Henrique Jales Ribeiro - Universidade de Coimbra

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Henrique Jales Ribeiro
(Professor associado com agregação)
RELATÓRIO
DE ACTIVIDADES PEDAGÓGICAS
E CIENTÍFICAS
(2003-2008)
◊◊◊
Faculdade de Letras
Universidade de Coimbra
2008
APRESENTAÇÃO
Henrique Carlos Jales Ribeiro, Doutor em Filosofia pela Universidade de
Coimbra e Professor associado com agregação do grupo de Filosofia da Faculdade de
Letras da mesma Universidade, é filho de Abilio Henriques Ribeiro e de Maria Ivone
Gonçalves Ferreira Jales, tendo nascido em 21 de Março de 1958 na freguesia e
concelho de Pombal (distrito de Leiria). É portador do Bilhete de Identidade nº
4196298, do Cartão de Contribuinte Fiscal nº 179906542, e tem como morada postal
o endereço: Urbanização Quinta da Várzea, Lote H, 1º F, P-3040-267 Coimbra
Codex.
O presente Relatório de Actividades Pedagógicas e Científicas foi elaborado
pelo autor ao abrigo do Artigo 20º do Decreto Lei 448/79 de 13 de Novembro, do
Estatuto da Carreira Docente Universitária, com as alterações introduzidas pela Lei
nº 19/80 de 16 de Julho.
O Relatório divide-se em três partes :
1-Actividades pedagógicas (docência).
2- Actividades científicas :
2.1.) Teses;
2.2.) Publicações;
2.3.) Comunicações orais;
2.4.) Orientação de dissertações;
2.5.) Participação em júris de doutoramento;
2.6.) Organização de Congressos;
2.7.) Investigação no âmbito da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
3-Actividades académicas.
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1. ACTIVIDADES PEDAGÓGICAS
Docência
2003-2004
Leccionação das cadeiras de História da Lógica e Lógica Simbólica (1º Ciclo,
Licenciatura em Filosofia), e Teorias da Argumentação (opção transversal do 1º
Ciclo).
Leccionação do Seminário “Linguagem, Argumentação e Sociedade : Uma
abordagem pluridisciplinar” no âmbito do Curso de Pós-graduação e Mestrado em
Filosofia Contemporânea da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
(FLUC).
•Conferência proferida no âmbito do seminário pelo Dr. João Paulo Moreira
(Instituto de Estudos Anglo-Americanos da FLUC) no dia 24 de Janeiro de
2004, intitulada “Anos 70 nos EUA: Cultura, Política e Sociedade”).
2004-2005
Leccionação das cadeiras de História da Lógica e Lógica Simbólica (1º Ciclo,
Licenciatura em Filosofia), e Teorias da Argumentação (opção transversal do 1º
Ciclo).
Designado membro do colégio de professores do “Master Erasmus Mundus :
Europa, Siglo XXI : Filosofia y Ciencias Sociales”, organizado pela Universidade
Complutense de Madrid.
2005-2006
Leccionação das cadeiras de História da Lógica e Lógica Simbólica (1º Ciclo,
Licenciatura em Filosofia), e Teorias da Argumentação (opção transversal do 1º
Ciclo).
•Conferência intitulada “As origens do Tractatus Logico-Philosophicus” e
proferida no dia 30 de Novembro de 2005 pelo Dr. Nuno Carlos Venturinha
(Instituto de Filosofia da Linguagem da Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da Universidade Nova de Lisboa) no âmbito das actividades da
cadeira de História da Lógica.
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Leccionação da cadeira de Lógica Simbólica da Licenciatura em Ciências da
Informação da FLUC.
Leccionação do seminário do Curso de Pós-Graduação e Mestrado em
Filosofia Contemporânea, intitulado “A teoria da significação na filosofia analítica
contemporânea”.
Leccionação do Curso Livre “Argumentar para quê ? Da argumentação na
sociedade portuguesa à argumentação no mundo contemporâneo (2º semestre, 45
horas).
•Conferência proferida pelo Doutor António Marinho e Pinto (ex-Presidente
da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados e actual
Bastonário da mesma) no dia 23 de Fevereiro de 2005 e intitulada “Os
tribunais e a comunicação social : Da mediatização da justiça à
judicialização da informação”.
•Colóquio sobre o tema “Protecção versus prevenção : Do abuso sexual e
outros na infância” (10 de Maio de 2006), com conferências (seguidas de
debates) proferidas por Armando Leandro (Juiz Conselheiro, Presidente da
Comissão Nacional de Protecção das Crianças e Jovens em Risco), Maria
Manuela Pereira (técnica da Direcção Regional de Educação do Centro) e
Esperança do Rosário Jales Ribeiro (Prof.ª Coordenadora na Escola Superior
de Educação de Viseu).
•Comunicações proferidas pelos alunos do Curso livre numa sessão aberta
ao público em 14 de Junho de 2006.
•Louvor da Comissão Coordenadora do Conselho Científico da FLUC pela
realização da sessão de abertura do Curso Livre “Argumentar para quê ?”,
em que interveio, como conferencista, o Doutor António Marinho e Pinto.
•Louvor da Comissão Coordenadora do Conselho Científico da FLUC pela
realização do Colóquio “Protecção versus Prevenção : Do Abuso Sexual e
outros na Infância” no âmbito do Curso Livre “Argumentar para quê ?”
2006-2007
Leccionação das cadeiras de História da Lógica e Lógica Simbólica (1º Ciclo,
Licenciatura em Filosofia), e Teorias da Argumentação (opção transversal do 1º
Ciclo).
Leccionação da cadeira de Lógica Simbólica da Licenciatura em Ciências da
Informação da FLUC.
2007-2008
Leccionação das cadeiras de História da Lógica, Lógica Simbólica, Teorias
da Argumentação e Oficina da Argumentação (1º Ciclo, Licenciatura em Filosofia).
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•Conferência intitulada “O modelo de argumentação de Stephen Toulmin” e
proferida no dia 18 de Dezembro de 2007 pelo Mestre Rui Alexandre
Grácio no âmbito das actividades da cadeira de Teorias da Argumentação.
Leccionação da cadeira de Lógica Simbólica da Licenciatura em Ciências da
Informação da FLUC.
Leccionação da cadeira de opção condicionada no grupo (1º Ciclo,
Licenciatura em Filosofia) intitulada “Leitura de Textos Filosóficos IV”.
Seminário intitulado “Lógica das Ciências” no âmbito do Curso de Mestrado
em Filosofia Contemporânea da FLUC.
Curso Livre “Argumentar para quê ? Da argumentação na sociedade
portuguesa à argumentação do mundo contemporâneo”.
2. ACTIVIDADES CIENTÍFICAS
2.1. TESES
Agregação em Filosofia:
2007 Bertrand Russell e a história da filosofia analítica (Wittgenstein, o
‘Círculo de Viena’, Quine), Programa e relatório apresentado à Faculdade de Letras
da Universidade de Coimbra no âmbito de provas para a agregação em Filosofia,
Coimbra : Ed. do Autor.
2007a Bertrand Russell e a filosofia analítica no século XX, Lição de síntese
proferida no âmbito anteriormente referido, Coimbra: Ed. do Autor.
2.2. PUBLICAÇÕES
a) Novas direcções dos estudos sobre a filosofia em Portugal
Desde o seu mestrado em Filosofia Contemporânea (Ribeiro, Henrique Jales
1991 Experiência e Filosofia em Leonardo Coimbra, Coimbra : Ed. do Autor),
sempre teve o autor deste relatório um especial interesse pela filosofia em Portugal
na época contemporânea. O interesse decorre não só dessa filosofia em si mesma mas,
5
sobretudo, da sua contextualização europeia e ocidental de maneira geral. Neste
sentido publicámos já em 2001 um trabalho especializado intitulado “A ‘síntese
leibniziana’ da teoria da ciência na segunda metade do século XIX : De Leonardo a
Antero” (Revista Filosófica de Coimbra, nº 19, 2001, pp. 93-147), e a recensão, para
a revista aludida (ibidem, nº 21, 2002, pp. 319-326), do livro do Prof. Fernando
Catroga Antero de Quental: História, socialismo, política (Lisboa: Ed. Notícias,
2001). Essa orientação metodológica e epistemológica fundamental para o estudo da
relação entre a filosofia no Portugal contemporâneo e o pensamento filosófico
europeu é a única via, do nosso ponto de vista, de reabilitar e credibilizar actualmente
a historiografia praticada na matéria. Nesse sentido, apontámos em algumas das
nossas publicações, logo depois dos trabalhos citados, para a necessidade de uma
reformulação radical do espírito e dos métodos da referida historiografia. O
preconceito de que a filosofia em Portugal, particularmente ao longo do século XX,
não terá, no seu conjunto, verdadeiro interesse filosófico é um legado infeliz da
crença ideológica na chamada “filosofia portuguesa”, que importa desconstruir e
desmistificar completamente. Essa crença, divorciando Portugal do resto da Europa,
conduziu à completa desvalorização do interesse e alcance de toda a reflexão
genuinamente filosófica feita no nosso país.
