Universidade Do Vale do Paraíba Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas e Comunicação Curso de Jornalismo JOYCE MAÍRA PINTO NATALIA TEODORO ALVES PRISCILA MARTINS DE OLIVEIRA SEBASTIÃO ANDRÉ BARRETO A INFLUÊNCIA DE ELPIDIO DOS SANTOS NA MUSICALIDADE DE SÃO LUIZ DO PARAITINGA - SP São José dos Campos - SP 2009 A Influência de Elpidio dos Santos na musicalidade de São Luiz do Paraitinga - SP Joyce Maíra Pinto Natalia Teodoro Alves Priscila Martins de Oliveira Sebastião André Barreto Relatório Final apresentado como parte das exigências do Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo à Banca Avaliadora da Faculdade de Ciências Aplicadas e Comunicação da Universidade do Vale do Paraíba. Orientador: Prof. Vânia Braz de Oliveira Co-Orientadores: Filipe Soriano Cláudio Nicolini São José dos Campos - SP 2009 Universidade Do Vale do Paraíba Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas e Comunicação Curso de Jornalismo A Influência de Elpidio dos Santos na musicalidade de São Luiz do Paraitinga - SP Joyce Maíra Pinto Natalia Teodoro Alves Priscila Martins de Oliveira Sebastião André Barreto Orientador: Prof. Vânia Braz de Oliveira Co-Orientadores: Filipe Soriano Cláudio Nicolini Banca Avaliadora: ……………………………………………………….. ……………………………………………………….. ……………………………………………………….. Nota do Trabalho: …………………….. (………………………………..) São José dos Campos - SP 2009 “À Família Santos, que apostou neste projeto e aos amigos cinegrafistas: Adriano Ferreira, Anderson Cruz, Jéssica Corrêa (Carioca), Ivan de Sá e Sérgio Hugolini, que registraram e deram vida às trilhas de Elpídio” “Eu tenho certeza, você vai gostar...” (Elpídio dos Santos) AGRADECIMENTOS Agradecemos primeiramente a Deus, pela força para superar os obstáculos. As nossas famílias, que nos apoiaram em todos os momentos. Aos nossos amigos, que acompanharam de perto nossa caminhada. Em especial, à Nathália Prince (Pe), exemplo de determinação. À hospitalidade da família Santos, que nos confiou o valioso acervo de Elpídio. Aos orientadores Vânia Braz, Filipe Soriano e Cláudio Nicolini, pela ajuda e incentivo em todas as etapas deste trabalho. À Trarxa Rock e à Prefeitura Municipal de São Luiz do Paraitinga – SP, por acreditarem neste projeto. E finalmente àquele que nos inspirou, Elpídio dos Santos. RESUMO Neste trabalho temos como objetivo retratar a história da música de São Luiz do Paraitinga por meio da influência de Elpídio dos Santos. O compositor, escultor e poeta luizense foi peça chave na construção da identidade musical do município. Com pesquisa bibliográfica, documental e entrevistas foi possível estruturar um videodocumentário, o qual alia som e imagem, levando o público a conhecer um pouco também do “jeca”, retratado nas letras de suas canções, que serviram de trilha para os filmes de Amácio Mazzaropi. Dona Cinira, viúva do músico, será o fio condutor desta trama, narrada também pelos seis filhos do casal: Maria Regina dos Santos, Maria Aparecida dos Santos (Parê), Pedro Luiz dos Santos (Negão), Maria Cinira dos Santos (Nena), Maria Alaíde dos Santos e Paulo Celso dos Santos (Pauleca). Com a aplicação da pesquisa de campo, foi possível observar as influências deixadas pelo compositor por meio de novas composições e grupos musicais como o “Paranga” e o repertório da banda local “Estrambelhados”. Tal obra, foi nomeada “Nas Trilhas de Elpídio”. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11 1 HISTÓRIA DA MÚSICA ....................................................................................... 12 1.1 A MÚSICA BRASILEIRA ............................................................................. 12 2 METODOLOGIA .................................................................................................. 15 2.1 PESQUISA .................................................................................................... 15 2.2 PESQUISA EXPLORATÓRIA ...................................................................... 15 2.3 PESQUISA DE CAMPO ............................................................................... 15 2.4 RESULTADOS ............................................................................................. 16 2.4.1 SEXO ................................................................................................. 16 2.4.2 IDADE ................................................................................................ 17 2.4.3 JÁ OUVIU FALAR EM ELPÍDIO DOS SANTOS .............................. 17 2.4.4 CONHECE ALGUMA MÚSICA DE ELPÍDIO ................................... 17 2.4.5 CONHECE O GRUPO PARANGA .................................................... 18 2.4.6 CONHECE O GRUPO ESTRAMBELHADOS .................................. 18 2.4.7 ACHA QUE A CIDADE MANTÉM VIVO O NOME DE ELPÍDIO DOS SANTOS ........................................................................ 19 2.5 ENTREVISTA ............................................................................................... 19 2.6 OBSERVAÇÃO DIRETA ............................................................................. 20 2.7 PESQUISA DOCUMENTAL ......................................................................... 21 2.8 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA ..................................................................... 21 3 NAS TRILHAS DE ELPÍDIO ................................................................................ 23 3.1 O ARTISTA ................................................................................................... 23 3.2 A PARCERIA COM AMÁCIO MAZAROPPI ................................................ 24 3.3 A IDA PARA SÃO PAULO ........................................................................... 25 3.4 A DOR DA SAUDADE .................................................................................. 27 3.5 AS INFLUÊNCIAS ........................................................................................ 28 3.5.1 PARANGA ......................................................................................... 28 3.5.2 ESTRAMBELHADOS ....................................................................... 31 3.5.3 ULTRAPASSANDO FRONTEIRAS .................................................. 33 4 MODALIDADE: VIDEODOCUMENTÁRIO ......................................................... 34 4.1 O QUE É DOCUMENTÁRIO? ................................................................... 34 4.2 CARACTERÍSTICAS DO DOCUMENTÁRIO ............................................ 37 4.2.1 A VOZ .............................................................................................. 37 4.2.2 PERSONAGENS ................................................................................... 38 4.3 OS DIFERENTES TIPOS DE DOCUMENTÁRIO ......................................... 38 4.3.1 MODO POÉTICO ............................................................................. 39 4.3.2 MODO EXPOSITIVO ........................................................................ 39 4.3.3 MODO OBSERVATIVO .................................................................... 39 4.3.4 MODO PARTICIPATIVO ................................................................... 40 4.3.5 MODO REFLEXIVO .......................................................................... 40 4.4 COMO TUDO COMEÇOU .................................................................... 40 5 ROTEIRO ............................................................................................................. 42 5.1 COMO SE FAZ? ........................................................................................... 42 5.1.1 PRÉ-ROTEIRO ................................................................................. 43 5.1.2 SINOPSE ........................................................................................... 45 5.1.3 RASCUNHO ..................................................................................... 45 5.1.4 PERSONAGENS .............................................................................. 49 5.1.5 ROTEIRO FINAL .............................................................................. 51 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 76 7 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................. 77 8 ANEXO ................................................................................................................ 79 11 INTRODUÇÃO Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), trata da Influência de Elpídio dos Santos na Musicalidade de São Luiz do Paraitinga-SP. Por meio de conversas, pesquisas, imagens e entrevistas foi possível trilhar todo o caminho deixado pelo artista luizense. Tal projeto originou o videodocumentário “Nas Trilhas de Elpídio”, com depoimentos de familiares, amigos, artistas e estudiosos da área musical. As personagens conduzem a trama, ao mesmo tempo em que revelam a vida e obra do músico. No vídeo, destaca-se o valioso legado deixado por Elpídio as gerações futuras. No capítulo inicial, o leitor irá encontrar uma breve história da música brasileira, seus gêneros, estilos, seus precursores, ritmos e transformações ao longo dos anos. O segundo capítulo trata da metodologia utilizada para elaboração deste trabalho. É possível visualizar passo-a-passo as técnicas e métodos usados para realização de pesquisas, de caráter exploratório, documental e bibliográfico. A pesquisa de campo, confirmou a popularidade do artista, na pequena São Luiz do Paraitinga, além de comprovar a influência deixada à população do município, por meio de grupos musicais como Paranga e Estrambelhados. A vida e a carreira de Elpídio dos Santos é o tema do terceiro capítulo. Os autores traçam a biografia do artista e percorrem momentos relevantes desta trajetória. Destaque para a parceria entre o músico e o cineasta brasileiro Amácio Mazzaropi. O quarto capítulo diz respeito à modalidade escolhida para execução do projeto: videodocumentário. Questões como: o que é, principais características, modos existentes e como surgiu este recurso, serão explicadas no decorrer desta etapa. O capítulo de Roteiro encerra este trabalho. Nesta fase, foi exposto todo o processo de produção do vídeo, desde o primeiro rascunho até o roteiro final. 12 CAPÍTULO 1 – HISTÓRIA DA MÚSICA 1.1 - A MÚSICA BRASILEIRA A música possui função enquanto linguagem. Ela não é exclusivamente ligada aos sentimentos humanos ou algo divino. A música, como qualquer outra linguagem, é fruto da aquisição de uma série de conhecimentos e habilidades que devem ser aprendidos e desenvolvidos. A Música deve socializar povos e não eleger pequenos grupos. “A música é a linguagem que mais viabiliza o consumo massificado. Ela aparece como pano de fundo em muitas atividades da comunicação de massa, como nas trilhas de novelas da televisão, onde as multinacionais distribuidoras de discos, que dominam o mercado brasileiro, a divulgar de forma subliminar, sem que o telespectador perceba claramente que tipo de música está recebendo e que acaba interiorizando como repertório do subconsciente.” (SUZIGAN, 1990, p. 12) No século XX o rádio e a indústria fonográfica democratizam a informação. Com isso, a música é difundida pelo mundo. No Brasil, a música europeia se torna a preferida dos coronéis, que comandavam os latifúndios da época. Tanto a música de concerto (que vulgarmente chamavam de clássica), como às óperas italianas, influenciam até a arquitetura dos teatros construídos no Brasil. “Já os camponeses fazem música sertaneja, que mescla influências européias às culturas negra e indígena (composta sobre a viola de dez cordas, trios de zabumbas e pífaros etc.), cantando suas tragédias, sonhos, pesadelos e amores. Há nessa música uma visão crítica da exploração social da relação trabalhista no campo, porém sem a capacidade de propor ou sonhar soluções reais de mudança. Um protesto mais perto da revolta do que da revolução, sem poder de reforma.” (SUZIGAN, 1990, p. 16/18) Com o passar dos tempos a música sertaneja sofreu muitas alterações. O estilo é considerado música popular brasileira. Seu desenvolvimento influenciou as sociedades brasileiras em suas atividades econômicas, políticas, sociais e culturais. “Já faz algum tempo, de 1978 para cá, ela circula com certa facilidade por lugares anteriormente dedicados apenas à elite da música popular brasileira. Considerada cafona e dirigida a um público de baixa renda, ela resistiu durante cinqüenta anos ao preconceito dos críticos mais 13 severos e certamente mais universo”.(CALDAS, 1987, p. 7) desinformados a respeito de seu Em 1922, em meio a Semana de Arte Moderna, em São Paulo, o músico Heitor Villa Lobos abandona a influência européia e se transforma em um nacionalista. “Era o nascimento de uma música brasileira que teve sua infância na Primeira República, sua adolescência entre a Primeira e Segunda Grandes Guerras, para florescer com muita juventude nos anos 50 e 60, com um música forte, crítica e repleta de características brasileiras.” (SUZIGAN, 1990, p. 42/43) No início do século XX, a música brasileira não tinha características definidas, já que se apoiava em outros movimentos culturais. A partir da década de 1940 o cenário artístico do país começa a mudar. Nasce uma música diferente, tipicamente brasileira, a MPB. Diversos artistas foram perseguidos por aderirem a este novo movimento, que servia como protesto contra o governo da época. Dentre eles estão: Custódio Mesquita, Pixinguinha, Ernesto Nazaré, Lupicínio Rodrigues, Noel Rosa e muitos outros. Essa tendência se estabelece nas décadas de 50 e 60, com as composições, a forma de tocar e harmonizar. Ficaram conhecidos na época Tom Jobim, Vinícius de Morares, Carlos Lyra, João Gilberto, Zimbo Trio, Roberto Menescal, Elis Regina, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Ivan Lins. Na América a música deixa de ser individual e passa a ser feita em grupo: um autor para letra e outro para a melodia, um arranjador e os intérpretes. Depois disso ela, se transforma e chega ao público por meio dos meios de comunicação de massa. Os gêneros musicais são interligados por ciclos de desenvolvimento de decadência: “O gênero folclórico – manifestação natural e espontânea dos povos, que se transmite, se combina e se transforma via contato (aculturação). O gênero erudito – com berço na Europa, entra em declínio após o final do século XIX e início do século XX, deixando vasto repertório da história da cultura do homem. O gênero popular – nasce nas Américas com o aparecimento do rádio e da indústria fonográfica, simultaneamente com o despertar das Américas e a decadência do gênero erudito. 14 O novo gênero – A música das Américas (onde estão contidos o jazz e a bossa nova). Combinação dos outros três gêneros: conhecimento ampliado do gênero erudito, somado aos balanços (swing) contagiantes e ao instrumental do gênero popular, com a riqueza rítmica do folclore das Américas.” “Mas, o que é, então, música brasileira? É a música que traz, no conteúdo e na forma, competência de cantar os sonhos, amores, desesperos, dores, críticas e todo um universo que revela o jeito brasileiro de viver, assimilar amplamente todas as outras formas musicais que por aqui passaram. É um produto manufaturado de qualidade internacional inegável, reconhecido e consumido por muitos países como fruto de uma cultura autônoma brasileira. Não basta que alguns iluminados fiquem discriminando qual tipo de música é ou não brasileira. É necessário que a comunidade mundial a reconheça como tal; e isso tem acontecido com toda uma série de produções iniciada com a Bossa Nova, passando pela chamada música de participação, Tropicalismo e firmando-se depois como MPB”. (SUZIGAN, 1990, p. 59) Neste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), o principal objeto de estudo é Elpídio dos Santos, grande nome da música no Vale do Paraíba. “O estilo musical de Elpídio, vem dentro da estética do que estava acontecendo na música popular brasileira. Era a coisa do choro, da seresta. Sempre tem um tom de malandragem, porque choro resgata, tem esse espírito. Se não tiver esse espírito não é choro. E se não tiver um pouquinho de saudade também não toca... no saudosismo das pessoas. Essa coisa bucólica. Tudo isso faz parte do espírito da música 1 brasileira nessa época”. 1 Alessandro Silva, Professor de História da Música, em entrevista concedida em 19 de setembro de 2009. 15 CAPÍTULO 2 - METODOLOGIA Para atingir os objetivos propostos neste pré-projeto serão utilizadas as seguintes técnicas de coleta de dados: 2.1 – PESQUISA A Pesquisa terá o objetivo de verificar a influência do artista em São Luiz do Paraitinga atualmente. A Pesquisa é um questionamento do cotidiano que leva ao estudo da realidade. Visa descobrir respostas para problemas por meio de métodos científicos. Minayo (1993, p.23 apud SILVA; MENEZES, 2001, p. 19), vendo por um prisma mais filosófico, considera a pesquisa como “atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados”. 2.2 - PESQUISA EXPLORATÓRIA Para iniciar este trabalho começamos por uma pesquisa exploratória sobre nosso tema e objeto. Segundo Diehl e Tatim (2004, p.53-54) o objetivo desta pesquisa é criar hipóteses para resolver o problema, usando de levantamentos bibliográficos, entrevistas com pessoas envolvidas com o objeto de estudo e análise de exemplos. De acordo com Gil (1990, p.38) este método é geralmente utilizado quando o assunto abordado é pouco difundido, como no caso deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Não há material bibliográfico suficiente sobre a vida e obra de Elpídio dos Santos. Por conta disso, pesquisas prévias foram feitas com familiares do músico. 2.3 - PESQUISA DE CAMPO 16 A Pesquisa de campo é uma coleta de dados para comprovar a tese. Recolhe e registra as informações a respeito do assunto. Uma das técnicas de utilização desta pesquisa é o questionário, uma relação de perguntas que devem ser respondidas por uma pessoa. Ele precisa ser objetivo e conter informações que facilitem sua compreensão. Silva e Menezes (SILVA; MENEZES, 2001, p.34) classificam as perguntas do questionário em: “Abertas: „Qual é a sua opinião?‟; Fechadas: duas escolhas: sim ou não; De múltiplas escolhas: fechadas com uma série de respostas possíveis”. Para este Trabalho Final de Curso (TCC), foi realizada a seguinte pesquisa de campo, com questões fechadas: Universo: São Luiz do Paraitinga-SP Margem de erro: 10%. Amostra: 100 pessoas. As pesquisas foram realizadas no centro de São Luiz do Paraitinga. As pesquisas foram aplicadas no dia 03 de outubro de 2009. 2.4– RESULTADOS 2.4.1 - SEXO 46% MASCULINO 54% FEMININO De acordo com o resultado das pesquisas 54% dos entrevistados são homens e 46% são mulheres, mantendo a pesquisa próxima do equilíbrio entre os sexos. 17 2.4.2 - IDADE 15 A 25 ANOS 11% 26 A 35 ANOS 28% 14% 36 A 45 ANOS 26% 21% 46 A 55 ANOS MAIS DE 56 ANOS De acordo com o resultado das pesquisas 28% dos entrevistados tem idade de 15 a 25 anos, 21% tem idade de 26 a 35 anos, 26% tem idade de 36 a 45 anos, 14% tem idade de 46 a 55 anos e 11% tem mais de 56 anos. Tendo em vista que a pesquisa foi realizada na região central de São Luiz do Paraitinga, há diversidade entre as diferentes faixas etárias, estando representada toda população do município. 2.4.3 - JÁ OUVIU FALAR EM ELPÍDIO DOS SANTOS? 11% SIM NÃO 89% De acordo com o resultado da pesquisa, foi constatado que 89% dos entrevistados já ouviram falar de Elpídio dos Santos e 11% não conhecem o artista. Os dados comprovam o nível de popularidade do objeto de estudo, em São Luiz do Paraitinga-SP. 2.4.4 - CONHECE ALGUMA MÚSICA DE ELPÍDIO DOS SANTOS? 18 25% SIM 75% NÃO De acordo com o resultado da pesquisa, foi constatado que 75% dos entrevistados conhecem ao menos uma música de Elpídio dos Santos e 25% nunca ouviram canções do artista. 2.4.5 - CONHECE O GRUPO PARANGA 15% SIM NÃO 85% De acordo com o resultado da pesquisa, foi constatado que 85% dos entrevistados conhecem o grupo Paranga e 15% nunca ouviram falar da banda. Os dados comprovam que, ainda hoje a música de Elpídio dos Santos é difundida entre as novas gerações por meio do Paranga, formado pelo filhos do artista. 2.4.6 - CONHECE O GRUPO ESTRAMBELHADOS? 18% SIM NÃO 82% 19 De acordo com o resultado da pesquisa, foi constatado que 82% dos entrevistados conhecem o grupo Estrambelhados e 18% nunca ouviram falar da banda. Os dados comprovam que a banda Estrambelhados, nova geração da música luizense e fortemente influenciada por Elpídio dos Santos, é conhecida pela população de São Luiz do Paraitinga-SP. 2.4.7 - ACHA QUE A CIDADE MANTÉM VIVO O NOME DE ELPÍDIO DOS SANTOS? 11% SIM NÃO 89% De acordo com o resultado da pesquisa, foi constatado que 89% dos entrevistados acreditam que a cidade mantém vivo o nome de Elpídio dos Santos e 11% não concordam. Os dados mostram que o município preserva a memória do artista para as novas gerações. 2.5 – ENTREVISTA Este projeto também exigiu uma busca por dados através de entrevistas. Estas foram realizadas com familiares e amigos de Elpídio dos Santos, para que possamos identificar a personalidade do artista e sua inspiração musical. Para Cervo e Bervian a entrevista não se parece com uma simples conversa. Ela sempre será guiada por um objetivo definido, o que para estes autores revela um formato específico para retirar informações e/ou dados para a pesquisa. Ela é geralmente usada quando não se encontra registros documentais suficientes sobre o assunto pesquisado. Adotar-se-ão os seguintes critérios para o preparo e a realização da entrevista: 1) O entrevistado deve planejar a entrevista, delineando cuidadosamente o objetivo a ser alcançado. 2) Obter, sempre que possível, algum conhecimento prévio acerca do entrevistado. 3) Marcar 20 com antecedência o local e o horário para a entrevista. Qualquer transtorno poderá comprometer o resultado da pesquisa. 4) Criar condições, isto é, uma situação discreta para a entrevista, pois será mais fácil obter informações espontâneas e confidenciais de uma pessoa isolada do que de uma pessoa acompanhada ou em grupo. 5) Escolher o entrevistado de acordo com a sua familiaridade ou autoridade em relação ao assunto escolhido.6)Fazer uma lista das questões, destacando as mais importantes.7) Assegurar um número suficiente de entrevistados, o que dependerá da viabilidade da informação a ser obtida.” (CERVO; BERVIAN, 1978, p. 105-106). De acordo com Silva e Menezes (SILVA; MENEZES, 2001, p.33), a entrevista pode ser: “Padronizada ou estruturada: roteiro previamente estabelecido; Despadronizada ou não-estruturada: não existe rigidez de roteiro. Podem-se explorar mais amplamente algumas questões.” 2.6 – OBSERVAÇÃO DIRETA Observar o comportamento natural das pessoas para minimizar a interferência no meio pesquisado. “Observar é aplicar atentamente os sentidos a um objeto, para dele adquirir um conhecimento claro e preciso. A observação é de importância capital nas ciências. É dela que depende o valor de todos os outros processos. Sem a observação o estudo da realidade e de suas leis reduzir-se-á sempre à simples conjetura e adivinhação.” (CERVO; BERVIAN, 1978, p. 20) Cervo e Bervian (1978, p. 105) relatam que o sucesso da observação depende de algumas condições. - Condições Físicas: Ser uma pessoa saudável e ter boas ferramentas de trabalho. No caso deste TCC, uma câmera filmadora e seus acessórios, mão-deobra qualificada, meio de transporte, alimentação e condições financeiras. -Condições Intelectuais: Inteligência, dinamismo, agilidade, criatividade, proatividade, facilidade de comunicação e altruísmo. -Condições Morais: Paciência, coragem, imparcialidade, respeito, ética e amor pelo trabalho. Segundo Silva e Menezes (2001, p.33), existem sete tipos de observação: Observação assistemática: não tem planejamento e controle previamente elaborados; 21 Observação sistemática: tem planejamento, realiza-se em condições controladas para responder aos propósitos preestabelecidos; Observação não-participante: o pesquisador presencia o fato, mas não participa; Observação individual: realizada por um pesquisador; Observação em equipe: feita por um grupo de pessoas; Observação na vida real: registro de dados à medida que ocorrem; Observação em laboratório: onde tudo é controlado. 2.7 – PESQUISA DOCUMENTAL Análise documental do objeto de estudo. Silva e Menezes (2001, p. 21) definem pesquisa documental aquela “elaborada a partir de materiais que não receberam tratamento analítico”, ou que podem ser reelaborados a partir da finalidade do projeto. “Documento é toda base de conhecimento fixado materialmente e suscetível de ser utilizado para consulta, estudo ou prova. Os documentos são classificados de acordo com sua natureza ou fonte”. (CERVO; BERVIAN, 1978, p. 52) 2.8 – PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Acervo literário de Elpídio dos Santos e da modalidade escolhida para este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Segundo Silva e Menezes (SILVA; MENEZES, 2001, p. 21) Pesquisa Bibliográfica é aquela “elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente com material disponibilizado na Internet.” Dentre as vantagens da pesquisa bibliográfica estão: -estes documentos são fontes seguras de informações; - se comparada a outros tipos de pesquisa seu custo é menor; - dispensa contato entre fonte e pesquisador o que otimiza o estudo. Entre as desvantagens podemos citar a falta de representatividade da obra do autor em relação ao trabalho proposto. 22 Pesquisa bibliográfica e pesquisa documental são semelhantes. A principal diferença é que na primeira, temos o auxílio de vários autores sobre um assunto, enquanto na segunda, podemos utilizar os documentos de acordo com a proposta do projeto. 23 CAPÍTULO 3 – NAS TRILHAS DE ELPÍDIO 3.1 – O ARTISTA O compositor, escultor e poeta Elpídio dos Santos nasceu em 14 de janeiro de 1909. Filho de Benedito Pereira dos Santos (Mestre Alves) e Benedita Alta de Toledo é descendente de uma família de músicos e artesãos, de quem herdou a sensibilidade e o talento. É natural de São Luíz do Paraitinga, município que fica a 170 quilômetros da capital paulista. O lugarejo possui arquitetura típica do século passado, quando o café transformou a paisagem geográfica, humana e econômica da região. “São Luiz do Paraitinga insiste em receber o progresso através do caminho mais difícil, porém, o mais gratificante e enriquecedor, a cultura. E não poderia ser diferente. Quem conhece São Luiz do Paraitinga sabe que o progresso pode chegar, mas terá que conviver com folias do Divino, com contadores de causos, com pastéis de angu e afogados. Porque disso, eles não abrem mão!...”. (GUIMARÃES, SILVA, 1991 p. 27) Elpídio e seus doze irmãos foram alfabetizados em casa por um professor contratado pela família, o que era comum naquela época. O interesse e a habilidade pela escrita fizeram com que ele, ainda menino, fosse trabalhar na redação do jornal local. Elpídio exerceu diversas profissões. Foi tipógrafo (aquele que exerce a função de imprimir com tipos), cambista, escriturário em um cartório, jornalista e bancário, porém nunca deixou a música. Era um artista muito conhecido na cidade e estava sempre acompanhado de seu violão, embora dominasse outros 21 instrumentos. A paixão pela música começou em casa. Influenciado pelo pai, regente da banda musical de São Luiz, Elpidio passa a integrar o grupo. “Ele era uma pessoa boa! Sabe? Uma pessoa boa para mim, como mulher, para a família dele, mãe, e tudo. Pelos filhos, Nossa Senhora! Era uma paixão pelos filhos, de modos que ele não media sacrifícios de 2 sair com as crianças, carregava violão. 2 Cinira dos Santos, viúva de Elpídio, em entrevista concedida em 22 de agosto de 2009. 24 Então, ele era muito dedicado á família, aos amigos sabe? Era bem humorado, sabe? Ele era gente boa sim!”, afirmou Cinira Santos, em entrevista à produção do documentário “Nas Trilhas de Elpídio”. Em 1930, compôs sua primeira música, intitulada “Desengano” e nunca mais parou. Em seu acervo constam mais de duas mil canções. A mais famosa delas é “Você Vai Gostar”, também conhecida como “Casinha Branca”, que foi regravada por grandes artistas como: Cascatinha e Inhana e Sérgio Reis. Tanta inspiração vinha de conversas cotidianas com os amigos, da convivência em família e de situações inusitadas. “O estilo musical de Elpídio, da música de Elpídio vem dentro da estética do que tava acontecendo na música popular brasileira. Era a coisa do choro, da seresta. São linhas melódicas muito bem construídas. Longas. Que vem de uma tradição nossa, que pode ter um pouquinho da coisa da ópera italiana. Que era muito lírico. Muito doce. E tudo isso faz parte das canções do Elpídio. Ao mesmo tempo que são simples, realçam a 3 melodia”. Apesar do talento, teve dificuldades para vender seus trabalhos. No início da carreira chegou até a passar por humilhações. Mas não desanimou! Continuou a compor na certeza de que um dia seus esforços seriam recompensados. 3.2 – A PARCERIA COM AMÁCIO MAZAROPPI Elpídio do Santos firmou uma parceria de muitos anos com o renomado cineasta brasileiro Amácio Mazaroppi. Além de amigo, ele compôs boa parte das trilhas sonoras do filmes do eterno Jeca Tatu. “José Amácio Mazzaropi, um homem simples e possuidor de um grande talento artístico, iniciou sua carreira com muita dificuldade [...] Em suas andanças pelas cidades da região sua trupe foi se apresentar em São Luiz do Paraitinga, onde se deu o encontro com Elpidio dos Santos, e uma grande amizade se concretizou.” [...] Os filmes de Mazzaropi retratavam o caboclo valeparaibano, o sofrido e muitas vezes injustiçado homem do campo. Eram filmes que tinham um fundo de moral e de justiça, trazendo através de sátira da comédia as mais importantes reivindicações do trabalhador rural.” [...] Elpidio participava das filmagens que eram feitas nas pitorescas fazendas do Vale do Paraíba e a ele cabia a tarefa de retratar, através da música, as cenas representadas na tela. Eram composições inspiradas na simplicidade e na pureza, sempre presentes nos filmes de Mazzaropi. Apesar de muito tímido, Elpidio fez pequenas “pontas” em alguns filmes. Em “A Carrocinha”, ele aparece 3 Alessandro Silva, Professor de História da Música, em entrevista concedida em 19 de setembro de 2009. 25 tocando com seus companheiros o baião “Cai Sereno”, uma jóia musical de sua autoria em parceria com Conde.” (GUIMARÃES, SILVA, 1991 p. 42) Elpídio fez músicas para quase todos os filmes de Mazzaropi na época da PAM FILMES S/A. Tamanha inspiração surgia de situações inesperadas. Certa ocasião, quando assistia às filmagens de “Tristeza do Jeca”, soprou uma forte rajada de vento que chegou a interferir na sonoplastia do filme, todos correram e se abrigaram num rancho próximo esperando passar o vendaval. Elpidio começou a observar as folhas de uma bananeira que se curvava com a força do vento. Imediatamente, tirou do bolso um pedaço de papel e um lápis e compôs “Sopro do Vento”, uma das músicas da trilha sonora do citado filme.” (GUIMARÃES, SILVA, 1991 p. 44) As músicas de Elpídio que fizeram parte dos filmes de Mazzaropi são: FILME MÚSICA AUTOR Jeca Tatu Fogo no Rancho Elpídio dos Santos/Anacleto Rosas Jeca Tatu Azar é Festa Elpídio dos Santos Casinha Pequenina Dor da Saudade Elpídio dos Santos Tristeza do Jeca Sopro do Vento Elpídio dos Santos Ingratidão Japão Brasileiro Elpídio dos Santos O Lamparina Lamparina do Elpídio dos Santos Nordeste O Lamparina Alma Solitária Elpídio dos Santos O Jeca e a Freira Jeca Magoado Elpídio dos Santos Zé do Periquito Jóia do Sertão Elpídio dos Santos Coração amigo Elpídio dos Santos As aventuras de Pedro Malazartes Fonte: Site Museu Mazzaropi 3.3 - A IDA PARA SÃO PAULO No ano de 1950, aos 41 anos, Elpídio casa-se com Dona Cinira, com quem teve sete filhos: Maria Regina dos Santos, Maria Aparecida dos Santos (Parê), Pedro Luiz dos Santos (Negão), Maria Cinira dos Santos (Nena), Maria Alaíde 26 dos Santos (Cá), Paulo Celso dos Santos (Pauleca) e Elpídio dos Santos Filho (Pio), que nasceu em 1955, e morreu aos 37 anos. Por conta do trabalho como bancário, Elpídio e a família mudam-se para São Paulo. Lá, cursou música no Conservatório Paulista de Canto Orfeônico, dirigido pelo Maestro João Baptista Julião, onde obteve o diploma. Elpídio cursou também aulas de Aperfeiçoamento Musical para violão no Instituto Musical de São Paulo. Embora continuasse a exercer a função de bancário, Elpidio via-se agora mais próximo de alcançar seus objetivos no setor musical, o que naturalmente seria muito difícil vivendo em uma cidade do interior. [...] Finalmente em 1952, ele vê pela primeira vez seu nome gravado no selo branco da editora “Toda América”. A “Cruz de Ferro” era o nome da toada que Elpidio compôs em parceria com Anacleto Rosas Junior para contar a lenda da cruz de ferro em Ubatuba. A melodia gravada pela dupla Souza e Monteiro logo se transformou em sucesso.” (GUIMARÃES, SILVA, 1991 p. 37) Elpídio conciliava o trabalho de bancário, às aulas de música e à divulgação de suas composições nas rádios Record e Bandeirantes. Inscreveu-se como músico na Ordem dos Músicos do Brasil e na U.B.C (União Brasileira dos Compositores), fato que muito o envaidecia, pois destas entidades faziam parte os maiores compositores da época. “Por volta de 1955 a gravadora “Toda America” lança mais uma composição de Elpidio: “Despertar do Sertão”, gravada por Cascatinha e Inhana, uma conhecida dupla da música popular. Novamente o sucesso da música de Elpidio estoura nas rádios. Elpidio começa a ser citado nas colunas musicais de jornais e revistas.” (GUIMARÃES, SILVA, 1991 p. 38) “Seu nome agora aparece com freqüência, sempre cercado de elogios e admiração por parte dos cronistas musicais, como Wadeco Fonseca, que, em sua coluna “No mundo das Diversões”, na Gazeta Mercantil, do dia 10 de junho de 1955, escreve, “Elpidio dos Santos é um batalhador, um idealista e um verdadeiro fanático pela música popular brasileira. Suas inspirações vêm sempre de motivos que estão no gosto do público ouvinte. Suas composições são sempre acolhidas não somente pelos editores como também pelos intérpretes”. (GUIMARÃES, SILVA, 1991 p. 41) “A formação mais prática, talvez que ele tenha tido aqui na região, foi consolidada em São Paulo com um estudo mais metódico, mais teórico de algumas questões musicais. Então foi excelente pra ele amadurecer algumas ideias que ele tinha e ter contato com outros músicos também de lá. Enfim, acho que foi uma fase que ele amadureceu muito como músico. Consolidou algumas questões importantes em aspectos técnicos 4 da música pra ele”. 4 Alessandro Silva, Professor de História da Música, em entrevista concedida em 19 de setembro de 2009. 27 “Suas canções também foram gravadas por músicos de destaque, no rádio da época, Cascatinha e Inhana, Naná e Nono, Irmãs Galvão, Elza Laranjeira, Duo Brasil Moreno, Titulares do Ritmo, entre outros. [...] Sua obra também entrou para o repertório de artistas mais contemporâneos como Pena Branca e Xavantinho, Renato Teixeira, Sérgio Reis, Almir Sater, Matogrosso e Matias, Fafá de Belém, Vanusa, Décio Marques, e do Paranga.” (ALLAS, 2002, p. 18). Em casa, Elpídio gostava de reunir os amigos e a família para fazer serestas. Nestes encontros, além de compor para seus convidados, ele também gostava de fazer mágicas. “Ele se divertia com a ansiedade das crianças (inclusive dos filhos) diante do mistério das mágicas. Em meio a muito suspense ele tirava água da barriga com um funil, fazia uma vassoura dançar e fazia a garotada botar ovo”. (GUIMARÃES, SILVA, 1991 p. 35) “Ele fazia mágica, eu me lembro muito que a gente ia nas festinhas, na casa dos meus tios e tal e ele fazia mágica, ele fazia a vassoura dançar, 5 pra gente era o máximo”. Em 1968 o banco que Elpídio trabalhava faliu e ele volta com a família para São Luiz do Paraitinga. Em sua terra natal cria o coral “O Uirapuru do Vale”. “Elpidio foi convidado para lecionar música no Ginásio de São Luiz, voltando a desempenhar o que mais apreciava: ensinar música e transmitir às futuras gerações o gosto pela poesia musical. [...] Em pouco tempo, Elpidio lecionava música em três estabelecimentos de ensino. Foi quando veio o convite para ensinar música e violão na Escola de Música e Artes Plásticas de Taubaté (hoje Escola de Música “Fêgo Camargo”, em homenagem a este grande músico taubateano). [...] Outra grande paixão de Elpidio era reger o Coral Folclórico de São Luiz do Paraitinga. O grupo se apresentava nas cidades da região cantando melodias populares e do folclore valeparaibano. Formado por jovens de São Luiz, até hoje se fala no coral; todos na cidade se emocionam e sentem saudades. (GUIMARÃES, SILVA, 1991 p. 46) “Ele chegou uma tarde lá em casa e bateu na porta e disse: estou querendo formar um coral e vim aqui convidá-la. Eu falei: Pois não! Daí ele começou os ensaios no quarto da banda. E formou esse coral, que 6 por sinal foi muito aplaudido, muito bonito e que deixou muita saudade”. 3.4 – A DOR DA SAUDADE Elpídio morreu em 1970, na cidade de Taubaté, vítima de meningite. Foi sepultado no cemitério Igreja do Rosário em São Luiz do Paraitinga. A missa de corpo presente foi acompanhada por parentes, amigos, e conterrâneos. A 5 Maria Cinira (Nena), filha de Elpídio, em entrevista concedida em 22 de agosto de 2009. Olga Pires Fontes (Dona Olguinha), amiga de Elpídio, em entrevista concedida em 29 de agosto de 2009. 6 28 solenidade foi seguida pela Banda que tocou marchas fúnebres e músicas de Elpídio como, por exemplo, a Dor da Saudade. “Nós fizemos uma homenagem para ele e a gente foi atrás do caixão cantando. Durante o trajeto do enterro a Banda parava de tocar e agente cantava. E assim foi até chegar no Rosário, no cemitério. Depois fizemos outras homenagens. Quando foi para inaugurar a rua dele, o coral foi lá 7 pra cantar”. As composições deixadas por Elpídio são conservadas pela família até hoje e estão sob guarda do Instituto Elpídio dos Santos, instituição criada pelos filhos do artista para preservar a memória do pai. “Você vai criando uma consciência de que você precisa disponibilizar isso pras pessoas. Nós criamos o Instituto Elpídio dos Santos em 2001, 8 a partir daí a gente foi fazendo isso de uma forma organizada”. “Nós estamos fazendo um trabalho muito importante no Instituto Elpídio dos Santos, que é fundamental, porque gerações, aqui abaixo de nós, não conhecem Elpídio. Então nós estamos num resgate dessa história, eu acho fundamental isso ai não tem o que contestar. Então esse é o grande trabalho que a família, através do instituto, está realizando. Que outras gerações venham a conhecer o que é Elpídio, relação família, amigos, música, ele não era só músico e compositor, ele pintava, ele 9 desenhava”. Em 1983 a Câmara Municipal de São Luiz aprovou um requerimento instituindo o “Dia Elpidio dos Santos” a ser comemorado no dia 14 de janeiro de cada ano. Era mais uma homenagem ao filho da terra, que partiu, mas deixou suas canções. (GUIMARÃES, SILVA, 1991 p. 46). 3.5 - AS INFLUÊNCIAS Elpídio dos Santos se foi, mas deixou seu legado. São mais de mil composições que servem como fonte de inspiração para a nova geração da música luizense. “Hoje nós contamos aqui com uma cidade de 10 mil habitantes, dos quais praticamente mil, 10% da população são músicos. E essa influência é uma influência direta de Elpídio dos Santos”.10 3.5.1- PARANGA 7 Olga Pires Fontes (Dona Olguinha), amiga de Elpídio, em entrevista concedida em 29 de agosto de 2009. 8 Regina dos Santos, filha de Elpídio, em entrevista concedida em 29 de agosto de 2009. 9 Paulo Celso dos Santos, filho de Elpídio, em entrevista concedida em 22 de agosto de 2009. 10 Eduardo de Oliveira Coelho, pesquisador da cultura luizense, em entrevista concedida em 05 de setembro de 2009. 29 Em 1973, surge o grupo Paranga, formado por Negão, Pio, Parê e Nena, filhos do artista. “A minha mãe fala que sempre a história se repete. Como na casa do meu avô, foi montada essa banda. Ele o maestro, com os filhos e sobrinhos, a banda. O Paranga nasceu na casa de Elpídio dos Santos, com quatro filhos dele, mais dois primos, mais dois amigos. A gente tem no sangue, rola música aqui na veia, então a gente tinha que fazer alguma coisa. E no início até a gente tocava Caetano, Gil, Chico. Naquele momento 75, 76. A minha irmã que chegou e falou: Olha gente nós temos um tesouro aqui em casa, que, na verdade, quanto mais a gente repartir mais ele cresce, então acho legal a gente ter essa fatia de 11 Elpídio”. “Foi a primeira vez que eu tive um contato mesmo com a obra dele. Porque a gente queria cantar as coisas dele e minha mãe liberou o 12 caderno onde ele escreveu um montão de coisa”. No repertório da banda ainda estão presentes as composições e o estilo do pai. O principal objetivo do Paranga é preservar os valores culturais da região do Vale do Paraíba, por isso sempre foi influenciado pela congada, catira, moda de viola e folia de Reis e do Divino Espírito Santo. Tudo isso ajuda a manter viva a música de Elpídio dos Santos. Dona Cinira, esposa de Elpídio, sempre apoiou o marido e os filhos e é a grande responsável por levar adiante esta tradição. “A maior vocação de Dona Cinira: levar adiante e de maneira espontânea a história de Elpídio, de seus filhos e de sua terra. Afirma que o esposo não chegou a conhecer o grupo musical integrado pelos filhos, mas argumenta que ele foi o grande incentivador. “Foi Elpídio que colocou o violão nas mãos do Negão”. [...] Quando Elpídio faleceu, Negão Santos tinha nove anos e também guarda lembranças musicais da família. “Meu pai vivia acordando a mim e meus irmãos, de madrugada, para ouvirmos as composições que acabara de fazer e que iria mostrar ao Mazzaroppi”. (ALLAS, 2002, p. 19) O acervo musical deixado por Elpídio foi influenciado por sua bucólica cidade natal. São Luiz do Paraitinga é fonte de riquezas para qualquer artista, até hoje. A cidade é movida por cultura, história e alegria. Suas paisagens naturais contrastam com casarões dos séculos XVIII e XIX, que formam um importante conjunto arquitetônico do Estado de São Paulo. O ex-integrante do Paranga, Galvão Frade, descreve o passado musical do município. 