MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO – MESTRADO EM ENFERMAGEM MARCELO DE MOURA CARVALHO INFECÇÕES HOSPITALARES EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA DE UM HOSPITAL PÚBLICO TERESINA 2012 MARCELO DE MOURA CARVALHO INFECÇÕES HOSPITALARES EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA DE UM HOSPITAL PÚBLICO Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, como parte dos requisitos necessários à defesa para obtenção do título de Mestre em Enfermagem. Área de Concentração: Enfermagem no contexto social brasileiro Linha de Pesquisa: Processo de Cuidar em Saúde e Enfermagem Orientador: Profa. Drª. Maria Eliete Batista Moura TERESINA 2012 MARCELO DE MOURA CARVALHO Dissertação de Mestrado submetida à Banca Examinadora do Programa de PósGraduação Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, como requisito necessário para obtenção do título de Mestre em Enfermagem. Data da aprovação:___/___/2012 _________________________________________ Profa. Drª. Maria Eliete Batista Moura Universidade Federal do Piauí-UFPI Orientadora _________________________________________ Profa. Drª. Maria do Rosário Conceição Moura Nunes Universidade Federal do Piauí-UFPI 1ª Examinadora _________________________________________ Profa. Drª. Telma Maria Evangelista de Araújo Universidade Federal do Piauí-UFPI 2ª Examinadora Suplente: _________________________________________ Profa. Drª. Claudete Ferreira de Sousa Monteiro Universidade Federal do Piauí-UFPI Aos meus pais, Luiz Afonso Martins de Carvalho (in memoriam) e Maria Lecy de Moura Carvalho (in memoriam), pela vida e ensinamentos que me deram. Ao meu amor, Lorena, pela paciência, companheirismo, força e carinho, por estar sempre me incentivando a continuar. Um poema diferente Pensei escrever um poema Mas o tema é diferente De tanto estudar infecção Surgiu uma inspiração. Infecção rima com coração É com coração que deve-se agir Durante e após internação Para infecção não contrair. Minimizar os riscos é um dever Em todos os procedimentos a realizar Principalmente as mãos lavar Antes de o paciente manipular. Antibióticos tem-se que restringir Para a resistência diminuir Elaborar condutas e monitorar São os passos para infecção evitar. O poema com o tema diferente Trata de respeito e amor Do profissional ao cuidar do paciente Do paciente a exigir seu valor. Autora: Iracema Patrício AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pelo Dom da Vida e Sabedoria que me conduziram para a realização deste aprimoramento profissional. A minha orientadora Profa. Drª. Maria Eliete Batista Moura, pela sua paciência, generosidade e sabedoria, fundamentais para a realização deste trabalho. A todos os professores do programa de mestrado em enfermagem, pelo compromisso com o ensino de qualidade. Aos amigos da turma de mestrado, companheiros de estudo, trabalho e passeios, que contribuíram para tornar mais amenos os dias difíceis, e por fazer do curso um momento agradável que trará boas lembranças. Aos meus amigos de trabalho da coordenação regional de saúde que tiveram paciência e companheirismo na realização deste trabalho. A minha esposa Lorena, pelo incentivo e compreensão mesmo diante das adversidades. Aos profissionais de saúde que com compromisso e dedicação empenham-se em fazer o melhor para o próximo. Aos pacientes e familiares das unidades de terapia intensiva onde foi realizado o trabalho, Obrigado! Aos ensinamentos da Seicho-No-ie que me fortaleceram para vencer mais esta etapa. RESUMO As infecções hospitalares se constitui em um grave problema de saúde pública mundial. Representam complicações relacionadas à assistência à saúde que resultam no aumento da permanência hospitalar e na redução da rotatividade dos leitos. Elevam os custos hospitalares e são responsáveis pelo aumento da morbimortalidade. Isso tem implicado em um grande desafio a ser enfrentado por profissionais e gestores dos serviços de saúde. Este estudo têm como objetivo investigar as infecções hospitalares das Unidades de Terapia Intensiva (UTI´s) em um hospital público de referência para alta complexidade do Estado do Piauí. Trata-se de um levantamento epidemiológico, de corte transversal, realizado em duas unidades de terapia intensiva. A população foi constituída por 441 pacientes internados no período de janeiro a junho de 2011. A amostra foi constituída por 76 pacientes que desenvolveram 106 episódios de infecção. Os dados foram coletados por meio de formulário dos prontuários, processados no SPSS 18.0 e feito análise estatística. Os resultados indicaram que 34,2% dos pacientes possuem de 41 a 59 anos, 56,6% são do sexo masculino, 26,3% têm a ocupação do lar e 53,9% são procedentes do interior do Piauí. A causa da internação mais frequente foi devido, politraumatismos e traumatismo crânio encefálico com 26,3% dos pacientes e 21,6% por clipagem de aneurisma. A permanência hospitalar predominante foi de 05 a 14 dias, 47,4% dos casos. A taxa de infecção hospitalar nas duas unidades de terapia intensiva foi de 24%. Quanto à topografia, 59,4% dos pacientes apresentaram infecções respiratórias e 23,6% urinárias. Com relação aos procedimentos invasivos, 100% dos pacientes receberam sondagem vesical e 85,5% sondagem nasogástrica. Os principais microrganismos causadores de infecção foram: Pseudomonas aeruginosa; Klebsiella sp. e Staphylococcus aureus e os principais antibióticos utilizados foram: imipenen, ciprofloxacina e ceftazidima. Para a resistência dos microrganismos aos antimicrobianos, o Staphylococcus aureus apresentou resistência de 33,3% à ceftazidima, a Klebsiella sp. apresentou 69,2% ao imipenen, Pseudomonas sp. teve 50% de resistência à ciprofloxacina e a Pseudomonas aeruginosa apresentou 57,1% à ciprofloxacina. A taxa de mortalidade foi de 17,1% nas duas unidades. Desta forma, percebe-se que a prevalência de infecção hospitalar continua sendo um problema relacionado à assistência aos pacientes das unidades de terapia intensiva. O fenômeno da resistência bacteriana aos antimicrobianos vem aumentando ao longo do tempo, resultando na alta taxa de letalidade por esse agravo. Assim, é necessário que as instituições prestadoras de serviços de saúde adotem as recomendações do Programa Nacional de Prevenção e Controle das Infecções Hospitalares, por meio da busca ativa sistemática das infecções, da adoção de medidas de prevenção e controle, assim como de medidas para a qualificação profissional orientada pela prática de educação permanente nos serviços de saúde. Palavras-chave: Infecção hospitalar. Microbiologia. Unidade de Terapia Intensiva. ABSTRACT Nosocomial infections constitute a serious public health problem worldwide. They represent complications related to health care that result in increased hospital stay and reducing turnover of beds. They increase hospital costs and are responsible for the increased morbidity and mortality. This has meant a great challenge to be faced by professionals and managers of health services. This work aimed to investigate nosocomial infections of intensive care units (ICUs) in a public hospital of reference for the high complexity of the state of Piauí. It is an epidemiological cross-sectional study, conducted in two intensive care units. The study population consisted of 441 patients hospitalized between January and June 2011. The sample consisted of 76 patients who developed 106 episodes of infection. Data were collected using a questionnaire, processed with SPSS 18.0 and underwent statistical analysis. The results indicated that 34.2% of patients are 41-59 years old, 56.6% are male, 26.3% work at home and 53.9% are from the countryside of Piauí. As to the cause of hospitalization, 26.3% of patients were hospitalized for multiple trauma and traumatic brain injury and 21.6% for aneurysm clipping. The hospital stay was predominantly 05 to 14 days, 47.4% of cases. The rate of nosocomial infection in both intensive care units was 24%. In terms of topography, 59.4% of patients had respiratory infections and 23.6% urinary ones. As for invasive procedures, 100% of patients received the vesical catheterization and 85.5% nasogastric intubation. The main organisms causing infection were: Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella sp. and Staphylococcus aureus and the main antibiotics used were imipenem, ciprofloxacin and ceftazidime. With respect to the resistance of microorganisms to antimicrobials, Staphylococcus aureus showed 33,3% of resistance to ceftazidime, Klebsiella sp. showed 69.2% to imipenem, Pseudomonas sp. had 50% of resistance to ciprofloxacin and Pseudomonas aeruginosa showed 57.1% to ciprofloxacin. The mortality rate was 17.1% in both units. Thus, it is clear that the prevalence of nosocomial infection remains a problem related to patient care in intensive care units. The phenomenon of bacterial resistance to antimicrobials has increased over the years, resulting in high mortality rate for this condition. Thus, it is necessary that the institutions providing health services adopt the recommendations of the National Program for Prevention and Control of Nosocomial Infections, through the systematic search of active infections, the adoption of measures for prevention and control, as well as measures for professional qualification guided by continuing education in health services. Descriptors: Nosocomial Infection. Microbiology. Intensive Care Unit. RESUMEN Infecciones hospitalarias constituyen un problema grave de salud pública en todo el mundo. Representan a complicaciones relacionadas con el cuidado de la salud que resultan en el aumento de la estancia hospitalaria y la reducción de la rotación de las camas. Aumentan los costos hospitalarios y son responsables del aumento de la morbilidad y la mortalidad. Esto ha significado un gran desafío a ser enfrentado por los profesionales y gestores de los servicios de salud. Este trabajo tuvo como objetivo investigar las infecciones hospitalarias de las unidades de cuidados intensivos (UCI) en un hospital público de referencia para la alta complejidad de Piauí. Es un estudio epidemiológico transversal, realizado en dos unidades de cuidados intensivos. La población de estudio consistió de 441 pacientes hospitalizados entre enero y junio de 2011. La muestra consistió en 76 pacientes que desarrollaron 106 episodios de infección. Los datos fueron recolectados a través de un cuestionario, procesado con el programa SPSS 18.0 y hecho el análisis estadístico. Los resultados indicaron que 34,2% de los pacientes tienen 41-59 años, 56,6% son hombres, el 26,3% trabajan en casa y el 53,9% son del interior de Piauí. En cuanto a la causa de la hospitalización, el 26,3% de los pacientes fueron hospitalizados con lesiones múltiples y lesiones cerebrales traumáticas y el 21,6% con clipaje de aneurismas. La estancia hospitalaria fue predominantemente de 05 a 14 días, el 47,4% de los casos. La tasa de infección hospitalaria en las dos unidades de cuidados intensivos fue de 24%. En cuanto a la topografía, el 59,4% de los pacientes tenían infecciones respiratorias y el 23,6%, urinarias. En cuanto a los procedimientos invasivos, el 100% de los pacientes recibieron sondeo vesical y el 85,5%, nasogástrico. Los principales organismos causantes de infección fueron: Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella sp. y Staphylococcus aureus y los principales antibióticos utilizados fueron: imipenem, ciprofloxacino y ceftazidima. Con respeto a la resistencia de los microorganismos a los antimicrobianos, Staphylococcus aureus fueron 33,3% resistentes a la ceftazidima, Klebsiella sp. mostró 69,2% al imipenem, Pseudomonas sp. tenía un 50% de resistencia a la ciprofloxacina y la Pseudomonas aeruginosa mostró 57,1% a la ciprofloxacina. La tasa de mortalidad fue de 17,1% en ambas unidades. Por lo tanto, es evidente que la prevalencia de infecciones hospitalarias sigue siendo un problema relacionado con la atención al paciente de las unidades de cuidados intensivos. El fenómeno de la resistencia bacteriana a los antimicrobianos ha aumentado con el tiempo, dando lugar a alta tasa de mortalidad para esta condición. Por lo tanto, es necesario que las instituciones que prestan servicios de salud adopten las recomendaciones del Programa Nacional de Prevención y Control de Infecciones Hospitalarias, a través de la búsqueda activa y sistemática de infecciones, la adopción de medidas de prevención y control, así como medidas para capacitación orientada por la educación continua en los servicios de salud. Descriptores: Infección Hospitalaria. Microbiologia. Unidad de Cuidado Intensivo. LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS Tabela 1: Perfil sociodemográfico dos pacientes internados com resultado de cultura positivo nas UTI 1 e UTI 2. Teresina-PI, 2011. ----------------------------------------------------------------------36 Tabela 2: Distribuição dos pacientes internados com resultado de cultura positivo segundo a causa da internação nas UTI 1 e UTI 2. Teresina-PI, 2011. ------------------------------------------ 37 Tabela 3: Tempo de internação em dias dos pacientes internados com resultado de cultura positivo nas UTI 1 e UTI 2. Teresina-PI, 2011. -----------------------------------------------------------38 Tabela 4: Taxa infecção hospitalar nas UTI 1 e UTI 2 segundo o mês de ocorrência. Teresina, 2011. