O mercantilismo O processo de unificação dos reinos europeus e da centralização política, na figura dos reis, fez surgir novas formas de trabalho e de movimentação da economia. O mercantilismo, um conjunto de ideias e práticas de intervenção econômica predominante entre os séculos 15 e 18, foi a forma central na estruturação econômica dos Estados europeus nesse recorte. Os Estados passaram a intervir fortemente na economia a fim de garantir um acúmulo de riquezas e a perpetuação de seus poderes. Foi criada uma rede de relações políticas e econômicas que contribuiu para a organização social e financeira das sociedades européias, ao longo da história moderna, tornando o trabalho um valor cultural significativo e apreciado. Vejamos algumas das principais características do mercantilismo. Quadro de Claude Lorrain (1638) que representa um porto francês A partir do século 15, o ouro e a prata começaram a ganhar uma atenção especial entre os Estados nacionais, já que serviam como material para se cunhar moedas e eram aceitos por muitos outros reinos e povos. Essa busca por acúmulo de metais preciosos ficou conhecida como “metalismo”. Portugal e Espanha se tornaram uma das grandes forças econômicas da Europa devido ao acúmulo de metais preciosos retirados de suas colônias na América. Outra alternativa para deixar a economia estável, caso os reinos não tivessem como obter ouro e prata, era o esforço em manter a balança comercial favorável, ou seja, exportar mais do que importar. Para tanto, o Estado precisava intervir nas relações comerciais e valorizar a produção nacional. O Estado controlava o comércio, impondo altas taxas aos produtos que chegavam de outros lugares, medida essa conhecida como “protecionismo alfandegário”. Nem todos podiam se tornar grandes comerciantes com facilidade; afinal o Estado monopolizava o comércio, favorecendo algumas companhias ligadas, na maioria das vezes, ao governo. A parcela da burguesia vinculada às atividades comerciais apoiadas pelos reis era a que mais lucrava, porém favorecia o aumento do contrabando, que era uma maneira de burlar o sistema de intervenção e monopolização imposto pelo governo, tanto na metrópole como nas colônias. Gradualmente o comércio com as colônias passou a ser exclusividade da metrópole, favorecendo os interesses da burguesia metropolitana e Thomas Gresham (século 16), do Estado. Emergiu, então, o “Pacto Colonial”, pelo qual a colônia só comerciante e financeiro inglês poderia manter relações comerciais com a metrópole, comprando os seus produtos e fornecendo-lhe metais preciosos e outros bens rentáveis. Contudo, ao se estudar as atividades comerciais e o mundo do trabalho dentro da colônia, alguns historiadores perceberam um certo grau de autonomia na sociedade colonial. Nem tudo estava ligado ou dependia do centro metropolitano. Havia até mesmo um significativo mercado interno. Os Estados, muitas vezes geridos por um rei absolutista, se fortaleciam não somente por meio das relações mercantis, mas cobrando impostos dos comerciantes e do restante da população. O dinheiro arrecadado era destinado também à manutenção militar dos reinos. A criação de exércitos era uma medida valorizada pelo monarca e pelos burgueses, pois era uma das formas de defender o patrimônio nacional e colonial. Com o Estado intervindo na economia e favorecendo os seus interesses e os dos seus aliados, ficava difícil a população mais pobre obter qualquer tipo de privilégio. Isso promovia uma sociedade com forte concentração de renda. Todavia a história não deve ser lida de forma tão dicotômica, como se o Estado fosse o dominador e o resto da população o oprimido. Diferentes táticas e estratégias eram utilizadas pelos grupos sociais a fim de transitarem em meio a essa sociedade de privilégios e laços de interesse, como é possível visualizar, ao analisarmos o mercado interno nas colônias. O mesmo ocorre com o conceito de mercantilismo. Apesar de os traços centrais da economia europeia se pautarem em tal estruturação, é possível identificarmos diferentes formas de comercialização e política econômica, diferentes mercantilismos. Referências FALCON, Francisco. Mercantilismo e transição. São Paulo: Brasiliense, 1993. PRODANOV, Cleber Cristiano. O mercantilismo e a América. São Paulo: Contexto, 1990. Figura 1 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Lorrain.seaport.jpg Figura 2 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Anthonis_Mor_004.jpg