Anais do Fórum Regional de Administração – 2014 – Faculdade Sete de Setembro – Paulo Afonso-Bahia GRESSUS MEOS DINUMERAT*: NO COMPORTAMENTO PSIQUICO MARCADOS NO RITMO DOS PASSOS. Pedro Miguel Ferreira da Silva1 Salomão David Vergne Cardoso2 Faculdade Sete de Setembro - FASETE, Paulo Afonso – BA, Brasil Email: [email protected]; [email protected] *tradução livre: Meus passos. RESUMO O indivíduo se apresenta das mais diversas maneiras perante a sociedade, em sua instancia conscientes e inconscientes criando uma autoimagem. Essa imagem é reflexo da cultura e de seu psicológico em seu comportamento físico que se baseia na forma que o corpo é condicionado, pela cultura e de sua linguagem corporal determinada pelo comportamento. Essa imagem posiciona o individuo nas relações sociais. Palavras-chave: cultura, indivíduo, comportamento, condicionamento, gestualidade. RESUMEN El indivíduo se presenta de muchas maneras diferentes en la sociedad, en su instancia consciente e inconsciente crear una imagen propia. Esta imagen es un reflejo de la cultura y su psicológica en su comportamiento físico que se basa en la forma en que el cuerpo está condicionada por la cultura y su lenguaje corporal determinada por el comportamiento. Esta imagen sitúa a la persona en las relaciones sociales. PALABRAS-CLAVE: Cultura, el comportamiento individual, acondicionamiento, gestos. INTRODUÇÃO O ser humano vive a partir da imagem que tem do mundo e dos outros, tornando em seu corpo uma reação física que o reflete mais intimo de suas características culturais e comportamentais e, que se expõe aos outros em forma de condicionamento do corpo e linguagem corporal. A cultura influência diretamente na postura, e em limitações gestuais impostos pela cultura. Essas características podem ser moldadas pelas características culturais baseadas na moral, ou simplesmente pelas necessidades que o ambiente exige. O comportamento por sua vez traz a uma instancia mais intima de padrão postural, onde os gestos se transformam em uma linguagem corpórea especifica de cada individuo. A partir destes dois pontos, seguindo um processo de integração social, em que o individuo busca se encaixar em um grupo, o estimulo visual se transforma na confirmação de integração do individuo no grupo. O corpo acaba se tornando um reflexo direto das ânsias individuais dos indivíduos, os posicionando na sociedade. 2 METODOLOGIA O presente artigo teve como metodologia utilizada a pesquisa qualitativa e a bibliográfica. 3 A CULTURA POR MAUSS A cultura pode ser entendida como um conjunto de técnicas, crenças, conhecimentos, artes, moral, leis, costumes e hábitos de um determinado grupo de indivíduos, determinando assim, as suas interações sociais e ambientais, fazendo uma pressão externa no individuo e sendo realimentada pelos padrões comportamentais peculiares de cada ser humano, estes comportamentos são promovidos ou reprimidos a partir da necessidade de adaptação ambiental ou interação social de ordem moral. Dentre as variações individuais a cultura permeia todos os indivíduos e se mostra em determinados padrões de 35 Anais do Fórum Regional de Administração – 2014 – Faculdade Sete de Setembro – Paulo Afonso-Bahia grupos e subgrupos de indivíduos, se manifestando das mais diversas formas que vão desde interações conscientes e inconscientes manifestando nas ações mais corriqueiras. Uma parte destes padrões se manifesta a partir dos movimentos físicos dos indivíduos. Esses movimentos são determinados pelas necessidades constantes de cada povo, da mistura e absorção de outras culturas, de seus limites morais ou do condicionamento. Essa “cultura fisiológica” foi chamada por Marcell Mauss de técnicas do corpo, no qual é percebida a influência direta da cultura nos movimentos cotidianos ou extraordinários humanos, e de onde surgiam. De forma consciente essas técnicas se manifestam em casos onde há necessidade de condicionamento consciente a determinadas situações. Propondo que certo povo tem uma necessidade peculiar de correr, desde o inicio é imposto de forma cultural e consciente a importância da corrida e de seus métodos, o corpo se condiciona de cada vez