Prezados Marcão e demais membros do fórum, S. Arbona X Tentativa de WR na Esteira X Cálculos Aerodinâmicos Considerações iniciais: Resolvi ser um pouco detalhista neste texto, explico os motivos: - Um é para estimular os membros do fórum a "brincarem de fazer conta" se desejarem refazer os cálculos utilizando outros valores ou até mesmo os dados do próprio atleta. (Você pode calcular o seu próprio ganho na esteira); - Outro é para as pessoas entenderem o porquê e como eu cheguei na solução final; - E finalmente resolvi deixar os passos detalhados caso alguém encontrar um erro ficará mais fácil para corrigí-lo. Qualquer dúvida, erro, crítica que surgir não hesitem em mandar um e-mail para: Henri Rodrigues Zurmely [email protected] No final do texto aparecem as fontes bibliográficas e os sítios- web usados para pesquisa para elaboração do documento! E vamos ao que todos querem ver, os cálculos: Para fazer os cálculos são necessários alguns dados, quando não for possível obter esses dados vou lançar mão de algumas suposições: Dados: - Densidade do ar: ρ = 1,2 kg / m3; - Viscosidade do ar: η = 1,8 x 10-5 kg / m s; - Serge Arbona percorreu na esteira 152,27 milhas em 24 horas = 245.054,811 metros em 86.400 segundos. Suposições: - Vou supor que o Serge Arbona é um cilindro de 1,80m de altura por 50 cm de diâmetro e com 78,1925kg (mais pra frente vocês vão entender porque eu supus um valor tão exato para o peso dele); - Vou supor que o Serge Arbona fez as 24 horas em velocidade constante => v = 2,836282253472 metros / segundo; (245.054,811 metros / 86.400 segundos); - Também vou supor que o Arbona deu 2,5 passadas por segundo, que dá um total de 216.000 passadas ou 1,13451301389 metros por passada ou então uma passada dura 0,40 segundos. Antes de analisaremos o efeito do ar sobre o movimento dos objetos, deve-se saber a natureza do movimento do ar em torno do objeto, no caso do comportamento do ar em torno do Arbona. Este pode assumir duas formas: Laminar (o fluido se movimenta ordenadamente sobre camadas ou lâminas superpostas) ou turbulento (o fluido se movimenta desordenadamente formando vórtices). Para sabermos a natureza do deslocamento de um fluido, deve se calcular o Número de Reynolds, R. Pelo número de Reynolds encontra-se a natureza do deslocamento do fluido. - Se R < 2000 o deslocamento do fluido é laminar, e apenas a viscosidade do ar em volta do objeto tem efeito aerodinâmico sobre o mesmo; - Se 2000 < R < 3000, estamos na região de transição e nada pode ser dito quanto à natureza do deslocamento do fluido; - Se R > 3000 o deslocamento do fluido é turbulento e o efeito da viscosidade é desprezível, porém outro tipo de fenômeno é notado: o arrasto (drag); Para o deslocamento de um cilindro com o fluxo de ar perpendicular ao eixo (altura) do cilindro, o Número de Reynolds segue a fórmula abaixo: R = (ρ D v) / η Como ρ = densidade = 1,2 kg / m3; D = diâmetro do cilindro = 0,50 m; v = velocidade = 2,836282253472 m / s; η = viscosidade = 1,8 x 10-5 kg / m s; vem R = 94543.33333... (adimensional) Como R = 94543.3333... > 3.000 => Deslocamento turbulento! => Viscosidade do ar é desprezível; => Arrasto deve ser considerado; A força de arrasto (F D) sobre um corpo é dada pela fórmula: FD = (1/2) ρ Cx A v2 em que Cx é o coeficiente de penetração aerodinâmica, que para um cilindro vale 0,90. A é a área da maior secção voltada para o movimento que num cilindro é igual a: diâmetro x altura do cilindro, o que transforma a fórmula acima na seguinte: FD = (1/2) ρ Cx D h v2 Em que h é a altura do cilindro. Como ρ = densidade = 1,2 kg / m3; Cx = 0,90; D = 0,50 m; h = 1,80 m; v = velocidade = 2,836282253472 m / s; vem FD = 3.90962 N Pela segunda lei de Newton: FD = m a Essa fórmula quer dizer: Força é igual a massa vezes aceleração. Temos m = 78,1925 kg FD = 3.90962 N vem a = 0.05 m / s2 (exatos!) O valor da aceleração é redondíssimo exatamente pq eu supus um valor tão exato para o peso do Arbona no começo do texto! A força de arrasto é contrária ao movimento do atleta, então devemos considera-la como uma desaceleração. Agora vamos