DESAFIOS ATUAIS DA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL I – Introdução O ensino de Administração e, a sua prática no mundo das organizações sempre esteve associado a idéia-força de melhorar o desempenho através do treinamento sistemático. Nada mais simples de entender e nada mais complexo para ser colocado em prática efetiva. Simples, porque as organizações – grandes ou pequenas, públicas ou privadas, lucrativas ou não lucrativas – são na essência associações de pessoas, agindo predominantemente de acordo com suas experiências, percepções e motivações, que carecem por isso de uma certa identidade de propósitos e intenções para que seus esforços produzam resultados previsíveis e desejáveis. O que pode ser obtido através de treinamento, nas suas mais variadas formas. Complexo, no entanto, porque é meio vaga a idéia do que seja uma organização eficiente, dotado das características positivas, resultantes de consenso e aprovação. Adicionalmente, é necessário considerar que as profissões como forma operacional de atuação no contexto de uma sociedade, aparecem e se desenvolvem em consequência de sua utilidade social. O Administrador é ou, deve ser para as organizações, o que representa o Médico para a saúde de cada um de nós. Nesse particular, qual seria o respaldo e a proposta profissional da Administração? Qual o grau de internalização pela sociedade brasileira em particular e outras em escala global que passarão a incorporar novas demandas face a novos e complexos cenários emergentes? De valores como eficiência, inovação, ética, racionalidade na aplicação de recursos e na obtenção de resultados que formam a base valorativa da Administração? Qual a importância e a receptividade dadas, em nossa sociedade, ao Administrador como especialista na promoção daqueles valores maximizantes de recursos naturais, humanos e especializados? Essas questões e indagações encerram, a um só tempo, as dificuldades e o destaque da Administração, como uma das mais importantes áreas de estudos que foi no final do século passado recente e neste novo século e milênio que se inicia. Tanto, pelo número cada vez maior de pessoas, em todos os países, que com a Administração vem se envolvendo, como pelo rítmo crescente e constante com que se vai descobrindo e constatando que, em qualquer forma de associação humana, só existe um talento capaz de transformar propostas em fatos concretos, países e regiões subdesenvolvidas em sociedades afluentes, ideais de liberdade, em instituições permanentes: o talento de natureza empreendedora e gerencial próprio do administrador. É natural, portanto que, a preocupação com o ensino de Administração tenha aparecido muito cedo na história de quase todos os países. Embora, cada um tenha cumprido uma evolução própria, até alcançar as soluções compatíveis com suas necessidades. Algumas soluções mundialmente conhecidas, seguidas e celebradas. II – O Ensino da Administração no Brasil No Brasil, as preocupações com o ensino de Administração chegaram muito tarde. Muitos autores indicam que a instalação de cursos de Administração no Brasil é contemporânea à instalação da grande empresa multinacional (a partir da década de 1940). Realmente, há uma coincidência histórica no período de ocorrência desses eventos. Por exemplo, é da época da implantação da grande empresa multinacional no país que datam experiências como “a contribuição pioneira do Pe. Sabóia de Medeiros, ao criar em São Paulo, ao final da década de 1940, a Escola Superior de Administração de Negócios (ESAN)”. Mais ou menos a mesma época a iniciativa de Armando Salles de Oliveira, ao criar o Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT). Em 1946, a criação do Instituto de Administração da USP. Hoje, seguramente, um dos principais centros sul-americanos, junto com a COPPEAD/UFRJ; EAESP/FGV e PPGA/UFRGS, de vanguarda na área do estudo, desenvolvimento e disseminação da ciência administrativa. Em 1952, a criação da Escola de Administração Pública (EBAP), no Rio de Janeiro e, em 1954, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP), ambas pertencentes a Fundação Getúlio Vargas (FGV) com o apoio da ONU e outros organismos dos USA. Assim, se dos USA nos veio o problema – a necessidade do ensino da administração – também nos chegaram as medidas tendentes à resolvelo. Buscou-se junto aos USA, todo o conjunto de informações que possibilitassem a formação da categoria necessária. Trouxeram-se professores americanos, produziram-se textos, casos e material de ensino de Administração para o Brasil. Conservando-se