Arquitetura e Comunicação

Propaganda
Fabio Ladeira De Zoppa
Arquitetura e Comunicação:
A influência do espaço físico
na comunicação das empresas
Trabalho de Conclusão de Curso
Universidade de São Paulo
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Relações Públicas,
Propaganda e Turismo
Curso de Relações Públicas
São Paulo, 2005
Fabio Ladeira De Zoppa
Arquitetura e Comunicação:
A influência do espaço físico na comunicação
das empresas
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Departamento de
Relações Públicas, Propaganda e
Turismo da Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo,
como requisito para a obtenção do título
de bacharel em Comunicação Social –
habilitação em Relações Públicas, sob
a orientação do Professor Paulo Nassar.
Universidade de São Paulo
Escola de Comunicações e Artes
São Paulo, 2005
Arquitetura e Comunicação:
A influência do espaço físico na comunicação
das empresas
Data da Apresentação: ______/______/______
Banca Examinadora:
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______________________________________________
Dedico este trabalho à minha família e
amigos, as alegrias da minha vida.
Principalmente a meus pais, que sempre
me ajudaram e incentivaram a concretizar
meus sonhos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que passaram pela minha vida nesses cinco anos de
faculdade e que, mesmo sem saber, me ensinaram mais do que posso dizer
em palavras.
Agradeço aos meus pais por absolutamente tudo. Dos erros e acertos,
tudo me ajudou a ser quem eu sou hoje. Ao meu irmão, que apesar do seu
jeito “ogro” eu posso sempre contar, e toda minha família – incluindo os
agregados.
Aos meus queridos amigos que conheci na ECA e que mudaram minha
forma de encarar a vida. Téo e Conras, meus quistos inesquecíveis. Vivi, minha
leoa, e Jaime, que se tornou essencial para mim este ano.
À Manga Comunicação – nunca um grupo de Projex foi tão entrosado e
se divertiu tanto como nós. Ao Klebs, por sua inteligência e pela ajuda nesse
trabalho, à Veri, pelas risadas e compreensão, à Manu, a companheira perfeita
nas baladas, nos bronzeados no CEPE e na vida, e à Thatá, que mesmo
ausente é tão querida.
Agradeço ao João, pela diagramação, ao Renato, pelas baladas, à minha
prima Marina, pelos livros emprestados, e à Diana, minha gatinha, quem vem
sempre pedir comida quando estou concentrado e está sempre no meu colo
durante minhas leituras. Ao meu professor e orientador Paulo Nassar e à
Agatha, que dividiu momentos de tensão e dúvidas nesse trabalho.
Agradeço a Deus pelas oportunidades e a Saint Germain pela orientação.
E não poderia deixar de agradecer às temporadas de Friends e Sex and the
City, lançadas em DVD, e aos chocolates Hershey’s, que me proporcionaram
momentos de prazer frente às tensões desse trabalho.
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo traçar um paralelo entre a arquitetura e
a comunicação das empresas através da influência do espaço físico no fluxo
de mensagens da organização.
Com a observação de uma empresa real, serão ilustrados alguns
exemplos de como a estrutura física de uma organização interfere neste fluxo.
7
ABSTRACT
This work has as objective to trace a parallel between the architecture
and the communication of the companies through the influence of the physical
space in the flow of messages of the organization.
With the comment of a real company, some examples of how the physical
structure of an organization intervenes in this flow will be illustrated.
8
RESUMEN
Este trabajo tiene como el objetivo remontar un paralelo entre la
arquitectura y la comunicación de las compañías con la influencia del espacio
físico en el flujo de los mensajes de la organización.
Con la observación de una compañía verdadera, serán ilustrados algunos
ejemplos de cómo la estructura física de una organización interferí en este
flujo.
9
Sumário
Resumo ...................................................................................................... 7
Abstract ...................................................................................................... 8
Resumen .................................................................................................... 9
Introdução ............................................................................................... 11
História da Arquitetura............................................................................ 17
Pré-História .......................................................................................................................
Antigüidade .......................................................................................................................
Antigüidade Clássica ..............................................................................................
Idade Média .......................................................................................................................
Idade Moderna ...................................................................................................................
Renascimento .........................................................................................................
Maneirismo .............................................................................................................
Séculos XVII e XVIII .................................................................................................
Arquitetura Barroca .................................................................................................
Arquitetura Neoclássica ..........................................................................................
18
19
20
22
23
24
25
26
27
27
Idade Contemporânea .......................................................................................................
Século XX ................................................................................................................
Frank Lloyd Wright ..................................................................................................
Le Corbusier ............................................................................................................
28
30
32
34
Arquitetura e Comunicação ................................................................... 37
Comunicação e Teoria das Organizações .........................................................................
Administração Científica ou Taylorismo ..................................................................
Escola de Relações Humanas ................................................................................
Arquitetura .........................................................................................................................
Arquitetura Externa .................................................................................................
Arquitetura Interna ...................................................................................................
Fluxos de Comunicação ....................................................................................................
Redes de Comunicação ....................................................................................................
39
40
41
43
43
45
46
49
Grupo Accor ............................................................................................ 52
Grupo Accor ...................................................................................................................... 53
Comunicação Accor ................................................................................................ 55
Arquitetura da Empresa .................................................................................................... 56
Considerações Finais ............................................................................ 59
Bibliografia .............................................................................................. 63
Sites .................................................................................................................................. 66
INTRODUÇÃO
11
Quando pensamos em arquitetura, muitas coisas nos vêm à mente.
Prédios, grandes construções, desenhos minuciosos e complicados.
Pensamos na arquitetura como a arte de criar espaços organizados que
abrigam as diversas atividades humanas. Pensamos nela mais pelo lado
técnico das edificações e construções. Entretanto, a arquitetura engloba muitos
outros aspectos. Ela é, como todas as outras artes, uma forma de expressão
do pensamento humano, transmitindo concepções individuais às pessoas e
inundando suas percepções com diferentes significados.
Segundo Marco Vitrúvio, arquiteto romano de grande influência até os
dias de hoje, a arquitetura é uma ciência ornada por muitos conhecimentos e
saberes variados, e pelos critérios da qual são julgadas todas as demais artes.
Ela não é uma arte restrita apenas a observadores. Todos acabam sendo
influenciados por suas obras, sejam estudiosos ou indivíduos comuns. Como
arte, a arquitetura expressa algo. Mesmo sem intenção, ela reflete significados.
Com isso, por mais despretensiosa que seja, toda obra modifica o contexto
onde se insere.
Não há como questionar a influência da arquitetura na história da
humanidade. Tendo ela como objeto de estudo o que define e modifica o
ambiente do homem, é a atividade que prova como a humanidade conseguiu
e consegue transformar seu ambiente e tudo que está ao seu redor. Pode-se
até afirmar que a arquitetura é o contexto ambiental que apresenta a evidência
e o significado da existência da sociedade.
“A arquitetura abrange o exame de todo o ambiente físico que circunda a vida
humana; não podemos subtrair-nos a ela, até que façamos parte da sociedade
12
urbana, porque a arquitetura é o conjunto das modificações e alterações introduzidas
sobre a superfície terrestre, em vista das necessidades humanas (...)” (Morris;
1947, p. 245).
A arquitetura tem, portanto, essa peculiar característica de ser não só
uma forma de expressão, mas também de satisfazer as necessidades do ser
humano. Seu sentido se modificou durante o tempo. Com a evolução da
humanidade, o sentido arquitetônico, iniciado com a necessidade básica do
abrigo, ganhou o campo social com a intensificação das relações entre as
pessoas.
Através de sua presença na história da humanidade, apresentada no
primeiro capítulo deste trabalho, é possível perceber como a arquitetura é um
reflexo da cultura de cada época, sendo desde a proteção e abrigo individual
– tanto social quanto da natureza – até objeto de desejo.
Essa passagem de abrigo a desejo se dá quando a necessidade de
proteção se torna um símbolo maior, seja de status ou realização pessoal.
Hoje, os espaços – de trabalho, lazer, moradia – se confundem, e já fazem
parte da busca pelo prazer, em qualquer situação humana.
A estética – ou a busca pela beleza – prevalece nessa atividade que
trabalha as formas, acompanhando os diferentes conceitos de beleza
estabelecidos durantes os períodos de nossa história.
Por isso, cabe ao arquiteto estar atento aos questionamentos que levanta
com sua obra – como ela é compreendida e como estabelece seu vínculo
com o contexto onde se insere, sem deixar que sua visão de mundo se torne
predominante em detrimento à significação social.
13
“O arquiteto, ordenando formas, realiza uma ordem que é pura criação de
seu espírito; pelas formas afeta intensamente nossos sentidos, provocando
emoções plásticas; pelas reações que cria, ele desperta em nós ressonâncias
profundas, nos dá a medida de uma ordem do mundo, determina movimentos
diversos de nosso espírito e de nossos sentimentos; é então que sentimos a beleza”
(Corbusier; 2000, p. 3).
A arquitetura comunica, com a intensidade das formas e porte, o que o
produto de sua concepção realiza. Essa comunicação se dá no sentido de
intermediações sociais das mais intrínsecas, que abrangem todas as relações
humanas. Ou seja, o espaço é ponto fundamental para o convívio e definição
social.