11 Pedro Luiz dos Santos (Negão), filho de Elpídio, em entrevista concedida em 29 de agosto de 2009. 12 Maria Aparecida dos Santos (Parê), em entrevista concedida em 29 de agosto de 2009. 30 “Para se ter uma idéia, nas décadas de 30 e 40, São Luiz tinha três bandas de música, uma orquestra de câmara e de diversos grupos de Moçambique e Jongo. A cidade sempre teve muita influência da música regional mineira”. Ainda hoje o local transpira musicalidade, sendo berço de artistas. Um manancial de riquezas culturais. Quem já assistiu a uma apresentação do Paranga, na Praça da Matriz, já visitou a cidade no Carnaval pra pular as marchinhas, já sentou para tomar cerveja e conversar com o compositor e escritor nativo, Marco Rio Branco, entende o espírito da coisa”. (ALLAS, 2002, p. 20) São Luiz, sempre foi o cenário para encontros musicais. Era na praça que Nena, Parê, Negão, Pio, Renata Galvão e Nhô Lambis se reuniam para tocar e cantar músicas do saudoso Elpídio. No início da década de 1970, a moda era “hippie”, meninos e meninas usavam “cabelões”, roupas características e estavam sempre acompanhados de viola e violão, situação ideal para compor. “O grupo foi descoberto no final da década de 1970 por Renato Teixeira que os apresentou para São Paulo. Época áurea. Com aqueles trajes e música diferentes, chamam a atenção do círculo musical paulistano se apresentando em espaços-vitrini também freqüentados por artistas contemporâneos, como Na Ozetti, Itamar Assunção, grupo Premeditando o Breque, entre outros. E ganharam o apoio da crítica. “Quando não estávamos tocando, estávamos dando entrevistas”, diz Galvão. [...] Nesta época, por estarem em evidência e pelas constantes apresentações em locais de grande público, Sesc Pompéia, Tucá (Teatro da Univ. Católica), MASP, mudam-se para São Paulo, residindo todos num mesmo apartamento. “Aquele nosso estilo de vestir, sempre com tranças no cabelo, não era proposital mas chocava. Chegamos, num dia, a levarmos três batidas da polícia.” (ALLAS, 2002, p. 20) O primeiro disco gravado foi “Chora Viola, Canta Coração”, pelo selo independente Lira Paulista. A partir daí, o grupo desponta e participa do “Festival MPB 80”, logo depois uma canção de Elpídio que iria fazer parte da trilha sonora da novela “Meu pé de laranja-lima”, veiculada na TV Bandeirantes. “Neste auge do sucesso recusam sem hesitar ao convite feito pela Bandeirantes para gravar em um novo selo, inicialmente chamado de Rodeio, um estilo antecedente à música sertaneja. Eles teriam que se caracterizar como „country‟. „Esta nossa decisão acabou tirando a força que estávamos ganhando espaço mas não tínhamos maturidade para perceber que poderíamos aproveitar o espaço e transformá-lo em grande oportunidade‟, comenta Renata Marques, integrante da banda e esposa de Negão.[...] Com o fechamento de diversas casas de espetáculos paulistas, o Paranga dá um tempo. A maioria de seus integrantes volta para o Vale do Paraíba e Galvão vai morar na Espanha. Em 93 falece o filho mais velho de Elpídio, o Elpídio dos Santos Filho (Pio), um dos líderes da banda.” (ALLAS, 2002 p. 21) 31 Quando o ex-integrante do Paranga, Galvão Frade, retorna da Espanha em 1997, o grupo se reúne novamente e grava o CD “Porque Hoje é Carnaval”, com marchinhas de autores de São Luiz do Paraitinga. Da formação original restam apenas Negão e Renata. Em 2000, o Paranga grava um CD em homenagem a Elpídio dos Santos. A produção intitulada “Em nome do Pai, do Filho, do Elpídio dos Santos” contou com a participação do músico Caito Marcondes. “E a história não acaba aqui. De repente, o grupo se apresenta e alguns ex-Parangas dão uma canja. E uma nova geração „elpidiana‟ começa a despontar. As filhas adolescentes dos Parangas começam a se apresentar a se apresentar na mesma São Luiz, na mesma praça...” (ALLAS, 2002, p. 21). “Hoje o grupo (Paranga) segue duas linhas de trabalho. “Uma quando é carnaval, quando é um show maior, que a gente usa uma banda maior, mas a gente tem feito mais uma coisa mais acústica que é o João, o Negão e eu, porque ai possibilita que a gente toque em todos os lugares, com mais facilidade pra tudo. Locomoção, pra armar os shows, pra fazer os arranjos. Então a gente faz uma coisa mais intimista e tem sido essa a nossa bandeira assim, levar a musica do Elpídio, levar a música de 13 São Luiz do Paraitinga em geral pra todo lugar que a gente possa”. 3.5.2 - ESTRAMBELHADOS Em 2001, durante o festival de marchinhas, que acontece antes do carnaval em São Luiz do Paraitinga, surgiu a Estrambelhados. Conquistaram o segundo lugar desta competição e o reconhecimento de todos, inclusive dos artistas mais antigos da cidade. “A gente começou tocando música de outros compositores, MPB, pop. Daí a gente foi percebendo que tinha algo maior, que era a cultura de São Luiz, que a gente podia cuidar e fazer um sentido pra isso, dar uma continuidade, uma nova geração. Calhou que em 2001, no festival de marchinha da cidade, a gente ficou em segundo lugar com a composição Estrambelhados e parece que ele deu um impulso um ano antes, para que a gente pudesse entrar efetivamente nesse campo musical da cidade, então a gente veio com essa proposta de pegar a musica popular, essas influências da cidade. Que a gente nasceu já vendo congadas, moçambiques, folias, fanfarra, a obra de Elpídio dos Santos, do Paranga e de dar uma nova roupagem pra isso né, uma roupagem 14 mais moderna, com novas influências, novos estilos”. 13 Renata Marques, esposa do Negão e integrante do grupo Paranga, em entrevista concedida em 29 de agosto de 2099. 14 João Rafael Cursino, integrante do grupo Estrambelhados, em entrevista concedida em 05 de setembro de 2009. 32 A banda é a nova geração da música luizense. Seu objetivo é estudar e preservar a cultura local e com isso resgatar as manifestações folclóricas como: congadas, moçambiques e folias. Como influências da Banda “Estrambelhados” surge como natural escola símbolos locais como: “Paranga” – importante grupo musical regional que participou do movimento “Lira Paulistana” nos anos 80; Elpídio dos Santos – principal compositor das trilhas sonoras dos filmes de Mazzaropi; e a Corporação Musical São Luiz de Tolosa – fundada há mais de duzentos anos e que é, ainda, referência em quaisquer festas de São Luiz do Paraitinga. (http://www.bandaestrambelhados.com.br/) “Elpídio dos Santos é uma influência muito forte, porque quem é de São Luiz é influenciado pelo Elpídio de uma forma ou de outra. Ele fez escola, o trabalho dele é maravilhoso, é imenso, não só por coisas conhecidas, como os filmes do Mazaroppi, mas pelo dia-dia na comunidade, pelo que ele passou, a marca que ele deixou em São Luiz. E como a gente é de outra geração, a gente não teve contato com Elpídio, mas teve contato com as coisas que ficaram, seja com a corporação, seja com o grupo Paranga, que sempre nos deu muita força e da sua própria música mesmo. A gente conhece as músicas do Elpídio, a gente toca as músicas do Elpídio. No próprio carnaval que a gente toca, as músicas do Elpídio foram baluartes para começar o estilo da marchinha e a gente bebeu dessa fonte, a gente bebe dessa fonte. A gente é assim muito influenciado, porque o Elpídio é um cara que foi muito à frente da sua época, não é à toa que tem 100 anos e ainda hoje 15 se toca Elpídio”. Os integrantes da banda, todos nascidos em São Luiz do Paraitinga, são: Netto Campos (Teclado e Voz), Rodolfo Santana (Violão e Voz), Leandro Barbosa (Viola caipira, Violão e Voz), Rafael Cursino (Violão), Rafael Ramos, o Gú, (Percussão), Paulo Ricardo, o Buiú, (Bateria), Renato Frade (Contrabaixo), Leonardo (Saxofone), Flávio (Trambone), Lucas (Trompete), “A banda se considera a segunda geração de artistas da cidade. De certa forma, a nova geração da cidade se identificou muito com a gente porque fazemos este trabalho de modernizar a nossa música. Temos um contato muito legal com o público, explica Netto Campos”. (http://mtv.uol.com.br) A Estrambelhados já participou de diversos festivais em São Luiz e em outras cidades, como a capital paulista. Para o futuro planejam levar a sua arte para diferentes localidades, principalmente aquelas que possuem um trabalho semelhante, como Recife e Olinda. 15 João Rafael Cursino, integrante do grupo Estrambelhados, em entrevista concedida em 05 de setembro de 2009. 33 “Hoje o Estrambelhados tem se dedicado, sobretudo a este trabalho das marchinhas carnavalescas, que é o que tem dado mais certo. São Luiz toca marchinha, mas é uma marchinha diferente, muita gente que ouve falar do carnaval de marchinha de São Luiz já fica achando que é uma coisa antiga e quando vem aqui, geralmente, se surpreende. Que é, assim, de pegar este estilo tradicional da música brasileira, que vem lá de Carmem Miranda pra cá, mas que traz essas novas influências, é uma música animada, uma música que mistura o pop, o rock, até o funk que seja, mas mostrando uma musicalidade própria, com uma história própria. Em São Luiz os personagens principais do carnaval não são o Pierrot nem a Colombina, é o Juca Teles, que era um oficial de justiça, é o Barbosa, o motorista do ônibus. Isso é muito forte, nessa identidade de uma cidade pequena, que é falar das coisas da cidade, falar da cultura, das lendas, e isso acaba entrando nessa musicalidade”, disse Rafael, 16 integrante do grupo. 3.5.3 – ULTRAPASSANDO FRONTEIRAS A influência de Elpídio dos Santos, não ficou só em São Luiz do Paraitinga, ela ultrapassou as fronteiras do município. A cantora Margareth Machado, realiza em São José dos Campos, o projeto “Relembrando e Cantando”, no qual apresenta a crianças, de cinco a seis anos, as composições de Elpídio dos Santos. Pra mim, é um prazer muito grande ensinar as canções de Elpídio, porque ele é daqui da região, próximo da gente, de São Luiz do Paraitinga. Nesse repertório para as crianças eu tenho feito Cai Sereno, também conhecida como Rama da Mandioquinha. Você vai gostar, muito conhecida como Casinha Branca e a Dona do Salão também, vou ter que tocar para lembar. Dona do Salão, Cai Sereno e Você vai Gostar. É só você ensinar que eles querem cantar e saem cantando”, disse a cantora joseense, em entrevista à produção do videodocumentário “Nas 17 Trilhas de Elpídio”. 16 João Rafael Cursino, integrante do grupo Estrambelhados, em entrevista concedida em 05 de setembro de 2009. 17 Margareth Machado, cantora, em entrevista concedia em 24 de setembro de 2009. 34 CAPÍTULO 4 – MODALIDADE : VIDEODOCUMENTÁRIO 4.1 – O QUE É DOCUMENTÁRIO? Segundo Bill Nichols (2005), todo filme é um documentário. Até mesmo as ficções revelam a cultura de quem a produziu ou de quem fez parte da história. “Os documentários de satisfação de desejos são os que normalmente chamamos de ficção. [...] 3Expressam aquilo que desejamos, ou tememos, que a realidade seja ou possa vir a ser. [...] Os documentários de representação social são o que normalmente chamamos de não ficção. Esses filmes representam de forma tangível aspectos de um mundo que já ocupamos e compartilhamos. Tornam visível e audível, de maneira distinta, a matéria de que é feita a realidade social, de acordo com a seleção e a organização realizadas pelos cineastas. Expressam nossa compreensão sobre o que a realidade foi, é e o que poderá vir a ser. Esses filmes também transmitem verdades, se assim quisermos. Precisamos avaliar suas reivindicações e afirmações, seus pontos de vista e argumentos relativos ao mundo como o conhecemos, e decidir se merecem que acreditemos nelas. Os documentários de representação social proporcionam novas visões de um mundo comum, para que as exploremos e compreendamos”. (NICHOLS, 2005, p.26-27) Para cada documentário, há pelo menos três histórias que se entrelaçam: a do cineasta, a do filme e a do público. Todos os tipos de filmes necessitam de uma interpretação, que depende dos valores de cada indivíduo. A crença é incentivada nos documentários para persuadir e convencer público, e assim, causar o impacto desejado. “O cineasta representa outras pessoas. A ideia de falar sobre um tópico ou assunto, uma pessoa ou indivíduo, empresta um ar de importância cívica a esse trabalho. Falar de alguma coisa pode incluir a narração de uma história, a criação de um estado de ânimo poético ou a construção de uma narrativa[...] mas também implica um desejo voltado para o conteúdo, um desejo de transmitir informação, basear-se em fatos e expressar opiniões sobre o mundo que compartilhamos”.[...] Eles. O pronome na terceira pessoa implica uma separação entre aquele que fala e aquele de quem se fala. O eu que fala não é idêntico àquele de quem se fala. [...] Você. Como “eles”, “você” sugere uma separação. Uma pessoa fala e a outra escuta. O cineasta fala e o público vê”. (NICHOLS, 2005, p.41-42) Nichols acredita que as pessoas assistem a documentários com a intenção de aprender mais sobre determinado assunto. “O vídeo e o filme documentário estimulam a epistefilia (o desejo de saber) no público. Transmitem uma lógica informativa, uma retórica 35 persuasiva, uma poética comovente, que prometem informação e conhecimento, descobertas e consciência. O documentário propõe a seu público que a satisfação desse desejo de saber seja uma ocupação comum. (NICHOLS, 2005, p.70) Documentário é uma narrativa com imagens-câmera que estabelece asserção: sobre o mundo, na medida em que haja um espectador que receba essa narrativa com asserção sobre o mundo. “Podemos afirmar que o documentário é uma narrativa basicamente composta por imagens de animação, carregadas de ruídos, música e fala (mas, no início de sua história, mudas), para as quais olhamos (nós espectadores) em busca de asserções sobre o mundo que nos é exterior, seja esse mundo coisa ou pessoa”. (RAMOS, 2008, p. 22) Ao contrário da ficção, o documentário estabelece asserções ou proposições sobre o mundo histórico. São duas tradições narrativas distintas, embora muitas vezes se misturem. “As proposições, as asserções, do documentário são enunciadas através de estilos diversos, variando historicamente. Há sempre uma voz que enuncia no documentário, estabelecendo asserções. No documentário clássico, até o final dos anos 1950, predomina a locução fora-de-campo (a voz over ou voz de Deus). É uma voz que possui saber sobre o mundo, enunciada, em geral, por meio de tonalidades grandiloqüentes”. (RAMOS, 2008, p. 23) Os documentários retratam a realidade, já os filmes ficcionais são fruto da imaginação dos cineastas. Possuem objetivos diferentes que causam impactos distintos nos telespectadores. “Alguns documentários utilizam muitas práticas ou convençõe que frequentemente associamos à ficção, como, por exemplo, roteirização, encenação, reconstituição, ensaio e interpretação. Alguns filmes de ficção utilizam muitas práticas ou convenções que frequentemente associamos à não ficção ou ao documentário, como, por exemplo, filmagens externas, não atores, câmeras portáteis, improvisação e imagens de arquivo (imagens filmadas por outra pessoa)”. (NICHOLS, 2005, p.17) Com o advento tecnológico, ficou mais rápido e fácil captar imagens com total fidelidade. Nesse sentido Nichols (2005, p.18-19), relata que por nossa própria conta e risco, acreditamos no que vemos e no que representa o que vemos. Portanto, os documentários têm a função de transmitir uma ideia do que é real. 36 Nichols (2005, p.20-21) acredita que “os vídeos e filmes documentários apresentam a mesma complexidade, o mesmo desafio, o mesmo fascínio e a mesma emoção que qualquer um dos tipos de filme de ficção”. “A partir dos anos 1960, com o aparecimento da estilística do cinema direto/verdade, o documentário mais autoral passa a enunciar por asserções dialógicas. Assemelha-se, então, ao modo dramático, com argumentos sendo expostos na forma de diálogos. O mundo parece poder falar por si, e a fala do mundo, a fala das pessoas, é predominantemente dialógica. A tendência mais participativa do cinema direto/verdade introduz no documentário uma nova maneira de enunciar: a entrevista ou depoimento. As asserções continuam dialógicas, mas não provocadas pelo cineasta. No documentário contemporâneo mais criativo, há uma forte tendência em se trabalhar com a enunciação em primeira pessoa. É geralmente o “eu” que fala, estabelecendo asserções sobre sua própria vida”. (RAMOS, 2008, p. 23) Os documentários apóiam-se muito nas entrevistas. O discurso dá realidade a nosso sentimento do mundo. O relato de um acontecimento resgata uma história. Nas décadas de 1920 e 1930 os documentários seguiam movimentos, como as obra de Dziga Vertov, Esther Shub, Victor Turin. A partir dos movimentos os documentários se subdividiram em diferentes modos, que geralmente tem seus defensores, princípios e objetivos. Diversos movimentos podem derivar de um único modo. Nichols classifica os modos em: “Modo poético: enfatiza associações visuais, qualidades tonais ou rítmicas, passagens descritivas e organização formal”. [...] Modo expositivo: enfatiza o comentário verbal e uma lógica argumentativa. [...] Modo observativo: enfatiza o engajamento direto no cotidiano das pessoas que representam o tema do cineasta, conforme são observadas por uma câmera discreta. [...] Modo participativo: enfatiza a interação do cineasta e tema. A filmagem acontece em entrevistas ou outras formas de envolvimento ainda mais direto. Frenquentemente, une-se à imagem de arquivo para examinar questões históricas. [...] Modo reflexivo: chama atenção para as hipóteses e convenções que regem o cinema documentário. Aguça nossa consciência da representação da realidade feita pelo filme. [...] Modo performático: enfatiza o aspecto subjetivo ou expressivo do próprio engajamento do cineasta com seu tema e a receptividade do público a esse engajamento. Rejeita ideias de objetividade em favor de evocações e afetos. [...]Todos os filmes desse modo compartilham características com filmes experimentais, pessoais e de vanguarda, mas com uma ênfase vigorosa no impacto emocional e social sobre o público”.(NICHOLS, 2005, p.62-63) É importante ressaltar que um documentário pode ser trabalhado com diferentes modos. 37 O documentário representa a história de acordo com determinado ponto de vista, assim a obra se torna um registro segundo a perspectiva do autor. “Na medida em que se propõe a estabelecer asserções sobre o mundo histórico, o documentário estará lidando diretamente com reconstituição e a interpretação de um fato que, no passado, teve a intensidade de presente. A reconstituição, ou interpretação, poderá ser valorizada positiva ou negativamente. A noção de verdade, muitas vezes, se aproxima de algo que definimos como interpretação”. (RAMOS, 2008, p. 31-32) 4.2 - CARACTERÍSTICAS DO DOCUMENTÁRIO O documentário não retrata fielmente a realidade. Por meio de uma pesquisa prévia os documentaristas reúnem provas que irão construir seus próprios conceitos sobre o mundo. De acordo com Ramos os documentários possuem características específicas: Podemos, igualmente, destacar como próprios à narrativa documentária: presença de locução (voz over), presença de entrevistas ou depoimentos, utilização de imagens de arquivo, rara utilização de atores profissionais (não existe um star system estruturando o campo documentário), intensidade particular da dimensão da tomada. Procedimentos com câmera na mão, imagem tremida, improvisação, utilização de roteiros abertos, ênfase na indeterminação da tomada pertencem ao campo estilístico do documentário, embora não exclusivamente.” (RAMOS, 2008, p. 25) 4.2.1- A VOZ Para interagir com o espectador o documentarista fala diretamente ou utiliza um substituto, o narrador com voz de Deus, que ouvimos em voz over. Este estilo surgiu em 1930. Para Nichols (2005, p.40) seu propósito é descrever uma situação ou problema, apresentar um argumento, propor uma solução e, às vezes, evocar um tom ou estado de ânimo poético. Todo documentário tem voz própria, justamente por não reproduzir a realidade e sim representar determinada visão de mundo. “A voz está claramente relacionada ao estilo, à maneira pela qual um filme, de ficção ou não, molda seu tema e o desenrolar da trama ou do argumento de diferentes formas, mas o estilo funciona de modo diferente no documentário e na ficção. A ideia da voz no documentário representa alguma coisa como “estilo com algo mais”. (NICHOLS, 2005, p.74) 38 Apesar de buscar a imparcialidade a voz no documentário sempre emite uma opinião. Na visão de Nichols (2005, p.90) O filme pode se converter numa fonte de “memória popular”, dando-nos a sensação vívida de como alguma coisa aconteceu num determinado tempo e lugar. ”Como orador de antigamente, o documentarista fala das questões cotidianas, propondo novas direções, julgando as anteriores, avaliando características de vidas e culturas [...] A voz do documentário atesta seu engajamento numa ordem social e sua avaliação dos valores subjacentes a essa ordem. É a orientação específica para o mundo histórico que dá ao documentário sua voz própria”.(NICHOLS, 2005, p.92) 4.2.2 - PERSONAGENS As personagens estão presentes tanto em filmes de ficção quanto em documentários. Nestes, elas exercem papel singular na personificação da realidade. “Se a narrativa ficcional se utiliza basicamente de atores para encarnar personagens, a narrativa documentária prefere trabalhar os próprios corpos que encarnam as personalidades do mundo, ou utiliza-se de pessoas que experimentaram de modo próximo o universo mostrado”. (RAMOS, 2008, p. 26) “As „pessoas‟ são tratadas como atores sociais: continuam a levar a vida mais ou menos como fariam sem a presença da câmera. Continuam a ser atores culturais e não artistas teatrais. Seu valor para o cineasta consiste não no que promete uma relação contratual, mas no que a própria vida dessas pessoas incorpora”. (NICHOLS, 2005, p.31) Mesmo sem intervir, as personagens tendem a modificar o comportamento com a presença da câmera. 4.3 – OS DIFERENTES TIPOS DE DOCUMENTÁRIO Bill Nichols (2005, p.135) classifica o documentário em seis subgêneros: poético, expositivo, participativo, observativo, reflexivo e performático. “A identificação de um filme com um certo modo não precisa ser total. Um documentário reflexivo pode conter porções bem grandes de tomadas observativas ou participativas; um documentário expositivo pode incluir segmentos poéticos ou performáticos. As características de um dado modo funcionam como dominantes num dado filme: elas dão estrutura ao todo do filme, mas não ditam ou determinam todos os aspectos de sua organização. Resta uma considerável margem de liberdade”. (NICHOLS, 2005, p.136) 39 4.3.1- MODO POÉTICO O documentário poético não respeita a ordem cronológica dos fatos, possui ritmos e estruturas não definidos. Os personagens não emitem conceitos e opiniões pré-estabelecidos pela sociedade, cada um possui sua própria visão de mundo. Para Nichols,(2005, p.138) o documentário poético compartilha um terreno comum com a vanguarda modernista. O modo poético sacrifica as convenções da montagem em continuidade. É o cineasta que escolhe o desfecho da produção. “O modo poético tem muitas facetas, e todas enfatizam as maneiras pelas quais a voz do cineasta dá a fragmentos do mundo histórico uma integridade formal e estética peculiar ao filme”. (NICHOLS, 2005, p.141) 4.3.2 – MODO EXPOSITIVO O modo expositivo é mais argumentativo do que poético. Sua função é expor os fatos como eles realmente são. Para isso, utiliza alguns recursos, como: legendas e narrador com voz de Deus (aquele que é ouvido, mas jamais visto) Este modo segue a ordem cronológica dos acontecimentos, para que seu conteúdo seja compreendido pelo telespectador. “Os documentários expositivos dependem muito de uma lógica informativa transmitida verbalmente. Numa inversão da ênfase tradicional do cinema, as imagens desempenham papel secundário. Elas ilustram, esclarecem, evocam ou contrapõem o que é dito. O comentário é geralmente apresentado como distinto das imagens do mundo histórico que o acompanham. Ele serve para organizar nossa atenção e enfatiza alguns dos muitos significados e interpretações de um fotograma”. (NICHOLS, 2005, p.143) 4.3.3 – MODO OBSERVATIVO Para dar a sensação de real, este modo acompanha a duração real dos acontecimentos. De acordo com Nichols, (2005, p. 149), os documentários observativos rompem com o ritmo dramático dos filmes de ficção convencionais e com a 40 montagem, às vezes apressada, das imagens que sustentam os documentários expositivos ou poéticos. 4.3.4 – MODO PARTICIPATIVO No modo participativo, o cineasta vai à campo e transmite ao telespectador a sensação de vivenciar determinada situações, dando mais veracidade aos fatos. Diferente dos outros modos, este não utiliza de recursos para persuasão. “Quando assistimos a documentários participativos, esperamos testemunhar o mundo histórico da maneira pela qual ele é representado por alguém que nele se engaja ativamente, e não por alguém que observa discretamente, reconfigura poeticamente ou monta argumentativamente esse mundo [...] o cineasta guarda para si a câmera e, com ela, um certo nível de poder e controle potenciais sobre os acontecimentos”.(NICHOLS, 2005, p.154) 4.3.5 – MODO REFLEXIVO O foco do documentário reflexivo é o diálogo entre o cineasta e o espectador, a fim de levantar um debate sobre determinado tema. “Em vez de seguir o cineasta em seu relacionamento com os outros atores sociais, nós agora acompanhamos o relacionamento do cineasta conosco, falando não só do mundo histórico como também dos problemas e questões da representação”. (NICHOLS, 2005, p.162) Segundo o autor, (2005, p. 166), o documentário reflexivo estimula no espectador uma forma mais elevada de consciência a respeito de sua relação com o documentário e aquilo que ele representa. 4.4 – COMO TUDO COMEÇOU De acordo com Bill Nichols o documentário surgiu com a intenção de nos revelar o passado e responder questões cotidianas. “Ninguém tentou “Inventar” o documentário como tal. O esforço para construir uma história no documentário, uma história com começo, bem distante no tempo, e um fim, agora ou no futuro, aconteceu depois do fato. Surgiu com o desejo de cineastas e escritores, como eu, de compreender como as coisas chegaram ao ponto em que estão hoje. Mas, para aqueles que vieram antes, bem antes, de nós, o ponto em que estão as coisas hoje era mera especulação. O interesse desses cineastas e escritores não era abrir um caminho livre e desobstruído para o desenvolvimento de uma tradição documental que ainda não existia. Seu interesse e sua paixão eram a exploração dos limites do cinema, a descoberta de novas possibilidades e de formas ainda não experimentadas. O fato de alguns desses trabalhos terem se consolidado no que hoje denominamos documentário acaba por 41 obscurecer o limite indistinto entre ficção e não-ficção, documentação da realidade e experimentação da forma, exibição e relato, narrativa e retórica, que estimularam esses primeiros esforços. A continuação dessa tradição de experimentação foi o que permitiu que o documentário permanecesse um gênero ativo e vigoroso”. (NICHOLS, 2005, p.116/117) O documentário se fortaleceu com o advento do cinema que foi o meio de comunicação que mais se destacou na época. “Usa-se o vídeo, muitas vezes, como forma de registro e memória de acontecimentos (função que cabia antes à fotografia), ou como canal de difusão do cinema, canal marginal até a pouco tempo, mas que já ameaça desbancar as salas tradicionais de exibição. Uma primeira tarefa que se impõe a quem pretenda lançar alguma luz nessa confusão é descobrir onde esta verdadeiramente o vídeo, entendido como tal forma de representação distinta.” (MACHADO, 2001, p. 46/47) Para Nichols (2005, p.117) os documentários geralmente dão a impressão de que, de nosso cantinho no mundo, olhamos para fora, para alguma outra parte do mesmo mundo”. “A imagem tem um ritmo cativante e uma mágica sedutora [...] A experiência de assistir a um filme difere da de olhar para a realidade de maneira que as palavras só conseguiram explicar imperfeitamente”. (NICHOLS, 2005, p.125) 42 CAPÍTULO 5 - ROTEIRO Basicamente, o roteiro é a forma escrita de um projeto audiovisual, que pode ser teatro, cinema, vídeo, televisão ou rádio. Segundo Comparato, (1999, p.20), um bom roteiro não é garantia de um bom filme, mas sem um bom roteiro não existe com certeza um bom filme. O roteiro é dividido em: logos, pathos e ethos. Logos é a estrutura geral do projeto. Pathos, representa o enredo, o drama. Ethos é a moral da história, a razão pela qual se escreve. “Escrever um roteiro é um processo passo a passo. Um passo de cada vez. Primeiro encontra-se um tema; depois estrutura-se a idéia; em seguida, definem-se as personagens; mais tarde, procuram-se os dados que façam falta; posteriormente estrutura-se o primeiro ato em fichas de 3x5; então escreve-se o roteiro, dia a dia. Primeiro o primeiro ato, depois o segundo e depois o terceiro. Quando o primeiro rascunho está pronto, fazem-se uma revisão profunda e as alterações necessárias para ajustar à dimensão adequada. Por último é preciso poli-lo até estar pronto para ser visto por todos”.(COMPARATO, 1999, p.22) No caso de videodocumentários, o roteiro serve como uma guia, muitos fatos podem surgir durante as gravações, interferindo no que havia se pensado inicialmente. “Um bom documentário nunca conclui, nunca fecha uma questão. Ele mostra os fatos pelo maior número de ângulos possíveis e deixa a interpretação desses fatos para o espectador. Um documentário, nunca deve tentar induzir o espectador e sim fazê-lo refletir”. (COMPARATO, 1983, p. 224) 5.1 – COMO SE FAZ? Tudo surge através de uma ideia. A escolha do tema pode surgir de diferentes maneiras: A ideia lida pode ser adquirida por meio da leitura, seja de jornal, livros ou revistas. A ideia pode ser transformada, ou seja, provém de outras obras, enquanto o plágio é a cópia de parte de uma história. Há também ideias encomendadas, pesquisadas de acordo com o mercado. E os tipos mais comuns, nascem da bagagem cultural de cada indivíduo e sua realidade, tida como ideia selecionada, que também pode ser aliada a ideia verbalizada, quando alguém nos conta algo. 43 Definido o tema, as informações serão baseadas em uma ideia central, a que chamamos de story line, que nada mais é do que reduzir o enredo em poucas palavras, que servirão como guia para todo trabalho. No caso deste TCC, seguimos a seguinte premissa: “A influência de Elpídio dos Santos na musicalidade de São Luiz do Paraitinga-SP”. “Uma story line deve ser breve, conciso e eficaz. Não deve ultrapassar as cinco linhas, e através dela devemos ficar com a noção daquilo que vamos contar”. (COMPARATO, 1999, p.24) Feito isso, foi realizada uma pesquisa exploratória para levantar informações sobre o objeto de estudo, o compositor Elpídio dos Santos. Após contato com familiares do músico, foi elaborado um pré roteiro, com as possíveis personagens e locações para as futuras filmagens: 5.1.1- PRÉ-ROTEIRO HISTÓRIA ANTES DO CASAMENTO – A Influência do Pai na vida musical de Elpídio O CASAMENTO FONTES: • Dona Cinira • Os seis filhos vivos: Maria Regina dos Santos Maria Aparecida dos Santos (Parê) Pedro Luiz dos Santos (Negão) Maria Cinira dos Santos (Nena) Maria Alaíde dos Santos Paulo Celso dos Santos (Pauleca) OBS: Elpídio dos Santos Filho, o Pio, nasceu em 1955, e morreu aos 37 anos. Elpídio possui um irmão vivo, Benedito. condições de conceder entrevista. • Netos, hoje ligados à arte: Lia (canta) Joana (tem projetos ligados à dança e canta) MÚSICA O COMEÇO EM SÃO LUIZ DO PARAITINGA Porém ele não está em 44 Afonso Pinto – compositor, parceiro de Elpídio. Mora em São Luiz do Paraitinga. A IDA PARA SÃO PAULO Natal – ex-aluno Alicinha – Irmã do Natal Marco Antônio – ex-aluno Aimar – ex-aluna O RETORNO A TERRA NATAL – O CORAL Dona Tonha Dona Didi Dona Olga O ARTESANATO/ ESCULTURAS Demétrio (Taubaté) A INFLUÊNCIA Paranga Negão, Renata e João Gaspar Galvão (Nho) - Ex-integrante / ex secretário de cultura Estrambelhados João Rafael / Neto (atual secretário de cultura) Eduardo – Secretário de Turismo (Como a influência musical de Elpídio dos Santos contribui para o turismo da cidade) LOCAÇÕES São Luiz do Paraitinga: • Casa da Dona Cinira • Centro Cultural e Instituto Elpídio dos Santos • Casa onde Elpídio nasceu – Centro • Casa onde Elpídio viveu na infância (Hoje é a casa da Tia Cida) – Centro • Coreto São Paulo • Apartamento onde a família viveu (Hoje o imóvel ainda é da família Santos) – Conjunto dos Bancários – Vila Mariana Taubaté • Hotel e Museu Mazzaropi • Escola de Música Fêgo Camargo (onde Elpídio deu aula, quando voltou de São Paulo, em 1968). 45 OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: • “ELPÍDIO NA SALA DE AULA” Projeto das filhas de Elpídio, Regina e Parê, que são educadoras. Leva a história do artista às crianças de São Luiz do Paraitinga. “Uma história pode ser narrada por diversos ângulos, técnicas de abordagem. A mais comum é aquela que o escritor ou roteirista não interfere no enredo. Ele coloca-se no ponto de vista do espectador e deixa a coisa rolar” (REY, 1997, p.24) 5.1.2 - SINOPSE A sinopse, ou argumento, tem a função de definir o papel das personagens na trama. “A história começa aqui, passa por ali e acaba assim”. (COMPARATO, 1999, p.25) Seguindo este conceito, foi elaborado um rascunho que serviu como base para o roteiro final. “Este rascunho de roteiro será revisto por algumas mãos – o produtor, o diretor – e irá proporcionar a primeira visão do trabalho realizado [...] Chamo a esta fase de múltiplas revisões a guerra do papel”. (COMPARATO, 1999, p.27). 5.1.3 – RASCUNHO ABERTURA: NO CORETO DA PRAÇA, EM PRETO E BRANCO, O PARANGA TOCANDO A MÚSICA “CASINHA BRANCA – VOCÊ VAI GOSTAR”– APARECE O ANO./ A CENA, AOS POUCOS, FICA COLORIDA – APARECE A PALAVRA “HOJE” (ENQUANTO A BANDA TOCA A MESMA MÚSICA) 46 SONORA 3 FAMOSOS FALAM A MÚSICA SÉRGIO REIS GRAVARAM E A IMPORTÂNCIA ALMIR SATER DE ELPÍDIO PARA A MÚSICA RENATO TIEIXEIRA BRASILEIRA SONORA CINIRA- VIÚVA DONA CINIRA, QUE DEFINA EM POUCAS PALAVRAS, ELPÍDIO DOS SANTOS. SONORA HISTORIADOR “MUSICAL” DÁ O CONTEXTO MUSICAL E INSERE O ELPÍDIO NA HISTÓRIA. ARTE TELA LATERAL E AO REDOR PANO DE FUNDO DE CHITA MÚSICA FALA QUAL A SONORA REGINA – FILHA MÚSICAPREFERIDA E DÁ UMA PALINHA ARTE SONORA AFONSO PINTO COMO ERA ELPÍDIO NA JUVENTUDE? QUAL A SUA RELAÇÃO COM ELPÍDIO? SONORA DONA DIDI + TONHA – COMO AMIGAS JUVENTUDE? SONORA CINIRA – VIÚVA COMO CONHECEU ELPÍDIO – ERA ELPÍDIO NA ATÉ O CASAMENTO ARTE MÚSICA FALA QUAL A MÚSICA SONORA NETO PREFERIDA E DÁ UMA PALINHA ARTE SONORA REGINA- FILHA COMO ERA ELPÍDIO PAI? ELE SEMPRE INFLUÊNCIOU A 47 MÚSICA EM CASA? QUAL A LEMBRANÇA MAIS MARCANTE QUE VOCÊ TEM DE SEU PAI? VOCÊ SENTE ORGULHO DO SEU PAI? OBS: MESMAS PERGUNTAS PARA TODOS OS FILHOS. SONORA PARÊ – FILHA SONORA NEGÃO- FILHO SONORA NENA- FILHA SONORA MARIA ALAIDE- FILHA SONORA PAULECA- FILHO FALA DE PIO SONORA CINIRA- VIÚVA ARTE FALA DA MÚSICA PREFERIDA E MÚSICA SONORA AFONSO PINTO – DÁ UMA PALINHA AMIGO ARTE SONORA DEMÉTRIO – AMIGO FALA COMO ERA ELPÍDIO ESCULTOR E ARTESÃO SONORA REGINA- FILHA FALA DA MÁGICA ARTE MÚSICA DIDI- AMIGA FALA QUAL A MÚSICA PREFERIDA E DÁ UMA PALINHA ARTE SONORA HISTORIADOR FALA DO COMEÇO DO SUCESSO DE ELPÍDIO (ANTES DE IR PARA SÃO PAULO) SONORA CINIRA – VIÚVA FALA DA IDA PARA SÃO PAULO SONORA ALUNOS SP COMO ERA ELPÍDIO PROFESSOR DE MÚSICA ARTE 48 MÚSICA RENATA – ESPOSA DO FALA NEGÃO PREFERIDA E DÁ UMA PALINHA QUAL A MÚSICA ARTE SONORA CINIRA – VIÚVA FALA DA VOLTA DE SÃO PAULO E DO ENCONTRO COM MAZZAROPI SONORA HOTEL MAZZAROPI COMO MAZZAROPI CONTRIBUIU PARA A CARREIRA DE ELPÍDIO? SONORA HISTORIADOR FALA DA VOLTA DE ELPÍDIO – FORMAÇÃO DO CORAL SONORA DIDI + TONHA + OLGA FALAM COMO ERA O CORAL – AMIGAS ARTE MÚSICA NEGÃO FALA QUAL A MÚSICA PREFERIDA E DÁ UMA PALINHA ARTE CINIRA FALA DA MORTE DE ELPÍDIO SONORA REGINA – FILHA FALA DA MORTE DO PAI ARTE MÚSICA AIMAR FALA QUAL A MÚSICA PREFERIDA E DÁ UMA PALINHA ARTE SONORA CINIRA – VIÚVA FALA DO NASCIMENTO DO PARANGA SONORA NEGÃO- FILHO COMPLEMENTA, SOBRE O FALANDO NASCIMENTO DO PARANGA SONORA RENATA- ESPOSA DO FALA DO NEGÃO NEGÃO E CASAMENTO COMPLEMENTA HISTÓRIA DO PARANGA SONORA JOÃO – INTEGRANTE PARANGA COM FALA DO PARANGA HOJE A 49 ARTE MÚSICA PAULECA FALA QUAL A MÚSICA PREFERIDA E DÁ UMA PALINHA ARTE SONORA NETO FALA DA ESTRAMBELHADOS SONORA OUTRO FALA DA ESTRAMBELHADOS SONORA NANDO LUZ – MÚSICO FALA DA INFLUÊNCIA DE ELPÍDIO - BAHIA SONORA GABRIEL – MÚSICO FALA DA INFLUÊNCIA DE DA INFLUÊNCIA DE ELPÍDIO SONORA MARGARETH- FALA CANTORA ELPÍDIO MOSTRA CORAL CRIANÇAS – CORAL DAS ARTE MÚSICA CINIRA FALA DA MÚSICA PREFERIDA E DÁ UMA PALINHA ARTE 5.1.4 – PERSONAGENS No caso deste TCC, a sinopse representa a trajetória de vida do músico Elpídio dos Santos, que viveu em São Luiz do Paraitinga. Esta história foi contada por familiares e amigos do artista e também por profissionais da área musical. Para Rey (1997, p. 27), o personagem é o grande elo entre o autor e público. Se bem concebido, por inteiro [...] traz no bojo toda uma biografia repleta de fatos. O documentário “Nas trilhas de Elpídio”, resultado deste projeto, conta com as seguintes personagens: Familiares de Elpídio dos Santos 1- Cinira dos Santos – Viúva; 2- Maria Regina dos Santos – Filha; 50 3- Maria Aparecida dos Santos (Parê) – Filha; 4- Pedro Luiz dos Santos (Negão) – Filho; 5- Maria Cinira dos Santos (Nena) – Filha; 6- Maria Alaíde dos Santos (Cá) - Filha; 7- Paulo Celso dos Santos (Pauleca) – Filho; 8- Pedro dos Santos Egypto de Cerqueira – Neto; 9- Marcel dos Santos Toledo – Neto; 10- Maysa dos Santos Toledo – Neto; 11- Leopoldo Santos Toledo – Neto; 12- Lia Marques Luiz dos Santos – Neta; 13- Julia Pereira dos Santos – Neta; 14- Flora Simeão dos Santos – Neta; 15- Joana dos Santos Egito de Cerqueira – Neta; 16- Nina – Neta. Amigos de Elpídio dos Santos 17- Afonso Pinto – Amigo; 18- Benedita Antunes de Andrade (Didi) – Amiga; 19- Olga Pires Fontes – (Olguinha) – Amiga. Músicos 20- Renato Teixeira – Cantor; 21- Zeca Baleiro – Cantor; 22- Fafá de Belém – Cantora; 23- Mariana Belém – Cantora; 24- Zé Geraldo – Cantor; 25- Sérgio Reis – Cantor; 26- Gabriel Sater – Cantor; 27- Nando Luz – Cantor; 28- Joca Freire – Cantor; 29- Renata Marques – Cantora; 30- João Gaspar – Músico; 31- Margarete Machado – Cantora; 32- Grupo Estrambelhados. 51 Estudiosos de música e cultura popular 33- Alessandro Silva – Professor de História da Música; 34- Eduardo Coelho – Pesquisador da Cultura Luizense. “O importante é que o produto final resulte harmonioso e, como uma interação personagem-história indestrutível, como se de uma grande verdade se tratasse”. (COMPARATO, 1999, p.124) 5.1.5 – ROTEIRO FINAL No roteiro final, acrescenta-se a noção de tempo dramático, ou seja, quanto tempo cada cena vai durar. Para isso, coloca-se diálogos ou falas das personagens, no caso de documentários. Comparato (1999, p. 27) afirma que o roteiro final é o guia para a construção do produto audiovisual. É o momento em que a unidade dramática, a cena, se torna realidade. “A credibilidade de uma história está intrinsecamente unida a verdade das coisas, às necessidades reais do homem. Estes valores têm de ser mantidos se se pretende que a história seja verossímil”.(COMPARATO, 1999, p.179) Para este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), foi realizado o seguinte roteiro final: TÉCNICA TEXTO ABERTURA – ARTE USAREMOS MUSICAL, UMA COM PAUTA FLORES DE CHITA QUE SERVIRÁ DE BASE PARA O NOME DO VIDEODOCUMENTÁRIO: “NAS TRILHAS DE ELPÍDIO”. TRILHA: A DOR DA SAUDADE 52 (PARTE INSTRUMENTAL) -CLIP MOSTRANDO A CIDADE DE SÃO LUIZ E FOTOS DA CARREIRA DE ELPÍDIO DOS SANTOS. SONORA FAMOSOS ELPÍDIO É UM MESTRE. QUEM PROCURA RENATO TEIXEIRA - CANTOR MÚSICA TC: 6’40’’ PASSA CONHECER BRASILEIRA POR E A NÃO ELPÍDIO, REALMENTE NÃO VAI FAZER O TRAJETO COMPLETO. SONORA FAMOSOS ...