Por outro lado, os estudos que efectuámos sobre o pensamento filosófico em
Portugal vão ao encontro das nossas próprias convicções e interesses no que ao
espírito e metodologia da investigação científica, de maneira geral, concerne. Foi o
autor do presente relatório, no quadro das suas investigações especializadas sobre a
filosofia de Bertrand Russell, que é suposto ser um dos fundadores da filosofia
analítica, um dos primeiros universitários portugueses a procurar mostrar através de
historiografia competente que a distinção entre duas tradições e/ou dois métodos
filosóficos (o “continental” e o “analítico”) não se justifica mais actualmente.
Interessou-nos, em particular, desconstruir profundamente do próprio ponto de vista
histórico-filosófico os mitos e as ideologias associadas a essa distinção, analisando
os meandros epistemológicos complexos que lhe estão subjacentes e, com ela, ao
conceito de história da filosofia analítica ele mesmo. Estamos convictos de que é
absolutamente imperativa uma tarefa similar no que à filosofia em Portugal, na época
contemporânea, diz respeito.
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ARTIGOS/LIVROS
2004 “Encontros, desencontros e reencontros entre o Ocidente e o Oriente :
Notas sobre o budismo e o neo-budismo filosófico europeu e português”, in BIBLOS,
Revista da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, NS, II, pp. 219-246.
Trata-se da primeira monografia em língua portuguesa dedicada à recepção do
budismo e da sua problemática filosófica na Europa dos finais do século XIX pela
filosofia em Portugal (Antero de Quental, Oliveira Martins e Leonardo Coimbra).
“In this paper the author discusses the encounter between Occident and
Orient in European philosophy in the second-half of the nineteenth-century
and, especially, its philosophical meaning in that context. He takes as case
studies Ch. Renouvier, and M. Guyau, in France, Ed. von Hartmann, in
Germany, and A. Quental, O. Martins e L. Coimbra, in Portugal. He shows
that we can find a sort of Bouddhism disseminated in several European
circles at that time, mainly in German monism and pantheism, and in French
spiritualism and neo-criticism. This came about as result of the interest in
using philosophy to explain the relationship between the Individual and the
Whole. He suggests that European philosophy didn’t actually have a clear
view on what Buddhism means and what its implications are. Furthemore, he
holds that, long before our contemporary globalization  whose relevance
until now can be reduced only to technological aspects  there was a
philosophical ans religious globalization, at that time, concerning both
occidental (Christianity) and oriental religions (Brahmanism and Bouddhism),
and that Buddhism was at its core.” (Ibidem, p. 219)
Este trabalho aparece citado em Lopo, Rui 2007 “A leitura do budismo na obra
de Dalila Pereira da Costa”, in Revista Lusófona de Ciência das Religiões, nº 11, pp.
199-210.
2005 “A filosofia portuguesa e o ‘Estado Novo’ : Das implicações
ideológicas, política e outras da filosofia em Portugal no século XX”, in BIBLOS,
Revista da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, NS, III, pp. 129-153.
Trata-se da primeira recolocação do problema da existência de uma ‘filosofia
portuguesa’ na perspectiva da necessidade de uma profunda reformulação da
metodologia da historiografia da filosofia em Portugal depois da edição da História
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do Pensamento Filosófico Português (Direcção de P. Calafate, Lisboa: Editorial
Caminho, 1999 e ss., 6 vol.s).
“Philosophy, in Portugal, during the most part of the twentieth-century, has
been dominated by two ideological and political paradigms: one, holding the
existence and specificity of a kind of culture and philosophical thinking
tipically Portuguese and essentially different from others national cultures
and philosophies (the so-called ‘Portuguese philosophy’, according to his
followers); and another, contending the opposite, that is to say, the supranational nature of Portuguese culture and philosophy, whose foundations
would be the same democratic and universal values of other European and
Occidental countries. The author studies the historical and philosophical
origins of such paradigms in the context of the problem of the novelty and
originality of the philosophical thinking produced in Portugal in the past,
holding that that problem must be distinguished from a similar one
concerning the identity of Portuguese culture; shows the limits of the
concepts ‘Portuguese philosophy’ and ‘Portuguese philosophical thinking’;
and suggests some alternative ways of the approach, nowadays, to the
distinction between philosophy and culture, in Portugal, from an
historiographical perspective.” (Ibidem, p. 129)
2008 Estudos sobre a filosofia em Portugal e na Europa do século XIX ao
século XX : De Antero de Quental a Leonardo Coimbra, Coimbra: Pé de Página
Editores (no prelo, 250 pp.).
O livro, procurando romper decisivamente com a tradição historiográfica na
matéria, apresenta-se como a primeira verdadeira investigação histórico-filosófica
sistemática do contexto europeu da filosofia em Portugal no período que vai da
segunda metade do século XIX ao primeiro quartel do século XX, estudando em
especial, no âmbito desse contexto, as filosofias de Antero de Quental e Leonardo
Coimbra.
Está dividido nas seguintes partes principais : Prefácio : Historiografias e
ideologias da filosofia em Portugal; Introdução : A ‘filosofia portuguesa’ e o ‘Estado
Novo’ : Das implicações ideológicas políticas e outras da filosofia em Portugal no
século XX; Primeira Parte : A ‘síntese leibniziana’ entre ciência e filosofia em
Antero de Quental e na segunda metade do século XIX; Segunda Parte : A filosofia
de Leonardo Coimbra no contexto europeu do seu tempo; Referências bibliográficas.
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A introdução e a primeira parte deste livro já foram publicadas anteriormente,
respectivamente em BIBLOS, Revista da Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra (vol. III, 2ª série, 2005, pp. 129-154), e na Revista Filosófica de Coimbra
(vol. 10, nº 19, Março de 2001, pp. 93-147). Foram revistas e muito ampliadas tendo
em vista a presente edição. Mas o grosso desta, constituído por uma extensa
“Segunda Parte”, sai à estampa pela primeira vez.
“(…) As razões de fundo essenciais deste descrédito aparente da filosofia
em Portugal e dos respectivos autores são complexas; algumas vêm do tempo
da ‘filosofia portuguesa’, outras do contexto social, cultural e político
português dos últimos decénios. Na primeira, incluirei desde logo e em
primeiro plano a identificação ideológica da filosofia com a cultura,
característica do ‘Estado Novo’, que conduziu preponderantemente ao uso de
uma metodologia histórico-literária, ‘paroquial’ e ‘nacionalista’, de
interpretação dos autores da filosofia em Portugal, a que Joaquim de
Carvalho se referia, de forma muito crítica, já nos anos cinquenta do século
passado. E, na segunda, dois preconceitos, muito comuns ainda hoje em dia:
o filosófico, de acordo com o qual esses autores serão não só eclécticos mas,
sobretudo, menores, para todos os efeitos, quando comparados com os
estrangeiros, e, justamente porque seriam ‘menores’, não merecerão
verdadeira credibilidade filosófica; e o político, segundo o qual o alcance ou
significação da generalidade das filosofias produzidas no contexto do Estado
Novo, como é o caso, sobretudo, das de Leonardo Coimbra e António Sérgio,
se esgotarão historicamente nesse mesmo contexto, sendo certo que a
primeira, como argumentam os seguidores da segunda, pecaria não só por
ausência de qualidade mas também por omissão da contestação do sistema
político da época. Ambos os preconceitos confluem, apesar de tudo, numa
nova identificação ideológica da filosofia com a cultura, desta feita a
contrario, e  o que é mais importante do meu ponto de vista  na
incapacidade de ultrapassar, de vez, a metodologia histórico-literária de
interpretação filosófica a que aludi acima.”
