Fundamentos de Economia

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Lucas Lautert Dezordi
Fundamentos de Economia
Edição revisada
IESDE Brasil S.A.
Curitiba
2012
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dos direitos autorais.
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D519f
Dezordi, Lucas Lautert
Fundamentos de economia / Lucas Lautert Dezordi. - [1.ed. rev.]. - Curitiba, PR :
IESDE Brasil, 2012.
172p. : 28 cm
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-3175-7
1. Economia - História. 2. Economia - História - Brasil. I. Título.
12-7194.
CDD: 330
CDU: 330
03.10.12 18.10.12
039636
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Imagem da capa: Shutterstock
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Sumário
A escola mercantilista | 7
Introdução | 7
Cenário histórico do mercantilismo | 8
Os principais dogmas | 10
O colonialismo no Brasil | 11
O quadro social: do mercantilismo ao capitalismo nascente | 12
A Primeira Revolução Industrial e o pensamento de Adam Smith | 19
Introdução | 19
A grande potência mundial | 20
O sistema capitalista | 21
Os impactos sociais | 23
Conclusão | 24
A Segunda Revolução Industrial e a Escola Clássica | 31
Introdução | 31
A expansão da Revolução Industrial no mundo | 31
Escola Clássica | 34
Conclusão | 36
Do Imperialismo à Primeira Guerra Mundial | 43
Introdução | 43
O Imperialismo (1870-1914) | 44
A economia brasileira no século XIX | 47
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) | 49
Conclusão | 52
A Grande Depressão e o pensamento keynesiano | 59
Introdução | 59
A economia na década de 1920 | 59
Grande Depressão da década de 1930 | 61
A economia keynesiana | 66
Conclusão | 67
O processo de industrialização da economia brasileira entre 1930 a 1945 | 75
Introdução | 75
O Brasil no período da Grande Depressão | 76
A industrialização nacional na década de 1940 | 80
Conclusão | 82
A Segunda Guerra Mundial e suas consequências | 89
Introdução | 89
A economia mundial antes e durante a Segunda Guerra | 89
A economia após a Segunda Guerra: um mundo polarizado | 94
Conclusão | 97
A Guerra Fria e os choques do petróleo | 103
Introdução | 103
A Guerra Fria no período de 1950 a 1980 | 103
Choque do petróleo | 107
Conclusão | 110
A economia brasileira nas décadas de 1950 e 1960 | 117
Introdução | 117
O Plano de Metas (PM) e o caminho para a industrialização | 117
O Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg) | 119
Pensamento econômico brasileiro | 122
Conclusão | 123
O milagre econômico brasileiro e a crise dos anos 1980 | 129
O milagre econômico e os choques do petróleo | 129
A crise dos anos 1980 | 133
Conclusão | 135
O Plano Real e a estabilidade da economia brasileira | 143
Introdução | 143
A implementação do Plano Real | 143
Âncora cambial | 145
Conclusão | 148
O desempenho recente da economia brasileira e seus principais desafios | 155
Introdução | 155
O regime de metas de inflação | 155
Principais desafios da economia | 160
Conclusão | 161
Referências | 169
Apresentação
Este livro tem como propósito fundamental destacar o desenvolvimento das
Ciências Econômicas e do capitalismo. Descreve as duas revoluções industriais
e como o imperialismo levou as superpotências à Primeira Guerra Mundial.
Apresenta o maior desafio do sistema liberal com uma visão consistente da
Grande Depressão e, em seguida, a Segunda Guerra Mundial. A partir desse
ponto, o rumo central do livro passa a ser direcionado à industrialização da
economia brasileira e suas fases estruturais.
Analisa com detalhes o período da Guerra Fria e a divisão política e
econômica do mundo nessa conturbada fase. Descreve as dificuldades
enfrentadas pelas economias capitalistas com os choques do petróleo, vivendo
uma inflação combinada com recessão econômica. O livro também descreve
a melhor fase da economia brasileira: o milagre econômico, com taxas de
crescimento espetaculares. Em seguida, é apresentada a crise dos anos 1980,
com o problema da hiperinflação e os insucessos dos planos de estabilização
da economia.