“CASINHA VAI BRANCA” GOSTAR), (VOCÊ MÚSICA DA ZECA BALEIRO - CANTOR MINHA INFÂNCIA, MINHA MÃE TC: 0H41M00S A 0H42M11S: CANTAVA, CANTAROLAVA ENQUANTO FAZIA AS COISAS... SONORA FAMOSOS ...O BRASIL FELIZMENTE ESTÁ RESGATANDO OS OS SEUS FAFÁ DE BELÉM - CANTORA CANTORES. CANTORES TC: 06’59’’ QUE CANTARAM ESTE PAÍS [...] EU ACHO QUE ELPÍDIO VEM JUNTO COM ESSA REDESCOBERTA DO BRASIL.” IMG FOTO ELPÍDIO COM IMG DE CINIRA SE FUNDINDO – EFEITO SUAVE. SONORA CINIRA – VIÚVA DE ELE ERA UMA PESSOA BOA! ELPÍDIO SABE? UMA PESSOA BOA PARA MIM, COMO MULHER, PARA A TC: 0.03.39 A TC: 0.04.46 FAMÍLIA DELE, MÃE, E TUDO. PELOS FILHOS, NOSSA SENHORA! ERA UMA PAIXÃO 53 PELOS FILHOS. SONORA PARÊ – FILHA DE ...O ELPÍDIO MARAVILHOSO ELPÍDIO PAI FOI [...] TC: 0H45M06S A 0H45M39S. ...ENTÃO A GENTE ERA MUITO GRUDADO NELE. ENTÃO, ELE FOI UM PAI EXCELENTE. E NA MINHA CASA ERA MUITA HARMONIA, PORQUE MEU PAI E MINHA MÃE SE DAVAM MUITO BEM. ENTÃO A GENTE CRESCEU NUM AMBIENTE BEM BACANA. SONORA ...NO FINAL DO SÉCULO XIX E – COMEÇO DO SÉCULO XX, A PROFESSOR DE HISTÓRIA DA MÚSICA BRASILEIRA ERA TIDA MÚSICA PELA ALTA SOCIEDADE, PELA ALESSANDRO SILVA CAMADA TC: 0H01M44S A 0H06M10S MAIS SOCIEDADE, ALTA COMO DA UMA MÚSICA MENOR [...] ERA TIDO INSERTE : IMG ELPÍDIO E O COMO MÚSICA DE MALANDRO. VIOLÃO MÚSICA QUEM DA ERA MALANDRAGEM. VIOLINISTA ERA MALANDRO. ERA BOÊMIO. [...] E O ELPÍDIO NASCE NESSA ÉPOCA. [..] E O DESENROLAR DA HISTÓRIA DA MÚSICA É A PARTIR DESSE MOMENTO, A PARTIR DE 1910/1915, ELA COMEÇA A MUDAR. COM A ERA DO RÁDIO A MÚSICA BRASILEIRA COMEÇA A SER 54 MAIS ACEITA PELA SOCIEDADE. E EU ACHO QUE O ELPIDIO, ELE NASCE NUM MOMENTO QUE A MÚSICA BRASILEIRA É UM POUCO MAL VISTA, MAS NO DECORRER DA SUA VIDA, DA SUA INFÂNCIA ADOLESCÊNCIA, BRASILEIRA E A MÚSICA GANHA MAIS STATUS. [..] E EU ACHO QUE O ELPÍDIO VEM DESSA CULTURA. DESSA CULTURA MUITO DO RÁDIO. ARTE - DVD CANTANDO – FAFÁ CORTINA DE CHITA, ABERTA. DE BELÉM CENAS MÚSICA: DEPOIS DO CHIMARRÃO SONORA AFONSO DO – SHOW DVD GRAVADO EM HOMENAGEM AO CENTENÁRIO DE ELPÍDIO. PINTO – ELE ERA UMA PESSOA MUITO AMIGO DE ELPÍDIO BOA, MUITO TC:19’:55” A 20’:09” HUMILDE, CARINHOSO, SIMPLES, INTELIGENTE, AGRADÁVEL. TUDO QUE UM SER HUMANO PODE TER DE BOM, TINHA ELE. [...] ...TANTO AMIGO QUE A GENTE TC: 20’:09” A 20’:21” ERA QUE EU LEVEI ELE PARA MEU COMPADRE, MINHA ÚLTIMA FILHA FOI ELE QUE BATIZOU, QUE HOJE ESTÁ COM 42 ANOS, MINHA FILHA. SONORA DONA DIDI - AMIGA AH ELE ERA SIMPATICÍSSIMO, DE ELPÍDIO SE VESTIA MUITO BEM. [...] TC: 04’:55” A 05’:35” NÃO TIRAVA O TERNO E NEM A 55 GRAVATA. ELE ERA MUITO UMA INSERTE: FOTO ELPÍDIO DE PESSOA TERNO MUITO RESPEITADA. SONORA OLGUINHA- AMIGA DE NÃO SEI NEM COMO FALAR. ELPÍDIO NÃO TC: 0H02M29S A 0H02M47S. EXPRESSAR. SEI SIMPÁTICA, COMO UMA ME ÓTIMA PESSOA. [...] EXCELENTE! MARAVILHOSO. MUITO BOM. (CHORO) ARTE - DVD CANTANDO – ZÉ GERALDO MÚSICA: CABOCLO DA ROÇA SONORA CINIRA BOM, AQUI É UMA CIDADE PEQUENA, NÉ? E ELE ERA TC: 0.00.40 A TC: 0.01.16 MUITO VISÍVEL PORQUE ELE ERA MÚSICO, NÉ? E BAILE, INSERTES: FESTAS, ESSAS FOTO DE ELPÍDIO E AMIGAS NA SEMPRE ELE ESTAVA. E EU JANELA TAMBÉM FOTO CINIRA JOVEM DANÇAVA E TUDO NO MEU FOTO CASAL TEMPO DE MOÇA. E FOI ASSIM SEMPRE COISAS GOSTEI, QUE A GENTE SE CONHECEU, POR AQUI MESMO. E AI APARECEU, SURGIU ESSE NAMORO QUE DEMOROU... EU NAMOREI TREZE ANOS. DAÍ, UM DIA ELE FALOU: OLHA NIRA!. E ELE ME CHAMAVA DE NIRA. “OLHA, EU VOU DIZER UMA TC:0.08.25 COISA PARA VOCÊ, EU VOU 56 PROVIDENCIAR CONVÉM A AQUI, GENTE E CASAR PORQUE EU JÁ PASSEI, JÁ NAMOREI, JÁ E TUDO; E AGORA TC.0.09.37- A TC.0.10.35 EU VOU ASSENTAR MINHA CABEÇA. EU DISSE: EU NÃO ACREDITO! “ MAS VOCÊ PODE ACREDITAR. PALAVRA DE HOMEM.” [...] E CASEI. UM CASAMENTO BEM SIMPLES... [...] EU ACHO QUE A GENTE TEM O DESTINO, NÃO SEI! QUE ATRAI, OU ATRAI A GENTE, OU A TC: 0.02.45 A TC. 0.03.33 GENTE ATRAI ELE. EU SEMPRE GOSTEI DE MÚSICA E NÃO CONHEÇO UMA NOTA DE MÚSICA; E VIVI TRINTA ANOS PERTO DE MÚSICO [...] EU TAMBÉM TIVE SETE FILHOS, E SETE MÚSICOS. SONORA NEGÃO ...O PAI DELE, MESTRE ALVES, TC: 10’:16” A 10’:58 ERA MAESTRO DE UMA BANDA QUE INSERTE: FOTO DA BANDA ERA FORMADA POR FILHOS E SOBRINHOS. E O MEU PAI COM SETE ANOS, COMO O VÔ VIU NELE O DOM MUSICAL, COM SETE ANOS CADA DIA O VÔ ENSAIAVA O ELPÍDIO NUM INSTRUMENTO, PORQUE SE FALTASSE ALGUÉM DA BANDA 57 ELPÍDIO ENTRAVA. ENTÃO O PAI TOCAVA TODOS OS INSTRUMENTOS DE BANDA. SONORA NENA A MINHA MÃE CONTA QUE ELE TC: 09’:06” A 10’:06” FAZIA MÚSICA, QUE ELE COMPUNHA, AI TAVA TODAS AS CRIANÇAS DORMINDO, AI ELE CHAMAVA TODO MUNDO, AI TODO MUNDO JÁ APRENDIA A CANTAR A MÚSICA, AI ELE JÁ GRAVAVA A GENTE, CANTANDO FAZENDO CORINHO E TAL, AÍ ELE BOTAVA A GENTE PRA CANTAR E BONITINHO E DORMIR, APRENDIA AÍ POR ELE QUE IA ELE TRABALHAVA NO BANCO E AÍ MINHA MÃE LEVANTAR TINHA PRA POR QUE A CRIANÇADA NA CAMA. [...] ENTÃO VOCÊ VÊ QUE ESSA COISA DA MUSICA É MUITO FORTE NA GENTE, MAS JÁ POR CONTA DISSO. SONORA REGINA – FILHA DE NA MINHA CABEÇA EU NÃO ELPÍDIO CONSIGO DESASSOCIAR ELE TC: 0H18M01S A 0H19M59S DA MÚSICA. NÃO TEM COMO! INSERTE: SABE UMA PESSOA QUE TEM FOTO ELPÍDIO E REGINA COLORIDA ESSA RELAÇÃO TÃO ESTREITA QUE NÃO DESASSOCIAR MÚSICA. DÁ ELPÍDIO PRA DA ENTÃO A PRÓPRIA 58 RELAÇÃO DE ACABAVA PAI E FILHA, TENDO COMO ELEMENTO A MÚSICA. ARTE - DVD CANTANDO – CHICO TEIXEIRA MÚSICA : SAUDADE DANADA SONORA CINIRA – VIÚVA DE ...UM DIA APARECEU ALGUÉM ELPÍDIO LÁ E FALOU: “OLHA ELPÍDIO, TC.0.35.20 A TC: 0. 44.20 VOCÊ NÃO SABE!.TEM UM HOMEM COM UM CIRCO AI, E INSERTE: FOTO ELPÍDIO E MAZZAROPI ELE TÁ A PERIGO, PORQUE CHOVENDO DESSE JEITO, E NÃO DÁ CASA, E ELE NÃO TEM DINHEIRO PARA CONTRATAR MÚSICO... . AÍ, O ELPÍDIO:“ AH, NÃO SEJA POR ISSO!.” ELE FOI NA CASA DELE, CONVERSOU COM A FAMÍLIA, COM OS PAÍS, COM OS IRMÃOS, COM TUDO. TODOS ERAM MÚSICOS, NÉ?, E ELE FOI PROCURAR QUEM ERA ESSE HOMEM, QUE ELE NÃO TINHA VISTO AINDA. ERA O MAZZAROPI. SONORA AFONSO PINTO – ...AÍ SIM, O AMIGO DE ELPÍDIO COMEÇOU TC: 22’:16” A 24’:17” ELE, AI FOI O CONHECIMENTO QUE ELE MAZAROPPI, A COMPADRE COMPOR TEVE COM PRA O COMPONDO TODAS AS MÚSICAS... SONORA ALESSANDRO – ...NÃO É QUALQUER UM QUE IA PROFESSOR DE HISTÓRIA DA FAZER AS TRILHAS SONORAS 59 MÚSICA DOS FILMES DO MAZZAROPI. O MAZZAROPI SENDO ASSIM UM TC: 0H19M46S A 0H21M22S PRODUTOR DE FILMES, ELE TINHA IMGS – FILMES DO MAZZAROPPI (SOBE SOM) CONDIÇÕES DE CONTRATAR MUITOS MÚSICOS (...) OS MELHORES MÚSICOS. E ELE PROCUROU ELPÍDIO. POR QUÊ? TC: 0H27M13S A 0H27M54S POR QUE ERA UMA PESSOA QUE ELE CONFIAVA PRA FAZER A TRILHA SONORA DE SEUS FILMES. [...] ENTÃO ACHO QUE A PARTIR DAÍ QUE BRILHANTE COMEÇA UMA... CARREIRA DE ELPÍDIO. SONORA AFONSO PINTO- AMIGO DE ELPÍDIO OLHA ELE NÃO TINHA LUGAR, PRA ESCREVER NÃO TINHA LUGAR. NÓS ESTÁVAMOS AS TC: 21’:39” NA 22’:11” VEZES, ELE TAMBÉM FREQÜENTAVA O BAR COMIGO, NÃO ERA DE BEBER, MAS ELE INSERTE: CADERNO MÚSICAS DE ELPÍDIO DE FREQÜENTAVA O BAR COMIGO E NO BAR ELE COMEÇAVA UM PEDACINHO. NO ÔNIBUS, QUE VIAJAVA TODO DIA, TODOS OS DIAS QUE DAVA AULA EM TAUBATÉ TAMBÉM. ESCREVIA MAIS UM PEDACINHO E IA AJUNTANDO AS PALAVRAS E MONTAVA A MÚSICA. DEPOIS ELE MOSTRAVA E CONCLUÍA A COISA LÁ E PUNHA PRA 60 CANTAR. SONORA CINIRA – VIÚVA DO TEM UMA MÚSICA, QUE EU MÚSICO ACHO QUE JÁ GRAVOU MAIS TC: 0.19.22 A TC: 0.20.19 DE VINTE VEZES, QUE ELES TC: 0.48. 18 A TC: 0.48.38 FALAM SOBE SOM DA MÚSICA DO DVD MAS O NOME NÃO É ESSE É “VOCÊ VAI GOSTAR” „VOCÊ VAI GOSTAR‟. “CASINHA BRANCA”, ARTE - DVD – TODOS ARTISTAS CANTANDO MÚSICA: VOCÊ VAI GOSTAR SONORA CINIRA ...O ELPÍDIO TRABALHAVA NO BANCO QUE NÃO EXISTE MAIS; TC: 0.04.52 A 0.05.51 É BANCO DO VALE DO PARAÍBA [...] ENTÃO, COM O TEMPO INSERTE: FOTO DA FAMÍLIA EM REMOVERAM ELE PARA SÃO SÃO PAULO PAULO. “AI, MEU DEUS! ELE NÃO QUERIA IR, MAS TRILHA: MÚSICA 5 CD “EM PRECISAVA NOME DO PAI, DO FILHO, DO ELE TAVA CASADO E TUDO, AI ELPÍDIO DOS SANTOS” MUDEI TRABALHAR PARA SÃO NÉ? PAULO. MOREI QUINZE ANOS LÁ. [...] ELE TOCAVA 22 INSTRUMENTOS, MAS QUE NÃO TINHA FALOU: INSERTE: PAREDE COM INSTRUMENTOS TÁ DAÍ ELE FICANDO COMPLICADO ENFRENTAR OS MÚSICOS AÍ FORMADOS, NÉ? ENTÃO, TC: 0.08.22 A TC: O.14.17 DIPLOMA. ELE ACHOU QUE DEVERIA FAZER TAMBÉM UMA FACULDADE DE MÚSICA [...] INSERTE: FOTO FORMATURA AÍ, ELE SE FORMOU NO ANO 61 EM QUE O NEGÃO NASCEU. SONORA ALESSANDRO – ...A FORMAÇÃO MAIS PRÁTICA, PROFESSOR DE HISTÓRIA DA TALVEZ QUE ELE TENHA TIDO MÚSICA AQUI NA REGIÃO, ELA FOI CONSOLIDADA EM SÃO PAULO TC: 0H28M03S A 0H28M57S COM UM ESTUDO MAIS METÓDICO, MAIS TEÓRICO DE ALGUMAS QUESTÕES MUSICAIS. ENTÃO FOI EXCELENTE PRA ELE. SONORA CINIRA – VIÚVA DE ...ELE TOCAVA LÁ, SÓ QUE NÃO ELPÍDIO VIVIA DE TEMPO. TC: 0.14.23 A TC: 0.19.14 VIVEU MÚSICA NÃO! DE DEPOIS MUITO,NÉ?, GRAVOU NESSE NUNCA ELE MUSICA NÉ? ELE TOCAVA IA E, NA RÁDIO, MUSICA, NÉ?, GRAVOU COM CASCATINHA E INHANA, FOI NESSA ÉPOCA. COM OS TITULARES DO RITMO, COM ELZA LARANJEIRA, SABE? COM A DIRCINHA COSTA... ARTE - DVD CANTANDO – ZECA BALEIRO MÚSICA: FOGO NO RANCHO SONORA CINIRA – VIÚVA DE VOLTAMOS PORQUE ELE SE ELPÍDIO APOSENTOU DO BANCO. DAÍ, EU FALEI: VOCÊ PRETENDE TC: 0.21.47 A TC: 0.23.33 FAZER ALGUMA COISA?. ELE: INSERTE: IMG DA CIDADE NÃO, EU VOU LIDAR COM MÚSICA!. [...] ENTÃO, POR ISSO ELE DECIDIU. “AH, NIRA! VAMOS EMBORA, PORQUE COM ESSA 62 CRIANÇADA É MAIS FÁCIL DE A GENTE CRIAR. [...] DAÍ VIERAM OS DIRETORES DE ESCOLA AQUI. OLHA ELPIDO EU VIM VOCÊ AQUI PARA PRA CONVIDAR DAR AULA DE MUSICA LÁ PARA A GENTE. ERAM TODOS AMIGOS DELE. [...] AÍ, ELE ACABOU, FOI INDO DAR AULA. DEU AULA NA ESCOLA NORMAL, GINÁSIO, DEU E DAÍ AULA DEU NO AULA NUMA ESCOLA DE MÚSICA DE TAUBATÉ; PORQUE EM TAUBATÉ TEM UMA ESCOLA DE MÚSICA FÊGO CAMARGO, NÉ? ARTE GC – O UIRAPURU DO VALE SONORA DONA DIDI – AMIGA ...EU FIZ PARTE DO CORAL QUE DE ELPÍDIO ELE TC: 1’:57” A 2’:38” UIRAPURU DO VALE... FUNDOU: CORAL O [...] OS ENSAIOS ELE FAZIA NA TC: 07’:40” A 08’:07 CASA DELE E A GENTE VIAJAVA QUANDO PEDIAM NÉ SONORA OLGUINHA – AMIGA ELE CHEGOU UMA TARDE LÁ DE ELPÍDIO EM CASA E BATEU NA PORTA, VIM ATENDER... TC: 0H02M54S A 0H03M45S. [...] ELE DISSE: ESTOU QUERENDO FORMAR UM CORAL E VIM AQUI 63 CONVIDÁ-LA. EU FALEI: POIS NÃO! [...] E FORMOU ESSE CORAL, QUE POR SINAL FOI MUITO APLAUDIDO, MUITO BONITO E QUE DEIXOU MUITA SAUDADE. ARTE GC: O ADEUS SONORA CINIRA – VIÚVA DE ...DEPOIS QUE ELE CHEGOU ELPÍDIO AQUI, TC: 0.21.47 A TC: 0.23.33 DEPOIS UNS ELE QUATRO ANOS MORREU. AÍ, FIQUEI EU AQUI COM SETE TC.0.55.43 A TC: 0.56.50 CRIANÇAS... [...] AH, FOI UMA TRAGÉDIA. PORQUE EU FIQUEI SOZINHA [...] FOI O MESMO QUE CORTAR MEUS TC: 0.56.56 A TC: 1.01.19 BRAÇOS E MINHAS PERNAS, NÉ? [...] EU INTERNEI ELE NO HOSPITAL LÁ, E FOI MEIO DE REPENTE, NÉ? [...] AÍ, TROUXERAM LÁ O MÉDICO,E ELE FALOU: “ DONA CINIRA, EU IMGS: LÁPIDE ACHO QUE É MENINGITE. [...] E AÍ, ELE MORREU E EU FIQUEI. SONORA OLGUINHA – AMIGA NÓS DE ELPÍDIO HOMENAGEM FIZEMOS PARA UMA ELE. 64 FIZEMOS TC: 0H06M00S A 0H06M37S UMA PORÇÃO DE HOMENAGENS. FIZEMOS NO ENTERRO. A DIDI FEZ UMA IMGS: IGREJA DO ROSÁRIO LETRA EM CIMA DE UMA DAS MÚSICAS DELE E A GENTE FOI ATRÁS DO CAIXÃO CANTANDO. E NÃO FOI SÓ ESSA, CANTOU A DOR DA SAUDADE, CANTOU A NOSSA TERRA. DURANTE O TRAJETO DO ENTERRO A BANDA PARAVA DE TOCAR E AGENTE CANTAVA. E ASSIM FOI ATÉ CHEGAR NO ROSÁRIO, NO CEMITÉRIO. ARTE DVD CANTANDO RENATO TEIXEIRA CANTANDO MÚSICA: A DOR DA SAUDADE SONORA NENA – FILHA DE ...ELE FAZIA MÁGICA, EU ME ELPÍDIO LEMBRO MUITO QUE A GENTE IA NAS FESTINHAS, NA CASA TC: 10’:15” A 11’:44” DOS MEUS TIOS E TAL E ELE FAZIA MÁGICA, ELE FAZIA A VASSOURA DANÇAR, PRA GENTE ERA O MÁXIMO NÉ? SONORA PAULECA – FILHO DE ..TODOS OS DIAS A MINHA MÃE ELPÍDIO TINHA UM “CAUSO”, CONTAVA E EU SENTIA MUITO A PRESENÇA TC: 32’:23” A 32”50” DO MEU PAI, ATRAVÉS DELA E DOS MEUS IRMÃOS. SONORA MARIA CÁ – FILHA ..EU LEMBRO ASSIM, O QUE EU SINTO TC: 24’:35” A 25’:24 É O CALOR DELE. PUNHA A GENTE NA BARRIGA E COMEÇAVA A CONTAR 65 HISTÓRIA DE MEDO E AÍ QUANDO A GENTE COMEÇAVA A FICAR COM MUITO MEDO ELE ENTÃO: AH AGORA VOU CONTAR UMA ENGRAÇADA, AI ELE CONTAVA OUTRA COISA PRA GENTE DISTRAIR E AÍ A GENTE FICAVA ATÉ DUAS HORAS, AÍ IA TODO MUNDO PRA CAMA DE NOVO E DEITAVA. SONORA REGINA – FILHA DE NO ELPÍDIO ALMOÇAVA E GUARANÁ, ERAM TC: 0H28M05S A 0H28M34S DOMINGO, A GENTE TOMAVA O TODAS GARRAFINHAS. ENTÃO ELE IA COLOCANDO AFINANDO. ÁGUA TIRAVA, E “PUNHA” ATÉ AFINAR: DÓ, RÉ, MI, FÁ, SÓ... E TOCAVA GARRAFINHAS, COLHER OU NAS COM COM UMA OUTRA COISINHA. PRA VOCÊ VER DE COMO ELE GOSTAVA DE MÚSICA. ENTÃO SÃO COISAS QUE FICAM EM NOSSA MEMÓRIA AFETIVA, QUE FAZ PARTE DESSA COM ELE. ARTE DVD EM HOMENAGEM A ELPÍDIO RENATA CANTANDO MÚSICA: FILÉ MINHÃO GC FINAL: A HISTÓRIA CONVIVÊNCIA 66 CONTINUA... SONORA NEGÃO – FILHO O PARANGA NASCEU NA CASA DE ELPÍDIO DOS SANTOS, COM TC: 12’:47” A 13’:34” QUATRO FILHOS DELE, MAIS INSERTES: FOTOS ANTIGAS DO DOIS PARANGA AMIGOS. PRIMOS, MAIS DOIS [...] TC: 13’:37” A 14’:29” A GENTE TEM NO SANGUE, ROLA MÚSICA AQUI NA VEIA, ENTÃO A GENTE TINHA QUE FAZER ALGUMA COISA. E NO INÍCIO ATÉ A GENTE TOCAVA CAETANO, GIL, CHICO. NAQUELE MOMENTO 75, 76. A MINHA IRMÃ QUE CHEGOU E FALOU: OLHA GENTE NÓS TEMOS UM TESOURO AQUI EM CASA, QUE, QUANTO NA MAIS VERDADE, A GENTE REPARTIR MAIS ELE CRESCE, ENTÃO ACHO LEGAL A GENTE TER ESSA FATIA DE ELPÍDIO. SONORA PARÊ – FILHA DE ..FOI A PRIMEIRA VEZ QUE EU ELPÍDIO TIVE TC: 0H49M32S A 0H50M48S COM A OBRA DELE. PORQUE A UM CONTATO MESMO GENTE QUERIA CANTAR AS IMGS – CAPA CADERNO DE COISAS DELE E MINHA MÃE MÚSICAS DE ELPÍDIO LIBEROU O CADERNO ONDE 67 ELE ESCREVEU UM MONTÃO DE COISA... SONORA NENA – FILHA DE ...PELO ELPÍDIO CANTAVA PARANGA GENTE QUASE INTUITIVAMENTE, TC: 11’:47” A 12’:33” A QUE A GENTE FAZIA NO PALCO O QUE A GENTE FAZIA EM CASA. SONORA RENATA – ESPOSA EM 79 ENTÃO EU CONHECI A DO NEGÃO FAMÍLIA. EM 80 ELES PARTICIPARAM DO MPB 80, DE TC: 00’:58” A 01’:36” UM FESTIVAL. E EU NÃO FUI INSERTE: FOTO PARANGA COM CANTAR, MAS EU PARTICIPEI RENATA DA GRAVAÇÃO DO DISCO, QUE REGISTRAVA ESSA MÚSICA DO FESTIVAL E MAIS UMA E A PARTIR DAÍ, DEPOIS DISSO, DESSA GRAVAÇÃO EU COMECEI A PARTICIPAR DOS SHOWS. [...] É MAIS OU MENOS NESSA FASE, [...] APARECEU LIRA PAULISTANA NÉ? QUE ERA UM CENTRO CULTURAL, DE VANGUARDA EM SÃO PAULO E TAL. ENTÃO ERAM VÁRIOS GRUPOS PAULISTANOS E SÓ A GENTE DO INTERIOR NÉ? [...] INSERTE: IMGS DO SHOW NA A GENTE CHEGOU A TOCAR PAULISTA NUM ANIVERSÁRIO DE SP, NA PAULISTA, ELES FECHARAM UM LADO LÁ E FIZERAM UM SHOW 68 SÓ COM OS GRUPOS QUE PARTICIPAVAM DEPOIS DO FIZERAM LIRA. PROJETOS TAMBÉM NO SUL E NO RIO, VÁRIOS LUGARES E SEMPRE LEVAVAM TODA A TURMA QUE FAZIA PARTE DESSE PROJETO, INSERTE: CAPA DO CD CHORA E A GENTE TAVA JUNTO. VIOLA, CANTA CORAÇÃO ENTÃO FOI A PARTIR DAÍ QUE COMEÇOU NÉ O CHORA VIOLA CANTA CORAÇÃO E AÍ SHOW PRA TUDO QUE ERA LADO E TAL, E FOI A PARTIR DOS ANOS 80 COM O LIRA PAULISTANA. SONORA EDUARDO COELHO – HOJE NÓS CONTAMOS AQUI PESQUISADOR COM UMA CIDADE DE 10 MIL DA CULTURA LUIZENSE HABITANTES, TC: 37’:32” 38’:17” PRATICAMENTE MIL, 10% DA IMGS: CIDADE POPULAÇÃO SÃO MÚSICOS. E ESSA DOS INFLUÊNCIA INFLUÊNCIA QUAIS É UMA DIRETA DE ELPÍDIO DOS SANTOS. 39’:03” A 40’:04” [...] E OS FILHOS DE ELPÍDIO DOS INSERTE: FOTO DO CARNAVAL SANTOS, QUE POTENCIALIZARAM TUDO ISSO, COMEÇARAM O CARNAVAL AQUI, MOVIMENTO QUE TEVE VÁRIAS OUTRAS CONTRIBUIÇÕES, FORAM AS MAS ELES MAIS SIGNIFICATIVAS PARA A VOLTA DO CARNAVAL, A PARTIR DOS 69 ANOS 80. SONORA DO JOÃO – O TRABALHO DO PARANGA INTEGRANTE DO PARANGA HOJE NÃO É SÓ UM TRABALHO INSERTE: IMGS PARANGA NO MUSICAL. HOJE O PARANGA SESC VIROU UM MOVIMENTO DE CULTURA, VAMOS DIZER. [...] UMA COISA EU ACHO QUE O TRABALHO DO PARANGA NÃO MUDOU E NUNCA VAI MUDAR QUE É A PRESERVAÇÃO DA OBRA DO ELPÍDIO. SONORA ESTRAMBELHADOS – A BANDA ESTRAMBELHADOS, JOÃO RAFAEL SURGIU EM 2002. [...] TC: 1’:01” A 2’:30” A GENTE É DE UM LUGAR PRIVILEGIADO IMGS: FESTA DO DIVINO CULTURALMENTE, ACHO QUE É SÃO LUIZ DO PARAITINGA. [...] A GENTE NASCEU JÁ VENDO CONGADAS, MOÇAMBIQUES, FOLIAS, FANFARRA, A OBRA DE ELPÍDIO DOS SANTOS, DO PARANGA E DE DAR UMA NOVA ROUPAGEM PRA ISSO NÉ, UMA ROUPAGEM COM MAIS NOVAS NOVOS MODERNA, INFLUÊNCIAS, ESTILOS. PEGAR O TRADICIONAL E JUNTAR COM O ROCK, COM LEVADAS O MAIS POP, COM MODERNAS MESMO NÉ. SEM COM TUDO DEIXAR DE FAZER, DE 70 MOSTRAR O QUE A GENTE QUER, QUE A CULTURA DA CIDADE. GRUPO ESTRAMBELHADOS CANTANDO VOCÊ VAI GOSTAR SONORA ESTRAMBELHADOS ELPÍDIO DOS SANTOS É UMA JOÃO RAFAEL INFLUÊNCIA MUITO FORTE, PORQUE QUEM É DE SÃO LUIZ TC: 03’:06” A 04’:44” É INFLUENCIADO PELO ELPÍDIO DE UMA FORMA OU DE OUTRA. ELE FEZ ESCOLA, O TRABALHO DELE É MARAVILHOSO, É IMENSO, NÃO SÓ POR COISAS CONHECIDAS, COMO OS FILMES DO MAZAROPPI, MAS PELO DIA-DIA NA COMUNIDADE, PELO QUE ELE PASSOU, A MARCA QUE ELE DEIXOU EM SÃO LUIZ.. GRUPO CANTANDO ESTRAMBELHADOS A MÚSICA ESTRAMBELHADOS SONORA MARGARETH MACHADO – CANTORA A INFLUÊNCIA DE ELPÍDIO DOS SANTOS NÃO FICOU SÓ EM SÃO LUIZ, ELA VEIO PARA SÃO TC: 44’:55” JOSÉ COM MUITA FORÇA NO MEU PROJETO RELEMBRANDO E CANTANDO EU DESENVOLVO TRÊS CANÇÕES QUE FORAM COMPOSTAS POR ELPÍDIO DOS SANTOS. CRIANÇAS SERENO CANTANDO CAI 71 SONORA NANDO LUZ- CANTOR TC: 0H07M32S A 0H08M10S ...EU CONHECI A OBRA DE ELPÍDIO NA DOS SANTOS DÉCADA DE 80. NUMA CIDADE CHAMADA VITÓRIA DA CONQUISTA NA BAHIA. QUE ME CHEGOU PELO PRIMEIRO TRABALHO DO PARANGA. QUE ERA UM DISCO GRAVADO PELO SELO “LIRA PAULISTANA”. UM SELO DE SÃO PAULO NÉ. AI EU FIQUEI ENCANTADO. PORQUE É UM COMPOSITOR FABULOSO NÉ. COMPOSITOR QUE ASSIM UM EU CONSIDERO ASSIM DO NAIPE DE UM DORIVAL CAYME, QUE É BAIANO, DE UM LUIZ GONZAGA. COM ESSA EXPRESSÃO. (...) ABRANGENTE E É UMA COISA BEM BRASILEIRA. SONORA JOCA FREIRE – CANTOR O ELPÍDIO É UM COMPOSITORES DOS MAIS IMPORTANTES DO BRASIL, EU TC: 0H10M49S A 0H11M06S ACHO. DA NOSSA REGIÃO SEM DÚVIDA O MAIS IMPORTANTE. NÃO SÓ PELO DESTAQUE QUE ELE JÁ TEVE, MAS PELA IMPORTÂNCIA DA OBRA DELE, PELA DIVERSIDADE DA OBRA DELE NÉ. SONORA GABRIEL SATER – ELPÍDIO FOI O COMPOSITOR MÚSICO QUE TEM QUE SER CADA VEZ MAIS TOCADO E GRAVADO. 72 TC: 0H00M08S POR SUA IMPORTÂNCIA IMGS: GABRIEL NO SHOW DO MARAVILHOSA SESC COMPOSITOR. COMO [...] TC: 0H01M15S A0H02M35S ENTÃO COMO EU TOCO NUM MEIO MAIS MATO GROSSO DO SUL - CENTRO OESTE, COMECEI A LEVAR UM POUCO DESSA CULTURA DO ELPÍDIO PRA LÁ. E AS PESSOAS ACEITARAM DE UMA MANEIRA TC: 0H06M30S A 0H07M23S INCRÍVEL. [...] IMGS - SHOW DO SESC SOU FÃ DA FAMÍLIA DOS SANTOS. [...] A MANEIRA EM QUE ELES LEVAM ESSA HISTÓRIA É ALGO PRA SE APRENDER. ESPERO APRENDER EU UM POUCO DE COMO ELES LEVAM ESSA HISTÓRIA PRA PODER TAMBÉM LEVAR A MINHA, DA FAMÍLIA SATER. SONORA MARIANA BELÉM “A MINHA MÃE FALA QUE ELE TC: 23‟34 TRADUZ O COTIDIANO DO INTERIOR DO BRASIL COMO NINGUÉM. E EU ESTUDANDO E OUVINDO CADA VEZ MAIS TENHO MAIS CERTEZA DISSO. ENTÃO É LEMBRAR DE NÃO 73 ESQUECER AS NOSSAS RAÍZES E ESSAS COISAS LINDAS QUE ELE CANTA QUE VOCÊ PODE SENTAR, FECHAR O OLHO QUE VOCÊ PINTA UM QUADRO COM O QUE ELE TA CANTANDO. ESSA É A IMPORTÂNCIA. ELE É O INTERIOR DO BRASIL.” ARTE- MARIANA BELÉM NO SHOW EM HOMENAGEM A ELPÍDIO MÚSICA: FIGA DE GUINÉ SONORA NEGÃO NAQUELA TC: 11’:10” A 12’:08” CAUSAVA, ÉPOCA ELE CALCULE JÁ HOJE. ELPÍDIO CAUSA! SONORA NETAS FLORA - ENGRAÇADO ASSIM, FLORA, LIA, JULIA JOANA E PORQUE ELE MORREU E A NINA - NETAS DE ELPÍDIO GENTE NASCEU MUITO TEMPO DEPOIS E A GENTE CRESCEU COM ELE PRESENTE, PARECIA QUE REALMENTE TINHA UM VÔ NA CASA, PORQUE TUDO ERA O VOVÔ, AH A MÚSICA DO VOVÔ, HISTÓRIAS DO VOVÔ. IMGS ELPÍDIO DO BONECÃO DO JULIA - É E ATÉ ENGRAÇADO, EU RECEBI UMAS AMIGAS MINHAS AQUI UM DIA E ELAS FALARAM: NOSSA MAS TEM UM BONECO DO SEU AVÔ AQUI NA SALA, QUE COISA MAIS ESTRANHA, ASSIM, CHEGA ATÉ SER UM POUCO NÉ? MAS PRA GENTE É UMA REALIDADE, É 74 UMA COISA TÃO NATURAL, QUE É UMA PRESENÇA MESMO NÉ, TEM QUASE 40 ANOS QUE ELE MORREU E NÃO PARECE NÉ. ARTE – NETAS CANTANDO MÚSICA: BALANÇO DA REDE INSERTE: MONTAGEM FOTOS DA FAMÍLIA DIVIDE A TELA PARA SUBIR OS CRÉDITOS: TRILHA: A DOR DA SAUDADE GC: PRODUÇÃO E DIREÇÃO: JOYCE MAÍRA NATALIA TEODORO PRISCILA MARTINS SEBASTIÃO ANDRÉ IMAGENS: ADRIANO FERREIRA ANDERSON CRUZ IVAN DE SÁ JÉSSICA CORRÊA (CARIOCA) SÉRGIO HUGOLINI ARTE: SEBASTIÃO ANDRÉ EDIÇÃO E FINALIZAÇÃO: FILIPE SORIANO 75 TRILHA SONORA: ELPÍDIO DOS SANTOS ORIENTADORES: VÂNIA BRAZ FILIPE SORIANO CLÁUDIO NICOLINI APOIO CULTURAL: TRARXA ROCK AGRADECIMENTOS: INSTITUTO ELPÍDIO DOS SANTOS GRUPO BANDEIRANTES DE COMUNICAÇÃO PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO LUIZ DO PARAITINGA-SP TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO: “A ELPÍDIO DOS INFLUÊNCIA SANTOS DE NA MUSICALIDADE DE SÃO LUIZ DO PARAITINGA-SP”. IMG: LOGO DA UNIVAP LOGO FCSAC 76 6– CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi observada a viabilidade da elaboração de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) com o tema: “A Influência de Elpídio dos Santos na musicalidade de São Luiz do Paraitinga”, para mostrar a contribuição do artista no desenvolvimento cultural da cidade. O material recolhido possibilitou o registro histórico da vida e obra de Elpídio dos Santos, por meio de uma produção audiovisual na modalidade videodocumentário. O renomado artista luizense deixou mais de mil composições escritas. Sendo assim, este estudo servirá como base de pesquisa para as gerações futuras. Além disso, o projeto contribuirá para o fortalecimento da cultura regional, visto que esta história será, de certa forma, imortalizada por meio do videodocumentário “Nas Trilhas de Elpídio”. Tal produção também serviu para o amadurecimento profissional de seus autores, que puderam aplicar as técnicas aprendidas durante os quatro anos de curso de graduação em jornalismo. 77 7 - BIBLIOGRAFIA ALLAS, Vana. Vale, Violões e Violas. Uma fotografia Musical do Vale do Paraíba. São José dos Campos: Fundação Cultural Cassiano Ricardo, JAC Editora, 2002. CALDAS, Waldenyr. O que é Música Sertaneja. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987. CERVO, Amado Luiz. BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia de Pesquisa. 2. Ed. São Paulo: Editora McGRAW-HILL DO BRASIL, 1978. COMPARATO, Doc. Da criacao ao roteiro. 4. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. COMPARATO, Doc. Roteiro. Arte e técnica de escrever para cinema e televisão. 6.ed. Rio de Janeiro: Nordica, 1983. DIEHL, Astor Antônio ; TATIM, Denise Carvalho. Pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas – Métodos e Técnicas. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. GIL, Antonio Carlos. Técnicas de Pesquisa em Economia. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1990. GUIMARAES, Dulce Schmidt Romeiro; SILVA, Aparecida Branco. Alma de artista: Elpidio do santos. Caçapava: Objetivo, 1991. MACHADO, Arlindo. Máquina e imaginário: o desafio das poéticas tecnológicas. São Paulo: EDUSP, 1996. MACHADO, Arlindo. Pre-cinemas & pos-cinemas. Campinas: Papirus, 1997. MACHADO, Arlindo. A arte do vídeo. São Paulo: Brasiliense, 1995. NICHOLS, Bill. Introdução ao Documentário, tradução Mônica Saddy Martins – Campinas, SP, Papirus, 2005 – (Coleção Campo Imagético). RAMOS, FERNÃO PESSOA. Mas Afinal... O que é documentário? - São Paulo: Editora SENAC, São Paulo, 2009. REY, Marcos. O Roteirista profissional. Televisão e cinema. São Paulo. Editora Atica, 1997. SILVA, Edna Lúcia da. MENEZES, Estera Muszkat. Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação. Florianópolis: UFSC/PPGEP/LED, 2001. SUZIGAN, Geraldo de Oliveira. O que é Música Brasileira. São Paulo: Editora Brasiliense, 1990. SITES: Banda Estrambelhados. Disponível em http://www.bandaestrambelhados.com.br/ - site visitado em 15 de maio de 2009. 78 Globo.com. Disponível em http://carnaval.globo.com/Carnaval2008/0,,MUL286216-9771,00TRADICAO+ATRAI+FOLIOES+PARA+SAO+LUIS+DO+PARAITINGA.html - site visitado em 16 de abril de 2009. Instituto Elpídio dos Santos. Disponível em http://www.institutoelpidiodossantos.org.br/ - site visitado em 28 de março de 2009 Museu do Mazzaropi. Disponível em http://www.museumazzaropi.com.br -site visitado em 28 de março de 2009 Prefeitura Municipal de São Luíz do Paraitinga. Disponível em http://www.saoluizdoparaitinga.sp.gov.br/historico.htm - site visitado em 14 de março de 2009 Portal MTV matéria publicada em 12/02/2008, disponível em http://mtv.uol.com.br/noticias/herois-de-paraitinga-rumo-ao-brasil - site visitado em 15 de maio de 2009. The New York Times. Disponível em http://travel.nytimes.com/2008/01/27/travel/27journeys.html – site visitado em 27 de março de 2009 Vnews. Disponível em http://www.vnews.com.br/noticia.php?id=45054 - site visitado em 12 de abril de 2009 79 8 - ANEXO INTRODUÇÃO – TEMA A Influência de Elpidio dos Santos na musicalidade de São Luiz do ParaitingaSP. HIPÓTESE A musicalidade de Elpídio dos Santos influenciou e influencia ainda hoje as músicas regionais, principalmente em São Luiz do Paraitinga. OBJETO O objeto a ser estudado neste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), é o artista Elpídio dos Santos, natural de São Luiz do Paraitinga-SP. O compositor, escultor e poeta é descendente de uma família de músicos e artesãos. Exerceu diversas funções, como as de bancário, jornalista e escriturário. Mas foi para a música que dedicou grande parte de sua vida. Com suas canções, Elpídio inspirou à pequena São Luiz do Paraitinga e contribuiu para a formação musical da cidade, que hoje é referência cultural da região e atrai inúmeras pessoas. Elpídio dos Santos fez escola e sua arte é seguida por outros músicos do Vale do Paraíba. OBJETIVO O principal objetivo deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), é utilizarse de técnicas jornalísticas por meio de um videodocumentário para divulgar a influência de Elpídio dos Santos na cultura musical luizense. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Para alcançar o objetivo principal proposto neste TCC, serão considerados os seguintes objetivos específicos: Identificar a real influência de Elpidio dos Santos na história da música Luizense, por meio de pesquisas bibliográficas, entrevistas com familiares, amigos e músicos locais. 80 Pesquisar o público local para identificar o nível de popularidade do nosso objeto de estudo, Elpidio dos Santos, na cidade de São Luiz do Paraitinga-SP. Contribuir para a divulgação do músico na cultura local. Verificar se a cultura musical da cidade tem sido preservada ao longo dos anos. MODALIDADE Videodocumentário Todo filme é um documentário, já que este tipo de produção retrata uma história por meio da visão e bagagem cultural do cineasta. Há documentários de ficção e de não ficção. Os de ficção expressam os desejos de quem o produziu, como por exemplo, um mundo ideal, a paz e os dramas. Já os de não-ficção buscam, através dos recursos audiovisuais, mostrar a sociedade da maneira como ela é. No caso deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), o videodocumentário será predominantemente expositivo, já que enfatiza o comentário verbal e a lógica argumentativa. Não será utilizada a narração em off, para dar mais veracidade a história contada pelas personagens. JUSTIFICATIVA A forte influência na cultura musical da região fez com que São Luiz do Paraitinga ganhasse destaque no cenário artístico nacional e até internacional. Famosa pelas marchinhas, a cidade recebeu no último carnaval aproximadamente 180 mil turistas durante os cinco dias de folia, número que cresce a cada ano. Em 2008 São Luiz foi citada em uma matéria do jornal “The New York Times”, como opção da festa no Brasil, fora dos grandes centros. “An official decree actually prohibits more modern rhythms like samba and axé; the official music genre of the blocos here is the traditional marchinha, or carnival march, which dates back to the 1920s and was a staple of Carnaval through the mid-20th century. Over 1,500 local marchinhas have been composed locally since Carnaval started again, and you‟ll hear many of them.” (http://travel.nytimes.com) 81 Em 240 anos de história, São Luiz do Paraitinga possui muitas manifestações culturais, sempre marcadas pela musicalidade de seu povo. “Cravada na Serra do Mar, entre os municípios de Taubaté e Ubatuba, esta cidade do Alto Vale do Paraíba, nos oferece, além do clima ameno, uma arquitetura típica do século passado, quando o café transformou a paisagem geográfica, humana e econômica da região.” (GUIMARÃES, SILVA, 1991, p. 27) O Compositor, escultor e poeta Elpídio dos Santos foi peça chave na construção desta identidade. Por meio de sua obra o país pôde conhecer a vida do jeca, retratada nas letras de suas canções, que serviram de trilha para os filmes de Amácio Mazzaropi. “Elpidio dos Santos – Compositor, escultor e poeta, nasceu em 14 de janeiro de 1909, em São Luis do Paraitinga, filho de Benedito Pereira dos Santos (Mestre Alves) e de Benedita Alta de Toledo. Foi descendente de uma família de músicos e artesãos, que se dedicavam à musica, pintura e trabalhos com madeira. Exerciam com tal habilidade esses trabalhos que eram considerados mestres. Deles, Elpidio herdou a sensibilidade e o talento.” (GUIMARÃES, SILVA, 1991, p. 31) Neste contexto verificou-se a viabilidade da elaboração de um trabalho de conclusão de curso com o tema: “A Influência de Elpídio dos Santos na musicalidade de São Luiz do Paraitinga”. Para mostrar a contribuição do músico no desenvolvimento cultural de São Luiz do Paraitinga será feito um videodocumentário. Segundo Machado (2001, p. 46/47) “Usa-se o vídeo, muitas vezes, como forma de registro e memória de acontecimentos (função que cabia antes à fotografia), ou como canal de difusão do cinema”. 82 CRONOGRAMA: ATIVIDADE/ F M A M J J A S O N MÊS E A B A U U G E U O V R R I N L O T T V X X PROJETO PESQUISA X X X X X ROTEIRO GRAVAÇÃO X X X PRODUÇÃO X X X PRÉ-BANCA X X X EXECUÇÃO X X X X X EDIÇÃO X BANCA Viagens – R$ 500,00 Fitas – R$ 150,00 Alimentação – R$ 500,00 QUESTIONÁRIO DA PESQUISA DE CAMPO: 1- SEXO ( ) MASCULINO 2- IDADE ( ) 15 A 25 ANOS ( ) 26 A 35 ANOS ( ) 36 A 45 ANOS ( ) 46 A 55 ANOS ( ) MAIS DE 56 ANOS 3- VOCÊ JÁ OUVIU FALAR EM ELPÍDIO DOS SANTOS? ( ) SIM X X ORÇAMENTO: ( ) FEMININO X ( ) NÃO 4- VOCÊ CONHECE ALGUMA MÚSICA DE ELPÍDIO DOS SANTOS? 83 ( ) SIM ( ) NÃO 5- VOCÊ CONHECE O GRUPO PARANGA? ( ) SIM ( ) NÃO 6- E O GRUPO ESTRAMBELHADOS? ( ) SIM ( ) NÃO 7- VOCÊ ACHA QUE A CIDADE MANTÉM VIVO O NOME DE ELPÍDIO DOS SANTOS? ( ) SIM ( ) NÃO 84 DECUPAGEM ENTREVISTAS 85 DECUPAGEM – FITA 01 SONORA: DONA CINIRA DOS SANTOS PERGUNTA: COMO A SENHORA CONHECEU ELPIDIO DOS SANTOS? PERGUNTA: A SENHORA O CONHECEU ELE JÁ TINHA 40 ANOS. ELE JÁ HAVIA CASADO ANTES? TC: 0.01.26 – “Ele nunca foi casado. E eu conheci ele com trinta e quatro anos.Ele casou com quarenta e dois. Então, mas, ele era assim muito de bem com a vida, e não parecia a diferença de idade. Ele era dezessete anos mais velho do que eu. Aqui, nesse espaço cultural ali, ali era um TC: 0.00.40 – “Bom, aqui é uma cidade pequena, né? E ele era muito visível porque ele era músico, né? e baile, festas, essas coisas sempre ele estava. E eu também sempre gostei, dançava e tudo no meu tempo de moça. E foi assim que a gente se conheceu, por aqui mesmo. E ai apareceu, surgiu esse namoro que demorou... eu namorei treze anos.” TC: 0.01.16 cinema, cinema mudo. E ele, quando eu nasci nesta casa; quando eu nascia, ele contava que se lembrava tranquilamente porque ele já era músico, tinha dezessete anos e tocava na orquestra do pai ali no cinema.Porque não tinha nada dessas coisas elétrica, não tinha luz, era luz de carbureto; o cinema.Então, ele sempre falava, olha eu lembro perfeitamente o dia que você nasceu; o bochicho, né?” TC: 0.02.38 PERGUNTA: ENTÃO ELE JÁ ERA MÚSICO QUANDO A SENHORA NASCEU? TC: 0.02.41 – “Já era músico!” PERGUNTA: ENTÃO A SENHORA JÁ GOSTAVA DE MUSICA NESSA ÉPOCA? TC: 0.02.45 – “ De certo que já, não? Eu acho que a gente tem o destino, não sei! Que atrai, ou atrai a gente, ou a gente atrai ele. Eu sempre gostei de música e não conheço uma nota de música; e vivi trinta anos perto de músico,de músico 86 dedicado, que gostava, que fazia as coisas; ele era um artista nato, né?. Na casa dele o pai dele era músico, maestro da banda que tinha aqui, e os filhos todo. Eu também tive sete filhos, e sete músicos.” TC. 0.03.33 PERGUNTA: COMO A SENHORA DEFINE O ELPÍDIO? COMO ELE ERA? TC: 0.03.39 – “Ele era uma pessoa boa! Sabe? Uma pessoa boa para mim, como mulher, para a família dele, mãe, e tudo. Pelos filhos, Nossa Senhora! Era uma paixão pelos filhos, de modos que ele não media sacrifícios de sair com as crianças, carregava violão... A gente morou em São Paulo, e ele deu aula lá no Sesc, em Santana, e lá tinha festas essas coisas e ele ia carregando violão, sempre dois, que eram os maiorzinhos, né? E ele desde pequeno, ele colocou o violão na mão do Negão.Precisou fazer um violão pequeno porque não cabia na mão o violão do Elpídio. Então, ele era muito dedicado á família, aos amigos sabe? e era bem humorado, sabe? ele era gente boa sim!” TC: 0.04.46 PERGUNTA: VOCÊS SE CASARAM E FORAM PARA SÃO PAULO. COMO FOI ESSA IDA? TC: 0.04.52 – “ Essa ida.. O Elpídio trabalhava no banco que não existe mais; é Banco do Vale do Paraíba. Esse banco foi criado em Taubaté pela família Guizzar, e ele trabalhou ,foi.. começou a Casa Bancária aqui, depois foi, foi indo.. ele se aposentou no banco, né? Então, com o tempo removeram ele para São Paulo. “Ai, meu Deus! Ele não queria ir, mas precisava trabalhar né? Ele tava casado e tudo, ai mudei para São Paulo. Morei quinze anos lá//”. Tc: 0.05.51 – “ O Negão, ele tinha nove anos quando ele ganhou o violão, num concurso assim; ele foi tocar com o pai, não sei se foi na Rádio Nove de Julho, não sei!, e ele ganhou esse violãozinho. Então, quando ele era pequeno e estava no parque, o Elpídio aprontava a festa, e a diretora lá do Parque era aluna dele de violão, e o marido dela também. E ele fazia a festa, e as crianças cantavam as músicas que ele compunha. Dia dos pais, dia das mães, eram tudo com as musicaS que ele compunha e tem tudo aqui. E assim, era já a Dona Marlene já estava acostumada com ele, então tinha festa no Parque já iam as crianças tocar, porque era uma atração, porque é 87 criança, né?. Então, o Elpídio tocava, acompanhavam eles e tudo, de modo que sempre ele fazia as festas. Ele sempre foi assim. Depois, ele deu aula no Colégio Sete de Setembro, na Liz de Vasconcelos. Não sei se ainda tem esse ginásio lá! Ele deu aula lá, daí depois ele se aposentou e ele queria vir embora, ele gostava daqui, né? A gente se costuma, morou aqui toda vida. Ele falou: Cinira,você quer ficar aqui ou você quer ir embora?.. Ah, você já fez sua vontade, né?Você que decide! Então, eu acho melhor a gente ir, né? Então, vamos!” TC: 0.07.51 PERGUNTA: VOCÊS SENTIRAM MUITA DIFERENÇA ENTRE SÃO LUIZ E SÃO PAULO? TC: 0.07.54 – “ Ah, muita! Então, independente, eu vi fazer o metrô, né? essas coisas todas. E daí viemos embora para casa, porque essa casa aqui já era minha, ai eu vim embora.” TC: 0.08.13 PERGUNTA: MAS EM SÃO PAULO DONA CINIRA, A SENHORA ACHA QUE A CIDADE AJUDOU O ELPIDIO A SE PROFISSIONALIZAR? TC: 0.08.22- “ Ele mudou pra lá; assim que ele mudou, ele foi assim; lógico! No meio de músicos, né? Aí, ele começou a sentir que ele era músico.Ele tocava 22 instrumentos, mas que não tinha diploma. Daí ele falou: Tá ficando complicado enfrentar os músicos aí formados, né? Então, ele achou que deveria fazer também uma faculdade de música; e nisso coincidiu dele arranjar um amigo; que esse senhor era de Taubaté e morava em São Paulo. Ele chamava professor...Franscico...Franscico alguma coisa! Não lembro o nome. E ele ficou meio apaixonado pelo Elpídio dos Santos, porque os músicos que tocavam com ele, é como hoje toca o Pauleca. Parece que, engraçado... passou de um para o outro, né? Daí, o professor Gomes, Franscico Gomes, aí toda a semana o professor Gomes tocava flauta, e ai o Elpídio acompanhava ele, né? e toda semana o professor Gomes ia em casa; ele morava no Jabaquara, eu na Saúde; e era perto, é perto. Aí, o tempo sempre passa,né? Voa! Foi passando, e ai o professor Gomes falou “Elpidio, porque.... 88 Ele já tinha idade né? “ Porque você não faz uma faculdade de musica? E o professor Gomes dava aula na faculdade que era do maestro João Julião. Aí o Elpidio..” Aaah, mas é difícil, já casado, já tinha dois filhos, né? E eu tinha um filho por ano, e ele falou: “ Olha, financeiramente não! Mas nós vamos ajeitar”. Foi lá, falou com o maestro João Julião, que era dono da faculdade lá.. e falou: “Ah! Eu conheço! Eu sou do Vale do Paraíba, e conheço a potencia dos músicos de lá; pode trazer ele aqui! Aí, ele deu uma bolsa para o Elpídio. O Elpidio estudou lá com sacrifício, eu levava lá...Ele não gostava de sanduíche, essas coisas de hoje; bebida de jeito nenhum. Ele falava: “ Não quero coisa de garrafa” e digo:” você não vai comer as coisas de garrafa”. Daí, eu levava suco, levava leite para ele; levava tudo que tinha na hora do almoço porque ele não tinha tempo de almoçar. Ele trabalhava no banco na parte da manhã, e do meio-dia até mais tarde ele fazia aula lá, e era em Santana. Então, foi uma vida de sacrifício e tal, e tinha dia que ele ficava desesperado, e ele chegava em casa uma hora da manhã, ai ele falava: “Nira, as crianças já estão dormindo? lógico! a essa hora. E ele tirava as crianças da cama. E eu falei: ”„Ará‟, mas, eu com criança pequena, que acorda a noite inteira para dar de mamar e eu me deito sem problema, né?Então, eu falei: “ Você é quem sabe!”. Depois é você quem vai curtir com eles aí, né? Daí ele chegava, tomava um banho, e eu arrumava janta para ele; àquela hora. E ele jantava, e ia na sala e pegava nas coisas dele, uma papelada de musica e tal né? E punha as crianças lá, e as crianças ficavam lá brincando sentadas no tapete por lá, e ele escrevendo musica. Quando acabava e já estava quase amanhecendo, umas três, quatros horas da manhã, ele vinha e dizia: “ Nira! Nira, acode agora as crianças!”, e eu dizia: “ Sim, agora sim senhor, agora você deixa as crianças comigo e eu não posso dormir!” Tudo bem. Ficava comigo as crianças, aí iam dormir, e ele também. No outro dia era cedo, ele trabalhava..e não era fácil não, viu? E assim, foi a vida de São Paulo. Aí, ele se formou no ano em que o Negão nasceu, eu tenho fotos lá, da missa com o Negão na Sé, né? na porta da igreja e tudo, que tava festejando também a formatura do Elpídio. Tenho as fotos dele na formatura lá na escola, colação de 89 grau, essas coisas todas né? e eu sempre tive o hábito depois que o Elpídio morreu.. as vezes tinham ai os filhos mais velhos... eles falavam: “ Nossa,mãe! È muita coisa que a senhora tem! Vamos jogar tudo isso fora!”. Eu disse: “ Vamos sim! Na sua casa!, na minha não! Deixe aí, porque....“ TC: O.14.17 PERGUNTA: DONA CINIRA, EM SÃO PAULO A MUSICA SEMPRE ESTEVE PRESENTE NA VIDA ELPIDIO? TC: O.14.23 – Ativamente. Ele tocava lá, só que não vivia de música nesse tempo. Não! Nunca ele viveu de musica né? E, depois ele tocava muito,né?, ia na rádio, gravou musica,né?, gravou com Cascatinha e Inhana, foi nessa época. Com os Titulares do Ritmo, com Elza Laranjeira, sabe? com a Dircinha Costa, eu tenho as músicas, guardei tudo porque; e assim mesmo, alguns se perderam. Mudança a gente carrega, quebra um coisa, né?.. Mas ele também era cuidadoso. Tinha um móvel assim dentro de casa, e no móvel ele tinha uma chavinha aonde ele punha as coisas dele; e ele era minucioso, sabe?. Se você desse uma agulha para ele, daqui há vinte anos.. “ Cadê aquela agulha que deu?”, e ele sabia onde estava. Então, ali não era para a gente por a mão, e tinha chave e tal, né?. Tá certo! Quando abriu ali, tinha muita coisa dele né?, as vezes presente que ele ganhava quando ia tocar.. Tinha uma família aqui, parece que era Gebara; alguma coisa assim que tinha comércio no Rio e vinha em São Paulo. Ele tinha um amigo que era músico e daí ele passou também essa amizade pra ele, e aí ele ia no Gebara tocar, né? E, onde ele ia eu ia junto, ele queria que eu fosse. Ele não tinha um ouvido sabe?.Ele teve uma meningite com trinta e quatro anos, e ai essa meningite; ele sarou da meningite e perdeu um ouvido. Mas como ele era muito atento, você não percebia. Quando ele entrou na faculdade de música, ele veio e disse: “ Olha, Nira! Eu peguei uma carteira lá na frente porque eu não posso perder o que o professor fala. E ele procurava o jeito que ele precisava, né? e assim ninguém percebia. Quando as minhas crianças estavam no parque, no parque da prefeitura, né? aí, teve um concurso de música, e ele nunca falou na escola que ele era músico. Ele ficou na dele lá, né?. E daí teve o concurso de música, e ele fez uma musica do Saci, para o Elpidinho, para o Pio, o filho,o segundo. E aí, eu já sei fazer essas coisas de manual, assim, então eu fiz um macacão do Saci que era... do Saci, 90 né? Eu fiz um macacão para ele, enfim, e eles foram lá para o concurso. E o professor, era um alemão, um professor Brauvisi, alguma coisa assim... e ele foi apresentar lá e tal e ganhou a música. Mas, o professor nem sabia que ele tinha ganhado a musica e nem que estava concorrendo. Foi aquela coisa, e abraça. Aí, o professor veio porque ele era lá da prefeitura, ele era funcionário da prefeitura, e foi saber quem que fez e tal, e aí soube que foi ele que fez. E daí ficaram amigos, né? Não era mais como aluno. Então era assim, sempre, tudo o que tinha Elpídio se destacava, se ele fazia uma coisa é porque ele gostava né?de fazer. E para as crianças ele fazia música, fazia as músicas do filme do Mazzaropi. Eu tenho vinte e cinco músicas nos filmes, né? Nos filmes do Mazzaropi. Ele, de manhã, ele tirava as crianças da cama de noite, lá! E quando era de manhã já estava pronta a música. Ele punha as crianças, ele tinha um gravador, essas coisas, e colocava o violão e ensinava e cantava as crianças a cantar. As crianças iam dormir já, novamente com a música... Criança tem uma cabeça boa né? Já sabendo a música. No outro dia amanheciam cantando a música. “Ah, mãe! Vem ver a música que o papai fez, não sei o que né?”. Era assim, ele ocupava o tempo dele com essas coisas, sabe?.” TC: 0.19.14 PERGUNTA: COMO ERA O PROCESSO DE COMPOSIÇÃO DO ELPÍDIO? NO QUE ELE SE INSPIRAVA PARA COMPOR AS MÚSICAS? TC: 0.19.22 – ” Qualquer coisa! Ele tinha um amigo, um aluno, tudo ele se inspirava. Os filhos, cada um tem uma música. A Regina é uma valsinha, o Pio, ele era criança e ele queria muito uma bota, uma botinha. E, eu fui na casa do Arco e comprei uma botinha para ele. Eu pus a botinha já na loja, tirou o sapato velho lá! E fomos embora. Ele dormiu três noites de bota, sabe? De noite eu ia tirar a bota, e ele já alertava porque ele queria a bota. Criança é cheio das coisas! Daí música do Elpídio é a bota do Elpidinho. Então, todos eles tem a sua música.” TC: 0.20.19 PERGUNTA: O ELPÍDIO FEZ ALGUMA MUSICA PARA A SENHORA? 