“(…) A contextualização europeia da filosofia em Portugal que vai da
segunda metade do século XX ao século XX produz resultados
surpreendentes no que diz respeito à desmistificação dos preconceitos a que
comecei por aludir sobre a importância do estudo da filosofia em Portugal.
Mostra-se exaustivamente neste livro, desse ponto de vista, que o carácter
‘menor’ e ecléctico dos filósofos portugueses em apreço (Antero de Quental
e Leonardo Coimbra, em especial) não é uma deficiência da parte deles,
como se pensa vulgarmente, mas um traço constitucional da filosofia
europeia do tempo a que pertencem. Talvez nenhuma outra época na história
da filosofia ocidental tenha sido tão rica em matéria de eclectismo e de
proliferação de autores ‘menores’ como esta de que me ocupo neste livro,
quer dizer, os sessenta ou setenta anos que vão, grosso modo, da edição da
Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Epítome, de Hegel, ou do Curso
de Filosofia Positiva, de Comte, ao dealbar do século XX. Mas do que se
trata, quando falamos de ‘eclectismo’ nessa época, é, para além dos inúmeros
autores e das multiplas correntes ou tendências da mesma, de um amplo
9
movimento filosófico e/ou de um verdadeiro ‘programa em filosofia’ (como
sugere Antero nas ‘Tendências’) corporizado em torno de um objectivo
comum: oferecer uma nova síntese entre ciência e filosofia depois das
grandes sínteses de Hegel e de Comte. A existência de um tal ‘programa’ na
filosofia da segunda metade do século XIX é geralmente ignorada pela
historiografia filosófica, portuguesa e estrangeira, que é do nosso
conhecimento; e, se este livro tem algum interesse e mesmo originalidade, é
justamente pelo facto de, na opinião do próprio autor, destacar e estudar com
a atenção e detalhe possível a sua natureza e significação. Poucos dos
filósofos desta nóvel síntese entre ciência e filosofia ficaram para a história
da filosofia propriamente dita, no sentido em que esta é tradicionalmente
concebida, quer dizer, como história dos ‘grandes autores’. Não é o caso
apenas, pois, de Antero de Quental e de Leonardo Coimbra, mas de toda uma
vasta plêiade europeia de filósofos considerados ‘menores’. A razão da
ausência dessa memória histórica não tem a ver, à partida, com qualquer
juízo de valor sobre a qualidade das suas obras, como se verá na primeira e
segunda partes deste livro, mas, sobretudo, com o facto de que o paradigma
amplamente partilhado que as orientou, na época, se ter esgotado
historicamente sem alcançar os seus objectivos fundamentais. Foi destronado,
de forma mais ou menos abrupta e revolucionária, pelas novas filosofias
emergentes no primeiro quartel do século XX (fenomenologia, hermenêutica,
lógica matemática); mas não sem que nestas se assumissem, indirectamente
pelo menos, alguns compromissos inalienáveis (e pouco estudados) com
ele.” (Ibidem, “Prefácio”)
b) Investigações sobre a retórica e as teorias da argumentação
2005 “’Critical Thinking’, retórica e filosofia”, in Actas do 1º Congresso
Virtual do Departamento de Literaturas Românicas: Retórica (Proceedings of the
1st Virtual Congress of the Romance Literature Department: Rhetoric), Lisboa:
CLEPUL (Ed. em CD-ROM).
Trata-se de um dos primeiros trabalhos em língua portuguesa sobre os
pressupostos histórico-filosóficos do movimento intitulado como “critical thinking’ e
as suas relações com a retórica e as teorias da argumentação de modo geral.
“Um dos acontecimentos mais marcantes do desenvolvimento da lógica e da
retórica no último quarto do século passado foi o aparecimento da lógica
informal e, na sequência desta, de um amplo movimento intelectual, social,
cultural e político, sobretudo nos Estados Unidos, que dá pelo nome de
‘critical thinking’. Uma das particularidades deste movimento é que, em
contraste, com o que acontecia com a retórica anteriormente, incluindo as
10
concepções daqueles que estiveram na origem da sua reabilitação
contemporânea, como Stephen Toulmin e Chaïm Perelman, não pretende
apenas constituir uma teoria da argumentação, no caso, uma teoria que vai
buscar à lógica informal os seus pressupostos fundamentais, mas justamente
um odelo de cidadania e racionalidade. Disso é testemunho o seu amplo
impacto na sociedade americana (facilmente recensável na ‘Internet’) e o
apoio notório que conseguiu obter por parte dos diferentes quadrantes da
classe política. Um dos principais objectivos desta comunicação é procurar
pôr em evidência as razões filosoficas que explicam a emergência e
desenvolvimento do critical thinking a partir da lógica informal, e analisar as
conexões de ambas as concepções quer com a lógica quer com a retórica, em
particular, no que a esta última diz respeito, com as investigações dos dois
autores acima referidos.” (Ibidem)
c) Novas direcções dos estudos sobre Russell e a filosofia analítica
contemporânea
As nossas investigações sobre Russell e a filosofia analítica contemporânea no
quinquénio 2003-2008 passaram fundamentalmente pelo desenvolvimento e
especialização das teses já expostas em vários trabalhos publicamente conhecidos,
como é o caso de Para compreender a história da filosofia analítica (Coimbra:
MinervaCoimbra, 2001). Nesse livro, não foi apenas oferecida uma visão
completamente nova de Russell e da própria história da filosofia analítica (do ponto
de vista da epistemologia dessa história e da respectiva historiografia); foram
sugeridas linhas de investigação especializadas sobre os diferentes temas e assuntos
de que nele o autor se ocupou. O autor aprofundou e desenvolveu algumas dessas
linhas em vários trabalhos (artigos, livros, comunicações orais) publicados até à
presente data.
Uma das nossas teses fundamentais, que levou à organização em 2002 de um
congresso nacional sobre filosofia analítica (“1º Encontro Nacional de Filosofia
Analítica”, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 17 e 18 de Maio)
conjuntamente com outros docentes universitários portugueses, passa pela ideia de
que não existem duas tradições filosoficamente distintas e divorciadas, que oporiam
filósofos “analiticos” e “continentais” (cf. Ribeiro, Henrique Jales 2003 [Org.] Actas
do 1º Encontro Nacional de Filosofia Analítica, Coimbra: Faculdade de Letras,
“Apresentação”, pp. 7-12). A tese parece ser, hoje em dia, amplamente partilhada
pela comunidade filosófica universitária, quer portuguesa quer estangeira. Alguns
dos trabalhos publicados no quinquénio retomam-na e desenvolvem-na, apresentando
11
uma imagem completamente diferente da tradicional a respeito da história filosofia
analítica. É particularmente o caso dos que se ocupam da recepção de Kant ou da de
Locke ao longo dessa história e da vasta problemática histórica e filosófica que
caracteriza o chamado “Círculo de Viena”.
Entre as linhas de investigação especializadas a que começámos por nos referir
elegemos uma : a do conceito russelliano de ‘linguagem logicamente perfeita’ e suas
conexões com a filosofia do primeiro Carnap (cf., mais abaixo, 2005a e 2006). É um
tema que não consideramos de forma alguma esgotado. Importa, em particular,
aprofundar a sugestão que temos vindo a fazer, de acordo com a qual esse conceito
tem como raizes históricas e filosóficas mais remotas a ampla problemática de uma
“síntese leibniziana” entre ciência e filosofia na segunda metade do século XIX. Por
esta via se cruzam as nossas investigações sobre a proto-história da filosofia analítica
com aquelas que mais recentemente desenvolvemos sobre a filosofia em Portugal
durante o referido período.
ARTIGOS/LIVROS
2004
“Rejeição
versus
aceitação
de
Kant
na
filosofia
analítica
contemporânea”, in Revista Filosófica de Coimbra, nº 26, pp. 393-409.
Trata-se da primeira monografia publicada em Portugal (e, na época, uma das
primeiras a nível internacional) exclusivamente consagrada ao estudo da complexa
recepção de Kant ao longo da história da filosofia analítica, mostrando-se a
incontornável presença desse filósofo na mesma.