Por fim, busca-se analisar o Plano Real e seu sucesso em combater a inflação.
E, com isso, destacam-se as duas fases do plano. Inicialmente a âncora cambial
e as crises internacionais. Posteriormente, o regime de metas de inflação,
seu sucesso operacional no controle inflacionário e uma apresentação dos
principais desafios da economia brasileira.
A escola mercantilista
Lucas Lautert Dezordi*
Introdução
O pensamento mercantil desenvolveu-se entre a Idade Média e o período do liberalismo
econômico. Nesse sentido, o mercantilismo pode ser datado, aproximadamente, entre os anos de 1500
a 1776, variando em diferentes países e regiões.
Este texto abordará quatro tópicos importantes dessa escola de pensamento. Inicialmente, com o
objetivo de contextualizar a leitura, apresenta-se o cenário histórico vivido por esse sistema. Em seguida,
os principais dogmas são destacados, focando no pensamento dominante e explicando a visão geral do
mercantilismo. Na sequência, discorre-se sobre o colonialismo no Brasil, desde o descobrimento até o
ciclo do ouro. E, por último, são descritos o quadro social vivido no mercantilismo e o início do sistema
capitalista.
É importante destacar que o mercantilismo em algumas regiões, principalmente na Europa Ocidental, pode ser interpretado como uma prática econômica de transição entre um feudalismo avançado
nas atividades comerciais, mas com uma base forte na agricultura, para um sistema capitalista voltado
para o crescimento da indústria e do livre funcionamento dos mercados. Com isso, o mercantilismo pode
ser considerado um período de transição do capital comercial para o capital industrial. É comum classificá-lo como um sistema pré-capitalista, ou simplesmente capitalismo mercantil, no sentido de que o
crescimento da prática comercial possibilitou o financiamento das atividades industriais e financeiras.
As principais potências nesse período foram Portugal, Espanha, Inglaterra e França, que dominavam
as principais rotas de comércio e as técnicas marítimas. Holanda e as regiões da Itália e Alemanha
também tiveram forte expansão do comércio. Esses estados-nações se beneficiaram do sistema mercantil
* Mestre e Doutorando em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Bacharel em Ciências Econômicas pela
UFPR. Professor Adjunto de Economia do Centro Universitário Franciscano do Paraná (Unifae).
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A escola mercantilista
e ampliaram suas riquezas ao longo desse período. As guerras entre as metrópoles eram frequentes
e tinham como objetivo, em geral, ampliar ou proteger importantes rotas comerciais, sendo que a
acumulação de metais e territórios era fundamental.
Contudo, alguns países, que atualmente dominam o cenário econômico, não se beneficiaram
totalmente das práticas mercantis. Por exemplo, os Estados Unidos, devido à sua dependência política
com a Inglaterra, eram divididos em duas grandes partes:
::: um norte com uma agricultura diversificada e produção manufatureira, representado por uma
colônia de povoamento;
::: o sul agrário, monocultor, escravista e exportador de matérias-primas, claramente uma colônia
de exploração.
Como consequência, a industrialização norte-americana ocorreu efetivamente sob uma guerra
civil, conhecida como a Guerra da Secessão (1861-1865). No caso do Japão, com seu isolamento desde
o século XVII e um sistema econômico próprio baseado numa espécie de campesinato1 e na existência
de oficinas e manufaturas estatais, realiza a partir de 1868 um processo intensivo de industrialização
conhecido como a Revolução Meiji, modificando significativamente a estrutura produtiva dessa ilha
asiática. No caso do Brasil, colônia de Portugal, foi extremamente explorado pela Coroa portuguesa,
através do corte predatório do pau-brasil, do ciclo do açúcar e do ouro.
Cenário histórico do mercantilismo
A expansão crescente do comércio nas comunidades feudais, advinda do excedente agrícola,
possibilitou o desenvolvimento das cidades e a consolidação da classe social burguesa. Esta, enraizada
no comércio, ampliou suas atividades mercantis de acordo com as necessidades cada vez mais
complexas nas cidades.
