Efeitos das técnicas de padrão ventilatário fracionado e air stacking

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EFEITOS DAS TÉCNICAS DE PADRÃO VENTILATÓRIO FRACIONADO E AIR
STACKING SOBRE AS CAPACIDADES EXPIRATÓRIA E DE TOSSE EM
PACIENTES CARDÍACOS
Tábata Alves Santos
Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Hospitalar pelo Centro de Estudos Avançados e
Formação Integrada, chancelado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás
[email protected]
Andréa Thomazine Tufanin
Fisioterapeuta, Docente do CEAFI Pós-Graduação
[email protected]
Giulliano Gardenghi
Fisioterapeuta, Doutor em Ciências pela FMUSP e Docente do CEAFI Pós-Graduação
[email protected]
RESUMO
Efeitos das Técnicas de Padrão Ventilatório Fracionado e Air Stacking sobre as
Capacidades Expiratória e de Tosse em Pacientes Cardíacos
Introdução: Pacientes submetidos à intervenção coronária percutânea (ICP) e cirurgia de
revascularização do miocárdio (CRM) evoluem com complicações pulmonares que podem
ser revertidas através da fisioterapia respiratória. Objetivo: Verificar o efeito do padrão
ventilatório fracionado (PVF) e air stacking sobre as capacidades expiratória e de tosse
em indivíduos submetidos à ICP e RCM, comparando as técnicas entre si. Métodos: Tratase de um estudo experimental, prospectivo e comparativo. Participaram nove voluntários:
oito realizaram ICP e um RCM. O pico de fluxo expiratório (PFE) e o pico de fluxo de
tosse (PFT) foram mensurados antes e após a realização das técnicas utilizando o “Peak
flow”. O air stacking foi aplicado com AMBU adicionando insuflações paralelas às
inspirações do paciente. No PVF, o indivíduo realizava de três a quatro inspirações, sem
soltar o ar até o momento da expiração forçada e tosse, assim como no air stacking.
Resultados: Houve um aumento do PFE (307,8 ±43,2 vs. 384,4 ±67,3 L/min, p=0,00) e
PFT (356,7 ±79,2 L/min vs. 390,0 ±104,9 L/min, p=0,00) após a realização do PVF.
Também notou-se um aumento do PFE (307,8 ±43,2 vs. 390,0 ±71,9 L/min, p=0,00) e PFT
(356,7 ±79,2 vs. 401,1 ±59,3 L/min, p=0,00) após a realização do air stacking. Não houve
diferença significante entre as técnicas quando comparadas entre si, tanto no PFE
(p=0,80), quanto no PFT (p=0,57). Conclusão: O air stacking e o PVF mostraram-se
eficazes aumentando o PFE e o PFT em pacientes submetidos à ICP e RCM. Comparando
estes recursos, não houve predominância significativa de melhor técnica.
Palavras-chave: reabilitação; tosse; terapêutica
ABSTRACT
Effects of the Fractionated Ventilatory Pattern and Air Stacking technique in the
Expiratory and Cough Abilities in Cardiac Patients
Introduction: Patients undergoing percutaneous coronary intervention (PCI) and
myocardial revascularization surgery (MRS) evolve with respiratory complications that
can be reversed by respiratory therapy. Objective: To investigate the effect of fractionated
ventilatory pattern (FVP) and air stacking in the expiratory and cough abilities in patients
undergoing PCI and MRS, comparing the techniques with each other. Methods: This is an
experimental study, prospective and comparative. Participated in nine volunteers, eight
underwent a MRS and one PCI. The peak expiratory flow (PEF) and peak cough flow
(PCF) were measured before and after the performance of the techniques using the "Peak
flow". The air stacking was applied with an AMBU bag inflations adding parallel to the
inspirations of the patient. At FVP, the individual performed three to four breaths, hold the
air until the time of forced expiration and cough, as well as air stacking. Results: There
was an increase of PEF (307.8 ±43.2 vs. 384.4 ±67.3 L/min, p=0.00) and PCF (356.7
±79.2 L/min vs. 390,0 ±104.9 L/min, p=0.00) after completion of the FVP. Also noted was
an increase of PEF (307.8 ±43.2 vs. 390.0 ±71.9 L/min, p=0.00) and PCF (356.7 ±79.2 vs.
401.1 ±59.3 L/min, p=0.00) after the completion of air stacking. There was no significant
difference between the techniques compared with each other both in PEF (p=0.80), as in
PCF (p=0.57). Conclusion: The FVP and air stacking were effective by increasing the
PEF and the PCF in patients undergoing PCI and MRS. Comparing these resources, there
was no significant predominance of better technique.