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------39 Tabela 5: Número de culturas positivas realizadas pelos pacientes internados nas UTI 1 e UTI 2.Teresina-PI, 2011. --------------------------------------------------------------------------------------------40 Tabela 6: Distribuição de episódios de infecção segundo a topografia nas UTI 1 e UTI 2. Teresina-PI, 2011. -----------------------------------------------------------------------------------------------40 Tabela 7: Distribuição dos microrganismo causadores de infecção hospitalar nas UTI 1 e UTI 2. Teresina-PI, 2011. --------------------------------------------------------------------------------------------42 Tabela 8: Perfil de resistência aos antimicrobianos dos microrganismos isolados nas UTI 1 e UTI 2. Teresina-PI, 2011. --------------------------------------------------------------------------------------44 Tabela 9: Taxa de letalidade nas UTI I e UTI II. Teresina-PI, 2011. --------------------------------45 Gráfico 1:Distribuição dos tipos procedimentos invasivos realizados nos pacientes internados com resultado de cultura positivo nas UTI 1 e UTI 2. Teresina-PI, 2011. -------------------------41 Gráfico 2: Distribuição dos antimicrobianos mais utilizados nos pacientes com resultado de cultura positivo nas UTI 1 e UTI 2.Teresina-PI, 2011. --------------------------------------------------43 LISTA DE SIGLAS ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária BGN - Bastonete Gram negativo CCIH - Comissão de Controle Infecção Hospitalar CDC - Centers for Disease Control and Prevention CLSI - Clinical and Laboratory Standards Institute EUA – Esta dos Unidos da América ESBL - Beta-lactamases de espectro estendido EPI - Equipamentos de Proteção Individual ISC - Infecções do Sítio Cirúrgico IH - Infecção Hospitalar JCAH - Joint Comission on Accreditation of Hospitals MDR - Multi drogas resistentes MS - Ministério da Saúde MRSA - Staphylococcus aureus resistente a meticilina NNIS - National Nosocomial Infections Surveillance OMS - Organização Mundial da Saúde OPAS - Organização Pan-Americana da Saúde PBP - Proteínas ligadoras de penicilina RA - Resistência Antimicrobiana SARO - Staphylococcus aureus resistente a oxacilina SCN - Staphylococcus aureus negativo SENIC - Study on the Efficacy of Nosocomial Infection Control SCN - Staphylococcus aureus negativo SENTRY - Sistema de Vigilância Internacional da Resistência aos Antimicrobianos TSA – Teste de sensibilidade antimicrobiana UTI - Unidade de Terapia Intensiva SUMÁRIO RESUMO ------------------------------------------------------------------------------------------------- 06 ABSTRACT --------------------------------------------------------------------------------------------- 07 RESUMEM----------------------------------------------------------------------------------------------- 08 LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS ------------------------------------------------------------- 09 LISTA DE SIGLAS ------------------------------------------------------------------------------------ 10 SUMÁRIO ------------------------------------------------------------------------------------------------ 11 1 INTRODUÇÃO --------------------------------------------------------------------------------------- 13 1.1 Objetivos ------------------------------------------------------------------------------------------- 16 1.1.1 Objetivo Geral ---------------------------------------------------------------------------------- 16 1.1.2 Objetivos Específicos ----------------------------------------------------------------------- 16 1.2 Justificativa --------------------------------------------------------------------------------------- 16 3 REFERENCIAL TEÓRICO ----------------------------------------------------------------------- 18 3.1 Conceito de infecção hospitalar ----------------------------------------------------------- 18 2.2 A importância da infecção no ambiente hospitalar --------------------------------- 19 2.3 Principais microrganismos causadores de infecção hospitalares-------------21 3.4 Resistência bacteriana e o uso racional de anmicrobianos --------------------- 24 3.5 A contribuição da enfermagem na prevenção e controle da infecção hospitalar------------------------------------------------------------------------------------------------ 28 4 METODOLOGIA------------------------------------------------------------------------------------- 30 4.1 Natureza e tipo de estudo -------------------------------------------------------------------- 30 4.2 Local do estudo ---------------------------------------------------------------------------------- 30 4.3 População e amostra--------------------------------------------------------------------------- 31 4.4 Coleta de dados---------------------------------------------------------------------------------- 31 4.5 Análise de dados -------------------------------------------------------------------------------- 33 4.6 Aspectos éticos e legais ---------------------------------------------------------------------- 33 5 RESULTADOS --------------------------------------------------------------------------------------- 34 6 DISCUSSÃO ----------------------------------------------------------------------------------------- 44 7 CONCLUSÃO ---------------------------------------------------------------------------------------- 59 REFERÊNCIAS ---------------------------------------------------------------------------------------- 61 APÊNDICE ---------------------------------------------------------------------------------------------- 66 APÊNDICE A: Instrumento de coleta de dados -------------------------------------------- 67 APÊNDICE B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) -------------- 69 ANEXOS ------------------------------------------------------------------------------------------------- 72 13 1 INTRODUÇÃO A infecção hospitalar (IH) surgiu com o advento do próprio hospital, tornandose, atualmente, um grande problema de saúde pública mundial, com consequências negativas, tanto para o paciente, como para as instituições de saúde, aumentando a morbidade e a mortalidade entre os pacientes e elevando os custos hospitalares, em grande parte devido à utilização de procedimentos cada vez mais sofisticados, a patogenicidade dos microrganismos e uso inadvertido de antimicrobianos resultando no aparecimento da resistência microbiana a estes medicamentos. No Brasil, a infecção hospitalar é definida pela Portaria nº 2.616 /1998 do Ministério da Saúde como “a infecção adquirida após a admissão do paciente na unidade hospitalar e que se manifesta durante a internação ou após a alta, quando puder ser relacionado com a internação ou procedimentos hospitalares”. Esta Portaria mantém a obrigatoriedade da existência de um programa de controle de infecção hospitalar em todos os hospitais do país (BRASIL, 1998). Existem milhares de espécies de microrganismos encontrados no corpo humano, podendo ser inócuas ou patogênicas. Esses microrganismos ganharam mais importância, atualmente, não só pela capacidade de causar doenças, como também, pela sua capacidade de mutação e recombinação genética responsáveis pelo fenômeno da resistência aos antimicrobianos, encontradas principalmente em locais propícios ao uso constante de medicamentos, capaz de colocar em xeque o desenvolvimento da moderna antibióticoterapia, sendo imprescindível, portanto, conhecê-las para ajudar a tomar decisões quanto ao diagnóstico e ao tratamento adequado, contribuindo para diminuir os índices de morbidade e a mortalidade (SCHAECHTER, et al. 2009). As complicações das infecções hospitalares são decorrentes do desequilíbrio entre os mecanismos de defesa anti-infeccioso do organismo relacionado a uma doença de base e da agressão terapêutica ou diagnóstica e aos patógenos oportunistas que constituem a microbiota residente ou transitória do hospedeiro, portanto todas as complicações locais ou sistêmicas, anatômica ou funcional do organismo humano são potencialmente facilitadoras do surgimento do processo infeccioso (SILVA, et al. 2011). 14 O Centers for Disease Control and Prevention (2010), órgão americano responsável pela prevenção e controle da infecção hospitalar deste país, informou, recentemente, que nos hospitais americanos as infecções hospitalares representam cerca de 1,7 milhões de infecções, sendo que 99.000 mortes são associadas à IH, a cada ano, e 1 em cada 20 ( 5%) pacientes internados nos hospitais dos Estados Unidos adquire IH, gerando gastos que chegam, aproximadamente, entre 26 a 33 bilhões de dólares com cuidados médicos. No Brasil, a magnitude do problema das infecções relacionadas a atenção à saúde não é completamente conhecida, mas em um estudo realizado em 99 hospitais (apesar de ter sido realizado em 1995, continua sendo o mais representativo nacionalmente), revelou uma prevalência de infecção hospitalar de 15,5%, o que corresponde a mais de duas vezes o preconizado pelo Ministério da Saúde, que é de 6%. Além disso, as instituições de saúde pública possuem taxa de prevalência de IH de 18,4%, que se explica, em parte, porque os hospitais públicos normalmente atendem casos de maior complexidade enquanto que os privados são responsáveis por casos mais seletivos e de menor complexidade (PRADE, et al. 1995). No Piauí, esta realidade não é diferente, pois um levantamento realizado no ano de 2006, no Hospital Getúlio Vargas (HGV), referência no atendimento de alta complexidade, que funciona desde a década de 1940 e possui Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), apresentou uma taxa de prevalência de IH de 31,1%, muito acima dos padrões de tolerância preconizado pelo Ministério da Saúde, e que não está distante dos outros cinco hospitais de referência deste Estado com uma prevalência de IH média de 27,9% (MOURA, et al. 2007). Segundo Klevens et al. (2007), os principais sítios de infecções hospitalares em hospitais dos Estados Unidos, no ano de 2002, foram, respectivamente, em números absolutos, as infecções respiratórias, seguidas pelas infecções da corrente sanguínea, infecções do trato urinário, infecção do sítio cirúrgico e, por último, as infecções de outros locais. Nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI’s), concentram-se pacientes clínicos ou cirúrgicos mais graves, necessitando de monitorização e suporte contínuos de suas funções vitais, constituindo-se em lugares propícios para o desenvolvimento de IH, pois estes pacientes são submetidos a procedimentos invasivos, sejam eles para fins terapêuticos ou diagnósticos, além do tempo de permanência deste paciente, uma vez que é um local de atendimento à saúde de alta complexidade, atuando de forma 15 decisiva quando há instabilidade de órgãos e sistemas funcionais com risco de morte (MARTINS, 2006). Mello et al. (2009) relatam que dentre os fatores extrínsecos relacionados a IH o tempo de internação é decisivo, pois quanto mais tempo internado mais exposto fica o paciente à microbiota hospitalar. A realização de procedimentos invasivos também é relevante, já que ao abrirem vias de acesso aos tecidos estéreis do organismo tornam-se porta de entrada para microrganismos, sendo significativos no desenvolvimento destas infecções. A utilização excessiva de antimicrobianos necessários no tratamento do paciente em âmbito hospitalar ou comunitário é, na maioria das vezes, empregada de forma incorreta, pois se usam antimicrobianos de amplo espectro como primeira escolha, sem o devido conhecimento da flora microbiológica e seu perfil de sensibilidade, e submetem-se os pacientes a tratamentos muito prolongados, com isso, acaba levando a uma pressão seletiva, por microrganismo resistente, seja ele bactéria ou fungo, colocando em dúvida a eficácia destes medicamentos e promovendo o surgimento de uma microbiota hospitalar que serão agentes de infecções subsequentes (CAMARGO et al; 2010). Castro et al. (2005), em estudo realizado nas duas UTI’s de um hospital de referência para a alta complexidade do Piauí, no ano de 2005, constataram que ocorreram algumas falhas no uso empírico de antimicrobianos, como a sua prescrição sem o pedido de exame laboratorial para investigação de infecção; preenchimento incompleto do formulário de requisição de cultura; dúvidas sobre o perfil de susceptibilidade antimicrobiana no resultado do antibiograma e, por fim, ausência de alguns resultados de cultura microbiológica, o que dificulta a prática do corpo clínico do hospital. Nessa perspectiva, este trabalho tem como objeto de estudo o perfil microbiológico das infecções hospitalares nas Unidades de Terapia Intensiva em um Hospital de referência para o Estado do Piauí, pois este conhecimento é imprescindível para a tomada de decisão, redução e o controle deste agravo, contribuindo, dessa forma, com a eficiência desta instituição de saúde ao prestar seus serviços à sociedade, que deve ser medida não apenas pela sua taxa de mortalidade ou procedimentos realizados, mas também, pela sua taxa de infecção hospitalar. 16 1.1 Objetivos 1.1.1 Objetivo Geral Investigar as infecções hospitalares das Unidades de Terapia Intensiva (UTI´s) em um hospital público de referência para alta complexidade do Estado do Piauí. 1.1.2 Objetivos Específicos Caracterizar o perfil sociodemográfico dos pacientes com infecção hospitalar das UTI’s; Identificar as principais patologias de base dos pacientes com IH; Determinar o tempo de internação dos pacientes com IH; Estimar a taxa de infecção hospitalar nas UTI’s; Identificar a quantidade de culturas realizadas por paciente com IH; Verificar a distribuição percentual das infecções hospitalares por localização topográfica; Determinar os principais procedimentos invasivos realizados nos pacientes com IH nas UTI’s; Verificar quais são os antibióticos mais utilizados em pacientes com IH; Identificar os principais microrganismos causadores de infecção hospitalar; Descrever o perfil de resistência aos antimicrobianos dos principais microrganismos causadores de infecção hospitalar; Calcular a taxa de letalidade associada à infecção hospitalar. 1.2 Justificativa As Infecções Hospitalares (IH) são complicações relacionadas à assistência à saúde e se constituem numa das principais, se não a principal, causa de morbidade e mortalidade hospitalar, gerando prejuízos aos usuários, à comunidade e ao Estado. 17 Atualmente se constitui um problema de saúde pública mundial devido ao risco cada vez maior da propagação de patógeno para as diversas partes do mundo. O ambiente de UTI, em particular, devido, em grande parte, a realização dos procedimentos invasivos e condições graves de saúde do paciente, torna-se um ambiente propicio para o desenvolvimento de IH, gerando custos adicionais para o hospital, como também, prolongando o tempo de permanência do paciente, o que se torna preocupante devido a pouca disponibilidade de leitos de UTI neste estado. Observa-se, atualmente, um aumento acentuado na resistência bacteriana, devido ao uso inadequado de antibióticos de largo espectro, sem a realização de um diagnóstico preciso do agente etiológico, fato preocupante pelos riscos de danos que muitas vezes leva o paciente ao óbito. Tendo em vista as implicações éticas e legais, tanto para o paciente como para a instituição, relacionadas à temática da infecção hospitalar, faz-se necessária uma constante vigilância do perfil destes agentes microbiológicos, a fim de se manter em níveis toleráveis a ocorrência desses episódios, diminuindo as complicações ao paciente e reduzindo gastos para a instituição. Contudo, uma das principais preocupações é com a qualidade do serviço ao se prestar uma assistência ao paciente, livre de danos e riscos, haja vista que existem casos em que o paciente ao dar entrada no hospital com uma doença de base evolui para o óbito devido uma IH, ao invés de ter êxito no seu tratamento e voltar para o convívio com seus familiares e com a sociedade. Por tanto, este estudo vai demonstrar como ocorre a infecção hospitalar nas unidades de terapia intensiva desta instituição de saúde e desta forma apontar a direção correta para o enfrentamento desta realidade que parece distante da preconizada pelos órgãos governamentais. 