alimentação educação alimentar Dividir o mesmo lanche entre os alunos é um hábito presente nos mais de 40 anos de Escola Viva. Do início, na década de 70, até hoje, uma concepção mais abrangente de Educação Alimentar é parte integrante do nosso trabalho pedagógico. Para muitas famílias e instituições, a alimentação é um tabu carregado de dúvidas, teorias, mitos, verdades, contradições, medos e incertezas. Nesse sentido, pautamos o nosso trabalho no entendimento de que a construção de um caminho sustentável e consistente da educação alimentar, principalmente nos primeiros anos de vida das crianças, é fundamental para a formação de hábitos saudáveis, além de valorizar as múltiplas relações que envolvem o alimento e o indivíduo, permeando o vínculo com a natureza, com o grupo e consigo próprio. Se o tema é complexo, seja pelo excesso de informações ou por uma indústria alimentícia insaciável e, muitas vezes, irresponsável, o trabalho desenvolvido na Escola é muito claro (e saboroso!). Mesmo sabendo que a família é a principal educadora nutricional, aqui, dia a dia, experimentamos com os alunos uma educação que vai além dos nutrientes e das propriedades dos alimentos — a alimentação não se trata apenas de suprir necessidades orgânicas: as pessoas não se alimentam de nutrientes, mas de alimentos palpáveis, com cheiro, cor, textura e sabor. A função agregadora do alimento também é fundamental: dividir a comida é um modo de dizer que se faz parte da mesma família, do mesmo grupo. Comer é um ato social que se constitui de atitudes ligadas aos usos, costumes, protocolos, condutas e situações. O gosto, a forma e o cheiro de um alimento ganham morada na memória. São capazes de remeter o adulto à sua história mais remota, e de resgatar sensações e sentimentos perdidos no tempo, deixados para trás: memória de um encontro, de uma descoberta, de uma brincadeira, de um afeto. Nesse sentido, o que se come é tão importante quanto quando se come, onde se come, como se come e com quem se come. o que se come? Para adquirir competência para alimentar-se é preciso fazer boas escolhas. Os alimentos oferecidos na Escola são, preferencialmente, os naturais. Além de reduzir o consumo de acidulantes, espessantes, conservantes e corantes artificiais, essa escolha permite às crianças a descoberta de que, diferentemente dos alimentos industrializados, é possível ter um dia com uma fruta mais ou menos madura, um suco mais ou menos azedo, um bolo mais ou menos ‘molhadinho’... É possível e saudável conviver com as variáveis da natureza. A alimentação é parte importante da cultura de uma sociedade. Quando organizamos nossos cardápios consideramos os padrões culturais em que nossa sociedade está inserida. Em nossa cidade, é comum que um sanduíche ou um pedaço de bolo faça parte dos lanches. Por isso, nosso lanche tem uma fruta, pães (com opções de acompanhamentos, como manteiga, geleia, queijo ou requeijão), bolos ou biscoitos, água ou um suco. Seja no almoço ou no lanche, a Escola tem o desafio de elaborar cardápios que conjuguem composições saudáveis e, ao mesmo tempo, proporcionem uma refeição prazerosa, capaz de criar significados que deixem marcas na história de cada criança. como se come? Da mesma forma que a criança aprende a andar - aos poucos, aprimora a marcha, ganha força na corrida e, para isso, mobiliza seus músculos, coordenação motora, equilíbrio e, também, suas competências emocionais - o vínculo com o alimento também vai ganhando contorno enquanto seu aparelho digestivo vai se constituindo para aprimorar o aproveitamento dos alimentos - a seu tempo e no seu ritmo. No nosso dia a dia, observamos certa dificuldade em fazer com que as crianças aceitem uma alimentação variada, experimentando novidades e ampliando suas preferências. A experimentação de um alimento desconhecido costuma gerar resistência, afinal, o ‘novo’ vem acompanhado de receios e inseguranças. Os professores utilizam várias estratégias para estimular que experimentem alguns alimentos: ser modelo, experimentando diversos alimentos; brincar de ‘dia do experimenta’; combinar de provar um pedacinho do ‘tamanho de formiga’; fazer a propaganda dos alimentos; descrever como é o sabor ou a textura; contar porque um certo alimento é importante para o organismo ou falar das preferências de cada um. É esperado que, conforme cresçam, as próprias crianças definam suas preferências. Mas, preferência não significa incapacidade de experimentar algo novo. Não gostar de algumas frutas, preferir