Keywords: rehabilitation, cough, therapeutics.
INTRODUÇÃO
A intervenção coronária percutânea (ICP) atualmente é a modalidade de
revascularização utilizada com maior frequência no tratamento das doenças coronarianas
(PAULA, L., 2010) por ter a capacidade de restabelecer o fluxo coronário em mais de 90%
dos casos (SILVA, 2011), reduzindo a taxa de reinfarto e acidente vascular encefálico
(CARDOSO, 2010). Além disso, a ICP, também chamada de angioplastia transluminal
coronária primária, está relacionada à melhora da qualidade de vida, redução da morbidade
e da mortalidade, especialmente em pacientes de maior risco 1. Embora a ICP tenha se
consagrado por proporcionar reperfusão rápida e eficaz, preservando a microcirculação
coronariana (MATTOS, 2010), algumas complicações podem estar associadas a essa
terapêutica. A hemorragia periprocedimento, por exemplo, está vinculada ao aumento do
risco de isquemias recorrentes e é precursora de eventos cardíacos adversos maiores
(ECAM), prolongando o tempo de internação hospitalar (ZUKOWSKI, 2010). Já as
complicações após o tratamento percutâneo, são conhecidas como desfecho quádruplo e
consiste em morte, infarto agudo do miocárdio (IAM), revascularização de urgência do
vaso-alvo e sangramento maior aos trinta dias (DALL’ORTO, 2008).
O envelhecimento do sistema cardiovascular e as comorbidades associadas à
senilidade limitam a reserva cardíaca e aumentam a possibilidade de complicações
relacionadas ao tratamento com ICP (THOMAS JUNIOR, 2010). Os pacientes diabéticos,
por sua vez, apresentam lesões de maior complexidade e frequentemente evoluem com
altas taxas de reestenose após angioplastia coronária (ALVES, 2010). Outros fatores como
tabagismo (DALL’ORTO, 2010) e baixo peso ponderal também podem interferir no
sucesso da ICP (LEMOS, 2008).
A utilização da via radial para procedimentos diagnósticos e terapêuticos apresenta
menor complexidade angiográfica, melhor evolução clínica, reduzidas taxas de
sangramento, baixo risco de lesão nervosa ou fístula arteriovenosa e permite a
deambulação imediata. Apesar das pesquisas demonstrarem diversas vantagens na
utilização dessa via de acesso, a maior parte dos centros possui experiência limitada
fazendo com que a via femoral seja utilizada na maioria dos casos. Isso implica em menor
comodidade para o paciente, prolonga o retorno as suas atividades, dificultando sua
recuperação, aumentando o tempo de internação, e consequentemente, os custos
hospitalares (DALL’ORTO, 2010).
A cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM) é uma via efetiva para o
tratamento das manifestações clínicas da doença arterial coronariana, bem como prevenção
de IAM e morte cardíaca (NOGUEIRA, 2008). O diagnóstico mais comum associado a
CRM é a doença isquêmica do coração (DIC). Estudos apontam que a DIC está envolvida
em 97,5% dos casos é a causa básica de morte em cerca de 40% dos óbitos (GODOY,
2010). Baseada em observações clínicas, as indicações desse procedimento têm sido
amplamente discutidas (CORRÊA, 2010) e incluem oclusão aguda do vaso, dissecção
coronária extensa, revascularização incompleta, perfuração coronária, dilatação mal
sucedida com instabilidade clínica ou qualquer outra situação que resulte em
comprometimento hemodinâmico ou que necessite de intervenção a céu aberto (CAMPOS,
2010). A presença de fatores de risco pré-operatório específicos, como sexo, idade
(GUIMARÃES, 2011), obesidade, choque cardiogênico e infarto com onda Q influenciam
diretamente no resultado e prognóstico dos indivíduos submetidos a CRM (CORRÊA,
2010), porém sabe-se que quando realizada de forma eletiva, esse procedimento
proporciona melhor qualidade de vida aos pacientes (FERREIRA, 2010).