91 TC: 0.20.22 – “é, fez também, né? Eu não era muito chegada a essas coisas de musica com ele, não! E ele de madrugada, ele me acordava e dizia para mim “ Nira, vem, escutar aqui. Ouça essa música que eu acabei de fazer! “ Ele tocava, sentava na mesa, e eu com sono! TC: 0.21.00 PERGUNTA: A SENHORA CHEGOU A AJUDAR ELE EM ALGUMA MÚSICA? TC: 0.21.02 – “ Não, isso não!. Eu não tinha competência para isso. E não sou música de jeito nenhum. Não canto, não nada. Agora, os filhos desde Pio, bem pequenininho. Eu tenho foto aqui de festa, do Pio tocando violão lá no... Ele era pequeno, com uns nove, dez anos, mais ou menos. Da Regina, tudo ele levava, e tenho fotografia. Eu fui guardando e fui pondo ai numa gaveta, né? e teve um dia de sair da gaveta.” TC: 0.21.37 PERGUNTA: FALANDO DE SÃO PAULO..PORQUE VOCÊS DECIDIRAM SAIR DE LÁ? TC: 0.21.47 – “ Voltamos porque ele se aposentou do banco. Daí, eu falei: Você pretende fazer alguma coisa?. Ele: Não, eu vou lidar com música!. Aí ele já estava mais enfronhado nas coisas, né? e ele livre de trabalho, ele podia ir e voltar. Porque aqui é perto de São Paulo, né?. Então, por isso ele decidiu. “Ah, Nira! Vamos embora, porque com essa criançada é mais fácil de a gente criar. Depois que ele chegou aqui, uns quatro anos depois ele morreu. Aí, fiquei eu aqui com sete crianças. Aí um vinha e dizia: Vai para São Paulo! A senhora tem casa lá, é mais fácil de criar os filhos!. Fácil? Eu quero ver!.Aí eu fui estudando o caso, né? Porque eu preciso ver para mim se é bom. Aí, um dia eu falei: Olha aqui, eu não vou voltar para São Paulo. Eu vou ficar aqui porque aqui eu me viro, porque eu conheço todo mundo. Lá, o Elpídio fez muita amizade, sabe? Eu não sei como até hoje eu recebo amigos dele aqui. Então, eu disse: Eu vou ficar aqui em São Luiz mesmo. Aí eu fiquei aqui mesmo, foi uma luta e tal, mas eles são todos formados, fizeram faculdade. Cada um escolheu a sua, dentro possível, e estudaram. 92 Tá tudo ai. Esse que é o caçula, o Pauleca, você vê já ta com quarenta e dois anos, com cabelo branco. Para você ver, né? o tempo passa! E a gente faz as coisas.” TC: O.23.33 PERGUNTA: VOLTANDO PARA SÃO LUIZ, COMO ELE TRABALHOU A MUSICA? TC: 0.23.50 – “Depois que eu voltei de São Paulo, ele falou: Ah, Nira! Eu vou descansar um pouquinho, mas eu continuo... A música não! A música era... . Aí, eu falei: Seja feita a sua vontade né? É você quem sabe!. Daí vieram os diretores de escola aqui. Olha Elpido eu vim aqui para convidar você pra dar aula de musica lá para a gente. Eram todos amigos dele. É e tal, mas ele não gostava muito de dar aula, sabe?. Ele falou: Ah, Nira, não sei!. Eu falei para ele: Você é quem sabe. Decida! Aí, ele acabou, foi indo dar aula. Deu aula na escola normal, deu aula no ginásio, e daí deu aula numa escola de música de Taubaté; porque em Taubaté tem uma escola de música Fêgo Camargo, né? que é o pai da Hebe; que era muito amigo dele. E então, o pessoal descobriu ele e tal, porque o pessoal descobre as coisas. E ele não queria ir, porque em Taubaté teria que ir e voltar, e ele não queria morar lá. Daí, ele pegou as aulas lá, com muita insistência e tudo. E tinha o João Roman que era dono da empresa de ônibus, que era muito amigo e também veio com o diretor aqui para reforçar, porque o Elpidio não queria dar aula e não sei o que?.Dái ele resolveu dar aula lá; deu aula um tempo por lá, ai logo já ele morreu. Mas ele deu aula lá.” TC:0.25.28 PERGUNTA: ELE FORMOU UMA BANDA MUSICAL AQUI EM SÃO LUIZ? TC. 0.25.36 – “O pai era maestro. O ensaio da banda era na casa dele, e os irmão todos músicos. E ele tinha um irmão que tocava órgão na igreja; depois ele morreu e ele que ficou tocando órgão na igreja, sabe? Então, era uma coisa da casa dele a banda. Depois, queriam que ele ficasse maestrando porque morreu o irmão que era maestro, o pai que era maestro, o tio. Mas, ele não quis. Agora eu não vou. Essas coisas para dar ordem, ele não gostava disso; ele preferiria receber ordem. 93 Aí, mas ele ia e freqüentava o quarto do ensaio, sabe? E ele ia. Tinha o dobrado de banda, tudo o que ele fazia, ele levava a partitura. E como ele tocava vinte e dois instrumentos, ele tirava todas as partituras da banda porque essas bandas, não é quem nem essas bandas de hoje. E hoje, tem umas meia dúzia aí que tocam e tal, aí é uma banda. Mas naquele tempo era quarenta, trinta pessoas, a banda né? E aí, eles é que faziam os outros músicos que faltavam, a não ser da casa; mas os irmãos dele todos eram músicos.” TC. 0.27.11 PERGUNTA: A SENHORA SABE COMO SE DEU A FORMAÇÃO DO CORAL UIRAPURU DO VALE? TC: 0.27.15 –“ Pois é, o Uirapuru, lógico, foi quando ele veio para cá. Aí quando ele chegou aqui na semana santa, ele ia cantar na igreja aqueles ofícios de treva, aquilo tudo ele sabia!. E tinha os amigos, que chamava Aguinaldo, a outra era a Didi, era os amigos que quando ia chegando a semana santa, reuniam e ensaiavam as músicas da semana santa na igreja. E, eles cantavam o ofício, enfim; era música era com ele. Então, depois ele foi embora, acabou. Foi indo, foram morrendo também, morrendo os amigos, né? Aí, tinha um padre que era músico aqui, e que gostava muito dele, e escrevia música com ele, tocava... E o tempo passando, aí ele falou: “Sabe Nira!”... eu acho que ele ficou meio sem fazer nada, né?. Ele falou: “Olha, eu vou montar um coral aqui, porque ele tinha um curso. E aí ele ajuntou os músicos de igreja, músicos de cinqüenta anos de igreja, sabe?, de cantar na igreja e tudo, as cantoras do coro e tudo. Aí, ajuntou aí e fez um coral; ele dizia que era coral de gente feia, porque era gente velha, né? e ele montou o coral. Batizaram o coral, e ele é meio assim comunicativo, e eram os amigos dele, reuniam em casa para ensaiar, e ele fazia as músicas do coral. Ele fazia quatro vozes; ele fazia quando chegava dia do ensaio, sentava todo mundo e ele vinha num ouvido aí e cantava a música baixinho, ia no outro.. cada voz.Daqui a pouco ele repassava todo mundo num instantinho, e aí ele formou o coral. Esse coral, desse coral eu não tenho nenhuma fotografia, não sei o por quê? E aí, ele ficou conhecido; em Taubaté ele era muito conhecido pelo pessoal lá, e tinha festa na Câmara lá e vinha buscar ele aqui. E ele ia, tocava, levava o coral, sabe? e aí, uma vez eu estava lá com ele; porque eu sempre acompanhei ele 94 né?, aí estava com ele e todo mundo né?, Gente que eu conhecia; apareceu lá o embaixador do Senegal. E aí, o pessoal com segurança, né? Aí, saímos da Câmara, agora nós vamos jantar. E tinha um restaurante; agora não tem mais, era alto assim na praça; aí nós fomos para lá. Nós fomos lá, mais foi uma festa, e o coral cantou, e eu falei assim: “Olha, eu não gosto de ficar no meio dessa gente”. Não, não sei o quê!.Daí, daqui a pouco Negão vem junto com o pessoal. Veio da Câmara depois de nós e entrou lá. Agora tudo bem, a gente não fala a mesma língua, né?. Daí ficou lá, mais o Negão gostou, e quase amanheceram lá cantando e tocando né? E era assim, quando descobriam que o Elpídio estava, tinha festa. Quando a Nena nasceu; ela nasceu na Beneficência Portuguesa em São Paulo, eu sempre tive parto bom, rápido, né?. Ela nasceu era oito horas da noite, por aí; e as enfermeiras entraram no meu quarto porque o Elpídio ficava comigo na maternidade e dormia lá, e a minha mãe tomava conta das outras crianças lá em casa. Aí a enfermeira entrou e viu ele sentadinho no meu quarto, num canto assim, numa mesinha lá quieto escrevendo música. Aí, ela olhou lá e falou: ”Olha, o senhor é músico?. Ele falou: “ sou sim!”.E, ele era simples, humilde sabe? não gostava de aparecer não! Aí, “ É, eu sou. Eu escrevo um pouco de musica.” “Ah, é! Escuta aqui, eu estou aprendendo violão, moro aqui no hospital, tenho violão aqui.. E o senhor quer tocar um pouco para mim? Eu vou chamar as outras colegas lá e você toca. Aí, ele olhou para mim lá na cama e falou: “Por mim né? eu não tenho importância.”. E aí, a mulher foi lá, “Olha, dona Cinira, a senhora faz questão?. Eu falei: “Olha, eu não faço questão de nada. Se eu fizesse questão de música, de dieta, de parto, eu já tinha morrido. Porque em casa, o pessoal ia me visitar, visitava ele e não era eu. Aí, ela foi lá saiu na porta, passou uma enfermeira e ela: “Olha, fulana! Você chama outra lá. Vocês façam treze cesarianas; vocês façam logo os curativos, apressem ai, porque tem um senhor que é músico que vai tocar para nós.” Daqui a pouco, encheu o quarto. E, eu fiquei na minha; e ele lá tocou de um jeito baixo porque ele ficou com medo porque era freira lá, ainda não sei se é lá na maternidade. 95 Aí ele ficou tocando. Teve uma seresta dentro do meu quarto até às três horas da manhã; isso quando nasceu a Nena. E sempre era assim, sabe?Era uma coisa, e em casa era sempre música, música, música. Ele tinha só música na cabeça, né?. “– TC: 0.34.14 PERGUNTA: VOCÊS CONVIVIAM COM ESSAS PESSOAS QUE TRABALHAVAM NO MEIO ARTÍSTICO? TC:0.34.25 – “ Ah, sim! O Mazzaropi ia sempre em casa, né?. Eu tinha...teve tempo, teve noite de eu receber quarenta pessoas,em apartamento, né?. No apartamento. E enchia a casa porque o Mazzaropi encostava o carro na porta com aquelas propagandas, e a moçada tudo do conjunto que já conhecia Elpídio via. “ Ah, o Mazzaropi está aí! Vamos ver o Mazzaropi! Vamos?”. E todo mundo que vinha das escolas, tudo com os livros de baixo do braço, ia lá; e subia na minha casa no segundo andar. Então, era aquela festa.E quando eu vim embora acabou o conjunto. Sossegou porque já não tinha mas né?. Mas, eu tenho aluno dele que ainda me visita. “ TC: 0.35.16 PERGUNTA: DONA CINIRA, COMO FOI QUE ELPÍDIO CONHECEU MAZZAROPI? TC.0.35.20 – “ O Mazzaropi ele era...ele trabalhava na fábrica em Taubaté. Porque ele nasceu em São Paulo, mas a família veio embora para Taubaté. Moraram em Pinda; e ele foi trabalhar na fábrica, na CTI. E lá, ele era muito engraçado, mulecão já né? E teatrinho de escola, essas coisas, ele participava.E todo mundo falava para ele – “ Mazzaropi,porque você não vai... “. Naquela epoca não existia televisão, e a moda era circo. E aí, de tanto que falaram para ele, um dia apareceu um circo, um circo quadrado, no pavilhão como eles falavam; e o dono lá que queria vender era velho, né? Então queriam vender. E ajeitaram lá, e ele comprou. Comprou.”E agora? Para onde eu vou?. Eu vou em São Luiz!”. 96 Não conhecia ninguém aqui, não tinha estrada boa, não tinha ônibus, e era de carro de boi né?. Aí veio. Chegou aqui, montou lá o pavilhão, e ele mesmo fazia a festa, né?. Ele era bom de palco assim, então ele mesmo fazia a festa. Mas, veio a mãe dele, o pai, o senhor que acompanhou ele a vida inteira - o Ageu, e uma menina que eles criavam que se chamava Olga. Aí, vieram aqui, mas deu uma temporada de chuva que o cirquinho dele, que era velho goteirava. E tudo era com música ao - vivo. Não tinha essas histórias de cd, não sei o quê, não!. Então, ele chegava na cidade e contratava a banda, a banda que fazia a propaganda. Então saia a banda, sai á tarde, dava a volta na cidade, avisava e o povo ficava sabendo. Era a comunicação que tinha né?. Sabia que tinha circo na cidade, daí o povo não tinha para onde ir, e ia lá. E aconteceu que ele não pode dar o espetáculo porque chovia, chovia lá dentro do Circo; e ele oi ficando, ficando, e ele não tinha dinheiro né?, e foi ficando aí um dia o Elpídio... . O Elpídio não andava em bar, ele não gostava. Mas ele gostava de esquina. Ele parava na esquina e já juntava. Aí, sentava na escada da igreja já juntava. E um dia apareceu alguém lá e falou: “Olha Elpídio, você não sabe!.Tem um homem com um circo ai, e ele tá a perigo porque chovendo desse jeito, e não dá casa, e ele não tem dinheiro para contratar músico... . Aí, o Elpídio:“ Ah, não seja por isso!.” Ele foi na casa dele, conversou com a família, com os país, com os irmãos, com tudo. Todos eram músicos, né?, e ele foi procurar quem era esse homem, que ele não tinha visto ainda. Era o Mazzaropi. Aí, eles se apresentaram, lá e tal, e ele falou: “ Olha, Mazzaropi!, eu vou toar para você porque você precisa de música; eu vou tocar para você e ainda vou arrumar...”Aqui tinha um lugar que já caiu, e era um prédio muito grande que tinha na praça; era fórum, essas coisas que tinha lá. E o prédio estava ruim, caindo, até caiu mesmo; daí eu vou arrumar para você lá. Tava em ruína, mas dava ainda para a gente usar para alguma coisa sim, né?. Aí, arrumou e ele foi lá dá espetáculo. E daí a banda compareceu para dar espetáculo para ele e tal, e ele ganhou um dinheirinho e foi embora. Ele agradeceu muito, e tudo, e foi embora. 97 Aí, passou um tempo, e um dia eu fui em Taubaté e estava atrás do mercado, e não tinha casa lá, né?. A prefeitura dava para armar circo.Então, tinha um circo armado lá, com um papel grande assim escrito: Sucessos de Mazzaropi. Eu fui embora, era sexta-feira, eu fui embora e cheguei aqui e falei: “Olha Elpidio, sabe aquele homem que você conheceu aqui do circo? ele vai vir com o circo; ele já está se apresentando em circo. Foi no começo da Tupi, sabe? Aí, o Elpídio falou: “Ah, então eu vou lá!”. Foi sábado, ele não trabalhava, e foi lá. Aí, procurou por ele, e ele recebeu o Elpídio muito bem, cantou uma música de Elpídio na Tupi, lá depois que ele foi; mas falou: Olha Elpídio, você para isso, você precisa estar aqui em São Paulo porque é muito difícil, é complicado... Naquela época né? hoje não! Hoje tem celular ai, tem tudo. Mas antes não era assim. Passou um tempo e ele falou: “Ah, não vou Mazza, lá eu não vou. Eu fico por aqui mesmo e de vez em quando a gente se encontra e não sei o quê e tal. Acabou a conversa, Elpidio veio e morre. Não se falou mais nisso. Passado um tempinho, ele foi transferido, ele foi transferido pelo banco para São Paulo. Aí teve que ir né?. Era emprego e ele tinha que ir. Aí foi, e tinha telefone, e essas coisas do Mazza, e ele ligou e o Mazza recebeu, e conversou com ele e já deu o endereço e foi lá na casa do Mazza que era no Itaim Bibi. E, foi lá que já ele falou: Olha Elpídio,agora você vai fazer uma música para mim, para um filme que eu estou fazendo. Aí, o Elpídio: “Ah, é!”. Vai! “Tá bom, eu faço!” Aí, ele contou a história, mas ele não era produtor ainda, ele era contratado de uma outra companhia.Aí, ele fez o filme Carrocinha. Aí, o Elpídio fez a música, no filme o Elpídio fez umas pontas sabe? Quando aparece ele tocando o violão numa festa assim, ele estava tocando. Bom, daí, todo o ano o Mazzaropi fazia um filme e ia lá em casa atrás dele. Tinha ano que ele fez dois, sabe? E era assim, o Elpídio aposentou, veio embora e ele veio aqui. 98 E aqui era perto de Taubaté, e ele tinha uma fazenda, e tinha uma fazenda que ele filmava ai. E aí a gente ia, eu ia, tudo bem. Fazia as músicas. Todo o ano o Elpidio fazia as músicas para o Mazza; até o dia em que o Elpídio morreu e ficou o Mazza. Ele apareceu um dia aqui, e os meninos já estavam mocinhos, já estava escrevendo alguma coisa. “Ah, Cinira. Eu não acho mais ninguém que faça música com sabor de Elpídio!” Eu falei: “Ah, Mazza, como é que a gente vai fazer? Tem que achar!”. Aí, ele falou, pediu para as crianças fazerem, mas não era a mesma coisa, era criançada. Daí, ele ia fazer o filme Jeca e seu filho preto. Aí, ele veio aqui e falou: “Olha, não vai ter jeito! Já mandei fazer, já encomendei, mas não vai dar certo. Então, o Elpídio tem uma música que é do Cascatinha e Inhana, e é dele, do Elpídio. Então, você poderia me autorizar a usar essa música no filme. Aí eu falei: Então, pode. É você mesmo que fazia as músicas para ele né?. Pode usar!. Aí ele usou essa música no „Jeca e seu filho preto‟, que foi o nome do filme que o Elpídio estava vivo quando ia fazer a música, mas morreu. Ai ele fez depois essa música, que o Cascatinha chama despertar do sertão. E assim foi, e ficou o Mazzaropi, mas uns dez anos mais ou menos, e morreu também. E acabou a história né? TC: O. 44.20 PERGUNTA:E QUAL ERA A RELAÇÃO DE ELPIDIO E MAZZAROPI? ERA AMIZADE? TC. 0.44.21 – “ De amizade. Eles ficaram amigos né?. Grato, né? (((Pausa)))...//“ Depois ele vendeu a fazenda e comprou um terreno mais pra cá, onde é o hotel. Você já foi lá?. É um hotelzão viu!?. Aí é pertinho de Taubaté. Aí, ele veio e ele disse: “ Cinira!”. Porque hoje a gente era amigo, né?. As vezes eu ia lá no escritório dele. Era vizinho do Cine Ouro, era né? vizinho do Cine Ouro, em São Paulo. Aí, eu ia lá ver. ”Como é Mazza?, como é que está ai?” para ver como é que estava; eu ia junto com o Elpídio, e tudo né? Ele dizia: “Olha Cinira!”. E ele é nervoso, sabe?. 99 Quando ele começou a produzir, ele financiava os filmes dele. Ele não emprestava dinheiro de banco, essas coisas não! Aí, ele falou: “Olha, eu estou apavorado. Eu gastei não sei quantos lá, né?. E agora, se eu não tiver?” O que? Você é bobo!. E a gente percebia que ele estava nervoso, até que ele...(((Pausa))) Tc: 0.46.11 - ... Daí era assim,o Elpídio quando precisava ensaiar musica que ele fazia; essas coisas. As vezes o Elpídio ia na casa dele em São Paulo. E quando estava aqui, ele ia em Taubaté para gravar; essas coisas. E assim era. Aí acabou que o Mazzaropi freqüentava a minha casa, e nós aqui freqüentávamos a casa dele, lá. A dona Clara já era de idade. Quando o Mazza morreu, ela tinha 92 anos. Ela já estava doente, esclerosada, né?. E morreu ele, depois morreu ela. O pai já tinha morrido há muito tempo. O pai dele eu não conhecia. E assim a gente ficou amigos, né?. Tudo o que o Mazzaropi precisava do Elpídio...”Olha, tenho uma música agora que é assim, assim e assim”. Cedo, ele ligava para o Elpídio e contava a história, porque as histórias do filme dele era ele que fazia, o Mazza. Daí, ele já bolava como é que tinha que ser a música, ligava para o Elpídio cedo, e o Elpídio já ia fazendo. Depois, quando estava quase pronto o filme, ele filmava aqui também. Por exemplo, o “Paraíso das Solteironas”, ele filmou um pedaço muito grande; tem gente daqui e tudo, sabe?. Então, era assim. Ele precisava.. Ele fez um filme que precisava de escravos, essas coisas; e o Elpídio levou um ônibus de gente daqui para participara do filme para ele, né? Enfim, eles eram chegados. Aí, o Mazza teve um câncer, né? ficou muito tempo doente, até que morreu mesmo e não teve jeito.” TC: 0.48.14 PERGUNTA: NESSA ÉPOCA O ELPÍDIO JÁ FAZIA SUCESSO? TC: 0.48. 18 – “ Fazia, fazia. Ele já tinha „ A dor da Saudade‟, essas músicas. Tem gravado ai. Tem uma música, que eu acho que já gravou mais de vinte vezes, que eles falam „ Casinha Branca‟, mas o nome não é esse é „Você vai gostar‟.” TC: 0.48.38 100 PERGUNTA: COMO O ELPÍDIO LIDAVA COM O SUCESSO? ELE BUSCAVA O SUCESSO? TC: 0.48.35 – “ Aqui tinha festa...Quem nem agora está tendo festa em São Luiz. Você sabe, né?. Então, no leilão a noite, a banda é que tocava no leilão.E ajuntava gente e tal, e rolava o leilão, né?. E tinha um advogado aqui, que ele era procurador do Estado. E não era gente daqui, era de São Paulo, ele tinha dois filhos moços também, já era advogado, depois o outro se formou advogado também, e tal, e morreu aqui. Aí, ele bebia muito sabe? e gostava muito do Elpídio, da banda. Ele sentava lá na barraca da festa, e ficava lá. Enquanto a banda estava lá. Um dia, era de festa, e eu não ia muito porque eu sempre tinha criança pequena e mamava no peito, aí veio o Elpídio todo apressado e eu perguntei: “ O que que aconteceu?”. “Não! Dá um papel para mim, me dá um papel!” Músico ele é... artista ele é muito relaxado com as coisas, né?. Então, ele fazia as pautas assim né? e riscava com o lápis, caneta. Ele falou: “ Eu vou fazer uma música agora”. E ele sentou na sala. E eu morava, pulando essa casa aqui vizinha, a outra. Eu morava ali. Era minha aquela casa. Aí, ele sentou lá; e eu não tomei mais conhecimento, e fui cuidar das coisas da casa. Daqui a pouco, ele vem. “Olha Nira, já fiz!”. Nossa, Elpídio mas já? “ é não é música muito comprida, mas eu estou homenageando o doutor Geraldo.” Foi correndo, e foi lá para a praça. Chegou lá, ele tinha conhecimento das coisas, os músicos já eram todos amigos dele, e ele jogou as partituras na estante, e foi maestrar lá e ensaiou na hora a música do doutor Geraldo. E tem aí. Eu acho que tem, lá nas coisas dele tem! Ele fez a música, e o senhor Geraldo ficou muito agradecido. Era qualquer coisa que se gostasse, ele fazia. De crianças tem música de roda, tem erudita, tem música sacra. Ele não era compositor, porque a gente vê um compositor ou ele é sambista, ou ele é não sei o quê. Ele compunha toda a espécie. Chegou a compor até rock.” TC: 0.51.39 101 PERGUNTA: A SENHORA PERDEU UM FILHO, NÉ? O PIO. COMO FOI ISSO? TC: 0.51.44 – “Pois é, esse foi o segundo filho. Infelizmente. Ele também era músico, e tem ali a foto dele com o irmão. E ele era encarregado do grupo Paranga. Porque daí, o Elpídio morreu e eu pus os filhos para estudar em São Paulo, porque eu tinha casa lá, e não tinha rolo. As meninas, eu chamei e disse: “Olha, vocês vão ajudar. Faz comida, o que tiver em casa e que precisar comer, fritar ovo, sei lá!. Então, eu dava uma sacola de compra para eles, e eles vinham. Na outra semana eles vinham, porque dinheiro eu não tinha, né? Aí, eles iam embora, e iam chorando porque não queriam ir. Aí eu dizia: “ Ah, vai! Tem que ir sim!. O que você vai ficar fazendo aqui?” E ia, porque eu tinha autoridade, sabe? Tive,e os filhos nunca contaram prosa comigo não, sabe? Nem depois de grande. Aí, foram para São Paulo. E ai quando foi um dia o Pio veio aqui e falou: “Mãe, olha! Eu trouxe esse diplominha aqui para a senhora!”. Ele estudou naquela escola, naquela escola que tem na Luz, Belas Artes. Ele estudou e tal. “ Eu fiz o curso de licenciatura e agora eu vou vir embora.” Ele não agüentava mais ficar em São Paulo. Depois ele casou, já teve filhos, aí já foi complicando. ”Aí, eu venho embora, e venho dar aula aqui no ginásio” E eu disse:” O quê?, mas você não terminou a faculdade lá? “Não! Eu fiz curso de licenciatura, mãe! Falta um ano só.” Pois olha! Pode pegar a sua mala e ir embora. Porque nem que seja para mim ir embora para São Paulo, encostada em uma bengala, você vai terminar esse ano. “Ai, mãe!” Ele ficou assustado, né? Eu falei não senhor! Aí ele foi! Quando ele terminou esse ano, ele veio. Agora está certo! “Olha ai mãe, o diploma que a senhora queria tanto!” Eu falei: Não venha fazer mal criação, não! Porque você vai ver como esse diploma tem valor para você. Você vai ter valor. 102 Aí passou, e ele lidando com a música, e Paranga; e formando o Paranga e tudo né? e tocaram lá no Lira Paulistana muito tempo, e tal. Mas a música não é bem assim, é para meia dúzia de privilegiados, né? e foram indo aí. Aí, começou a ficar difícil em São Paulo, porque ele tinha filho novo, né? E eu falei: Você vem embora! E a irmã que já morava em Ubatuba e trabalhava, disse: ”Olha Pio! Você vem aqui que eu vou arrumar serviço e você vai dar aula, lá! Aí, ele não queria dar aula. E eu falei: Não! Vai dar aula sim! E o pus para frente e ele foi dar aula em Ubatuba, morou lá uns dois ou três anos e veio. Aí já arrumou uma remoção para cá. Aí, foi dar aula em Lagoinha, depois deu aula aqui também.” (Pergunta: E eles gostavam de música tanto quanto o pai?) Todos eles. todos! TC:0.55.38 PERGUNTA: DONA CINIRA QUANDO O ELPÍDIO FALECEU? TC.0.55.43 – “ Ah, foi uma tragédia. Porque eu fiquei sozinha. A minha mãe morava comigo, ajudava a criar meus filhos, ela estava hospitalizada; e ele morreu no dia três de Setembro, e minha mãe morreu dia sete de Abril. Então foi seis meses depois. Foi o mesmo que cortar meu braços e minhas pernas, né?. Daí, pronto! Além de tudo, minha mãe não estava para me ajudar a cuidar das crianças, e eu não podia trabalhar porque eu fiz muita coisa assim; eu dava aula, eu não sou professora. Mas, na falta de professores eu ia. Chamava professora leiga, né? aí, me chamava então, eu ia. Já dei muita aula aqui no município, em diversos lugares... Minha mãe me ensinou muito bem, sabe? Eu sabia fazer tudo esses trabalhos manuais aí, isso aí tudo eu sei fazer. Isso aí, é a Nena que faz agora. Por causa de tinta, de idade, agora eu não posso fazer.” TC: 0.56.50 PERGUNTA: DONA CINIRA, COMO SÃO LUIZ DO PARAITINGA REAGIU A MORTE DE ELPÍDIO? TC: 0.56.56 – “ Nossa, foi.. parecia festa. Eu não fiquei aqui, porque eu sou muito valente para gente vivo, está doente, e que precisa de socorro, e tudo eu corro. 103 Levava gente para o hospital, em São Paulo e fazia muita coisa. Mas, morreu, não era comigo mais. Eu tive uma irmã que morava em Taubaté; quando o Elpídio morreu lá. Eu internei ele no hospital lá, e foi meio de repente, né?. Aí, eu internei ele ás onze horas da noite, e ele morreu ás seis horas da manhã. Daí ele morreu, aí eu fiquei.E a gente fica meio boa, né? Não tinha ninguém, e só estava eu e ele lá, e tinha um amigo que tinha saído e tinha vindo embora, porque trabalhava. Aí, eu fiquei. Aí, vieram conversar, e eu telefonei para uma irmã do Elpídio, que já morreu também e tinha uns filhos moços, pedindo para levar roupa, ir um para ficar lá comigo. E os dois pequenos que foram, o Pauleca e a Cá, que não lembram do pai... e os dois estavam na casa de um outra irmã dele, em Taubaté. Eu levei junto, deixei lá e fui para o hospital com ele. E fiquei lá. Quando eu cheguei, o médico... eu falei né?: “ Eu quero o melhor médico que você tem aí.”. Aí, ele: “Tá bom!” Aí, trouxeram lá o médico,e ele falou: “ Dona Cinira, eu acho que é meningite, mas a senhora me dá licença para eu colher o liquido da coluna, né?, da espinha, e vamos fazer um exame urgente. E ele já estava ruim. Aí, quando foi quatro horas da manhã, veio o resultado positivo com quatro coisas. Aí, ele veio e não tinha para quem falar e tinha que falar para mim. Aí, eu falei, aí ele disse: ” Vamos fazer o que puder, mas está difícil.” Está bom. E aí, ele morreu e eu fiquei. Nisso chegou a minha irmã que morava lá, e eu liguei e já tomei as providências, né? Aí, veio e falou: Então, olhe Nira. E eu disse: Eu não quero ficar aqui nos hospital. Mas o médico falou se precisar ficar...Porque, foi antes daquele surto de gripe, de meningite que deu. Foi antes que ele teve. Ele não tinha ainda. Ainda não estava se falando em meningite. Então, não tinha nada para se fazer. Aí, ele veio recomendar. Aí o médico veio e falou: Olha dona Cinira...” Mas, doutor o que é que eu tenho que fazer? 104 “Nada. A senhora aí, vai estar atenta; qualquer coisa vem aqui, que nós vamos ver.” Aí, ele liberou e nisso chegou o dono da funerária. Chegou lá.. “ Ah, dona Cinira!, é a senhora que está ai? Sou eu! “O que aconteceu?” O Elpídio morreu, seu Santos! “Morreu?” E ele era amicíssimo de Elpídio. “ Ah, pode ficar sossegada. Fica sossegada que eu cuido das coisas para a senhora.” Daí, já todo mundo foi sabendo e foi chegando um ou outro, né?. E eu fui embora para a casa da mina irmã e não vim para cá. E aí, o corpo veio para cá e o corpo foi velado ali na capelinha, e eu vim depois do enterro, sabe? Mas, a história.... O Mazzaropi veio, muita gente, sabe?” TC: 1.01.19 DECUPAGEM – FITA 02 SONORA: DONA CINIRA DOS SANTOS PERGUNTA: NO DIA EM QUE ELPIDIO FALECEU, PARECE QUE TEVE UMA HOMENAGEM PARA ELE NA CIDADE,NÉ? TC: 0.0.35 – “Olha, foram tocando. O enterro dele foi com música. E o violão dele foi em cima do caixão até o cemitério. Lá, o Mazzaropi falou, o Luiz Alberto que era um advogado que tinha aqui e era amigo. Parece que estava escurendo, e eles parecem que não tinham coragem de enterrar ele, sabe?.Então eu não vi, mas estou sabendo.” TC: 0.01.06 PERGUNTA: A SENHORA ACHA QUE FOI DO JEITO QUE ELE QUERIA? TC:0.01.07- “Ah, eu acho! Ele não gostaria de morrer não. Ele vivia bem.” TC: 0.01.15 105 PERGUNTA: DONA CINIRA, COMO FOI PARA A SENHORA FICAR SOZINHA, E SENDO O PAI E A MÃE DA FAMÍLIA? TC: 0.01.23-“ Olha, minha filha. A música me ajudou muito a criar os filhos, sabe?E o resto foi por minha conta. Porque aí eu já não tinha mãe, não tinha ninguém, porque os meus irmãos moravam...Um morava em Ubatuba, outro em Taubaté. Eu criei quinze irmãos e sepultei quinze.Sepultei a mãe, o marido e o filho. Então, eu sempre foi muito valente, viu? Eu sempre fui valente. Sabe, essas coisas que não tem para onde você correr.... Não tem. Não tem jeito!. Feijão tinha.... A pensão dele que tem até hoje, né? Que é... Você sabe o que é pensão, né? E eu trabelhei com isso aqui, e ajudou. E eu muito popular, muito conhecida aqui, né? Tem gente que fala: “ A senhora é importante!”. E eu digo: Não sou filha. Eu sou popular. E eu fazia de tudo, trabalhava com coisa de igreja e enfim. E a criançada junto, e a disciplina; que é difícil, viu? Sete filhos pequenos não é fácil. A mais velha já estava em Ubatuba trabalhando, era professora, né? Então, era o jeito esse: ser professor e depois arrumar uma faculdade por conta deles, porque eu não podia assumir sete filhos, né?” TC: 0.03.13 PERGUNTA: COMO FOI A VOLTA DE PIO DE SÃO PAULO PARA SÃO LUIZ? TC: 0.03.36- “ Ele casou, e aí nasceu a primeira neta minha. E foi complicado porque a menina nasceu com seis meses, e aí ele sozinho com a mulher lá, porque a família dela morava em Taubaté. Então, o jeito era ir embora, e ele foi dar aula, né? para ganhar dinheiro ele tinha que dar aula. Aí, ele foi dar aula e a menina foi crescendo aqui com nós e tal, e daí que ele veio a morrer, e ela era pequena ainda. Hoje ela já está formada.” Tc: 0.04.14 PERGUNTA: ELE MORREU DE QUÊ? 106 TC:0.04.16 – “ Ele teve um tumor na cabeça. Na época pior, porque hoje parece que já está mais ou menos a cura, né? Mas, não teve jeito.” TC: 0.04.30 PERGUNTA: A SENHORA DISSE QUE ELE SEMPRE FOI O GRANDE INCENTIVADOR DO PARANGA. TC: 0.04.36 – “ Era. Ele foi encarregado. Ele formou o Paranga, e ele mesmo ficou encarregado do Paranga. Aí, tinha o Negão. Era os da casa né? Era o Negão, a Nena, a Parê e dois irmãos...que você não conhece o Galvão, né? Da prefeitura! Agora ele nem está mais na prefeitura.” O Galvão e o irmão. TC:0.05.08 PERGUNTA: COMO A SENHORA E O ELPÍDIO COMEÇARAM A NAMORAR? VOCES JÁ SE CONHECIAM DESDE SEMPRE? TC.0.05.29- “ Sempre. Porque eu era pequena, e ele já era homem e já vinha tocar aqui no cinema. E toda a gente se conhece aqui. E aí, quando ele teve a meningite, e ele estava com trinta e quatro anos, e aí eu... A gente mandava torrar café em casa. Tudo é uma história, né? Torrava, e o pessoal socava no pilão. E a irmã dele fazia isso. Morava em sobrado perto da praça e eu onde era O Cantinho dos Amigos. Minha madrinha tinha um hotel ali, eu descia ali. E aí era dia de mandar torrar o café, e eu ia lá. E ele estava doente, e foi que eu vi ele. Eu já conhecia ele, mas nunca conversei e nada. Daí, ele estava ruim, com muita febre, e essas coisas, né? E foi que ele perdeu o ouvido nessa meningite. E eu, já estava meninona já, e aí começou.” TC: 0.06.44 PERGUNTA: ENTÃO A SENHORA COMEÇOU A SE APROXIMAR? TC: 0.06.49- “Aí, logo ele já melhorou e já saia. E eu ia na casa dele porque eu tinha o serviço de levar o café para torrar e buscar né? para minha madrinha. E ali era hotel, e então gastava muito, né? E aí, tinha os outros irmão dele, e aí era tudo amigo. Amigo da minha mãe e tudo. Daí, surgiu esse namoro.” TC:0.07.16 PERGUNTA: COMO FOI O NAMORO ATÉ CHEGAR NO CASAMENTO? 107 TC: 0.07.21- “O namoro? A minha mãe não queria o namoro porque ele era namorador. Nossa senhora! Não tinha jeito. E minha mãe, sabe? família, né? assim como as outras famílias tinham receio das meninas namorar com ele. A minha mãe falava, falava... E você sabe moça como é que é né?” TC: 0.07.48 CONTINUAÇÃO DA PERGUNTA: A SENHORA FALAVA QUE A SUA MÃE NÃO APROVAVA O NAMORO, NÉ? TC:0.08.25- “ Naquela época, a gente namorava escondido. Não era um namoro de hoje,né? Então, era assim. Ele trabalhava em um chalé de bicho. Naquela época, o jogo de bicho era liberado. E tinha um chalé na praça, e ele era o encarregado lá, e tomava conta do chalé. E aí, eu ia na escola ainda porque na escola a gente não começava cedo como hoje, né? Começava mais tarde. Eu ia, e ele estava lá na esquina e já sabia que eu passava para ir na escola, aqui na rua perto da esquina. Então, dá-se jeito, né?”TC: 0.09.17 PERGUNTA: SUA MÃE O CONSIDERAVA NAMORADOR, MAS ELE NUNCA FOI BOEMIO NÉ? TC: 0.09.24 – “ Nossa senhora! Deu trabalho, viu?. Por isso que demorou para a gente casar. Daí um dia...” TC.0.09.34 PERGUNTA: QUANTO TEMPO A SENHORA NAMOROU COM ELE? TC.0.09.37- “ Treze anos!. Daí, um dia ele falou: Olha Nira!.E ele me chamava de Nira. “Olha, eu vou dizer uma coisa para você, eu vou providenciar aqui, e convém a gente casar porque eu já passei, já namorei, já e tudo; e agora eu vou assentar minha cabeça. Eu disse: Eu não acredito! “ Mas você pode acreditar. Palavra de homem.” E ele mesmo tratou o casamento, e a minha mãe também não se opôs. Mas era de vontade dela, sabe? E casei. Um casamento bem simples porque eu não tinha pai, e ele também meio arrimo da família; e era muita gente, eram treze irmãos. E resolvemos casar.” TC.0.10.35 108 PERGUNTA: E ELE ERA O MAIS VELHO DA FAMÍLIA? TC.0.10.37- “Não! Não!” TC: 0.10.38 PERGUNTA: MAS ELE AJUDAVA? TC. 0.10.40 – “Ah, muito! Tinha que ajudar, né? Era bastante gente. E o pai dele tinha uma hérnia muito grande e ficou impossibilitado de trabalhar, enão tinha um irmão mais velho dele que era o arrimo da família; mas ele tinha que ajudar porque era bastante gente. TC:0.10.59 PERGUNTA: E NESSA ÉPOCA QUE A SENHORA NAMORAVA COM ELE, ELE TRABALHAVA COM QUE? TC: 0.11.05- “Então, aí do chalé de bicho, abriu o banco, e ele é fundador do banco. Tem ali um retrato dele na porta do banco. Ele, o gerente,o contador, e ele era o escriturário, e tinha um menino que fazia o serviço. TC: 0.11.29 PERGUNTA: ENTÃO ELE CUMPRIU A PROMESA DO CASAMENTO? TC: 0.11.33 – “ Cumpriu. Agora, eu nunca fui implicante com ele, porque eu achava que não podia ser. Da musica ele não precisava largar. Largar para quê?,né?. Ele nunca largou da música não. E ele teve umas pessoas, amigos, parentes que a mulher forçou, tirou a música, e ficou doente, morreu. Então, eu vou observando as coisas e vou me corrigindo se tiver q fazer, né? Aí, o pessoal que vinha aqui, os amigos dele eram meus amigos, né?. E a mãe dele, era uma mãe antiga e muito brava...” TC: 0.12.27 PERGUNTA: COMO ERA O ELPÍDIO ANTES DE CASAR, BEM NESSA EPOCA QUANDO A SENHORA O NAMOROU? TC: 0.12.38 – “Ah, muito moço. A vida dele era tocar e trabalhar com outras coisas. Na casa dele, não tem mais calha, essas coisas desse jeito. Hoje se o seu sapato chegar a furar, você vai jogar fora. Vai comprar outro. É descartável, né? E no tempo dele tinha sapateiro, que punha meia sola, essas coisas. 109 Então, na casa dele, o pai dele... Ele era músico, e além de músico, ele era um artista em madeira.Mas madeira dessas casas, desses telhados nossos; e era gente que fazia trabalho perfeito. E era relojoeiro, era ourives, arrumava guarda-chuva, era encanador. Enfim, o que precisava ele fazia, sabe? E a época era outra. Era outro jeito, né?. Então, ele como o pai também, fazia e ajudava. As vezes, o pai para fazer uma fazenda ai, em um sitio longe ele levava comida e ia de bicicleta levar almoço, e ajudar em alguma coisa. E era assim que era.” TC: 0.14.09 PERGUNTA: E A MÃE? TC: 0.14.11 – “ A mãe não. A mãe já era uma senhora, já de idade, porque ela morreu com sessenta e poucos anos e não sei quantos. E o Elpídio já era casado,e ela era gente boa, era brava, daquelas mães antigas, sabe? Brava também e dava conta dos filhos. E o marido sempre trabalhava fora assim, e nunca tinha o marido em casa para ajudar, né?. Mas ela que criou, e cuidou dos treze.” TC: 0.14.46 PERGUNTA: ENTÃO ESSE AMOR DO ELPÍDIO PELA MÚSICA COMEÇOU NA CASA DELE? TC: 0.14.50 – “Com o pai. Desde que nasce lá. Aqui também. Eu procurei conservar isso, sabe?. Foi por isso que a música me ajudou muito. Porque acomodava a criançada em casa, porque os amigos, os outros colegas de escola vinham aqui, e tocavam e tomavam o tempo deles. Aí, não tinha muito tempo para fazer as coisas, e eu era sozinha mesmo e então, eu tinha que resolver.” TC: 0.15.25 PERGUNTA: COMO FOI DEPOIS DO CASAMENTO? ELE CONTINOU COM ESSA ALEGRIA DE VIVER? TC: 0.15.39- “O casamento foi simples e tal, e ele já estava transferido para São Paulo. Daí, ele teve que ir embora, e eu tive que ir também.” TC: 0.15.49 110 PERGUNTA: ASSIM QUE CASARAM, VOCES FICARAM QUANTO TEMPO EM SÃO LUIZ, ANTES DE IR PARA SÃO PAULO? TC: 0.15.55 – “ Menina, Nao foi muito.... Eu tive dois filhos aqui. Um eu já estava lá, e um eu vim dar a luz aqui porque é a facilidade né? era na casa dele que ficava. E minha mãe morava em Ubatuba. Minha mãe morou trinta anos em Ubatuba. Aí, é uma história né? Aí, eu fui para lá, e aí a minha mãe já foi comigo. E aquelas dificuldades de São Paulo,de arranjar casas para alugar, né? e a gente meio cru ainda. Do mato, né?. Mas, o Elpídio era esperto, ele trabalhou em cartório há muito tempo, catorze anos, sabe? Então, ele tinha bastante conhecimento, e ele era inteligente, tinha um bom português, sabe?” TC: 0.16.49 PERGUNTA: A SENHORA VIVEU QUINZE ANOS EM SÃO PAULO. NESSE TEMPO, TEVE ALGUMA HISTÓRIA ENGRAÇADA? TC: 0.17.01- “ Engraçada não. Sempre tinha né? O Mazza era engraçado. Daí para poder conversar, eles iam lá para dentro do quarto lá, e quem ia participava da conversa assim. E depois, ele vinha dar uma palhinha lá na sala, e dava risada, tomava café, essas coisas, né? E eu precisava emprestar a cadeira do vizinho. E esse vizinho, que eu tenho até hoje, que é uma moça; vem aqui toda a festa, todo o evento. O nome dela é Renata. Ela tem uma filha, já casou, e é ela que até agora é minha vizinha, é minha amiga. E tem a Aimar, uma que era uma aluna dele. Uma menina que eu.... Eu mudei. Eu mudei para essa casa, e antigamente era conjunto dos bancários, né?, na rua santa cruz.E quando eu mudei, foi no dia 25 de Janeiro. Era feriado em São Paulo. Então, estava uma manhã bonita e chegou a minha mudança, e a criançada na rua brincando; e tinha um banquinho que conforme subiu a mudança, eles subiram também. 111 E criança quer saber tudo, é curiosa. Aí, tinha uma menina de olhão verde assim, e foi a primeira carinha que eu vi dentro da minha porta querendo entrar, e curiosa, né?. E minha mãe era muito prevenida, e trouxe um grelha para fazer mamadeira, porque tinha o Pio pequeno, e tudo, né?. Porque até providenciar gás e essas coisas, demora né?. Aí, para fazer a mamadeira... Daí, ela viu o carvão.Uns tocos de carvão, né? e a grelha. Aí ela falou: Olha! Viu! Aqui não pode cozinhar com carvão, viu? Eu falei: Eu sei, filha! Ela disse: “Ah, então ta bom, ta bom!” E foram brincar e tudo. Essa menina freqüentou a minha casa, foi aluna do Elpídio, e cresceu dentro da minha casa. Hoje, ela tem três filhas moças, e agora o pai dela morreu.Mas, moravam lá, e depois mudaram de lá. E ela é assistente social na Freguesia do Ó. Mas todo ano ela vem. Parece uma caravana que vem aqui. Todo o ano. A Aimar vai na sala do Império. É uma sala que é montada aqui. Você já viu? Aí, ela chega lá, e tira a fita que está na bandeira, e traz uma peça de fita e deixa lá, para eles por na bandeira. E aí, pega aquela fita e amarra no braço do violão dela.” TC: 0.20.30 PERGUNTA: ENTÃO, FOI A SENHORA QUE FEZ ESSA LIGAÇÃO DELES COM SÃO LUIZ? TC: 0.20.35- “ é!” PERGUNTA: DONA CINIRA, O ELPÍDIO SEMPRE FOI RECONHECIDO COMO MÚSICO PELAS RUAS? TC: 0.20.43- “Nossa! De fazer serenata. 