O fortalecimento da relação entre o rei e a burguesia em detrimento do enfraquecimento do
poder do senhor feudal foi fundamental para a expansão do comércio com segurança entre os continentes, por meio das Grandes Navegações.
No final do século XV são realizados grandes e expressivos progressos na arte de navegação de
longa distância, com a invenção do telescópio e as descobertas astronômicas. Rotas comerciais, até
então não exploradas, ganham novas perspectivas e desafios. No lado espanhol, a possibilidade de
chegar às Índias, pela confirmação da tese de que a Terra não era plana, mas sim circular. E, do lado
português, a visão de contornar o continente africano para, finalmente, estabelecer novos caminhos
comerciais com o Oriente.
1 Campesinato consiste em um grupo organizado de camponeses voltados para a atividade agrícola.
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Marilu Souza.
A escola mercantilista
Principais rotas comerciais do mercantilismo.
Em 1487, Bartolomeu Dias contorna, finalmente, o Cabo da Boa Esperança, abrindo caminho para
as Índias. A partir desse período, dois fatos históricos foram de extrema relevância para o surgimento e
desenvolvimento do pensamento mercantil, conforme a visão destacada inicialmente.
::: O primeiro acontecimento: Cristóvão Colombo descobre a América em 1492, aumentando
consideravelmente o fluxo de metais preciosos (o ouro e, principalmente, a prata para a
Europa). Denis (1987, p. 90) destaca que “a Espanha conquista rapidamente o México e o
Peru: os tesouros artísticos e as minas fornecem grandes quantidades de ouro e prata, que
asseguram a supremacia espanhola na Europa durante um século.”
::: O segundo fato relevante: Vasco da Gama chega à Índia em 1498, contornando a África e
abrindo uma nova rota comercial. Estima-se que só nessa viagem a embarcação portuguesa
tenha lucrado mais de 6 000% com os produtos vendidos na Europa.
A combinação desses dois eventos históricos, a ampliação dos metais preciosos e a expansão de
mercadorias possibilitaram um período único na história da humanidade, isto é, a integração comercial
entre a América a Europa e a Ásia.
O comércio mundial introduziu mercadorias inteiramente novas na Europa: o chá, trazido pelos
holandeses em 1606; o café, o cacau e o tabaco, incorporados pela Espanha em 1558. Em seguida, a
comercialização do tomate, do milho, da batata e da baunilha foi amplamente intensificada.
O comércio das outras mercadorias expande-se sem precedentes: o açúcar, os melaços e o rum
são comercializados em larga escala com as Índias Ocidentais, tais como os escravos negros, cujo
comércio, a partir de 1510, desenvolve-se rapidamente.
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A escola mercantilista
Os principais dogmas
As doutrinas do sistema mercantil não se baseavam na necessidade de se explicar teoricamente
o funcionamento da economia. Essa ciência só se desenvolve efetivamente no século XVIII, concomitantemente com a Revolução Inglesa e com o pensamento de Adam Smith. Com isso, os principais pensamentos mercantis são apresentados na forma de dogmas pertencentes à escola mercantilista. Podese descrever quatro grandes princípios básicos (metalismo, nacionalismo, colonialismo e população
numerosa) e analisar suas inter-relações.
Metalismo ou bulionismo
O metalismo argumenta que a quantidade de ouro e prata no território de uma nação determina
sua riqueza. Nesse caso, um país com uma forte atividade comercial iria acumular mais metais
preciosos, gerando, com isso, mais riqueza para a sociedade. O ouro e a prata, em algumas regiões, eram
considerados a única forma de poder e riqueza.
Galbraith (1989, p. 33) descreve um pensamento de Cristóvão Colombo: “O ouro é uma coisa
maravilhosa! Quem o possui, é senhor de tudo o que desejar. Com o ouro, é até possível abrir às almas
o paraíso”.
Assim, era fundamental que o governante possuísse o máximo desse metal precioso em seu território. Nesse sentido, as exportações de um país eram mais incentivadas que as importações. Era prática
comum a proibição de importações de alguns produtos não essenciais. O metalismo estava focado em
uma visão primitiva baseada na ideia de que um ganhador necessariamente gera um perdedor, isto é, o
lucro de um país é a desgraça do outro.