O avanço técnico, cirúrgico e anestésico da cirurgia cardíaca é considerável
(ROSA; PORTAL, 2010), entretanto existem complicações pós-operatórias que podem
comprometer o sucesso da CRM, tais como fibrilação atrial, disfunção renal aguda,
sangramento torácico, necessidade de hemotransfusão e infecções nosocomiais
(OLIVEIRA, 2010). Outra grande preocupação é que, independentemente da técnica
operatória utilizada, ocorre redução da função pulmonar (GUIZILINI, 2010) resultante da
combinação de fatores transoperatórios como a anestesia geral, a duração da cirurgia e o
uso da circulação extracorpórea (CEC).
Além da dor no período pós-operatório
(ALAMANNI, 2008), outros fatores potencializam as complicações pulmonares, entre eles
o tempo e a localização de drenos (ORTIZ, 2010) somados a agressão cirúrgica gerada
pela esternotomia (CICCO, 2008).
O descondicionamento físico secundário à permanência no leito hospitalar em
função da ICP (ROBBEETS, 2009) e as alterações decorrentes da cirurgia cardíaca levam
a diminuição das capacidades e volumes pulmonares, comprometimento da força dos
músculos respiratórios e do mecanismo de tosse, favorecendo a retenção de secreções
pulmonares (FREITAS, 2010). Dentre as estratégias fisioterapêuticas que podem ser
utilizadas para melhorar o desempenho da função respiratória desses pacientes destacam-se
o padrão ventilatório fracionado (PVF) e o air stacking (BARROS, 2010).
O empilhamento de ar ou air stacking é uma técnica que consiste em insuflações
adicionadas aos pulmões, com auxílio de um aparelho manual para ventilação artificial
(AMBU), de forma a expandi-los até sua capacidade máxima com o objetivo de manter a
elasticidade e expansibilidade da parede torácica (FONSECA, 2008). Essa expansão
pulmonar ocorre através de consecutivos empilhamentos de ar dentro dos pulmões com o
fechamento da glote após cada insuflação (HOLSAPFEL, 2010).
O PVF é uma técnica de expansão torácica que enfatiza a inspiração, podendo ser
ativa ou combinada com sustentação por três segundos. Os exercícios de expansão torácica
podem ser encorajados com estimulação proprioceptiva pela colocação da mão, tanto a do
indivíduo como a do fisioterapeuta, sobre a região da caixa torácica (ARCÊNCIO, 2008).
A fisioterapia, por meio dessas técnicas, tem o intuito de reverter ou amenizar as
repercussões que os procedimentos de ICP e RCM podem gerar na função pulmonar,
favorecendo a desobstrução das vias aéreas, por intermédio de tosse efetiva, além de
potencialmente prevenir também a fadiga muscular respiratória (BARROS, 2010). Com
base no exposto anteriormente, justifica-se a realização do presente estudo, que tem por
objetivo verificar o efeito do PVF e do air stacking sobre as capacidades expiratória e de
tosse em indivíduos submetidos à ICP e RCM, comparando ambas as técnicas entre si.
CASUÍSTICA E MÉTODOS
Trata-se de um estudo experimental, prospectivo e comparativo, cuja coleta de
dados foi realizada durante os meses de janeiro a março de 2011. Participaram deste estudo
indivíduos internados em enfermaria do Instituto de Neurologia de Goiânia de ambos os
sexos, com idade entre 42 e 74 anos, submetidos à ICP ou RCM e que tenham assinado o
termo de consentimento livre e esclarecido. A amostra foi constituída por nove voluntários,
sendo que oito deles realizaram angioplastia e apenas um em pós-operatório de cirurgia
cardíaca de revascularização.
Os critérios de exclusão adotados para o estudo foram: indivíduos que não
apresentavam função cognitiva preservada, o que dificultaria a aplicação das técnicas
propostas, que apresentavam contra-indicações médicas à realização de fisioterapia
respiratória, pacientes traqueostomizados, indivíduos submetidos à ventilação mecânica
invasiva, portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica ou asmático em crise e
pacientes submetidos à inaloterapia com broncodilatadores com frequência de uso menor
que seis horas (considerados mais graves do ponto de vista ventilatório).
Os instrumentos utilizados para realização da coleta de dados incluíram uma ficha
de avaliação composta pelos dados pessoais do paciente, sinais vitais, diagnóstico clínico e
os valores de PFE (pico de fluxo expiratório) e PFT (pico de fluxo de tosse) obtidos, a
carta de autorização para coleta de dados, um Peak Flow, da marca Mini-Wright "Peak
Flow” Meter® (equipamento portátil utilizado para mensuração do PFE e PFT) e um
AMBU de silicone da marca Protec®.