18 3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 Conceito de infecção hospitalar A infecção hospitalar é um grave problema de saúde pública mundial representando complicações relacionadas à assistência à saúde. Constitui-se na principal causa de morbidade e mortalidade hospitalar, aumentando o tempo de internação dos pacientes e, com isso, reduz a rotatividade dos leitos, elevando os custos com o paciente, tornando-se num grande desafio a ser enfrentado pelo poder público. A utilização da definição uniforme e criteriosa de infecção hospitalar permite distinguir um episódio de infecção hospitalar ou infecção relacionada à assistência à saúde (IRAS) de um episódio de infecção comunitária que ocorre fora do ambiente hospitalar sem relação com a assistência prestada por profissional de saúde, como também, comparar os dados de um hospital com outro ou agregados em outros bancos de dados. No Brasil, a infecção hospitalar é definida pela Portaria nº 2.616 /1998 do Ministério da Saúde (BRASIL, 1998). Devido à necessidade de ampliação de conceitos para compreensão do fenômeno da infecção hospitalar, foi criado o termo “Infecção relacionada à Assistência à Saúde” (IRAS) em substituição ao termo específico de infecção hospitalar, pois a assistência ambulatorial ou domiciliar do paciente era desprezada em termos de prevenção e controle de infecção consequente à este atendimento, ampliando, dessa forma, o cenário de práticas de saúde e possíveis locais de surgimento dessas intercorrências (PEREIRA et al; 2011). O Centers for Disease Control and Prevention e a National Healthcare Safet Network publicaram um documento com a apresentação das definições e os critérios de diagnósticos de infecção hospitalar para os hospitais norte-americanos, no qual, traz o termo Infecção Relacionada à Assistência à Saúde, ampliando a vigilância para instituições de assistência aguda à saúde, e que serve de parâmetro, também, para os hospitais brasileiros (COLOMBRINI; MARCHOIORI; FIQUEREDO, 2009). De acordo com COUTO et al. (2009), as IRAS são definidas como condições sistêmicas ou localizadas resultantes de reações adversas à presença de agente(s) infeccioso(s) ou sua toxina(s) que não estavam presentes ou em período de incubação 19 à admissão do paciente no ambiente assistencial, sendo que o diagnóstico da presença e localização da infecção é dado pelo conjunto de dados clínicos e laboratoriais colhidos através da observação direta do paciente ou dados do prontuário. 2.2 A importância da infecção no ambiente hospitalar A iniciativa de criação de comissões dedicadas aos problemas relativos à infecção no ambiente hospitalar é norte-americana devido a ocorrência de uma pandemia de infecções causadas por Staphylococcus aureus que atingiu o país nas décadas de 1950 e 1960. Mediante este acontecimento, o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) recomendou que os hospitais praticassem vigilância da ocorrência de infecções no âmbito dos hospitais (STORPIRTIS et a; 2011). O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) criou na década de 1970 o Projeto SENIC “Study on the Efficacy of Nosocomial Infection Control”, que incluiu um inquérito realizado em 1976 de todos os hospitais norte americano para determinar características específicas de vigilância e de controle dos seus programas de infecção hospitalar, sendo realizada uma revisão de mais de 33.900 registros médicos em pacientes selecionados aleatoriamente nos hospitais deste país para determinar a presença de infecção hospitalar. Essas informações contribuíram para realização de rotinas para prevenção e controle de infecção nos hospitais (STORPIRTIS et al., 2011). O Ministério da Saúde (MS) publicou a Portaria 196 em 1983, oficializando a obrigatoriedade da criação de uma comissão de controle de infecção hospitalar em todos os hospitais brasileiros independente de sua natureza mantenedora, dando ênfase à capacitação de recursos (LIMA et al., 2007). Com a publicação da Portaria 930 em 1992, o Ministério da Saúde, entre outros avanços, descentralizava o Programa de Controle de Infecção Hospitalar (PCIH) e defendia a busca ativa de casos. Atualmente, a portaria ministerial 2.616 de 1998, através de seus anexos, regulamenta a atuação da CCIH, como também, o PCIH, a classificação dos casos de Infecção em hospitalar ou comunitária e, por último, da ênfase especial à lavagem das mãos (LIMA et al., 2007). 20 A comissão de controle de infecção hospitalar (CCIH) deve ser formada por um grupo de profissionais da área de saúde, de nível superior, com o objetivo de planejar, elaborar, implementar, manter e avaliar o Programa de Controle de Infecção Hospitalar (PCIH), adequado às necessidades e características de cada unidade hospitalar, sendo a comissão constituída de membros executores e consultores (BRASIL, 1998). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (2010), responsável pela temática das Infecções Hospitalares, desde 1999, recentemente desenvolveu o Sistema Nacional de Informação para o Controle de Infecções em Serviços de Saúde (SINAIS) com o intuito de oferecer aos hospitais brasileiros e gestores de saúde uma ferramenta para aprimoramento das ações de prevenção e controle das infecções relacionadas à assistência à saúde. Os indicadores referentes à IH contribuem para compreender a realidade de uma instituição de saúde e direcionar as ações de controle e prevenção de infecção hospitalar. A tolerância às taxas de infecção nas instituições de saúde tem diminuído constantemente devido à relação da qualidade de assistência prestada ao paciente com a taxa de infecção da instituição. No entanto, o enfrentamento dessa problemática passa necessariamente pela adesão dos profissionais de saúde que por uma gama de motivos, desde baixa percepção do risco à falta de estrutura física, permanecem apáticos frente a este problema de saúde, necessitando, para mudança de atitude, de um programa de educação continuada oferecido pelos serviços de saúde (TIPPLE; SOUSA, 2011). Estudo realizado na Guatemala evidenciou que o custo do tratamento de um paciente com infecção respiratória que faz uso de ventilação mecânica ultrapassa U$ 1.758,00 dólares por paciente, ou seja, um gasto de 2,5 vezes a mais de um paciente sem infecção. O investimento feito para evitar infecção hospitalar deve reduzir esses custos e gerar lucros para o setor saúde e bem-estar para o paciente e reduzir o impacto econômico dessas infecções para o indivíduo e a sociedade, além dos encargos financeiros sobre o sistema de saúde (OPAS, 2007). Estudo realizado na unidade de terapia intensiva de um hospital público de referência para alta complexidade do estado do Ceará evidenciou que os pacientes com infecção hospitalar desta unidade foram submetidos aos seguintes procedimentos invasivos: 95,7% fizeram uso de cateter venoso central; 91,5% fizeram uso do cateter vesical de demora; 29,8% receberam nutrição parenteral; 76,6% dos 21 pacientes foram submetidos a intubação traqueal; 40,4% foram submetidos à traqueostomia e, por último, 93,6% utilizaram ventilação mecânica (MENEZES, et al., 2007). Rodrigues et al. (2009) descrevem que o resultado de seu estudo realizado nas unidade de terapia intensiva de hospital de emergência, constataram que a pneumonia associada à ventilação mecânica determina um maior tempo de permanência do paciente no hospital, como também, está relacionada com um aumento na mortalidade na UTI. 2.3 Principais microrganismos causadores de infecção hospitalar O conhecimento dos microrganismos causadores de infecção hospitalar é uma etapa imprescindível para a tomada de decisão por parte do corpo clínico na condução precisa da prescrição do tratamento adequado para o paciente, pois existem variações entre os tipos de bactérias mais frequentes dentro de um mesmo hospital, ou clínicas deste hospital e mesmo em períodos curtos de tempo no mesmo setor onde são realizados estudos para conhecimento desta microbiota. Para Colombrini, Marchiori e Figueredo (2009) apesar das particularidades de cada instituição hospitalar, de modo geral, os principais microrganismos causadores de infecção hospitalar são as bactérias gram-positivas (Staphylococcus aureos, Staphylococcus coagulase negativa, Enterococcus sp.), seguidas das bactérias gram-negativas (Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Enterobacter sp. e Klebsiela sp.) e, por fim, as leveduras ((Cândidaalbicans, não albicans e leveduras não Cândidas). Menezes et al. (2007) encontraram em estudo realizado na unidade de terapia intensiva de um hospital público de referência para alta complexidade do estado do Ceará, em 2006, os principais microrganismos causadores de infecção, isolados de acordo com as culturas, por sítio infeccioso, sendo que no aspirado traqueal foram encontradas com maior frequência as bactérias Pseudomonas aeruginosa (16%), Klebsiella pneumoniae (15%) e Acinetobacter baumannii (10%); nos cateteres foram Staphylococcus coagulase negativa (25%), Acinetobacter baumannii (25%), Staphylococcus aureus (24%) e Klebsiella pneumoniae (11%); já os microrganismos isolados em amostras de urina foram leveduras (44%) e Klebsiella 22 pneumoniae (16%) e, por último, os isolados do sangue foram Staphylococcus coagulase negativa (41%), Staphylococcus aureus (17%) e Pseudomonas aeruginosa (15%). Segundo Oliveira et al. (2008), em estudo realizado nas UTI’s de um hospital de referência para a alta complexidade do estado do Piauí, no ano de 2006, foram selecionados os microrganismos mais frequentes nas duas UTI’s do referido hospital. Na UTI-I, o microrganismo Klebesiella pneumoniae (45,3%) foi o principal causador de infecções, seguido de outros Bacilo Gram negativo (BGN) (16,6%) e da Pseudomonas aeruginosa (13,5%); na UTI-II, o patógeno mais frequente foi a Klebsiella pneumoniae (49,3%), seguido de outros Bacilo Gram negativo não fermentadores (20,5%). Lucchetti et al. (2005) obtiveram um total de 858 culturas de pacientes sondados crônicos, das quais 78,6% foram consideradas positivas, sendo que os microrganismos mais frequências relacionados de acordo com a incidência foram a Pseudomonas aeruginosa, obtida em 42,77% das amostras do resultado das culturas, sendo o principal agente isolada; em seguida, a bactéria Escherichia coli isolada em 13,14% das amostras e a levedura Candida sp., terceiro agente isolado proveniente de 7,8% das amostras. Lisboa et al. (2007) realizaram estudo em 16 UTI no estado do Rio Grande do Sul, onde os diretores destas instituições foram convidados a participarem de um estudo transversal de prevalência de IH em apenas um dia realizado no ano de 2003. Os agentes microbiológicos foram identificados em 64 pacientes (52% dos pacientes internados) e os germes mais frequentementes isolados foram: Staphylococcus aureus isolado em 43% dos casos, sendo que destes 63% eram cepas resistentes à meticilina (MRSA); Pseudomonas aeruginosa, isolada em 31% dos casos, sendo 6% das cepas multirresistentes, Acinetobacter sp. 22%, Klebsiella sp.17% e, por último, Escherichia coli em 15%. Andrade; Leopoldo, Hass (2007), em trabalho realizado na UTI de um hospital especializado em atendimento de emergências, verificaram que de 68 pacientes com infecção hospitalar eram portadores de bactérias multirresistentes, sendo que 22 (31,9%) tiveram pneumonia, 20 (29,3%) apresentaram septicemia, 16 (24,2%) tiveram infecção urinária e o agente mais frequente nesses episódios de infecção foi o Staphylococcus coagulase-negativa com 25 episódios (36,4%), seguido do 23 Staphylococcus aureus com 13 episódios (19,0%), sendo que a maioria 38 (55,7%) apresentaram resistência à oxacilina. Guilarde et al. (2007) demonstraram que pacientes com bacteremia laboratorialmente confirmada, internados no Hospital das Clínicas do estado de Goiás, no período de 1º de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2001, relataram que as bacteremias secundárias contribuíram com 207 episódios de IH, dos quais 91 (30,9%) foram de origem pulmonar. O microrganismo Staphylococcus aureus e a Pseudomonas aeruginosa foram os microrganismos mais frequentes nas bacteremias de fonte pulmonar, 40,7% e 15,4%, respectivamente. Outras fontes secundárias, de acordo com a frequência, foram: aparelho gastrintestinal 10,5%; trato urinário 8,8%; pele e partes moles 7,1%; sítio cirúrgico 5,4%; aparelho cardiovascular 2,7%; osso/articulação 2,4% e outras fontes 2,4%. Segundo Ferrareze et al. (2007), as unidades de cuidados intensivos que foram avaliadas em um estudo retrospectivamente, as maiores ocorrência de IH foi causada por Pseudomonas aeruginosa, assim, no período, totalizaram-se 68 pacientes com IH por essa bactérias, sendo que do total dos casos de multirresistência 10 (14,7%) estavam associadas a esse microrganismo. Em estudo realizado nas duas UTI’s de um hospital público de referência para a alta complexidade do estado do Piauí, Oliveira (2008) constatou um total de 192 (cento e noventa e duas) culturas positivas referentes a pacientes que desenvolveram infecção hospitalar na UTI-I, sendo que a infecção respiratória (64,0%) foi a mais prevalente, seguida da infecção urinária com 14,6 % e que ocorreram 156 (cento e cinquenta e seis) casos de IH na UTI-II, das quais, 63,4 % foram infecções respiratórias, seguidas por infecção Urinária com 12,1%. Estudo realizado no Instituto de Medicina Integral de Recife, no período de janeiro a maio de 2007, constatou que os microrganismos mais frequentes nas uroculturas realizadas no primeiro dia do procedimento de sondagem vesical de demora, a Klebsiella sp., foi o microrganismo mais prevalente com 47,8%, seguido pela Escherichia coli, 26,1%, e outras bactérias Gram-negativos (17,4%). Nas uroculturas realizadas entre sete e dez dias da sondagem vesical, as espécies bacterianas mais encontradas foram a Klebsiella sp. (44,0%), Escherichia coli (24,0%) e outros Gram-negativos (20,0%) (HINRICHSEN et al., 2009). 24 3.4 Resistência bacteriana e o uso racional de antibióticos A utilização de antimicrobianos em larga escala, seja através de prescrição médica ou automedicação, sem a correta indicação, dosagem inadequada, intervalo de tempo entre as doses irregular e/ou tempo de tratamento reduzido, deram origem ao aparecimento de microrganismos resistentes a múltiplas drogas que se disseminaram para todo o planeta, de forma especial em ambiente hospitalar devido a maior susceptibilidade do paciente e o emprego de antimicrobianos de amplo espectro, mas que podem também ser encontrados na comunidade (TRABASSO, 2010). A disseminação de resistência bacteriana aos antimicrobianos é considerada um problema de saúde pública mundial que vem se agravando no decorrer dos anos, tornando-se uma das maiores epidemias da atualidade. Para a devida atuação dos profissionais de saúde, é necessário o conhecimento de taxas de resistências locais como uma etapa indispensável para o estabelecimento de estratégias particularizadas em relação ao uso racional de antimicrobianos, pois os dados gerados devem ser cuidadosamente analisados (SCHAECHTER et al., 2009). O uso racional de antimicrobianos é uma das metas definidas pela OMS para o século XXI. Portanto, o diagnóstico microbiológico tem um papel crítico nesse desafio, por meio dele, podem-se detectar corretamente o agente etiológico da infecção, como também o teste de sensibilidade antimicrobiana para a determinação dos diversos tipos de resistência bacteriana, tendo em vista o desenvolvimento de medidas direcionadas às necessidades locais para minimizar o problema (TRABASSO, 2010). A capacidade dos microrganismos de produzir resistência aos antimicrobianos é um fenômeno genético relacionado à existência de genes que codificam diferentes mecanismos bioquímicos e que impedem a ação de drogas. Esta resistência pode ser uma característica natural ou intrínseca de determinados grupos de bactérias, o que delimita o espectro de atividade dos antimicrobianos. Além dessa resistência natural, resistência intrínseca, os microrganismos também podem sofrer mutações genéticas, resultando em erros de cópias nas sequências de bases que formam o seu DNA cromossômico e, consequentemente, produzindo células com mutações específicas que ocorre por transferência de genes. Os genes que codificam proteínas envolvidas 25 nos mecanismos de resistência podem estar localizados no cromossomo ou em elementos extracromossômicos, como