Nacionalismo
A formação do estado-nação na figura do rei absolutista tinha como objetivos ampliar as rotas
comerciais, obter novos mercados consumidores, expandir as colônias, assegurar a segurança no
comércio internacional, manter o monopólio comercial e controlar rigorosamente as importações. O
nacionalismo mercantil levou, inevitavelmente, ao militarismo. Galbraith (1989, p. 31) argumenta que o
grande cientista social alemão, Max Weber (1864-1920), estimou que cerca de 70% das receitas públicas
da Espanha e cerca de dois terços das receitas dos outros países europeus eram empregados em guerras
para manter os monopólios comerciais que geravam lucros fenomenais para as nações.
A guerra era, realmente, um estado comum. De 1494 a 1559, ocorreram conflitos na Europa em
praticamente todos esses anos. A Inglaterra, durante o período de 1656 a 1815, conviveu com 84 anos
de guerras.
Colonialismo
Com o objetivo de expandir o comércio, criando uma subordinação político-econômica, as grandes
nações mercantis buscavam ampliar constantemente suas colônias. A relação entre as metrópoles e as
A escola mercantilista
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colônias era bem simples. Estas deviam abastecer a metrópole com matéria-prima e metais preciosos.
Além disso, as colônias eram fontes de mão de obra escrava e sua sociedade mercantil um grande
mercado consumidor. Com isso, as colônias só podiam comprar produtos de suas metrópoles. Brue
descreve bem essa subordinação:
Os atos de navegação britânicos de 1651 e 1660 são bons exemplos dessa política. Os bens importados para a Grã-Bretanha e para as colônias tinham de ser transportados em navios ingleses ou coloniais [...]. Certos produtos das
colônias tinham de ser vendidos somente para a Inglaterra e outros tinham de chegar à Inglaterra antes de serem
enviados para países estrangeiros. As importações estrangeiras para as colônias eram restritas ou proibidas. A fabricação colonial era restrita ou ilegal, em alguns casos, de modo que os territórios dependentes permanecessem fornecedores de matérias-primas de baixo custo e importadores de bens manufaturados. (BRUE, 2005, p. 15)
O Brasil, como colônia de exploração da Coroa portuguesa, viveu intensamente esse processo,
inicialmente com o ciclo do açúcar e do tabaco e, posteriormente, com a atividade de mineração.
População numerosa
Uma população numerosa e focada para o trabalho era imprescindível para a formação de exércitos numerosos a serviço das nações e também na expansão da oferta de trabalho com o objetivo
de redução dos salários. Esse era um ponto importante pois, com salários muito baixos, o custo de
produção era reduzido, possibilitando um preço competitivo para as exportações.
Brue (2005) ressalta que durante o reinado de Henrique VIII na Inglaterra (1509-1547), foi decretado que os “vagabundos” deveriam ter suas orelhas decepadas, e a morte era a pena para o terceiro
delito da vagabundagem. Consequentemente, durante o período mercantil, nenhuma teoria sobre o
salário e o trabalho foi desenvolvida.
O colonialismo no Brasil
O descobrimento do Brasil por Pedro Álvares Cabral, em 1500, ocorre em um contexto vivido
pelas grandes navegações e pela expansão das rotas comerciais da Coroa portuguesa no mundo. Cabe
destacar que, no início do século XVI, a preocupação principal de Portugal era expandir o comércio com
a Índia e não colonizar as terras brasileiras. Portanto, os primeiros anos da ocupação portuguesa foram
preponderantemente focados na exploração da madeira conhecida como pau-brasil – que influenciou
na origem do nome do nosso país.
