a pesquisa brasileira em lingüística aplicada na

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A PESQUISA BRASILEIRA EM LINGÜÍSTICA APLICADA NA
COMTEMPORANEIDADE
Terezinha Marcondes Diniz Biazi (Dep. de Letras/UNICENTRO), e-mail:
[email protected]
Palavras-chave: Lingüística Aplicada, pesquisa, contemporaneidade.
Resumo: Este trabalho visa familiarizar alunos de graduação/pós-graduação e
professores em geral, com a perspectiva de professores-pesquisadores, que
fazem Lingüística Aplicada na contemporaneidade.
Introdução
A atualidade está marcada por deslocamentos de ordem social, cultural,
política, histórica e epistemológica, impulsionados por muitos fatores, entre
eles, pela explosão das informações e pela dinâmica das comunicações em
nível mundial, caracterizada por alguns teóricos sociais como pós-modernidade
(BAUMAN, 2001), modernidade recente (CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999)
e modernidade reflexiva (GIDDENS, 2002). É uma época que se configura, em
decorrência da revolução tecnológica global (na informática, na cibernética e na
eletrônica), por modificações societárias, que tem desencadeado novas
práticas sócio-discursivas, nas quais os indivíduos passam a atuar e a
constituir-se. Desse modo, a contemporaneidade revela-se para muitos
pesquisadores que atuam nas ciências sociais e nas humanidades como um
desafio e como uma necessidade por novas teorizações calcadas em novos
modos de entender a vida social para produzir conhecimento sobre o sujeito
que está inscrito nessa condição contemporânea emergente (MOITA LOPES,
2006). O reconhecimento da complexidade dos fenômenos sociais em curso
tem operado na área de pesquisa em Lingüística Aplicada (doravante LA) uma
revisão de suas concepções epistemológicas, onde se passa a discutir novos
direcionamentos sobre os modos de fazer pesquisa na área, sobre quem é o
sujeito de LA e o que se pesquisa em LA nesta era tecnológica (MOITA
LOPES, 2006), sendo, pois, uma discussão sobre tais direcionamentos, que
este trabalho tratará.
Materiais e Métodos
Concentramos nossa pesquisa em leituras bibliográficas de pesquisadores
brasileiros que discutem a mutação em curso na área de estudos de LA na
atualidade.
Resultados e Discussão
A LA na contemporaneidade está preocupada em descrever a
complexidade das identidades lingüísticas que se constituem nos contextos
societários cada vez mais diversificados (na esfera pública ou privada; em nível
global ou local), na tentativa de ser responsiva às demandas sociais que se
relacionam às questões de linguagem. Para isso, a LA está transgredindo suas
fronteiras disciplinares convencionais para que, informada por disciplinas do
campo das Ciências Sociais (entre as quais, Antropologia, Sociologia, Estudos
Culturais, Psicologia Social) e das Ciências Humanas (como Filosofia, História,
Geografia, Estudos da Linguagem, Psicologia da Aprendizagem), possa
compreender de forma mais holística questões da vida social nas quais a
linguagem tem papel preponderante (MOITA LOPES, 2006; PENNYCOOK,
2006). Para Pennycook (2006), a LA deve ser transgressiva disciplinarmente, e
argumenta que “as disciplinas não são estáticas, domínios demarcados de
conhecimento aos quais pedimos emprestados construtos teóricos, mas são
elas mesmas domínios dinâmicos de conhecimento” (p.72). Essa orientação
teórica que o lingüista aplicado segue pode ser compreendida quando ele
relata sobre um de seus projetos de pesquisas, no qual examina a difusão
global da cultura hip-hop em relação ao inglês, no que necessitou de leituras
nas áreas de estudos lingüísticos, estudos culturais, música popular e
geografia, ao traçar as relações entre música, lugar, identidade e língua
(PENNYCOOK, 2006).
Outra característica da LA contemporânea é que esta se configura como
uma área de pesquisa que busca identificar, compreender e problematizar os
usos da linguagem que emergem nas práticas sociais, com vistas a pensar em
alternativas que possam vir a melhorar a qualidade de interação discursivosocial e, para que assim, as pessoas passem a desfrutar de uma melhor
qualidade de vida (MOITA LOPES, 2006; ROJO, 2006). Nesse sentido, a LA
passa a questionar suas bases epistemológicas, principalmente, no que se
refere ao seu sujeito, já que, tradicionalmente, os estudos sobre a linguagem
separavam o sujeito do seu mundo, descorporificando-o da pesquisa, na busca
de uma verdade cartesiana, objetiva e controlável. Agora, o sujeito de LA é
pensado em sua heterogeneidade, em sua multiplicidade e mutabilidade,
corporificado, situado em sua sócio-história, atravessado por discursos que o
constituem. Assim, a LA busca produzir conhecimento sobre esse sujeito social
nesses novos tempos, refletindo sobre o papel do discurso na constituição
desse sujeito heterogêneo e dinâmico e de como esse sujeito, que tem
identidade, raça, gênero, classe social, ideologia, história, nacionalidade, etc., é
constituído no seu discurso (MOITA LOPES, 2006; PENNYCOOK, 2006).