Os indivíduos foram randomizados de acordo com o procedimento a ser realizado
primeiramente, utilizando para tal uma moeda, na qual “cara” significava PVF e “coroa”
air stacking. Posteriormente foi realizada a avaliação inicial utilizando a ficha específica
para esse fim. Após um período de repouso de cinco minutos, os sujeitos da pesquisa
foram submetidos à avaliação do PFE e PFT, sendo em seguida realizado um dos
exercícios propostos de acordo com a randomização. Cada técnica foi aplicada por três
vezes, utilizando-se o maior valor obtido para a análise estatística. Entre a realização das
técnicas foi dado um intervalo de 20 minutos, havendo reavaliação dos parâmetros de PFE
e PFT imediatamente após a aplicação de cada uma das técnicas.
Primeiramente foram colhidos os dados da mensuração do PFE, na qual o indivíduo
permaneceu na posição sentada, tendo suas peças de vestuários afrouxadas ou removidas,
para que essas não interferissem com os esforços respiratórios máximos, colocando um
clipe nasal, evitando o escape de ar pelo mesmo. O fisioterapeuta moveu o marcador do
Peak Flow, que estava firmemente adaptado à boca do indivíduo, enquanto o mesmo
estava segurando o aparelho com cuidado para que não se tampe a saída de ar. Foi
solicitada ao indivíduo uma inspiração profunda (“puxar o ar”) com a boca aberta e em
seguida pressionar o bocal com os lábios realizando uma expiração máxima e rápida
(“soprar com toda força”), repetindo-se três vezes o procedimento, registrando-se o maior
resultado. O PFT seguiu o mesmo modelo do PFE, com a única diferenciação de se
solicitar ao paciente uma tosse, ao invés da realização de uma expiração forçada.
Para realização da técnica de air stacking é fundamental a adequação do indivíduo,
portanto, este foi orientado a estar sentado, sendo adicionadas de quatro a seis insuflações
aos pulmões, com o auxílio do AMBU, de forma a expandí-los até sua capacidade máxima.
O indivíduo realizou inspirações profundas paralelamente ao ato do fisioterapeuta de
insuflar o pulmão do mesmo com o AMBU, disponibilizando novos volumes de ar através
das interfaces. Esses volumes foram mantidos no pulmão através do fechamento da glote
até a expansão pulmonar e da caixa torácica se completarem de tal forma que não fosse
mais possível manter a glote fechada, momento em que o fisioterapeuta efetuou uma nova
aferição dos parâmetros de PFE e PFT.
O PVF foi realizado com o indivíduo sentado no leito, confortavelmente; onde o
mesmo foi solicitado a realizar três a quatro inspirações (até que se atingisse a máxima
capacidade de insuflação pulmonar). O paciente foi orientado a não expirar (“soltar o ar”)
durante as inspirações, tal como durante a realização da técnica de air stacking.
Após o aceite e enquadramento nos critérios de inclusão, os voluntários
preencheram o termo de consentimento livre e esclarecido entregue a fim de explicar as
condições de coleta de dados, proporcionar o entendimento completo do projeto e suas
implicações aos sujeitos da pesquisa e para resguardar o participante em sua dignidade
humana.
Os preceitos ético-legais foram considerados conforme rege a resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde 10/10/1996, que trata das recomendações éticas quando da
realização de pesquisa que envolva seres humanos. O protocolo desse estudo foi
encaminhado para análise do Comitê de Ética em Pesquisa da PUC Goiás, com posterior
aprovação, sob número 1629/2011.
A análise estatística realizada intragrupos foi o teste T de Student pareado,
assumindo como significantes valores de p menores ou iguais a 0,05. Para calcular as
diferenças entre as duas técnicas foi realizado o teste T pareado, comparando o delta
(diferenças) de ambas. Os dados são apresentados como média e desvio padrão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A amostra do estudo foi constituída por nove voluntários, com idade de 42 e 74
anos, compreendendo uma média de 60,9 ± 10,3 anos, sendo, portanto, concordante com a
literatura, já que segundo o levantamento de dados realizado por Godoy et al. (2010), o
grupo que realiza os procedimentos de ICP e RCM com maior frequência inclui os
pacientes no início da sexta década de vida. O mesmo resultado foi encontrado por Ortiz et
al. (2010) em sua pesquisa.
Tendo em vista o quadro de disfunção pulmonar associado aos procedimentos de
ICP e RCM, a fisioterapia respiratória tem sido amplamente solicitada visando reverter ou
amenizar essas repercussões e evitar o desenvolvimento de complicações respiratórias.