O historiador econômico Prado Jr. (1976) comenta que portugueses e franceses comercializaram
ativamente, durante a primeira metade do século XVI, a madeira encontrada na costa brasileira. A
exploração foi predatória, argumenta o historiador, devido à importância econômica da madeira como
matéria-prima da indústria têxtil, pois dela era extraído um corante muito útil na tinturaria. Além da utilização da mão de obra indígena no corte e transporte dessa grande árvore (um metro de diâmetro e 10
a 15m de altura) os portugueses não se preocuparam em criar bases fixas de povoamento no território
brasileiro. A comercialização do pau-brasil era monopólio de Portugal, que cobrava o direito de exploração. A primeira concessão referente ao pau-brasil data de 1501, autorizando Fernando de Noronha a
comercializá-la exclusivamente até 1504.
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A escola mercantilista
A partir de 1530, a Coroa portuguesa, por meio de uma divisão política da costa brasileira em capitanias hereditárias, organiza alguns núcleos de produção de cana-de-açúcar. Inicialmente, a mão de obra
utilizada nas fazendas era a indígena, criando assim uma estrutura agrícola escravista e de monocultura.
Os engenhos, fazendas especializadas na manipulação da cana e no preparo do açúcar, desenvolveram-se rapidamente, agora com a mão de obra africana, com o objetivo de vender esse valorizado
produto para a metrópole portuguesa. Além do açúcar, o tabaco também foi amplamente produzido no
Brasil, seguindo as doutrinas mercantilistas impostas por Portugal.
Entretanto a descoberta de grandes jazidas de ouro, no início do século XVIII, impulsionou a atividade de mineração no Brasil. A Coroa portuguesa despende uma atenção quase que exclusiva para a
exploração dos metais preciosos, gerando uma grande decadência nas atividades agrícolas, inclusive
da cana.
A exploração do ouro, apesar de ser livre, era submetida a um regime rigoroso de produção. A
fiscalização era estreita e a Coroa reservava-se o direito, como tributo, à quinta parte de todo o ouro
extraído. As principais jazidas encontravam-se em Ouro Preto, Minas Gerais.
A estrutura social vivida no Brasil Colônia tinha no topo da pirâmide os senhores da terra, autoridades civis, militares e eclesiásticas, todas elas provenientes da classe dominante da metrópole.
A população que administrava a vida na colônia vinha logo abaixo. Eram funcionários, sacerdotes,
administradores dos engenhos, comerciantes e pequenos proprietários de terra. Em seguida, apresentava-se em grande escala a população trabalhadora livre, com remuneração muito baixa e sem poder
de compra. E, na base da pirâmide, encontravam-se os escravos, grande força de mão de obra, mesmo
com péssimas condições de trabalho.
O quadro social: do mercantilismo ao capitalismo nascente
O sistema mercantil possibilitou o crescimento do rei, com base na atividade comercial. O tráfego
e o comércio de mercadorias eram monopolizados pelo Estado, beneficiando a corte e os comerciantes
ligados ao rei.
Com isso, o mercantilismo do século XVI ao início do século XVIII foi marcado por um forte controle
central, nas principais regiões da Europa Ocidental. O governo concedia privilégios de monopólios a
empresas envolvidas no comércio exterior e restringia a livre entrada no comércio interno para limitar a
concorrência. Com isso, o sistema econômico privilegiava um grupo restrito da base social. Nas cidades
mercantis, os grandes mercadores não só eram influentes no governo, como eram o próprio go­verno.
A população em geral trabalhava para o Estado ou para os grandes comerciantes com um salário baixo
e em péssimas condições. Como consequência, observou-se uma atividade econômica altamente
concentradora de riqueza: lucros elevados e salários baixíssimos.
Entretanto, podem-se citar algumas exceções. Por exemplo, no século XVII, como descrito por
Denis (1987), um capitalismo particular se desenvolveu na República das Províncias Unidas (atuais Países
Baixos). Após uma revolta vitoriosa da burguesia local contra o rei da Espanha, algumas cidades holandesas passam a colocar em prática uma igualdade absoluta entre a burguesia local e os mercadores
estrangeiros, ampliando a concorrência entre eles. Na primeira metade do século XVIII, o desenvolvimento rápido das atividades financeiras na Inglaterra e na França estimulou o crescimento bancário, a
A escola mercantilista
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criação das sociedades anônimas por ações, o mercado acionário e o consequente financiamento das
indústrias.