mais a aquela necessidade, logo se tornando um padrão cultural que é disseminado por entre o povo, assim se tornando parte da cultura. Logo, a corrida e seus métodos peculiares desenvolvidos por esse grupo de indivíduos e moldados pela necessidade ambiental se tornam parte integrante e pulsante da cultura deste povo. Esses padrões de movimentos permeiam todas as ações dos indivíduos, criando uma identidade fisiológica que faz parte de cada povo que lhes permite vantagens em determinados momentos. Mauss (2003, p.403) cita que quando passou pela guerra percebia a larga vantagem que os soldados australianos tinham em descansar em trincheiras inundadas por lama, por conseguirem passar muito tempo agachados e até dormir, mantendo seu uniforme sempre longe do chão, isso lhes davam larga vantagem, já o soldado francês que não tinha o corpo condicionado a esta técnica, tinha que ficar acordado ou sujar o uniforme. Nesse ponto é percebido que as necessidades de cada povo forçam o condicionamento do corpo a necessidades distintas. As técnicas do corpo acabam, também, se disseminando de forma inconsciente que é onde a cultura se torna mais influente. Os seres humanos sofrem a todo o momento influência de diversos hábitos e costumes vindos de outros indivíduos, o principal canal que pode ser indicado como uma das partes fundamentais que a formam, talvez a forma mais forte que o ser humano encontrou de disseminar estes padrões culturais, é a arte. A arte tem papel fundamental no processo de afirmação e expansão cultural de um determinado povo. Quando esse processo se torna consciente, ainda da o individuo a escolha de toma-lo como parte para si, ou recusa-lo. Mas o poder da arte esta claramente no processo contrario. Em MAUSS (2003, p. 403) toma como exemplo o caso em que estava no hospital e pode perceber a forma de andar das enfermeiras tinham mudado: Uma espécie de revelação me veio no hospital. Eu estava doente em Nova York e me perguntava onde tinha visto moças andando como minhas enfermeiras. Eu tinha tempo para refletir sobre isso. Descobri, por fim, que fora no cinema. De volta à França, passei a observar, sobretudo em Paris, a frequência desse andar; as jovens eram francesas e caminhavam também dessa maneira. Mauss mostra em suas observações que a cultura se apresenta como uma das principais formadoras do inconsciente no individuo, e que em grade parte das ações são geridas por elas. As enfermeiras assistiam aos filmes americanos e sem perceber adotavam aqueles padrões comportamentais estrangeiros. Nesses pontos, em que as técnicas do corpo tomam essa forma, agindo na psique do indivíduo sem que ele perceba, atinge diretamente, a base moral da cultura social, MAUSS (2003, p. 404) fala que conseguiria distinguir uma jovem francesa educada em um convento, das demais apenas pela leitura das características posturais e dos movimentos corpóreos, típicos de cada método de educação e das influências externas. 36 Anais do Fórum Regional de Administração – 2014 – Faculdade Sete de Setembro – Paulo Afonso-Bahia Neste caso, ao se absorver uma cultura alheia, ela se tornam mais clara e forte quando acontece sem que o indivíduo perceba. A arte, a influencia indireta de pessoas formadoras de opinião, funciona muito bem de canal para este processo. Quando o individuo se identifica com uma determinada característica, desenvolve um padrão de comportamento físico inerente ao que lhe foi absorvido. Nesse ponto, MAUSS (2003, p.403) demonstra o firme reflexo da cultura nos movimentos, quando são influenciados por fatores externos, como é o caso da marcha dos soldados ingleses que após ver as proezas do exercito francês, tentou incorporar a sua marcha a percussão e toques de clarim franceses, o resultado, segundo Mauss, não foi o esperado, tinham percussão em um ritmo e marcha em outra. Com esse claro exemplo podemos ter uma demonstração clara da mistura de estímulos, que vão desde as técnicas da marcha, aprendida pelos soldados desde o inicio de sua vida, que estão arraigadas profundamente, e se tornaram parte da cultura dos soldados, e a influencia causada por uma cultura diferente, nesse caso o som, o