os plasmídeos e os transposons, que se movimentam com facilidade de uma cepa para outra, de uma espécie para outra, ou mesmo de um gênero a outro (MURRAY; ROSENTAL; PFALLER, 2006). Para Schaechter et al. (2009), o mecanismo de ação dos antimicrobianos determina sua categorização que pode ser: Interferência na síntese da parede celular (β-lactâmicos, glicopeptídeos e carbapenêmicos); inibição da síntese de proteínas (macrolídeos, aminoglicosídeos, lincosamidas, tetraciclinas, oxazolidinona e estreptogramina); interferência na síntese do ácido nucléico (fluorquinolonas e rifampicinas); inibição da síntese do ácido fólico (trimetoprima, sulfametoxazol); fragmentação da estrutura da membrana celular da bactéria (polimixinas e daptomicinas). O mecanismo de ação dos microrganismos para inibir os antimicrobianos pode ser: presença de uma enzima que inativa o agente antimicrobiano; produção de novas enzimas, proteínas ligadoras de penicilinas (PBP), que não são inibidas pelo agente antimicrobiano; mutação no sítio alvo do agente antimicrobiano, que reduz a afinidade pelo antimicrobiano; diminuição da permeabilidade ao agente antimicrobiano; bomba de efluxo ativo do antimicrobiano e outros mecanismos de ação ainda desconhecidos (SCHAECHTER et al., 2009). Recentemente, pôde se observar que dentre as bactérias Gram-negativas, a produção de β-lactamases é o mais importante mecanismo de resistência contra agentes β-lactâmicos. Membros da família da Enterobacteriaceae, comumente, expressam plasmídeos que podem ser transferidos entre diferentes espécies, disseminando resistência aos antibióticos β-lactâmicos (FUCHS; WANNMACHER, 2010). Trabasso (2010) relata que o Staphylococcus aureus conhecido pela sigla em inglês MRSA (Methicillin-resistant Staphylococcus aureus), são microrganismos que ganharam uma distribuição global na década de 1980. Estudos evolucionários demonstram que as cepas hoje conhecidas como MRSA de têm um ancestral comum, que adquiriu o gene de resistência (mecA) de alguma outra espécie bacteriana. Esse gene codifica uma proteína ligadora de penicilina (PBP) de afinidade reduzida, determinando resistência a todos os agentes betalactâmicos. Métodos de tipagem molecular demonstram sua capacidade de disseminar-se através de várias enfermarias do hospital. Os agentes com eficácia preservada são os glicopeptídeos 26 (vancomicina), estreptograminas (quinopristina/dalfopristina) e oxazolidinonas (linezolida). De acordo com Schaechter et al. (2009), os microrganismos produtores de βlactamases representam um problema grave para o paciente devido o aparecimento das betalactamases de espectro-estendido (ESBL), na maioria das vezes, à pressão seletiva sofrida pela utilização indiscriminada de cefalosporinas de segunda e terceira geração, portanto pode ser frequente encontrar patógenos que produzem betalactamases múltiplas e potentes, incluindo as mediadas por plasmídeos tais como ESBL. O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) identificou no primeiro semestre de 2010 cepas, proveniente da Índia, de Klebsiella pneumoniae, Escherichia coli e Enterobacter cloacae que desenvolveram um novo gene identificado como Nova Deli Carbapenemase tipo um (NDM-1) que confere resistência a inúmeros antibióticos e, por isso, foram denominadas de “superbactérias”. Tais características as tornam um grande problema de saúde pública mundial e imprimem a necessidade de vigilância internacional (LOPES, 2010). Conforme Lopes (2010), a bactéria Klebsiella pnemoniae é um exemplo típico da necessidade de vigilância internacional, pois foi constatado que nove anos após o isolamente da primeira Klebsiella pneumoniae resistente aos carbapenêmicos (Kpc) nos Estados Unidos, doze dos quinze países da América Latina detectaram casos desse patógeno em ambiente hospitalar. Santos et al., (2010) relatam que o uso racional de antimicrobianos propõese a oferecer um equilíbrio entre o uso de uma terapia com espectro de ação adequado para o episódio infeccioso e o risco do aparecimento de resistência bacteriana, a custos reduzidos, sendo que no Hospital das Clínicas de Porto Alegre, todas as prescrições de antimicrobianos são avaliadas pelos profissionais da comissão de controle de infecção hospitalar (CCIH) desta instituição em até 24 horas de sua prescrição. Castro et al., (2005) constataram que o percentual de uso empírico de antimicrobianos nas UTI’s de um hospital público de referência para alta complexidade do estado do Piauí é alto e que em 100% dos casos, segundo estudo, o uso empírico foi realizado anteriormente à coleta de material para cultura microbiológica, o que pode interferir nesse resultado e confundir a prática clínica, como também, o uso prolongado de antibióticos e, muitas vezes, associando-se vários deles, que também é um ponto 27 negativo na busca da manutenção da eficácia dessas drogas, uma vez que nessa interação podem-se fazer escolhas terapêuticas equivocadas ou mesmo usar um antibiótico que não tenha efeito na infecção instalada, podendo contribuir para a seleção de microrganismos resistentes. O laboratório de microbiologia é parceiro indispensável para o corpo clínico de uma UTI, não apenas para apontar o responsável por um determinado estado infeccioso, mas indicar, através do monitoramento de populações microbianas, qual perfil dos microrganismos que estão interagindo com o homem, auxiliando a equipe de saúde na definição de quais microrganismos podem ser responsáveis pelo quadro clínico do paciente e propor um tratamento mais adequado (BRASIL, 2004). Carvalho e Gontijo Filho (2008) relatam que os principais microrganismos relacionados como foco infeccioso nas UTI de um hospital universitário são: Staphylococcus coagulase negativo e Staphylococcus aureus, principais agentes de infecções da corrente sanguínea (43,9%), com 60,0% de resistência à oxacilina em ambos os microrganismos. O grupo da Klebsiella-Enterobacter predominou nas Infecções do trato urinário (23,4%), com resistência às cefalosporinas de terceira geração em 58,0% dos casos isolados e Pseudomonas aeruginosa nas pneumonias (42,0%), com 72,0% de resistência ao imipenem. Moura et al., (2007), em pesquisa realizadas nas UTI’s de um hospital público de referência para alta complexidade para o estado do Piauí, observaram que a predominância da sensibilidade do microrganismo Staphylococcus aureus a vancomicina era de (100%), a Pseudomonas sp., à aztreonam (64,77%) e a Klebsiella pneumoniae ao antimicrobiano imipenem (62,2%), sendo que estes microrganismo fazem parte da flora microbiana das duas unidades de terapia intensiva estudadas. Este perfil de sensibilidade demonstra que estas bactérias possuem uma sensibilidade que preocupa caso não seja objeto de vigilância por parte da equipe que compõe a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar deste hospital. Michelim et al., (2005) descreveram que esta situação de resistência do microrganismo aos antimicrobianos é particularmente grave no caso do Staphylococcus epidermidis, um agente etiológico de diversas infecções nosocomiais e que é frequentemente associado com a colonização de cateteres e implantes. Em 98 casos clínicos isolados em uma unidade de terapia intensiva de um hospital público de referência da cidade de Porto Alegre, 82,6% deste microrganismo foram resistentes à gentamicina, 79,6% à eritromicina, 76,5% para sulfametoxazol / 28 trimetoprim, 74,5% à clindamicina, 72,4% à cefalotina e à oxacilina, e 71,4% à ciprofloxacina e todos os isolados foram sensíveis à vancomicina. De acordo com Lima et al. (2007), em estudo realizado para determinar os padrões de susceptibilidade e resistência antimicrobiana, no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, foram obtidas, consecutivamente, no período de setembro de 2004 a agosto de 2005, 191 culturas positivas para Pseudomonas aeruginosa, observados os respectivos percentuais de susceptibilidade: piperacilinatazobactam (66,2%); aztreonam (59,8%); amicacina (59,4%); meropenem (58,2%); imipenem (57,7%); ciprofloxacina (49,7%); gentamicina e cefepima (48,6%); ceftazidima (30%) e cefotaxima (6,8%). Detectou-se elevada prevalência de multirresistência, com 49,7% das cepas resistentes a três antibióticos ou mais e 28% resistentes a seis antibióticos ou mais. As taxas de resistência cruzada entre os betalactâmicos (carbapenêmicos e piperacilina/tazobactam) e os aminoglicosídeos e quinolonas entre 22,9% e 38,1% (fármacos comumente utilizados como adjuvantes no tratamento das infecções graves por Pseudomonas), refletem dificuldade nas opções de associação de antimicrobianos para tratamentos combinados (LIMA et al., 2007). 3.5 A contribuição da enfermagem na prevenção e controle da infecção hospitalar A precursora da enfermagem que descreveu uma série de normas e rotinas da assistência de enfermagem para pacientes em ambiente hospitalar com o objetivo de reduzir as altas taxas de infecção hospitalar foi Florence Nightingale, em 1863. Com a experiência adquirida no atendimento às vítimas da guerra da Criméia, ela pode elaborar princípios fundamentados em bases teóricas que foram aplicados nos hospitais de vários países da Europa (COUTO et al., 2009). A contribuição de Florence Nightingale foi de significativa importância histórica para a redução das taxas de mortalidade hospitalar devido a reorganização dos hospitais ingleses no final do século XIX, através da implantação de medidas para o controle das infecções hospitalares, como os cuidados de higienização, isolamento dos enfermos, atendimento individual, a utilização controlada da dieta e a redução de leitos no mesmo ambiente, instituindo medidas de organização, sistematização do 29 atendimento e treinamento de pessoal, especialmente as práticas higiênico-sanitárias (OLIVEIRA; MARUYAMA, 2008). A portaria publicada pelo ministério da saúde número 2.616 de 1998 que passou a nortear todo o sistema de prevenção e controle de infecção hospitalar no país, dentre outras coisas definiu as atribuições dos membros consultores e executores da comissão de controle de infecção hospitalar, define o papel do enfermeiro e técnico em enfermagem como membro de uma equipe multiprofissional (BRASIL, 1998). Para Couto et al. (2009), os registros realizados pela equipe de enfermagem como o histórico e evolução de enfermagem que inclui o uso de antibiótico, troca de curativos, soroterapia, uso de nutrição parenteral, sondagem vesical de demora, condições do cateter venoso central e periférico, são fontes de dados valiosos para o direcionamento na busca de casos de infecção hospitalar, pois essa atuação determina o diagnóstico correto de 82 à 94% das infecções, gerando uma economia de tempo na detecção destes casos. A equipe de enfermagem, como membro da equipe multiprofissional do hospital e pela suas atribuições legais que lhe competem a profissão, tem um papel de suma importância já que a mesma permanece em contato direto e ininterrupto com o paciente que se faz desde a realização de procedimentos invasivos, passando pelo controle da qualidade de esterilizarão do instrumental hospitalar, elaboração de pareceres e, principalmente, como educador e incentivador das práticas e hábitos condizentes com a prevenção e controle da infecção hospitalar (COUTO et al., 2009). 30 4 METODOLOGIA 4.1 Natureza e tipo de estudo Trata-se de um levantamento epidemiológico, de corte transversal, descritivo, realizado nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI’s) de um hospital de referência para alta complexidade para o estado do Piauí. O Levantamento epidemiológico é uma pesquisa de campo feita em uma determinada área para identificar os problemas de saúde de uma população de um determinado local, sendo que através deste estudo é possível propor um plano de intervenção adequado e eficaz diretamente voltado para resolver os problemas diagnosticados no levantamento epidemiológico realizado (MEDRONHO, 2008). Segundo Köcher (2009), os estudos descritivos têm como objetivo informar sobre a distribuição de um evento, na população, em termos quantitativos. Eles podem ser de incidência ou prevalência, sendo utilizados para alcançar dois objetivos principais: (1) identificar grupos de risco, o que informa sobre as necessidades e as características dos segmentos que poderiam beneficiar-se de alguma forma de medida saneadora e (2) sugerir explicações para as variações de frequência, o que serve de base ao prosseguimento de pesquisas sobre o assunto, através de estudos analíticos. 4.2 Local do estudo O estudo foi realizado nas duas unidades de terapia intensiva do Hospital Getúlio Vargas (HGV), denominadas de UTI-1 e UTI-2 sendo que as UTI’s possuem um total de 15 leitos, divididos em UTI-1 com 8 (oito) leitos e UTI-2 com 7 (sete) leitos, e possuem uma média de internação de 73,5 (setenta e três e meio) pacientes por mês. Na sua maioria, internam pacientes com problemas neurológicos e em pósoperatório de grandes cirurgias, sendo que 1 leito de cada unidade é destinado para pacientes em isolamento. O Hospital Getúlio Vargas (HGV), localizado na cidade de Teresina, capital do estado do Piauí, foi escolhido por se tratar de em hospital público, geral, de grande porte, de ensino e referência para a alta complexidade para o estado do Piauí, 31 atendendo pacientes procedentes de todo o estado como também pacientes dos estados vizinhos como Maranhão, Tocantins, Pará e Ceará. O Hospital Getúlio Vargas oferece serviços de atendimento em diversas especialidades, tanto ambulatorial como hospitalar, e dispõe de 427 (quatrocentos e vinte e sete) leitos, distribuídos em 04 (serviços) e 11 clínicas especializadas. Também conta com uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) com membros consultores e executores que realizam busca ativa de casos de infecção hospitalar. 4.3 População e amostra A população do estudo foi constituída de 441 (quatrocentos e quarenta e um) pacientes que foram internados nas UTI’s 1 e 2 do HGV. A amostragem foi constituída por 76 (setenta e seis) pacientes que desenvolveram infecção hospitalar, no decorrer do estudo, sendo que a medida, que foram diagnosticados, conforme critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde eram incluídos no estudo, apresentando um total de 106 episódios de infecção de infecção hospitalar. Foram considerados como critérios de inclusão os pacientes internados nas UTI’s e que apresentaram sinais sugestivos de infecção hospitalar com resultado positivo de cultura, sendo acompanhados desde a admissão até a alta desta unidade, por meio da visita do pesquisador, realizada diariamente, para avaliar os resultados positivos de cultura e teste de sensibilidade antimicrobiana e outras informações contidas no prontuário. Os casos que não tiveram resultados de cultura positiva foram excluídos. 4.4 Coleta de dados Os dados foram coletados diariamente de prontuários dos pacientes com diagnóstico de infecção hospitalar no período de janeiro a junho de 2011 nas UTI’s, pelo próprio pesquisador. A identificação do microrganismo foi realizada por meio do resultado do exame de cultura representativa da respectiva topografia da infecção e a avaliação do perfil de sensibilidade dos microrganismos pelo teste de sensibilidade antimicrobiana (TSA), previamente solicitada pelo profissional médico das UTI’s realizado pelo laboratório de microbiologia conveniado ao hospital, já que este serviço é terceirizado. 