A arquitetura invade o contexto das pessoas que por ela são tocadas.
Cada elemento arquitetônico cria uma nova interpretação do espaço, e é
exatamente o espaço que orienta uma estrutura arquitetônica.
A arquitetura tem no espaço um de seus principais elementos, embora
nem sempre ele possa ser definido ou conceituado com facilidade. Por meio
do espaço de uma construção ou obra arquitetônica, podemos extrair muitos
aspectos que nos auxiliam a compreender sua importância e influência em
outras áreas.
É difícil pensarmos em arquitetura sem pensarmos em espaço. Por mais
complicado que seja defini-lo, é fácil entender seu sentido. A missão da
arquitetura é exatamente criar espaços que favoreçam o desenvolvimento ou
controle da existência humana.
De acordo com Michel Foucalt (1987, p. 154), em seu livro Vigiar e Punir:
“[a arquitetura] não é mais feita simplesmente para ser vista, ou para vigiar o
14
espaço exterior, mas para permitir um controle interior, articulado e detalhado –
para tornar visíveis os que nela se encontram; mais geralmente, a de uma arquitetura
que seria um operador para a transformação dos indivíduos: agir sobre aquele que
abriga, dar domínio sobre seu comportamento, reconduzir até eles os efeitos do
poder, oferecê-los a um conhecimento, modificá-los”.
Entretanto, o significado de espaço normalmente está atrelado à sua
praticidade. Este conceito de prática do espaço se apresenta em duas formas:
uma prática física do espaço e uma prática imaginária. O que se estuda
geralmente é a prática física do espaço, o que acaba deixando um pouco de
lado a determinação da prática referente ao imaginário do indivíduo.
“Isso não basta, contudo, pois se o espaço mantém um relacionamento direto
com o corpo do indivíduo adquirindo em consciência uma significação precisa, ele
alimenta igualmente uma relação não menos direta com o imaginário desse indivíduo
(...)” (Netto; 2002, p.118).
A determinação da prática do imaginário, devido a toda sua semântica,
tem uma detecção e compreensão mais trabalhosa do que a prática física do
espaço. Ela envolve o nosso contato com o mundo das coisas que nos cercam
e nossa maneira de captar, sentir, perceber e entender os estímulos presentes
no ambiente.
O meio pelo qual recebemos esses estímulos do ambiente pode ser
chamado de comunicação, que se dá ou porque as coisas simplesmente
existem no ambiente ou porque há intenção de comunicar o ambiente pelas
coisas.
Estamos sujeitos a essa comunicação do ambiente, influenciados não
só pela estrutura física, mas por tudo que nela se insere e por todas as
subjetividades que ela apresenta.
15
Chegamos então ao ponto central deste trabalho, onde o paralelo entre
a arquitetura e a comunicação se faz mais evidente. O ambiente comunica,
tanto com seu espaço exterior quanto com seu espaço interior.
Internamente, o fluxo de mensagens de um ambiente sofre diversas
interferências. Uma dessas interferências é sua estrutura física – em outra
palavra, sua arquitetura.
Este trabalho tem como objetivo mostrar algumas dessas interferências
e como a estrutura física do ambiente de trabalho, isto é, o layout da empresa,
influencia na sua comunicação.
16
HISTÓRIA DA ARQUITETURA
17
A História da Arquitetura é, na verdade, uma subdivisão da História da
Arte responsável pelo estudo da evolução histórica da arquitetura em si, seus
princípios, idéias e realizações. Esta área de estudo, como qualquer outra
forma de conhecimento histórico, está sujeita às limitações e potencialidades
da história como ciência, visto que existiram diversas perspectivas em relação
ao estudo da arquitetura, e grande parte delas eram visões ocidentais.
Na maioria dos estudos, os períodos estudados pela História da
Arquitetura correm paralelos aos da História da Arte, embora existam
momentos em que as estéticas se sobreponham ou se confundem. Algumas
vezes, por exemplo, uma estética que é considerada vanguarda nas artes
plásticas ainda não encontrou sua representação na arquitetura, e vice-versa.
As primeiras grandes obras de arquitetura remontam ao período da
Antigüidade, por volta de 3500 a.C, mas é já possível observar as origens do
pensamento arquitetônico em períodos pré-históricos, quando foram erigidas
as primeiras construções humanas.
Pré-História
Durante a pré-história, período que antecede a 3500 a.C, o ambiente
construído pelas sociedades primitivas não passava de uma modificação
superficial do ambiente natural. As construções predominantes estavam
associadas à idéia de abrigo, que eram na verdade uma cavidade natural ou
refúgio de peles sobre uma estrutura simples de madeira. O abrigo era o
elemento principal da organização espacial de diversos povos, servindo como
ponto de partida para o seu desenvolvimento.
18
“O ambiente das sociedades neolíticas não é apenas um abrigo na natureza,
mas um fragmento de natureza transformado segundo um projeto humano:
compreende os terrenos cultivados para produzir, e não apenas para apropriar do
alimento; os abrigos dos homens e dos animais domésticos; os depósitos de
alimento produzido para uma estação inteira ou para um período mais longo; os
utensílios para o cultivo, a criação, a defesa, a ornamentação e o culto” (Benevolo;
1999, p.16).
Este tipo de construção ainda pode ser observado em sociedades não
totalmente integradas à civilização ocidental, como os povos ameríndios,
africanos, aborígines, entre outros. A presença do abrigo no inconsciente
coletivo destes povos é tão forte que ela marcará a cultura de diversas
sociedades posteriores.
Antigüidade
À medida que as comunidades humanas evoluíam e aumentavam,
acometidas pelas ameaças de guerras constantes, a primeira modalidade
de construções a se desenvolver foi essencialmente a militar. Nesse período
surgiram as primeiras cidades e sua configuração estava ligada à existência
de muralhas e proteção a ameaças externas, que, pela primeira vez, excluem
o ambiente aberto natural do ambiente fechado das cidades. As cidades não
eram apenas aldeias maiores, e sim motores de rápidas transformações e
mudanças da composição e das atividades da sociedade. Um exemplo são
as cidades de Babilônia e Nínive, situadas na Mesopotâmia, que foram as
primeiras grandes metrópoles da civilização, por volta de 2000 a.C, e que
durante muito tempo permaneceram como símbolos de toda grande
concentração humana.
19
Outro tipo de edificações bastante desenvolvidas foram as construções
religiosas. A humanidade confrontava-se com um mundo povoado de deuses
e seres mitológicos. O modo como os indivíduos lidavam com a transformação
de seu ambiente imediato era então bastante influenciado pelas suas crenças.
Muitos aspectos da vida cotidiana estavam baseados no respeito ou na
adoração ao divino e ao sobrenatural, fazendo com que os principais edifícios
das cidades fossem os palácios e os templos.
No Antigo Egito, por exemplo, os monumentos religiosos eram dispostos
como uma cidade independente, construída de pedra, que se assemelhava,
pela grandeza, com os elementos da paisagem natural.
Esta importância do aspecto religioso fazia com que a figura do arquiteto
estivesse associada aos sacerdotes ou aos próprios governantes. A execução
dos edifícios era acompanhada por diversos rituais que simbolizavam o contato
do homem com o divino.
Se as cidades marcaram uma interrupção da natureza selvagem,
consideradas o espaço sagrado em meio ao natural, os templos dentro das
cidades marcaram a morada dos deuses em meio ao ambiente humano.
Antigüidade Clássica
O período chamado de Antigüidade Clássica engloba as civilizações
gregas e romanas no período de 800 a.C a 476 d.C. A Arquitetura e o
Urbanismo dos gregos e romanos destacavam-se bastante dos egípcios e
babilônios, na medida em que a vida cívica passava a ganhar importância.
A cidade torna-se o elemento principal da vida política e social destes
20
povos: os gregos desenvolveram-se em cidades-estado e o Império Romano
surgiu de uma única cidade. Durante os períodos e civilizações anteriores, os
assuntos religiosos eram o motivo e a manutenção da ordem estabelecida.
No período greco-romano, o mistério religioso ultrapassou os limites do templopalácio e tornou-se assunto dos cidadãos, ou da polis. Enquanto os povos
anteriores desenvolveram apenas as arquiteturas militar, religiosa e residencial,
os gregos e romanos foram responsáveis pelo desenvolvimento de espaços
próprios à manifestação da cidadania e dos afazeres cotidianos.
A ágora grega definia-se como um grande espaço livre público destinado
à realização de assembléias, rodeada por templos, mercados e edifícios
públicos. O espaço da ágora tornara-se um símbolo da nova visão de mundo
que incluía o respeito aos interesses comuns e incentivador do debate entre
cidadãos, ao invés da antiga ordem despótica.
Os assuntos religiosos, contudo, ainda possuíam um papel fundamental
na vida da população, mas agora foram incorporados aos espaços públicos
da pólis. Os rituais populares tomavam lugar em espaços construídos para
tal, como a acrópole. Cada lugar possuía sua própria natureza, inseridos em
um mundo que convivia com o mito. Os templos passaram a ser construídos
no topo das colinas, criando um marco visual na cidade baixa e possibilitando
um refúgio à população em tempos de guerra.