112 SONORA NENA – Maria Cinira (filha de Elpídio) COMO ERA ELPÍDIO PAI? (07’36” a 08’55”) Eu sou das caçulas né? Então eu não me lembro muito, quando meu pai morreu eu tinha 9 anos. Mas ainda assim eu tenho uns flashes de lembrar dele contando história com a gente, na barriga dele, essa coisa de pai coruja né? Tudo o que eu sei do meu pai, foi passado pela minha mãe. Então eu sempre digo que hoje o Elpídio é o que é graças ao que minha mãe preservou dele pra gente e pros outros né? Então o que eu sinto em relação a ele é que ele era um cara que gostava muito da família, gostava muito da minha mãe, queria muito os filhos. Ele era um homem que viajava, que passeava com a gente, na verdade a minha mãe que era o homem da casa, que trabalhava, que ia atrás das coisas e o meu pai era aquele que contava história, que saia com a gente pra ir passear, lá no Morro da Cueca, que ele levava a gente pra passear. Ele era um homem que cuidava muito da família, se dava todinho pra família. Um homem muito amoroso com a gente. ELE INFLUENCIAVA OS FILHOS COM A MÚSICA DENTRO DE CASA? (09’:06” a 10’:06”) Muito, a gente tem, por exemplo, os meus irmãos mais velhos, quando ele compunha pro Mazaroppi, que ligava pedindo música e tal. A minha mãe conta que ele fazia música, que ele compunha, ai tava todas as crianças dormindo, ai ele chamava todo mundo, ai todo mundo já aprendia a cantar a música, ai ele já gravava a gente, cantando fazendo corinho e tal, aí ele botava a gente pra cantar e aprendia bonitinho e aí ele ia dormir, por que ele trabalhava no banco e aí minha mãe tinha que levantar pra por a criançada na cama. E a gente cresceu dentro dessa realidade, então a musica, por exemplo, a gente tinha escola meu pai fazia as musicas pra gente cantar. Tinha uma data na escola e ele fazia a música que era pra gente, ele compunha a música que era pra gente cantar. Então você vê que essa coisa da musica é muito forte na gente, mas já por conta disso. LEMBRANÇA MARCANTE QUE TEM DO PAI. (10’:15” a 11’:44”) 113 É engraçado né, porque 09 anos. Mas eu tenho flashes, assim por exemplo, isso é muito claro na minha cabeça, dele levando, ele saia muito com a gente e com os meus primos, ele gostava muito de andar com a criançada, então ele fazia mágica, eu me lembro muito que a gente ia nas festinhas, na casa dos meus tios e tal e ele fazia mágica, ele fazia a vassoura dançar, pra gente era o máximo né? E outra coisa que é muito clara na minha cabeça é que a gente tinha uma coisa assim quando ia tocar, qualquer músico que vinha na minha casa, que vinha muita gente, muitos amigos dele. A gente tinha uma coisa assim: se a gente tava na sala e a pessoa começava a tocar, a gente tinha que sentar, tudo pequenininho, todo mundo ficava sentado e enquanto não terminasse a música ninguém saia do lugar, ninguém saia da sala não podia falar nada. Então isso eu acho uma coisa muito legal porque é um respeito, mesmo que eram as vezes era musica clássica, violão, instrumental de violão, que pra criança é uma coisa cansativa e as vezes até chata, porque você não tem que ficar cantando. A gente foi criado nesse esquema, então quando tinha alguém cantando e ele também não gostava quando ele tivesse tocando se alguém começasse a fazer barulho ou a falar ele discretamente ia parando, parava guardava o instrumento, então isso eu acho uma coisa bem legal. RELAÇÃO COM A MÚSICA (11’:47” a 12’:33”) Eu cantei 20 anos no Paranga e adoro, quer dizer eu não canto, eu não toco, mas eu amo viola caipira. Eu tenho uma violinha, que eu toco, tiro um sonzinho e tal, mas eu não aprendi o instrumento. Pelo paranga a gente cantava quase que intuitivamente, a gente fazia no palco o que a gente fazia em casa. A gente sempre foi uma família de se reunir, e os amigos sempre juntavam, a gente sempre tava com um violão, meus irmãos sempre tocando, minhas irmãs sempre cantando, então a minha relação com a musica é uma coisa intuitiva mesmo de herdar essa veia da nossa família, de sempre ta com a música presente. SENTE ORGULHO DO SEU PAI? (12’:35” a 14’:37”) Sabe o que mais me orgulha? É exatamente meu pai, ele é uma pessoa que minha mãe fala, hoje em dia pra você ser um artista você precisa ter um cuidado com a sua aparência, a coisa do mercado que é um loucura,, você tem que estar sempre correndo atrás de ta mostrando as suas coisas antes dos outros, porque 114 tem muita procura e tem muita gente com trabalho no mercado. E meu pai, minha mãe conta e isso eu acho muito legal, ele era um cara que compunha porque ele amava, ele amava os filhos, a terra dele, ele gostava de fazer musica. Ele não tinha naquela época, talvez, até ajudasse isso também, não tinha essa coisa do mercado hoje de você pra fazer seu nome você ter que ficar na porta da rádio , até tinham alguns que faziam isso, mas ele era um cara que era músico na essência dele. Ele não tinha esse tipo de preocupação com o mercado, de gravar, da música ficar conhecida, então isso eu sempre falo e me emociona muito quando eu vejo, por exemplo, numa novela de repente um artista, um cantor começa a cantar uma música dele. Eu falo puxa vida que loucura né? Ai eu falo pra minha mãe. Mamãe, quando o papai podia imaginar que a musica dele ia ficar conhecida do jeito que ta hoje. E hoje tem musicas mais conhecidas , mas a obra dele é enorme e tem muito o que a gente trabalhar, tem muito coisa legal pra se mostrar. Quer dizer isso me dá uma sensação de puxa vida é a minha missão. Ser filha dele, além de ser um grande orgulho é uma missão levar isso tudo que ele construiu a vida inteira, continuar levando pros meus filhos, pros meus sobrinhos, pras pessoas que vem de fora, pra vocês que tão vindo , tão moços e tal e que tão vindo aqui procurar isso, pra mim já é a prova de que ele mereceu, entendeu? PARANGA FOI UMA FORMA DE HOMENAGEAR ELPÍDIO? (14’:41” a 16’:33”) O Paranga, claro! Até hoje a gente recebe muita gente que vem aqui procurando o trabalho do meu pai por ter ouvido o Paranga. Nós éramos mocinhos quando... assim minha mãe, sempre quando eu falo do meu pai, eu sempre enfatizo a figura da minha mãe, porque ela é uma pessoa que apostou nos filhos, ela quando meu pai morreu, tudo que ele deixou ela deixou guardado, ela trancou numa cômoda que ela tinha e depois que a gente já sabia e tinha condições de entender, a herança que a gente tinha herdado dele ela abriu e falou: olha criançada vocês vem aqui e agora vocês vão ver o que vocês tem na mão! E foi exatamente com o Paranga que ela começou a ver que a gente tava se interessando por música. Então o Paranga serviu como uma, lógico ele é um porta-voz do que acontece, não só do meu pai mas de todos movimentos aqui de São Luiz, que é uma cidade muito musical né? Então, pra mim assim, o Paranga 115 ele não se concentra só no grupo que a gente formou em 80. Hoje o Paranga ainda ta presente, nos meninos que, nos Estrambelhados ou na turminha da banda. Os jovens aqui têm essa coisa com a musica que eu sinto que muitos, eles mesmo falam, eles se focam no Paranga, do jeito que a gente saiu pro mundo, mas por que? Por que muita mãe falou olha: vocês vão, eu não vou, e a nossa casa vai ser sempre um ponto de apoio pra vocês se der certo bom, se não vocês voltam, toma um pouquinho da água daqui e volta pra rua e foi isso que a gente fez e faz até hoje, com o Pedro a Renata que tão com o Paranga ainda. QUAL A IMPORTANCIA DE ELPIDIO? (16’:43” a 18’:37”) Eu acho que Elpídio, ele tem uma..pra mim eu sempre comparo Elpídio a Pixinguinha, a todos esses grandes músicos que tiveram uma outra realidade, que estavam em outro lugar, enfim o Elpídio ele tem a mesma importância. E o que acho mais legal nisso tudo é que, por exemplo, o meu pai ele teve a sorte de ter feito uma família como a minha. Que hoje, por exemplo, a minha família, diferentemente de outros compositores, a gente faz, o nosso lema é levar, cada vez mais, as pessoas a conhecerem a obra mostrar. Então o que eu sinto assim, por um artista ter nascido como meu pai que nasceu no interiorzinho do estado de São Paulo, pequenininho, em 1909, tudo muito fechadinho e tal. Hoje quando eu ouço uma musica dele ganhando o mundo né? Eu falo puxa vida! Tudo o que esta acontecendo, graças também, além claro do cara ter sido um gênio, mas a gente não ter tido medo e nem ter tido, às vezes, por falta de interesse mesmo de falar dele, de estar levando, começando pequeninho. Então agora eu estou vendo que o nome dele cresceu muito também, porque meus irmãos Negão toca a Renata canta e a gente cantarola direto e vem gente aqui ou quando pergunta : ah você conhece casinha branca? A gente tem a casinha branca e já canta um montão de outras coisas. E acho que isso também faz com que o trabalho do artista comece a aparecer mais. MÚSICA PREFERIDA (18’: 42” a 20’:17”) Pra mim? Ah tem um monte. São várias né! Por que na verdade a obra dele é uma obra que espelha a fase de vida que ele teve. Então, por exemplo, tem uma que acho muito legal que quando eu era pequena eu ouvia minha irmã cantar, 116 que ele fez pra minha irmã, que é uma musica que fala de uma menininha que ia pra escola, uma mocinha. Tem uma valsa linda que ele fez que é Confissão, que até o Paranga gravou no disco deles, que é linda, que ta na cara que é feita, inspirada nessa coisa que ele tem com a minha mãe. Então na verdade na obra do meu pai eu não consigo pegar uma única música. Casinha Branca que cada vez que você ouve não tem como você ouvir casinha branca e você não pensar, é romântica, é uma coisa que te aquece. Então na verdade eu sou fã dele, porque ele tem uma obra muito diversificada, então eu gosto muito de música, eu sou uma pessoa que eu tenho uma ligação, eu não gosto só, música regional, eu gosto de música! E ai ouço um dobrado com a banda, que lembro quando eu era pequenininha que ele levava a gente na procissão e tocando dobrando, a banda tocando. Então na verdade a obra dele toda remete ele pra minha vida. Eu como não tive contato físico. Então a obra dele acabou sendo o que fez a nossa união, como eu conheci ele. Então nesse sentido a obra dele sempre me inspira. CANTA UMA MÚSICA (20’:18” a 21’:30”) Deixa eu pensar, eu não sei já cantei tantas já. Tem uma que eu gosto, vou cantar um trechinho porque ela é...”Não há dinheiro que pague uma noite de lua no sertão. A gente vai na fazenda, pertinho da venda, lá no chapadão. Ouvindo uma serenata, na estrada de prata, um tal capoeirão. Enquanto geme a cachoeira, surrando a pedreira, no fim do grotão. Ai , ai, ai, noite de lua traz recordção. Domingo as moreninhas vão a igrejinha de pé no chão. Quer dizer não precisa de mais nada... (22‟:21” a 22‟:30”) – img quadro de Cinira e Elpídio, jovens SONORA MARIA ALAÍDE – MARIA CÁ OU CÁ (FILHA DE ELPÍDIO) COMO ERA ELPÍDIO PAI? ( 24’:35” a 25’:24”) O que ficou, bastante, até não é através do papai, porque eu tive menos contato ainda com ele do que meus irmãos né? Mas a mamãe falava muito disso: Cá você lembra que você era pequenininha, que seu pai chegava meia-noite, que aqui a gente tem o último ônibus que chega meia noite em São Luiz, e ele chamava vocês pra contar história e eu lembro assim, o que eu sinto é o calor 117 dele. Punha a gente na barriga e começava a contar história de medo e aí quando a gente começava a ficar com muito medo ele então: ah agora vou contar uma engraçada, ai ele contava outra coisa pra gente distrair e aí a gente ficava até duas horas, aí ia todo mundo pra cama de novo e deitava. ERA GOSTOSO? (25’:25 a 25’:45”) E não morreu! Porque o papai morreu, mas a mamãe continuou fazendo isso com a gente e muito bem! Porque quando não era ela, eram os meus irmãos. A gente é unido, muito unido e sempre falando do papai. Então eu até falo pra mamãe: mamãe a gente fala do papai, como se ele tivesse morrido ontem, tem 30 anos que ele faleceu. COMO DEFINIRIA ELPÍDIO? (25’:50” a 26’:16”) Eu acho, pra mim, ele foi um gênio! Que ele, na minha opinião, atacava em todas as áreas. Então ele assim, era um bom pai, excelente marido, era quando precisava chamar a atenção, chamava, era regrado e também quando ele deixou isso pra mamãe passar pra gente. A gente ia amar alguém que não existe mais, que não estava mais presente no dia-a-dia da gente. Então pra mim, Elpídio é isso, pra mim é um gênio! RELAÇÃO COM A MÚSICA? (26’:24” a 27’:10”) Eu como sou a penúltima, eu não tive muito contato com a música, mas eu tive contato com os meus irmãos, que tocavam no Paranga né? Até existe o Paranga hoje, o meu irmão Negão com a dona Renata. E o meu irmão que faleceu o Pio, ele fazia algumas músicas, porque eu fiquei aqui e eles foram embora pra São Paulo, mas eu fiquei aqui em São Luiz, então ele fazia e falava: Cá essa é sua! E daí ele fazia alguma coisa e fazia eu cantar, mas só um pouquinho porque eu não canto. Mais a minha praia é costurar, fazer tricô, que isso vem também do papai e da mamãe que me ensinou e hoje eu passo pro meu filho. Meu filho sabe fazer tudo isso que eu faço. QUAL MÚSICA QUE MAIS GOSTA? ( 27’:16” a 27’:39”) Tem um monte que eu acho bonita, mas tem uma que eu acho muito bonita que é “Maria Cinira”, que meu pai compôs quando a Nena minha irmã nasceu e é 118 instrumental é linda! E quando a gente era pequenininho eu lembro que o papai punha a gente pra escutar e quando vinha visita na casa e ele tocava sempre a “Maria Cinira”, é muito linda! IMPORTANCIA DE ELPIDIO (27’:51” a 28’:46”) Eu acho super importante, porque assim, papai fazia tanta coisa instrumental como valsa, como samba e isso foi passando também, porque antes dele, eu acho que São Luiz é uma cidade musical, mas ele era a pessoa que fez tudo, diversificou, mostrou um monte de música pra todo mundo, então eu acho que é super importante pra São Luiz. E eu acho assim, através do papai, meus irmãos jovens montaram o grupo paranga, o paranga hoje é uma referencia para os jovens que estão aqui hoje, que é estrambelhados, um monte de grupo e mesmo pra banda, a fanfarra toca coisas do papai. Então Eu acho que ele pega toda área. ALGUMA HISTÓRIA (28’:51” a 29’:49”) A minha mãe conta uma que eu acho que é legal. Porque aqui, era pequenininho, não tinha luz, tinha um senhor aqui que tinha muito medo e meu pai gostava de brincar e aqui bem na rua do rosário aqui a gente tem um cemitério. E ai vamos botar medo na pessoa? Vamos. Daí ele pulou, o moço morava em frente o cemitério, então ele pulou o muro do cemitério e começou a jogar pedra na casa do senhor que tinha medo e aí ele ficou morrendo de medo, morrendo de medo e aí o papai falou: Ah, agora já colocamos bastante medo né? Chega. Vamos parar. Vamos embora e quando papai tentou sair do cemitério ele não saia. Só depois que o dia amanheceu é que o papai conseguiu pular o muro do cemitério de novo pra ir embora. Então isso ele era jovem quando ele fez isso, mas eu acho interessante, eu acho que é uma historia que a mamãe contava que...quando eu era pequenininha e ficou. Eu acho muito legal essa história. MOMENTO MARCANTE (29’:58” a 30’:29”) Eu acho muito legal, não é engraçado, mas eu acho muito bonito. A mamãe contava que quando nascia um filho ele ia com o violão, lá pro hospital. Aí ele chamava todo mundo, as enfermeiras, os médicos e tocava. Então ele compunha uma música pra cada filho. Porque cada filho tem a sua música e ele tocava, 119 então ela falava que chegava duas três horas da manhã. Você pensa que a mamãe tava deitada com o filhinho? Não. Tava todo mundo no quarto e ele tocando. Então eu acho essa uma historia interessante e bonitinha do meu pai. SENTE ORGULHO (30’:30 a 31’:51”) Muito, muito, muito, nossa! É muito gratificante ser filha de um gênio, eu acho que isso valoriza qualquer ser humano. Muito legal muito bom. Essa obra até minha irmã conta uma historia que eu acho muito legal que é, a obra é enorme né? As pessoas conhecem só um pouquinho, mesmo porque a gente é daqui do interior, pequenininho e que tudo que o papai saiu, foi graças aos meus irmãos. Então tudo que aparece na TV, é mesmo, começou do pequeninho pro grande. Ele não era uma pessoa que já era de cidade grande que já se fez, não. Então eu acho que isso é muito importante pra gente, o que valoriza nós hoje, através dele. É realmente é tudo de bom! E o que eu acho mais legal é que não era só na música ele era bom amigo, bom pai, todo mundo fala ele era severo quando precisava ser na hora que precisava ser, punha regras, tinha regras, mas não tem uma pessoa que não fale que o papai não fosse uma pessoa boa, com o coração enorme SONORA PAULO CELSO DOS SANTOS – PAULECA (FILHO DE ELPÍDIO) LEMBRANÇAS DO PAI, CONTADAS PELA MÃE. QUANDO O PAI MORREU TINHA 4 OU 5 ANOS (32’:23” a 32”50”) É isso mesmo, eu me lembro até hoje ela imortalizou o meu pai pra nós né? Inclusive eu não tenho essa lembrança forte dele né? Eu fui criado pelos meus irmãos, inclusive por ela né? E todos os dias a minha mãe tinha um “causo”, contava e eu sentia muito a presença do meu pai, através dela e dos meus irmãos. Então esse é o sentido do Elpídio pra mim né? Então até hoje isso acontece né? ALGUMA HISTÓRIA (32’:55” a 33’:46”) Eu vejo por esse lado né? Que é o que eu sinto. Que a obra de Elpídio, o Elpídio ele tinha uma coisa muito dele né? Tanto familiar quanto as obras artísticas, ou musicalidade que ele tinha a base como respeito, amor e educação. Então isso 120 pra nós é a base. Então isso a mamãe sempre reprisou pra gente, constantemente, e nós demos com essa continuidade. Eu dei com essa continuidade também, tanto no meu trabalho como no meu convívio, na sociedade, com os amigos de música, ou às vezes na escola. Então é isso, esse “causo” que me deixa mais satisfeito e faz eu realmente andar e sentir, ter essa presença né? E eu acredito nisso. O QUE FICOU DE ELPÍDIO EM VOCE? QUAL A SUA LIGAÇÃO COM A ARTE, COM A MÚSICA?(33’:50” a 34’:53”) O meu pai ele dominava 28 instrumentos né, era maestro, a formação dele musical veio de banda e eu tive a felicidade de aprender um instrumento que ele também tocava na banda, que é o bombardino piston, que hoje é o trompete né. E isso ficou muito marcante, porque meus irmãos todos são músicos né, mais corda, voz, percussão e eu tive esse dom mais apurado na questão do instrumento de sopro. Então eu me identifiquei muito com isso, com essa relação dele musical, que eu me dou muito bem com a questão sopro né, com a banda, com os grupos. Isso é muito forte do Elpídio em mim, que ele teve esse ponto de partida né, com instrumento de sopro, que pra mim é a melhor coisa que aconteceu pra mim na questão musical. Não tenho a formação acadêmica, mas o dom então fala mais alto pra gente aqui né. E isso ficou muito forte, marcou muito pra mim. SENTE ORGULHO DE SER FILHO DE ELPÍDIO? (35’05” a 36’:03”) Eu vejo assim, que é uma responsabilidade muito grande né? Por a minha mãe imortalizá-lo aqui dentro de minha casa, pra nós. Eu nunca me apresentei como filho do Elpídio na rua. Sempre como filho da Dona Cinira, porque a minha curiosidade maior era, realmente, tirar isso a limpo né. Porque não é possível meu pai nunca ter feito alguma coisa que não agradasse alguém. Então quando eu, realmente, fui ao encontro das pessoas foi assim, veio a concretizar toda essa ideia né?. Então esse é o maior orgulho né? As pessoas quando falam: Nossa Paulo você e filho do Elpídio, mas depois da conversa né?. Ai eu sentia realmente aquilo, isso é Elpídio. Volta aquela base né? Esse é o maior orgulho que eu tenho de ser filho, sim, de Elpídio e dar essa continuidade, que hoje eu 121 tenho filho, filha e, realmente, é a base que eu quero. A educação, a formação que eu quero passar né? QUAL A IMPORTANCIA DE ELPÍDIO PARA NOSSA CULTURA (36’:11” a 37’:09”) Ele teve a responsabilidade, nós temos a maior responsabilidade ainda né? Por que levar essa obra do Elpídio, dentro dessa obra do Elpídio, ele tem todos os segmentos né. Tanto ele tem todos os ritmos. Então essa responsabilidade agrega toda a região. Então quando fala em Elpídio você fala em samba, você fala em rock, você fala de xaxado, você fala em frevo, você fala em marchas. Isso, as letras, e as composições dele é muito atual, mesmo ele tendo morrido há 39 anos. Então isso a responsabilidade é muito grande né? E sabemos que a obra de Elpídio é maior que nós e nós somos ferramentas pra que isso possa chegar e divulgar isso. Esse é o nosso trabalho né? E tomara que fique a nossa responsabilidade de fazer, de passar de gerações para gerações. Esse é a nossa responsabilidade, um prazer né? QUAL MÚSICA MAIS GOSTA? (37’:11” a 37’:47”) Aí é difícil. Eu gosto enfim, “Casinha Branca”. Nossa eu não sei escolher, eu não sei citar uma porque nós convivemos muito, diariamente com a musicalidade em casa, tudo. Ou é na hora do almoço, ou é conversando com os irmãos. Tudo vem, tudo flora. A maior satisfação, do meu ponto de vista, é ver as pessoas tocar, gostar, aplaudir de tudo, da obra inteira. Isso que é legal né? CANTANDO UMA MÚSICA (37’:50 a 38’:12”) Eu não sei, mas. Eu não sei o nome da música, mas enfim é... Desde de segunda-feira que eu fiquei no... do Juvená, não freqüento mais a gafieira, pois a noite inteira pra nós dois dançar. E tasca um beijo nele, tenho até a impressão, que eu estou me revelando...eu acho muito legal. COMO MANTÉM VIVO O NOME DE ELPÍDIO (38’:21” a 39’:57”) É muito complicado, eu no meu ponto de vista ainda não aprendi isso. A minha mãe tem toda essa levada, faz parte de um processo de convivência mesmo , dessa base de respeito, amor e educação. Porque a obra do Elpídio dos Santos é bem isso, ela não é um produto, ela tem um relacionamento, um trabalho de 122 relacionamento. Então se você for ver toda a obra por si, ela fala de um amigo, ela fala, dedicada a uma namorada, a sua esposa, a seus filhos. É incrível isso. Então essa é a levada mesmo. Que é isso que a gente sente. A gente leva dentro da gente, com os amigos. Quando a gente fala com alguém que não conhece: olha, mas Elpídio? Então, aí já se identifica mais com a obra. A música casinha branca que tocou em tal lugar. Ahh.. então é ai a deixa pra que a gente possa, realmente, passar essa obra né? Como foi feita, o relacionamento, a questão da família né? Do Elpídio em si. Porque não é tão valorizado o compositor né, mas o interprete, isso nós já sabemos disso, mas agora é outro trabalho que nós temos que reverter essa situação né? De sim valorizar, não só o interprete, mas o compositor também, que é ele, realmente, que dá a vida, acho eu, ESTE TRABALHO TEM CONTINUADO NÉ? (40’:11 a 41’:21”) Nós estamos fazendo um trabalho muito importante no Instituto Elpídio dos Santos, que é fundamental, porque gerações, aqui abaixo de nós, não conhecem Elpídio. Conhece a obra, conhece a música do Elpídio. Identifica com o compositor, com o apresentador enfim...então a gente ta fazendo um trabalho que chama “Elpídio na sala de aula”, entendeu? Aí é trabalhar a juventude mesmo, trabalhar a educação né? Porque isso faz muita falta pra nós. Hoje eu tenho 45, eu tenho amigos de 30 que nunca ouviu falar de Elpídio. Então nós estamos num resgate dessa história, eu acho fundamental isso ai não tem o que contestar. Então esse é o grande trabalho que a família, através do instituto, está realizando. Que outras gerações venham a conhecer o que é Elpídio, relação família, amigos, música, artista plástico, ele não era só músico e compositor, ele pintava, ele desenhava, enfim, ele fazia peças de argila. Então nós estamos resgatando isso, graças a Deus e graças a nós, nós estamos conseguindo fazer a coisa andar, que é por aí, trazer na escola. ENTREVISTA NETAS Lia Marques Luiz dos Santos – filha do Negão e da Renata Julia Pereira dos Santos - filha de Maria Cinira dos Santos Flora Simeão dos Santos – filha do Pio Joana dos Santos Egito de Cerqueira – filha da Parê Nina – filha do Pauleca 123 COMO VOCÊS VEEM O AVÔ DE VOCÊS? (42’:42” a 44’:28”) Lia – eu acho uma história muito importante, que influencia todo mundo, todos os netos e toda a região. Eu acho que é uma história muito rica, com uma música há anos na família. E é um artista que fazia de tudo compunha, tocava, fazia trabalhos manuais, acho fantástica assim. Tenho maior orgulho de ser neta dele. Joana - e também a história que a gente tem do avô é muito pelo Paranga né, a gente cresceu com os tios e os pais tocando. Então acho que a lembrança que a gente tem, que a gente traz dele é pelo paranga e pela nossa vó né? Que ele morreu muito antes da gente nascer, então isso é o que a gente traz dele com a gente, muito mais pelo paranga e com a vó Nira né? Julia - e sem dúvida, assim, a nossa família só é o que é, a união, independente de...não eu acho que a música também contribui pra essa nossa união. O jeito que a gente foi criado, então eu acho que ele é o responsável por isso. Flora - engraçado assim, porque ele morreu e a gente nasceu muito tempo depois e a gente cresceu com ele presente, parecia que realmente tinha um vô na casa, porque tudo era o vovô, ah a música do vovô, histórias do vovô. Julia - é e até engraçado, eu recebi umas amigas minhas aqui um dia e elas falaram: nossa mas tem um boneco do seu avô aqui na sala, que coisa mais estranha, assim, chega até ser um pouco né? Mas pra gente é uma realidade, é uma coisa tão natural, que é uma presença mesmo né, tem quase 40 anos que ele morreu e não parece né. HISTÓRIAS DE ELPÍDIO (44’:36” a 46’:10”) Lia – bem, eu lembro que o meu pai conta que ele compunha uma música ai quando tnha que mostrar para o Mazaroppi, assim, ele ia lá acordava todos os filhos, fazia todo mundo ensaiar, gravava, todos os filhos cantando como um coral assim, então eu acho muito legal isso. Julia – pra mim foi quando minha mãe nasceu que, no hospital, a noite, ele fez uma cantoria, uma tocata e minha vó tava lá, tava recém parida, tinha acabado de ter o filho e ele lá com os enfermeiros, e as enfermeiras e minha vó fazendo uma serenata a noite, assim, durante a madrugada. Joana - é, da gente ouvir falar, também não só pelos pais, mas muitas vezes pelos primos deles e nossos também, que contam né. Que ele tinha uma ligação 124 com as crianças né? O tio Márcio mesmo, um tio nosso, contou uma historia hoje que o vovo foi fazer uma mágica pro Márcio, eu não sei bem, pro jardim de infância e chamou ele pra ser a cobaia. Então ele colocou ele de pé numa cadeira e aí jogava uma moeda dentro do bolso dele e aí pegava a moeda mais embaixo achando que o bolso tava furado, mas não tava. Então, isso hoje ele me contou, o nosso tio e é isso, eu acho que são várias lembranças, várias historias, mas que a gente lembra acho que são poucas né? HERANÇA (46’:16” a 47’:28”) Lia – eu gosto de cantar, já fiz algumas apresentações junto com o Paranga. Acho que isso ficou em mim, assim. Julia – eu fiquei mais com a parte do trabalho manual, eu costuro, sou formada em arquitetura, trabalho na área que tem tudo a ver com arte e criação, pra mim a herança é essa. Flora – é pra mim também é a música, cantar assim. Aliás as quatro cantam, mas mais assim de gostar muito de música e gostar muito de cantar também. Joana - é na música também. Acho que está em todos nós né? De uma maneira ou de outra. E comigo também o que é mais presente é esta relação com a música, de gostar de ouvir, acho que todas nós, a gente gosta de ouvir, presta atenção, tem um respeito pelo trabalho musical das pessoas. Eu toco um pouco de pandeiro também, gosto de estudar música e eu acho que isso que ficou mais forte. IMPORTANCIA DE ELPÍDIO PRA CULTURA (47’:32” a Lia- eu acho que é muito importante assim, porque ele tem uma bagagem gigantesca. A musica dele foi feita há muito tempo, mas se você escuta você consegue sentir o que, com certeza, sentíamos a 40, 50 anos atrás. É uma música que fala muito, diz muita coisa. Dá pra você escutar em qualquer época, pode passar anos e ela continua. Julia – e uma coisa que eu acho muito legal também é a diversidade dele. Tem essa parte do regional, tem o samba, tem chorinho, eu acho que isso mostra que é um artista completo e não que, necessariamente, tenha que ser assim, mas eu acho que é por isso que as pessoas podem se espelhar nele, por essa diversidade, por ser completo mesmo. 125 Joana - acho que uma importância como se fosse de qualquer outro músico que tem uma projeção do seu tempo né e que acaba passando a ser uma referencia, tanto local, como regional ou nacional quem sabe né? Acho que é isso. MÚSICA CANTADA POR ELAS – (49’:05” a 49’:31”) Numa rede de taboa amarrada no ipê. Pra lá, pra cá, pra lá pra cá. Nessa rede balançando bem juntinho de você. Pra lá pra cá, pra lá pra cá. Passa o dia e chega a noite, balançando oh. Lá no céu vem o luar, balançando oh! E a rede balançando, balançando oh!pralá pra cá, pra lá pra cá, pra lá pra cá SONORA RENATA – ESPOSA DO NEGÃO E VOCALISTA DO PARANGA COMO CONHECEU A FAMÍLIA SANTOS?(00’:15” a 00’:54”) Foi uma oportunidade muito legal porque eu tava em Boiçuganga, uma praia, de São Sebastião e tava uma roda musical incrível né? Quando eu ouvi aquele som, fiquei encantada e já me aproximei. E aí sentei na roda, comecei a cantar junto e tal e acabei conhecendo a família toda. As meninas, as irmãs do Negão cantando, outros amigos tocando, tinha viola, cavaquinho, violão. Só músico de primeira. E aí comecei a ter uma amizade com eles, a gente ficou alguns dias lá e nisso engatei um namoro que nunca mais me separei dele, a gente ta há 30 anos juntos. COMO COMEÇOU NO PARANGA?FOI ASSIM QUE ENTROU PRA FAMÍLIA?(00’:58” a 01’:36”) É mais ou menos paralelo. Em 79 então eu conheci a família. Em 80 eles participaram do MPB 80, de um festival. E eu não fui cantar, mas eu participei da gravação do disco, que registrava essa música do festival e mais uma e a partir daí, depois disso, dessa gravação eu comecei a participar dos shows. E ai fui me inteirando e já comecei a fazer shows em todos os lugares, daí já gravei os próximos discos e tal e emplaquei a carreira aí junto. Então, ao mesmo tempo, que a gente se firmou namorando, também a carreira eu fui participando. QUANDO O PARANGA COMEÇA A SER RECONHECIDO?(1’:39” a 2’:37”) 126 Olha, é mais ou menos nessa fase, anos 80, porque apareceu Lira Paulistana né? Que era um centro cultural, de vanguarda em São Paulo e tal. Então eram vários grupos paulistanos e só a gente do interior né? E aí eles gostaram do trabalho, convidaram pra participar e eles tinham uma parceria com a Continental e gravavam discos Lira e Continental e o Paranga fez parte desse projeto. E ai eles faziam vários eventos, não só em SP, a gente chegou a tocar num aniversário de SP, na Paulista, eles fecharam um lado lá e fizeram um show só com os grupos que participavam do Lira. Depois fizeram projetos também no Sul e no Rio, vários lugares e sempre levavam toda a turma que fazia parte desse projeto, e a gente tava junto. Então foi a partir daí que começou né o Chora Viola Canta Coração e aí show pra tudo que era lado e tal, e foi a partir dos anos 80 com o Lira Paulistana. ANTES DE CONHECER A FAMÍLIA, JÁ TINHA OUVIDO A FALAR EM ELPÍDIO? (2’:38” a 03’:29”) Não. Eu conhecia a música. Até uma outra música que não era a casinha Branca que eu conhecia, um música infantil que eu tinha aprendido na minha infância que por coincidência um juiz de direito tem sítio aqui e conhecia um primo meu e ensinou a música e meu primo ensinou pra gente. Então eu já cantava musica dele desde a infância e não sabia. Daí quando eu os conheci eles já contaram a historia do Mazaroppi, da Casinha Branca e aí já fiquei encantada né. E a partir daí é uma obra prima pra gente trabalhar, que foi incrível que tem tanto cantor que não tem musica né, composições próprias e não tem um trabalho pronto. E a gente já tem essa grande bagagem aí, que são essas musicas todas pra gente desenvolver no nosso trabalho, muito legal. QUAL A INFLUENCIA DE ELPÍDIO NO TRABALHO DO PARANGA (03’:31” a 3’:50”) Total né? O Elpídio é a linha mestra do paranga né? A base do nosso trabalho é Elpídio dos Santos, os outros vem composições do Negão, de outros aqui da região, Marquinho Rio Branco, Galvão, mas a linha mestra mesmo é o Elpídio, a bagagem maior é a dele. 127 O PARANGA É UMA FORMA DE MANTER VIVO O NOME DE ELPÍDIO (3’:54” a 4’:41”) Eu acho que é uma tarefa muito importante, porque ele é um compositor que ele não se reduz a uma cidadezinha do interior né? Ele tem uma linha de trabalho que ele faz valsa, fez samba. Ele tem muito estilo né Fox. E muita coisa que a gente com os arranjos do Negão, que ele moderniza, vamos dizer assim, traz pra atualidade, essa musica ela é bem recebida em qualquer idade, em qualquer lugar. E ele é um compositor brasileiro, de musica popular brasileira, que tem que ser reconhecido por todo esse Brasil. Então muita gente conhece ou as musicas do Mozaroppi ou Você vai Gostar, que é a Casinha Branca, mas eu acho que tem muita coisa boa dele que tem que ser divulgada e conhecida. E ele é um compositor que tem que ser reverenciado mesmo. COMO É FAZER PARTE DE UMA FAMÍLIA TÃO IMPORTANTE? (4’:46” a 05’:18”) Maravilhoso. É uma família, assim, muito unida, muito querida né? Eles são apoio total, e essa coisa a ligação da arte né? Então é uma vida muito bacana que a gente tem né. Um lado fraterno, incrível, de poder contar a todo momento e ao mesmo tempo a musicalidade, a parte que a Nena faz, plástica. Então tudo que você vai fazer você tem uma equipe pra trabalhar que todo mundo manja, um pouquinho de cada coisa e isso completa a nossa vida, é um barato. COMO É O TRABALHO DO PARANGA HOJE (5’:20” a 5’:56”) A gente tem feito duas linhas de trabalho. Uma quando é carnaval, quando é um show maior, que a gente usa uma banda maior, mas a gente tem feito mais uma coisa mais acústica que é o João, o Negão e eu, porque ai possibilita que a gente toque em todos os lugares, com mais facilidade pra tudo né? Locomoção, pra armar os shows, pra fazer os arranjos. Então a gente faz uma coisa mais intimista e tem sido essa a nossa bandeira assim, levar a musica do Elpídio, levar a música de São Luiz do Paraitinga em geral pra todo lugar que a gente possa. O PARANGA É QUANTOS POR CENTO ELPÍDIO DOS SANTOS? E O QUE NÃO É DELE É INSPIRADO NELE? (6’:00” a 6’:39”) 128 Ah 90 a 95% Elpídio dos Santos, com certeza. É inspirado nele, porque tem uma parte folclórica, que a gente, de repente, toca uma congada, uma folia de reis, porque isso sempre fez parte do nosso trabalho. Tem a parte de carnaval, esses dias mesmo a gente foi fazer um show que não era pra ser de carnaval, mas as pessoas pedem marchinha, então a gente acaba fazendo. E ai as marchinhas têm alguma coisa dele, mas ai é mais dos compositores mais jovens daqui. Então é uma mescla dessas coisas: folclore, carnaval, Elpídio e outros compositores da cidade. O CARNAVAL COMEÇOU COM A FAMÍLIA SANTOS? (6’:44” a 7’:11”) Exatamente, foi. O carnaval começou com a gente. A gente fazia o bloco do lençol. A gente rodava aqui nessa praça, 10, 15 pessoas com violinha na mão e tal e hoje você vê o bloco do lençol abrindo o carnaval na sexta-feira é uma loucura né? Aquele mundo de gente assim né. Todo mundo cantando e nem sempre as pessoas sabem como surgiu isso, que foi uma coisa tão aqui né, na casa da dona Cinira, os primeiros blocos, tudo nasceu ali. MAS SEMPRE COM A MUSICALIDADE DE ELPÍDIO? (07’:15” a 07’:28”) Exatamente. Porque na hora de optar, que musica vamos fazer no carnaval? Era marchinha porque ele, já fazia as marchinhas, já era uma coisa aqui da cidade, então sempre a base é Elpídio dos Santos, com certeza. MÚSICA PREFERIDA? (7’:31” a 8’:05”) Olha, difícil falar porque tem tantas. Talvez rede de taboa, que é uma musica que fala bem desse mundo interiorano, dessa coisa da natureza, do amor e tal. Eu adoro. “Quando a noite é de garoa numa rede de taboa, balançando rente ao chão, sob a luz d eum candeeiro, um caboclo brasileiro canta a sua inspiração”. POR QUE PARANGA? (8’:06” a 8’:28”) Paranga, apelido carinhoso de São Luiz do Paraitinga. Teve um senhor que fazia Mobral aqui e ele fez uma redação e quando ele assinou ele pois São Luiz do Paranga, e aí uma amiga nossa dava aula pra ele , na época e sugeriu. Ah por 129 que vocês não põem Paranga? Que é um diminutivo de Paraitinga, daí a gente achou sonoro, achou legal e daí ficou Paranga. SONORA NEGÃO – FILHO DE ELPÍDIO COMO ERA ELPÍDIO EM CASA, COMO PAI? (09’:36” a 10’:12”) Eu lembro do meu pai, nem to falando do pai dos meus irmãos. Do meu pai, assim, ele era um cara genial e foi o ponto de referencia pra minha vida, do acordar ao dormir. Aonde ele estava eu estava junto. Eu estava sempre decifrando o que ele estava pensando, pelo menos até, eu falo isso de uma consciência de pouco tempo entendendo como gente, porque minha mãe que conta isso. Quando ele faleceu, eu tinha 10 anos, eu sempre fui assim com ele. ELPIDIO SEMPRE LEVOU A MÚSICA PARA DENTRO DE CASA? (10’:16” a 10’:58”) Ah foi. O pai dele, mestre Alves, era maestro de uma banda que era formada por filhos e sobrinhos. E o meu pai com sete anos, como o vô viu nele o dom musical, com sete anos cada dia o vô ensaiava o Elpídio num instrumento, porque se faltasse alguém da banda Elpídio entrava. Então o pai tocava todos os instrumentos de banda. A minha mãe fala uma coisa interessante que ela nunca viu meu pai tocar violino, mas na casa dele acho que nunca entrou um violino, mas entrou em casa e eu acabei tocando. QUAL A SUA LEMBRANÇA DE ELPÍDIO (11’:10” a 12’:08”) È eu não sei, ele é uma pessoa, realmente. Ele não parecia com gente do planeta Terra, ele tinha uma outra compreensão de mundo. Eu não sei, era bem estranho o negócio, era uma felicidade, uma alegria e Elpídio continua, naquela época ele já causava, calcule hoje. Elpídio causa! E é com essa felicidade. Fazia mágica, aonde ele tava, minha mãe sempre marca isso, aonde ele tava sempre tinha velho, adulto, jovem, principalmente jovem. Que é a minha proposta de, não é bem uma releitura do trabalho dele, mas é uma atualização. Eu pego uma música dele, eu tento levar pro jovem, o jovem que vai levar isso aí mais a frente. Os velhos já conhecem o arranjo dele, já conhece a música. Então eu estou levando pro jovem. 130 SENTE ORGULHO DE SER FILHO DE ELPÍDIO (12’:10” a 12’:42”) Coração. A minha mãe sempre falava isso também. A minha mãe está no meio de tudo. Ela que é a razão.ela é a luz da minha vida, meu pai é inspiração, mas a minha mãe é a luz da minha vida, vó Nira. A gente não pede pra nascer, nem de quem vem, mas eu não trocaria, nem em pensamento, outro pai e, principalmente, outra mãe. COMO SURGIU O PARANGA? (12’:47” a 13’:34”) A minha mãe fala que sempre a história se repete. Como na casa do meu avô, foi montada essa banda. Ele o maestro, com os filhos e sobrinhos, a banda. O Paranga nasceu na casa de Elpídio dos Santos, com quatro filhos dele, mais dois primos, mais dois amigos. Amigo que a gente fala, São Luiz é muito pequeno, então na verdade nós somos parentes, a gente tem uma ligação, queira ou não queira. Então nós começamos em casa, repetindo a história. Na verdade, como a minha mãe fala, é fácil. Se você prestar atenção, da onde nós viemos, vocês levam mais adiante este trabalho, tranqüilos, com o pé nas costas. ESTE TRABALHO FOI UMA FORMA DE HOMENAGEAR ELPÍDIO? (13’:37” a 14’:29”) Também, porque nós começamos pela euforia musical né? A gente tem no sangue, rola música aqui na veia, então a gente tinha que fazer alguma coisa. E no início até a gente tocava Caetano, Gil, Chico. Naquele momento 75, 76. A minha irmã que chegou e falou: Olha gente nós temos um tesouro aqui em casa, que, na verdade, quanto mais a gente repartir mais ele cresce, então acho legal a gente ter essa fatia de Elpídio. Daí a gente, a banda tinha de 10 anos até 16, essa era a moçada que formava o Paranga nessa época, quando caiu a ficha nós agarramos com unhas e dentes. E aqui em casa a gente tinha o ganha pão, vamos dizer assim. COMO COMEÇOU O RECONHECIMENTO DO PARANGA (14’:35” a 16’:33”) Teve um festival em Taubaté, quem era o produtor disso era o Fernando Faro e o Renato Teixeira era jurado neste festival. E a gente se inscreveu, mas não 131 conseguimos passar pra se apresentar. No dia do festival, nós batemos lá na produção e falamos: olha tem um intervalo no meio, deixa a gente fazer, o intervalo da contagem de pontos, deixa a gente fazer um som aí e coisa e tal. Com insistência, eles deixaram, a produção....