toque de instrumentos, vale citar que no exemplo de Mauss os tocadores eram franceses, fortalecendo ainda mais a hipótese. Fisiologicamente, a cultura pode, em determinados pontos ser agente direto das modificações corpóreas do individuo, agindo diretamente nas funções biológicas do corpo, um povo que vive da pesca submarina desenvolve uma capacidade pulmonar além de outros povos, a cultura incorpora essas características logo se tem rituais característicos ao aumento desta capacidade, essas mudanças podem ser pontuadas a todas as atitudes básicas humanas enumeradas por Mauss, como as técnicas de corrida, escalada, alimentação, sono, reprodução entre outros. Nesses casos as necessidades condicionam o indivíduo e o corpo se torna a própria cultura. As técnicas do corpo se mostram em vários âmbitos, que passam desde limitações fisiológicas dos indivíduos, às limitações morais da sociedade, passando assim por um desuso de certas peculiaridades, ou condicionamento, tornando o corpo humano e seus movimentos um demonstrativo claro da cultura de grupos característicos. Sendo assim, a leitura cultural de qualquer individuo pode ser apresentada pela percepção de suas caraterísticas posturais e fisiológicas. No entanto ao entrar em contato, tomando como base que o poder de influência da cultura é no campo do inconsciente, vemos indivíduos em choques e transformações de seus antigos padrões com os que lhe são apresentados. O corpo não consegue responder a esses estímulos na mesma velocidade em que são absorvidos, causando no individuo um processo de transição lento, mas firme e altamente influenciável por novos fatores externos. Quando conscientes são facilmente modificáveis, pois se atribui a ideia do condicionamento, mas ainda assim um corpo condicionado a determinados movimentos sofre com a readaptação referente ao processo de mudança, e por se ter ideia do que esta acontecendo essas mudanças são apenas incorporadas as características do individuo, diferente do processo do inconsciente, no qual o padrão de modificação e absorção cultural que dita diretamente as mudanças no comportamento físicos do individuo. 4 O COMPORTAMENTO O comportamento segue uma instancia diferente da cultura, se formando como as características interiores do individuo. Diferente de como ocorre com a cultura, o comportamento age de dentro para fora. E também reflete no comportamento físico, de forma tão intensa quanto a cultura. Ao tentar separar o comportamento da cultura, perceber-se-á que a instancia de sua formação segue um processo parecido, mas ainda assim distinto, e que em ambos os casos, tanto de formação de cultura, quanto de formação de comportamento resultam em expressões físicas distintas. A cultura da um teor mais 37 Anais do Fórum Regional de Administração – 2014 – Faculdade Sete de Setembro – Paulo Afonso-Bahia fisiológico e permanente, o comportamento por outro lado ser reflete, fisicamente, em expressões cotidianas das emoções do individuo. Desde o teor momentâneo e emotivo, até o condicionamento de todo um processo cultural refletindo no comportamento dos humanos, e por sua fez se exteriorizando na forma de respostas físicas gerando uma linguagem do corpo, que se mostra na forma que o seres humanos têm de se comunicar de forma não verbal, deixando de fora a linguagem não verbal consciente, como gestos de interação direto e comunicação entre surdos, percebe-se um universo de reações físicas inconscientes que se apresentam a todo momento nas mais diversas situações cotidianas ou não, e tomam um caráter altamente explicito em momentos em que o cérebro é posto a prova, desde situações de perigo físico, até em situações de interação humana extremas, como amor e raiva. Sendo assim, percebe-se que a linguagem não verbal faz parte importante do processo de interação social como explica FEYEREISEN & LANNOY in CHANLAT (1996, p. 18): Consideramos com naturalidade a ideia que a aparência física e dos movimentos do corpo desempenham um papel em nosso relacionamento social: eles exprimem uma parte de cada um de nós e, percebidos pelas outras pessoas, permitem captar certas características de nosso modo de agir. Sem