“Assim, a presença do homem na natureza torna-se evidente pela qualidade,
não pela quantidade; o cenário urbano – como o organismo político da cidadeestado – permanece uma construção na medida do homem, circundada e dominada
pelos elementos da natureza não mensurável” (Benevolo; 1999, p. 89).
21
Idade Média
O período medieval iniciou-se com a queda do Império Romano do
Ocidente, em 476 d.C. Dois fatores são marcantes na produção arquitetônica
desta época. O primeiro foi a diminuição da vida nas cidades e a dispersão
de seus habitantes para o campo. Nessa sociedade rural, que forma a base
da organização política feudal, as cidades não funcionam mais como centros
administrativos, e sim como centros de produção e troca. O segundo fator foi
a ascensão da Igreja Católica. À medida que o poder do Clero crescia, a
Igreja passou a deter o capital necessário ao desenvolvimento das grandes
obras arquitetônicas. A tecnologia do período desenvolveu-se principalmente
na construção de igrejas, abadias e catedrais.
Durante praticamente todo o período medieval, a figura do arquiteto
como sendo o criador do espaço arquitetônico e da construção não existe. A
construção das catedrais, principal esforço construtivo da época, é
acompanhada por toda a população e insere-se na vida da comunidade. O
conhecimento construtivo é guardado pelas corporações, as quais reuniam
dezenas de mestres-obreiros – os arquitetos de fato – que conduziam a
execução das obras e as elaboravam.
No final do século X, com o renascimento econômico da Europa e o
aumento da população, as cidades voltam a se desenvolver. As novas cidades
crescem sobre o traçado das antigas, mas com caráter social e organização
de construção diferente.
Nesse período, a Cristandade definiu uma visão de mundo nova, que
não só submetia a vontade humana aos desígnios divinos como esperava
22
que o indivíduo buscasse o divino. Em um primeiro momento, e devido às
limitações técnicas, a concepção do espaço arquitetônico dos templos voltase ao centro.
“A unidade era garantida pela coerência do estilo, isto é, pela confiança no
futuro, não pela memória do passado. O gótico é justamente o estilo internacional
que unifica os métodos de construção e acabamento dos edifícios em toda a Europa,
da metade do século XII em diante” (Benévolo; 1999, p.270).
Idade Moderna
Com o fim da Idade Média, em 1453 d.C, a estrutura de poder européia
modificou-se radicalmente. Começam a surgir os estados-nacionais e, apesar
da ainda forte influência da Igreja Católica, o seu poder entra em declínio,
principalmente com as crises decorrentes da Reforma Protestante.
O Renascimento abriu a Idade Moderna rejeitando a estética e cultura
medievais e propondo uma nova posição do homem perante o Universo.
Antigos tratados arquitetônicos romanos são redescobertos pelos novos
arquitetos, influenciando profundamente a nova arquitetura. A relativa liberdade
de pesquisa científica que foi conquistada permitiu avanço nas técnicas
construtivas, criando novas experiências e a concepção de novos espaços.
“Desse modo, a arquitetura muda de significado: adquire um rigor intelectual
e uma dignidade cultural que a distinguem do trabalho mecânico, e a tornam
semelhante às artes liberais: a ciência e a literatura” (Benevolo; 1999, p. 403).
Algumas regiões italianas, e Florença em especial, devido ao controle
das rotas comerciais que levam à Constantinopla, tornam-se as grandes
potências mundiais e é nelas que se desenvolvem as condições para o
23
desenvolvimento das artes e das ciências.
Renascimento
Nos primeiros decênios do século XV, alguns artistas – arquitetos,
escultores e pintores – descobrem uma nova maneira de projetar os edifícios,
de pintar e de esculpir, que muda a natureza do trabalho artístico e suas relações
com as outras atividades humanas. Essa mudança foi chamada de
Renascimento.
O espírito renascentista evoca as qualidades intrínsecas existentes no
ser humano. Os progressos científico, espiritual, e social do homem tornamse um objetivo importante para o período. O Classicismo, redescoberto, e o
Humanismo surgem como guia para a nova visão de mundo que se manifesta
nos artistas do período.
A cultura renascentista mostra-se multidisciplinar e interdisciplinar. O que
importa ao homem renascentista é o culto ao conhecimento e à razão, não
havendo separação entre as ciências e as artes. Tal cultura mostrou-se um
campo fértil para o desenvolvimento da arquitetura, uma matéria que da mesma
forma não vê limite entre as duas áreas.
A arquitetura renascentista mostrou-se clássica, mas não pretendia ser
neoclássica. Com a descoberta de antigos tratados da arquitetura clássica,
deu-se margem a uma nova interpretação daquela arquitetura e sua aplicação
aos novos tempos. Conhecimentos obtidos durante o período medieval, como
o controle das diferentes cúpulas e arcadas, foram aplicados de uma nova
forma, incorporando os elementos da linguagem clássica.
24
A descoberta da perspectiva – arte de representar os objetos sobre um
plano como se apresentam à vista – é um aspecto importante para se entender
o período. A idéia de infinito trazida pela manipulação do ponto de fuga – o
ponto de convergência das linhas paralelas numa perspectiva cônica – foi
bastante utilizada como elemento cênico na concepção espacial dos arquitetos
da época.
A perspectiva representou uma nova forma de entender o espaço como
algo universal, compreensível e controlável através da razão do homem. O
desenho tornou-se o principal meio de projeção, assim como surge uma nova
figura do arquiteto, diferente da concepção coletiva dos edifícios medievais.
Os novos meios de concepção do projeto influenciaram a concepção espacial
dos edifícios. O poder da perspectiva de representar universalmente a
realidade não se limitou a apenas descrever a experiência, mas também a
antecipá-la projetando a imagem de volta à realidade.
Maneirismo
Com o desenrolar do Renascimento e o constante estudo e aplicação
dos ideais clássicos, começa a surgir entre os artistas do período um certo
sentimento anticlássico, ainda que suas obras continuassem, em essência,
predominantemente clássicas. Neste momento, surge o chamando
maneirismo, que se desenvolveu no ano de 1520 até por volta de 1610 d.C.
O maneirismo foi um movimento com evidente tendência para a
estilização exagerada e um capricho nos detalhes, extrapolando assim as
rígidas linhas clássicas. Os arquitetos maneiristas, que rigorosamente podem
continuar sendo chamados de renascentistas, apropriam-se das formas
25
clássicas, mas começam a desconstruir seus ideais. Como exemplo de
maneirismo podemos citar a construção de colunas. As normas clássicas
pregam que as colunas de um edifício não podem ter altura maior do que um
andar. Os maneiristas construíram edifícios nos quais as colunas constituem
um jogo de verticais, ultrapassando as alturas clássicas, mas mantendo seus
detalhes.
Séculos XVII e XVIII
Os séculos seguintes ao Renascimento assistiram a um processo cíclico
de constante afastamento e reaproximação do ideário clássico.
“(...) a arte perde seu caráter de método unitário para conhecer e controlar o
ambiente físico; a verdade das coisas não coincide mais com a beleza das coisas,
mas pode ser afirmada com os métodos objetivos da pesquisa científica. A arte
torna-se, assim, o estudo das qualidades não-objetivas, mas subjetivas e
sentimentais; serve para controlar os sentimentos coletivos, ou para exprimir os
sentimentos individuais, e oscila entre o conformismo e a evasão ou o protesto”
(Benevolo; 1999, p.503).
Dois estilos, o Barroco e o Neoclássico, marcam este período. O Barroco,
em um primeiro momento, potencializa o descontentamento do Maneirismo
pelas normas clássicas e propicia a gênese de um tipo de arquitetura inédita,
ainda que freqüentemente possua ligações formais com o passado. Da mesma
forma que o barroco representou uma reação ao Renascimento, o
Neoclassicismo, mais tarde, constituirá uma reação ao barroco e uma forte
tendência à recuperação do clássico. Este período de dois séculos, portanto,
será marcado por um ciclo de dúvidas e certezas a respeito da validade das
idéias clássicas.
26
Arquitetura Barroca
O Barroco surge no cenário artístico europeu em dois contextos bem
claros durante o século XVII. Primeiramente havia a sensação de que, com o
avanço científico representado pelo Renascimento, o Classicismo, ainda que
tivesse servido de alavanca para este progresso, não tinha mais condições
de oferecer todas as respostas necessárias às dúvidas do homem. A visão
do Universo não era mais a mesma, o mundo havia se expandido e o indivíduo
precisava experimentar um novo tipo de contato com o divino e o metafísico.
As formas luxuriantes do barroco, seu espaço elíptico foram uma resposta a
estas necessidades.
O segundo contexto é o da Contra-Reforma promovida pela Igreja
Católica. Com o avanço das igrejas protestantes, a antiga ordem romana cristã
estava sendo suplantada por novas visões de mundo e novas atitudes perante
o Sagrado. A Igreja sentiu a necessidade de renovar-se para não perder os
fiéis, e viu na promoção de uma nova estética a chance de identificar-se neste
novo mundo. As formas do barroco foram promovidas pela instituição em todo
o mundo, especialmente nas colônias recém-descobertas, tornando-o o estilo
católico, por excelência.