(repete a pergunta e a resposta) Não sei bem a data, mas teve um festival em Taubaté, quem produziu foi Fernando Faro e Renato Teixeira era um dos jurados. E a gente tinha feito a inscrição, mas não tinha sido aprovado, então nós fomos bater, porque na contagem de ponto tem alguma coisa pra acontecer, senão fica muito silêncio e nós batemos lá na produção pra pedir pra tocar nesse intervalo e eles deixaram. Enquanto a gente estava lá se apresentando chegou o Fifo, era empresário do Renato nessa época, bateu nas costas assim e falou: Olha, o Renato quer falar com vocês. Acabou a apresentação, fomos lá e ele falou: Olha, gente, vamos lá conhecer o meu irmão Roberto de Oliveira, levou a gente pra Bandeirantes discos e dali nasceu já uma parceria. Fomos parar no festival da Globo e foi o primeiro pontapé de um nível, nem sei se é bem isso daí, mas foi o primeiro pontapé, foi a primeira saída real. Foi o segundo pé tirado de São Luiz. O primeiro pé tirado de São Luiz, foi em Paraibuna, foi o nosso primeiro show, guardo isso no coração. Paraibuna, um beijão pra vocês! Repetiu a resposta (17’:10” a 18’:42”) A primeira saída do Paranga, foi em Paraibuna, nós fizemos um show lá que, por sinal, apoio de gente da nossa, de caipira pra caipira, foi maravilhoso. Paraibuna foi um lugar que foi o primeiro passo, quando saímos de São Luiz, mas pra chegar mais em território nacional, vamos dizer assim, foi numa oportunidade em um festival em Taubaté, Fernando Faro era o produtor e Renato Teixeira jurado. Nós nos inscrevemos, mas não fomos aprovados pra se apresentar, mas no dia nós pedimos para a produção, fazer um show no intervalo da contagem de pontos e a gente tocando lá, o empresário Renato, Fifo, bateu nas costas e falou assim: Olha, o Renato está querendo falar com vocês. Então apresentando aí, acabando aí, vai lá falar com ele. Daí o Renato: Pô gente, primeira coisa, o que eu mais gostei do festival foi o Paranga, então vamos fazer o seguinte vamos levar o trabalho em uma gravadora e eu vou levar vocês pra São Paulo, por sinal o Renato é o nosso “Paidrinho” musical. Grande Renato! Meu pai musical é ele mesmo, que veio dando força e foi daí que ele levou a gente pra São Paulo e 132 empurrou a gente na pirambeira. Esse é o Brasil gente, corre atrás! Agradeço a ele de ter feito essa, Deu esse empurrãozinho na gente. Obrigado padrinho! QUAL A INFLUENCIA DE ELPÍDIO DOS SANTOS NA MUSICALIDADE PARANGA? ( 18’:48” a 19’:27”) O meu pai, como ele foi preparado como musico pelo meu avô que era maestro, ensaiando em todos os instrumentos, dominando todos esses instrumentos. Ele passou, pelo menos foi o que eu peguei dele com a música, foi o entendimento não é uma historia como, o meu instrumento, como meu pai, é o violão. Mas quando eu toco, vou fazer um arranjo, eu penso na banda, em todos os instrumentos. Então ele tinha uma visão, ele aprendeu a música com uma visão, assim, talvez uma forma de viver não é uma coisa, assim, teoria, se eu tocar o dó, o mi vai dar essa dupla. Repete a resposta (20’:10” a 20’:50”) Acontece o seguinte, o pai deixou a gente com essa musicalidade toda, para usar aqui em São Luiz, quando a minha mãe pôs o bloco na rua, era a polícia, nem a sociedade aceitava a gente a tocar marchinha, fazer carnaval, porque aqui era o carnaval proibido do rabo e chifre, quem pulasse ia crescer rabo e chifre. Então a minha mãe foi tirando essa ideia da sociedade e colocou a gente como para choque. Então esse barulho que você estão ouvindo, esse alarme, sai aqui, nós sete, fantasiados, tocando pela rua e a polícia atrás da gente. Prendeee! Repetindo (21’:06” a 22’:49”) Total. pela musicalidade que o pai...pela obra que o pai deixou, por volta de mil músicas, não tinha jeito do Paranga escapar disso, já era um caminho traçado eu acho que faltavam umas plaquinhas, que eu acho que foi o serviço que o Paranga veio fazer. Olha curva perigosa tal. A gente veio fazendo essa, primeiro de fomentar a obra dele e segundo, hoje é de realmente levar o jovem para, porque é uma história você pega na obra dele, ele conta as passagens, da história do país. A gente fala em país, mas país- estado, estado-municipio, então a origem? São Luiz do Paraintinga. E com a qualidade que ele tinha, não tinha jeito mesmo, a gente tocava outros gêneros de música, compositores, até como tinha dito Chico, Caetano, Gil, nós ficamos, com o passar do tempo entendendo a obra do pai, o sucesso era mais ele do que esses caras. A gente tem uma autonomia, quem fez foi meu pai, quem toca somos nós, quem pôs fogo nisso foi 133 minha mãe, o arranjo é nosso mesmo, quem canta é minha irmã, ou meu primo, a minha esposa. Então isso aí é o resultado da influencia que o pai deixou. A gente fechou com ele porque, pra variar, Elpídio causa! Não tinha jeito da gente sair dessa historia. LEVAR O PARANGA PARA OUTRAS CIDADES, OUTROS ESTADOS, É UMA FORMA DE MANTER VIVO O NOME DE ELPÍDIO? (22’:57” a 23’:56”) É isso aí foi em uma época, na verdade hoje a gente está precisando voltar a tocar em São Luiz, não que está precisando, São Luiz não precisa de Paranga. São Luiz é uma história, Paranga é outra história, Elpídio é outra história., que junto disso, nós somos fortes, porque nós somos unidos aqui, mas a ideia é sempre levar Elpídio pro resto do Brasil. Elpídio, na verdade, Elpído já está lá é ele que, como ele que fez esse caminho, a gente tem que trilhar esse caminho. E é difícil a gente pensar em um artista, como é que um artista pode ser artista em uma cidade de 5 mil habitantes? Como é que ele vai viver artisticamente? Ele vai acabar tendo que fazer outro trabalho, coisa e tal. Eu vivo de música, o Brasil é enorme. E Elpídio causa! E não tem como, eu vou falar em São Luiz, não tem como, isso daqui é o ponto de partida mesmo. COMO É O TRABALHO DO PARANGA HOJE (23’:58” a 25’:23”) Hum. Essa pergunta está meio difícil. É que o Paranga, na verdade é um apelido carinho de Paraitinga, é uma marca né. A gente trata muito carinhosamente o nome Paranga e coisa tal, mas é uma marca, é uma banda, é um grupo e não é que faz cultura, a gente faz um produto. Produto. Dentro do produto, tem arte, tem cultura sim, mas é produto, senão a gente não é reconhecido se a gente não falar em termos de empresa, porque está tudo muito lindo, você vê São Luiz como é lindo maravilhoso, mas quanto que um restaurante pode pagar para um músico tocar aqui? É complicado. Artista tem que correr o mundo e vai contar a sua história. Precisa correr atrás desse Brasil e graças a Deus nós temos esse Brasil enorme, que até eu sempre falo em entrevista o seguinte: Graças a Deus esse país é caipira porque nós temos terra. Japão é mínimo, planta alface em gaveta, rural é, mas caipora não tem jeito de ser, não tem essa expansão que nós temos. Caipira, graças a Deus! 134 MÚSICA PREFERIDA (25’:30” a 27’:27”) É o momento que eu estou vivendo agora, seria mais ou menos o estilo de vida isso aqui: “Caboclo da roça, que vive cantando. Caboclo da roça, que vive cantando. Na sua viola de pino e de pau de colher. O que lhe consola é seu filho e a sua mulher. O seu passadim é feijão com farinha e angu de fubá. Vez em quando ele come um franguinho cozido pra diferenciar. Cigarro de palha de fumo, marca ele tem pra pitar. Eh...eh..eh...e o caboclo é feliz quando bem escurece e começa a cantar. E o caboclo é feliz quando bem escurece e começa a cantar. E o caboclo é feliz. È isso aí o caboclo é feliz e Elpídio causa! SONORA DONA DIDI – BENEDITA ANTUNES DE ANDRADE (AMIGA DE ELPÍDIO, CANTOU NO CORAL UIRAPURU DO VALE) NASCIDA EM SÃO LUIZ, 16 DE MARÇO 1929 – 80 ANOS CONHECEU BASTANTE ELPÍDIO DOS SANTOS (00’:35”a 00’:50” a – time code quebrou) Conheci bastante. Tanto na casa dele, como ele na minha casa. COMO CONHECEU ELPÍDIO ( 00’:56” a 01’:55”) Olha, o primeiro contato que eu tive com Elpídio, foi no meu tempo de escola que precisei de um desenho, na minha prova semestral. Eu tinha que fazer o desenhinho da prova e podia preparar em casa e eu não sabia nada né, eu queria mostrar serviço lá pra professora, daí eu fui atrás dele, eu tinha 9 anos. E ele fez o desenho, eu levei e fiz a prova. Porque a minha mãe recomendou, olha ele será capaz de fazer esse desenho, a minha mãe recomendou. ELA JÁ ERA CONHECIDO, POR FAZER DESENHOS? (1’:57” a 2’:38”) Ele era músico, músico da banda e a família dele morava na mesma rua que eu. Foi o primeiro contato que eu tive com ele. Depois que eu fiquei na mocidade eu fiz parte do coral que ele fundou: Coral o Uirapuru do Vale, ele fez vários cenários pros meus teatros, eu já comecei a fazer teatro, em 41 eu já fiz o primeiro teatro infantil e ali ele me acompanhava também. 135 COMO SURGIU A AMIZADE? (2’:47” a 03’:05”) Amizade? Então tinha amizade porque, como eu falei pra você ele freqüentava a minha casa. Quando era aniversário da minha mãe, do meu pai, o meu aniversário, ele juntava os filhos dele e ia cantar pra gente lá em casa. Começa tudo de novo COMO CONHECEU ELPÍDIO DOS SANTOS? (03’:37” a 04’:47”) Na minha infância , no meu tempo de escola, eu precisei procurar Elpídio para ele fazer uma pintura, na minha prova, papel da prova. E ele fez com muita boa vontade e também a gente tinha amizade de família. Nos aniversários da minha casa, mamãe, papai, meu aniversário, ele ia lá com os filhos dele. Ai ele já estava mais ligado à arte. Participei do coral que ele fundou, nas pinturas dos cenários, que eu comecei a fazer teatro, ele pintava os cenários pra mim. Ajudava bastante, tinha hora que ele era calmo, tinha hora que ele era meio bravo. Tinha que ficar ali, junto com ele, senão ele não fazia o trabalho. Se você quer o serviço, fica ai, tinha que ficar. COMO ERA O ELPÍDIO COMO PESSOA? ( 04’:55” a 05’:35”) Assim, o perfil? Físico dele? Ah ele era simpaticíssimo, se vestia muito bem. Naquele tempo era terno, gravata, portanto o meu pai também se vestia assim. Não tirava o terno e nem a gravata. Ele era uma pessoa muito simpática, muito respeitada, tocava na banda e muita coisa né. Participava da cidade. COMO SURGIU O CORAL (05’:52” a 06’:33”) Porque a gente representava nas visitas da prefeitura. Quando tinha alguma visita o prefeito pedia que o coral se apresentasse. Então a gente, sobre a orientação dele, a gente ia nas apresentações né. Nas festas aqui também e quase toda semana tinha ensaio e a gente atendia os pedidos pra Taubaté, fomos em São Paulo. Sob a orientação dele. COMO SURGIU A IDEIA DO CORAL? (06’:37” a 07’33”) Ah surgiu dele, com os amigos dele e ele escolheu as vozes. Não me lembro que data que foi. Cantamos um bom tempo. Isso ele convidou e a gente formou o 136 coral. Exatamente a data eu não sei. Eu tenho a capa que ele fez para o coral, mas ele não marcou data ali não. Eu até fiquei um dia de passar essa capa pra eles aí. COMO FOI NO INÍCIO DO CORAL? ( 07’:40” a 08’:07) Primeiro os ensaios né. Os ensaios ele fazia na casa dele e a gente viajava quando pediam né. Não me lembro exatamente. Que eu tinha outros corais folclóricos, que o Sr Monteiro ajudava ele tudo. Então a data eu não me lembro. ONDE ACONTECIAM OS ENSAIOS? (08’:15” a 08’:27”) Na casa dele, às vezes no Salão da Igreja. As vezes ensaiava no salão da igreja. QUANTAS PESSOAS PARTICIPAVAM DO CORAL? (08’:28” a 09’:01”) Era de homens e de mulheres. Acho que tinha bem umas 30 pessoas. Tinha primeira e segunda voz, terceira voz. Eu me lembro que eu fazia a segunda voz. E as músicas eram quase todas dele., da autoria dele. A gente sabe até hoje. COMO ELPÍDIO ERA A FRENTE DO CORAL? ( 09’:09” a 09’:27”) As pessoas atendiam o pedido dele. Não faltavam no ensaio, porque senão perdia ponto lá com ele. Todos atendiam pontualmente. TEM ALGUM MOMENTO MARCANTE NO CORAL ( 09’:32” a 09’:56”) Ah foi tudo marcante, porque a disciplina né. Tinha disciplina e de vez em quando ele fazia lá umas brincadeiras, mágica, ele gostava muito dessas coisas. Todos gostavam da freqüência desse coral. ELE TE ENSINOU A COMPOR TAMBÉM? ( 10’:07” a 11’:04”) Que eu componho? Ah mas as minhas musicas eu fiz o hino da cidade e o hino da bandeira né. Mas ele já não estava mais aqui.ele já tinha falecido. Não, não ensinou, eu fiz, eu compus a minha autoria. Não foi ele que me ensinou a compor. Eu aprendi a cantar as músicas folclóricas do coral dele, mas o meu hino, exclusivamente meu. Eu aprendi música no Fêgo. Leide Áurea foi minha professora de música. E obedecendo o edital da prefeitura eu compus o hino da cidade e hino da bandeira. 137 QUANTO TEMPO DUROU O CORAL (11’:09” a 11’:15”) Ah, até pouco antes da morte dele a gente ainda cantava, mas eu não sei exatamente o ano. TODAS AS MÚSICAS DO CORAL ERAM DO ELPÍDIO DOS SANTOS? (11’:22” a 11’:35”) Todas eram do Elpídio dos Santos, duas às vezes eram do Sr Monteiro, amigo do Elpído, ele compunha junto com Elpídio. MÚSICA QUE MAIS GOSTA (11’:52” a 12’:10”) Todas. Gosto de todas. Não tem uma melhor que a outra. Todas é gostoso de cantar. Então não tenho nenhuma repulsa não. Gosto de todas. CANTANDO (12’:14” a 13’:29”) Eu gosto de tantas, de todas. Difícil falar qual é a mais bonita né. Ah tem uma que a gente canta sempre que é convidando o pessoal a vir a São Luiz. Você gosta de São Luiz, então vai lá. Elpídio dos Santos. A nossa terra fica lá na cordilheira,100% brasileira, lugar bom de se viver. É tão bonita, é tão simples, sem vaidade é tão cheia de amizade, esperando por você. Se quiser conhecer, vai lá. Vai cantar pra você vê, vai lá. Tanta coisa bonita ela tem, ela dá. Vai lá, se quiser conhecer, vai lá. Vai lá só pra você ver. Vai lá, quanta coisa bonita ela tem ela dá, vai lá. IMPORTANCIA DE ELPÍDIO NA SUA VIDA (13’:42” a 15’:30”) Olha, difícil essa pergunta viu? É eu já descrevi pra você a pessoa dele, a pessoa artística, a pessoa pai, a pessoa amiga. Então muitas características, muita coisa ficou dele em mim. Muita amizade, muita lembrança. Eu cheguei a fazer um acróstico pra ele. Não tenho aqui tudo pra dar pra você. Mas é difícil falar, qual a mais importante. Muito importante na minha vida. Foi importante e me lembro de uma passagem, que eu posei na casa dele em São Paulo e eu fiquei em um berço das crianças dele. E a noite, madrugada eu acho, ele chegou do serviço lá e foi lá e pensou que eu era umas dos filhos né. Então ele descobriu e me deu um beijo e eu fiquei muito assustada, então a gente sempre falava nessa 138 brincadeira, uma brincadeira não, desse acontecimento. Muita coisa. Carinhoso né, ele foi beijar todos os filhos e eu estava também lá, e eu ganhei um beijo dele. ENTREVISTA: Olga Pires Fontes (Dona Olguinha) Como Conheceu Elpídio? 0h01m03s: Nas festinhas do grupo escolar. Eu aluna, ele já era um mocinho, trabalhava no banco. E a tarde, depois que fechava o banco ele ia com o irmão dele, o Pedro, para ensinar as músicas de fim de ano e de festas de formatura. Ele sempre estava presente ensinando pra gente as músicas. Como éramos todas alunas, ficávamos todas perto para aprender. 0h01m32s. 0h01m34s: Naquele tempo não tinha microfone, não tinha gravador, não tinha nada. Era tudo no violão e no gogó mesmo. Não tinha nada de especial. Ele era nosso professor na escola, por volta de 1937, 38, por ai. Depois ele casou, foi embora para São Paulo. Eu sempre amiga da Cinira. A Cinira também era aluna da escola. Depois teve uns tempos que ela passou em São Paulo com a madrinha. Quando ela voltou, ela começou namorar Elpídio. Daí logo saiu o casamento. Ele formou o coral, nós fomos para o coral dele, até ele morrer, até ele não poder mais. 0h02m25s. Como era o Elpídio professor? 0h02m29s: Excelente! Maravilhoso. Muito bom. (Choro) E como pessoa? (...) Maravilhosa também. Não sei nem como falar. Não sei como me expressar. Uma ótima pessoa. Muito bom! 0h02m47s. Como foi o inicio do coral? Como ele se formou? 139 0h02m54s: Ele chegou uma tarde lá em casa e bateu na porta, vim atender: Você vai indo pra escola? E eu falei não! Não vou para escola pois ainda é cedo. Podemos conversar um pouco? Pois não! Eu convidei o compadre Afonso e a Cida do tio. Ele citou uma porção de nomes e de gente que também já cantava na igreja. Agente canta no coro paroquial até agora. Ele disse: Estou querendo formar um coral e vim aqui convidá-la. Eu falei: Pois não! Se desse tudo certinho. 0h03m27s. Daí ele começo os ensaios no quarto da banda. Foi lá que começou o ensaio. Ele ia lá no quarto da banda, reuniu uns homens também, inclusive músicos. E formou esse coral, que por sinal foi muito aplaudido, muito bonito e que deixou muita saudade. 0h03m45s. Como era o dia-a-dia? Os ensaios? 0h03m49s: Eu trabalhava. O Afonso trabalhava comigo. Então, sempre os ensaios eram de tardezinha. Entre o intervalo de um período de escola para outra. Eu saia às quatro e voltava às sete. O Afonso também, então nesse período agente ensaiava no quarto da banda. Quando não tinha aula, ou qualquer coisa não tinha aula, nos sábados e domingos, a gente ensaiava no quarto da banda na parte da noite. 0h04m14s. Quanto tempo durou o Uirapuru do Vale? 0h04m15s. Ai não sei como dizer! Mas durou uns dois anos, ou mais de dois anos. Durou bastante tempo. Depois ele passou a ser professor lá no ginásio e ficou meio difícil. Ele dava aula a noite, até onze horas da noite. Daí ficou um pouco difícil, assim mesmo ele levou, até quando ele pôde, ele foi levando o coral. 0h04m39s. O Elpídio ensinou muita coisa pra senhora? 0h04m42s: Ele ensinou muita coisa. Ele sabia muita coisa. Porque ele não era só do violão. Ele tocava na banda, bumbo ardido. Daqui a pouco, o Elpídio tava tocando trombone. Daqui a pouco ele tava tocando aquele grande, o baixo. Daqui a pouco ele tava no violão. Daqui a pouco no cavaquinho. Cada hora ele tocava 140 um instrumento. Ele tocava muitos instrumentos, tanto de corda como de sopro. 0h05m10s. Ele ensinou a senhora a compor? 0h05m11s: É. Ele dava umas dicas quando eu fazia minhas musiquinhas, minhas letrinhas lá na escola. Quantas vezes ele não trocou: Não fica melhora assim? Deslocando as sílabas. Há fica! Então, vamos cantar assim. Sempre ele tava me ensinando. Uma vez ele disse pra mim: Nunca você faça versos que esses cantores novos fazem de pé quebrado. Quer dizer, sem rima. Pode fazer, pois na música pode tudo, mas não é bonito. Eu gosto e gostaria que você fizesse tudo rimando. Tanto que a Didi quando faz as composições dela também faz tudo rimando. 0h05m55s. No dia do Sepultamento de Elpídio vocês fizeram uma homenagem a ele? 0h06m00s: Nós fizemos uma homenagem para ele. Fizemos uma porção de homenagens. Fizemos no enterro. A Didi fez uma letra em cima de uma das músicas dele e a gente foi atrás do caixão cantando. E não foi só essa, cantou a Dor da Saudade, cantou A Nossa Terra. Durante o trajeto do enterro a Banda parava de tocar e agente cantava. E assim foi até chegar no Rosário, no cemitério. Lá o padre falou, um da banda falou também, até que o corpo desceu na cova. 0h06m37s. Depois fizemos outras homenagens. Quando foi para inaugurar a rua dele perto da casa do Afonso, o coral foi lá pra cantar. Daí o Afonso até que regeu. Regeu não! Reger era só o Elpídio. No violão, a cabeça dando a coisa pra gente. Mas saiu muito bem. Depois teve outro na Praça, que veio um pessoal de fora fazer. Até deu um livro. Lançou um livro dele. E muitas homenagens. Sempre estão fazendo homenagens para Elpídio. 0h07m13s. O enterro dele foi como ele gostaria? 0h07m16s: Eu acho que sim. Porque ele gostava muito de coisa alegre. Não gostava de tristeza. E nós fomos cantando as músicas dele. Acho que ele gostou sim. Porque ele é ótimo, maravilhoso, mas ele era bravo que qualquer coisinha 141 ele já vinha pra cima mesmo. Muito bom, ele era ali. Ninguém podia distrair na aula dele, ninguém podia dizer um “A”. Ele tava ensinando tinha que ficar com atenção, com o olho no violão dele e escutando o que ele estava cantando. Ele cantava uma vez, e na segunda vez já queria que agente cantasse. Mas a gente não aprendeu ainda! Não, vamos cantando errado que daí vai aprendendo e eu vou ensinando. Assim ele fazia pra gente. Muito amigo! Demais amigo. 0h08m02s: Hoje Elpídio dos Santos ainda está vivo em São Luiz? 0h08m07s: Sim! Eu acho que na memória de todo Luizenses (choro). Ele está na memória de todos os Luizenses. Eu acho que ele vive ainda. É como disse a Didi. A Didi disse na letra dela: Para nós Elpídio, o senhor não morreu! 0h08m32s: (PASSOU UM CAMINHÃO NA HORA. A ENTRVISTA FOI INTERROMPIDA). 0h08m47s: Sim! Na mente e no coração. Ele vive, porque sempre se ouve tocar as músicas, escutar as músicas. Cantores cantando as músicas dele. Nós quantas vezes nos reunimos em aniversários, homenagem pro Padre, sempre a gente tá tocando só as músicas dele. Sempre falando o nome dele, sempre ele sendo lembrado. E...ele é imortal. Para nós ele é! Imortal! Para nós ele é! 0h09m20s. Tem uma rua aqui com o nome dele. Como foi feita essa homenagem? 0h09m25s: Parece que uns amigos. O Afonso, que era muito amigo e compadre dele, foi falar lá na Prefeitura. O prefeito muito bom conseguiu e foi feito uma placa em uma rua nova, onde mora o Afonso até agora. Então essa rua não tinha nome. Então o Afonso foi pedir na Prefeitura e também teve um abaixo assinado dos luizenses pedindo também. Agora que o cabeça foi Afonso, foi! Daí a Prefeitura autorizou, mandou fazer a placa e nós fomos lá, o coral foi lá cantar. Nós cantamos lá, inaugurou a placa e ficou o nome dele. Bem merecido. Ele merece! 0h10m04s. 142 Qual a música dele que a senhora mais gosta? 0h10m07s: Eu gosto de todas, mas a que ficou foi a mesma que o Afonso falou e que eu já tinha falado antes “A dor da Saudade”. 0h10m17s: Pode cantar um pouco? 0h10m22s: A dor da saudade. Quem é que não tem? Olhando o passado, quem é que não sente saudade de alguém. Só né?! 0h10m38s. SONORA AFONSO PINTO FIGUEIRA (AMIGO DE ELPÍDIO, CANTOU NO CORAL) VOCÊ FAZIA MÚSICAS COM ELPÍDIO?(15’:47” a 16’:10) Eu dava o tema, ele desenvolvia aí depois a gente musicava, nós dois fazíamos a música juntos. Eu dava o tema. Eu sempre falava, eu tinha uma coisinha na cabeça e trata disso, disso e disso. Aí eu dava o tópico pra ele, ele desenvolvia e depois nós musicávamos. TEM ALGUMA MÚSICA SUA NOS FILMES DE MAZAROPPI (16’:12” a 16’:55”) Não, nos últimos filmes que ele fez pro Mazaroppi, ele escrevia as músicas, as letras, eu gravava para que o Mazaroppi levasse. E levava lá em São Paulo para o Lani Afeta, parece, se eu não me engano era o arranjador dele que fazia a orquestração lá em São Paulo. Mas eu gravava aqui pra ele as músicas e procurava até, imitar um pouco o Mazaroppi. É porque eu tive a felicidade de trabalhar com ele, o Mazaroppi, então eu conhecia um pouco das manhas dele através da televisão, do cinema e eu gravava as músicas. O Elpídio fazia e eu gravava. COMO CONHECEU ELPÍDIO DOS SANTOS? (17’:07” a 18’:02”) Bom, eu já residia na cidade, ele, bom lógico, ele foi nascido e criado em São Luiz do Paraitinga, trabalhava aqui em São Luiz do Paraitinga, foi músico, bancário e depois foi embora para São Paulo. Não conhecia ele ainda, não 143 conhecia. Aí eu, morava na roça, na fazenda, vim para a cidade, morar na cidade, nos meus 20 anos. E aí ele se aposentou em São Paulo, se formou lá, provavelmente em São Paulo eu não perguntei isso pra ele. Ele era professor e ele veio pra São Luiz, foi dar aula num colégio onde eu trabalhava, que eu era funcionário público, do estado e ele veio trabalhar, dar aula e nós nos conhecemos. Morava quase em frente a casa dele, aqui perto dessa igrejinha, que nós estamos nela, era o sobrado do meu pai, eu morava ali e ele morava aqui em frente quase, numa casinha aqui mesmo perto de onde ele mora. Aí nós acabamos, através da música, se conhecendo. COMO ERA ELPÍDIO, COMO PESSOA? (18’:06” a 18’:41”) Olha, ele tinha tudo que era de bom em um ser humano. Carinhoso, humilde, era famosos e simples e humilde. A principal personalidade da pessoa é a humildade, que a pessoa e uma pessoa boa, é uma pessoa humilde. E ele tinha tudo isso aí, humildade, bom, amigo, bom de conversa. E em primeiro plano, excelente músico né. Conhecidos por todos em São Luiz do Paraitinga, todo mundo conhecia Elpídio dos Santos, conhecia não, conhece até hoje né. COMO FOI A CONVIVENCIA NO CORAL? (18’:48” a Ah foi maravilhoso porque... Repete as perguntas COMO CONHECEU ELPÍDIO DOS SANTOS?(19’:01” a Bom, depois, lógico, ele foi nascido e criado em São Luiz do Paraitinga. Só que ele era bem mais velho do que eu, e eu fui criado na roça, na fazenda e ele na cidade né. Ele foi bancário em São Luiz do Paraitinga, foi músico, participou da banda musical e compositor. Depois foi embora para São Paulo, trabalhava no banco em São Paulo e lá ele viveu uma vida grande em São Paulo. Depois ele voltou. Depois que ele voltou de São Paulo, aposentado, como bancário. (19‟40tem um corte -acabou a bateria) 19:10”, volta até 19’:50”- Só que ele era bem mais velho do que eu e eu fui criado na roça, na fazenda, e ele na cidade né. Ele foi bancário em São Luiz do Paraitinga, foi músico, participou da banda musical e compositor e tudo. Depois 144 foi pra São Paulo, trabalhou num banco em São Paulo e lá ele viveu uma vida grande em São Paulo. Depois ele voltou. Depois que ele voltou de São Paulo, aposentado como bancário e veio, era professor de música também, foi dar aula na escola onde eu trabalhava lá a gente se conheceu. COMO ELE ERA COMO PESSOA? (19’:55” a 20’:09”) Ele era uma pessoa muito boa, muito simples, humilde, inteligente, carinhoso, agradável. Tudo que um ser humano pode ter de bom, tinha ele. VOCÊS DOIS ERAM AMIGOS? (20’:09” a 20’:21”) Demais, tanto amigo que a gente era que eu levei ele para meu compadre, minha última filha foi ele que batizou, que hoje está com 42 anos, minha filha. COMO FOI A CONVIVÊNCIA COM ELPÍDIO NO CORAL? (20’:27” a 20’:58” Ele que criou o coral, ele era o compositor, ele que regia o coral e nós cantávamos, tínhamos uma equipe muito boa de músicos, com várias vozes, ele determinava as vozes. Primeiro um dueto de terças, e nós tínhamos um coral muito bom por sinal. Umas pessoas, umas cantoras do coro da igreja e eu também cantava no coro da igreja e nós tínhamos bastante conhecimento musical e era um coral, por sinal, muito bom realmente. ELPÍDIO ERA MUITO CRIATIVO? ( 21’:01” 21’:34”) Também. Ele criava o tipo de música que ele gostava e dava aula aqui em São Luiz e em Taubaté né. Ai ele vinha de Taubaté, chegava a noite e chamava: Compadre, chega aqui, eu fiz uma musiquinha assim, o que você acha? É boa, então vou por ela no coral. Escrevia a música, daí já lançava ela no coral. São várias que ele fazia no ônibus, fazia as músicas, inclusive as pintas musicais, a letra e cantava pra mim ver se estava boa. Nós tínhamos uma amizade assim: ta boa demais! Tá boa compadre, pode bater firme que não tem erro e assim tocávamos o coralzinho. COMO ERA O PROCESSO DE COMPOSIÇÃO DE ELPÍDIO ( 21’:39” na 22’:11”) Olha ele não tinha lugar, pra escrever não tinha lugar. Nós estávamos as vezes, ele também freqüentava o bar comigo, não era de beber, mas ele freqüentava o 145 bar comigo e no bar ele começava um pedacinho. No ônibus, que viajava todo dia, todos os dias que dava aula em Taubaté também. Escrevia mais um pedacinho e ia ajuntando as palavras e montava a música. Depois ele mostrava e concluía a coisa lá e punha pra cantar. São bastante musicas que ele tinha. COMO FOI A HISTORIA COM MAZAROPPI? ( 22’:16” a 24’:17”) Olha, o Mazaroppi, não no começo, quando ele começou ele, primeiro ele foi contratado como músico né, como artista do cinema. Depois ele adquiriu a própria companhia, que era Vera Cruz, com todo o maquinário da vera Cruz, tudo. Aí sim, o compadre começou a compor pra ele, ai foi o conhecimento que ele teve com o Mazaroppi, compondo e todas as músicas, até tem uma história engraçadinha. Compadre Elpídio compunha nos filmes de Mazaroppi e em um dos filmes que fui participar com o Mazaroppi, que foram 3 dos quais eu participei. Musicalmente falando Elpídio estava brigado com Mazaroppi, aí o Mazaroppi me chamou num cantinho, no escritório dele e falou: Afonso eu estou sem música para cantar. Ai comecei a sugerir uma série de músicas pra ele né. Aí chegou uma música ele disse: essa aí ta boa pra mim. Falei então o senhor pode gravar. Você sabe quem é o autor? Aí eu falei eu não sei quem é o autor. Ele cantou a música e a música era do Elpídio dos Santos, com um parceiro, um outro amigo de São Paulo. E era do Elpídio mesmo e ele estava brigado com Elpídio dos Santos e eu cantava uma série de músicas que até quem tinha gravado a música era Cascatinha e Inhana. Daí eu cantei a música e ele falou: nossa essa daqui dá pra eu cantar. Daí eu falei, então vamos aproveitar, cante. Ai ele falou quem gravou. Aí eu falei: Casctinha e Inhana, daí ele falou: então vou cantar essa música. Cantou e no fim descobriu que era do Elpídio dos Santos. Quer dizer, brigado, não era brigado com Mazaroppi, brigado musicalmente falando. Devia ser algum atrito que eles tiveram provavelmente, não sei porque o lance foi dos dois. Aí no fim ele acabou cantando a música do Elpídio dos Santos mesmo, que o Cascatinha e Inhana tinha gravado. Pois é, essa foi uma história interessantíssima, eu achei até fantástica. Eu estava na fazenda do Mazaroppi e aconteceu isso. COMO ERA A AMIZADE COM MAZAROPPI? (24’:24” a 24’:56”) 146 Não, acredito que os dois tinham um relacionamento mais musicalmente. Quando o Mazaroppi precisava do Elpídio ele vinha aqui procurar, ou telefonava, tinha um secretário dele que era o Carlos Garcias e o Carlos vinha telefonar pro Elpídio dos Santos, conversava aqui em São Luiz e o Elpídio fazia a música. Dava, mais ou menos o tema do filme, e falava o jeito que ele queria a música e o Elpídio fazia. Então eles não viviam assim um relacionamento pessoal mesmo, mais era musicalmente falando. QUAL ERA A MÚSICA QUE MAZAROPPI GRAVOU ESTANDO BRIGADO COM ELPÍDIO? (25’:05” a 25’:08”) Deixa eu ver se eu lembro. Depois se eu lembrar eu falo pra você. COMO FORAM OS ÚLTIMOS MOMENTOS DE VIDA DE ELPÍDIO? ( 25’:18” a 26’:00”) Olha, nós trabalhávamos eu, era na escola e ele teve um problema sério. No outro dia não pôde trabalhar, que ele tinha aula no dia seguinte, e nós trabalhávamos a e ele dava aula a noite nós trabalhávamos a noite, eu, ela. Ela trabalhava comigo. Aí ele ficou doente e mandou me chamar. Eu e um outro inspetor de aluno, que trabalhava junto também levamos ele, pegamos um carro e levamos ele pra Taubaté, aqui encostado no meu braço, segurando ele. Chegamos lá, internamos ele em Taubaté e viemos embora. No outro dia veio a notícia que ele tinha morrido. Levei ele lá em Taubaté. QUAL FOI A ÚLTIMA CONVERSA QUE VOCÊ TEVE COM ELPÍDIO? (26’:04” a 26’:21”) É difícil lembrar. As nossas conversas eram mais a respeito de música mesmo, mas no momento isso faz bastante tempo, isso foi em 1969, se eu não me engano. De 69 pra 70, por ai? Né Paulão. Não lembro, infelizmente. O QUE O SENHOR SENTIU COM A MORTE DELE? (26’:22” a 26’:51”) É uma das maiores perdas da vida da gente é perder um amigo né.amigos se tem poucos. Se tem bastante amizade, de conhecimento das pessoas, eu conheço a população inteirinha de São Luiz praticamente, mas amigos eram bem 147 pouco, e são bem poucos, até hoje. Ele era um dos amigos que eu tinha. Além de compadre também. Eu sinto, sinto até hoje, infelizmente eu sinto. COMO ERA O PROCESSO DE CRIAÇÃO DE MÚSICA FEITO POR VOCÊS DOIS? ( 26’:56” a 27’:30”) É como eu já falei, eu apresentava o tema e ele tinha mais facilidade de desenvolver o tema. E eu apresentava o tema e dava os tópicos, as palavras essenciais da coisa e ele montava as rimas e depois ele gostava que eu musicasse as letras, colocasse música, e nós fazíamos mais ou menos em conjunto. o que estava errado Ele corrigia e vice-versa, assim em conjunto, coisinha bonitinha viu. COM QUAIS ARTISTAS VOCÊS FIZERAM PARCERIA? (27’:35” a 28’:10”) Não, ele fez. Em São Paulo ele fez com muitas pessoas importantes em São Paulo, que não é bem do meu conhecimento as parcerias que ele tinha lá. E aqui, praticamente, a parceria maior que ele tinha era comigo mesmo. Que nós dois tivemos uma convivência muito íntima mesmo. Eu não saia da casa dele, chegava uns amigos dele de São Paulo, meia noite uma hora da manhã, ele me chamava aqui no sobradinho, aqui do lado. Me chamava e eu vinha. Sempre gostava da brincadeira, então ia mesmo, virava a noite com os amigos dele de São Paulo. O QUE FICOU DE ELPÍDIO HOJE AQUI? (28’:16” a 28’:55”) Olha, ficou, em primeiro lugar, a saudade. Em segundo, a lembranças das músicas, das músicas que hoje cantam em qualquer lugar, na rádio, quantas pessoas gravaram a música dele. Essa última música dele que tem duas versões né. Que é casinha branca e qual é o outro nome Paulo? Você vai gostar, é a música que é mais tocada atualmente, na rádio até hoje. Você vai gostar ou Casinha Branca né. Fiz uma cainha branca lá no pé da serra pra nós dois morar. Então essa música que ele canta, várias duplas gravaram (Namel entra na frente) O QUE O SENHOR ACHOU DA CRIAÇÃO DO PARANGA (29’:02” a 29’:46”) 148 Ah foi uma boa iniciativa para dar continuidade as músicas de Elpídio dos Santos né. Foi importantíssimo a criação do Paranga porque deram continuidade as músicas que Elpídio dos Santos tinha feito ultimamente né. Então eles regravaram ao estilo do grupo Paranga, deram um andamento diferente, as vezes mais lento, as vezes movimento mais rápido no andamento dos compassos, mas foi importante para a divulgação né. Foi muito melhor para poder divulgar cada vez mais as músicas de Elpídio dos Santos. QUAIS MÚSICAS O SENHOR E ELPÍDIO FIZERAM JUNTOS? ( 29’:50” a Tem. Uma é essa aqui que nós fizemos juntos né. Meu amor me abandonou. Meu amor me abandonou e eu fiquei na solidão. Saudade fez morada no meu pobre coração. Quantas lágrimas sentidas, o meu rosto recebeu. E o pranto que rolava meu lencinho umedeceu. Ai ai, e o pranto que rolava, meu lencinho umedeceu. Essa já é uma música, uma das músicas. (quantas compuseram ele não lembra). SE ELPIDIO ESTIVESSE AQUI O ELE ACHARIA DE TUDO ISSO?(31’:04” a 31’:40”) No lugar que ele estiver, no espaço que ele ocupou no nosso universo aí ele deve está muito feliz, porque nunca ouvi ninguém falar mal do Elpídio dos Santos, até hoje na minha vida, aqui em Sã Luiz do Paraitinga, sempre falou bem. Ele era um homem imparcial,ele era apolítico,ele não tinha facção política, ele se envolvia com todas as pessoas. E a finalidade dele era música. Ele vivia pros filhos, adorava os filhos que ele tinha, e vivia para as músicas e pros filhos e pra esposa. COMO ERA A RELAÇÃO DELE COM A DONA CINIRA (31’:43” a 32’:20”) Melhor era impossível, acredito eu. Porque eu convivo até hoje com a comadre e nunca vi uma discussão dos dois. Ele tinha um pouco de dificuldade auditiva, porque ele teve um problema de meningite, antes dele morrer ele já teve. Então ele tinha uma dificuldade de audição, mas eu nunca vi uma discussão. Eu vivia no meio da família, vivia junto com eles, eu nunca vi eles discutirem nem nada. Uma vida muito feliz os dois tinham. 149 QUAL A MÚSICA PREFERIDA? ( 32’:22” a 33’:44”) Do Elpídio dos Santos? A dor da Saudade. A dor da saudade, quem é que não tem? Olhando o passado quem é que não sente saudades de alguém? Da pequena casinha, da luz do luar, do vento manhoso, soprando pro mar. A dor da saudade, quem é que na tem? Olhando o passado quem é que não sente saudades de alguém? É mais ou menos isso. ENTREVISTA: Maria Regina dos Santos Como era Elpídio como pai? 0h16m46s: Bem, ele era um pai muito amoroso. Ele se dedicava muito a família. Tinha a família com um valor muito grande. E tinha o maior carinho pela mãe, pelos irmãos, pelos sobrinhos, pelos filhos e pela mulher. Gostava que a gente fosse com ele nos lugares. Ele era realmente muito amoroso. Então minha lembrança é justamente disso, por exemplo, em São Paulo, na missa, voltar. A gente morava na Vila Mariana e então nós descíamos o morro. Tinha um campinho de futebol e a gente fica discutindo que time tava jogando, aquela brincadeirinha de pai e filho. Ele realmente foi um pai que marcou muito positivamente minha vida, pelo menos. Acho que todos os meus irmãos. Mas eu tenho uma lembrança muito boa da convivência com ele como pai. 0h17m46s. E Também fazia música, tocava pra gente dormir, contava história. Enfim, ele foi um pai bem especial. 0h17m58s. Ele que trouxe a música para dentro de casa? 0h18m01s: Nossa! Na minha cabeça eu não consigo desassociar ele da música. Não tem como! Sabe uma pessoa que tem essa relação tão estreita que não dá pra desassociar Elpídio da música. Então a própria relação de pai e filha, acabava tendo como elemento a música. Pois ele fazia músicas pra gente cantar nas festinhas de escola. Ele fez uma música quando eu nasci e pros meus irmãos também. Então assim, até a forma de ele se expressar como pai, nessa relação de pai e filha, também tem haver com música. Então não dá pra separar. E ele vivia com um violão na mão. As relações dele, afetiva e de amizade, 150 também tiveram a ver com a música. Ou seja, música realmente era a questão fundamental na vida dele. E permeava acho que tudo. E essa relação de pai e filha também. Eu aprendi tocar violão com ele. Aprendi a ouvir música, a gostar de música e a gostar de vários estilos, a não ter preconceito com relação a determinados estilos musicais. Que hoje a gente fala em um estilo mais regional assim, já tem alguma coisa no mercado, mas na época que eu era criança era um pouco...né! Não era uma coisa assim...então. Ele também me ensinou isso, que música sendo boa ela é boa e ponto. Independente da qualificação, porque ele expressa um sentimento e uma vida, determinada vida seja ela qual for, de cidade de grande, do interior ou sei lá o que. Eu acho que isso é um ponto bem forte na vida de Elpídio e vocês já puderam perceber isso. 0h19m59s. Você foi a primeira filha de Elpídio. Você pode “curtir” um pouco mais o seu pai? 0h20m06s: Na questão do tempo sim, porque quando ele morreu eu tinha dezessete anos. Então, dezessete anos a gente já teve um tempo de convivência grande. Claro que foi pouco. Ele morreu com sessenta e um anos e fez bastante falta. Também ele morreu numa época que eu era adolescente, que eu precisava bastante dele. Pra mim foi bem difícil, perder um pai e um pai tão bom. Mas eu tive a oportunidade de conviver bastante com ele e entender um pouquinho como era a cabeça dele, o jeito que ele funcionava, da relação com as pessoas, com a música e tal. 0h20m57s. O que mais marcou no relacionamento entre você e seu pai? Alguma situação? 0h21m04s: Alguma situação eu não sei dizer. Pra falar a verdade eu sou uma pessoa que não tenho boa memória. Não guardo muito fatos isolados. Mas eu acho que a presença dele marcou muito a minha vida e talvez a morte dele mesmo. Porque foi um momento que eu tive a sensação de “eu era feliz e não sabia”. Você vive normalmente em uma família unida, amorosa, musical. De repente tem uma ruptura e de um dia pra outro ele morreu. Literalmente de um dia para o outro, ele ficou doente e morreu no outro dia. Então isso foi muito 151 marcante. De repente do dia pra noite eu me vi sem esse apoio e eu vi o quanto a presença dele era importante. 0h21m58s. Eu e a minha mãe tivemos que correr atrás do prejuízo sozinhas. Foi muito marcante, foi um divisor de águas na minha vida mesmo. Eu tive que crescer rapidinho, enfrentar a vida, trabalhar uma perda difícil. Nós nunca fomos ricos também, tivemos que ir buscar sobrevivência. Acho que isso foi marcante, porque em toda convivência com meu pai, ela foi muito boa. Esse fato acabou marcando muito a minha vida. 0h22m41s. Como lidou com a morte de seu pai? 0h23m17s: A princípio eu lidei muito mal. Aquela reação, ainda mais na adolescência de que o mundo é uma droga, uma porcaria, como é que acontece um negócio desses, porque eu?! Aquelas coisas todas. E porque ele?! Uma pessoa tão boa que só fazia o bem, que não precisava morrer com sessenta e um anos. 0h23m50s: Eu sou a filha mais velha, eu tinha seis irmãos mais novos e talvez o fato de a gente precisar sobreviver, porque ele também dava aula de violão, era professor de música, então a gente tinha um recurso financeiro, enquanto ele foi vivo, muito mais fácil. Depois que ele morreu, nós tivemos muito mais dificuldades e isso fez com que eu tivesse que enfrentar essa situação, e talvez também me ajudasse a não pensar tanto nisso, do ponto de vista da perda. Eu perdi, mas a gente tinha os irmãos e precisava cuidar da vida. 0h24m29s: Mas foi bem difícil, muito difícil porque você imagina uma pessoa alegre, cheia de amigos, que tocava que cantava, de repente some, desaparece de um dia pro outro. É um baque difícil de você enfrentar. Mas, sobrevivemos e acho que a gente soube também trabalhar isso de um lado diferente. A gente perdeu, mas no fundo nós acabamos reconstruindo a obra dele, depois que nós fomos crescendo. Um tocando, o outro ajudando a manter, do ponto de vista de organizar as coisas e montamos o Instituto Elpídio dos Santos. Então a gente conseguiu uma forma de trazer ele novamente pro nosso meio de outra forma, que é através de sua obra, organizada, disponibilizando. É CD, gravando coisas dele, são vocês um vídeo, é num sei quem gravando. (...) A gente consegui achar um lugar pra ele depois de ele ter morrido, na nossa vida e na vida dos outros também. 0h25m43s. 152 Seu pai fazia mágica também? 0h25m46s: Fazia. Ele fazia mágica, fazia a vassoura dançar, você já viu isso? Era tipo um ilusionista. Então ele fazia a vassoura dançar, tirava a moeda de trás das orelhas. Ele gostava muito de fazer mágica com cartinha, (...) essa parte de hipnose. Era curioso essas coisas..assim. Era uma coisa que ele gostava bastante, Contar histórias, ele inventava histórias. A gente dormindo ele inventava uma historinha. Toda vez que aparecesse alguém, você imaginasse que podia ser, contava uma história, uma situação e toda vez que aparecesse alguém boa ou que fizesse alguma coisa que você imaginasse que podia ser Deus, você tinha que falar rapidinho: Nosso Senhor! (...) Cada um ganhava, outro perdia, daí ele explicava: Essa pessoa fez, ajudou o outro. Até o jeito dele transmitir os valores pra gente tinha uma certa graça. Ele era muito engenhoso com as coisas. 0h27m04s. Tinha alguma mágica que você gostava mais? 0h27m07s: Eu gostava de ver a Vassoura dançar né (risos). É muito engraçado você ver a vassoura, Eu não sei como ele fazia, se ele amarrava num negócinho que a gente não via, lógico que a gente era criança, tal. Mas a vassoura sair assim balançando, pra mim era o máximo! Acho que era uma coisa bem engraçada. Outra coisa interessante também, domingo, geralmente, almoçava e naquela época tinha o guaraná de garrafinha. E então depois que todo mundo tomava os guaranás, ele “punha” água e afinava as garrafinhas. Ele ia pondo aquela quantidade de água pra dar as notas certinhas, né. E fazia um instrumento com as garrafinhas, e tocava nas garrafinhas. Então são coisas que marcam e estão em nossa memória afetiva de convivência com ele, eu e meus irmãos. 0h27m59s: Repita a história do guaraná, passou um carro. 0h28m05s: No domingo, a gente almoçava e tomava o guaraná, eram todas garrafinhas. Então ele ia colocando água e afinando. Tirava, “punha” até afinar: 153 dó, ré, mi, fá, só... E tocava nas garrafinhas, com uma colher ou com outra coisinha. Pra você ver de como ele gostava de música. Então são coisas que ficam em nossa memória afetiva, que faz parte dessa convivência com ele. 0h28m34s. Quando seu pai morreu, você como a filha mais velha teve novas obrigações, teve que ajudar, como foi isso? 0h28m41s: Põe obrigações nisso (risos). Eu acho que ser a filha mais velha é uma posição na família. Você sempre tem uma sensação de responsabilidade em relação aos outros. Isso é um ponto pacifico né. Agora, como eu perdi meu pai cedo, isso daí ficou muito forte. Porque eu não tive muita escolha. Ou eu ajudava minha mãe, com dezessete anos, quando você já pode pensar em fazer alguma coisa. Ou eu, sei lá o que. Não tinha outra opção, era essa mesmo. Eu assumi a responsabilidade, até hoje eu tenho essa coisa assim, vou comprar alguma coisa ou viajar, sempre fico pensando: Há mais o meu irmão, a minha irmã... Eu queria fazer isso, pra um, pra outro... Então isso acabou ficando bem forte mesmo. Eu tenho esse senso de responsabilidade e acho que todos os meus irmãos também têm essa relação comigo, de irmã mais velha. Poxa, o que você acha, é legal, não é legal?! Acho que consideram minha opinião. Como quem tá sempre preocupada com eles e tá sempre disposta a servir mesmo. Eu assumi essa responsabilidade, com todas as letras. E não me arrependo nenhum pouco! 0h30m13s. Você tem alguma ligação com a música? 0h30m20s: O que meu pai deixou pra mim foi uma grande admiração por essa arte. Então se você me perguntar: Eu gosto muito de quadros, de outras coisas, de cinema, mas eu gosto mesmo, muito de música. É o que mais, do ponto de vista artístico, me atrai. Eu toquei. Aprendi a tocar violão. Eu cheguei a tocar um pouco, tal. Eu estudei piano um bom tempo. Então eu tenho uma ligação. Talvez se eu não tivesse que ganhar a vida mesmo, logo cedo, correr atrás do prejuízo pra trabalhar; eu fui dar aula. Eu tivesse me dedicado sim a música, mais a música. (...) Ele falava uma coisa que eu acho muito verdade: Que as vezes ele 154 tinha um aluno de violão que era uma pessoa sem a mínima ...não levava jeito para a música.