32 O restante dos dados, como a identificação do serviço, número do prontuário, idade, sexo, doença subjacente, tempo de internação, topografia da IH, tipo de antimicrobianos utilizados foram coletados do prontuário sem a necessidade de aguardar o resultado dos exames laboratoriais. O diagnóstico microbiológico que é realizado pelo exame de cultura depende do crescimento dos microrganismos nos meios de cultura e da identificação por meio de provas bioquímicas. A representatividade da amostra clínica em relação ao processo infeccioso em investigação depende das condições de coleta e transporte e da compreensão da fisiopatologia das infecções (BRASIL, 2004). Para a realização do teste de sensibilidade antimicrobiana, a metodologia utilizada é padronizada por vários comitês internacionais, cada um refletindo as características das cepas estudadas nos seus respectivos países de origem. No caso dos laboratórios do Brasil, estes adotam, como referência para realização deste teste, o Nacional Committee for Clinical Laboratory Standart (NCCLS), que descreve duas técnicas para realização de testes de sensibilidade antimicrobianas: metodologia qualitativa e a quantitativa, que determina a concentração inibitória mínima (KIRBY et al., 1966). Rossi e Andreazzi (2005) descrevem que a metodologia implementada por Kirby e Bauer, desde 1966, para o teste de sensibilidade antimicrobiana (TSA) consiste em um inóculo padronizado da bactéria (escala 0,5 McFarland) que é colocado sobre a superfície de uma placa de meio de cultivo de Agar Mueller Hinton, onde, posteriormente, são aplicados os discos de papel de filtro contendo os agentes antimicrobianos a serem testados. Após período de incubação requerido, à temperatura de 35°C, as zonas de inibição do crescimento bacteriano ao redor dos discos são medidas e comparadas com a tabela do CLSI. Através da leitura (diâmetro em milímetros do halo de inibição), o microrganismo é categorizado como “sensível”, “intermediário” ou” resistente”. Para realização da coleta de dados, o instrumento utilizado foi um formulário estruturado (APENDICE A) que de acordo com Marcone e Lakatos (2010) é um instrumento essencial para a investigação, destinado à coleta de dados, resultantes da observação ou interrogatório, onde o preenchimento é feito pelo próprio autor obedecendo a um roteiro previamente elaborado. 33 4.5 Análise de dados Os dados foram digitados no programa Excel 2010 e exportados para o aplicativo Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 18.0, no qual, foram realizadas as análises estatísticas. Para observar a normalidade da distribuição das variáveis numéricas do estudo foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov. Com a comprovação da normalidade das variáveis, aplicou-se o teste t de student para observar a diferença entre os achados na UTI 1 e UTI2. Para auxiliar na organização estatística dos dados, os resultados das análises foram expostos em tabelas e gráficos e a discussão foi feita com base na literatura produzida sobre o tema. A significância estatística foi fixada em p valor <0,05, com Intervalo de Confiança de 95%. 4.6 Aspectos éticos e legais Mesmo se tratando de coleta de dados realizada diretamente do prontuário do paciente, foi elaborado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) como exigência do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFPI e do referido Hospital, que foi assinado pelos familiares dos pacientes sobre a participação dos mesmos na pesquisa (APENDICE B). O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFPI, processo nº 0327.0.045.000-10 (ANEXO A), mediante a autorização da Direção do referido Hospital (ANEXO B) para coleta de dados sendo garantida a confidencialidade, a privacidade, a proteção da imagem, a não estigmatização e a não utilização de informações em prejuízo das pessoas, conforme os princípios norteadores dispostos na Resolução nº 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996). 34 5 RESULTADOS As unidades de terapia intensiva (UTI), pela sua própria característica de atendimento de pacientes graves, têm como objetivos (1) prover um suporte de vida para estes pacientes que em sua maioria apresenta falência de órgão e sistemas (2) monitorização continua e invasiva para diagnóstico e tratamento, somando-se, também, realização de cirurgias complexas, uso de drogas imunossupressoras, uso de antimicrobianos de amplo espectro e a realização de procedimentos invasivos, tornam-se local mais propício para o desenvolvimento de infecção no ambiente hospitalar (COUTO et al., 2009). As duas unidades de terapia intensiva avaliadas neste estudo são direcionadas para o público adulto e idoso, no entanto foi constatada a presença de adolescentes, o que ficou evidente na Tabela 1. Tabela 1: Perfil sociodemográfico dos pacientes internados com resultado de cultura positivo nas UTI 1 e UTI 2. Teresina-PI, 2011. Faixa etária n % 14 a 20 06 7,9 21 a 40 23 30,3 41 a 59 26 34,2 60 a 88 21 27,6 Masculino 43 56,6 Feminino 33 43,4 Do lar 20 26,3 Lavrador 15 19,7 Autônomo 14 18,4 Aposentado 13 17,1 Outros 14 18,4 Teresina 32 42,1 Interior do Piauí 41 53,9 Outros estados 03 3,9 Sexo Ocupação Procedência Fonte: Prontuários dos pacientes internados nas UTI’s do HGV. 35 Pode-se constatar, na tabela 1, que a faixa etária predominante é a adulta, o adulto jovem n=23(30,3) com idade entre 21 e 40 anos e adulto com idade entre 41 e 60 n=26(34,2%), e em menor quantidade os adolescentes n=6 (7,9%). A média de idade encontrada é de 48,3 anos e idades mínimas e máximas entre 14-88 anos. O sexo predominante é o masculino (56%) (tabela 1). O tipo de ocupação mais frequente foi do lar (26,3 %), atividade desenvolvida predominantemente por mulheres, seguida por lavrador (19,7%). Quanto à procedência destes pacientes (tabela 1), a maioria reside no interior do estado 41(53,9%), seguida por pacientes de Teresina 32 (42,1%), no entanto, pôde-se observar pacientes procedentes de outros estados. Tabela 2: Distribuição dos pacientes internados com resultado de cultura positivo segundo a causa da internação nas UTI 1 e UTI 2. Teresina-PI, 2011. Causas da internação n % TCE/ Politraumatismo 20 26,3 Clipagem de aneurisma 16 21,6 Insuficiência respiratória 12 15,8 Ressecção de Tumor cerebral 11 14,5 IAM/ ICC 07 9,2 Neuropatia- Guillain-Barré/ epilepsia 05 6,6 Distúrbios intestinais 03 3,9 Insuficiência renal 01 1,3 Intoxicação medicamentosa 01 1,3 Total 76 100 Fonte: Prontuários dos pacientes internados nas UTI’s do HGV. Conforme a tabela 2, a principal causa da internação encontrado no estudo foi traumatismo crânio encefálico (TCE)/ politraumatismo com n=20 (26,3%), seguida de clipagem de aneurisma com n=16(21,6%), logo depois, ressecção de tumor cerebral n= 11(14,5%) e neuropatia de Guillain-Barré e epilepsia n= 05 (6,6%) que foram somadas devido alteração específica do sistema nervoso central, sendo que juntos representam 52 casos (69,0%), o que demonstra a importância das patologias que afetam o sistema nervoso. 36 O diagnóstico médico de insuficiência respiratória (tabela 2) foi encontrado como causa de internação em 12 pacientes (15,8%), que demandam de um suporte ventilatório mecânico, dessa forma o paciente fica mais exposto à penetração de microrganismo no trato respiratório inferior. Os problemas cardíacos, infarto agudo do miocárdio e insuficiência cardíaca congestiva representaram n=07 (9,2%), sendo apenas o quinto diagnóstico médico mais frequente em pacientes com infecção hospitalar nas UTI’s em estudo, provavelmente, devido estas UTI’s não serem referência no atendimento desse tipo de patologia. Tabela 3: Tempo de internação em dias dos pacientes internados com resultado de cultura positivo nas UTI 1 e UTI 2. Teresina-PI, 2011. Dias de internação = 20,6 IC 95%= 17,7- 23,6 ± = 12,9 Min e Max = 05 -55 n % 05 a 14 36 47,4 15 a 30 24 31,6 31 a 55 16 21,1 Fonte: Prontuários dos pacientes internados nas UTI’s do HGV. Analisando a Tabela 3, evidencia-se que a predominância de dias de internação dos pacientes com infecção hospitalar foi de 05 a 14 dias n=36 (47,4%), seguido pelo intervalo de tempo de 15 a 30 dias n=24 (31,6%), logo após o intervalo entre 31-55 dias com n=16 (21,1). A variação de tempo mínima e máxima foi entre 5 e 55 dias, com uma média de 20,6 dias e IC 95% = 17,7- 23,6. As taxas de infecção hospitalar nas UTI’s em estudo, conforme tabela 4 abaixo, foram 64,1% e 18,9% respectivamente nas UTI’s 1 e 2, sendo que a UTI 1 obteve 59 resultados de culturas positiva, enquanto que a UTI 2 teve 47 culturas positivas. 37 Tabela 4: Taxa de infecção hospitalar nas UTI 1 e UTI 2, segundo os meses de ocorrência. Teresina, 2011. SETOR UTI 1 TOTAL UTI 2 Mês = 9,8 ±= 4,2 = 7,8 P n % Janeiro 32 15 Fevereiro 29 Março ±= 3,3 P n % P n % 46,9 43 11 25,6 75 26 34,7 8 27,6 46 5 10,9 75 13 17,3 29 13 44,8 47 6 12,8 76 19 25,0 Abril 30 12 40,0 48 4 8,3 78 16 20,5 Maio 36 4 11,1 34 12 35,3 70 16 22,8 Junho 36 7 19,4 31 9 29,0 67 16 23,9 Total 192 59 64,1 249 47 18,9 441 106 24,0 Fonte: Secretaria das UTI’s do HGV. Legenda: P= número de pacientes internados; n= número culturas positivas e % = Taxa de IH. A taxa geral de Infecção hospital nas duas UTI’s (tabela 4), nos primeiros seis meses do ano de 2011, foi de 24,0%, com 106 resultados de cultura positivo, sendo que a maior taxa de IH foi no mês de janeiro 34,7%, com 26 resultados de cultura positivos, seguido pelo mês de março com uma taxa de IH 25,0%, com 19 resultados de cultura positivos e, no mês de fevereiro, ocorreu a menor taxa de IH 17,3%, com 13 resultados de cultura positivos. Na UTI 1, o mês de maio foi o que mais contribuiu com esta taxa de infecção, com 12 culturas positivas e uma taxa de infecção hospitalar de 35,3%, seguido pelo mês de junho, com 9 culturas e uma taxa de IH de 29,0%. O mês de janeiro apresentou 11 culturas e uma taxa de 25,6%, tendo o mês de abril à menor taxa com 04 culturas positivas e uma taxa de IH de 8,3% (tabela 4). Na UTI 2, o mês de maio obteve a maior taxa de infecção com 12 culturas positivas e uma taxa de infecção hospitalar de 35,3%, seguido pelo mês de junho, com 9 culturas positivas e uma taxa de infecção hospitalar de 29,0 %, o mês de janeiro 38 apresentou 11 culturas positivas e em taxa de IH de 25,6%, sendo que no mês abril obteve-se a menor taxa com 04 culturas positivas e uma taxa de IH de 8,3% (tabela 4). Tabela 5: Distribuição do número de culturas positivas realizadas pelos pacientes internados nas UTI 1 e UTI 2. Teresina-PI, 2011. Quantidade n % Uma 56 73,7 Duas 14 18,4 Três ou mais 06 7,9 Total 106 100 Fonte: Prontuários dos pacientes internados nas UTI’s do HGV. Na tabela 5, observa-se que a maioria dos pacientes n=56 (73,7%) com resultado de cultura positivo, tiveram apenas uma cultura positiva, logo após com um total de n=14 (18,4) pacientes tiveram dois resultados positivos, em seguida n=6 (7,9%) pacientes tiveram três ou mais resultados positivos de cultura. Tabela 6: Distribuição de episódios de infecção segundo a topografia nas UTI 1 e UTI 2. Teresina-PI, 2011. Setor Topografia UTI 1 Total UTI 2 n % n % Respiratória 39 66,1 24 51,1 63 59,4 Urinaria 14 23,7 11 23,4 25 23,6 Sanguínea 03 5,1 05 10,7 08 7,5 Ferida operatória 01 1,7 03 6,4 04 3,8 Liquido cefalorraquidiano 02 3,4 02 4,2 04 3,8 Inserção da ponta de cateter - - 02 4,2 02 1,9 59 55,7 47 44,3 106 100 TOTAL n % 39 Fonte: Prontuários dos pacientes internados nas UTI’s do HGV. Observando a tabela 6 que descreve a distribuição topográfica das infecções hospitalares, a principal topografia das infecções hospitalares nas UTI’s em estudo são a respiratória 63 casos (59,4%), sendo a urinária a segunda em frequência respondendo com 25 casos (23,6%), a sanguínea com 8 casos (7,5%), ferida operatória e líquido cefalorraquidiano ambas com 4 casos (3,8%) e em menor magnitude a ponta de cateter com 2 casos (1,9%). Gráfico 1: Distribuição dos tipos de procedimentos invasivos realizados nos pacientes internados com resultado de cultura positiva nas UTI 1 e UTI 2. Teresina-PI, 2011. 100% 85,5% 73,7% 55,3% 32,9% 26,3% 7,9% 1,3% Fonte: Prontuários dos pacientes internados nas UTI’s do HGV. (*) Respostas múltiplas Analisando o gráfico 1, por possuir respostas múltiplas, pode ocorrer de um mesmo paciente ser submetido a mais de um procedimento simultaneamente, fato que ocorre em praticamente todos os pacientes de UTI. Pode-se constatar que a sondagem vesical de demora (SVD) foi realizada em todos os pacientes n=76 (100%) com resultado de cultura positiva nas duas UTI’s. Este procedimento é fator de risco para o aparecimento de infecção do trato urinário, seguido pela sondagem nasogástrica (SNG) realizada em 65 pacientes (85,5%). O acesso venoso central (AVC) realizado em 56 pacientes (73,7%), que somado a realização do acesso venoso 40 periférico (AVP), 20 pacientes (26,3%), representam, somados, os 76 pacientes (100%), no entanto, foi apenas a terceira topografia, representando 7,5% dos casos, pois estes dois procedimentos AVC e AVP são fatores de risco de infecção da corrente sanguínea. Ainda analisando o gráfico 1, pode-se constatar, também, que a traqueostomia foi realizada em 42 pacientes (55,3%) e entubação orotraqueal realizada em 25 pacientes (32,9%). Quando somados estes dois procedimentos, os pacientes que foram submetidos a ele, chegam-se ao número de 67 pacientes (68,1%), o que corrobora com os dados obtidos na tabela 6, onde a infecção respiratória foi a mais frequente. Tabela 7: Distribuição dos microrganismo causadores de infecção hospitalar nas UTI 1 e UTI 2. Teresina-PI, 2011. Setor Microrganismo UTI 1 TOTAL UTI 2 n % n % Pseudomonas sp. 07 Pseudomonas aeruginosa 11,7 09 19,1 16 15,1 16 27,1 12 25,5 28 26,4 Klebsiella sp. 18 30,6 08 17,0 26 24,5 Staphylococcus aureus 08 13,6 10 21,4 18 16,9 Escherechia coli 06 10,2 05 10,6 11 10,5 Outros Bacilos Gram negativo não fermentadores 03 5,1 02 4,3 05 4,8 Proteus mirabilis 01 1,7 - - 01 0,9 - - 01 2,1 01 0,9 59 55,7 47 44,3 106 100 Alcaligenes sp. TOTAL n % Fonte: Prontuários dos pacientes internados nas UTI’s do HGV Os microrganismos mais frequentes nos episódios de infecção hospitalar nas UTI’s, conforme a tabela 7, foi em maior frequência a Pseudomonas aeruginosa, com 28 isolados (26,4%), seguida da Klebisiela sp., com 26 isolados (24,5%), logo após o 41 Staphylococcus aureus, com 18 isolados (16,9%), em menor frequência aparece a Pseudomonas sp., com 16 e isolado (15,1%), a bactéria Escherechia coli representou 11 episódios (10,5%); por último, apareceram o outros bacilos Gram negativo não fermentador, Proteus mirabilis e Alcaligenes sp., respectivamente com 3 (4,8%);1(0,9%) e 1(0,9%) episódios. Sendo que o microrganismo Proteus mirabilis somente foi encontrado na UTI 1 e o Alcaligenes sp. foi encontrado somente na UTI 2. Gráfico 2: Distribuição dos antimicrobianos mais utilizados nos pacientes com resultado de cultura positivo nas UTI 1 e UTI 2.Teresina-PI, 2011. 5,3% 6,6% 7,9% 9,2% 9,2% 9,2% 10,5% 13,2% 14,5% 39,5% 46,1% 47,4% 15,6% Fonte: Prontuários dos pacientes internados nas UTI’s do HGV. (*) Múltipla resposta. O gráfico 2 aponta os antimicrobianos mais utilizados na UTI’s, sendo o imipenen como o antimicrobiano mais utilizado, estando em 47,4% das prescrições médicas realizadas, seguido pelo Ciprofloxacina, com 46,1%, ceftazidima 39,5% e Cefepime, com 14,5%; em menor frequência de prescrições, aparecem gentamicina, com 13,2%, vancomicina, presente em 10,5%. 