Arquitetura Neoclássica
No fim do século XVIII e início do XIX, a Europa assistiu a um grande
avanço tecnológico, resultado direto dos primeiros momentos da Revolução
Industrial e da cultura iluminista. Foram descobertas novas possibilidades
construtivas e estruturais, de forma que os antigos materiais, como a pedra e
a madeira, passaram a ser substituídos gradativamente pelo concreto e pelo
27
metal.
Paralelamente, influenciados pelo contexto cultural do Iluminismo europeu,
os arquitetos do século XVIII passaram a rejeitar a religiosidade intensa da
estética anterior e o exagero do barroco. Buscava-se uma síntese espacial e
formal mais racional e objetiva, mas ainda não se tinha uma idéia clara de
como aplicar as novas tecnologias em uma nova arquitetura. Inseridos no
contexto do Neoclassicismo nas artes, aqueles arquitetos viram na arquitetura
clássica a forma ideal para os novos tempos.
Com o Neoclassicismo não se pretendeu, na verdade, um estilo novo,
diferentemente da arte clássica renascentista. Ocorria muito mais uma cópia
do repertório formal clássico e menos uma experimentação desta forma, tendo
como diferença a aplicação das novas tecnologias.
Idade Contemporânea
A arquitetura que surge com a Idade Contemporânea irá refletir os
avanços tecnológicos e os paradoxos sócio-culturais representados pelo
advento da Revolução Industrial. As cidades passam a crescer de modo inédito
e novas demandas sociais relativas ao controle do espaço urbano devem ser
respondidas pelo Estado, o que acabará levando ao surgimento do urbanismo
como disciplina acadêmica. O papel do arquiteto e da arquitetura será
constantemente questionado com o surgimento de novos paradigmas.
“A arquitetura moderna nasce das modificações técnicas, sociais e culturais
relacionadas com a Revolução Industrial; portanto, se se pretende falar dos
componentes singulares, que depois irão confluir em uma síntese unitária, pode-se
28
dizer que a arquitetura moderna começa logo que se delineiam as conseqüências
para a edificação e urbanização da revolução industrial (...). Em um primeiro
momento, estes componentes estão contidos em diversos setores da vida social
e não se pode fazer uma ligação entre eles se se permanece dentro dos termos da
cultura da época; descobre-se sua unidade de tendência quando se considera aquilo
que acontece mais tarde”. (Benevolo; 1976, p. 13).
Todo o século XIX assistiu a uma série de crises estéticas que se
traduzem nos movimentos chamados revivalistas. Os arquitetos do período
viam na cópia da arquitetura do passado e no estudo de seus cânones e
tratados uma linguagem estética legítima de ser trabalhada, pelo fato das
inovações tecnológicas não encontrarem naquela contemporaneidade uma
manifestação formal adequada e por diversas razões culturais e contextos
específicos. O primeiro destes movimentos foi o Neoclássico, mas ele também
vai se manifestar na arquitetura neogótica inglesa, profundamente associada
aos ideais românticos nacionalistas. Os esforços revivalistas que aconteceram
principalmente na Alemanha, França e Inglaterra por razões especialmente
ideológicas, viriam mais tarde a se transformar em um mero conjunto de
repertórios formais e tipológicos diversos, que evoluiriam para o Ecletismo,
considerado por muitos como o mais decadente e formalista entre todos os
estilos históricos.
O Ecletismo reunia aspectos de estilos do passado, principalmente
aqueles que tinham uma finalidade decorativa. Assim, alguns arquitetos
mantiveram, em um mesmo edifício, elementos grego-romanos, góticos,
renascentistas e mouriscos.
A primeira tentativa de resposta à questão tradição versus
industrialização, ou entre as artes e os ofícios, se deu pelo pensamento dos
29
românticos John Ruskin e William Morris, proponentes de um movimento
estético que ficou conhecido justamente por Arts & Crafts. O movimento propõe
a pesquisa formal aplicada às novas possibilidades industriais, vendo no
artesão uma figura de destaque. Para eles, o artesão não deveria ser extinto
com a indústria, mas tornar-se seu agente transformador, seu principal elemento
de produção. Com a diluição dos seus ideais e a dispersão de seus
defensores, as idéias do movimento evoluíram, no contexto francês, para a
estética do art noveau, considerado o último estilo do século XIX e o primeiro
do século XX.
Século XX
Logo nas primeiras décadas do século XX tornou-se muito clara uma
distinção entre os arquitetos que estavam mais próximos das vanguardas
artísticas em curso na Europa e aqueles que praticavam uma arquitetura ligada
à tradição. Ainda que estas duas correntes estivessem, em um primeiro
momento, cheias de nuanças e meios-termos, com a atividade “revolucionária”
proposta por determinados artistas, e principalmente com a atuação dos
arquitetos ligados à fundação da Bauhaus na Alemanha, com a Vanguarda
Russa na União Soviética e com o novo pensamento arquitetônico proposto
por Frank Lloyd Wright nos Estados Unidos, a cisão entre elas fica bastante
nítida e o debate arquitetônico se transforma, de fato, em um cenário povoado
de partidos e movimentos caracterizados como tal.
A renovação estética proposta pelas vanguardas – especialmente pelo
Cubismo, Neoplasticismo, Construtivismo e pela Abstração – no campo das
artes plásticas abre o caminho para uma aceitação mais natural das propostas
30
dos novos pensamentos arquitetônicos, baseados na crença em uma
sociedade regulada pela Indústria, na qual a máquina surge como um elemento
absolutamente integrado à vida humana – como podemos ver nas obras do
arquiteto Le Corbusier – e no qual a Natureza está não só dominada como
também se propõem novas realidades diversas da natural – como é observado
nos projetos de Frank Lloyd Wright.
De uma forma geral, as novas teorias que se discutem a respeito da
Arte e do papel do artista vêem na Indústria, e na sociedade industrial como
um todo, a manifestação máxima de todo o trabalho artístico: artificial, racional,
preciso e moderno. A idéia de modernidade surge como um ideário ligado a
uma nova sociedade, composta por indivíduos formados por um novo tipo de
educação estética, gozando de novas relações sociais, na qual as
desigualdades foram superadas pela neutralidade da razão. Este conjunto de
idéias vê na arquitetura a síntese de todas as artes, visto que é ela quem
define e dá lugar aos acontecimentos da vida cotidiana.
Sendo assim, o campo da arquitetura abarca todo o ambiente habitável,
desde os utensílios de uso doméstico até toda a cidade. Para a arte moderna,
não existe mais a questão artes aplicadas versus artes maiores. Todas elas
estão integradas em um mesmo ambiente de vida.
A arquitetura moderna será, portanto, caracterizada por um forte discurso
social e estético de renovação do ambiente de vida do homem contemporâneo.
Este ideário é formalizado com a fundação e evolução da escola alemã
Bauhaus: dela saem os principais nomes desta arquitetura. A busca de uma
nova sociedade, naturalmente moderna, era entendida como universal. Desta
31
maneira, a arquitetura influenciada pela Bauhaus se caracterizou como um
algo considerado internacional.
“Seu escopo específico era concretizar uma arquitetura moderna que, como
a natureza humana, abrangesse a vida em sua totalidade. Seu trabalho se
concentrava principalmente naquilo que hoje se tornou uma tarefa de necessidade
imperativa, ou seja, impedir a escravização do homem pela máquina, preservando
da anarquia mecânica o produto de massa e o lar, insuflando-lhes novamente sentido
prático e vida. (...) O que a Bauhaus propôs, na prática, foi uma comunidade de
todas as formas de trabalho criativo, e em sua lógica, interdependência de um para
com o outro no mundo moderno” (Gropius; 1997, p. 30 e 32).
Dois arquitetos extremamente influentes neste período foram os já citados
Frank Lloyd Wright e Le Corbusier. Wright, com suas edificações complexas
e ricas de possibilidades em harmonia com a natureza, e Corbusier, com sua
nova forma de enxergar a forma arquitetônica baseada nas necessidades
humanas, revolucionaram, juntamente com a atuação da Bauhaus, a cultura
arquitetônica do mundo inteiro.
Frank Lloyd Wright
O norte-americano Frank Lloyd Wright é considerado um dos maiores
arquitetos de todos os tempos, projetando mais de mil edifícios durantes seus
92 anos de existência. O uso pioneiro que fazia dos espaços habitacionais
em plano aberto, sua preocupação com a expressão verdadeira dos materiais,
seu interesse pela tecnologia e seu respeito pela natureza permitiram-lhe
antecipar quase todos os temas-chave que dominaram a arquitetura no século
XX.
A natureza é o principal tema do pensamento de Wright, sempre
32
retomado em seus projetos – em motivos decorativos como vitrais, mobiliário
e acessórios, assim como em sua preocupação geral em situar seus prédios
em harmonia com o ambiente natural.
Wright procurou criar uma nova e autêntica arquitetura norte-americana.