grande parte das conclusões americanas, sem a necessária adaptação as especificidades brasileiras do ponto de vista social, cultural e econômica. A profissão de “Técnico em Administração”, como espaço legal e profissional tem no Brasil, 36 anos (Lei N. 4.769/65) e o especialista da área só venceu sua crise de identidade, ganhando um nome certo – ADMINISTRADOR - a pouco menos de 16 anos (Lei N. 7.321/85). Migramos portanto, ou estamos migrando de uma visão singularmente técnica do papel do Administrador para uma visão e papel multi e interdisciplinar/funcional. Hoje exige-se do Administrador possuir e combinar as seguintes habilidades necessárias e indispensáveis na função de gestor de organizações: Habilidade Técnica – é a capacidade de aplicar conhecimentos técnicos, métodos e equipamentos necessários à execução de tarefas específicas. É adquirida através da experiência, da educação e do treinamento. Habilidade Humana – é a capacidade e o discernimento para trabalhar com e por meio de pessoas, incluindo o conhecimento do processo de motivação e a aplicação eficaz da liderança. Habilidade conceitual – é a capacidade de compreender a complexidade das organizações como um todo e onde cada área específica se enquadra nesse complexo. Permite agir de acordo com os objetivos globais da organização, e não em função de metas e necessidades imediatas do próprio grupo. Hoje, como resultado das reflexões e ações ocorridas em diferentes momentos, capitaneadas pelo sistema Conselho Federal de Administração – CFA; Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração – Angrad, com a colaboração e apoio do Ministério da Educação e Cultura – MEC, há um esforço do Sistema de Ensino Superior em Administração do Brasil (faculdades e universidades) em perseguir e alcançar de forma crescente e consistente a formação do Administrador com tais características e habilidades. Com base nas proposições apresentadas no documento Diretrizes Curriculares para o Curso de Administração, que atualmente encontra-se em tramitação e apreciação no Conselho Nacional de Educação – CNE, para aprovação, vamos, para fins de reflexão, agregar mais elementos referentes ao perfil e habilidades indispensáveis ao Administrador. O que se pretende alcançar O perfil que o processo pedagógico deve garantir que o graduando demonstre ao final do curso, necessariamente, envolve: internalização de valores de responsabilidade social, justiça e ética profissional; formação humanística e visão global que o habilite a compreender o meio social, político, econômico e cultural onde está inserido e a tomar decisões em um mundo diversificado e interdependente; formação técnica e científica para atuar na administração das organizações, além de desenvolver atividades específicas da prática profissional em consonância com as demandas mundiais, nacionais, regionais e locais; competência para empreender, analisando criticamente as organizações, antecipando e promovendo suas transformações; capacidade de atuar em equipes multidisciplinares; capacidade de compreensão da necessidade do contínuo aperfeiçoamento profissional e do desenvolvimento da autoconfiança. As habilidades que contribuem para a formação do perfil do profissional desejado envolvem: habilidade de comunicação interpessoal e expressão correta nos documentos técnicos específicos e de interpretação da realidade das organização; habilidade de utilização de raciocínio lógico, crítico e analítico, operando com valores e formulações matemáticas e estabelecendo relações formais e causais entre fenômenos: habilidade de interagir criativamente face aos diferentes contextos organizacionais e sociais; habilidade de demonstrar compreensão do todo administrativo, de modo integrado, sistêmico e estratégico, bem como de suas relações com o ambiente externo; habilidade de lidar com modelos de gestão inovadores; habilidade de resolver situações com flexibilidade e adaptabilidade diante de problemas e desafios organizacionais; habilidade de ordenar atividades e programas, de decidir entre alternativas e de identificar e dimensionar riscos; habilidades de selecionar estratégias adequadas de ação, visando a atender interesses interpessoais e institucionais; habilidade de selecionar procedimentos que privilegiem formas de atuação em prol de objetivos comuns. O que deve ser ensinado A Resolução N. 02, Conselho Federal de Educação (CFE) de 04 de outubro de 1993, estabelece que os conteúdos adotados como objeto de trabalho para o desenvolvimento das habilidades envolvem matérias de formação