nos darmos sempre conta, utilizamo-nos desse procedimento na vida cotidiana, particularmente quando procuramos convencer ou agradar alguém. A partir dessa afirmação pode-se dividir a linguagem corporal em instancias conscientes e inconscientes, que se apresentam em gestos momentâneos e na forma que moldamos nossa aparência física. Esses fatores influenciam diretamente nas relações interpessoais, por vezes é vista situações empatia ou não, apenas na forma inconsciente de alguém perceber a postura física e os gestos de um terceiro indivíduo. Sendo assim, tais posturas, para os outros, se torna reflexo direto do comportamento, atingindo diretamente os quem os percebe, por vezes sem que mesmo, seja percebida a pontos característicos de cada comportamento, guiando diretamente à forma que é moldada a relação, expondo diretamente as ânsias individuais ligadas a emoções de alegria, raiva, ódio ou amor. Nesse ponto pode-se ver que a imagem que é criada por um determinado indivíduo, que é reflexo direto de seu comportamento pode gerar uma reação emocional, que por sua vez, de forma momentânea, assuma outra reação física emocional que pode variar de acordo com situação, assumindo posturas ofensivas ou defensivas. Tal imagem tem influências diversas, que não só podem ser vistas diretamente nas relações interpessoais, mas acabam por refletir nas organizações sociais, como fala FEYEREISEN & LANNOY in CHANLAT (1996, p. 18): A imagem que nós transmitimos através dos sinais corporais exerce um efeito sobre as demais pessoas: esse efeito pode ser importante na vida cotidiana, na escola, na empresa e, da mesma forma, no funcionamento da Justiça, na prática médica ou psicoterapêutica. A sociedade foca-se constantemente na ideia de imagem do individuo, pois há uma relação direta entre a imagem do individuo e as características de seu comportamento. Esse conjunto de características reflete de forma ainda mais aguda na capacidade humana de se organizar. As organizações fazem parte da vida humana desde seu nascimento, com a organização familiar, e a partir desse primeiro contato organizacional, vai se agregando novas experiências que determinam diretamente a importância que é dada a uma organização ou outra, nessa fase a postura retoma um caráter externo de adaptação ao meio, mas ainda assim determinada pelo reflexo de mudança comportamental que a organização exige para interação. As organizações, nessa visão, acabam não moldando o individuo, mas moldando o comportamento já que o processo de modificação cultural é mais complexo e lento, a pessoa acaba 38 Anais do Fórum Regional de Administração – 2014 – Faculdade Sete de Setembro – Paulo Afonso-Bahia dentro das organizações sofrendo modificações da linguagem corporal que não fazem parte de sua cultura, mas ainda assim influenciam diretamente em suas relações interpessoais. Um caso de grande valor na perspectiva que a os gestos e posturas se formatam em uma forma de comunicação própria é ao se tentar, por meio de palavras, mentir, a mentira em si é um grande desafio ao cérebro pois deve ser criar um enredo e um ambiente e vivencia-lo, levando o cérebro a um nível de concentração incomum, o que acaba deixando grande parte dos outros processos corpóreos para o a parte inconsciente lidar. Nesses casos, o corpo acaba deixando passar gestos e reações que se contradizem com o se fala, o corpo não conseguirá acompanhar a mentira, dando brecha a um bom leitor de comportamento perceber a falta de naturalidade na fala, que acaba se refletindo na linguagem corpórea, acusando a falta de coerência entre estas duas linguagens. Ao se basear em tal perspectiva, percebe-se que o corpo tem uma linguagem própria como fala FEYEREISEN & LANNOY in CHANLAT (1996, p. 20): Faz muito tempo, procedeu-se ao estudo dos gestos com base na ideia de que o ser humano não fala apenas com palavras mas também com seu corpo. A analogia entre gestos e a língua repousa em certo tipo de lógica, que começa pela observação de que os usos corporais variam segundo os povos e as culturas; assim como as línguas faladas no mundo, as práticas gestuais diferem segundo o lugar e a época. Sendo assim, percebemos que o corpo por si, fala de forma inconsciente, exprimindo emoções características de um momento, além de mostrar indivíduo, desde a base comportamental, a cultural, emotiva ou simples meio consciente de se expressar o corpo se comunica a partir de gestos e posturas que assim como qualquer língua falada tem duas vias de comunicação. Assim como qualquer língua falada, a linguagem do corpo também se modifica a depender do lugar ou tempo em que ocorre. 