Rejeitando o estilo das belas artes clássicas da época, ficou conhecido por
seu Prairie Style, estilo que se refere às pradarias do meio-oeste americano,
onde Wright nasceu e cuja horizontalidade exerceu grande influência em sua
obra. As vigorosas linhas horizontais em estilo prairie de suas construções
deram lugar a algo que era ao mesmo tempo mais suave e mais orgânico.
Em busca do que denominava a “destruição da caixa”, ou seja, a
substituição do projeto em forma de caixa da maioria dos edifícios do século
XIX por uma organização mais fluente do espaço, Wright fez com que os
espaços internos de seus projetos se comunicassem de forma infinitamente
mais espontânea.
Projetou, entre 1934 e 1937, a Fallingwater, uma casa de verão à beira
d’água na Pensilvânia. Ela representa o ápice da proposta de Wright de casar
arquitetura e natureza, com o intuito de aproximar o homem de uma
compreensão espiritual do mundo.
Outra obra de Wright foi o edifício da bem-sucedida Johnson Wax
Company, entre 1936 e 1950, que consistia em um novo prédio administrativo
e novos laboratórios para a empresa. O complexo foi construído em duas
etapas, primeiro o núcleo administrativo, depois a torre de 14 andares dos
laboratórios. Rigorosamente distintos um do outro, os dois prédios formam
uma composição extraordinária, ambos jogando com idéias de transparência.
33
Seu mais recente e famoso projeto, o Guggenheim Museum em Nova
York, subverteu as formas convencionais, como quase todos os outros edifícios
que projetou. No lugar de galerias retangulares empilhadas umas sobre as
outras, Wright criou um edifício surpreendentemente abstrato. O prédio tem
em seu centro um forte elemento geométrico, uma rampa espiralada que forma
o principal espaço expositivo.
Muitas de suas edificações apresentam falhas estruturais, mas o
importante foi a sua visão de arquiteto como, por exemplo, romper o rígido
estilo do século XIX, concebido a partir de um volume como uma caixa, e
demonstrar que as edificações podem ser muito mais complexas e fluentes,
muito mais ricas de possibilidades, muito mais harmônicas em relação à
natureza. Com seu estilo pessoal e sua irreverência diante das convenções
sociais, Wright antecipou o comportamento desassombrado que é esperado
dos arquitetos.
Le Corbusier
Le Corbusier é o mais reverenciado e criticado dos arquitetos do século
XX. A beleza e a amplitude de seu trabalho – da arquitetura ao design de
móveis, do planejamento de cidades à pintura – lhe garantem um lugar de
destaque. Para muitos, ele é o maior dos arquitetos. Para outros, sua visão
totalizante do design é uma megalomania estilística.
Para Corbusier, o século XX é a era da máquina, baseada na tecnologia
da engenharia e na produção em massa Uma era de internacionalismo,
comunicação de massa, democracia e ciência. Entretanto, em vez de avançar
com essas mudanças e interagir com elas, a arquitetura ficou parada no século
34
XIX, preocupando-se apenas em discutir qual estilo histórico seria mais
interessante retomar.
Assim sendo, a missão de Corbusier seria arrancar a arquitetura de seu
impasse estilístico, substituindo-o por um movimento cujas formas fossem tão
modernas e revolucionárias quanto o novo século. Corbusier não era o único
a desejar criar uma nova arquitetura. Suas idéias faziam parte do movimento
modernista e sua obra era contemporânea a de outros grandes artistas.
Corbusier buscava nos produtos e métodos do engenheiro a inspiração
para as formas que a nova arquitetura deveria assumir. Naquilo que chamava
“a estética do engenheiro”, ele via uma simplicidade e padronização de formas,
assim como um método lógico de design, que buscava a funcionalidade e
não o estilo, o que, em sua concepção, constituiria uma nova forma de pensar
a arquitetura. Mas ele também insistia na necessidade de combinar a estética
do engenheiro com os princípios fundamentais da arquitetura, que não tinham
nada a ver com o estilo. Eram os valores permanentes e atemporais que
servem de base a toda boa arquitetura: volume, superfície e plano.
Para Corbusier, só o casamento do absolutamente moderno com os
valores antigos e tradicionais poderia levar a uma revolução permanente no
design e à gênese de uma nova arquitetura.
O surgimento de Corbusier como um arquiteto moderno pode ser situado
no começo da década de 1920, com a publicação do livro Por uma Arquitetura
em 1923. O processo pelo qual ele finalmente se encontrou em condições de
compreender a necessidade de uma nova arquitetura e de antecipar a sua
forma foi gradual.
35
Em Por uma Arquitetura Corbusier escreve que a vida moderna exige e
espera um novo tipo de planta, tanto de casa quanto de cidade. Por meio do
purismo, a arquitetura poderia pôr-se em sintonia com a vida moderna.
Segundo ele, o purismo iria atender às necessidades da vida moderna. Ele
oferecia os meios para reformar a arquitetura do ponto de vista espacial e
visual, e haveria de constituir o ponto de partida teórico de toda a arquitetura
posterior ao seu trabalho. O purismo reflete a combinação que ele buscava
entre princípios de engenharia e princípios arquitetônicos, entre os conceitos
de modernidade e de tradição, categorias que ele se deparou em seu processo
de formação autodidata.
Corbusier buscava superar o caos da arquitetura contemporânea. O
objetivo final era fazer que o homem, a máquina e a natureza coexistissem em
estado de equilíbrio. O resultado foi o que poderia ser definido como o
“classicismo da era da máquina”.
36
ARQUITETURA E COMUNICAÇÃO
37
Como já pudemos observar nos capítulos anteriores, a comunicação
sempre esteve implícita na arquitetura.
“Como meio de comunicação, a arquitetura está presente no cotidiano dos
indivíduos como uma forma mediadora da ação e da compreensão” (Martino &
Nassar; 2002, p.126).
Mais do que isso, a arquitetura nos comunica as visões de uma época,
nos ilustra o progresso técnico e sua repercussão na humanidade. Através da
arquitetura é possível traçarmos uma análise das relações do homem com os
diversos espaços físicos que ele está inserido, entre elas a relação do homem
com a sua empresa.
Essa relação entre o homem e empresa vendo sendo modificada através
do tempo, principalmente com as mudanças ocorridas durante o século XX.
Neste período, as tecnologias desenvolvidas geraram uma nova concepção
de espaço, e com isso novos sistemas de percepções da sociedade. A
imagem da empresa foi alterada junto com essas mudanças, bem como sua
forma de compreensão.
“As diferentes formas de compreensão da organização objetivam-se em
diferentes formas de organização espacial do ambiente de trabalho e, por sua vez,
da arquitetura dos ambientes” (Martino & Nassar; 2002, p. 130).
A arquitetura das organizações pode ser vista de duas maneiras:
externamente, como demonstração da atual etapa econômica, financeira ou
cultural da sociedade e da própria empresa; e internamente, estabelecendo
os tipos de comportamento e atuação dos indivíduos que ali trabalham.
A disposição do espaço físico da empresa cria, portanto, uma percepção
38
social entre os funcionários, influenciando em suas relações. Entretanto, o
conhecimento das práticas organizacionais mostra a arquitetura como uma
variável de pouca importância na constituição das relações dentro da empresa.
“Essa desvalorização vem justamente de sua proximidade cotidiana – é difícil
analisar os elementos da configuração do dia-a-dia, sobretudo por sua intrínseca
relação com nossos esquemas já formados de percepção do mundo. Em outras
palavras, o cotidiano torna-se invisível por sua proximidade, assim como a totalidade
de relações sociais existentes no processo de produção. O espaço real, bem como
o espaço social, não são fortuitos, e nas suas especificidades estão as
possibilidades limitadas de comportamento diante deles” (Martino & Nassar; 2002,
p.133).
Assim sendo, é necessário traçar um paralelo entre a arquitetura e a
comunicação através desses elementos intrínsecos no cotidiano das
empresas. Elementos que são de fundamental importância para o
entendimento da influência do ambiente físico na comunicação das empresas.
Um desses elementos é a linha administrativa que a organização segue.
A Teoria Geral das Organizações, campo que estuda a história e a evolução
dos modelos administrativos, nos revela elementos que podem nos levar a
compreensão das relações entre arquitetura e comunicação.
Comunicação e Teoria das Organizações
Os estudos voltados para a administração das organizações nos ajudam
a compreender melhor os processos de comunicação das empresas. Baseado
nesses estudos, podemos traçar um perfil da constituição de seu ambiente
físico – sua arquitetura – através da observação da linha administrativa que a
39
empresa segue.
Apesar de existirem diversas teorias organizacionais onde podemos
verificar a influência da estrutura física da empresa na sua comunicação, iremos
nos ater, neste trabalho, apenas no modelo da Escola de Administração
Científica, desenvolvido por Taylor, e no modelo da Escola de Relações
Humanas. Como esses dois modelos têm fundamentos bem diferenciados, é
possível evidenciar as características de cada arquitetura com mais clareza.
Antes de abordarmos o reflexo dessas teorias no ambiente físico das
organizações, daremos um breve panorama dos aspectos comunicacionais
desses dois modelos.