“In this paper the author studies the place of Kant in contemporary analytical
philosophy from Frege, Russell and the Viennese logical positivists to some
more recent presentations of the Kantian problem on the distinction beteween
the analytic and the synthetic, such as Quine’s concerning Carnap in the
‘Two Dogmas of Empiricism’, or Coffa’s in The Semantic Tradition from
Kant to Carnap. He discusses the reasons of a return to Kant in analytical
philosophy from the 1950s onwards, and, especially, what he calls the
‘rejection versus accpetance of Kant’s philosophy’. He shows that the focal
point of this return to Kant was the debate on the impact of the abovementioned problem and its implications for analytical philosophy; and
emphasizes the great relevance of that problem or contemporary analytical
historiography. The author finishes his paper with the criticism of some
12
fundamental aspects of the analytical view on the history of philosophy
which are at the basis of a return to Kant.” (Ibidem, p. 393)
2005 “Locke, a tradição do empirismo britânico e a filosofia analítica”, in
Actas do Colóquio Internacional a ‘Herança de Locke’ (Proceedings of the
International Colloquium ‘’Locke’s Legacy’), Lisboa : Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa, pp. 39-59.
Trata-se até agora, tanto quanto sabemos, da única monografia consagrada
exclusivamente à recepção de Locke na história da filosofia analítica, desde a
chamada “tradição do empirismo britânico em filosofia” à actualidade.
“O pano de fundo da recepção de Locke ao longo de todo o século XIX foi a
sua integração no âmbito do chamado ‘empirismo britânico’, com Locke,
Berkeley e Hume, e, de forma mais decisiva para os meus objectivos nesta
comunicação, a sua integração e interpretação no amplo contexto da
intitulada ‘tradição do empirismo britânico em filosofia’. Numa primeira
parte desta comunicação, procurarei distinguir or dois conceitos em questão,
sugerindo que, em contraste com o primeiro, o último é um constructo
especificamente da filosofia analítica que está longe de ser inofensivo no que
diz respeito à historiografia sobre Locke. É ele que informa, ainda hoje em
dia, aquilo a que podemos chamar ‘a visão padrão’ ou a ‘imagem oficial’
dessa historiografia proveniente, sobretudo, da filosofia anglo-saxónica.
Sugerirei que essa visão ou imagem própria da ‘tradição do empirismo
britânico’, introduzida por Ayer em meados dos anos trinta do século XX,
conduziu à instauração, poucos anos depois, do que poderemos chamar ‘o
paradigma linguístico’ da hermenêutica lockeana, e analisarei as origens,
extensão e implicações de um tal paradigma. A seguir, destacarei alguns
limites e didiculdades do mesmo, sugerindo que a sua aplicação à filosofia de
Locke nos remete para uma teoria da historiografia filosófica questionável
quer nos seus pressupostos que, em particular, nas suas consequências. A
esta luz, apontarei algumas razões que explicam a queda do paradigma
limguístico de interpretação e emergência de um paradigma propriamente
semântico,  que aparece consagrado, de forma muito especial, no livro de
A. Coffa, The Semantic Tradition from Kant to Carnap: To the Vienna
Station , o qual implica, no fundo, o derrube da ideia de tradição de
empirismo britânico ela mesma, e uma relativa deflacção contemporânea da
historiografia analítica sobre Locke, sem que os pressupostos subjacentes a
essa historiografia se tivessem alterado essencialmente. Exemplificando, e
para terminar, analisarei em particular a interpretação que Rorty nos oferece
de Locke em Philosophy and the Mirror of Nature.” (Ibidem, p. 41)
13
2005a “Russell, Wittgenstein e a ideia de uma ‘linguagem logicamente
perfeita’”, in Revista Filosófica de Coimbra, nº 27, pp. 81-130.
Trata-se da primeira monografia a nível internacional exclusivamente dedicada
ao conceito russelliano de “linguagem logicamente perfeita”, mostrando, igualmente
pela primeira vez, que o mesmo não se reduz a uma versão lógico-matemática, ou
formal, como a que parece estar presente nos Principia Mathematica, mas tem
também, desde as “Lições sobre a Filosofia do Atomismo Lógico” (1918), uma
acepção onto-epistemológica, que irá ser desenvolvida por Rudolf Carnap em Der
logische Aufbau der Welt.
Este trabalho aparece na sequência do artigo do autor, intitulado “From
Russell’s Logical Atomism to Carnap’s Aufbau: Reinterpreting the Classic and
Modern Theories on the Subject” (in Rédei, M., e Stölzner, M. 2000 [Ed.s] John von
Newman and the Foundations of Quantum Physics, Dordrecht/Boston/London:
Kluwer Academic Publishers, pp. 305-318).
“Russell’s idea of a ‘logically perfect language’ has been traditionallly
interpreted, after Wittgenstein’s criticims, as if it was simply an artificial and
symbolic one (like that, apparently, of the Principia Mathematica), whose
purpose would be to eliminate the vagueness of ordinary language and to
introduce in it ‘precision’ and ‘exactness’. The author, following his own
research on the subject, holds provocatively that that interpretation cannot be
accepted, because, in the first place, for Russell, has happens with
Wittgenstein from another perspective, ordinary language is ‘in order, as it
is’; he studies the historical and philosophical origins of the concept of such a
language in both philosophers and especially in Russell’s reading of
Wittgenstein’s ‘Notes dictated to G. Moore in Norway’; and shows that for
Russell, contrary to the standard reading on the subject, the ‘logically perfect
language’ it essentially has an onto-epistemological nature.” (Ibidem, pp. 8182)
2005b “A New Reading of Russell’s ‘Introduction’ to Wittgenstein’s
Tractatus”, in Friedrich Stadler e outros (Ed.s), Time and History (Papers of the 28th
International Wittgenstein Symposium), Kirchberg am Wechsel: Austrian Ludwig
Wittgenstein Society, 2005, pp. 256-258.
14
Trata-se da apresentação pública resumida, em língua inglesa, da tese que o
autor foi o primeiro a apresentar originalmente, a nível internacional, a respeito da
‘Introdução’ ao ‘Tractatus’, segundo a qual nesse texto não há evidência alguma de
qualquer bancarrota da filosofia de Russell face ao impacto da de Wittgenstein, aí se
lendo esta última à luz de conceitos completamente novos, até agora ignorados pela
historiografia na matéria.
“Contrary to the ‘standard reading’ on the subject (Eames 1989, Hylton 1990,
Hacker 1996), the presupposition that Russell’s philosophy entered in
‘bankruptcy’ with the impact of the Tractatus Logico-Philosophicus has no
historical and philosophical basis, be it at the time of Russell’s reading of the
manuscript of that book, in 1919, or at its publishing date (1921), or later.
The presuppostion wrongly identifies Russells views at the time of the
‘Introduction’ to that book with a naïve atomism, based on the confusion
between logic, psychology and epistemology, to which he would have
renounced in the face of a purified and most advantageous approach of logic
than that of the Tractatus. From this perspective, this book would itself
expose, in a sense an atomist view of logic, but, contrary to what appens with
Russell’s, a perfectly consistent one. In this paper, I will try to show that the
essential point of the ‘Introduction’ is that Russell, whose philosophy
meantime had evolved to a view on the vagueness of ordinary language that I
will designate as ‘partial semantic holism’, could not share Wittgenstein’s
concept of logic, and, especially, a more or less radical holism that seems to
characterize it, leading not only to mysticism, but, generally, to the idea of
the impossibility of philosophy itself.” (Ibidem, p. 256)
2005c “Kant, os começos da filosofia analítica e o ‘Wiener Kreis’”, in
Revista Portuguesa de Filosofia, vol. 62, pp. 873-889.
Na sequência do trabalho intitulado ‘Rejeição ‘versus’ aceitação de Kant na
filosofia analítica contemporânea”, mais acima citado, é o primeiro trabalho
especializado em língua portuguesa sobre a recepção de Kant por parte do
positivismo lógico vienense. Segue uma orientação metodológica, do ponto de vista
historiográfico, avançada por outros autores a nível internacional (em especial
Friedman, M. 1999 Reconsidering Logical Positivism, Cambridge: Cambridge
University Press).