Em 1733, John Kay inventou a lançadeira volante, que permitia um tecelão trabalhar duas vezes
mais depressa. A indústria de hulha desenvolve-se junto com a metalurgia e a bomba a vapor é inserida
na Europa em 1710. A agricultura e a pecuária também sofrem grandes transformações pela substi­
tuição de pousios2 pela cultura de forragens, permitindo alimentar o gado durante o inverno.
Gradativamente, o capital comercial foi perdendo importância em relação ao capital industrial,
devido à ampliação da produtividade advinda das novas invenções e do crescente ambiente concorrencial.
Pode-se argumentar que no início do século XVIII, o mercantilismo estava perdendo espaço para
o capitalismo nascente, reduzindo o poder do rei absolutista e ampliando a participação do mercado
na economia.
Texto complementar
Mercantilismo
(BRASIL, 2008)
A doutrina e a política mercantilista situam-se numa fase histórica precisa: a do capitalismo
mercantil, etapa intermediária entre o esfacelamento da estrutura feudal, de um lado, e o surgimento
do capitalismo industrial, de outro. [...]
Numa perspectiva global, a desintegração do regime feudal de produção derivou dos abalos
sofridos pelo sistema, em decorrência do ressurgimento do comércio a longa distância no continente europeu. Efetivamente, a ampliação do raio geográfico das atividades mercantis provocou
transformações relevantes na estrutura feudal.
A abertura do Mediterrâneo à presença ocidental, possibilitando o comércio com o Oriente, e
o consequente aumento do volume das trocas entre regiões europeias, até então comercialmente
isoladas, geraram um universo econômico complexo, diante do qual o feudalismo reagiu de modos
diversos. [...]
As monarquias absolutistas foram instrumento político empregado na superação das
crises determinadas pela desintegração do feudalismo. Efetivamente, a unificação territorial e a
centralização política dos Estados nacionais europeus, rompendo o isolacionismo dos feudos,
possibilitaram o disciplinamento das tensões resultantes da expansão do setor mercantil. A primeira
função da monarquia absolutista foi a manutenção da ordem social interna dos Estados nacionais,
mediante a sujeição de todas as forças sociais – do plebeu ao nobre – ao poder real.
2 As terras em pousio são submetidas a um período de descanso após a colheita agrícola. Esse pousio pode ser de um a dois anos, em geral,
dependendo do desgaste da terra.
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A escola mercantilista
Em breve, o Estado nacional centralizado desempenharia um segundo papel: o de estimular
a expansão das atividades comerciais. No fim da Idade Média, o comércio europeu chegara a um
impasse: a economia do Velho Mundo, além de abalada pelas tensões sociais provenientes da crise
do feudalismo, sofria uma severa depressão monetária. A Europa, possuidora de pequenas reservas
de ouro, contava basicamente com linhas externas de abastecimento do precioso minério. [...]
O mercantilismo inglês era fundamentalmente industrial e agrícola. A política econômica
inglesa era sempre bem planejada. O governo incentivava a produção manufatureira, protegendo-a
da concorrência estrangeira por meio de uma rígida política alfandegária. Houve a formação de
uma burguesia industrial, que empregava o trabalho assalariado e era dona dos meios de produção
(máquinas, galpões, equipamentos).
O absolutismo atingiu sua maior força na França, onde o Estado intervinha na economia de
forma autoritária. O desenvolvimento da marinha, das companhias de comércio e das manufaturas
mantinha a balança comercial favorável. O mercantilismo francês atingiu seu ápice com o rei Luís
XIV. Era um país essencialmente agrícola, com o preço de seus produtos mantidos baixos para que
os trabalhadores pudessem se alimentar e não reclamar dos baixos salários, o que era favorável para
os manufatureiros. Mesmo com o incentivo e intervenção estatais, a França enfrentava uma forte
concorrência com a Inglaterra e a Holanda.