42 Tabela 8: Perfil de resistência aos antimicrobianos dos microrganismos isolados nas UTI 1 e UTI 2. Teresina-PI, 2011. Microrganismos Resistência Staphylococcus aureus Klebsiela sp. Pseudomonas sp. Pseudomonas aeruginosa n(%) Cefepime 05(27,8) 16(61,5) 8(50) 13(46,4) Ceftazidima 1(5,6) 19(73,1) 9(56,3) 16(57,1) Ciprofloxacina 6(33,3) 12(46,2) 6(37,5) 9(32,1) Gentamicina 5(27,8) 11(43,2) 7(43,7 16(57,1) Imipenen 1(5,6) 1(3,8) 2(12,5) 11(39,3) Cefalotina 6(33,3) 14(53,8) 5(31,2) 6(21,4) Tetraciclina 6(33,3) 0(0) 0(0) 1(3,6) Penicilina 9(50) 0(0) 0(0) 1(3,6) Oxacilina 8(44,4) 0(0) 0(0) 0(0) Aztreonam 1(5,6) 15(57,7) 6(37,5) 14(50) Fonte: Prontuários dos pacientes internados nas UTI’s do HGV. Como pode ser observado na tabela 8, a Pseudomonas sp. possui uma resistência para o antimicrobiano cefepime de 31,3%. Para Staphylococcus aureus, essa resistência é de 27,8%, fato preocupante por ser um medicamento de escolha, no limitado arsenal, contra microrganismos causadores de infecção hospitalar. A Klebsiela sp; Pseudomonas sp. e Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa apresentaram resistência de 42,3%, 37,5%, 33,3% e 32,1%, respectivamente, para o antimicrobiano Ceftazidima utilizados nas UTI’s em estudo (tabela 8), sendo portanto, uma preocupação para o corpo clínico desta instituição quanto ao uso deste fármaco devido o aparecimento desta resistência. Os microrganismos Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Pseudomonas sp. e Klebsiela sp. apresentaram uma resistência para o antimicrobiano ciprofloxacina (tabela 8) de 61,1%, 57,1%, 50,0% e 26,9%, respectivamente. São considerados percentuais altos de resistência para este medicamento já que dos quatro microrganismos estudados três possuem uma resistência igual ou maior de 50%. 43 Tabela 9: Taxa de letalidade por infecção hospitalar nas UTI I e UTI II. Teresina-PI, 2011. SETOR Mês TOTAL UTI 1 TOTAL UTI 2 P n % P n 43 09 20,9 33 04 % 12,1 P 76 n 13 % 17,1 Fonte: Prontuários dos pacientes internados nas UTI’s do HGV. As infecções hospitalares foram responsáveis por 20,9% dos óbitos ocorridos na UTI 1 e 12,1% na UTI 2 (tabela 9). Perfazendo um total de 13 óbitos relacionados com infecção hospitalar com uma taxa de 17,1%. 44 6 DISCUSSÃO As infecções hospitalares não só elevam as taxas de morbimortalidade, como também, ampliam o tempo de permanência dos pacientes nos hospitais, com o consequente aumento do custo do tratamento e uma maior utilização dos leitos hospitalares. Devido ao alto nível de tecnologia empregado nas UTI, temos como consequência o prolongamento da sobrevida do paciente, mesmo os que se encontram em situações adversas. No entanto, contamos com o ônus do risco de IH. Nesse contexto, a UTI constitui um importante foco de atenção relacionada às práticas assistenciais por representar, em média de 20 a 30% de todas as infecções notificadas no âmbito hospitalar (PATRÍCIO, 2008). No estudo, encontraram-se pacientes internados na faixa etária predominantemente adulta n=26(34,2%), com idade entre 41 e 59 anos, sendo que a média de idade encontrada foi de 48,3 anos e idades mínima e máxima entre 14-88 anos. Os dados se aproximam aos encontrados por Oliveira et al. (2009) que relatam uma média de idade de 58 anos, com mediana de 61,5 anos, apresentando variação de idade entre 12 e 89 anos, em estudo realizado nas UTI’s de um hospital universitário, que se aproxima da realidade encontrada neste estudo. Quanto ao sexo, o masculino representou 43 casos (56,6%). Patrício (2008), realizando avaliação das infecções hospitalares em dois hospitais da cidade de Fortaleza, encontrou 1488 pacientes com diagnóstico de IH, sendo que o sexo masculino representou 51,4% dos casos. A procedência foi, na sua maioria, do interior do Estado, n= 41 (53,9%), que reflete a forma de organização do sistema de saúde do Estado, evidenciando a necessidade de organização desse tipo de assistência à saúde nas macrorregiões que carecem de leitos de unidade de terapia intensiva, sendo necessário o encaminhamento destes para a capital, provocando uma demanda excessiva nos hospitais com sede na capital, dificultando o acesso a este tipo de atendimento de alta complexidade. A distribuição das patologias de base dos pacientes das UTI (tabela 2) em estudo foi mais frequente para traumatismo crânio encefálico (TCE)/ politraumatismo, com 20 casos (26,3%). Conforme Couto et al. (2009), os pacientes politraumatizados 45 apresentam um estado hipermetabólico, o que gera uma deficiência nutricional que acarreta numa redução da função imunológica, além do traumatismo em si que gera a necessidade de colocação de drenos cirúrgicos, soroterapia, sondagem vesical e endotraqueal que facilitam a invasão microbiológica O diagnóstico médico de insuficiência respiratória (tabela 2) foi encontrado como causa de internação em 12 pacientes (15,8%), que demandam de um suporte ventilatório mecânico, expondo, dessa forma, o paciente à penetração de microrganismo no trato respiratório inferior. Nos dados encontrados por Patrício (2008), a Pneumonia foi a doença de base predominante, com 150 casos (21,0%) dos pacientes em estudo. Os problemas cardíacos, infarto agudo do miocárdio e insuficiência cardíaca congestiva, representaram sete casos (9,2%) (tabela 2), sendo apenas o quinto diagnóstico médico mais frequente em pacientes com infecção hospitalar nas UTI’s em estudo, provavelmente, devido estas UTI’s não serem referência no atendimento desse tipo de patologia. Dados divergentes foram encontrados por Patrício (2008) em que a hipertensão arterial sistêmica com 112 casos (15,7%) e acidente vascular cerebral com 79 casos (11%), foram, respectivamente, a segunda e terceira patologia de base mais frequente nos pacientes internados nas UTI. Sabendo que a variável tempo de internação está diretamente relacionada com a vulnerabilidade de o paciente estar exposto a microbiota hospitalar, percebese que a permanência foi alta, com um tempo de internação nas UTI de 05 a 14 dias, que representou 36 casos (47,4%), e 15 a 30 dias, 24 casos (31,6%), tendo uma variação de tempo mínima e máxima entre 5 e 55 dias, com uma média de 20,6 dias e IC 95% = 17,7- 23,6. Carneiro et al. (2011) apontam no seu estudo com 846 prontuários que o tempo médio de permanência média hospitalar foi de cinco dias (+ 2,1 dias) e em pacientes com uso de antimicrobianos essa média sobe para dez (+ 3,2) dias, o que gera mais gasto com o paciente e ocupação de leitos por mais tempo, em um Estado que tem carência de leitos de UTI. Ferrareze et al. (2007) constataram nas unidades de terapia intensiva de um hospital de emergência, no período de junho de 2003 a junho de 2004, que quanto ao tempo de internação hospitalar, obteve-se um período mínimo de internação de 27 dias e no máximo 188 dias, com média de 82,8, e desvio padrão de 48,9. O período que permaneceram na unidade de terapia intensiva variou de 19 a 91 dias, com média de 43,7 e desvio padrão de 25,04. Dos pacientes avaliados neste estudo, três 46 apresentaram reinternação na unidade de terapia intensiva, sete foram à óbito e três tiveram alta hospitalar. Em pacientes críticos como os internados na UTI existe uma série de associações de fatores propícios para o surgimento de IH, dentre esses se destaca a gravidade dos pacientes, ou seja, apresentam instabilidade de um ou mais dos seus sistemas orgânicos. Esses pacientes possuem risco iminente de vida ou são portadores de doenças de base severas, que os fazem viver frequentemente à custa de medidas adicionais de suporte, muitas das quais com a quebra de barreiras de defesa orgânica, proveniente de cateteres, entre outros (LIMA et al., 2007). As taxas de infecção hospitalar nas UTI’s em estudo foram, ao final dos seis primeiros meses do ano de 2011, no total de 64,1% e 18,9 %, respectivamente, nas UTI’s 1 e 2 (Tabela 4). Essas taxas foram mais altas na UTI 1 nos meses de janeiro 46,9% e março 44,8% e na UTI 2 estas taxas foram mais altas nos meses de maio 35,3% e junho com 29%. Acima da taxa máxima de tolerância preconizado pela Organização Mundial de Saúde que é de 2% para o hospital como um todo e de 9 a 20 % para as UTI. Já o Ministério da Saúde preconiza taxas menores que 6 % de IH para todo o hospital (PATRÍCIO, 2008). No estudo realizado nas UTI’s do mesmo hospital em estudo, Moura et al. (2007) encontraram, no ano de 2006, uma taxa de IH, de 60,8%, sendo que a UTI-1 responsável pelo maior taxa de infecção, com uma taxa de 64%, enquanto a UTI-2 teve uma taxa de 57,6%, que demonstra que na UTI 1 essa taxa continua praticamente a mesma. Já na UTI 2 houve uma queda significativa de 68,5%, em comparação com as taxas deste estudo, apesar das normas e rotinas destas unidades serem as mesmas existe uma disparidade entre essas taxas, que evidencia que a realidade vivenciada por aquela instituição de saúde e a necessidade de medidas objetivas para o enfrentamento desta temática. Patrício (2008) descreve que em três anos de estudo em duas instituições foram encontradas as taxas de IH de 37% ao ano no Hospital César Cals e de 52% no Hospital Geral de Fortaleza (HGF). No entanto, no HGF alguns dados de internamento na UTI foram perdidos durante o ano de 2006. O número de cultura positivos associados com as doenças de bases e procedimentos realizados expõem o paciente ao risco iminente de uma complicação relacionada com sua estadia no ambiente hospitalar, como também, é responsável por um maior tempo de internação, utilização de antibióticoterapia por maior tempo, o 47 que gera mais gastos para o Estado e diminui a oferta de leitos de UTI. Neste estudo foi possível constatar que 56 pacientes (73,7%) apresentaram apenas um episódio de infecção hospitalar (tabela 5). Quando se analisa as topografias mais frequentes no episódio de infecção hospitalar, observa-se que neste estudo a respiratória representa 63 casos (59,4%), sendo a urinária a segunda em frequência, respondendo com 25 casos (23,6%), e a sanguínea com 8 casos (7,5) (tabela 6). Carvalho (2004) descreve nas UTI’s do presente estudo que as infecções hospitalares respiratórias foram as mais frequentes no período de agosto a dezembro de 2003, registrando-se um percentual de 72,1% dos casos de infecção respiratórias notificadas comparadas com os outros casos de Infecção hospitalar para os quais se obteve um percentual de 27,9%. Moura et al. (2007), ao realizarem um levantamento das principais topografias das infecções hospitalares nas duas UTI´s em estudo hospital, no ano de 2006, constataram que a topografia respiratória foi a mais frequente, com 237 casos (60,1%), seguida pela topografia sistêmica ou sanguínea, com 70 casos, logo após aparece a urinária como a terceira topografia mais frequente, com 64 casos (16,2%). Demonstrando que a topografia respiratória (tabela 6) continua sendo importante para o aparecimento da infecção hospitalar. Em estudo realizado por Silva et al.(2011), a infecção do trato respiratório inferior é a mais importante causa de morbimortalidade nas unidades de terapia intensiva, sendo também as que possuem o maior número de casos. Esta afirmativa está de acordo com os achados dessa pesquisa que colocam a infecção do trato respiratório como a mais frequente, tendo mais do dobro de casos em relação à infecção do trato urinário. De acordo com Ferreira e Lara (2010), entre as infecções hospitalares, a pneumonia hospitalar é uma das mais importantes causas de óbito, sendo que estudos multicêntricos realizados na Europa apontaram para a mesma realidade, como também, nos Estados Unidos, onde as taxas de mortalidade chegam a 60%. Para Couto et al. (2009), este tipo de infecção ocorre por aspiração repetida de pequenos volumes de secreções das vias aéreas superiores, broncoaspiração de conteúdo gástrico, disseminação hematogênica de um foco à distância ou contaminação devida a instrumentalização respiratória. As infecções hospitalares do trato urinário são pouco valorizadas quanto ao potencial de complicação para o paciente, contudo, podem desencadear abscessos 48 renais e perinefréticos, uretrite, epididimite, infecções de glândula periuretral e bacteremia, aumentando, dessa forma, a morbidade, tempo de internação e os custos hospitalares (COUTO et al., 2009). A sondagem vesical de demora foi realizada em todos os pacientes com resultado de cultura positiva nas duas UTI’s em estudo, com n=76 (100%), que apesar de realizada em todos os pacientes foi a segunda causa de infecção pela topografia urinária, seguida pela sondagem nasogástrica n= 56 (85,5%), logo após o acesso venoso central n= 56 (73,7%), que somado a realização do acesso venoso periférico n= 20 (26,3%) representam todos os 76 pacientes (100%). Para Couto et al. (2009), a incidência de bacteremia em pacientes com sonda vesical de demora varia de 3 a 10% e, entre os pacientes com bacteremia, 10 a 25% desenvolvem sintomas locais de infecção, enquanto 1 a 4% desenvolvem bacteremia. Ao observar a realização da traqueostomia n= 42 (55,3%) e entubação orotraqueal com n= 25 (32,9%), quando somadas, os pacientes que realizaram estes dois procedimentos estavam em ventilação mecânica, perfazendo um total de 67 pacientes (68,1%), o que corrobora com os dados obtidos deste estudo, em que a infecção respiratória foi a mais frequentes. São realizadas para permitir que o paciente possa fazer uso de ventilação mecânica, que necessita de cuidados especiais para se evitar o aparecimento da infecção respiratória. Segundo Fuchs e Wannmacher (2010), a infecção urinária relacionada à sondagem vesical de demora representa um risco três vezes maior de morte mesmo quando se levam em consideração as outras condições de co-morbidade, e aproximadamente 80% dessas infecções ocorrem após a sondagem vesical, sendo que os pacientes necessitam de tratamento antimicrobiano endovenoso. A infecção da corrente sanguínea está, na maioria das vezes, relacionada à utilização de cateter vascular, podendo ser causada por microrganismos da pele do próprio paciente ou das mãos dos profissionais de saúde que manuseiam o sistema. No primeiro caso, a contaminação é extraluminal e ocorre a infecção em pouco tempo, no segundo caso, a infecção é intraluminal e a bacteremia resultante é mais tardia, após 10 a 14 dias (TREJEDOR et al, 2012). Neste estudo, verificou-se que Pseudomonas aeruginosa com 28 episódios (26,4%) foi o microrganismo mais frequente nos episódios de IH, seguida da Klebisiela sp., com 26 episódios (24,5%), logo após o Staphylococcus aureus, com 18 episódios 49 (16,9%), em menor frequência aparece a Pseudomonas sp., com 16 e episódios (15,1%). Moura et al. (2007) observaram nas UTI do presente estudo no ano de 2006, que a Pseudomonas aeruginosa foi o microrganismo que mais vezes apareceu no estudo com 94 episódios, perfazendo 23,9% dos casos. O Staphylococcus aureus apresentou uma frequência de 67 episódios, o que representou 17,1% dos casos, sendo que os outros bacilos Gram-negativas fermentadores (BGN) apareceram em 76 episódios com uma porcentagem de 19,4%. Demonstrando que a Pseudomonas aeruginosa continua sendo o microrganismo mais presente no episódio de infecção hospitalar, como