“The present article claims that right from its foundations, with Frege,
Russell and Wittgenstein, analytical philosophy set out from the
15
presupposition that Kant was its principal enemy throughout the history of
philosophy. Once eliminated the fundamental role of the idea of a subject of
knowledge and the psychologism that followed from it, and returned to its
proper place, that is, stripped of illegitimate epistemological implications, the
function of logic as a radical entreprise on the foundations of mathematics
and of science in general, Kant was declared officially dead. The
development of logic, even so, showed early on that the fundamental
problems of analytical philosophy, against all expectations, continued,
essentially, to be exactly those that occupied the philosopher from
Königsberg in the Critic of Pure Reason, without any definitive or satisfying
solution in sight. The author of the present article, following the most recent
historiography and his own work on the subject, develops this perspective in
regard to the Vienna Circle, showing that the anti-Kantian motivations of this
movement and its origins in the beginnings of analytical philosophy, namely
in Russell, do not preclude compromises and complicities with Kant’s
philosophy, a fact that, according to him, was never confessed or admitted by
the logical positivists.” (Ibidem, pp. 883-884)
2006 “Russell versus Quine : Sobre as origens filosóficas do conceito de
epistemologia naturalizada”, in Sofia Miguéns e outros (Org.), Actas do 2º Encontro
Nacional de
Filosofia Analítica (Proceedings of the 2nd National Meeting for
Analytic Philosophy), Porto : Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Trata-se da apresentação de uma teoria do autor a respeito da relação entre as
filosofias de Russell e de Quine, que é original quer ao nível português quer ao
internacional. A mesma foi apenas sugerida (independentemente do autor) na
historiografia sobre Russell por dois especialistas (Lackey, D. 1975 “Russell’s
Antecipation of Quine’s Criterion”, in Russell : The Journal of the Bertrand Russell
Archives, nº 16, pp. 27-30, e O’Grady, P. 1995 “The Russellian Roots of Naturalized
Epistemology”, in ibidem, NS, nº 15, pp. 53-63), e não tem qualquer eco nos estudos
mais recentes dedicados exclusivamente a Quine (cf. Hylton, Peter 2007 Quine,
London/New York: Routledge).
A teoria, no trabalho em apreço, é uma aplicação e desenvolvimento de ideias
do autor já apresentadas em “The Present Relevance of Bertrand Russell’s Criticism
of Logical Positivism” (in Revista Portuguesa de Filosofia, tomo IV, nº 4, 1999, pp.
427-458), que por sua vez se baseou numa conferência em língua inglesa proferida
no “XXVI Annual Meeting of the Bertrand Russell Society” (Monmouth University,
West Long Branch, New Jersey, USA, 5 de Junho de 1999).
16
“Quine has been traditionally conceived as the first philosopher to introduce
semantic holism and the cponcept of naturalized epistemology in
contemporary analytical philosophy, against Russell, Carnap and others. The
author, following his own research on the subject, shows provocatively the
Russellian roots of Quine’s views.” (Ibidem, p. 368)
“A pressuposição de que a filosofia de Russell estará na origem, directa ou
indirectamente, do conceito quineano de epistemologia naturalizada é, à
partida, paradoxal, ou, pelo menos, altamente questionável segundo a
historiografia na matéria. Pois não foi em grande parte, justamente, contra
uma epistemologia fundacionalista, como a de Russell, que esse conceito terá
sido concebido ? Dizer que uma tal epistemologia estará de algum modo na
rota, filosoficamente falando, do conceito de Quine parece ser, assim, uma
contradictio in adjectum, quando não mesmo uma provocação. Vou sugerir,
contudo, que, sendo certo que Russell não é um autor da ideia de
epistemologia naturalizada, a sua própria concepção de epistemologia numa
série de trabalhos numa série de trabalhos dos anos trinta e quarenta do
século passado abriu o caminho, positivamente falando, para a de Quine,
mesmo se, em última análise, os respectivos resultados só de forma mais ou
menos remota foram incorporados por esta última. A minha teoria passa,
desde logo, por não devermos aceitar uma parte substancial do que Quine ele
mesmo nos diz, genericamente, quanto às origens da sua concepção e, de
forma mais geal, por recusarmos subscrever o que a historiografia conhecida,
ou aquilo a que podemos chamar a ‘versão oficial das origens do conceito de
epistemologia naturalizada’ diz sobre a matéria. (…) Passa, em segundo
lugar, por procurar contextualizar nos trabalhos da filosofia de Russell a que
aludi a problemática da epistemologia naturalizada, sobretudo no que diz
respeito à teoria da significação e à filosofia da linguagem de modo geral.”
(Ibidem, p. 369)
2006a “Kant e o positivismo lógico vienenese : O manifesto do ‘Círculo de
Viena’ como caso em estudo”, in Leonel Ribeiro dos Santos (Org.), Actas do
Colóquio Internacional ‘Kant: Posteridade e actualidade’ (Proceedings of the
International Colloquium ‘Kant: Actuality and Posterity’), Lisboa: Centro de
Filosofia da Universidade de Lisboa, pp. 589-600.
Trata-se de um trabalho breve mas especializado no que diz respeito ao estudo
do manifesto do “Círculo de Viena” e da representação que aí é feita, por parte dos
respectivos autores, das origens históricas e filosóficas do movimento que
protagonizaram. Sugerimos originalmente, face às investigações internacionais na
matéria, a presença nesse texto fundamental de três modelos da filosofia
contrastantes entre si.
17
“(…) distinguimos basicamente três modelos de filosofia, que são, como já
foi sugerido, três representações proto-históricas da génese do positivismo
lógico vienense patente no manifesto : o modelo da filosofia do atomismo
lógico, de Russell e de Wittgenstein, os quais, para os membros do Círculo,
eram filosoficamente solidários no essencial: o modelo ‘empirista’ ou
‘positivista’, que é suposto aglutinar as contribuições diversas do ‘empirismo
britânico’ de Locke, Berkeley e Hume, dos empirismos de Mill e de Mach,
em, certa medida, as do próprio Wittgenstein no Tractatus ; e, finalmente, o
modelo neo-hegeliano de Neurath, que parece ter sido, como dissemos, o
principal redactor desse texto e cuja caneta é por demais evidente ao longo
do mesmo. De todos estes modelos ou representações se segue uma rejeição
clara da filosofia de Kant (…). Que os três modelos, apesar de tudo,
transpirassem metafísica e se pudessem contradizer manifestamente entre si
neste ou naquele ponto fundamental, não era importante para os positivistas
vienenses (…) O essencial, para eles, passava pela contestação e rejeição do
idealismo (…), pondo a ideia de eliminação da metafísica, como queria
Neurath em especial, ao serviço de uma concepção da filosofia
marcadamente interventiva no plano social, cultural e político.” (Ibidem, pp.
593-594)
2007 “Não há método nem métodos da filosofia analítica : Não há ‘filosofia
analítica’”, in Diogo Ferrer (Org.), Actas do Colóquio ‘Método e métodos do
pensamento filosófico’, Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, pp. 119134.
Este trabalho materializa pela primeira vez nas investigações do autor sobre a
filosofia analítica, algo provocadoramente, a ideia fundamental que sempre lhes
esteve subjacente: de que, de acordo com a própria historiografia analítica, não só
não existem duas tradições filosóficas distintas e supostamente divorciadas entre si,
a ‘continental’ e a ‘analítica’, como também de que não se pode caracterizar esta
última como estando subordinada a qualquer método ou cânone que lhe seria
inerente em contraste com um outro que seria próprio da primeira.
“Gostaria de introduzir brevemente o tema da minha comunicação, dizendo,
algo provocadoramente, que a tese fundamental a desenvolver e justificar na
mesma é que não há qualquer método (ou métodos) característico(s) do que
se supõe constituir a “filosofia analítica”, porque, de facto, esta não existe,
substantivamente, enquanto modo de pensar e de filosofar essencialmente
distinto do de outras supostas tradições filosóficas, como a chamada
‘tradição continental’, ou da filosofia de modo geral. Em ordem a ser tão
preciso quanto o possível por agora, acrescentarei que, se é verdade que não
há uma realidade que poderíamos designar por ‘filosofia analítica’ nem um
método ou métodos próprios dessa filosofia, também o é, em parte pelas
18
mesmas razões, que não existe qualquer coisa a que possamos chamar
‘filosofia continental’ com um método ou métodos que lhe seriam inerentes.