A terceira característica, que discutimos aqui, refere-se aos
diversificados interesses de pesquisa da área da LA brasileira na atualidade,
tanto em língua materna como estrangeira, que tem avançado na relação
multidisciplinar e, assim, enriquecido esse campo de investigação. Nessa
perspectiva, os estudos brasileiros em LA têm investigado questões
socioculturais mais amplas, e assim, têm ampliado suas pesquisas que,
tradicionalmente, se limitavam a tratar das práticas de ensino/aprendizagem de
línguas, para, na contemporaneidade, incluir o estudo da linguagem na vida do
sujeito social, nas mais variadas situações de interações humanas. Nas
publicações brasileiras da área, destacamos as recentes discussões de Moita
Lopes (2002, 2003); de Bastos & Moita Lopes (2002); de Heberle, Ostermann e
Figueiredo (2006) e de Kleiman & Cavalcanti (2007), que tratam: 1) da
construção discursiva das identidades sociais (gênero, sexualidade, raça, idade
e profissão) na escola e na família com base em uma visão
socioconstrucionista do discurso e das identidades sociais (MOITA LOPES,
2002, 2003); 2) das identidades na vida social contemporânea, incluindo
pesquisadores que atuam em Antropologia, Comunicação, Design, Educação,
Geografia, História, Lingüística, Lingüística Aplicada, Literatura, Psicanálise e
Psicologia (BASTOS & MOITA LOPES, 2002); 3) das questões de gênero
social (feminino e masculino) e suas relações com a linguagem em diferentes
contextos socioculturais (HEBERLE, OSTERMANN E FIGUEIREDO, 2006) e,
por fim, 4) do lado crítico da pesquisa sobre a linguagem, estudando a
linguagem na vida social, com a preocupação de inserir as minorias - surdos,
adultos não alfabetizados, professores índios, adolescentes de risco,
estudantes negros, alunos e professores em escolas carentes, - na coletânea
comemorativa organizada por Kleiman & Cavalcanti (2007), que reúne
trabalhos de professores e ex-professores do Departamento de Lingüística
Aplicada da Unicamp, que, em 2006, completou 25 anos, e que permite
entrever as novas possibilidades de teorizar e fazer lingüística aplicada no
Brasil.
Conclusões
Nosso objetivo neste trabalho foi de discutir a área de pesquisas da LA na
atualidade, considerando os novos direcionamentos que a LA tem tomado em
relação ao seu modo de fazer pesquisa, que envolve avanços além de
fronteiras disciplinares, que considera o sujeito social de pesquisa heterogêneo
e corporificado e que se concentra em tratar de perspectivas marginalizadas
socialmente.
Referências
BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
BASTOS, L. C. & MOITA LOPES, L. P. (orgs.) Identidades - Recortes Multi e
Interdisciplinares. São Paulo: Mercados das Letras, 2002.
CHOULIARAKI, L.; FAIRCLOUGH, N. Discourse in late modernity: Rethinking
Critical Discourse Analysis. Edinburgh: Edinburgh University Press, 1999.
GIDDENS, A. Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
2002.
HEBERLE, V. M.; A. C. OSTERMANN e FIGUEIREDO, D. C. (orgs.)
Linguagem e gênero no trabalho e em outros contextos. Florianópolis: Editora
da UFSC., 2006.
KLEIMAN, A.; CAVALCANTI, M. (orgs.) Lingüística aplicada - suas faces e
interfaces. São Paulo: Editora Moderna, 2007.
MOITA LOPES, L. P. (org.) Identidades Fragmentadas - A Construção
discursiva de raça, gênero e sexualidade em sala de aula. Campinas:
Mercados das Letras, 2002.
________________. (org.) Discursos de identidades. São Paulo: Mercados das
Letras, 2003.
________________. (org.) Por uma lingüística aplicada indisciplinar. São
Paulo: Parábola Editorial, 2006.
PENNYCOOK, A. Uma lingüística aplicada transgressiva. In: MOITA LOPES, L.
P. (org.) Por uma lingüística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola
Editorial, 2006.
ROJO, R. H. R. Fazer lingüística aplicada em perspectiva sócio-histórica. In:
MOITA LOPES, L. P. (org.) Por uma lingüística aplicada indisciplinar. São
Paulo: Parábola Editorial, 2006.
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