Administração Científica ou Taylorismo
Essa teoria da administração tem como seu principal teórico o
engenheiro norte-americano Frederick Winslow Taylor. Ela nasce a partir da
necessidade de superar algumas contradições geradas pelo advento da
Revolução Industrial. Neste momento, há um grande aumento na produção e
na complexidade do funcionamento das empresas com a rápida substituição
das pequenas manufaturas artesanais por verdadeiros conglomerados
industriais. Essa mudança resultou em diversos problemas relacionados à
organização do trabalho, e o estudo de Taylor foi uma resposta a este quadro.
Taylor desenvolveu sua visão organizacional sobre três pilares. O primeiro
é a estrutura piramidal, onde o poder está centralizado e ocupa o topo da
pirâmide, tendo os comandos e ordens emanados de acordo com o
posicionamento no organograma. O segundo pilar é a divisão do trabalho,
40
que organiza e especializa as inúmeras funções organizacionais. O terceiro
pilar é a autoridade dos quadros, onde a autoridade de um cargo tem como
base sua posição no organograma e sua competência técnica.
Na visão de Taylor, o trabalho deve ser dividido em tarefas, que devem
ter os seus tempos cientificamente medidos e seus movimentos estudados
com o objetivo de se chegar a uma produtividade máxima. O estimulo ao
trabalhador vem do seu desempenho na produção, sendo melhor remunerado
quem produz uma maior quantidade dentro do tempo estabelecido para as
tarefas.
A teoria de Taylor vê a organização isolada do ambiente em que ela se
insere. Os fatores externos ao trabalho devem ser relevados pelos
administradores.
O processo de comunicação na empresa regida pelas teorias de Taylor
tem como emissor a alta direção da organização. O sentido do fluxo de
informações é apenas descendente: do topo para a base da pirâmide
organizacional.
“A informação que desce o organograma vai sendo parcialmente filtrada em
cada nível hierárquico. O processo de comunicação voltado ao operário, aos
trabalhadores, é visto como algo secundário e restrito à simples difusão vertical de
informação” (Nassar; 2000, p.73).
Segundo Nassar (2000, p. 71), os princípios da comunicação no modelo
taylorista consistem em: desenvolver uma verdadeira ciência do trabalho;
promover uma seleção científica dos trabalhadores; promover a educação
científica e o desenvolvimento do trabalhador; e promover a cooperação
41
harmoniosa entre a Administração e os trabalhadores.
Escola de Relações Humanas
A teoria das Relações Humanas surgiu nos Estados Unidos através do
estudo de George Elton Mayo, baseado em experiências na fábrica Hawthorne,
da Western Electric, em Chicago. Esta teoria inclui novas variáveis ao estudo
da administração, tais como liderança, motivação, grupos informais, etc. Ela
surge da necessidade de se acabar com a desumanização, mecanicismos e
hierarquizações das Teorias Clássicas da Administração, como a
Administração Científica de Taylor. Neste período, por volta da década de 20,
as ciências humanas eram algo crescente e tinham na Sociologia e na
Psicologia os seus maiores expoentes. Como ambas têm como foco de estudo
o homem, não foi difícil ver os influentes intelectuais da época tentarem aplicar
seus preceitos e estudos na organização industrial.
Dessa forma, o homem passa a ser entendido como um ser social, que
possui necessidades básicas que deseja satisfazer e que não se resumem
apenas em ganhos financeiros.
Ao contrário da teoria centralizada apenas nas relações pertencentes à
organização técnica da produção, defendida por Taylor, a teoria de Mayo
assinala a importância dos fatores pertencentes à organização social da
empresa para a eficácia do processo de produção.
A teoria das Relações Humanas conserva a pirâmide, a hierarquia e as
funções organizacionais descritas por Taylor. Entretanto, essa teoria valoriza
o processo de comunicação onde a informação segue também um fluxo
42
ascendente – da base para o topo da pirâmide organizacional –, que
proporciona uma maior integração no processo de trabalho e traz uma maior
produtividade e uma diminuição nos conflitos organizacionais. Valoriza também
a comunicação lateral – entre pessoas de mesmo nível hierárquico –, vista
como uma ferramenta integradora e de democratização do ambiente de
trabalho.
Segundo Nassar (2000, p.77), os princípios da comunicação na Escola
de Relações Humanas consistem em: trabalho em equipe; carisma das chefias;
e fatores humanos influentes no processo de trabalho.
Arquitetura
Como já dito anteriormente, a arquitetura de uma organização pode ser
analisada tanto externa como internamente. Tendo observado as principais
características dos modelos administrativos de Taylor e da Escola de Relações
Humanas, podemos agora notar como cada linha influencia na estrutura física
das respectivas organizações.
Arquitetura Externa
O edifício ou construção onde uma empresa funciona já nos diz um pouco
sobre sua filosofia. Neste trabalho, não daremos ênfase na arquitetura externa
e nas diversas formas que ela pode comunicar a ideologia de uma organização.
Entretanto, serão ilustradas algumas características físicas que podem ser
observadas quando olhamos de fora, por exemplo, uma empresa que segue
a linha administrativa de Taylor e uma empresa que segue a linha administrativa
43
da Escola de Relações Humanas.
Quando observamos uma empresa ou fábrica da linha taylorista veremos
que externamente elas parecem um aglomerado de blocos. Pode-se até dizer
que lembram contêineres ou grandes caixas enfileiradas. Isso acaba remetendo
à idéia de padronização transmitida pelo modelo administrativo de Taylor.
O concreto armado e o ferro, presentes em suas instalações, acabam
passando um aspecto de rigidez, de opacidade, de não integração da empresa
ao ambiente que está ao seu redor.
É possível compararmos esse tipo de arquitetura com as obras
projetadas pelo arquiteto Le Corbusier. A arquitetura de Corbusier tinha um
estilo estandardizado, com uma unidade básica de construção que poderia
ser repetida indefinidamente.
“Para Corbusier, a vida moderna era semelhante a uma máquina. Tão
compartimentada, estandardizada e eficiente como uma linha de montagem” (Darling;
2002, p. 15).
Podemos ver um exemplo da influência de Corbusier na arquitetura de
Brasília. Na época de sua construção, Corbusier foi consultado sobre o projeto
por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. O ideal urbano do projeto foi baseado na
separação das funções, ou seja, a cidade é separada por setores – ministérios,
escolas, hospitais, residências, etc.
A arquitetura de uma empresa da linha de Relações Humanas já não
transmite essa idéia de padronização e separação por funções. A estrutura
física dessas empresas é integrada ao ambiente onde estão inseridas e sua
construção não transmite a idéia de funcionalismo. Pelo contrário, a sua
44
arquitetura é desenhada de maneira que seja transmitida a visão dos processos
de relacionamento e de comunicação da empresa.
Diferente da paisagem rígida das empresas com modelo taylorista, onde
o ambiente não poderia desviar a atenção do funcionário, a paisagem dessas
empresas muitas vezes se integra à natureza, com jardins e bosques ao seu
redor.
Um exemplo disso é a arquitetura da fábrica da Natura, em Cajamar
(SP). A sede da empresa, especializada no setor de cosméticos, é totalmente
integrada no ambiente que ela se encontra – com reservas de árvores e plantas
utilizadas em seus produtos.
Essa integração entre o ambiente e a natureza pode ser observada nas
obras do arquiteto Frank Lloyd Wright. A natureza á o tema-chave do
pensamento de Wright, e seus projetos tinham sempre a preocupação de
estarem situados em harmonia com os entornos naturais.
Seu projeto para a construção do edifício Johnson Wax é um exemplo
disso. As colunas do prédio de administração sustentam um teto de vidro que
faz a luz natural jorrar para o interior sem aberturas.
Arquitetura Interna
A arquitetura interna da empresa modela a distribuição dos funcionários
na organização e influencia na maneira que eles se relacionam.
“Internamente, [a arquitetura empresarial] contribui para estabelecer os
modelos de comportamento e atuação de seus funcionários, bem como o grau de
comprometimento em relação à empresa” (Martino & Nassar; 2002, p.133).
45
Neste trabalho, a influência da arquitetura interna será mostrada através
dos fluxos e redes de comunicação da empresa.
Fluxos de Comunicação
Como já foi citado anteriormente, existe uma clara diferença entre os
fluxos de comunicação no modelo taylorista e no modelo de Relações
Humanas. Enquanto no primeiro a informação tem apenas sentido
descendente, o segundo valoriza o sentido ascendente e lateral da informação.
Essa diferença é percebida quando observamos a estrutura física das
empresas que são administradas por cada teoria. Na arquitetura das fábricas
administradas pelas concepções tayloristas, as paredes demarcam o início e
o fim de cada etapa da elaboração de um determinado produto. Os funcionários
são posicionados e separados na linha de produção de acordo com a função
que cada um executa. Ou seja, não há integração lateral entre os operários. A
arquitetura da fábrica elimina a interação entre os trabalhadores e a visão
daquilo que produzem. O fluxo de comunicação horizontal é impedido pela
própria estrutura física da empresa.