Mais adiante, deste ponto de vista, sugerirei, na linha das minhas
investigações anteriores, que a existência desta última filosofia foi um mito
introduzido na filosofia contemporânea, particularmente na última metade
do século XX, pelos defensores da existência da primeira. Não ignoro, é
claro, que, quer no passado quer actualmente muitos filósofos na Europa e no
Ocidente no seu conjunto, em sentido oposto àquele que aqui vai ser
argumentado, nos falam de ‘filosofia analítica’ e de ‘método da filosofia
analítica’ in re, como se tais entidades se opusessem a outras próprias da dita
‘filosofia continental’. Esse facto não é completamente irrelevante para a
defesa da minha tese, uma vez que procurarei argumentar que grande parte
da legitimidade da pretensa ‘filosofia analítica’, em especial no passado ou
na história da filosofia, é de natureza ideológica, assentando sobretudo em
razões sociológicas de cariz institucional. Mas, filosoficamente falando (no
sentido próprio da expressão), é despiciendo. A ‘filosofia analítica’ e a
‘filosofia continental’ existirão tanto, em certa medida, como, para Quine,
existirão o cavalo de Pégaso ou os deuses do Olimpo da mitologia grega;
com a enorme vantagem de que podem ser indiscutivelmente mais úteis para
nós hoje em dia, desse ponto de vista ideológico-institucional a que aludi, do
que essas hipotéticas entidades. Nesta perspectiva, que aqui desenvolverei,
podemos seguramente falar da existência enquanto tal de uma filosofia
propriamente analítica, que importará distinguir, em certa medida, da
continental.” (Ibidem, pp. 119-120)
2007a Bertrand Russell e a filosofia analítica no século XX, Coimbra: Pé de
Página Editores (80 pp.).
Este livro, baseado na lição de síntese das provas de agregação do autor,
constitui a expressão final das suas investigações desde o doutoramento em filosofia.
As teses fundamentais aí apresentadas a respeito da filosofia de Bertrand Russell e do
seu lugar na história da filosofia analítica são completamente originais, quando
contrastadas com a historiografia conhecida e especializada na matéria quer em
Portugal quer, sobretudo, nos países de língua oficial inglesa.
O livro está divido em quatro partes: Introdução : Uma visão popperiana dos
problemas filosóficos; Capítulo Primeiro : Actualidade e posteridade da filosofia de
Russell; Capítulo Segundo : Desconstruindo as interpretações de Russell na história
da filosofia analítica; Capítulo Terceiro : Russell ‘versus’ Wittgenstein e as saídas
para o problema do holismo em filosofia; Capítulo Quarto: De Russell às teorias de
Quine : Os perigos do holismo em filosofia; Referências bibliográficas.
19
“(…) É nesta ampla perspectiva sobre o holismo na filosofia contemporânea,
e particularmente na de Russell, que se deve compreender uma das teses
fundamentais do programa e relatório do seminário de lógica e filosofia
analítica que submeti à V/ apreciação, a saber: que, na sequência da evolução
da filosofia de Russell a partir dos anos vinte do século passado,
independentemente de qualquer influência significativa da parte de
Wittgenstein e do Tractatus em especial, para aquilo a que chamei um
‘holismo semântico parcial’, a nota mais distintiva das intervenções do
filósofo inglês na evolução da filosofia analítica, quer com a formação e
desenvolvimento do ‘Círculo de Viena’ no primeiro quartel do século
passado, quer com a emergência da ‘filosofia inglesa da linguagem corrente’
dos anos quarenta em diante, quer, finalmente, com o aparecimento a partir
dos anos cinquenta do que M. Dummett chama a ‘filosofia americana’ (com
Quine e Putnam, sobretudo) [Dummett, M. 1978, pp. 437 e ss.], consistiu no
posicionamento ‘avant-garde’ da problemática holismo versus atomismo,
que só virá a fazer parte expressamente da agenda filosófica propriamente
dita, como já observei, várias décadas depois. Na verdade, como de forma
detalhada explico no relatório em questão, Russell estava convicto, depois de
ter tirado as lições que havia a tirar da sua controvérsia com Wittgenstein a
propósito do Tractatus, de que a evolução do movimento analítico com o
positivismo lógico vienense e a chamada ‘filosofia inglesa da linguagem
corrente’, tinha evoluído num sentido em que claramente denegava o objecto
e finalidade próprias da análise em proveito da tese holista segundo a qual a
linguagem constitui um domínio mais ou menos autónomo e auto-subsistente
que não carece de fundações próprias no mundo da experiência. Uma tal
fundação era essencial para ele, como se mostra, quase obcecadamente, em
Uma Investigação sobre a Significação e a Verdade e, por último, em o
Conhecimento Humano. Deste ponto de vista, as teses de Quine no início dos
anos cinquenta, particularmente aquelas que são apresentadas em “Dois
Dogmas do Empirismo” (que seguramente Russell conheceu), não vinham
trazer nada de novo quanto à questão da necessidade dessa fundação e à
problemática do holismo versus atomismo: em certo sentido, limitavam-se a
desenvolver e aprofundar em novos termos o holismo subjacente ao
desenvolvimento do movimento analítico desde o Tractatus de Wittgenstein.
É, como se recorda, a impossibilidade da filosofia no sentido cartesiano,
fundacionalista, do conceito, que Quine apregoa na ultima secção desse texto
a que aludi. Nada de novo para Russell, depois do que se disse até agora.
Talvez por isso mesmo, no último grande trabalho filosófico que publicou (O
Meu Desenvolvimento Filosófico) Russell sugere o seu abandono da filosofia
e da própria tradição filosófica que tinha inaugurado, de algum modo
auspiciosamente, nos começos do século XX (Russell, B. 1959, p. 230).”
“A segunda tese fundamental do programa e relatório que submeto à V/
apreciação é esta: bem considerada, ou considerada em contexto na história
da filosofia analítica ao longo do século XX, a filosofia de Russell não é
importante para nós hoje em dia apenas devido às contribuições essenciais
que trouxe para a filosofia da lógica e, em especial, para as fundações da
matemática; não é ainda importante para nós apenas devido às contribuições
que implicou em matéria de filosofia da linguagem, com esse magnífico
20
testemunho filosófico que constitui a teoria das descrições. Tudo isso já foi
expressamente admitido ao longo da história da filosofia analítica, incluindo
por aqueles que, como Max Black e outros, logo no início dos anos quarenta
do século passado, declaravam que, depois da primeira edição de os
Principia Mathematica, quer dizer, depois de 1913, nada mais de
filosoficamente interessante tinha Russell produzido (Black, M. 1989). Este
funeral antecipado do pensamento do filósofo inglês é conhecido. Não; a
filosofia de Russell pode ser relevante para nós e para as gerações futuras se
a entendermos como uma tentativa de encontrar uma via alternativa entre o
fundacionalismo em filosofia, que marcou a evolução do pensamento
filosófico até aos começos do século XX e ao pragmatismo de William
James e John Dewey em particular, e o puro relativismo, que conduz, de uma
forma ou de outra, à completa negação do objecto próprio da filosofia e à sua
transformação num mera ‘ciência humana’ entre outras, quer dizer, porque é
disso de que se trata efectivamente hoje em dia, ao seu desaparecimento. Se a
entendermos assim, como aliás o próprio Russell parece tê-la entendido dos
anos quarenta em diante, se olharmos para o significado da obra do filósofo
no seu conjunto e não para esta ou aquela teoria em especial, então talvez
seja possível vir a reabilitá-la e a conferir-lhe o seu verdadeiro lugar na
história da filosofia analítica contemporânea.” (Ibidem, pp. 27-29)
Apesar de ter sido publicado em língua portuguesa mereceu uma referência em
Russell: The Journal of the Bertrand Russell Studies, vol. 27, nº 2, 2007. Foi
comentado em “Crítica na Rede (publicação electrónica dedicada à divulgação,
ensino e investigação filosófica)” do seguinte modo:
“Eis um livro refrescantemente original e muito bem fundamentado, que abre
novas e promissoras perspectivas de interpretação das filosofias de Bertrand
Russell, do Tractatus de Wittgenstein e da história da filosofia analítica do
século XX em geral.” (http://criticanarede.com/html/his_jales.html)
2008 “Bertrand Russell e o problema da individuação na filosofia do
atomismo lógico”, in Revista Filosófica de Coimbra, nº 32, pp. 309-331.