Para isso, a fisioterapia utiliza métodos que promovam expansão pulmonar, mantendo uma
ventilação alveolar satisfatória e assistência adequada na remoção de secreções (BARROS,
2010).
Os resultados desta pesquisa apontam que antes da realização do PVF, a média
obtida entre os valores do PFE foi de 307,8 ± 43,2 L/min, o PFT por sua vez, apresentou
uma média de 356,7 ± 79,2 L/min. Após a aplicação da técnica houve um aumento
significativo do PFE para 384,4 ± 67,3 L/min (p=0,00). O mesmo ocorreu com o PFT que
atingiu 390,0 ± 104,9 L/min (p=0,00), como pode ser observado na figura 1.
Figura 1: Valores do PFE e do PFT pré e pós aplicação da técnica de PVF.
A cinesioterapia respiratória é baseada em exercícios e estratégias para acrescer os
volumes pulmonares, diminuir o trabalho respiratório e a sensação de dispnéia, redistribuir
e melhorar a ventilação pulmonar bem como favorecer as trocas gasosas e potencializar a
contração dos músculos respiratórios (SILVA, 2010). Concordando com o presente estudo,
Arcêncio et al. (2008) em suas observações constataram que os exercícios de inspirações
seguidas e mantidas não só aumentam a coordenação e eficiência dos músculos
respiratórios, como também são eficazes no tratamento e prevenção de atelectasias
refratárias, melhorando a capacidade vital e a complacência pulmonar. É interessante
ressaltar a importância da orientação e auxílio do fisioterapeuta para uma perfeita execução
dos exercícios e assim, garantir o sucesso da terapêutica (RENAULT, 2008).
Os resultados encontrados com a utilização do air stacking neste estudo também
são encorajadores, visto que, antes da aplicação da técnica a média do PFE foi de 307,8 ±
43,2 L/min e após o procedimento o valor encontrado corresponde a 390,0 ± 71,9 L/min
(p=0,00). Em relação ao PFT, os efeitos não foram diferentes: a média alcançada antes da
execução da técnica foi de 356,7 ± 79,2 L/min e após a realização da mesma, esse valor
subiu para 401,1 ± 59,3 L/min (p=0,00), conforme demonstra a figura 2.
Figura 2: Valores do PFE e do PFT pré e pós aplicação da técnica de air stacking.
Os dados encontrados nesta pesquisa são semelhantes ao descritos por outros
autores, que demonstraram em pacientes com distrofia muscular de Duchenne, um
aumento do PFT de 171 ± 67 para 225 ± 80 L/min após o emprego da técnica. Convém
mencionar que este ensaio de caráter experimental, prospectivo e comparativo realizado
com pacientes neuromusculares seguiu o mesmo protocolo de aplicação do air stacking
adotado no presente estudo (TUFIK, 2009). De acordo com Paula, P. et al. (2010), a
otimização do PFT ocorre graças à melhora da capacidade de insuflação máxima atingida
por meio da manobra, que pode ser utilizada tanto no tratamento como na prevenção de
atelectasias e outras complicações pulmonares.
Gardenghi et al. (2009) constatou em seu protocolo experimental, realizado com 40
pacientes acamados por 22 ± 02 horas/dia que as técnicas de PVF e air stacking são
eficazes no sentido de aumentar os valores de PFE e PFT, não havendo diferença
expressiva entre elas quando comparadas entre si. Em concordância com a literatura, este
estudo evidenciou que as duas técnicas são capazes de incrementar os volumes
pulmonares, aumentando os fluxos de tosse e expiração. Na comparação destes recursos,
não houve predominância significativa de melhor técnica tanto para o PFE (p=0,80),
quanto para o PFT (p=0,57), isto é, ambas desempenham um papel imprescindível nas
terapias respiratórias.
O PFE é um método não invasivo de avaliação da função pulmonar, que pode ser
definido como o maior fluxo obtido em uma expiração forçada a partir de uma inspiração
completa ao nível da capacidade pulmonar total (PAES, 2009). O Peak Flow registra de
maneira confiável o PFE em L/min sendo possível menor valor = 60 L/min e maior valor =
880 L/min, permitindo que o fisioterapeuta avalie a gravidade da obstrução brônquica
(ROCHA, 2010). Usualmente, a medida do PFE tem sido utilizada como instrumento para
estudos epidemiológicos. Entretanto, para definir os valores de referência dessa prova de
função pulmonar é preciso conhecer a população estudada, uma vez que variáveis como
altura, sexo e idade apresentam correlações positivas com o PFE. Deste modo, torna-se
necessária a construção de curvas de regressão que estabeleçam os valores normais de PFE
para cada população analisada (PAES, 2009).