“A administração focada em funções de trabalho sempre refletiu escritórios e
fábricas que lembram o desenho de colméias, com poucos vasos comunicantes e
paredes espessas que impedem a visão do que acontece fora de seus territórios
(...) É fácil entender, então, por que nesse tipo de ambiente o desenho de prédios e
processos procurava o menor caminho entre dois pontos, a reta, a maior velocidade,
e afastava da sua concepção tudo aquilo que pudesse levar à dispersão dos
trabalhadores ou às mensagens complexas (...)” (Nassar; 2003, p. 97).
Outro aspecto da arquitetura que podemos observar nessas fábricas é
46
a separação do espaço da administração – ou o topo da pirâmide
organizacional – do chamado “chão-de-fábrica”, que representa a base da
pirâmide. Se olharmos no desenho dessas fábricas, perceberemos que o
espaço administrativo está estrategicamente localizado para observar e
controlar o trabalho realizado, deixando bem claro quem está gerenciando e
quem é apenas um operário.
Se a empresa ou fábrica possuir andares, veremos que eles reforçam
seu organograma, como se o desenho do edifício fosse um reflexo da pirâmide
organizacional da empresa.
Já nas empresas administradas na concepção das Relações Humanas,
o tijolo das paredes que impedia o fluxo de comunicação é substituído pelo
vidro e por divisórias, transmitindo um aspecto de transparência e flexibilidade,
e permitindo um fluxo de comunicação ascendente e horizontal.
Em algumas empresas dessa linha administrativa simplesmente não há
divisórias. A estrutura física da organização não é delimitada pelo organograma,
fazendo com que todos os fluxos comunicacionais – ascendente, descendente
e lateral – se processem com eficiência.
Em empresas onde existem divisões, a localização da área
administrativa nem sempre está no alto, com o intuito de controlar os
funcionários ou mesmo reforçar as questões hierárquicas da organização.
Muitas vezes a administração dessas empresas está integrada aos outros
setores da empresa, permitindo que os fluxos ascendentes de comunicação
sejam facilitados.
47
Em algumas empresas dessa linha administrativa, a gerência de um
setor da empresa tem uma sala separada dos demais funcionários. Entretanto,
o fluxo de comunicação não sofre tantos empecilhos, pois a administração
está posicionada em um local físico mais acessível.
Quando a empresa é distribuída em um edifício, a comunicação pode
sofrer bloqueios dependendo da distribuição de seus funcionários nos andares
do prédio. Se pessoas de uma mesma área ou que fazem parte de um mesmo
processo da organização forem separadas por muitos andares, o fluxo lateral
pode ser prejudicado.
Esses impedimentos no fluxo dos processos de comunicação de uma
organização causados pela sua estrutura física se encaixam nas chamadas
barreiras gerais na comunicação de ordem mecânica, denominadas também
de barreiras físicas.
Segundo Margarida Krohling Kunsch (2003. p. 74), importante teórica e
acadêmica das Relações Públicas:
“As barreiras mecânicas ou físicas estão relacionadas com os aparelhos de
transmissão, como barulho, ambientes e equipamentos que podem dificultar ou
mesmo impedir que a comunicação ocorra. A comunicação é bloqueada por fatores
físicos”.
Ou seja, os componentes da estrutura física do ambiente de trabalho –
como paredes, divisórias, andares, etc – são um dos fatores que podem
prejudicar e até bloquear a comunicação de uma empresa.
48
Redes de Comunicação
Existem dois tipos de redes de comunicação em uma organização. A
rede formal e a rede informal.
Segundo Francisco Gaudêncio Torquato do Rego (1986, p.55),
especialista na área de Comunicação Empresarial:
“A rede formal comporta todas as manifestações oficialmente enquadradas
na estrutura da organização e legitimadas pelo poder burocrático. A rede informal
abriga as manifestações espontâneas da coletividade, incluindo-se aí a famosa
rede de boatos, estruturada a partir da chamada cadeia psicológica de grupinhos”.
Em relação à estrutura física do ambiente de trabalho, a rede informal
está mais suscetível a sofrer alterações com a arquitetura da empresa. Em
uma empresa onde não há tantas divisórias e tanta separação do trabalho, a
rede de comunicação informal tem mais condições de fluir do que em uma
empresa focada em funções de trabalho.
Por exemplo, em uma empresa com modelo administrativo taylorista, a
rede informal é impedida, pois os funcionários não estão integrados. Eles
realizam suas funções como se estivessem em caixinhas, focados apenas
em seu trabalho, impossibilitados de trocar informações triviais ou dar
continuidade a uma rede informal de informações.
Outro ponto a ser observado é o fato da estrutura dessas empresas ser
construída de modo que os funcionários sejam – ou pelo menos se sintam –
observados. Esse layout faz com que não haja um ambiente propício para a
troca informal de informações. O funcionário não se sente confortável para
tanto.
49
Em uma empresa onde o fluxo de comunicação horizontal é mais
privilegiado e o espaço físico desenvolvido para essa liberdade de
comunicação – como as organizações da linha administrativa de Relações
Humanas –, a rede informal tem mais condições de se fazer presente.
“A conversa, a livre expressão do pensamento, as manifestações dos
trabalhadores sem o controle da direção administrativa são algumas expressões
da rede informal, insertas no convívio natural das pessoas e dos grupos” (Kunsch;
2003, p. 83 e 84).
A proximidade entre os funcionários da empresa, não separados por
paredes ou funções de trabalho, favorece o fluxo dessa rede, mesmo por quê
a estrutura física do local permite que eles estejam em contato freqüente com
diversos funcionários, e a troca de informações acaba sendo inevitável e
benéfica, além de mais flexível e espontânea.
Segundo Gary Kreeps (1995, p. 233):
“Uma das razões básicas para o sistema de comunicação informal nas
organizações é a necessidade de os membros obterem informações sobre a
organização e como afetarão suas vidas as mudanças na mesma”.
Ou seja, o contato freqüente entre os funcionários permite que eles
busquem outras formas de obter informações sobre a empresa, pois muitas
vezes os canais formais de comunicação não conseguem informar
suficientemente ou com clareza as curiosidades e dúvidas de seus funcionários.
Muitas empresas dessa linha têm, por exemplo, espaços destinados a
essas trocas de informações, como um local para tomar café ou uma copa
onde os funcionários possam fazer suas refeições. Esses espaços são
geralmente o ponto de partida para as fofocas e a rede de boatos da empresa.
50
Essa rede de boatos, um dos produtos mais conhecidos da rede informal,
é formada muitas vezes por interesses maldosos, mas em grande parte é
decorrente da insegurança e da falta de informação dos funcionários. Ela é
geralmente denominada como rumor.
De acordo com Teobaldo de Andrade (1993, p. 111):
“O rumor é, em geral, a explanação de fatos numa distorção intencional ou
não da realidade. Essa distorção é, quase sempre, grosseira, mas nem por isso
perde seu valor”.
Em outras palavras, a presença de locais para a troca de informações
entre os funcionários incita a presença de rumores na empresa, o que pode
ser prejudicial ou não, dependendo de como a empresa canaliza essa
comunicação informal para o lado construtivo.
Esses espaços destinados a trocas de informações não se restringem
apenas a foco de rumores e boatos. Eles são ideais para a melhor integração
entre os funcionários.
Um espaço físico adequado e direcionado para a troca de informações
ou incentivar o convívio entre os funcionários pode se tornar uma ferramenta
muito eficaz na dinâmica e integração dos funcionários da organização.
51
GRUPO ACCOR
52
Para ilustrar como a estrutura física de uma empresa influencia na sua
comunicação, usaremos como exemplo o prédio do Grupo Accor, localizado
na Avenida Paulista, centro financeiro de São Paulo. A empresa é influenciada
pela linha administrativa da Escola de Relações Humanas, e com isso
podemos observar as características de sua arquitetura e reforçar alguns
aspectos citados anteriormente.
Grupo Accor
A empresa francesa Accor chegou ao Brasil em 1976, em um cenário
econômico de industrialização e urbanização acelerada. Em 29 anos de
existência no país, a Accor tem hoje cerca de 30 negócios em Hotelaria,
Turismo e Serviços agrupados em 6 unidades de negócios.
Dessas unidades, três são administradas em parceria com outros
acionistas: a Carlson Wagonlits Travel – agência de viagens especializada
em negócios e lazer; a Dalkia Infra 4 – empresa de facilities management,
responsável pela infra-estrutura de edifícios comerciais, clubes, shopping
centers, universidades, etc; e a GRSA – alimentação e restaurantes de
coletividade.
As outras três unidades são administradas diretamente pela Accor: a
Ticket Serviços S/A – empresa especializada em vouchers, como convêniosalimentação, oferecendo produtos para empresas que completem seus
quadros de benefícios; a Accentiv – agência de Marketing, especializada em
desenvolvimento de campanhas de incentivo, promoção de eventos, fidelização
e premiação; e a Accor Hotels – rede de hotelaria com cinco modalidades de
53
hotéis desde a categoria econômica até luxo e flats. Ao todo, somam-se cerca
de 120 hotéis no país.