5 O CONTO DE PROTEU Conta o mito que Proteu era um deus marinho, que guardava os rebanhos de Netuno. Ele era filho dos Titãs: Tétis e Oceanus. Proteu tinha dois dons que causavam inveja e interesse aos mortais: o dom da premonição (conhecia o presente o passado e o futuro) e o dom da transformação (Proteu podia assumir qualquer forma que quisesse). Como não gostava de prever o futuro, tarefa extremamente ingrata para qualquer ser, ao pressentir qualquer aproximação de um mortal, fugia e se disfarçava de qualquer forma, ou assumia aparências terríveis e assustava seus perseguidores. Uma das únicas maneiras de fazer com que Proteu revelasse o futuro era prendê-lo durante o sono. Menelau, com a ajuda de Eidotéia (filha de Proteu) e acompanhado por seus amigos, prendem Proteu enquanto dormia e o fez revelar, segundo consta a tradição, o destino da guerra entre Tróia e Esparta. Para a psicanálise o conto de Proteus coloca em discussão outro pensador da psicanálise, chamo a voz conceitual de Carl Gustav Jung. Para chegar às mascaras que nos definem diuturnamente, preciso falar inicialmente é preciso entender que a mascara ou persona na teoria Jungiana é uma arquétipo. Os arquétipos são o conteúdo do inconsciente coletivo de Jung que são universais e herdados de imagens arquetípicas básicas. Jung considera cinco tipos de arquétipos que desempenham papeis importantes na personalidade humana, a saber: persona, animus, anima e o eu. Para Jung os indivíduos deveriam saber como lidar com os vários papeis que assumem durante a vida, munindo-se de mascaras que permitissem transitar e viver. Porém, nunca se atendo a nenhuma 39 Anais do Fórum Regional de Administração – 2014 – Faculdade Sete de Setembro – Paulo Afonso-Bahia persona especifica, em resumo, saber usar e sair da mascara sem se prejudicar, haja vista que a mascara é a face externa do individuo, não “A” face dele. O uso desequilibrado das mascaras causa danos e intranquilidade ao individuo, que se perde por não conseguir equilibrar e lidar com os inúmeros papeis cobrados a ele. O uso errado da persona pode gerar uma perda do conhecimento da face real e neste caso a perda do eu. É desta confusão que nasce parte dos distúrbios psíquicos usados como estudo Jungiano. Durante o processo de formação dos profissionais, estes indivíduos encontram personalidades fortes em seus trajetos e nada mais comuns que a tendência a criar e tomar mascaras de comparações com estas personalidade isso nos abre o leque de analise para discutirmos estas absorções e que aqui nomearemos de transferência. 6 A TRANSFERÊNCIA Na construção Freudiana temos o seguinte conceito sobre transferência: Transferências são reedições, reduções das reações e fantasias que, durante o avanço da análise, costumam despertar-se e tornar-se conscientes, mas com a característica de substituir uma pessoa anterior pela pessoa do médico. Dito de outra maneira: toda uma série de experiências psíquicas prévias é revivida, não como algo do passado, mas como um vínculo atual com a pessoa do médico. Algumas são simples reimpressões, reedições inalteradas. Outras se fazem com mais arte: passam por uma moderação do seu conteúdo, uma sublimação. São, por tanto, edições revistas, e não mais reimpressões. (FREUD, 1969. v. 7, p. 109-19) A transferência na psicanálise é o processo de reviver um desejo inconsciente via um objeto que por algum motivo cria vínculo com o desejo reprimido. É transferir a este quadro em branco algo que precisa de uma releitura para significar-se melhor no consciente. No processo de analise conforme Laplanche & Pontails (2001) “Trata-se aqui de uma repetição de modelo infantil vivido com um sentimento de atualidade acentuada”. Para Freud a transferência não é um processo puramente consciente. Até 1909 o próprio Freud a via como uma resistência do paciente ao processo de analise. Após este período ele começa a definir a transferência como um processo, uma atuação do paciente que inconscientemente e de forma repetitiva reproduz uma ação ou o conteúdo reprimido. Para o paciente esta conteúdo não figura como uma lembrança ou uma recordação do que reprimiu, mas é apenas uma repetição que encontrou em um objeto um meio de se manter presente sem ser notada. 