Diminui a desigualdade no Brasil, mas cresce no sudeste, diz IBGE

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Folha de São Paulo, 13 de novembro de 2015
Diminui a desigualdade no Brasil, mas cresce no
sudeste, diz IBGE
BRUNO VILLAS BÔAS LUCAS VETTORAZZO DO RIO
O Brasil ficou menos desigual em 2014, diz pesquisa divulgada nesta sexta-feira (13)
pelo IBGE.
O motivo foi o aumento do rendimento da parcela mais pobre da população, ao mesmo
tempo em que houve queda na renda do extrato mais rico da sociedade. No sudeste,
entretanto, a desigualdade cresceu no período.
O índice de Gini (medida de distribuição de renda) do rendimento do trabalho recuou de
0,495 em 2013 para 0,490 em 2014 –quanto mais próximo de zero, mais igualitária é a
distribuição da renda no país.
Os dados são da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2014, uma das
pesquisas mais completas sobre os lares brasileiros. Ela foi a campo no fim de setembro
do ano passado, antes do agravamento da crise econômica no país.
O rendimento da fatia 10% mais pobre da população foi de R$ 256 na média mensal,
aumento de 4,1% na comparação com o ano anterior. Este foi o maior avanço entre
todas as faixas de renda. Nenhuma outra chegou perto disso.
Ao mesmo tempo, no outro extremo da pirâmide, a renda dos 10% mais ricos foi de R$
7.154, 0,4% menor do que no ano anterior. No extrato 1% mais rico, a queda foi maior,
de 3,4%, para R$ 20.364.
Todas faixas intermediárias também tiveram aumento da renda no ano passado,
especialmente as que giram em torno do valor do salário mínimo (de R$ 724 em 2014),
o que é uma boa notícia para a redução da desigualdade no país.
Apesar dos avanços, o rendimento mensal considerando todas as faixas continuou
perdendo fôlego em 2014: foi de R$ 1.774, alta de 0,8%, a menor variação em pelo
menos uma década. Em 2011, chegou a crescer mais de 8%.
'OLHAR PELO RETROVISOR'
Márcio Salvato, professor de economia do Ibmec, diz que o aumento da renda da
parcela mais pobre da população indica um mercado de trabalho ainda dinâmico entre
21 a 27 de setembro do ano passado, período em que pesquisa do IBGE foi a campo.
Em 2014, o número de pessoas empregadas no Brasil cresceu 2,9% na comparação ao
ano anterior, somando 98,6 milhões de pessoas.
"É um retrato do Brasil uma semana antes do primeiro turno das eleições presidenciais,
quando o governo ainda não havia retirado incentivos ao crescimento. É, portanto, um
mercado que absorvia pessoas com menos qualificação", disse o especialista.
Para João Saboia, professor titular do Instituto de Economia da UFRJ, os números são
positivos para uma economia que cresceu apenas 0,1%. Os ganhos seriam frutos
sobretudo do reajuste de 6,78% do salário mínimo no ano passado.
Para ele, a tendência é que a desigualdade fique estagnada neste ano e retroceda em
2016, efeito do menor aumento do salário mínimo, avanço da inflação, da informalidade
e do desemprego.
"Sabemos que o mercado de trabalho, desde o ano passado, piorou muito com o fim de
um ciclo econômico de incentivo ao consumo das famílias e de gastos do governo. [A
Pnad] É um olhar pelo retrovisor", diz Saboia.
A desigualdade da renda do trabalho não cresce no Brasil desde 2001, período para o
qual o IBGE tem dados disponíveis pelo novo modelo da Pnad.
REGIÕES
Se a desigualdade foi reduzida na média do país em 2014, ela aumentou no Sudeste: de
0,475 em 2013 para 0,478. Foi a única região em que houve alta do indicador.
O índice não crescia na região mais rica do país há quase uma década, desde 2005. Com
esse resultado, ele regrediu de volta ao patamar de 2011 (0,479).
Esse aumento da desigualdade ocorreu porque houve queda na renda da parcela 10%
mais pobre da região, ao mesmo tempo que outras parcelas tiveram aumento da renda.
Para Naércio Menezes Filho, professor do Insper, o mercado de trabalho do Sudeste
pode ter perdido dinamismo antes do restante do país, afetado pelo comportamento da
indústria.
"O Sudeste foi o primeiro. Mas a distância da renda do trabalho entre os mais ricos e
mais pobres voltou a crescer em geral no país em 2015, por outros indicadores", diz
Menezes Filho.
O Nordeste continua sendo a região mais desigual do Brasil –seu índice de Gini foi de
0,501, bem acima da média nacional (0,490). Essa região foi, contudo, a que teve a
maior redução da desigualdade na comparação com 2013 (0,524).
Houve redução da desigualdade também nas regiões Norte (de 0,475 em 2013 para
0,468 em 2014), Sul (de 0,453 para 0,442), e Centro-Oeste (de 0,505 para 0,487).
Já o índice de Gini que mede todas as fontes de rendimento (como aposentadorias,
transferências do governo, aluguéis e ganho de aplicações) teve queda de 0,501 em
2013 para 0,497 em 2014.
ERRO EM 2013
Na Pnad de 2013, divulgada no ano passado, um equívoco no cálculo provocou erros
nos resultados, incluindo o índice de Gini, rendimento médio do trabalhador e no
número de pessoas ocupadas no país.
No caso do índice de Gini, o IBGE informou inicialmente que o indicador havia
crescido de 0,496 em 2012 para 0,498 em 2013. O indicador foi posteriormente
corrigido para uma queda de 0,496 para 0,495.
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