As idéias e valores que permeiam todas as empresas são os mesmos
e concentram-se nas chamadas “Áreas Corporativas”, responsáveis por
centralizar informações e procedimentos comuns às diversas marcas. São as
áreas que compõe: Recursos Humanos, Comunicação, Financeiro, Auditoria,
Jurídico e a Presidência. Ou seja, a difusão de valores do Grupo Accor se dá
através dessas áreas comuns, centralizadas em um único edifício.
O Grupo Accor tem como valores a confiança, a inovação, o
profissionalismo, a responsabilidade social e a transparência.
A Accor possui entre as suas unidades de negócios o Instituto Accor,
responsável pelo controle e desenvolvimento de projetos de responsabilidade
social entre as suas unidades de negócios, sendo uma Instituição de Educação
e Assistência Social e promoção da Cultura, organizada sob a forma de
associação sem fins lucrativos.
A missão da área de Responsabilidade Social é desenvolver, aplicar e
disseminar o conhecimento e as melhores práticas de responsabilidade social
e ambiental, e assim participar no processo de mudança do país. O foco
estratégico da área é a educação, em todas as suas conotações:
alfabetização, ensino básico e médio, educação ambiental e alimentar, e
capacitação profissional. O público-alvo são crianças e jovens, além do público
interno.
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Comunicação Accor
A área de comunicação do Grupo Accor é bastante valorizada,
principalmente a comunicação interna. É importante para a empresa informar
seus funcionários sobre todas as suas atividades, de maneira que eles se
sintam cada vez mais fazendo parte do Grupo Accor.
Apesar de existirem meios de comunicação próprios em cada unidade
do Grupo, existem também os que são de uso comum. São eles: o Jornal
D´accor Brasil – com periodicidade mensal –, que é distribuído no início do
mês seguinte à data da edição; o Mural D´accor – periodicidade mensal ou
pontual –, que é um desdobramento da edição do mês do D´accor Brasil ou
uma edição sobre um tema especial, apresentando de forma mais didática
as informações estratégicas ao público operacional que não dispõe de
computador; o D´accor Express – periodicidade mensal, quinzenal, semanal
ou pontual –, que antecipa aos usuários da rede de comunicação online as
principais informações da edição do D´accor Brasil em produção e divulga
informações pontuais, por questões estratégicas ou emergenciais; e a TV
interativa – onde vídeo-conferências são realizadas anualmente em todo o
Brasil, promovendo a integração dos funcionários com a alta diretoria da
empresa.
O Grupo Accor tem, portanto, a preocupação de divulgar atividades e
informações estratégicas da empresa para todos que dela fazem parte. Essa
transparência na comunicação pode ser percebida quando observamos a
estrutura física onde são realizadas as atividades da empresa. Como podemos
perceber a partir de alguns exemplos, a arquitetura da empresa favorece muito
o fluxo de comunicação interna e procura evitar que este fluxo seja prejudicado
55
com barreiras físicas.
Arquitetura da Empresa
Como já dito anteriormente, as áreas corporativas responsáveis por
centralizar informações e procedimentos comuns às diversas marcas do Grupo
Accor estão localizadas em um único prédio.
A distribuição dessas áreas no edifício é bastante interessante. No
primeiro andar do prédio estão as salas de reunião e a área de manutenção.
No segundo andar se encontram a diretoria geral da unidade Ticket Serviços
S/A e a Unidade de Performance e Produtividade das Empresas (UNPPE).
No terceiro andar estão a Unidade de Benefícios ao Trabalhador (UNBT) e a
área de Marketing. No andar de cima ficam as áreas de Recursos Humanos e
Vendas ao Governo. No quinto e parte do sexto andar está a área de Tecnologia.
Na outra parte do sexto e no sétimo andar está a área de Incentive House. No
oitavo andar se encontra o Financeiro da empresa e no nono andar está a
área corporativa de todas as marcas do Grupo Accor. No último e décimo
andar, com acesso apenas por escada, está a Presidência.
Com essa distribuição da empresa, alguns aspectos podem ser
observados. Por exemplo, a localização da diretoria geral da unidade Ticket
Serviços S/A. A administração da empresa não está centralizada em um único
andar ou agrupada nos andares superiores do edifício. Apesar da Presidência
estar no último andar, a diretoria de uma das unidades do Grupo está alocada
no segundo andar do edifício.
56
Muitas áreas que não estão diretamente ligadas dividem o mesmo andar.
Isso favorece a rede informal de comunicação, fazendo com que os
funcionários, mesmo não trabalhando no mesmo setor, possam se conhecer
e trocar informações tanto da empresa quanto assuntos pessoais.
O fato do elevador do prédio só ir até o nono andar e o acesso à
Presidência ser apenas por escada, mesmo que seja por questões de
segurança, transmitem a idéia de uma área não muito acessível, que não está
integrada aos demais setores da organização.
O prédio possui uma área destinada aos funcionários fumantes da
empresa chamada “fumódromo”. Apesar do local ter como princípio um hábito
não muito saudável, ele favorece também a rede informal de comunicação,
pois possibilita que funcionários de diversas áreas possam se conhecer e
interagir.
A distribuição interna de cada área favorece o fluxo de comunicação
lateral. As divisórias são bem baixas, permitindo que o funcionário tenha uma
visão geral de toda a sua área e possa se comunicar facilmente com seus
colegas de trabalho.
Algumas equipes ficam em uma sala separada dos demais, bem como
alguns representantes da gerência. Nas salas onde ficam as equipes não há
divisórias, e seu layout permite que a comunicação entre os membros da
mesma equipe possa fluir sem barreiras físicas.
Essas salas têm paredes de vidro, fazendo com que, mesmo separadas,
elas possam se integrar aos demais ambientes. Além disso, essas paredes
57
transmitem transparência, fazendo com que todos os funcionários tenham uma
visão geral da área.
As características mostradas nos ajudam a entender como a estrutura
física influencia no fluxo de comunicação da empresa. Tendo conhecido a
filosofia e a cultura da empresa e observado algumas características de seu
espaço físico, podemos ter certeza de que a arquitetura da empresa não só
reflete sua cultura e filosofia, como interfere – e muito – em seus fluxos e rede
de comunicação.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A arquitetura está inevitavelmente presente em nosso cotidiano. A história
de sua presença na evolução da humanidade nos mostra que, sem dúvida,
ela é uma forma de expressão do pensamento humano em todas as atividades
e circunstâncias que o homem está inserido.
Como vimos neste trabalho, nas empresas essa expressão não é
diferente. A arquitetura reflete o pensamento e filosofia da organização e influi
em seus processos de comunicação. Ela é a medida da força simbólica
institucional exercida numa espécie de acordo silencioso entre os indivíduos
e o poder existente nas paredes.
Portanto, estabelecer um paralelo entre o relacionamento desses
indivíduos e a maneira que a empresa é administrada é essencial para
entendermos essa influência. Não é apenas uma relação de causa e efeito, e
sim de um princípio comum entre a elaboração do pensamento de gestão
moderno e a arquitetura.
É como se a estrutura física da empresa tivesse consciência de seu
poder de agregar indivíduos e formas de pensamento. É como se o espaço
da empresa estivesse reforçando seu modo de ser administrada.
Em outras palavras, uma diferente maneira de perceber a organização
ocasiona uma diferente maneira de organizar o ambiente de trabalho, isto é,
a arquitetura da empresa.
Neste trabalho foram mostrados dois modos de perceber a organização
através de suas linhas administrativas – a linha de Administração Científica
ou Taylorismo e a linha da Escola de Relações Humanas – e como o tipo de
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administração modifica a maneira de organizar o espaço de trabalho.
O desenho arquitetônico das empresas que seguem essas linhas
administrativas não deixa de ser um reflexo da hierarquia da organização. A
arquitetura das empresas reafirma o que os organogramas determinam. A
hierarquia está presente nas paredes, nos andares, até em sua decoração.
Esses elementos transmitem percepções e indicam as possíveis formas de
comportamento.
Na verdade, essa espécie de poder da arquitetura é invisível, pois ele é
exercido constantemente e está presente nas ações quase inconscientes dos
indivíduos. Por isso é menos suscetível a observações.
A finalidade desde trabalho foi, portanto, fazer um exame mais atento
desse poder, relacionando-o com a comunicação da empresa.
A distribuição espacial gera uma série de comportamentos e práticas
inconscientes, que são estruturadas de acordo com as posições marcadas
na distribuição de cargos e funções.
Assim sendo, os processos de comunicação da empresa também são
influenciados por esta distribuição, ou seja, a arquitetura da empresa. Os
fluxos de comunicação – ascendente, descendente e lateral – estão sujeitos a
essa influência, assim como as redes formais e informais de comunicação.
Através do exemplo de uma empresa real – o Grupo Accor – foi possível
avaliar como essa influência se dá através da observação de algumas
características de sua arquitetura. Foi possível perceber como a arquitetura é
uma variável na constituição das relações dentro da empresa, mesmo que
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implicitamente.
Em suma, a relação entre as estruturas arquitetônicas e as estruturas de
ação dos indivíduos no cotidiano de uma empresa é uma complexa rede de
símbolos e maneiras de perceber o indivíduo inserido em seu ambiente de
trabalho. A arquitetura emoldura os processos de comunicação, influenciando
subjetivamente seus resultados.
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