6.1 TIPOS DE TRANSFERÊNCIA. Transferência positiva A transferência positiva é a conexão criada entre analista e paciente, conexão esta produtiva, pois permite ao paciente um local/objeto para direcionar seus conteúdos recalcados sem nem tomar consciência que esta efetuando este processo. Este deslocamento permite que o analista ajude o paciente a resignificar estes conteúdos e seguir em seu processo de resignificação vivencial. Freud nos adverte ainda que a transferência positiva pode ser vista da seguinte forma: “Transferência positiva é ainda divisível em transferência de sentimentos amistosos ou afetuosos, que são admissíveis à consciência, e transferência de prolongamentos desses sentimentos no inconsciente.” (FREUD, vol. 12, 1969, p.140). 40 Anais do Fórum Regional de Administração – 2014 – Faculdade Sete de Setembro – Paulo Afonso-Bahia Freud pontua: “cada associação isolada, cada ato da pessoa em tratamento tem de levar em conta a resistência e representa uma conciliação entre as forças que estão lutando no sentido do restabelecimento e as que se lhe opõem, já descritas por mim”. (FREUD, 1969, PG. 115). Toda a bagagem do paciente é trazida para a construção deste cenário de transferência. E o mesmo não se mantém estático mesmo que o objeto de analise apresente-se de forma repetitiva. A cada nova interação com o conteúdo recalcado nova defesas e resistências começam a se instaurar e quanto mais perto de uma ressignificação mais resistência ah de se encontrar. Porem, e na transferência positiva que o trabalho do analista se desenvolve mais fluidamente. Pois os conteúdos do paciente se calam no âmago do analista e caso uma contratransferência apresente-se mais confortável o analista a trabalhara pois é provável que o conteúdo já tenha sido levantado e precisa apenas de uma melhor releitura do mesmo. Transferência negativa A transferência negativa e a potencialização das pulsões hostis, citando Zimerman (2001, pg.415) estas pulsões tomam a forma de “inveja, ciúme, rivalidade, voracidade, ambição desmedida, algumas formas de destrutividade, as eróticas incluídas, etc”. É importante ressaltar que nos tempos atuais a transferência negativa pode figurar algo positivo. Pois o analisando pode estar ensaiando para reviver com seu analista a agressividade reprimida. O que pode ser entendido como uma tentativa de conquistar um espaço próprio ou experimentar uma autonomia. Transferência especular Segundo Zimerman (2001, pg.415): Muitas vezes o movimento transferencial representa a busca, na pessoa do analista, de um espelho que o reflita, reconheça e devolva sua imagem de auto-idealização, vitalmente necessária para que o paciente, muito inseguro, sinta que de fato existe e é valorizado. Transferência idealizadora Para Kohut, esta fase inicial de estruturação do self parte da idealizado da criança em relação ao dos pais, o autor nomeia este processo como ‘imago parental idealizado’. Em meio a este processo, é necessário que o analista sirva como ego auxiliar do paciente, enquanto formata e desenvolve o ego do mesmo, permitindo depois que o paciente vivencie uma separação, individualização e, por conseguinte, adquira uma autonomia. Transferência erótica ou erotizada Pode apresentar uma fase de pulsão de vida onde o paciente desenvolve um sentimento afetuoso e carinhoso em relação ao analista. Ou uma fase de pulsão agressiva onde o mesmo desenvolve um desejo de controle obsecado pelo analista. Na segunda face a característica de atração sexual se intensifica e se converte em desejo sexual obsecado, permanente, consciente, egossistônico e resistente a qualquer tentativa de analise. Transferência perversa Foi Meltzer que mais consistentemente estudo esta transferência. Apontando os riscos da formação de um conluio perverso entre o par analítico. Segundo Meltzer apud Zimerman (2001, pg. 416) “este 41 Anais do Fórum Regional de Administração – 2014 – Faculdade Sete de Setembro – Paulo Afonso-Bahia conluio consiste no envolvimento de um jogo de distintas formas de sedução do paciente, que encontra ressonância no analista, e que conflui num desvio das combinações previamente estabelecidas em relação ao setting do trabalho analítico”. 