O autor aplica e desenvolve a sua própria interpretação sobre a filosofia de
Russell, em particular, a tese segundo a qual é a problemática holismo ‘versus’
atomismo que está cerne do desenvolvimento dessa filosofia desde os anos vinte do
século passado.
“A questão do complexo e da existência de elementos simples que o
constituiriam é um dos problemas fundamentais da filosofia de Bertrand
Russell e, particularmente, do período chamado ‘atomismo lógico’, com o
21
qual muitas vezes, de forma precipitada, quer ela no seu conjunto quer a
filosofia do próprio Ludwig Wittgenstein no Tractatus Lógico-Philosophicus
é confundida. Pode o ‘simples’, na acepção russelliana do conceito, quer
dizer, como dado último do nosso conhecimento do mundo e sua base
fundamental de sustentação, aparecer-nos como o ‘singular’ propriamente
dito, isto é, como aquilo que é irredutível a esse conhecimento e, no fim de
contas, não analisável ? Pode a filosofia, por outro lado, dispensar e
finalmente evacuar este problema ao abrigo desta ou daquela versão de um
holismo mais ou menos radical em matéria de teoria da significação,
continuando a reclamar a sua legitimidade de direito, enquanto tal (filosofia),
perante a ciência e o senso comum ? O autor deste artigo, na sequência das
suas próprias investigações sobre Russell, Wittgenstein e a filosofia analítica
de modo geral, levanta, tematiza e aprofunda estas questões desde o
manuscrito do filósofo inglês, durante muito tempo inédito, intitulado Teoria
do Conhecimento, e a ‘Introdução’ ao Tractatus, aos últimos trabalhos dele,
argumentando que o desenvolvimento da filosofia de Russell, contra a
corrente ao longo do século XX, passou essencialmente pela tentativa de
encontrar uma via alternativa entre fundacionalismo e naturalismo que
salvaguardasse de forma consistente o verdadeiro estatuto do singular.
Conclui sugerindo que uma tal tentativa, embora esquecida ou ignorada
geralmente hoje em dia, é do maior interesse e actualidade para a filosofia
contemporânea.” (Ibidem, p. 309)
d) Novas direcções dos estudos sobre a teoria das utopias
2008a “Utopia e filosofia : Para uma teoria das utopias filosóficas sobre a
ciência”, in Maria de Lurdes Câncio Martins (Org.) Actas do Colóquio Internacional
‘Utopia e Ciência’ (Proceedings of the International Colloquium ‘Utopia and
Science’), Lisboa: Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa (no prelo).
Este trabalho apresenta-se como um dos primeiros questionamentos, a nível
internacional, a respeito da possibilidade de conceber uma teoria das utopias
filosóficas, quer dizer, de uma teoria em que a própria filosofia (no caso, a filosofia
da ciência) é pensada como intrinsecamente utópica. É essa a presunção do autor
com base nas suas investigações, e foi esse o sentimento que colheu no fórum
internacional onde apresentou as suas ideias.
O desiderato de uma teoria filosófica das utopias, na perspectiva da qual a
filosofia ela mesma possa ser pensada de algum modo como utópica, foi lançado por
22
P. Ricoeur em Lectures on Ideology and Utopia, New York/London, Columbia
University Press, 1986.
“Deixem-me começar por justificar o título e tema do presente trabalho.
Falando de uma ‘teoria das utopias filosóficas’ posso parecer provocador
para a generalidade dos filósofos (e sobretudo os profissionais), porque, na
verdade, a utopia sempre foi considerada como um objecto da filosofia, não
como qualquer coisa de que a própria filosofia seria objecto, ou que, de
algum modo, fosse parte intrínseca e constitucional da própria filosofia. No
primeiro sentido, aquele em que a utopia é objecto da filosofia, podemos
falar, por exemplo, da utopia no pensamento de Ernst Bloch ou do modo
como as filosofias de Foucault, Heidegger, Levinas, Derrida, Deleuze e
outros, nos permitem pensar a problemática da utopia a partir deste ou
daquele traço da existência humana. É também no contexto desse sentido que
insiro o que Karl Mannheim e Paul Ricoeur nos disseram a respeito da
relação entre utopia e ideologia na medida em que essa relação passa pela
filosofia, porque, de facto, nem um nem outro se ocuparam da filosofia
enquanto utopia. Não é portanto esse sentido que me interessa aqui embora o
seu uso não seja de modo algum indiferente para o que vos vou dizer a
respeito de uma teoria das utopias filosóficas sobre a ciência. É o último e
mais radical sentido de utopia, aquele em que, repito, a filosofia ela mesma,
como discurso, é considerada como utópica, que, em contraste com a
literatura conhecida, está em questão na minha comunicação. Pouco, ou
praticamente nada, se escreveu sobre ele (pelo menos expressa e
directamente), sendo certo que, por outro lado e como salientarei mais
adiante, certos pensadores, provenientes de áreas diversas, como é o caso
(que já referi) da sociologia de Karl Mannheim logo nos anos trinta do século
passado, ou, mais decisivamente, da história e sociologia da ciência de
Thomas Kuhn, tenham recorrentemente andado à sua volta no que à crítica
da filosofia da ciência diz respeito. A ‘utopia’ sempre significou desde o
célebre livro de Thomas Moore, quer para o senso comum quer para a
própria filosofia de maneira geral, um conceito contrário ao de racionalidade,
que é suposto a filosofia incarnar; se, pois, agora a própria filosofia, como
objecto, é considerada como utópica, do que estamos a falar quando falamos
de ‘utopias filosóficas’ é de uma racionalidade que seria utópica; e isto
parece uma contradictio in adjectum. Na realidade, não o é, e não o é em
grande parte pelas razões que Mannheim apresentou, quanto à sociologia,
logo em 1929.”
“(…) Mais especificamente, o tema deste trabalho é a relação que é possível
perspectivar entre filosofia e utopia na medida em que a filosofia se
apresenta como um empreendimento mais ou menos sistemático que visa
justificar e/ou fundar a ciência. É um tal empreendimento que correntemente
se compreende por ‘filosofia da ciência’. Tomarei aqui a filosofia da ciência
na história do pensamento ocidental a partir dos começos do pensamento
moderno, com Galileu e Descartes, até à época contemporânea e, em
particular, até à história e sociologia da ciência de Thomas Kuhn e certas
‘epistemologias naturalizadas’ como a de Willard V. O. Quine. Esta
delimitação histórica é importante para os meus objectivos, porque, como se
verá, vou argumentar que as filosofias da ciência, desde o século XVII,
23
foram essencialmente utópicas e que uma parte do trabalho das teorias sobre
a ciência (filosóficas ou não) apresentadas na segunda metade do século XX,
como é o caso da de Kuhn ou da de Quine consistiu em desconstruir a
natureza utópica dessas filosofias sem, contudo, a rejeitar e eliminar
completamente. A minha sugestão, tanto quanto é possível apresentá-la por
agora abreviadamente, tem duas vertentes: a primeira é que a filosofias da
ciência, através dessa pretensão de fundar o que em cada época se entende
por ‘ciência’, são, por excelência, espaços de criação e instalação de utopias,
as quais consistem, de facto, nas reconstruções mais ou menos racionais da
ciência configuradas por esses espaços, ou, se se preferir, pelos ‘topos’, de
onde nascem e emergem todos os ‘u-topos’ que é suposto filosoficamente,
época a época, constituirem a ciência ou o conhecimento científico de
maneira geral; a segunda, é que esses ‘topos’ de onde emergem as filosofias
da ciência são eles próprios u-tópicos em certa medida, embora num sentido
diferente daquele que está em questão quando digo que as respectivas
reconstruções da ciência são essencialmente utópicas. A diferença tem a ver
com a ‘ordem das razões’ não com a ‘ordem das coisas’: uma teoria das
utopias filosóficas só é possível se se admitir que os referidos ‘topos’, como
espaços teoréticos mais ou menos ideais das referidas re-construções, podem
ser analisados e investigados por si mesmos. Era um tal análise que Ricoeur,
cujo pensamento apesar de tudo estava muito distante do meu neste trabalho,
tinha em mente quando aludia a uma “fenomenologia do pensamento
utópico”. Que esses espaços existam e possam ser estudados,
‘fenomenologicamente’ ou de outro modo qualquer, está longe de ser
evidente à primeira vista. Em todo o caso, é um dos objectivos centrais das
reflexões que se seguem. É na ampla perspectiva que irei procurar analisar a
problemática da relação entre utopia e ideologia levantada e tematizada por
Karl Mannheim e Paul Ricouer entre outros, e sem a qual não é possível
pensar hoje em dia a teoria da utopia e, em particular, a da filosófica.”