O PFT além de ser indicado para avaliar e estimar a função glótica é a forma mais
reprodutível de mensurar a força da tosse (FREITAS, 2010a). Valores reduzidos do PFT
podem indicar alta propensão ao desenvolvimento de complicações do trato respiratório,
não garantindo uma adequada proteção das vias aéreas (FONSECA, 2008). A velocidade
do fluxo do ar é o principal fator responsável pela clearance da via aérea. Embora não
exista um consenso sobre os valores de referência do PFT (FREITAS, 2010a), sabe-se que
durante a tosse em adultos saudáveis, 2,3 ± 0,5 L de ar são expelidos atingindo um fluxo de
360L/min (TUFIK, 2009). Os valores encontrados nesse estudo evidenciam que os
participantes do mesmo apresentavam alterações que podem comprometer a fluxo
expiratório no momento da tosse, já que o PFT basal foi, em média, 356,7 ± 79,2 L/min.
Iniciada de forma reflexa ou voluntária, a tosse é um mecanismo de proteção que
desenvolve um papel essencial mantendo as vias aéreas pérvias (GASPARIM, 2011). A
efetividade da higiene brônquica depende da intensidade do pico de fluxo gerado durante a
tosse. A pressão elevada dentro dos pulmões atingida a partir de uma inspiração profunda,
do fechamento da glote e da contração da musculatura expiratória é capaz de gerar altos
fluxos na fase explosiva da tosse e estes transferem energia cinética do ar para a secreção
ou para o corpo estranho, removendo-os da parede brônquica e conduzindo-os até a faringe
ou a boca, onde podem ser eliminados (FREITAS, 2010a).
O círculo vicioso entre o baixo condicionamento físico e o imobilismo decorrente
da angioplastia por via femoral desencadeia a fraqueza muscular reduzindo as capacidades
inspiratória e/ou expiratória forçada e, consequentemente dificultando a tosse
(NEEDHAM, 2008). Da mesma forma, a alteração da mecânica ventilatória, os efeitos
deletérios da anestesia geral (BARROS, 2010) e os estímulos nociceptivos gerados pela
cirurgia cardíaca levam a redução dos volumes pulmonares e diminuem a eficácia da tosse
(GARBOSSA, 2009). Outros fatores como senilidade (FREITAS, 2010b), má função ciliar
decorrente dos efeitos da fumaça e do tabaco (DESALU, 2010), fraqueza dos músculos
abdominais, maior espessamento do muco ou alterações em qualquer uma das fases da
tosse também podem comprometer esse mecanismo (TUFIK, 2009).
Dentro deste contexto, a fisioterapia desenvolve um papel indispensável durante o
período de internação pós-operatório, já que suas técnicas são capazes de melhorar a
mecânica respiratória, a expansibilidade pulmonar e a higiene brônquica (GARDENGHI,
2009). Os resultados positivos e estatisticamente relevantes obtidos neste estudo,
demonstram a eficácia da fisioterapia associada à utilização do PVF e air stacking em
pacientes submetidos à ICP e RCM, minimizando as possíveis complicações respiratórias e
fornecendo evidências científicas que fortaleçam a prescrição de cuidados fisioterapêuticos
por parte dos cirurgiões cardíacos.
O presente estudo tem limitações que devem ser consideradas. Além de uma
pequena população avaliada, os dados aqui apresentados refletem a experiência de único
centro. A ausência de seguimento tardio e a não disponibilidade de informações, como o
tempo de permanência e o custos na fase hospitalar, também são fatores limitantes no
estudo.
CONCLUSÃO
A fraqueza muscular e as complicações pulmonares observadas nos pacientes
submetidos à ICP e RCM podem comprometer a capacidade de gerar um fluxo de ar
satisfatório no momento da tosse, diminuindo a sua eficácia e favorecendo o
desenvolvimento de infecções do trato respiratório. O PVF e o air stacking são recursos
terapêuticos confiáveis que aumentam o PFE e o PFT de forma expressiva, reforçando a
necessidade de assistência fisioterapêutica no pós-operatório cardíaco. Ambas as técnicas
se mostraram semelhantes no sentido de aumentar as capacidades expiratória e de tosse dos
indivíduos estudados, sem diferenças significantes quando comparadas entre si.
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