6.2 A CONTRA TRANSFERÊNCIA A contratransferência é uma reação do analista a transferência do paciente. Freud diz que o analista tenta trazer o paciente a lógica do tratamento trazendo suas construções instintuais à sua historia de vida e ao set analítico. Submetendo-os a uma analise intelectiva e procurando compreende-los em seu valor psíquico. Freud diz que todo este processo toda esta luta “entre o médico e o paciente, entre o intelecto e a vida instintual, entre a compreensão e a procura da ação, é travada, quase exclusivamente nos fenômenos das transferências”. O conceito foi introduzido no artigo ‘As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica’ onde o Freud diz que a contratransferência “surge no médico como resultado da influência que exerce o paciente sobre os seus sentimentos inconscientes”. (FREUD, 1969, pg.125-36) Segundo Andrade (1983): O desenvolvimento do conceito de contratransferência começou a surgir quando foi considerado em seus aspectos positivos, principalmente como meio importantes de compreensão do inconsciente do analisando. A reação ou atitude contratransferencial deixou de ser considerada como um simples obstáculo, e a sua natureza terapêutica passou a ser reconhecida e valorizada. (ANDRADE, 1983) 6.2.1 O valor da contratransferência Em seu artigo ‘Recomendações aos médicos que exercem psicanálise’, Freud percebe o valor da contratransferência e indica: O analista deve voltar seu próprio inconsciente como um órgão receptor para o inconsciente transmissor do paciente, de modo que o inconsciente do médico possa, a partir dos derivados do inconsciente que se comunicam reconstruir o inconsciente do paciente". (FREUD, 1969. v. 12, p. 149-59) Heimann apud Isolan (2005) nos descreve a contratransferência como o conjunto de sentimento do terapeuta em relação ao paciente. O mesmo destaca que: A reação emocional do terapeuta às projeções do paciente é um instrumento a ser compreendido pelo terapeuta e que, para ser utilizado, o terapeuta deve ser capaz de controlar os sentimentos que nele foram despertados, ao invés de, como faz o paciente, descarregá-los. A contratransferência ainda apresenta-se como um conceito controverso entre as diferentes correntes psicanalíticas, porém seu valor como fundamento para entendimento e pratica no campo analítico é reconhecido mesmo que problemático. A contratransferência é uma reação inevitável para o analista e serve de fator de analise do mesmo. Quanto mais analisado for o analista, menos ele cederá aos seus efeitos. 42 Anais do Fórum Regional de Administração – 2014 – Faculdade Sete de Setembro – Paulo Afonso-Bahia CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao perceber que o comportamento físico é um reflexo do comportamento psíquico do individuo e se baseia em estímulos emocionais e interpessoais, que culminam em uma linguagem própria, em consonância com a cultura do grupo que o envolve, condicionando o corpo, limitando os gestos, a partir de um conceito prático, vivencial e moral de cada grupo em seu tempo e espaço. Pode-se afirmar que a leitura da linguagem do corpo é um passo fundamental para entendimento de padrões comportamentais de cada individuo, ou ainda assim do grupo, identificando padrões psíquicos íntimos e/ou culturais. Ao perceber que há padrões comportamentais de determinados grupos, ditados pelas organizações que permeiam a sociedade juntamente com o padrão cultural geral, surge por entre tais fatores à cultura organizacional, que alinha o individuo a padrões sociais e comportamentais de determinados subgrupos ainda na