantado
Centro
Norte
Norte
Rede de drenagem insuficiente – elaborar projeto
Rede precária – elaborar projeto
Rede de drenagem insuficiente
Elaborar projeto / complemento da drenagem pluvial
Rede de drenagem insuficiente – elaborar projeto
Rede de drenagem insuficiente – elaborar projeto /
Encosta
Elaborar projeto de drenagem do lançamento do canal
da Av. Jucelino
Elaborar projeto de drenagem do lançamento do canal
da Av. Comandante Miranda
Elaborar projeto de drenagem do lançamento do canal
Bairro América
Norte
Projeto em execução
Norte
Rede de drenagem insuficiente – elaborar projeto
Sul
Sul
Rede de drenagem insuficiente / obras inconclusas
Sul
Projeto em estudo / elaborar estudo / elaborar projeto
Oeste Drenagem, conclusão de obra / obra paralisada
Norte
Elaborar projeto de revestimento do canal
Oeste Elaborar projeto
Norte
Obras paralisadas, recontratar
Norte
Oeste
Sul
Elaborar projeto
Sul
Fonte: EMURB (2013).
Org.: Márcia Carvalho
Tal fato é agravado em virtude de que a cidade de Aracaju apresenta uma rede de
drenagem problemática cujos canais de esgotos não tratados, desaguam nos diversos rios
da capital. Na ocorrência de eventos extremos, se associados com o regime de maré alta, e
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considerando que a drenagem funciona exclusivamente por gravidade, têm provocado a
ocorrência frequente de alagamentos ao longo do período em estudo, com destaque para os
anos de 1999, 2009, 2011, 2013, 2015.
A maioria dos casos prevalece na região periférica da cidade, na qual
historicamente a população de mais baixa renda reside, com a ausência de um sistema de
saneamento, drenagem e habitação adequados, emergindo a necessidade de ampliar
estudos no tocante as consequências dos referidos alagamentos para a saúde desta
população considerada mais vulnerável em virtude da sua situação socioambiental.
5 – Referências
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estado de Sergipe em 1999 e 2000. Disponível em: www.cbmet.com/cbm . Acesso em
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VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA:
IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016
Goiânia (GO)/UFG
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