(Ibidem, “Introdução”)
2.3. COMUNICAÇÕES ORAIS
2004 “Locke, a tradição do empirismo britânico e a filosofia analítica”,
apresentada no “Colóquio Internacional: A Herança de Locke” (“International
Congress: Locke’s Legacy”), realizado na Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa em 29 e 30 de Janeiro.
2004a “Russell and Wittgenstein on ‘A believes p’”, apresentada no “31st
Annual Meeting of the Bertrand Russell Society”, realizado na Plymouth State
University (New Hampshire, USA) de 18 a 20 de Junho.
2004b ”Russell versus Quine: Sobre as origens filosóficas do conceito de
epistemologia naturalizada”, apresentada no “2º Encontro Nacional de Filosofia
24
Analítica (ENFA 2)”, realizado na Faculdade de Letras da Universidade do Porto nos
dias 7, 8 e 9 de Outubro.
2004c ”Kant e o positivismo lógico vienense: O manifesto do ‘Círculo de
Viena’ como caso em estudo”, apresentada no “Colóquio Internacional: Kant:
Actualidade e posteridade” (“International Colloquium: Kant: Actuality and
Posterity”), organizado pelo Centro de Filosofia da Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa e realizado nos dias 25, 26 e 27 de Novembro.
2004d ”’Critical Thinking’, retórica e filosofia”, apresentada “on line” no “1º
Congresso Virtual do Departamento de Literaturas Românicas: Retórica” (“1st
Virtual Congress of the Romance Literature Department: Rhetoric”), realizado
durante o mês de Março.
2005 ”A New Reading of Russell’s ‘Introduction’ to Wittgenstein’s
Tractatus”, apresentada no “28th International Wittgenstein Symposium”, organizado
pela Austrian Ludwig Wittgenstein Society e realizado de 7 a 13 de Agosto em
Kirchberg am Wechsel (Áustria).
2005a ”Espaço público e argumentação no ‘Estado Novo’ em Portugal”,
apresentada no
Colóquio Internacional “Espaço público, poder e comunicação”
(“International Colloquium: Public Space, Power and Communication”), organizado
pela unidade I&D LIF/FCT e realizado na Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra nos dias 5 e 6 de Dezembro.
2006 ”On the History of the History of Analytic Philosophy”, apresentada no
“International Congress of the British Society for the History of Philosophy:
Philosophy and Historiography”, University of Cambridge (Robinson College),
realizado 3, 4 e 5 de Abril.
2006a “A argumentação como novo paradigma de racionalidade no século
XXI”, apresentada a convite da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos
no dia 29 de Abril de 2006.
2006b “Música e filosofia: De Schönberg a Wittgenstein”, evento “Música
3DI Nova”, organizado pela licenciatura em Estudos Artísticos da Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra, e realizado de 17 a 19 de Maio.
2006c ”Bertrand Russell e o estatuto do singular na filosofia do atomismo
lógico”, apresentada no Colóquio “O Estatuto do Singular: Estratégias e
Perspectivas”, organizado pela Rede Interdisciplinar de Centros de Investigação
25
(RICI) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de
Lisboa, e realizado na Fundação C. Gulbenkian em 25 e 26 de Maio.
2007 “Utopia e filosofia: Para uma teoria das utopias filosóficas sobre a
ciência”, apresentada no “Colóquio Internacional: Ciência e Utopia” (“International
Colloquium: Science and Utopia”), organizado pelo Centro de Estudos
Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e realizado nos
dias 26 e 27 de Novembro.
2.4. ORIENTAÇÃO DE DISSERTAÇÕES
2005 Co-orientação da dissertação de mestrado apresentada pela candidata
Ana Paula de Deus Charruadas à Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade de Coimbra, com o título “Análise da noção de esquema em Kant e
Piaget: Um estudo preliminar comparativo”, cuja defesa teve lugar em 15 de Abril
nessa Faculdade (aprovação com “Muito Bom”).
2.5. PARTICIPAÇÃO EM JÚRIS DE DOUTORAMENTO
2004 Vogal do júri das provas de doutoramento do candidato António Luíz
Fragoso Fernandes com a dissertação intitulada “Dedução transcendental kantiana:
de 1781 a 1787”, e apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova de Lisboa (provas realizadas em 13 de Fevereiro).
2006 Vogal do júri, na qualidade de arguente, das provas de doutoramento
do candidato Nuno Carlos Venturinha, com a dissertação intitulada “Lógica, ética,
gramática: Wittgenstein e o método da filosofia”, e apresentada à Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (provas realizadas em
28 de Setembro).
2.6. ORGANIZAÇÃO DE CONGRESSOS
INTERNACIONAIS
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2004 Membro da Comissão Científica do “2º Encontro Nacional de Filosofia
Analítica” (conjuntamente com os Doutores João Branquinho, João Sáàgua, Sofia
Miguéns e José Manuel Curado), realizado nos dias 7, 8 e 9 de Outubro na Faculdade
de Letras da Universidade do Porto.
2008 (em curso) Organizador do Colóquio Internacional “Retórica e
argumentação no início do século XXI” (“International Colloquium: Rhetoric and
Argumentation in the Beginning of the 21st Century”), promovido pelo grupo de
investigação “Ensinando a lógica e a argumentação [Teaching Logic and
Argumentation]” da Unidade I&D LIF/FCT, a realizar em 2, 3 e 4 de Outubro na
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Os seguintes conferencistas já confirmaram a sua presença: Ruth Amossy
(Universidade de Telavive, Israel), Anthony Blair (Universidade de Windsor,
Canadá), Hermenegildo Borges (Universidade Nova de Lisboa), Manuel
Maria Carrilho (Universidade Nova de Lisboa), Tito Cardoso e Cunha
(Universidade da Beira Interior), Marianne Doury (Universidade de Paris
III-Sorbonne Nouvelle, CNRS, França), Oswald Ducrot (Escola de Altos
Estudos em Ciências Sociais, Paris, CNRS, França), Frans Eemeren
(Universidade de Amesterdão, Holanda), António Fidalgo (Universidade de
Trás-os-Montes), Rui Grácio (FCT), Antonio López Eire (Universidade de
Salamanca, Espanha), Francisca Enkemans (Universidade de Amesterdão,
Holanda), Alan Gross (Universidade de Minnesota, USA), Guy Haarscher
(Universidade de Bruxelas, Bélgica), Erik Krabbe (Universidade de
Groningen, Holanda), Christian Plantin (Universidade de Lyon, CNRS,
França), José Esteves Rei (Universidade de Trás-os-Montes), Henrique Jales
Ribeiro (Universidade de Coimbra), Joaquim das Neves Vicente
(Universidade de Coimbra), Douglas Walton (Universidade de Winnipeg,
Canadá).
2.7. INVESTIGAÇÃO NO ÂMBITO DA FUNDAÇÃO
PARA A CIÊNCIA E A TECNOLOGIA (FCT)
2003-2007 Membro/investigador da Unidade I&D LIF/FCT.
2007-2010 Coordenador do grupo de investigação “Teaching Logic and
Argumentation” (Unidade I&D LIF/FCT), que tem como colaboradores os Mestres
Joaquim das Neves Vicente e Rui Alexandre Grácio.
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3. ACTIVIDADES ACADÉMICAS
2003-2004 Membro da Assembleia da Universidade de Coimbra em
representação dos docentes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
2003-2004 Vice-Presidente da mesa da Assembleia de Representantes da
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
2004-2006/2006-2008 Membro da Assembleia de Representantes da mesma
Faculdade.
Feito em Coimbra e entregue pelo autor ao secretariado do Conselho
Científico da Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra no dia 2 de Maio de 2008
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