analisar o seguinte: - Durante uma corrida na esteira, não existe força de arraste atuando sobre o Arbona, enquanto que correndo na rua o Arbona estaria sujeito a uma força de arrasto capaz de desacelerá-lo a uma taxa de 0.05 m / s2 ; - Assim sendo, uma passada (sesteira) de 1,13451301389 metros de amplitude do Serge Arbona dada numa esteira sofreria um encurtamento (srua) se fosse dada na rua e se tivesse a mesma duração de 0.40 segundo. Calculemos o encurtamento: srua = sesteira - 1/2 a t2 = v t - 1/2 a t2 ; Em que srua é o comprimento (ou amplitude) da passada na rua e t é o tempo de duração da passada. Como v = velocidade = 2,836282253472 m / s; t = 0,40 s; a = 0.05 m / s2; Vem srua = 1.13051301389 m. Sabendo que a passada na esteira, (sesteira) = 1,13451301389 Vem, diferença por passada, ∆s = (sesteira) - (srua) ∆s = 1,13451301389 - 1.13051301389 = 0,004m = 4 milímetros ∆s tabém pode ser obtido fazendo-se ∆s = 1/2 a t2, pois sesteira = v t; Contabilizando 4 milímetros em cada uma das 216.000 passadas encontramos um total de 864 metros. Ou seja, a esteira deu ao Arbona uma vantagem de 864 metros! Com um pouco de manipulação algébrica pode-se encontrar uma fórmula mais direta: Ganho na esteira = 19440 (ρ D h v2 tPASSADA ) / m Em que tPASSADA é o tempo de duração de uma passada do atleta. Conclui-se quanto mais leve, veloz, alto e largo for o atleta maior o ganho correndo na esteira. Pode-se também fazer outros cálculos em situações que eu considero extremas: vem: - Passada muito lenta : tPASSADA = 1s (1 passada por segundo), Ganho = 2160 metros; - Passada muito rápida : tPASSADA = 0.1s (10 passadas por segundo), vem: Ganho = 216 metros; Conclui-se também que a esteira ajuda muito corredores em cuja corrida se caracteriza ter uma passada lenta, ou seja, os corredores de provas de endurance. ATENÇÃO: Essa fórmula só deve ser usada dentro dos limites acima, pois o ganho na esteira seria infinito numa passada de duração infinita o que é um absurdo! Assim, para fugirmos das situações absurdas recomenda-se usar a fórmula acima em situações próximas da realidade onde tPASSADA está próximo da realidade, pois o modelo matemático encontrado é uma simplificação para situações próximas da realidade. Alguém poderia erroneamente concluir que o atleta deveria aumentar o tempo das passadas para ter um maior ganho na esteira. Isto é errado porque o atleta perderia muita velocidade fazendo isso. Note que o ganho depende da velocidade ao quadrado, que tem um maior peso se comparada as outras variáveis. Nota para Físicos, Matemáticos, Engenheiros, Biomecânicos e curiosos: - Os valores limites do Número de Reynolds é uma controvérsia entre os estudiosos do assuntos, alguns chegam a afirmar que só é turbulento o deslocamento cujo número de Reynolds > 10.000. Como encontrei R = 94543,333 não resta dúvida que o efeito do ar sobre o Arbona foi turbulento! - O efeito da viscosidade do ar só é notada para deslocamento de corpos muito leves e pequenos e à velocidades bem pequenas como bolhas de sabão e gotículas de chuva caindo lentamente. - A fórmula para encontrar o encurtamento da passada só é válida para aceleração/desaceleração constante. Estritamente falando a desaceleração do Arbona não é constante pois a força de arrasto depende da velocidade, porém como ela influi muito pouco na mudança da velocidade podemos considera-la constante; - Existe um outro método muito mais confiável e preciso para calcular o ganho do Arbona na esteira, mas seria preciso saber a potência que ele desenvolve na corrida; - Se resolverem refazer as contas usem somente as unidades SI (Sistema Internacional). Bibliografia: HALLIDAY, D. , RESNICK, R. , WALKER, J. - Fundamentals of Physics Extended - Fifth Edition - John Wiley & Sons, ISBN 0-471-10559-7. SCHMIDT, F. W. , HENDRESON, R. E. , WOLGEMUTH C. H. - Introduction to Thermal Sciences: thermodynamics, fluid dynamics, heat transfer - Second Edition - John Wiley & Sons. Internet: http://www.scite.pro.br/emrede/mecanica/fluidos/resistenciaar.html http://omnis.ifi.ufrj.br/~carlos/conferencias/crise/crise_poster.pdf