também o Staphylococcus aureus continua sendo o terceiro patógeno mais importante em números absolutos. E o aparecimento da Klebsilla sp., com o segundo microrganismo mais presente no episódio de infecção. Conforme Jawetz, Melnick e Adelberg (2009), a Pseudomonas aeruginosa coloniza nos seres humanos e se constitui no principal patógeno do grupo das bactérias Gram-negativas, provocando infecções em pacientes com deficiência nas suas defesas antimicrobianas, constituindo-se num importante patógeno hospitalar. Estes microrganismos desencadeiam no paciente febre, choque, oligúria, leucocitose e leucopenia, coagulação intravascular disseminada e síndrome da angústia respiratória no adulto. A Pseudomonas aeruginosa só é patogênica quando introduzida em áreas desprovidas de defesas normais, ou seja, quando as mucosas e a pele são rompidas por lesão tecidual direta, utilização de cateteres intravenosos ou urinários ou quando ocorre a neutropenia (JAWETZ, MELNICK E ADELBERG, 2009). De acordo com Ferreira e Lara (2010), existem relatos de estudos realizados no Brasil e em outros países que a Pseudomonas aeruginosa está apresentando um aumento de resistência aos antimicrobianos mais utilizados em seu tratamento, destacando-se aos antimicrobianos de maior espectro de ação como os carbapenêmicos e as cefalosporinas antipseudomonas, que são as principais opções terapêuticas utilizadas atualmente. O gênero Klebsiella são bactérias caracterizadas pela alta virulência in vivo, sendo que a pneumonia causada por este microrganismo tem sua gênese, na grande maioria das vezes, devido à incapacidade de eliminação de secreções do trato respiratório inferior, envolvendo a destruição de espaços alveolares, a formação de cavidades e a produção de muco sanguinolento, que pode provocar, também, 50 infecções em feridas, tecidos moles e trato urinário (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2006). Os cocos gram-positivos representados pelos Staphylococcus aureus e outros estão presentes na pele e nas mucosas dos seres humanos, sendo um patógeno importante para os seres humanos por causarem um amplo espectro de doenças que ameaçam a vida, incluindo doenças da pele, tecidos moles, ossos e trato urinário, além de infecções oportunistas (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2006). Os antimicrobianos dividem-se em antibióticos (sintetizados a partir dos seres vivos) e quimioterápicos (sintetizados em laboratório). A descoberta da penicilina e sulfas, respectivamente, é reconhecida como um dos grandes avanços da humanidade, no entanto, a grande expectativa do benefício levou ao emprego desses medicamentos de forma inadequada, decorrente da capacidade infinita de muitos microrganismos desenvolverem mecanismos de defesa, sendo que a velocidade de produção de novos antimicrobianos não acompanha a da emergência de cepas resistentes (FUCHS e WANNMACHER, 2010). No estudo, os antimicrobianos mais utilizados na UTI’s foi o imipenen, estando em 47,4% das prescrições médicas realizadas, tendo a ciprofloxacina com 46,1%, o segundo em números de prescrições com uma diferença de apenas 1,3%. O antimicrobiano ceftazidima foi prescrito em 39,5% dos casos e cefepime em14,5%, com um número menor de prescrições aparecem a gentamicina, com 13,2%, e à vancomicina em 10,5%. Por se tratar de uma variável de múltipla resposta, na utilização dos antibióticos o somatório de suas porcentagens ultrapassa o valor de cem por cento, isso se deve à prescrição de dois ou mais antimicrobianos simultaneamente. Segundo Fuchs e Wannmacher (2010), uma adequada prescrição de antimicrobianos deve ser inicialmente baseada na eficácia microbiológica (atividade farmacodinâmica de antimicrobianos que se dá sobre os microrganismos). No entanto, com o fenômeno da resistência bacteriana, faz-se necessário o conhecimento do perfil microbiológico da microbiota hospitalar, ou mesmo regional, para a construção de diretrizes para prescrição desses fármacos (FUCHS e WANNMACHER, 2010). Para Carneiro et al (2011), a monoterapia deve ser meta para o programa de controle de antimicrobianos de qualquer hospital, pois a associação antimicrobiana está associada com uma falsa proteção, sendo que a prescrição simultânea de dois ou mais fármacos deve ser utilizados somente em casos especiais a fim de aumentar 51 o espectro de ação antimicrobiano, no entanto, deve-se avaliar o paciente mais detalhadamente pelo risco maior de toxicidade, aparecimento de microrganismos mais resistentes e aumento dos custos. Conforme Torriani et al. (2011), o Imipenem é um antibiótico carbapenêmico que possui um espectro ativo contra Streptococcus sp. e Staphylococcus sp. sensíveis à oxacilina (betalactâmico), muito utilizada em infecções nosocomiais causadas por microrganismos multirresistentes e tratamento empírico de pacientes tratados previamente com múltiplos antibióticos. A prática de prescrição de mais de um antimicrobiano, simultaneamente, pode trazer benefícios para os pacientes pela redução do efeito da resistência bacteriana, menor tempo de prescrição e doses menores, o que diminui os efeitos tóxicos de cada um dos fármacos, porém, pode causar efeitos maléficos com a ação antagônica desses medicamentos que pode provocar o aumento dos efeitos adversos (FUCHS e WANNMACHER, 2010). Para Satish et al (2009), o uso de polimicrobianos se justifica quando a indicação empírica para o processo infeccioso grave por germe desconhecido, principalmente, em pacientes imunodeprimidos, onde as manifestações clínicas podem se resumir a febre. Os antimicrobianos cefepime prescrito em 14,5% dos casos, gentamicina prescrito em 13,2%, vancomicina prescrito em 10,5%, amicacina aparece 9,2% das prescrições, clindamicina foi prescrita em 9,2% e, por fim, o metronidazol que aparece em 9,2% das prescrições tiveram uma utilização intermediária em relação a todos os antimicrobianos prescritos, no entanto, por não haver um protocolo de utilização destes fármacos nas UTI’s em estudo, somente recomendação feita pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do referido hospital, observou que a prescrição desses antimicrobianos depende da conduta de cada médico intensivista. Segundo Torriani et al. (2011), a gentamicina e a amicacina são antibióticos classificados como aminoglicosídeos que possui um espectro de ação para bacilos gram-negativos como Pseudomonas sp. e Klebsiella sp., como também, para bactérias gram-positivos, de forma especial, para Staphylococcus aureus, sendo que a Gentamicina é o aminoglicosídeo de escolha para tratamento de infecções hospitalares que possuam baixas taxas de resistência de bactérias gram-negativas. O antimicrobiano Vancomicina é um representante dos glicopeptídeos, sendo usado em infecções hospitalares causadas por microrganismos gram-positivos, pois 52 seu espectro de ação é mais eficaz contra as bactérias Streptococcus sp. e Staphylococcus sp., ambos cocos Gram-positivos (TORRIANE et al., 2011). De acordo com Hidron et al. (2009), a Vancomicina é um importante antimicrobiano, por ser o tratamento que restou para os Staphylococcus aureus meticilinorresistentes (MRSA), que logo após a descoberta da Penicilina eram sensíveis a estes fármacos em baixas concentrações, porém, estes microrganismos passaram a adquirir resistência betalactamases e mesmo com a utilização de novos fármacos, novamente adquiriram resistência. Pode se observar que nas UTI’s em estudo este fármaco apresenta uma resistência considerável para bactérias Gramnegativas e Gram-positivas. A resolução do problema da resistência antimicrobiana fundamenta-se no uso racional dos antimicrobianos que se configura em uma preocupação mundial, sendo que, o emprego desses medicamentos deve ser orientado pelo seu mecanismo de ação, que neste caso, não é sobre o organismo humano em si, mas sobre os microrganismos e seus efeitos farmacológicos, tanto em modelos experimentais como em pacientes, ou seja, a eficácia farmacológica (FUCHS e WANNMACHER, 2010). Com uma utilização mais restrita (tabela 09) em termos de quantidade, aparecem a Piperaciclina (7,9%), Aztreonam (6,6%) e Meropenen (5,3%), sendo que tiveram uma menor frequência em sua utilização. Fuchs e Wannmacher (2010) relatam que o aztreonam é um monobactâmico com espectro de ação exclusivamente para bactérias gram-negativas, inclusive microrganismos causadores de infecção hospitalar como Pseudomonas aeruginosa, sendo que sua cobertura é pobre para Klebsiella sp. e Enterobacter sp., no entanto, sua utilização deve ser limitada pelo seu espectro restrito de atuação e rápido desenvolvimento de resistência bacteriana. Ao fazer a análise do perfil de sensibilidade dos microrganismos nas UTI em estudo, pode-se observar uma dificuldade por parte do laboratório que presta serviço terceirizado ao hospital para realização do teste de sensibilidade antimicrobiana, devido não adotar uma padronização de antimicrobianos a serem testado. Na análise do perfil de resistência antimicrobiana, a tabela 8 apresenta a Pseudomonas sp., com uma resistência para o antimicrobiano cefepime de 31,3%, o Staphylococcus aureus apresenta uma resistência ao antimicrobiano cefepime de 27,8%, fato preocupante por ser um medicamento de escolha, no limitado arsenal, contra microrganismos causadores de infecção hospitalar. Moura et al.(2007) relatam, em estudo realizado nas UTI deste trabalho, que o Staphylococcus aureus apresentou 53 uma sensibilidade de 11,8% ao antimicrobiano cefepime. Demonstrando que este perfil de sensibilidade/resistência pode mudar dentro de um mesmo hospital ou mesmo dentro de uma mesma unidade com o transcorrer do tempo. Conforme Torriani et al. (2011), o antibiótico cefepime, uma cefalosporina de quarta geração, possui uma excelente atividade antimicrobiana contra bactérias gramnegativas (ex.: Klebsiella sp.), sendo mais limitado para as bactérias gram-positivas (ex.: Staphylococcus sp.), sendo um fármaco utilizado preferencialmente em ambiente hospitalar. O antimicrobiano cefepime é uma das primeiras opções de tratamento de infecções hospitalares graves por microrganismos resistentes, contudo, seu uso deve ser baseado em indicações precisas devido ao risco de resistência comum às cefalosporinas em geral (FUCHS e WANNMACHER, 2010). Durante a década de 1960, as cepas de Staphylacoccus resistentes a meticilina (MRSA) eram exclusivas de ambiente hospitalar, no entanto, atualmente são descritos episódios de infecção comunitária. Caracteristicamente, as bactérias meticilinarresistentes comunitária, são resistentes aos demais betalactâmicos, sendo que as infecções hospitalares causadas por este microrganismo são frequentemente sensíveis somente à vancomicina (HIDRON et al., 2009). A Klebsiela sp; Pseudomonas sp; Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa apresentaram resistência de 42,3%, 37,5%, 33,3% e 32,1%, respectivamente, para o antimicrobiano Ceftazidima utilizados nas UTI’s em estudo (tabela 8), sendo, portanto, uma preocupação para o corpo clínico desta instituição quando ao uso deste fármaco devido o aparecimento desta resistência. De acordo com Fuchs e Wannmacher (2010), a Ceftazidima, por ser uma cefalosporina de terceira geração possui uma ação bactericida melhor que as cefalosporinas de primeira e segunda geração, no entanto, são indutoras de resistência bacteriana pela produção de betalactamases de espectro ampliado (ESBL), portanto, seu uso deve ser criterioso, indicado em situações em que não haja outra opção terapêutica. Contudo, para os autores citados acima, a ceftazidima possui ação contra Pseudomonas sp. e é opção de tratamento de infecções hospitalares em que haja alta prevalência Vancomicina. desse microrganismo, podendo ser administrado associado a 54 Os microrganismos Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Pseudomonas sp. e Klebsiela sp. apresentaram uma resistência para o antimicrobiano Ciprofloxacina (tabela 8) de 61,1%, 57,1%, 50,0% e 26,9% respectivamente. São considerados números altos de resistência para este medicamento já que dos quatro microrganismos estudados três possui uma resistência de igual ou maior de 50%. Segundo Fuchs e Wannmacher (2010), o antimicrobiano ciprofloxacino, uma quinolona, de segunda geração, possui uma melhor ação sobre bactérias Gramnegativas (como por exemplo, klebsiella sp.). Contudo, sua ação é menor sobre bactérias Gram-positivas. Pode-se observar através deste estudo que nas UTI’s do referido hospital que a Ciprofloxacina possui uma resistência alta para bactérias independente do método de Gram, como Staphylococcus aureus (61,1%) e Pseudomonas aeruginosa (57,1%), respectivamente, Gram-negativa e Gram-positiva. A resistência dos microrganismos Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus e o Pseudomonas sp. para o antimicrobiano gentamicina, pode-se constatar uma resistência de 25%; 22,2% e 12,5%, respectivamente. Moura et al.(2007) relatam em estudo realizado nas UTI deste trabalho que o Staphylococcus aureus apresentou uma sensibilidade de 57,6% ao antimicrobiano gentamicina, no entanto, para a Pseudomonas aeruginosa essa sensibilidade foi de 34,1%. O antimicrobiano gentamicina representante dos aminoglicosídeo está entre os mais antigos medicamentos usados em processos infeccioso, com eficácia estabelecida desde o surgimento dos primeiros antibióticos contra bactérias Gramnegativas, fato ainda observado atualmente, sendo opção de tratamento efetivo e seguro para infecções graves causadas por Pseudomonas aeruginosa, principalmente, no ambiente hospitalar (RATJEN, et al, 2009). No entanto, como demonstraram os achados deste estudo sua utilização necessita ser mais criteriosa com o intuito de diminuir a pressão sobre o processo de resistência antimicrobiana deste microrganismos para a gentamicina. O microrganismo Pseudomonas aeruginosa apresentou uma resistência de 39,3%, para o imipenen, um carbapenêmico, que, em pouco tempo, poderá inviabilizar o uso deste antimicrobiano para este microrganismo. A Pseudomonas sp. apresentou uma resistência de 12,5%, enquanto que Staphylococcus aureus e Klebsiella sp. apresentaram uma resistência de 5,6% e 3,8%, respectivamente, sendo resistência baixa para o bactéria Gram-positiva e Gram-negativa. 55 O uso do imipenem como antimicrobianos de amplo espectro é utilizado para o tratamento de infecções hospitalares por bacilos gram-negativos e gram-positivos, com exceção do Staphylococcus aureus meticilinarresistente (PRASAD et al., 2009). No entanto, o estudo realizado, foi demonstrado que tanto as bactérias gram-positivo como gram-negativos apresentaram uma baixa resistência para o imipenem, com exceção da Pseudomonas aeruginosa que apresentou uma resistência de 39,3% para este antimicrobiano. Moura et al.