O exemplar mercantilismo holandês atraiu muitos estrangeiros, que abandonavam seus países
devido às perseguições, e com seus capitais favoreceram o crescimento da Holanda, modelo de país
capitalista no começo do século XVII. Este era dominado pelas grandes companhias comerciais, tendo
o poder central muito fraco, e desenvolvendo as manufaturas e o comércio interno e externo.
Além disso, o intervencionismo estatal não existia nesse país. Nele foram organizadas
duas grandes companhias monopolistas holandesas, com o objetivo de colonizar e explorar as
possessões espanholas na Ásia e luso-espanholas na América: a Companhia das Índias Orientais
(Ásia) e a Companhia das Índias Ocidentais (América). Através do desenvolvimento das manufaturas
e do poderio dessas companhias, durante o século XVII, a Holanda conseguiu acumular um grande
capital. [...]
Dessa forma, percebe-se que Estados absolutistas e capitalistas comerciais são dois polos
interagentes de uma mesma realidade: a superação do modo de produção feudal e o surgimento
do capitalismo moderno. Em resumo, foi o desenvolvimento do Estado nacional absolutista que
garantiu a ascensão da burguesia mercantil. [...]
O mercantilismo não foi um sistema econômico e, portanto, não pode ser considerado um
modo de produção, terminologia que se aplica ao feudalismo. O mercantilismo é a lógica econômica
da transição do feudalismo para o capitalismo.
A escola mercantilista
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Atividades
1.
Descreva a importância da atividade mercantil entre a transição do feudalismo para o capitalismo.
2.
Destaque e explique os dois principais fatores históricos que contribuíram para o desenvolvimento do mercantilismo.
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A escola mercantilista
3.
Descreva as relações entre o metalismo e o nacionalismo.
4.
Descreva a organização social do mercantilismo relacionando-a com o lucro e os salários.
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Gabarito
1.
O mercantilismo possibilitou a ascensão e a consolidação da classe burguesa na Europa Ocidental.
Com isso, a acumulação de riqueza via expansão do comércio e a exploração das colônias
possibilitaram o financiamento das indústrias, inicialmente, na Inglaterra e na França.
2.
Primeiro acontecimento, Cristóvão Colombo descobre a América em 1492, aumentando
consideravelmente o fluxo de metais preciosos, ouro e prata, para a Europa. Segundo fato
relevante, Vasco da Gama atinge a Índia em 1498, contornando a África e abrindo uma nova rota
comercial. A combinação desses dois eventos históricos, a ampliação dos metais preciosos e a
expansão de mercadorias possibilitaram um período único na história da humanidade. Isto é, a
integração comercial entre América, Europa e Ásia.
3.
O metalismo argumenta que a quantidade de ouro e prata no território de uma nação determina
sua riqueza. Nesse caso, um país com uma forte atividade comercial iria acumular mais metais
preciosos, gerando, com isso, mais riqueza para a sociedade. Era fundamental, assim, que o
governante possuísse o máximo desse metal precioso em seu território. A formação do estado-nação na figura do rei absolutista tinha como objetivos: ampliar rotas comerciais; obter novos
mercados consumidores; expandir as colônias; assegurar a segurança no comércio internacional;
manter o monopólio comercial e controlar rigorosamente as importações. O nacionalismo
mercantil levou, inevitavelmente, ao militarismo. Com isso, a acumulação de ouro e prata –
metalismo – era financiada diretamente pela nação.
4.
O sistema mercantil possibilitou o crescimento do rei, com base na atividade comercial. Com isso,
o mercantilismo do século XVI ao início do século XVIII foi marcado por um forte controle central,
nas principais regiões da Europa Ocidental. O governo concedia privilégios de monopólios a
empresas envolvidas no comércio exterior e restringia a livre entrada no comércio interno para
limitar a concorrência. Com isso, o sistema econômico privilegiava um grupo restrito da base social.
Nas cidades mercantis, os grandes mercadores não só eram influentes no governo, com eram o
próprio governo. A população em geral trabalhava para o Estado ou para os grandes comerciantes
com um salário baixo e com péssimas condições. Como consequência, observou-se uma atividade
econômica altamente concentradora de riqueza: lucros elevados e salários baixíssimos.
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