básica e instrumental, matérias de formação profissional e tópicos emergentes. A origem e construção do conhecimento administrativo apresenta diferentes vertentes e contribuições. Iniciemos pelos filósofos [ Sócrates (470 ª C. – 399 ªC); Platão (429 ª C. – 347 ªC); Aristótales (384 ªC. –322 ª. C.; Miccolo Machiavelli (1.469 – 1.527); Francis Bacon (1.561-1626); René Descartes (1.596-1650); Thomas Hobbes (1.588-1.679); Jean-Jacques Rousseau (1.712-1.778); Karl Marx (1.818-1.883)]. A influência da organização da Igreja Católica, nos ensina por exemplo que sua organização hierárquica é tão simples e eficiente que sua enorme organização mundial pode operar sob o comando de uma só cabeça executiva: o Papa, cuja autoridade coordenadora lhe foi delegada de forma mediata por uma autoridade divina superior. A influência militar com a colaboração dos conceitos de: unidade de comando, linha, centralização, descentralização, estratégia. Nunca devemos esquecer que as organizações operam numa arena de guerra. Conhecer a vida e a obra de figuras como: [Napoleão Bonaparte (1.769-1.821); Frederico II, o Grande (1.712-1.786); Karl von Clausewitz (1.780-1.831)]. A influência da Revolução Industrial onde foi gestada a Administração na forma como hoje a conhecemos. É impossível apreender e compreender a essência da Administração sem compreender o que representou a Revolução Industrial. A influência dos Economistas Liberais, principalmente de figuras como: [ Adam Smith (1.723 – 1.790) e Joseph Schumpeter (1911)]. A influência dos Pioneiros e Empreendedores nas figuras por exemplo de: [John David Rockefeller (1.839 – 1.937); Adolf von Bayer (1.835 – 1917)]. A influência do eng. Mecânico Frederick Winslow Taylor (1.856-1915), considerado o fundador da Administração Científica e Henri Fayol (1.841 – 1.925). A influência do psicólogo George Elton Mayo (1.880 – 1.949) por ter liderado a Experiência de Hawthorne. A influência do sociólogo Max Weber (1.864 – 1.920) com seus estudos sobre burocracia e tipos de sociedade e autoridade. A influência da matemática com as contribuições, entre outras, da Teoria dos Jogos proposta pelos matemáticos Johann von Neumann (1.903 – 1.957) e Oskar Morgenstern (1.902 – 1.962). A influência da biologia pela notável contribuição do biólogo L. von Bertalanffy, pelas idéias contidas na Teoria Geral dos Sistemas (1.950). Todas essas vertentes, por si só, dispensam enfatizar a importância das matérias de formação básica e instrumental para o Administrador como a Sociologia, Psicologia, Matemática, Informática, Filosofia, Estatística, Economia, Direito e Contabilidade. Infelizmente, não se sabe ainda, se é por desinformação, falta de articulação de conteúdos, baixa aderência de alunos e professores ou despreparo geral. Tais conteúdos em muitas de nossas escolas de Administração são apresentados e desenvolvidos de forma superficial e inconsistente. Temos comentado com diferentes públicos que um dos maiores desafios atuais para o ensino e domínio da ciência administrativa para uma posterior prática correta, é superar a postura de superficialidade com que são tratadas e desenvolvidas as matérias de formação básica e instrumental de nossos cursos de graduação. Entretanto esses desafios, junto com as matérias de formação profissional (Teorias da Administração, Mercadologia, Recursos Humanos, Finanças e Orçamento, Produção e Logística) e Tópicos Emergentes que envolvem hoje temas como: ética, globalização, ecologia e meio ambiente, constituem um cenário promissor de desafios e novas perspectivas. O conjunto de ações e políticas contidas no bojo das Diretrizes Curriculares para o Curso de Administração e sua operacionalização efetiva pelos agentes da educação superior (universidades e faculdades), sinalizam uma visão consistente para as perspectivas e possíveis tendências a seguir prospectadas. III – Perspectivas Seguramente, nos próximos anos, assistiremos o fim da forma organizacional de hoje (a organização burocrática) e veremos o surgimento de novos sistemas mais adequados às demandas da pós-industrialização. Resultado de: a) Mudanças rápidas e inesperadas, principalmente no campo do conhecimento, impondo novas e crescentes necessidades a que as atuais organizações não têm condições de atender. b) Crescimento no tamanho das organizações, que se tornam complexos e internacionais. c) Atividades novas que exigem pessoas de competências diversas, criatividade e altamente especializadas, envolvendo problemas de coordenação e, principalmente, de acompanhamento das rápidas mudanças.