um pão mais ou menos crocante, alimentos mais ou menos condimentados, doces ou salgados, é esperado. Mas, só comer maçã, banana ou pera, bisnaguinha daquela marca específica ou sem qualquer tipo de recheio (manteiga, geleia, requeijão, etc...) pode ser indício de uma dificuldade de contato com algo novo. Há uma relação estreita entre estar disposto a comer coisas novas e conhecer coisas novas. Daí uma preocupação que persiste para além da boa nutrição e exige um olhar e intervenções cuidadosas por parte dos educadores. Além disso, estamos atentos a algumas atitudes: o uso de talheres e utensílios, cuidados com o desperdício e a colaboração para a organização de objetos e espaços. Como sabemos que, ao se alimentar, as crianças utilizam não apenas as sensações gustativas, mas também olfativas, visuais e táteis, escolhemos cuidadosamente utensílios transparentes para servir as frutas, bandejas forradas com tecidos estampados, jarras de suco transparentes e com tamanho apropriado para que os alunos possam ter autonomia para se servir sozinhos. No lanche, os alunos têm funções de organização e tarefas para serem realizadas, dependendo da faixa etária e organização de cada Grupo. Assim, do Amarelo em diante, vão ganhando gradativamente maior autonomia, até que possam se servir sozinhos, organizar a mesa e utilizar utensílios de vidro. quando se come? Na Escola, come-se no lanche, no almoço (alunos do período estendido e semi estendido e Grupo Verde/1º ano) e, nos dias de culinária, ao final do período. No Quintal, durante as atividades de experimentação e pesquisa de alimentos: todas as refeições são uma oportunidade para a descoberta de novos sabores e para a ampliação do repertório do paladar. com quem se come? Desde a sua fundação, em 1977, optamos por oferecer o lanche para os nossos alunos, por acreditar na importância de reunir o grupo ao redor de uma mesa, em torno de um alimento comum. O lanche é um momento de convivência, compartilhamento e troca de experiências e hábitos. Afinal, é à mesa que uma comunidade reafirma sua identidade coletiva e, muitas vezes, faz circular afetos e olhares de reconhecimento. As tradições e os rituais alimentares são heranças culturais que demarcam e constroem identidades: a de um grupo e a de cada indivíduo que faz parte dele. A hora do lanche proporciona para a criança a experiência de pertencimento: enxergar o outro, reconhecê-lo, ser enxergada e reconhecer-se. Olhar, conversar, trocar novidades, combinar brincadeiras e até mesmo comemorar, com o bolo de aniversário ou com o brinde de suco de uva! atividades & projetos Entrevistas com a nossa nutricionista, degustação de sucos no Quintal, pesquisas para descobrir com que fruta é feito um suco de sabor misterioso, comer de olhos vendados e adivinhar o que é... as intervenções são muitas e variadas. ‘Viva Lanche’: todo ano, o Grupo Verde/1ºano elabora, em parceria com a nutricionista, uma pesquisa de preferências com as crianças. A partir dessa atividade, é montado um cardápio com os alimentos campeões de preferência que é oferecido para todos os Grupos. culinária A culinária é parte importante da rotina — de Amarelinho a Verde. Escolher um ingrediente em casa ou colhê-lo na nossa horta. Experimentar os alimentos crus, observar a sua transformação, saber a diferença entre um liquidificador e um espremedor de laranjas, uma espátula e um batedor de claras. Os temperos, o conhecimento inato do salgado e do doce, do azedo e do ácido e a forma como todos se combinam. Tudo isso requer sabedoria, prática, insistência, prazer. Para todos os alunos, a Culinária trabalha quantidades, qualidades, leitura e escrita de receitas, sensações, conhecimento de si e do outro, postura de estudante, de pesquisador. Tudo o que está no currículo e também o que não está: a água na boca da memória. www.escolaviva.com.br restrições alimentares As alergias alimentares têm aparecido cada vez com maior frequência entre as crianças da faixa etária de 2 a 7 anos. Nesse sentido, acompanhamos as crianças que apresentam quadros alérgicos de forma atenta e cuidadosa, contando com a parceria entre todos os envolvidos - coordenadores, professores, pais e médico. Nestes casos, as famílias entram em contato com os professores e apresentam a prescrição médica indicando os alimentos permitidos e não permitidos na dieta do aluno. A partir deste documento, elaboramos um cardápio adaptado para cada caso, procurando garantir, sempre que possível, a mesma composição do cardápio coletivo.