(...) Eu pensava comigo, como é que essa pessoa vai aprender música? E ele dizia o seguinte: As pessoas tinham que aprender música, fosse pra tocar ou pra ouvir. Porque pra ouvir música, pra apreciar, você também precisa aprender. Você precisa ter sensibilidade, se não você não sabe apreciar. Então, eu me considero uma pessoa que sei apreciar, eu tenho se for na minha casa, eu tenho centenas de CDs de todos os níveis. Se eu faço uma viagem, se eu vou pra fora do país, por exemplo: Pra mim a maior curiosidade é comprar um Cd de uma produção local. Então assim, muitas vezes a pessoa pensa em trazer um laptop, eu tenho vontade de trazer CDs. Então ele me deixou isso, que eu acho precioso, porque isso amplia a capacidade que a gente tem de se relacionar com o mundo mesmo, através da música. E de vez em quando eu toco um pouquinho lá em casa. Tenho dois violões que eu adoro, estão guardadinhos. 0h32m33s. Através da família é possível ver que Elpídio está bastante vivo. Como vocês fazem para manter o nome de Elpídio vivo, não só aqui mas também em outras cidades? 0h32m45s: Todo mundo fala de Elpídio. Impressionante! Olha só... O primeiro ponto é que essa questão que o Elpídio está bastante vivo, eu acho que ela tem como primeiro ponto a minha mãe. Que quando, eu brinco, que quando meu pai morreu, nós éramos muito pequenos. Eu tinha dezessete e meu irmão caçula sete ou oito, pouquinho né! Então se ela não tivesse reforçado essa questão, se tivesse jogado todos os cadernos dele fora, por exemplo, jogado os violões...realmente isso teria parado por ali. Mas ela manteve essas coisas dele, a produção dele, os violões e tudo. E mais do que isso, ela fez com que a gente criasse essa consciência. De que ele foi um grande músico, de que valia a pena e de que não era só pra nós que ele era importante, pra outras pessoas. Então, acho que o primeiro ponto foi ela. A partir daí a gente foi tomando consciência aos pouquinhos, porque com dezessete anos você não pensa nada disso né! Aos pouquinhos. 0h34m01s: Também a gente estudou e você vai criando uma consciência de que você precisa disponibilizar isso pras pessoas e nós criamos o Instituto Elpídio dos Santos em 2001, a partir daí a gente foi (...) fazendo isso de 155 uma forma organizada. E o resultado tá sendo esse. Hoje nós acabamos de vim de uma formação pra professores municipais onde eles estão trabalhando um projeto aqui que chama “Elpídio na Sala de Aula”. Então as coisas vão crescendo. São os professores, que alguns conheceram, outros não, outros são de Taubaté, de Ubatuba. Que já conhecem as músicas, já conhecem a vida, a importância. Daí os alunos que já estão tocando, revisitando a obra. Eu acho que a gente tá unindo duas coisas: Por um lado a obra dele, que fala por si só e por outro, uma certa organização e uma paixão pelo que faz. Eu e todos os meus irmãos, a gente faz com paixão, nós acreditamos que a obra tem valor, pra nós e pra todas as pessoas desse país. Nós falamos com convicção e como diz o outro: a palavra tem força! E o negócio vai pra frente. 0h35m15s: Como funciona o Projeto nas escolas “Elpídio na Sala de Aula”? 0h35m17s: O projeto, ele é o seguinte: (...) Hoje fizemos a formação do segundo módulo. Mas no primeiro módulo tinha um mote da música “Casinha Branca”. Então eles discutiram a cidade de São Luiz do Paraitinga a partir da música Casinha Bran...”Minha Cidade”! A música é “Minha Cidade”! Então na música “Minha Cidade”, meu pai retrata São Luiz na época em que ele viveu. A Praça, as meninas vestidas de chita. Então, a partir dessa música os professores então trabalharam a história da cidade. Então os alunos pensaram: Como era a cidade naquele tempo? Como é hoje? O que aconteceu? O que não aconteceu? Onde será que ele morava? Porque que ele tava falando dessa forma? Como que era a Praça? E a partir daí os professores viajaram na maionese. Eles foram além! Então hoje tinha trabalhos lindos das crianças, fazendo essa diferença, vendo as semelhanças, as diferenças, de como era. Então o trabalho de Elpídio dos Santos na sala de aula é você toma uma música, mas não pra ficar fazendo a “glória” de uma pessoa. Mas pra ter como referência pra você se desenvolver, pra você aprender as coisas da sua cidade a partir de uma história concreta. De uma pessoa que viveu e produziu artisticamente uma música bonita como a “Minha Cidade”. E assim por diante, cada módulo tem uma música de mote, mas os alunos aprendem outras coisas: história, geografia, escrita... Agora até, mais pra frente um pouquinho, esse próximo mote é: música, cinema e mídia. Então eles vão re-trabalhar a música “Casinha Branca” e depois vão postar no You 156 Tube. Então pra você ver que mesmo ele tendo feito essa música a muito tempo, você se apropriando dela a cada momento com a tecnologia do momento e as condições do momento, sem deixar de lado tudo aquilo que ele produziu. 0h37m27s: Então, por isso que você fala: Todo mundo fala, todo mundo conhece. Porque nós trabalhamos pra isso. Se nós não fizéssemos isso, por melhor que fosse a obra dele, com certeza a história seria outra. 0h37m41s: Então esse projeto e também o Instituto são formas de manter vivo o Elpídio dos Santos? 0h37m47s: É uma forma de manter vivo Elpídio, e mais do que isso, é uma forma de você dizer o seguinte: Nós somos um espaço cultural que tem uma representação importante. Cultural. Então, é uma pessoa que registrou a sua época através de uma música, de músicas. Isso tem o valor, do ponto de vista de quem quer entender a própria sociedade. Então a gente hoje acredita não só que são bonitinhas as músicas, mas que isso, tem um grande valor cultural pra quem quer entender o Vale do Paraíba. Por exemplo, meu pai viveu justamente na época onde as pessoas saiam de cidades pequenas e iam pra cidades grandes. Por isso que por exemplo: a saudade, esse sentimento permeia toda obra dele. Então assim, a arte faz a gente entender a vida, os acontecimentos. (...) Nós acreditamos que a relevância ela extrapola São Luiz, o Vale do Paraíba. Porque a gente gosta, porque é bonitinha a música. Ela é o retrato de uma época, que foi uma época onde as pessoas saiam das cidades pequenas, foi uma época onde você ia ganhar a vida em São Paulo. Hoje, por exemplo, se você conversar com a meninada, hoje você ir pra São Paulo é mole pro Vasco. Você tem acesso pela internet a tudo. Mas nessa época não! Então, é um registro, só que é um registro musical. 0h39m21s: Eu sempre conto uma historinha, que tem um clarinetista aqui em São Luiz que era excelente, uma pessoa formidável, Seu Dito do Bem. Ele tocava maravilhosamente bem, só que ele morreu e não deixou um registro. Então quando uma pessoa morre e não deixa um registro da sua obra, eu acho que todos nós empobrecemos. É como você... na minha cabeça é como uma espécie da natureza que se extingue. Todo o ecossistema, toda “coisa” empobrece. Eu acredito nisso né. Então eu acho que a gente contribui para além 157 do nosso pai e tal. Deixar um registro significativo como a obra dele morrer. Digamos que é quase um crime. 0h40m13s. Você sente orgulho de ser filha de Elpídio dos Santos? 0h40m16s: Muito! (emoção) 0h40m22s. Qual é a sua música preferida de Elpídio? 0h40m28s: Olha, a música que eu mais gosto. Tem um monte de músicas, a gente gosta de um monte de música. Mas a “Rede de Taboa” é uma música que eu gosto muito. Tanto que no dia do lançamento do Instituto nós fizemos, toda a família cantou e cada um escolheu uma música pra cantar e eu escolhi “Rede de Taboa”. É uma música simples, mas fala justamente disso né. O Cascatinha e Inhana inclusive gravou quando...como que é Parê?... 0h40m59s: Quando a noite é de garoa, numa rede de taboa, balançando rende ao chão, sob a luz de uma candieiro, um caboclo brasileiro canta sua inspiração. E quem ouve esse violeiro ai ai ai, tem vontade de perguntar se o ranchinho brasileiro chega bem pra dois morar. 0h41m22s: Então é uma coisa bem, é a cara dele essas músicas. De dar valor as coisas simples, essenciais, pras relações pessoais, pra essência da pessoa. Meu pai era realmente uma pessoa que não se deixava levar pelas aparências. Pra ele podia ser dois velhinhos, ceguinhos que contavam histórias de terror e morava numa “tapera”. Como lá os alunos deles de violão da de São Paulo, que eram ricos. Não fazia a mínima diferença, mas não fazia mesmo. E a música traduz isso né! O que é no final das contas nossa vida? É isso! As relações pessoais né. 0h42m06s. Elpídio foi muito importante como músico. E como pai, ele também foi importante? 0h42m12s: Eu acho o seguinte: Ele foi importante como musico e foi muito importante como pai. Mas acho que ele foi muito importante como pessoa. Porque ele...pelos valores que ele trouxe, revelou na sua música e viveu. Que era a simplicidade, a sinceridade, de propósitos. Ele se dedicou ao bem, ao bonito. 158 Se você pensar hoje em um mundo de violência, onde você não liga pra nada, pra ninguém e tal. São coisas essenciais. Então acho que ele... como pai sim, como musico também, mas...os valores que ele exercitou lá na sua vida e que traduz a vida dele, eu acho que valem até mais que a própria música né. Eu acho que se não fossem esses valores, talvez ele não estivesse sendo lembrado agora, 100 anos de nascimento e tal. Porque as músicas são muito verdadeiras, elas falam de coisas muito essenciais: O amor, a dor, a tristeza, a saudade. Quem que não entende isso?! Tem alguém que não entende isso? 0h43m25s. Ele faz muita falta? 0h43m27s: Muita falta! Eu acho que ele faz muita falta pra gente e faz muita falta no mundo, assim, que precisa se re-conectar com questões essenciais da vida. 0h43m38s. ENTREVISTA: Maria Aparecida dos Santos (PARÊ) Como era Elpídio como pai? 0h45m06s: Bom, o Elpídio pai foi maravilhoso. Na época eu tinha doze anos, quando ele faleceu. Mas a gente, ele sempre teve a gente muito do lado dele. Ele sempre proporcionou pra gente um bom ambiente, uns passeios, então a gente era muito grudado nele. Então, ele foi um pai excelente. E na minha casa era muita harmonia, porque meu pai e minha mãe se davam muito bem. Então a gente cresceu num ambiente bem bacana. 0h45m39s. Era uma família bastante unida e carinhosa? 0h45m42s: É! Desde aquela época. Isso foi ele que ensinou a gente ser assim. 0h45m48s. E qual era a relação com os filhos? Elpídio trouxe um pouquinho de música pra dentro de casa? 159 0h45m55s: Ah...meu pai, desde que eu nasci. Minha mãe conta que quando a minha irmã nasceu ele fez uma serenata no hospital. Então, cada filho que nascia, era uma música que ele fazia uma homenagem. Cada um tem sua música que é instrumental. Mas todos têm, todos nós temos uma música. 0h46m16s: E desde de pequena, meu pai, na época de São Paulo, que ele trabalhava com Mazzaropi. Logo que ele acabava de fazer uma música, que normalmente ele fazia isso de madrugada, ele acordava todos nós pra gente cantar, pra gravar, pra mostrar pro Mazzaropi no outro dia. Então desde sempre, a música é desde sempre. 0h46m38s. 4 – Então ele sempre influenciou essa musicalidade dentro de casa? 0h46m42s: Ele fazia a gente cantar o tempo inteiro. Ele fazia músicas pra gente cantar. Então, no dia das mães tinha uma música, no dia do saci tinha uma música. Então a gente conviveu com isso o tempo inteirinho, desde que eu nasci. Até que a gente montou o grupo, o grupo Paranga, depois que ele já tinha falecido. E o convívio foi a vida inteira, né, com a música. 0h47m13s: Ele trouxe da família dele também, porque o pai era músico, os irmãos eram músicos. E isso ele não deixou de passar pra gente também. E direitinho! Todos nós cantamos, todos nós gostamos de música. 0h47m29s. 5 – E era gostoso ter esse contato com a música tendo como influência o próprio pai? 0h47m35s: Nossa é uma delicia! Porque ele tinha um relacionamento muito bacana. E os amigos que vinham, minha casa era muito alegre, é até hoje né mãe!? (vira-se para mãe) 0h47m45s: É muito alegre, e como ele tocava e cantava, era muito cheio de amigos. E enquanto, assim, tinha reuniões que eu lembro, que a sala ficava cheia de gente e a gente também por ali. Meia noite, uma hora, duas horas e ele ali com os amigos e agente ali também. Então muito bacana ter sido, ser filha dele. Foi bom. 0h48m10s. 6 – Qual a lembrança mais marcante que você tem de seu pai? 160 0h48m13s: Olha, eu lembro quando eu morava em São Paulo que agente vinha aqui e ele levava a gente pra passear lá no morro, a gente chama Morro da Cueca, mas é o Morro onde tem as torres de transmissão de televisão. E a gente subia, é muito longe é um morro muito grande. Agente subia cantando, ele fazia a gente subir cantando. Então ele dividia em vozes e a gente ia cantando daqui... lá. Subia aquele “morrão” e era uma música que a gente cantava que... subia cantando. 0h48m49s. Você lembra a música? 0h48m51s: “Roxa, saudade, mimosa flor. Ainda que murche, não perde a cor”. Daí ele fazia, um cantava, o outro começava depois e outro começava depois, e a gente ia assim, subia o morro e quando via já tava lá em cima né. Essa é uma passagem bem legal que eu nunca esqueci nunca mais. 0h49m21s. Como foi participar do Paranga? 0h49m32s: Olha, foi a primeira vez que eu tive um contato mesmo com a obra dele. Porque a gente queria cantar as coisas dele e minha mãe liberou o caderno onde ele escreveu um montão de coisa. E a gente foi lá procurar algumas música pra gente cantar né. Então foi a primeira vez. Isso em 75, 6, não me lembro bem. Foi a primeira vez mesmo que a gente viu, porque ele tinha acabado de morrer, fazia quatro, cinco anos. E foi muito bom. 0h50m11s: No Paranga em 1980, a gente participou de um festival, “Festival Shel” eu acho que era o nome. E a gente foi procurar uma música do meu pai pra gente defender. Que foi muito bacana, uma música que a gente não conhecia e a gente achou lá e foi muito bom. A gente não foi classificado, mas foi uma oportunidade de mostrar uma coisa mais regional, na globo né. E foi onde o Paranga começou a aparecer. Depois que participou desse festival. Com essa música do meu pai. 0h50m48s. Quanto tempo você ficou no Paranga? 0h50m51s: Nossa! Muito tempo. Eu sai do Paranga... ai nem sei. Eu sai do Paranga em 98, 99. E fiquei... fui a fundadora. A gente começou em 75, 76 e eu 161 fiquei até 1999, mais ou menos. Foi quando eu tive que sair de lá, porque eu tinha que trabalhar, tinha que dá minha aula, daí eu saí. 0h51m28s. Com qual música vocês participaram desse festival? 0h51m32s: Foi “Congada Praiana”. É uma congada com bastante ritmo, com bastante percussão. De praia, que falava do pescador, tal. E é uma música... a gente tem gravado em um LP né. E é uma música bem desconhecida dele, é um ou outro que conhece. É um pessoal mais antigo, que torceu pra gente, que viu a gente na televisão, ainda um ou outro lembra. Mas é uma música que não ficou muito divulgada, não divulgou, não sei por quê. O repertório foi virando, virando e ela não apareceu tanto. 0h52m15s. Não chegaram a ganhar o concurso? 0h52m15s: Não. Quem ganhou foi a Tetê Espindola, com a... não sei o que da estrela. Nossa já faz tempo isso. 0h52m28. O que Elpídio deixou de herança musical? 0h52m36: Olha, ele me deixou assim... a música lógico! E a vontade de trabalhar com a música. Eu sou professora da educação infantil e ensino fundamental e eu tenho um prazer muito grande de trabalhar com música com criança. E muita coisa que eu faço, eu lembro dele. Como ele fazia com a gente sabe?! Na hora de passar uma letra pra gente cantar. Muitas técnicas que ele usava eu uso hoje pra dar aula. (...) O que eu acho mais legal que ele deixou pra mim foi mesmo isso né, a vontade de ensinar música pra todo mundo. Eu quero que todo mundo cante, todo mundo consiga se expor através da música, cantar...enfim. 0h53m35. Então Elpídio foi um pai que te deu muito orgulho? 0h53m38: Nossa! Muito! Até hoje né. As pessoas: Nossa! Mas você é filha de Elpídio? Eu sou filha de Elpídio né! Com muito orgulho. Com o muito orgulho. É 162 porque o trabalho dele é muito rico né. E então, poder desfrutar disso tão de perto. Eu fiz toda parte de cadastro das músicas, eu mexi muito na obra dele porque quando ele morreu a mamãe pegou tudo e colocou num lugar e fechou. E aquilo ficou lá um tempão. E eu fui uma das primeiras que mexeu, que mexi, que organizei, essa parte toda ficou por minha conta. Então é muito bom né, trabalhar com as coisas dele e com a riqueza que ele deixou. Então eu consigo saber a extensão dessa obra e a riqueza disso tudo. Porque eu sou uma das que conheço papelzinho por papelzinho lá. 0h54m48. Ao seu ver, qual é a importância de Elpidio dos Santos na Música, seja em São Luiz do Paraitinga, na Região do Vale do Paraíba ou no país? 0h54m57: Olha, o Elpídio teve muito... Ele explorou muitos ritmos. Ele tinha de Fox a Música instrumental. Dobrados de banda. Então eu acho que pra quem estuda música e pra quem gosta de música, tem muita coisa pra escutar e muita coisa pra pesquisar. Então assim, a gente agora com o Instituto, a gente vê que muita gente procura né. Agora mesmo a gente recebeu um e-mail lá do nordeste, que o cara achou o nosso e-mail e que conhecia uma música e que ficou super emocionado de falar com a gente, porque a gente já respondeu imediatamente, e foi muito bom. Então eu acho que a obra dele é uma obra que dá pra estudo mesmo. Você pega um Dobrado de Banda, uma harmonia pra coral. Então quem gosta de música, tai, uma obra imensa e que a gente ta trabalhando em cima dela pra disponibilizar ela pro grande público. 0h56m13. E é uma obra imensa que enriquece todo o Vale e São Luiz do Paraitinga. 0h56m17: Há é! É bacana porque aqui em São Luiz eu tenho orgulho porque eu sou filha dele, mas todo mundo é orgulhoso dele né. Então se você falar pra qualquer um de Elpídio eles sabem, até os pequenininhos. Agora com esses projetos de escolas que a gente tem desenvolvido. Então é muito bacana, todo mundo gosta muito e tem orgulho, e conhece. A gente também divulga muito. A banda toca coisa dele, a fanfarra toca, o coral toca, todas as bandas, todos os grupos de música, todos tocam! Então agora na semana vai ter uma história 163 cantada. Essa história cantada são com músicos (...) todo mundo que toca aqui, toca alguma coisa do Elpídio. Então é muito bacana. 0h57m16. Como filha é gostoso ver essa influencia que ele deixou? 0h57m19: Nossa muito! E o respeito com que o povo daqui tem com ele e com a obra dele. Todo mundo faz mesmo questão de tirar, de tirar uma, depois tirar o outro e sempre que tem uma oportunidade vem, mostra. Geralmente na semana de Elpídio ou tem fanfarra ou tem banda, tá sempre apresentando as músicas dele. É muito bom né. A gente vê isso né. 0h57m49. Qual é sua música preferida? 0h57m53: São várias né. Mas eu gosto muito da “Figa de Guiné”. “Todo mundo fala numa flor de maracá, num galhinho de arruda, numa figa de guiné. Diz que é muito bom a gente usar, mas francamente eu não sei pra o que é. Se é pra fazer voltar o amor que tem abandonado, não sei se é pra fazer arranjar outro namorado! Todo mundo fala numa flor de maracá... Essa é a que eu acho muito “bregeirinha”, muito cheia de superstição, eu acho que é legal. 0h58m27. ENTREVISTA: Pedro dos Santos Egypto de Cerqueira e Marcel dos Santos Toledo. Pedro dos Santos Egypto de Cerqueira 0h06m45s: (...) A honra de conhecer o lado pessoal dele, fazer parte desse lado, a gente é o que restou dele, ta na gente agora. 0h06m55s. Marcel dos Santos Toledo. 0h06m56s. E também a gente conhece aqui, todo mundo fala né (...) mesmo o pessoal de São Luiz, todo mundo fala em Elpídio dos Santos. Todo mundo conhece. Há, você é neto do Elpídio dos Santos, não sei que?! Todo mundo conhece bem. 0h07m07s. 164 Vocês cresceram ouvindo histórias de Elpídio dos Santos. Qual história vocês guardaram? Pedro dos Santos Egypto de Cerqueira 0h07m16s: Eu lembro muito da história que a minha contou, de ele fazer música durante a madrugada. Quando ficava pronto ele acordava todo mundo e fazia cantar, de boa vontade ainda. E também tem uma que a minha Vó já me falou, de uma aranha. Que ele falava, não sei se era imaginação só pra ter um sentido na história, que tinha uma aranha no quarto e ele compunha com a aranha. E que ela descia enquanto ele fazia a música. Que ele nunca ficava sozinho durante a madrugada. 0h08m03s. Marcel dos Santos Toledo. 0h08m03s: E a história que eu sempre ouvi falar, é que chegava visita aqui né, amigo pessoal dele, tal. Ele entrava lá no meio da conversa, ele entrava e fazia uma música pra essa visita, muito rápido ele tinha facilidade. E voltava com uma música em homenagem a ele e tudo. Isso era bem fácil pra ele. 0h08m24. Como é ser neto desse grande artista? Pedro dos Santos Egypto de Cerqueira 0h08m27: Responsabilidade! Muita! Pelo fato da gente, é uma coisa que assim: Quando você fala que é neto de Elpídio, as pessoas nem perguntam seu nome, já perguntam: O que você toca? Então a gente sente assim uma coisa boa! De peso assim, de você honrar a família. Assim sabe. Tento merecer. 0h08m56. Marcel dos Santos Toledo. 0h08m58: Essa responsabilidade pra mim, que eu toco violão também. Sempre tocar uma música dele, sempre falar dele, de São Luiz. Até pra algumas pessoas da minha idade que não conhecem tanto assim. Sempre passar essa imagem dele assim, mais pra frente. Essa responsabilidade mesmo que ele falou. 0h09m16. 165 Qual herança musical ficou em vocês? Pedro dos Santos Egypto de Cerqueira 0h09m19: Eu já toquei violino. Eu acho que a herança em mim não ficou muito na questão do Instrumento. Ficou mais na facilidade de apreciar uma música. Vêm dos meus pais, da minha mãe, que minha mãe herdou dele. Eu tenho uma coisa minha, que eu gosto de ficar ouvindo música. Mas não “Música”! Mas música que você descobre, repete a música várias vezes, e você começa perceber em cada coisa da música: Cada arranjo. E eu não sei nota, não sei tocar, não sei nada, mas tenho essa facilidade que tá no sangue. 0h10m07. Marcel dos Santos Toledo. 0h10m07: E eu toco violão. Quis aprender mesmo. Minha mãe tocava sempre em casa. Essa apreciação por música também consegui pegar pra mim. E estudei violão. Agora estou começando a tocar bastante. 0h10m25. Qual a importância de Elpídio dos Santos pra música? Pedro dos Santos Egypto de Cerqueira 0h10m31: Eu acho que assim. A música dele, muitas vezes eu já me perguntei, já parei pra ouvir e falar: Mas o que tem nessa música? Porque não tem uma gramática muito elaborada. Não tem uma história interessante, curiosa, de mistério. Mas daí, agora assim, mais velho eu parei pra pensar e falei: O que realmente chama a atenção é não ter isso. É a simplicidade, sabe. Frase fácil. E os temas serem (...) temas universais! Saudade, amor... então acaba pegando assim. Abrangendo muita gente, muitos gostos, muitos tipos. E também pelo fato dele (...) ele era regional, ele fazia música pro Mazzaropi. Mas ele não se prendeu nisso. Tanto é que ele tem samba, samba de malandro mesmo, tem valsa, tem tudo. Então eu acho que ele é uma pessoa que. Lógico ele é um compositor regional. Talvez não poderia ser classificado dessa forma. Porque ele é mundial! Ele é universal! Eu acho que essa é a importância dele assim. De uma pessoa do interior assim, ter uma cabeça tão aberta a ponto de conseguir enriquecer toda obra e de várias maneiras e por vários lugares assim. 0h12m21. 166 Marcel dos Santos Toledo. 0h12m22: E como meu primo falou. A letra ser simples, as notas e os arranjos também são simples, da música dele. Ele conseguia fazer esse simples nas músicas dele e até podia tocar em bandas grandes assim. Ele sabia fazer de tudo. Até complexos, arranjos complexos, ele sabia fazer. Até simplicidade. Isso que o faz um grande compositor. 0h12m48. Qual a música preferida? Pedro dos Santos Egypto de Cerqueira 0h13m13: Na verdade ele tem muitas músicas, assim, que eu nunca parei pra pensar em nenhuma. E eu comecei a conhecer mais a fundo a música, quando foi lançar, quando foi criar o Instituto Elpídio dos Santos. Que a minha mãe começou a pegar todos os filmes de Mazzaropi e anotar música. E eu morava aqui com ela ainda. E eu e minha mãe é muito ligado, então eu tava sempre junto ali e ela escutando, anotando, escrevendo e eu junto. Mas uma música?! Ah não sei, eu gosto... tem uma que me lembra muito quando a gente era criança, tinha o grupo Paranga e a minha mãe cantava. Então ia pro show e a gente ia junto, já tinha um colchonete em baixo do palco, que a gente ficava dormindo durante o show e tinha uma música que eles cantavam e eu gostava muito, que era, do Paraguai: “Lá no Paraguai noite de luar, a saudade vai em todo lugar”... e eu gosto muito dessa, é difícil eu escutar ela de novo, porque já não tocam mais, é uma música que eu gosto muito. 0h14m31. Marcel dos Santos Toledo. 0h14m32: Eu gosto de uma música que tem várias vozes, tem diferença de ritmo, que a “Bandinha do Padre Leite”. E tem várias vozes. Os homens fazem a primeira voz, e a mulher entra. É bem diferente. Pompom pom pom pom..pom porom porom... (...). Quando uma bandinha vem tocando, um bonito dobrado passava por mim, e que saudade, já não tinha mesmo a esperança, quando era criança (...) Então são várias vozes, vão intercalando. Daí é isso que eu acho bem legal nessa música. 0h15m22. ENTREVISTA: Maysa dos Santos Toledo e Leopoldo Santos Toledo. 167 Como você vê Elpídio dos Santos? Maysa dos Santos Toledo 0h16m08s: Então, a gente nunca conheceu ele. Mas a gente conhece assim, as histórias. Então a gente sente que ele ta junto com a gente. Sente que tem uma parte dele que tá na gente. E á assim que a gente conhece. A gente nunca viu pessoalmente, nunca sentiu, porque quando ele morreu minha mãe era pequena. 0h16m34s. Leopoldo Santos Toledo 0h16m34s: E a gente sabe também que ele tinha várias qualidades, como ser bem família. E são coisas que ele passou pra minha mãe e ela passou pra gente. E a gente tenta cuidar disso até hoje. A gente acha que são qualidades bem legais. Que vem desde meu vô, da minha mãe, pra gente. Que eu tento também passar pra frente. 0h16m55s: Qual história vocês lembram mais? Maysa dos Santos Toledo 0h17m03s: A que eu gosto mais, são das mágicas, da vassoura principalmente. Que meu pai, que não é da família, só que vem aqui desde pequeno. Até ele contava das histórias do meu vô, minha mãe contava e é o que mais marcou assim. 0h17m22s. Leopoldo Santos Toledo 0h17m22s: Pra mim foi do modo como ele conheceu o Mazzaropi. Foi quando Mazzaropi veio pra cá e veio no circo e conheceu meu vô. Porque meu vô ajudou na promoção do circo. E a partir disso eles ficaram amigos e daí só pediu pra ele fazer composições pros filmes e virou parceria de muito tempo. 0h17m43s. Como é ser neto de Elpídio dos Santos? 168 Maysa dos Santos Toledo 0h17m48s: É um orgulho né. Porque, aqui em São Luiz, a pessoa pode não te conhecer. Mas você fala: Ah! eu sou neta de Elpídio! Sou neta da dona Cinira! Daí eles começam a contar histórias de quando eles faziam o coral, cantavam, meu vô chamava a criançada, que eles eram crianças. É gostoso ouvir as histórias que eles têm pra contar. Das lembranças boas que meu vô passa pra todas as pessoas. 0h18m16s. Leopoldo Santos Toledo 0h18m16s: E também tem gente. Que por ser um artista, muitas pessoas conhecem até fora daqui. Tem neto que foi embora e é reconhecido até hoje onde moram, por programas que passam na TV. Que sabem, conhecem e vê que é vô e falam: sou neto dele. 0h18m35s. Maysa dos Santos Toledo 0h18m35s: E às vezes, as pessoas falam: Nossa! Vi uma reportagem de São Luiz e nem sabem que nosso vô. Nossa! É sobre meu vô, assim. É gostoso. 0h18m43s. Qual a importância de Elpídio dos Santos pra música? Leopoldo Santos Toledo 0h18m50s: Eu acho que aqui na cidade de São Luiz teve uma importância muito grande. Que apesar da música ter uma influência grande na cidade, eu acho que ajudou a divulgar ainda mais. Tanto que aqui tem vários movimentos de música que ele ajudou a divulgar. Têm influência da fanfarra, projeto Guri, várias modalidades que ele ajudou a divulgar. 0h19m19s. Maysa dos Santos Toledo 0h19m19s. É, sempre a banda tem musica que é dele e eles tocam. É gostoso ouvir isso. 0h19m27s. 169 Qual a música preferida? Maysa dos Santos Toledo 0h19m30s: A minha é “Rede de Taboa”. Porque é que me lembra (...) eu estudei quando era pequena numa escola que era da minha tia, então ela sempre cantou pra gente essa música. Então eu me lembro muito da minha infância: 0h19m44s: Uma rede de taboa amarrada no Ipê, pra lá, pra cá, pra lá, pra cá. Essa rede balançando bem juntinho de você, pra lá, pra cá, pra lá, pra cá. 0h19m58s. Leopoldo Santos Toledo 0h19m59s. A minha é a “Dor da Saudade”. Acho que mais pela letra dela mesmo. “A dor da saudade, quem é que na tem e por ai vai...” 0h20m15s. SONORA EDUARDO DE OLIVEIRA COELHO QUAL A IMPORTANCIA DE ELPÍDIO DOS SANTOS PARA SÃO LUIZ DO PARAITINGA ( 37’:32” 38’:17”) Elpídio dos Santos que é um cidadão ilustre, luizense, ele foi muito importante para este movimento cultural, em especial a música. Que ele é um músico completo, compositor, ele era..cantava, instrumentista. E a família toda dele já era, ele herdou dos pais, os irmãos são músicos. E deixou uma ascendência e uma descendência também pro filhos né, que hoje faz parte do grupo Paranga e que foi toda uma herança, do legado, que deixou como nicho em Sã Luiz do Paraitinga. Hoje nós contamos aqui com uma cidade de 10 mil habitantes, dos quais praticamente mil, 10% da população são músicos. E essa influência é uma influência direta de Elpídio dos Santos. COMO A CIDADE PRESERVA O NOME DE ELPÍDIO DOS SANTOS? (38’:20” a 38’:55”) Quando se fala em música em São Luiz do Paraitinga, o primeiro nome que vem é Elpídio dos Santos, porque ele foi muito importante né. E hoje para a memória em São Luiz do Paraitinga, temos o Instituto Elpídio dos Santos, que trabalham muito bem essa questão do Elpídio dos Santos e vários outros eventos da cidade, voltados para a música como a festa de Santa Cecília, padroeira dos músicos, como a Semana da Canção Brasileira, que fala da canção de artistas 170 populares de São Luiz do Paraitinga e região e sempre é lembrando o nome de Elpídio dos Santos, que já virou referência, um ícone da cidade. QUAL FOI A CONTRIBUIÇÃO DE ELPÍDIO PARA O CARNAVAL, PARA O TURISMO DA CIDADE? (39’:03” a 40’:04”) Bom, Elpídio dos Santos está bem antes da cidade ser uma estância turística, de ter toda essa vocação, já tinha essa vocação né. Ele mesmo tinha, salientava várias vezes, através das músicas e tal. Nas suas composições. E ele escreveu músicas para banda local, que existe há mais de 150 anos, o pai dele chegou a tocar, os irmãos, parte dos filhos. Ele tem muitos dobrados escritos, muitas composições. E no carnaval, naquela época, ele já fazia marchinhas, em um período em que o carnaval era proibido aqui em São Luiz do Paraitinga. E o mais interessante é que os temas de Elpídio dos Santos, são temas atuais. Você ouve as marcinhas falando das ruas, da rua Barão, da paquera, da paixão, então são temas muito atuais e que são tocados no carnaval hoje em dia. E os filhos de Elpídio dos Santos, que potencializaram tudo isso, começaram o carnaval aqui, movimento que teve várias outras contribuições, mas eles foram as mais significativas para a volta do carnaval , a partir dos anos 80. QUAIS OS GRUPOS AQUI DA CIDADE, TEM A INFLUÊNCIA DE ELPÍDIO DOS SANTOS EM SEUS TRABALHOS? (40’:13” a 41’:05”) Bom, na minha maneira de enxergar é o próprio Paranga né, que tinha que ser e que até hoje toca as composições de Elpídio dos Santos. Nós temos a família Santos que são filhos do outro irmão do Elpídio dos Santos o Dair , que tem uma banda também, várias outras influencias né. E ele influencia diretamente hoje a questão das marchinhas, então os arranjos das músicas são feitos por eles né.o Pio que já é falecido, que fez muitas músicas aqui em São Luiz do Paraitinga, muitos arranjos, o Negão que tem várias influências aí. E o ritmo todo, as marchinhas, até hoje, você ouve ritmos muito próximos do que Elpídio dos Santos compunha há 50, 60 anos atrás. HOJE AINDA SE TOCA ELPÍDIO DOS SANTOS NO CARNAVAL? (41’:05” a 41’:19”) 171 Toca e a principal banda que leva o nome de Elpídio dos Santos, é o Paranga, mas várias outras músicas são tocadas por outras bandas também, dentre elas o Estrambelhados. SÃO LUIZ FOI UM POUCO MOVIDA A ELPÍDIO DOS SANTOS? ( 41’:25” a 41’:40”) Isso. É um dos três cidadãos ilustres de Sâo Luiz do Paraitinga, junto com Oswaldo Cruz, Amílton de Sá, ...cientista ele é o único músico popular e toda essa parte cultural da cidade, posso dizer que é movida a Elpídio dos Santos. SÃO LUIZ É CONHECIDA POR ESSA PARTE CULTURAL NÉ? ( 41’:45” a 41’: 54”) Isso, São Luiz é muita conhecida pelas partes naturais, partes históricas e principalmente pela parte cultural que é aonde teve a maior influência de Elpídio dos Santos. SONORA ESTRAMBELHADOS APRESENTANDO A BANDA (00’:47” a Então a gente esta aqui com a banda Estrambelhados, formada por 10 integrantes. Então hoje a gente está aqui com: Rodolfo – violão e voz-, Leandro – violão e voz, o Leo – sax, o Rafael Um percussão, o Renato contrabaixo, o Lucas – trompete, eu sou Rafael – violão também. COMO SURGIU A BANDA (1’:01” a 2’:30”) A banda Estrambelhados, surgiu em 2002. Todos nós muito amigos, nessas ideias como a maioria das bandas surgem mesmo. Uma reunião de amigos : Ah vamos montar uma banda para gente começar a tocar, vamos começar a se apresentar. E foi uma coisa que deu certo, a gente é de um lugar privilegiado culturalmente, acho que é São Luiz do Paraitinga. Acho começou tocando música de outros compositores, MPB, pop. Daí a gente foi percebendo que tinha algo maior, que era a cultura de São Luiz, que a gente podia cuidar e fazer um sentido pra isso, dar uma continuidade, uma nova geração. Calhou que em 2001, no festival de marchinha da cidade, a gente ficou em segundo lugar com a 172 composição Estrambelhados e parece que ele deu um impulso um ano antes, para que a gente pudesse entrar efetivamente nesse campo musical da cidade, então a gente veio com essa proposta de pegar a musica popular, essas influências da cidade. Que a gente nasceu já vendo congadas, moçambiques, folias, fanfarra, a obra de Elpídio dos Santos, do Paranga e de dar uma nova roupagem pra isso né, uma roupagem mais moderna, com novas influências, novos estilos. Pegar o tradicional e juntar com o rock, com o pop, com levadas mais modernas mesmo né. Sem com tudo deixar de fazer, de mostrar o que a gente quer, que a cultura da cidade. POR QUE O NOME ESTRAMBELHADOS? ( 2’:30” a 3’:04”) Então, o nome Estrambelhados, é mais uma... como a gente fez essa marchinha que falava do estrambelhado né. A própria população começou a se dirigir a gente como se fosse a geração do estrambelhado, a turma do estrambelhado. Então foi uma escolha que veio de fora para dentro. E é legal para justificar esta proposta, que é pegar a música, a cultura popular e dar uma nova roupagem, fazendo isso sem destrambelhar suas raízes né. Fazendo isso de uma forma estrambelhada né. QUAL A INFLUÊNCIA DE ELPÍDIO DOS SANTOS NO TRABALHO DE VOCÊS? ( 03’:06” a 04’:44”) Elpídio dos Santos é uma influência muito forte, porque quem é de São Luiz é influenciado pelo Elpídio de uma forma ou de outra. Ele fez escola, o trabalho dele é maravilhoso, é imenso, não só por coisas conhecidas, como os filmes do Mazaroppi, mas pelo dia-dia na comunidade, pelo que ele passou, a marca que ele deixou em São Luiz.. e ele participou de banda em todos esse grupos. E como a gente é de outra geração, a gente não teve contato com Elpídio, mas teve contato com as coisas que ficaram, seja com a corporação, seja com o grupo Paranga, que sempre nos deu muita força e da sua própria música mesmo. A gente conhece as músicas do Elpídio, a gente toca as músicas do Elpídio. No próprio carnaval que a gente toca, as músicas do Elpídio foram baluartes para começar o estilo da marchinha e a gente bebeu dessa fonte, a gente bebe dessa fonte. A gente é assim muito influenciado, porque o Elpídio é um cara que foi muito à frente da sua época, não é à toa que tem 100 anos e ainda hoje se toca 173 Elpídio né. E Elpídio trouxe esse exemplo que a gente tem que ... de vários estilos, ele ficou famoso por músicas caipiras, mas o Elpídio tinha fox trote, Elpídio tinha levada de rock, Elpídio tinha música de Jovem Guarda,, sabe. Serve de exemplo para gente também. A gente tem uma musicalidade carnavalesca, mais de buscar os outros ritmos que estão acontecendo na música popular brasileira e trazer isso para tornar isso mais rico e atingir mais pessoas, mais público né. COMO É O TRABALHO DOS ESTRAMBELHADOS HOJE? ( 4’:49” a Os Estrabelhados hoje, tem se dedicado, sobretudo ao repertório mais das marchinhas, que é o que tem dado mais certo....parou... 06’:00 a 07’:20” Hoje o Estrambelhados tem se dedicado, sobretudo a este trabalho das marchinhas carnavalescas, que é o que tem dado mais certo. Foi o que gente gravou o nosso primeiro CD, o Cd Folias , pelo estímulo da secretaria da cultura, com esse repertório e tocar marcinha dentro desta proposta que é transformar ela em um estilo que possa ser tocado o ano inteiro né. São Luiz toca marchinha, mas é uma marcinha diferente, muita gente que ouve falar do carnaval de marchinha de São Luiz já fica achando que é uma coisa antiga e quando vem aqui, geralmente, se surpreende. Que é, assim, de pegar este estilo tradicional da música brasileira, que vem lá de Carmem Miranda pra cá, mas que traz essas novas influências, é uma música animada, uma música que mistura o pop, o rock, até o funk que seja, mas mostrando uma musicalidade própria, com uma história própria. Em São Luiz os personagens principais do carnaval não são o Pierrot nem a Colombina, é o Juca Teles, que era um oficial de justiça, é o Barbosa, o motorista do ônibus. Isso é muito forte, nessa identidade de uma cidade pequena, que é falar das coisas da cidade, falar da cultura, das lendas, e isso acaba entrando nessa musicalidade. COMO É O TRABALHO DE VOCÊS NO CARNAVAL (07’:21” a 07’:52”) Durante o carnaval a gente faz sempre um show aqui em São Luiz, nos últimos anos a gente tem começado a se apresentar mais em cidades vizinhas, fora daqui também né, rede SESC. E alguns músicos da banda participam de alguns blocos também, seja puxando, seja tocando né, verdadeiro foliões aí mesmo do 174 carnaval. A gente faz de tudo um pouco, ajuda a compor, ajuda a tocar, ajuda a pular, então participa o máximo possível. ENXERGAM A MUSICALIDADE DE ELPÍDIO DOS SANTOS NO CARNAVAL ( 08’:02” a 08’:30”) Sim. Seja pelo próprio grupo Paranga que toca muitas composições, mas todas as bandas tem, seja as músicas dele, ou seja essa escola que ele deixou, como eu tinha falado né. Essas influências dele que entraram nos novos compositores da cidade, seja nos mais antigos, ou seja na gente que está surgindo. É uma escola mesmo de São Luiz a obra de Elpídio dos Santos. QUAL A MÚSICA PREFERIDA? (08’:33” a 09’:20”) É uma pergunta difícil essa, quem tem mais de mil músicas fica difícil escolher uma. Ele tem várias composições, várias marchinhas, uma que é a mais conhecida dele, que foi gravado por muita gente é Você vai Gostar, Casinha Branca, foi gravado por Sérgio Reis, Almir Sater, Cascatinha Inhana, por muito mesmo, acho que mais de 80 gravações, mesmo. Foi uma música interessante que deu coragem a nossa proposta, que deu incentivo, que foi justamente a gente pegar, essa música era um baluarte né e trazer esse estilo musical da gente que é a marchinha carnavalesca. A gente podia até mostrar ela aí pra vocês, essa versão que a gente fez. 09’:20” a 10’:40” – cantam Casinha Branca 12’:00” a 13’:50” - cantam Casinha Branca 14’:48” a 16’:38” – cantam Casinha Branca 17’:26” a 19’:19” - cantam Casinha Branca 19’:26” a 21’:07” – cantam música deles (Beatriz) 21’:28” a 24’:03” - cantam música deles (Beatriz) 24’: 56” a 27’:19” – cantam música deles (Estrambelhado) 29’:07” a 31’:34” - cantam música deles (Estrambelhado) 175 ENTREVISTA: Alessandro Pereira – Professor de História da música. Qual o contexto histórico da época em que Elpídio nasceu? 0h01m44s: Bom, no final do século XIX e começo do século XX, a música brasileira era tida pela alta sociedade, pela camada mais alta da sociedade, como uma música menor. Frente a música européia. Dos grandes compositores europeus. E a música brasileira como era uma mistura de ritmos africanos e ritmos indígenas, de instrumentos indígenas e de instrumentos africanos e também a cultura européia. Era tido como música de malandro. Música da malandragem. Quem era violinista era malandro. Era boêmio. E era visto como uma... não com muito bons olhos. Só que a música na época era muito... desde o começo a música brasileira já é uma coisa que você sente, que você ouve e quer sair dançando. 0h03m08s: E até existe uma história que... enquanto os músicos andavam pelas ruas fazendo as serestas e serenatas, as mocinhas de casa ficavam dançando escondidas dos pais em casa. Mostrando assim que a música brasileira começa a invadir as casas. Das ruas pra casa. E tem uma história interessante do Ernesto Nazaré, grande compositor brasileiro, que ele compunha choro, batuque, enfim, todos os ritmos brasileiros, só que ele dava o titulo da música (por exemplo) Tango brasileiro! Que era mais bem visto pela sociedade. Um Tango brasileiro, do que um batuque, um maxixe, enfim, de um ritmo que era comum, ou seja, era uma época de muito preconceito. 