(2007) relatam uma porcentagem de sensibilidade do Staphylococcus aureos de 13,6% para este antimicrobiano e Klebsiela sp. 62,2%, o que demonstra certa divergência com os achados deste estudo em relação a resistência deste microrganismo nas UTI em estudo. Fuchs e Wannermacher (2010) relatam que o Imipenem possui indicação para clínica para pneumonia grave, pneumonia associada à ventilação mecânica, infecções ginecológicas e genitourinárias hospitalares. Deve-se levar em conta, para o seguimento da prescrição de antimicrobianos, que seu emprego deve ser avaliado à luz da evolução clínica do paciente, pois não deve ser mudado o esquema terapêutico mesmo que o antimicrobiano em uso mostre atividade intermediária ou resistente no resultado do antibiograma. Da mesma forma, se a evolução clínica for considerada desfavorável, orienta-se a mudança do esquema terapêutico pelo resultado dos testes de sensibilidade (CORDONNIER et al., 2009). Quanto a resistência dos microrganismos Klebsiella sp., Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus, Pseudomonas sp. e Pseudomonas aeruginosa para o antimicrobiano cefalotina, foi de 53,8%; 33,3%; 31,2% e 21,4%, respectivamente. Pode-se constatar que o uso da cefalotina nas UTI não aparece na relação dos antimicrobianos mais utilizados naquele ambiente, mas a resistência dos principais microrganismos à cefalotina é considerada alta principalmente para a Klebsiella sp. De acordo com Fuchs e Wannermacher (2010), a cefalotina, uma cefalosporina de primeira geração, é utilizado em antibióticoprofilaxia cirúrgica, ocupando lugar de destaque na maioria dos procedimentos que se beneficiam dessa indicação, tais como cirurgias potencialmente contaminadas, cirurgias limpas com quebra da técnica asséptica ou cirurgias limpas com colocação de prótese, no entanto, deve ser administrado inicialmente uma hora antes do procedimento cirúrgico e repetindo sua administração no período intraoperatório. 56 O Staphylococcus aureus apresentou para os antimicrobianos penicilina que é um antimicrobiano betalactâmico e oxacilina uma penicilinase resistente uma resistência de 50 e 44,4%, respectivamente. Por tanto, pode-se observar que nas UTI em estudo existem Staphylococcus aureus penicilinoressistentes e por consequência resistentes aos demais betalactâmicos e Staphylococcus aureus resistentes à meticilina MRSA, fato que preocupa já que os MRSA representam aproximadamente 50% das cepas que nestes casos, são quase que exclusivamente, sensíveis somente à vancomicina. O anel betalactâmico confere afinidade por enzimas reconhecidas como proteínas ligadoras de penicilina (PLP) que realizam a ligação de peptidoglicanos, último passo da síntese da parede bacteriana, dessa forma, estes antimicrobianos agem inibindo a síntese e consequentemente a formação adequada da parede bacteriana provocando a lise do microrganismo (ação bactericida), como também, as PLP liberam autolisinas que destroem a parede já existente (COUTO et al., 2009). Observa-se que os mecanismos de resistência dos microrganismos aos antimicrobianos betalactâmicos têm desafiado os profissionais de saúde em relação a escolha correta destes antimicrobianos para o tratamento de infecções. Sendo que os mecanismos de resistência poder ser divididos em três: (1) diminuição da penetração do antimicrobiano até seu sítio de ação, mecanismo comum em Pseudomonas sp; (2) alteração da sítio de ação do antimicrobiano (modificação da PLP), mecanismo responsável pela resistência do Pneumococo à penicilina ou o Staphylococcus sp. à oxacilina; e (3) inativação do antimicrobiano por enzimas dos microrganismos (produção de betalactamases), mecanismo comum em Enterobactérias (COUTO et al., 2009). Fuchs e Wannermacher (2010) relatam que o uso excessivo e indiscriminado de gerações dos batalactâmicos nos últimos 60 anos tem ocasionado o aumento da resistência dos microrganismos, especialmente em Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumanii, Klebsiella pneumoniae e o surgimento de novas betalactamases, que incluem, betalactamases de espectro ampliado (ESBL), betalactamases mediadas por plasmídeos (AmpC) e Klebsiella pneumoniae carbapenemase, que conferem resistência a todos os betalactâmicos (KPC). No caso das penicilinas devido ao aumento das bactérias resistentes é necessário que na maioria das prescrições seu uso seja concomitante com os inibidores de betalactamases. Atualmente, há três inibidores das betalactamases em 57 uso clínicos: tazobactam, sulbactam e ácido clavulânico, sendo que no Brasil as mais utilizadas são amoxicilina mais ácido clavulânico, amoxicilina mais sulbactam, ampicilina mais sulbactam, piperacilina mais tazobactam e ticarcilina mais ácido clavulânico. Segundo isoxazolilpenicilina Fuchs cujo e Wannermacher protótipo era a (2010), meticilina, a oxacilina não mais é uma disponível comercialmente. Sendo, também chamadas de penicilinas penicilinaserresistente propriedade que justifica sua indicação exclusiva para em infecções por Staphylococcus aureus produtor de penicilinase. Durante a década de 1960 cepas de Staphylococcus resistentes à oxacilina que neste caso são conhecidas como Staphylococcus aureus resistentes à meticilina (MRSA) foram quase que exclusivamente de ambiente hospitalar, no entanto, recentemente várias infecções comunitárias por MRSA vêm sendo estudadas em crianças e adultos jovens sadios, sem fatores de risco tradicionais para infecções hospitalares por MRSA (SCHAECHTER et al., 2009). Fuchs e Wannermacher (2010) descrevem que a MRSA comunitário possui a característica de ser resistente também aos demais betalactâmicos, mas usualmente sensível ao cloranfenicol, clindamicina, sulfametoxazol e trimetoprima, quilononas a depender da suscebilidade local e vancomicina, já a MRSA hospitalar é com frequência sensível somente a vancomicina. A resistência dos microrganismos Klebsiella sp., Pseudomonas aeruginosa, Pseudomonas sp. e Staphylococcus aureus para o antimicrobiano aztreonam, podese constatar uma resistência de 57,7%; 50%; 37,5% e 5,6%, respectivamente. Podese perceber que a resistência dos microrganismos gram-negativos para este antimicrobiano já se configura como uma preocupação bastante pertinente, apesar de que o aztreonam não ser prescrito com tanta frequência nas UTI em estudo, mas limita a possibilidade de uso pela alta resistência verificada neste estudo. O aztreonam tem um espectro de ação quase que exclusivo para microrganismos gram-negativos aeróbicos, principalmente microrganismos causadores de infecções hospitalares como a Pseudomonas aeruginosa, mas sua cobertura é pobre para a Klebsiella sp., por isso, tem utilização limitada por espectro restrito e rápido desenvolvimento de resistência bacteriana (SCHAECHTER et al., 2009). 58 Para Fuchs e Wannermacher (2010), o desafio atual consiste no desenvolvimento de formas para superar a resistência bacteriana, seja por surgimento de novos antimicrobianos, seja pelo uso racional das opções terapêuticas vigentes, mediante corretas indicações, seleção de medicamentos e adequação da prescrição quanto à administração dos mesmos, com obediência aos princípios farmacocinéticos dos antimicrobianos. Oliveira et al. (2009) relatam uma taxa de mortalidade institucional de 46,6% em estudo realizado nas UTI’s de um hospital universitário de Mato Grosso do sul, não havendo uma diferença estatisticamente significativa (p = 0,73) na distribuição de óbito entre os pacientes que adquiriram e os que não adquiriram infecção hospitalar. O desfecho satisfatório na luta constante contra microrganismo patógenos e sua infinita capacidade de adquirir resistência aos antimicrobianos depende, entre outras coisas, do surgimento de novos fármacos, sensibilização dos profissionais de saúde e, principalmente, pelo uso racional desses medicamentos e prescrição criteriosa pelos profissionais responsáveis. 59 7 CONCLUSÃO O estudo demonstrou como as infecções hospitalares se apresentam nas UTI estudadas, onde se constatou que os pacientes com este agravo possuem a faixa etária predominante entre 41 e 59 n=26(34,2%), do sexo masculino, 43 (56%) em sua maioria, e são do interior do estado 41(53,9%). O traumatismo crânio encefálico/ politraumatismo foi o diagnóstico de doença de base mais frequente, com 20 pacientes, o que representou 26,3% dos casos. Sendo que o procedimento invasivo mais realizado foi a sondagem vesical de demora, 76 casos (100%), e o tempo de internação predominante foi de 05 a 14 (47%). Os microrganismos causadores de infecção hospitalar desta instituição de saúde foram a Klebsiela sp., com 18 casos (30,6%), o microrganismo mais frequente na UTI 1 e a Pseudomonas aeruginosa, com 12 casos (25,5%), a mais frequente na UTI 2. Como pode ser observado também, que a Pseudomonas sp. possui uma resistência para o antimicrobiano cefepime de 31,3%, fato preocupante por ser um medicamento de escolha, no limitado arsenal, contra microrganismos causadores de infecção hospitalar. A Klebsiela sp. apresentou resistência de 42,3% para o antimicrobiano ceftazidima utilizados nas UTI’s. Contudo o microrganismo Staphylococcus aureus apresentou uma resistência para o antimicrobiano ciprofloxacina de 61,1%, que chama a atenção para a resistência rápida deste microrganismo. A utilização de antimicrobianos continua sendo um problema crônico naquele serviço por falta de uma orientação mais precisa que leve em conta os principais microrganismos causadores de infecção nesta instituição de saúde, como o agravamento da resistência microbiológica que passou de uma preocupação futura para se tornar uma preocupação presente. A taxa geral de Infecção hospital nas duas UTI’s, nos primeiros seis meses do ano de 2011, foi de n=76 (17,2%), tendo os meses de Março uma taxa n=19 (25%), seguido do mês de Janeiro n=18 (24%) e no mês de Abril a menor taxa, com n=09 (11,53%). Como também, a taxa de mortalidade descrita com 20,93% na UTI 1, enquanto que, na UTI 2 foi de 12,12%. 60 Portanto, deve-se investir no processo de educação permanente dos profissionais que prestam serviço neste hospital como elemento principal para o desenvolvimento de práticas de prevenção e controle de infecção hospitalar para uma assistência mais segura e qualidade para os pacientes. A Comissão de Controle de Infecção Hospitalar CCIH deve implementar um sistema informatizado para o adequado monitoramento e avaliação dos casos de infecção hospitalar, facilitando a divulgação das informações, bem como reavaliar como é realizado o diagnóstico microbiológico na detecção das infecções hospitalares para se conhecer o verdadeiro perfil de sensibilidade dos microrganismos e realizar a padronização dos antimicrobianos principalmente no ambiente hospitalar. utilizados pelos profissionais médicos, 61 REFERÊNCIAS AGENCIA DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). 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Drª.Maria Eliete Batista Moura Instituição/Departamento: Universidade Federal do Piauí Pesquisadores participantes: Enf. Mestrando Marcelo de Moura carvalho Telefones para contato (inclusive a cobrar): (86) 9431-5936 Você está sendo convidada para participar, como voluntário (a), de uma pesquisa. Você precisa decidir se quer participar ou não. Por favor, não se apresse em tomar a decisão. Leia cuidadosamente o que se segue e pergunte ao responsável pelo estudo qualquer dúvida que você tiver. Este estudo está sendo conduzido por Maria Eliete Batista Moura e Marcelo de Moura Carvalho. Após ser esclarecida sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizada de forma alguma. ESCLARECIMENTOS SOBRE A PESQUISA: O presente estudo se configura como uma pesquisa para verificar o Perfil microbiológico das infecções hospitalares nas unidades de terapia intensiva, por meio de coleta de dados diretamente do prontuário do paciente. Temse como objetivo geral desta pesquisa: traçar o perfil microbiológico das 70 infecções hospitalares das unidades de terapia intensiva (UTI’s) do Hospital Getúlio Vargas (HGV), localizado em Teresina-PI e como objetivos específicos: Identificar os principais microrganismos causadores de infecção hospitalar; descrever o perfil de sensibilidade aos antimicrobianos dos principais microrganismos causadores de infecção hospitalar; determinar taxa de infecção hospitalar e taxa de Pacientes com infecção hospitalar; verificar a distribuição percentual das infecções hospitalares por localização topográfica; definir a taxa de letalidade associada à infecção hospitalar. Ressalta-se que a presente pesquisa não trará riscos, prejuízos, lesões, formas de indenização, nem ressarcimento de despesas. O Sr.(a) poderá experimentar algum constrangimento em participar da coleta de dados, porém o mesmo poderá ser amenizado garantindo-lhe a realização de modo individual e em ambiente privativo. No entanto, assim mesmo o Sr.(a) poderá recusar-se a participar. O Sr.(a) terá o direito de retirar o seu consentimento a qualquer tempo. Não oferecemos benefício direto para o participante e somente no final do estudo poderemos concluir a presença de algum benefício. Em qualquer etapa do estudo, o Sr.(a) terá acesso às profissionais responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas. Dentre elas citam-se Enf. mestrando Marcelo de Moura Carvalho e a Profª. Dra. Maria Eliete Batista Moura, principal investigadora deste estudo, que pode ser encontrada no endereço: Avenida Petrônio Portela - Campus Universitário, 1204, bairro Ininga, Teresina- PI, Coordenação do mestrado em enfermagem, CEP: 64.048-070. Telefone (86) 3215-5558. Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética na pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí, no mesmo endereço, na Pró-reitoria de Extensão e Pós-Graduação ou pelo telefone (086) 3215-5564. Consentimento da participação da pessoa como sujeito Eu, _______________________________________________________________ _RG____________ CPF_____________ n.º de prontuário_________ n.º de matrícula_____________, abaixo assinado, concordo em participar do estudo PERFIL MICROBIOLÓGICO DAS INFECÇÕES HOSPITALARES NAS UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA como sujeito. Fui suficientemente informada a respeito das informações que li ou que foram lidas para mim, descrevendo o estudo. Eu discuti com Enf. mestrando Marcelo de Moura Carvalho e a Profª. Dra. Maria Eliete Batista Moura a sobre a minha decisão em participar nesse estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu acompanhamento/ assistência/tratamento neste serviço. 71 ______________________________ Local e data _______________________________________________________________ Nome e Assinatura do sujeito ou responsável Presenciamos a solicitação de consentimento, esclarecimentos sobre a pesquisa e aceite do sujeito em participar Testemunhas (não ligadas à equipe de pesquisadores): Nome:__________________________________RG:_____________________ Assinatura: ________________________________ Nome:_________________________________RG:______________________ Assinatura: ________________________________ Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participação neste estudo. Teresina, _____ de ______________de 2011 ______________________________________________ Assinatura do pesquisador responsável Maria Eliete Batista Moura Observações complementares Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato: Comitê de Ética em Pesquisa – UFPI - Campus Universitário Ministro Petrônio Portella - Bairro Ininga Centro de Convivência L09 e 10 - CEP: 64.049-550 - Teresina - PI tel.: (86) 3215-5734 - email: [email protected] web: www. 72 ANEXOS 75 ANEXO A: Aprovação da Comissão de ética em Pesquisa do Hospital Getúlio Vargas 76 ANEXO B: Aprovação do Comitê de Ética da Universidade Federal do Piauí (UFPI) 77 ANEXO C: Correção de português 78 ANEXO D: Correção do Abstract 79 ANEXO E: Certificado de apresentação para apreciação ética