instancia da psique em sua grande parte de ações inconscientes, que leva até padrões de comportamento físico característicos de cada subgrupo cultural, fazendo uma mescla direta de comportamento e cultura. Com base em tais características percebe-se a partir de tal padrão o surgimento das imagens dos grupos específicos de cada sociedade, o que determina essa imagem pode-se chamar de estereotipo. O estereotipo leva a um padrão de imagem física direta de ações, que é o processo de transferência dos comportamentos e da cultura de determinados grupos ao meio externo. Essa imagem segue um caminho dubio, que se apresenta em como o individuo se posiciona e seu padrão, e o padrão que a sociedade o percebe. Pertencer a uma organização é parte direta do ser humano, e ao absorver parte da organização o individuo passa a se portar como tal, e a sociedade passa a vê-lo de uma maneira distinta. A forma do corpo se expressar segue duas linhagens distintas. Ao partir da cultura, e dos subgrupos culturais, que condicionam e formam o corpo e sua linguagem a partir da função exercida por esse grupo, ou por um processo de absorção, o que pode não afetar na imagem do individuo, nas naturalmente tem influência direta. Freiras parecem e se portam como tal, pois as posturas revelam parte de sua cultura de reclusão. A cultura age de forma exterior que molda a imagem do indivíduo sendo um padrão mais durável, é modificado e absorvido de forma mais lenta. O comportamento segue uma instancia de interioridade, os padrões comportamentais inerentes ao individuo, como tendências narcísicas ou neuróticas e ainda variações emocionais como amor ou raiva, moldam a forma como o corpo se comporta, que modifica a postura e a gestualidade de cada individuo, criando assim, uma linguagem corporal mais direta e altamente variável, a depender do estado psíquico do individuo. Com essas duas características, o indivíduo tenta transferir para algo concreto suas ânsias comportamentais e culturais, buscando se posicionar na imagem que lhe trás conforto. Para um administrador o usar terno e gravata, o inclui na proteção do padrão comportamental da profissão. É como se o individuo acabasse se protegendo no padrão. Para pertencer, o individuo tende, mesmo que de maneira inconsciente, parecer, é a forma que o comportamento e a cultura respondem de forma a manter o individuo confortável na estrutura em que pertence. A tendência humana de criar padrões na forma que vê o mundo e a sociedade, pode entrar até de forma filosófica na maneira que o universo funciona, é a mesma forma que o ser humano funciona, um conjunto de padrões dinâmicos e inter-relacionados. O ser humano tende a enxergar a sociedade como tal, e a melhor de se fazer entender é pela imagem. A criação de estereótipos é a maneira que a sociedade tem de entender a tipificar padrões culturais e comportamentais. 43 Anais do Fórum Regional de Administração – 2014 – Faculdade Sete de Setembro – Paulo Afonso-Bahia O indivíduo não é uma parte de um processo, mas um processo inteiro. Inteiro de uma bagagem emocional incutida nele e cuja adaptabilidade ele não tem noção, é algo natural. Este indivíduo híbrido segue metamorfoseando sua conduta enquanto transita nesta sociedade de organizações, cada vez mais plural e ao mesmo tempo mais singular e único, pois a cultura propicia isso. Nesta sociedade a multiplicidade do individuo não é falta de identidade, mas antes, uma constante nova forma de entender a mesma. (CARDOSO, 2008) O administrador que consegue ler e perceber tal ideia, extrapolando as relações mais diretas e percebendo as influências humanas de forma sistêmica, consegue se sobressair perante o padrão básico, consegue assumir as mais diversas imagens sem que perda a sua própria para o padrão em que atua. REFERÊNCIAS CARDOSO, SDV. Por uma Antropologia Organizacional: uma releitura do termo cultura na administração. Paulo Afonso, BA: FASETE, 2008. Originalmente apresentada como monografia de Pós-Graduação, Faculdade Sete de Setembro, 2008. CHIAVENATO, Idalberto. Comportamento Organizacional: a teoria e a prática de inovar. 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