0h04m08s: E o Elpídio nasce nessa época. E acho que a cultura em São Luiz também refletia muito isso também, nessa época. Enfim, e o desenrolar da história da música é a partir desse momento, a partir de 1910/1915, ela começa a mudar. Com a era do rádio a música brasileira começa a ser mais aceita pela sociedade. E eu acho que o Elpidio, ele nasce num momento que a música brasileira é um pouco mal vista, mas no decorrer da sua vida, da sua infância e adolescência, a música brasileira ganha mais status. Tanto é que na década de 30, 40, 50 a música brasileira tem seu auge com seus grandes cantores, com seus grandes... enfim, as rádio tocando os compositores brasileiros, ai temos uma enormidade de compositores como Pixinguinha, enfim, Garoto que o no violão no caso, tocando na rádio. (AQUI) E eu acho que o Elpídio vem dessa cultura. Dessa cultura muito do rádio. Ele aprende muito ouvindo rádio. A cultura musical da época era pelo rádio. E a 176 rádio tocava muita coisa boa. Muita coisa boa brasileira. Que a música brasileira passa a ganhar um novo status a partir de então. Musica popular brasileira. Que até então era muito mal vista pela camada mais rica da sociedade. 0h06m10s. Como foi o inicio da carreira de Elpídio? 0h06m14s: Bom, o Elpídio começou a estudar em São Luiz do Paraitinga. E ai depois ele começou a estudar em São Paulo. E depois volta pra cá, pra região, inclusive lecionou aqui na escola Fêgo Camargo. Foi parceiro do maestro Fêgo Camargo. 0h06m39s. (Entrevista Interrompida - microfone). Vamos voltar na pergunta do inicio da carreira. 0h07m07s: Elpídio teve a formação maior aqui na... assim... o começo de sua formação foi aqui na região. Enfim, São Luiz, Taubaté, as cidades... as cidades vizinha daqui da região. E assim, como todo músico aqui da região, assim, é muita mais na raça do que na técnica. Muita mais na vontade de querer tocar ou querer aprender, do que propriamente com professores, vamos dizer assim. Até pouco tempo atrás era muito assim ainda. (...) A educação musical era muita centralizada em São Paulo. Isso falando até a década de 80, 70, assim, era muito em São Paulo. Então imagine por ser na década de 20, querer estudar música em São Luiz. Devia ser uma complicação porque assim, era tocando com as pessoas que você aprendia. E era o que acontecia na maior parte da cultura popular, da música popular. Não era uma coisa assim de escola: Você entrava em uma escola pra aprender a tocar. Como você aprendia a tocar então? Era tocando com que tocava mais que você. Então Elpídio certamente teve essa convivência com músicos que tocavam, assim, a noite e ele participava desses saraus, serestas, enfim, roda de choro, que muito músico do Brasil começou tocando assim. Tocando em roda de choro. Ou seja, sentava no bar, no boteco e começa a tocar. Ah to com vontade de tocar! E Começa a aprender ali, tocando mesmo né. 0h09m18s: E provavelmente Elpídio teve esse contato com músicos da região, que fizeram com que ele tocasse junto com esses músicos. E depois é claro, ele foi pra São Paulo e lá sim ele teve uma formação mais sólida. De música. Aprendeu realmente a linguagem musical em todos seus aspectos, 177 desde a escrita musical, até enfim... de composição mesmo. Muitas das obras que eu estive analisando do Elpídio, ele... dessa época: mais ou menos 1950, 1940 e alguma coisa. Ele tá muito dentro de uma estética das músicas feitas pro rádio. Ou pra roda de choro. Ele compunha muita coisa pra, por exemplo: clarinete, violão ou violão solo, enfim, ou canções pra serem acompanhadas pelo grupo de choro, que é um grupo pequeno. Violão, clarinete, flauta, um pandeiro. Esse é o grupo básico da música popular da década de 40, 50, mais ou menos. Isso que se fazia em pequenas reuniões ou pequenos... em bares, alguma coisa assim. E já na rádio, já possuía uma coisa de mais orquestra. Ai começa a surgir a orquestra pra acompanhar os cantores de música popular brasileira. E o Elpídio está dentro, porque ai nessa... um certo período ele começa a compor trilhas sonoras. Que já exige um pouquinho mais de elaboração na questão técnica de música. Enfim, conhecia instrumentos de orquestra, fazia arranjos, enfim, elaborar toda uma produção pra uma trilha sonora de um filme. Que no caso os filmes de Mazzaropi. 0h11m50s: E tudo isso, pra gente ter uma ideia, é uma coisa assim que o Elpídio, penso eu, que ele aprendeu muito mais fazendo do que enfim, estudando. Vamos dizer assim né. É um músico prático. 0h12m14s ... Acaba a bateria da câmera e ele volta a falar... 0h12m26s: A formação de um músico, por exemplo, na época era uma questão mais prática do que teórica. Então não se estudava... não é que não se estudava música... estudava! Mas a formação vinha mais do “fazer” do que nas informações teóricas em sala de aula. Mesmo porque o ensino da música no Brasil tava começando ainda. Tínhamos poucas instituições dedicadas ao ensino da música, na década de 30, 40. Então, quando a pessoa queria aprender era tocando ou, enfim. Ah, você tem que fazer um arranjo, porque a gente tem que tocar aqui na casa de fulano. Ele ia lá e fazia o arranjo e elaborava toda uma estratégia pra convencer, enfim, pra fazerem as pessoas dançarem e se divertirem. 0h13m32s: Nessa época em Elpídio surge na música, quais eram os outros artistas que faziam sucesso na região e no Brasil? 178 0h13m43s: Então, aqui na região a gente tem uma grande quantidade de pessoas que nessa época estavam despontando. A gente tem o próprio Fêgo Camargo, que é o fundador aqui da escola municipal. E temos também (...) esse foi realmente uma celebridade na época, que é o Dilermando Reis. É um caso assim muito especial, principalmente pra quem toca violão, pra quem, enfim, gosta de seresta. Por quê? Por que o Dilermando, ele acompanhou os principais cantores da época. Era a estrela principal dos grandes artistas e dos grandes cantores, Francisco Alves. Todos esses cantores da época chamavam o Dilermando pra acompanhar as suas apresentações. E foi também muito importante porque além de tocar muito bem e lecionar. (...) Ele foi muito importante porque ele... ele foi professor do Juscelino Kubishek. De violão. Então imagina o Lula hoje tendo um professor de violão. Ia ser um rapaz famoso. Ainda mais na época... O Lula não, mas o Fernando Henrique talves tivesse um gosto melhor. (risos) Mas então, o Dilermando ele foi muito famoso na época, e eu acho que essa figura do Dilermando, ele meio que apagou um pouco os músicos daqui da época. Enfim, todo o interesse das pessoas se voltavam para o Dilermando. É uma coisa de fama mesmo. Tava aparecendo mídia e enfim. Não que fosse bom. 0h15m54s: Eu acho que o Elpídio fica um pouco na sombra. E os outros artistas também ficam um pouco na sombra do Dilermando Reis. Pela dimensão que ele teve, esse artista aqui na região. Bom é isso. 0h16m13s. Qual foi a contribuição de Elpídio para a música da região e nacional? 0h16m19s: Nacional. Estive vendo vários livros de história da música. Bom, a história da música no Brasil ainda é uma coisa muito precária. Merece muito mais atenção do que foi dada até hoje, por quê? Por que a história da música no Brasil, ela privilegia os principais compositores, ou seja, os grandes nomes. Se estuda muito os grande nomes e essas figuras regionais ainda estão sendo descobertas. E esse descobrimento vem muito dessa pesquisa que existe na pós-graduação brasileira de música. Que vários pesquisadores de mestrado, eles estão começando a resgatar essa enfim... Na minha região eu tenho um músico que eu gostaria de falar sobre ele. E essa pesquisa começa a trazer pra história da música do Brasil esses nomes que ficaram até pouco tempo desconhecidos. Que o caso do Elpídio dos Santos. 0h17m43s: Pra grande história da música do 179 Brasil, não existe material nenhum sobre ele. Não existe documentos (...) Não existe autor da história da música que se refira a Elpídio dos Santos. Como também não há autores que refiram muito a Dilermando Reis. Enfim é uma coisa que está ainda sendo descoberta. Então pra música nacional o Elpídio tem uma participação muito pequena. A não ser pelas trilhas sonoras dos filmes do Mazzaropi. Mas a música instrumental dele, ou mesmo as canções, tem a canção dele mais famosa que a Casinha Branca. Mas grande parte da obra de Elpídio está sendo descoberta agora. E eu acho bacana a ideia do Instituo lá, de consolidar e de resgatar realmente e de falar: Temos um compositor! É o que eu acho que toda cidade deveria fazer na região. Montar um museu ou um instituto, ou uma escola de música com o nome de uma personagem da história música da sua cidade. 0h19m24s: Porque pra região esses artistas são importantes. Tanto na formação de outros músicos quanto na formação de público pra música. O Elpídio teve uma importância muito grande nesse aspecto. Essa coisa de formar pessoas de deixar um legado pra sua região. 0h19m46s: Ou pra sua cidade, ou pro seu bairro. E a gente tem muita gente boa que a gente não conhece aqui na região. E o Elpídio faz parte dessa ainda, vamos dizer, claro que já não é mais os anônimos mas com esse resgate eu acho muito importante ele ocupar o lugar que ele merecer, tanto aqui na região quanto na história da música do Brasil. Porque não é qualquer um que ia fazer as trilhas sonoras dos filmes do Mazzaropi. O Mazzaropi sendo assim um produtor de filmes, ele tinha condições de contratar muitos músicos (...) os melhores músicos. E ele procurou Elpídio. Por quê? Por que era uma pessoa que ele confiava pra fazer a trilha sonora de seus filmes. Então acho que ele merece uma certa importância. Até pra quem é estudante de música assim, é uma grande oportunidade pra fazer um trabalho realmente, assim, uma análise muito profunda da importância da música do Elpídio ou da importância da parceria dele com o Mazzaropi. São todos os assuntos que rendem livros. Que muita gente ia gostar de ler. 0h21m22s Como você define o estilo musical de Elpídio dos Santos? 0h22m08s: Então, o estilo musical de Elpídio, da musica de Elpídio vem dentro da estética do que tava acontecendo na música popular brasileira. Era a coisa do choro, da seresta. (...) Sempre tem um tom de malandragem, porque choro 180 resgata, tem esse espírito. Se não tiver esse espírito não é choro. Ou se não for muito cantado, declamado, chorado não é seresta. E se não tiver um pouquinho de saudade também não toca... no saudosismo das pessoas. Essa coisa bucólica. Tudo isso faz parte do espírito da música brasileira nessa época. A gente sempre pega por exemplo, músicas do Pixinguinha e os títulos muito interessantes: Segura ele! Enfim são todas coisas que na época do choro, ele evoca muito. Essa coisa do malandro, enfim. E a seresta evocava coisa da emoção, do amor. Uma coisa mais lírica. 0h23m52s: E o Elpídio ele está inserido dentro desse contexto. (...) São linhas melódicas muito bem construídas. Longas. Que vem de uma tradição nossa, que pode ter um pouquinho da coisa da ópera italiana. Que era muito lírico, muito... lírica mesmo. Muito doce. E tudo isso faz parte das canções do Elpídio. Trata-se de um... linhas melódicas muito bonitas. Acompanhado por harmonias. Ao mesmo tempo que são simples mas que ajudam, que realçam a melodia. Que não roubam a cena da melodia. E é isso que tinha muito na época. Uma harmonia não tão elaborada, mas uma... Por quê? Porque queria realçar assim a linha melódica. Os choros pra clarinete, pra vários instrumentos também estão inseridos dentro contexto da música brasileira no choro que se fazia na época. A estrutura era toda a mesma do que se fazia, pois não poderia se fugir muito, porque se não, não seria o choro que as pessoas queriam ouvir. A estrutura assim né. 0h25m55s: Então a obra do Elpídio, vamos dizer, não traz nada de novo, mas ela consolida muito os aspectos da cultura brasileira. E em especial da cultura do Vale do Paraíba. Muita coisa (...) ele tem uma música chamada “Dança de São Luiz do Paraitinga”, um música muito interessante pra violão solo. Enfim, tem toda uma série de músicas que retratam bem a nossa cultura. Aqui da nossa região. 0h26m30s: Quais eram os estilos que ele compunha? 0h26m35s: Era choro. Choro, samba, seresta, canção. Samba não! Porque assim, o samba veio do choro. Então na época do Elpídio, ainda o samba estava começando e o choro era o que... né... Era choro, batuque, maxixe, todos esses ritmos são ritmos que faziam parte do repertório dos compositores e inclusive do Elpídio. 0h27m10s. 181 Quando Elpídio começa a fazer sucesso? 0h27m13s: O Elpídio começa a fazer sucesso na... Depois que ele volta de São Paulo ele leciona aqui na região, ai é procurado pelo Mazzaropi pra fazer as trilhas sonoras. E a partir daí eu acho que a... enfim... reputação de Elpídio cresce muito. A coisa de fazer as trilhas sonoras pros filmes do Mazzaropi. Então acho que a parti daí que começa uma... brilhante carreira de Elpídio. 0h27m54s: A época em que Elpídio vai para São Paulo foi crucial para carreira dele? 0h28m03s: Sim! Teve a formação mais prática, talvez que ele tenha tido aqui na região, ela foi consolidada em São Paulo com um estudo mais metódico, mais teórico de algumas questões musicais. Então foi excelente pra ele... enfim... Amadurecer algumas ideias que ele tinha e ter contato com outros músicos também de lá. Enfim, acho que foi uma fase que ele amadureceu muito como músico. Consolidou algumas questões importantes em aspectos técnicos da música pra ele. 0h28m57s: E depois dos 100 anos de nascimento de Elpídio, ele ainda vive em trilhas de novelas com Casinha Branca em Paraíso. Como você considera o nome de Elpídio vivo até hoje? 0h29m15s: Uma coisa natural pelo talento dele. Uma coisa que, seria de se estranhar que ele não fosse reconhecido e que ele não seje mais reconhecido ainda daqui pra frente. (...) Principalmente... Muita gente... Na verdade o que se precisa resgatar esses grandes nomes da música pra quem é jovem. Porque pra quem é mais já experiente eles conhecem. Conhecem Dilermando Reis, conhecem Pixinguinha, conhecem todos esses artistas, conhecem Elpídio. Já ouviram falar de Elpídio. Quem mora aqui em Taubaté é claro que já ouviu falar de Elpídio. Quem mora em são Luiz é obvio também. Mas eu acho que as pessoas mais jovens elas não conhecem. A cultura musical brasileira que morreu. Eu falo isso, não em sentido do Elpídio, mas muita coisa maravilhosa que produzimos no começo do século XX até a década de 50, pelas pessoas mais jovens ela foi praticamente esquecida. E dentro dessa quantidade enorme 182 de compositores está o nome de Elpídio. Então não é de me estranhar que agora comesse um resgate e que é muito bom estar na novel das seis, enfim, que novela que for, porque é importante que as pessoas mais jovens conheçam essas grandes raridades dos nossos antepassados. Uma cultura que não podemos deixar morrer. Que faz parte da nossa alma como brasileiros, esses grandes compositores. Então eu acho muito importante sempre, quando for possível fazer apresentações com esse tipo de música, ouvir esse tipo de música e se interessar por esse tipo de música. Existem milhões de músicas lindas, Casinha Branca é um exemplo disso. E com certeza se a gente pegar a música de Elpídio e tocar um por uma, cada uma vai ter uma beleza especial. Não é só casinha branca que ele compôs. Então tem muita coisa ainda a ser descoberta assim... pelas pessoas, pelos músicos em geral, da obra de Elpídio e de outros tantos compositores brasileiros ainda um pouco anônimos pras novas gerações. 0h32m30s: RENATO TEIXEIRA: Qual a importância dele (Elpídio) para a nossa música? Renato: (TC: 6‟40‟‟) “Uma capacidade de criar vários gêneros musicais com a mesma delicadeza, com a mesma... com o mesmo talento, com a mesma... Mas Elpídio é Elpídio. Eu, quando ouço uma canção do Elpídio eu penso assim: Parece que eu to andando de charrete, entendeu. Charrete é um dos transportes mais simbólicos do que a vida no interior. Então eu acho que o estilo do Elpídio é o estilo charrete. E Elpídio é um mestre. Quem procura conhecer a música brasileira e não passa por Elpídio, realmente não vai fazer o trajeto completo, porque ele é muito, muito, muito importante. E Ele é muito, muito, muito, muito talentoso.” ZÉ GERALDO: Qual a importância dele (Elpídio) pra nossa música, pra nossa cultura? Obs: Aumentar áudio do microfone dele e diminuir do som ambiente. Tem como? Zé: (TC: 17‟23‟‟) 183 “Olha, acho que é um cancioneiro muito rico, muito forte, que a família, principalmente a cidade de São Luiz tem que preservar, para que nossas futuras gerações também tomem conhecimento de uma obra tão bonita, muito rica que merece sempre ser exaltada.” MARIANA BELÉM: Qual a importância dele (Elpídio) para a nossa música Suzana? Mariana: (TC: 23‟34‟‟) “A minha mãe fala que ele traduz o cotidiano do interior do Brasil como ninguém. E eu estudando e ouvindo cada vez mais tenho mais certeza disso. Então é lembrar de não esquecer as nossas raízes e essas coisas lindas que ele canta que você pode sentar, fechar o olho que você pinta um quadro com o que ele ta cantando. Essa é a importância. Ele é o interior do Brasil.” FAFÁ DE BELÉM: São cem anos de história Fafá. Na sua opinião, qual a importância dele (Elpídio) para a nossa música? Fafá: (TC: 06‟59‟‟ – Título 2) “Olha, o Brasil felizmente está resgatando os seus cantores. Os cantores que cantaram este país. Que são os grandes compositores. Quem cantou este país foram os grandes compositores, que criaram canções para que nós cantores pudéssemos cantar. E eu acho que foi tanta, tanta massificação de coisa ruim, é tanto lixo que é jogado nas rádios, é tanta banalização da mulher, vulgarização do corpo feminino, da relação afetiva, que o jovem brasileiro encheu o saco, e começou a buscar o “Que País é Esse”. Então essa descoberta, por exemplo, da zona sul do Rio, a descoberta da Lapa, essa garotada mais jovem cantando samba de raiz, compositores históricos, eternos, eu acho que Elpídio vem junto com essa redescoberta do Brasil.” ENTREVISTA: GABRIEL SATER O que você acha da obra de Elpídio dos Santos? 184 0h00m08s: Magnífica! Elpídio foi o compositor que tem que ser cada vez mais tocado e gravado. Por sua importância maravilhosa como compositor. Eu conheci ele há alguns anos né, que eu conheci o Negão, por conhecer essa obra. Essa vasta obra que continuo a conhecer. Então tem me influenciado sim, de uma maneira muito bacana. Porque a partir do momento que eu comecei a tirar os choros do Elpídio, pude reparar um lado diferente dele né, que eu conhecia mais o lado das canções. Que é maravilhoso pela sua simplicidade, ao mesmo tempo da complexidade de melodias do vocal. Só no meu show eu pude ver a complexidade dele na parte instrumental que também é bem complicada e linda ao mesmo tempo. Então eu acho que a complexidade dele é tão grande como qualquer outro compositor como... até posso dizer assim humildemente, Heitor Vila Lobos, porque não né?! Radamés Gnattali, Guerra Peixe. Acho que é um compositor de tão grande importância quanto qualquer outro. E tem que ficar na história. Cada vez mais nós temos que eternizar esse compositor maravilhoso. 0h01m09s. Você já tocou Elpídio dos Santos? 0h01m15s: Então. Eu conheci Elpídio através do Negão, como eu tava comentando, uma relação maravilhosa. E o Negão começou a me mostrar esse trabalho dele, a conhecer, a me aprofundar e comecei a tocar alguns clássicos do Elpídio como “Você vai gostar”, até porque meu estado tem muita similaridade na parte de ritmo. Por exemplo, três por quatro, e Elpídio na “Você vai gostar” é três por quatro também. Então já começa por essa identidade. Eu já gostei. Já é uma música eternizada. Várias pessoas já gravaram. Então eu fiquei muito curioso em fazer o meu arranjo nessa música. Até espero gravá-la no meu próximo CD ou DVD, junto com o Negão participando com a a gente claro! 0h01m53s: Tirei também “Dor da Saudade”, que é um clássico de Elpídio. Muita gente do meu estado não conhecia. Então como eu toco num meio mais Mato Grosso do Sul Centro oeste, comecei a levar um pouco dessa cultura do Elpídio pra lá. E as pessoas aceitaram de uma maneira incrível. Assim como a “Sertanejinha” que tem essa mesma ideia do ritmo. Então acaba me influenciando. Não tem como! Então acho que esse processo tá sendo gradativo, agora que eu tô tendo 185 oportunidade de tocar mais com o Negão, com o Paranga. Que eu to podendo conhecer mais, assimilar mais essa obra e acaba que influencia muito pra mim. Porque como eu já disse: Ele tem uma forma de colocar as melodias, de uma forma muito rica, de colocar essas melodias. Tanto na voz quanto no instrumental. 0h02m35s. Qual a importância de Elpídio dos Santos na musicalidade da região? 0h02m52s: Muito importante! Muito importante! As pessoas têm que cada vez mais ter essa consciência e respeitar ainda mais. E como alguns artistas daqui já estão fazendo, tem que gravar cada vez mais. Porque eu acho, quanto mais gravar Elpídio, mais vão estar falando Elpídio. E isso faz o que? Que a obra dele se eternize né. Que o legado dele seja mais conhecido. E ele merece esse respeito, como eu já disse, pela qualidade dele, pela composição. Como diz o Negão: Tocava diversos instrumentos, arranjava pra banda inteira. Quer dizer, era uma pessoa fantástica! Tem que ser lembrada. É um dever do Vale do Paraíba. E eu como uma pessoa de fora, chegou a pouco tempo aqui em São Paulo, sou do Pantanal. Vejo que é um dos maiores representantes do Vale do Paraíba. Da cultura do Vale. Tanto é que eu chamo o Negão de Príncipe do Vale do Paraíba. 0h03m37s. Qual á a sua relação com a família de Elpídio? 0h03m42s: Olha, sem brincadeira alguma. Pra mim o Negão é como um pai. Graças a Deus, desde que eu cheguei aqui o Negão me recebeu de uma forma incrível mesmo. Sem mentira, é uma pessoa que eu amo de coração. Ele, a Renata, os filhos, o João Gaspar também, que é um menino de ouro. Enfim é uma família... Vó Nira, lógico! Toda a família, as irmãs, me receberam de uma maneira muito carinhosa. E eu tava chegando em São Paulo meio assustado com aquela movimentação toda. Eles me receberam de uma maneira incrível, me senti em casa. Nesse primeiro contato me senti em casa mesmo. E a partir disso nossa relação só foi melhorando. Eu tive a oportunidade de tocar com ele em diversos shows. Ele me deu a honra de me acompanhar no meu show solo. Eu tenho a minha carreira solo, sempre me acompanha, me dá essa colher de chá. 186 Que só enriquece o show. E todo mundo que conhece Negão dos Santos ama ele! Isso é uma coisa que é um fato. Então eu acho que a pessoa do Negão, quando você olha pra ele e vê ele tocando também, você já vê aquela alma iluminada que é o Negão. E a família é a mesma energia. Todo mundo ali é muito abençoado. E espero sempre fazer parte dessa família também e da minha humilde maneira poder contribuir levando Elpídio para outros lugares onde as pessoas não conhecem. Porque não querem né! Porque deveriam conhecer! 0h04m53s. Como você conheceu o Negão e a Família Santos? 0h04m58s: Um certo dia, viajando com Chico Teixeira em 2006. Fui fazer um programa de TV com o Chico e encontrei o Negão pela primeira vez, através do Chico Teixeira. Queria me apresentar já fazia tempo... Olha, toca muito, tem que conhecer, sobre o Elpídio já me falavam há muito tempo. E quando eu conheci o Negão foi muito engraçado, porque foi uma química na hora. A gente começou a tocar junto antes de começar o programa, passou só brincando, do meu repertório ele já acompanhava tudo. Teve o show dos tradicionais, dos tangos que eu já toco. Mas as músicas da minha terra também, os Chamamés, as Polcas, ele já incorporou com o estilo dele. Veio tocando comigo de uma maneira muito criativa e com muita presença, muita energia. Então aquilo na hora me cativou. Negão! Me dá uma colher de chá, toca comigo também?! E aquilo se tornou uma amizade que só foi crescendo e ele... No começo o Negão me pegava no carro dele mesmo e me levava pra vários programas de TV pra me divulgar. Nessa minha chegada no Vale. Então, puxa, eu devo muito ao Negão. Vou sempre ter essa divida moral com ele e espero da mesma forma poder retribuir esse amor que sempre me deu. Como eu falo, tenho ele como um pai mesmo. 0h06m04s. E deu certo essa influência do Pantanal com o Vale do Paraíba? 0h06m08s: Com certeza, essa fusão tem tudo a ver. Como eu já disse, o Elpidio tem essa influencia rítmica. Então é muito bacana. 0h06m14s. 187 Qual a sua relação com a família Santos? 0h06m30s: Primeiramente de grande admiração. Sou fã da família Dos Santos. Da Vó Nira, das irmãs do Negão, do Negão que foi a primeira pessoa que eu tive a graça de conhecer e já me cativou no primeiro instante. E com isso eu tive o prazer de conhecer Dona Renata, João Gaspar, o Caio, a Lya. Enfim, uma família fora do comum. Tenho muita sorte de Deus ter me colocado nesse caminho onde eu pude conhecer certas pessoas como a família Dos Santos. E eu fico mais que lisonjeado de poder fazer parte às vezes de eventos com eles. Ou simplesmente de certas reuniões familiares. E me sinto muito bem, até porque eles carregam uma história maravilhosa. Então isso ae... A maneira em que eles levam essa história é algo pra se aprender. Eu espero aprender um pouco de como eles levam essa história pra poder também levar a minha, da família Sater. 0h07m23s. ENTREVISTA: JOCA FREIRE O que você acha da música de Elpídio dos Santos? 0h10m49s: Que que eu acho do Elpídio? O Elpídio é um dos compositores mais importantes do Brasil, eu acho. Da nossa região sem dúvida o mais importante. Não só pelo destaque que ele já teve, mas pela importância da obra dele, pela diversidade da obra dele né. 0h11m06s. É uma obra que você gosta? 0h11m08s: Sim! Como eu poderia dizer. Muita gente tem aquela Ideia, como eu tinha também, que o Elpídio dos Santos era um compositor de música caipira, de música regional da melhor qualidade por sinal. Mas que era mais restrito a isso. E Não é. Ele tem sambas, tem valsas e outros ritmos também. Uma diversidade muito grande. E rica. Infelizmente nesse nosso país as pessoas acabam ficando esquecidas. Não tem o devido destaque. A não ser. 0h11m43s: Tem uma música dele que é “Você vai gostar” que foi gravada por vários artistas ai, de sucesso, de 188 mídia né. Então essa música acaba sendo bastante conhecida. Mas acho que toda obra dele tinha que ser. mostrada e ressaltada. 0h11m59s. A obra de Elpídio dos Santos influencia a sua música? 0h12m08s: Diretamente eu acho que não. Eu nuca fui de... Na minha formação eu não tenho Elpídio dos Santos de uma maneira forte. Não ouvi pra caramba Elpídio. Mas um pouquinho. Pelos filmes do Mazzaropi. (...) Alguma coisa vai ficando, vai entrando... um pouquinho acho que tem sim. Acho que influenciou sim. 0h12m27s. Esse pouquinho, do que você fala? 0h12m29s: Eu acho que é a parte... Que eu sou mais voltado pro samba, pra Bossa Nova. Até falo, sou aqui do Vale do Paraíba, mais a minha música é muita mais próxima do Rio de Janeiro do que da nossa região. Mas eu tenho algumas coisas com o pé aqui na região, porque no sotaque musical nosso, eu acho que isso ai seria uma influência dele. Indireta talvez. 0h12m54s. Você o admira, conhece a história dele? 0h13m04s: Sim, admiro muito. 0h13m11s. (PEDIU PRA CORTAR A GRAVAÇÃO). Qual a importância de Elpídio dos Santos na musicalidade da região do Vale do Paraíba? 0h13m41s: Eu acho que ele influenciou muito todos os músicos da região. Se você pega o trabalho do grupo “Rio a cima”, você sente uma influencia dele, do Nilton Blau. O Paranga principalmente, que é dos filhos dele né. O Negão que hoje, e a Renata que estão ai com o Paranga. Divulgam a obra dele. Mas eu acho que influência dele aqui da região é muito forte. Quer dizer, o legado que ele deixou pra cidade de São Luiz... São Luiz é uma cidade que tem sua música própria né. O carnaval de marchinhas é espetacular. Isso é uma semente que ele 189 plantou. Isso ai é fruto dele né. Então acho que, vai adiante. Através do Paranga foi se renovando e chegando até os nossos dias ai. Ou seja. Porque a marchinha de São Luiz tem uma característica própria né. É uma marchinha muito peculiar. Excelente. Eu já gosto de marchinha carioca. Do carnaval carioca. Mas a de lá é fantástica. 0h14m43s: ENTREVISTA: NANDO LUZ Como você conheceu Elpídio, já que você não é da nossa região? 0h07m32s: Pra ser mais exato, eu conheci a obra de Elpídio dos Santos na década de 80. Numa cidade chamada Vitória da Conquista na Bahia. Que me chegou pelo primeiro trabalho do Paranga. Que era um disco gravado pelo selo “Lira Paulistana”. Um selo de São Paulo né. Ai eu fiquei encantado. Porque é um compositor assim fabuloso né. Um compositor que eu considero assim do naipe de um Dorival Cayme, que é baiano, de um Luiz Gonzaga. Com essa expressão. (...) Abrangente e é uma coisa bem brasileira. 0h08m10s. Como o seu trabalho foi influenciado por essa musicalidade de Elpídio? 0h08m16s: Olha, eu comecei compor depois do tropicalismo. Em me defino com um pós-tropicalista. Então a influência muito marcante na minha música é de Caetano, Gil, Jorge Marshel, eu faço música mais urbana, mais pop. Mas como eu estou te falando anteriormente, o Elpídio fez um trabalho tão bem feito, um trabalho tão versátil. Que ele transitava em vários estilos. Compunha pra choro. Compunha entoada. Xotes, marchinhas que tem muito a ver com São Luiz do Paraitinga. E eu tenho amigos músicos que sempre estão tocando músicas de Elpídio. Estou fazendo coisas, estão gravando coisas de Elpídio. De certa forma influencia todo mundo. Toda uma geração né. Através também dos filmes de Mazzaropi, que foi aquela coisa também que chegava pra gente através do cinema. De uma certa forma tá influenciando todo mundo né. 0h09m07s. Como você definiria a importância de Elpídio para música regional e para a música nacional? 190 0h09m16s: Como eu definiria a importância de Elpídio? É como eu te falei. Uma importância de um Cayme, de um Chico Buarque de Holanda né. Eu acho bacana esse trabalho que o Negão e a Renata fazem de estar resgatando esse trabalho dele. Tá dando continuidade numa obra tão maravilhosa, numa obra tão extensa. Que ele é um compositor (...) Acredito que ele tenha mais de 3 mil músicas, vi alguém comentando sobre isso, então é um compositor riquíssimo. Então eu acho que é muito... pode voltar? 0h09m47s. (PAROU DE FALAR) 0h09m53s: Então, pra música brasileira em geral é de uma importância fundamental. (...) Está no mesmo naipe de Cayme, de Chico, de Pixinguinha. E ao longo do tempo tá influenciando outras gerações e tudo né. Por exemplo, eu sou um compositor baiano que ouviu Elpídio na Bahia. O Gabriel Sater que é de outra geração também já está dando continuidade as coisas de Elpídio. E isso é bacana, muito legal! 0h10m19s. Você já gravou ou tem vontade de gravar alguma coisa de Elpídio dos Santos? 0h10m24s: Não, ainda não! Porque o meu trabalho atualmente tá muito focado na coisa pop. Como se diz, de rock and roll, uma coisa mais urbana. Né. Mas eu ainda pretendo fazer um trabalho assim. Mais lírico, mais voltada, com sonoridade mais acústica. 0h10m41s. ENTREVISTA: SÉRGIO REIS Quando você conheceu a música Casinha Branca (Você vais gostar) de Elpídio dos Santos? 0h00m19s: Lá no pé da serra. Bem, a gente vem do sertanejo há muitos anos. Eu com dez anos já ouvia sertanejo. Ganhei uma viola do meu pai. Curtia Tonico e Tinoco. Essa música é um clássico e o meu produtor é o Tony Campelo, filho de Taubaté, cidade vizinha aqui. Então todos esses clássicos que eu gravei, tudo isso foi seleção de Tony Campelo. Ele que pesquisou, ele que foi atrás. Isso aqui 191 vai ficar bonito na sua voz, essa vai também. Essa aqui nós atingimos tal público, essa aqui é como se fosse uma seresta. Chalana é pra fronteira. Chico Mineiro é pra Minas. E ai nós chegamos no querido e saudoso Elpídio dos Santos. 0h01m00s. Você conheceu Elpídio? 0h01m02s: Não. Não consegui. Não cheguei a conhecê-lo. Não tive assim, amizade de chegar. Conhecia mas não deu tempo de conversar muito, o que é uma pena! 0h01m10s. Qual sua relação com a música da região? Essa mistura de ritmos. 0h01m18s. Eu acho importante. Eu acho importante porque nós estamos perdendo os compositores antigos que fazem os grandes clássicos. Tanto quanto Elpídio: (Canta) Fiz uma casinha branca lá no pé da serra pra nós dois morar! São histórias bonitas. Gente um momento de silêncio que estou gravando aqui, por favor! (grita para as pessoas). 0h01m39s: Eu acho muito importante a gente fazer isso pela cultura da nossa música porque não morre! Os compositores antigos estão morrendo. Estão indo. E os novos não têm capacidade de fazer, porque não tem essa cultura. Têm muitos ainda da roça que fazem esse tipo de música, mas é difícil chegar no artista. E hoje a moda é as novas duplas cantarem o romântico, o dueto. Então os interpretes que podem fazer isso: Rolando Boldrin, eu. 0h02m09s: ENTREVISTA: ZECA BALEIRO Na sua opinião o que representa Elpídio dos Santos pra música popular brasileira? 0h38m10s: Uma coisa que a gente tá começando a descobrir agora né. Por que a obra do Elpídio é uma obra muito anônima ainda. Ela é muito pouco conhecida. Tirando “Você vai gostar” né, que é uma canção quase de domínio público, já teve várias regravações e tal. Todo repertório dele ainda está muito oculto assim, 192 uma coisa assim muito... De conhecimento de muita pouca gente. Então... Mas eu acho que era um cara pioneiro assim. Ele era um cara que pô, começar a fazer... pensar que alguém fazia... sujeito do interior do São Paulo, fazendo música pra cinema, num tempo que a industria do cinema ainda era uma coisa incipiente, iniciando assim no Brasil. Já é por si só uma conquista né. E além disso um cara engenhoso, que compôs em vários gêneros. Tem uma parte ainda instrumental da obra dele que a família tá buscando resgatar. Uma coisa mais voltada pra choro, valsas. Então assim, um cara com uma obra vasta né. Abrangente, importante. E que não ficou restrito também só aquele universo da moda caipira, do universo caipira. Tem canções de amor, tem canções de apelo até mais universal. Então é uma figura... Uma figura no mínimo interessante. Ele é muito particular, com uma obra particular. E essas coisas precisam ser trazidas a tona. Precisam ser mostrada pras novas gerações. Fala-se muito que o Brasil é um país sem memória, então qualquer coisa que se fizer nesse sentido, um documentário, um show, um disco, um tributo... tá valendo! Porque trás de volta a memória das pessoas e ilustra a ignorância das pessoas a cerca desses grandes. Grandes escondidos, grandes mestres. 0h40m21s. Você mesmo falou que ele foi pioneiro, compôs em vários estilos. E você um artista tão contemporâneo também trabalha vários estilos, tem alguma ligação, se inspirou de alguma maneira no Elpídio? 0h40m35s: Bom, o Elpídio nasceu em São Luiz do Paraitinga? Então a semelhança é essa. Ele nasceu em São Luiz e eu também, só que eu nasci em São Luiz do Maranhão (risos). Eu acho que não tem. Mas a música é uma linguagem tão universal e tão abrangente que não precisa (...). Eu não posso te dizer que eu sou um profundo conhecedor, por exemplo, da música caipira, música produzida no interior de São Paulo. 0h41m00s: Mas na minha casa tinha discos de tudo, desde tango até cantores românticos da época como: Carlos Alberto, Alceu Gonçalves e tal. Até música caipira, então “Casinha Branca” (Você Vai Gostar), música da minha infância, minha mãe cantava, cantarolava enquanto fazia as coisas... os afazeres do dia e tal. Então são coisas que estão aqui, no imaginário das pessoas. A semelhança talvez seja essa: Compositor popular, aparentemente intuitivo pelo que eu sei. Um cara que tocava vários instrumentos 193 e tudo, mas com uma formação a principio intuitiva, auto de data. Eu sou assim também, quer dizer, não estudei música. Não sei se teve uma formação posterior na história de Elpídio, realmente não sei. E essa liberdade de poder fazer, transitar por vários gêneros, sem se prender, sem ser um especialista: compositor de samba, compositor de sei lá o que... de frevo. Eu gosto dessa liberdade! 0h42m11s: O que você achou dessa iniciativa de fazer essa homenagem aos 100 anos de Elpídio dos Santos? 0h42m20: Achei nobre. Nobre, bonito e merece nosso aplauso. Porque, como falei (...) até as pessoas que estão vivas e produzindo e tal, até nesse meio há tanta gente brilhante, genial e esquecida. Que você pega a obra de uma pessoa que já se foi como Elpídio tal, torna ainda o gesto bastante louvável assim né. 0h42m50: E é uma obra que eu acho que tem permanência né. Quer dizer, a gente viu ali a passagem de som, os arranjos, os arranjos modernos sem serem atualistas, modernosos, mas uma roupagem moderna. E que mostra que as canções têm atualidade, são canções atemporais que podem permanecer ai e ser regravadas por um nome popular. Podem cair na boca do povo. Quer dizer, essa coisa da canção é uma coisa que sempre me seduziu. Pensar na permanência. Pessoas que já se foram, às vezes há muitos anos e a obra permanece séculos a fora né. Isso é uma coisa bacana de imaginar. 0h43m40: Então acho que esse CD vai... esse CD, DVD, esse projeto todo vai trazer, vai lançar luz sobre a obra do Elpídio. 0h43m47. SONORA MARGARETE MACHADO Falando que a influência de Elpídio não ficou só em São Luiz... (40’30 a A influência de Elpídio dos Santos, não ficou só em São Luiz do Paraitinga. No meu Projeto Relembrando e Cantando eu trago canções de 50 anos atrás, faz parte do repertório três canções do Elpídio dos Santos. Então é uma influência muito forte o Elpídio, nas canções que a gente desenvolve neste projeto... depois cantam a música “Cai Sereno”. 194 44’:55” a A influência de Elpídio dos Santos não ficou só em São Luiz, ela veio para São José com muita força no meu projeto Relembrando e Cantando eu desenvolvo três canções Que foram compostas por Elpídio dos Santos. Nós vamos mostrar aqui algumas delas. Cantam “Cai Sereno”. AQUI NO CORAL VOCÊ ENSINA ÀS CRIANÇAS, MÚSICAS DE ELPÍDIO? COMO É ISSO? (47’:35”a 47’:58”) Ah.. pra mim é um prazer muito grande ensinar as canções de Elpídio, porque ele é daqui da região né? Próximo da gente, de São Luiz do Paraitinga. E eu tenho uma influencia muito grande, no meu repertório.desde os anos 80, já faz parte do meu repertório, as canções do Elpídio. Que eu conheci o grupo Paranga, que são todos filhos né, errou. 48’:06 a 48’:45” Na verdade Elpídio é tudo para formar um repertório, do jeito que eu quero né. Então nós temos três canções dele no repertório. Desde os anos 80, início dos anos 80, que eu estou nessa caminhada com o Elpídio, já conhecia o grupo Paranga, que são filhos do Elpídio. E de lá pra cá, nunca falta uma música dele no meu repertório. E a gora nesse projeto “Relembrando e Cantando”, mais forte ainda, porque são canções de 50 anos atrás. QUAL A IMPORTÂNCIA DE PASSAR UM POUQUINHO DE ELPÍDIO PARA AS CRIANÇAS? (49’:03” a 49’:20”) Eu acho que é muito importante, que as influencias aqui de fora trazem muita coisa que não precisa para as crianças. E as canções do Elpídio tocam no coração mesmo, tem muita poesia, é uma coisa singela, simples né. Eu acho que a importância do projeto é isso. É transmitir coisas boas, mensagens boas né. É essencial. Pra formação do caráter da criança mesmo, eu acho que é muito importante. COMO SURGIU ESSA IDEIA DE TRABALHAR COM AS CRIANÇAS AS MÚSICAS DE ELPÍDIO DOS SANTOS? (49’:38” a 50’:34”) 195 Eu acho que pela paixão mesmo, pela música do Elpídio, são canções tão bonitas que A gente não pode guardar pra gente né. Tem que divulgar né. E as crianças o interessante é que eles pedem as canções. Nos ensaios, normalmente eles pedem, ai vamos cantar o Cai Sereno, Casinha Branca. Então é muito importante acho que isso aí eles vão levar pra vida deles. Eles também vão transmitir pros seus filhos, netos e tal né, as músicas que eles ouviam quando criança. Tem música que, desse repertório, que eu ouvia quando criança, e eu trouxe para as crianças cantarem. E a mesma coisa, as músicas do Elpídio eu estou trazendo para eles cantarem, eles vão ouvir e vai ficar na memória deles e lá na frente com certeza eles vão lembrar. É UMA FORMA DE MANTER VIVA A MEMÓRIA DO ELPÍDIO? (50’:36” a 50’:40”) Com certeza. COMO VOCE VÊ A INFLUENCIA DE ELPÍDIO NA MÚSICA HOJE? (50’:44” a 51’:29”) É uma coisa assim que parece que está divulgando mais. Com esses 100 anos, o centenário de Elpídio eu estou sentindo que a mídia está se preocupando realmente que a gente tem que buscar lá atrás, trazer para a memória do nosso povo, que realmente é uma coisa que não pode perder, tem que ficar na memória porque são coisas muito boas e a gente tem que ir buscando o que é bom. VOCÊ ACHA QUE O QUE ELPÍDIO DEIXOU É ALGO VALIOSO? (51’:30” a 51’:40”) Fantástico assim. Fantástico pelo conteúdo, pela força que é as composições dele. QUAL É A RESPOSTA DAS CRIANÇAS AO APRENDEREM ESSAS MÚSICAS ( 51’:51” a 52’:30”) Olha é incrível mesmo, crianças assim de 5, 6 anos, eles cantarem e pedirem para cantar sabe? É só você ensinar que eles querem cantar e saem cantando, chegam em casa cantando. Vem mãe comentar que meu filho está cantando tal 196 música NE. Então isso para mim é muito gratificante é uma coisa assim que fica mesmo, eu me transformo mesmo nesse projeto. Eu sei que estou fazendo alguma coisa boa e sempre com a ajuda desses grandes compositores, entre eles Elpídio dos Santos. O QUE VOCÊ LEVA DE ELPÍDIO NO SEU TRABALHO? (52’:39” a 53’:11) Muita paz, muita poesia, muito bom. É uma influencia muito grande, muito marcante mesmo. Elpídio ele não está só aqui na nossa região eles extrapolou né. Agora tem os cantores mais novos, que estão gravando Elpídio. Então acho que a tendência, realmente, é não parar por aqui. QUAIS SÃO AS MÚSICAS QUE VOCÊ ENSINA AS CRIANÇAS? (53’:22” a 53’:57”) Olha, nesse repertório para as crianças eu tenho feito Cai Sereno, também conhecida como Rama da Mandioquinha. Você vai gostar, muito conhecida como Casinha Branca e a Dona do Salão também, vou ter que tocar para lembar. Dona do Salão, Cai Sereno e Você vai Gostar. E AS CRIANÇAS APRENDEM FÁCIL A CANTAR? (53’:58” a 54’:04”) Eles têm uma facilidade muito grande de gravar. 54’: 30 a 55’:00” Logo da camiseta com o nome do projeto Relembrando e Cantando.