pode me xingar até o osso, pois o leite já derramou. tenho plena consciência disso. não foi minha culpa, tentei, tentamos e é o que importa. pelo menos é nessa incerteza que me agarro - não direi "todos os dias", estou procurando ser sincera, não é todos os dias que penso em você. mas penso, e não só digo que penso, acredite. então eu leio porque escrever mesmo não é possível - ou impossível seria lhe mostrar? - acho que estou enterrando de vez minhas fatigas a sete palmos. como me enlouquece, sei o quanto doída sou. sente? é o coração que bate, bate, mas não abre nunca. queria te mostrar tanta coisa, mas ao mesmo tempo queria apenas sumir. acho que estou comendo raiva, e como de costume, vomitando tudo com o puro desespero. dias atrás fiquei de cama, febre, delirando. não consegui pôr pra fora, uma bola entalava e eu engasgava lento. dois dias de coma sem sonhar, porque é isso, na coma você não sonha, só deseja que alguém sente ao seu lado. foi aí que pensei de novo em você. tou querendo arrumar a minha vida, ou até bagunçar de vez! acho que quero largar tudo e correr. não sei, deixar rolar. fazer que nem caio, vou olhar os caminhos, o que tiver mais coração eu sigo. dizem que assim não tem erro, o que eu não quero é chorar a ausência. já não sinto mais nada, existe coisa mais autodestrutiva? queria perguntar como está, como foi seu dia, no que pensa, o que sente, se come bem, essas perguntas bobas que a gente faz pra quem a gente gosta. é que eu cansei de falar sobre mim, pois foi nessa fala que feri fundo de faca a quem amei.