UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO ATUALIZA ASSOCIAÇÃO CULTURAL ENFERMAGEM EM EMERGÊNCIA SUELEN FREITAS ANDRADE IMPORTÂNCIA DO ATENDIMENTO AO PACIENTE COM CETOACIDOSE DIABÉTICA NA EMERGENCIA SALVADOR 2011 SUELEN FREITAS ANDRADE IMPORTÂNCIA DO ATENDIMENTO AO PACIENTE COM CETOACIDOSE DIABÉTICA NA EMERGENCIA Monografia apresentada à Universidade Castelo Branco/ Atualiza Associação Cultural, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Enfermagem em Emergência, sob orientação do professor Fernando Reis do Espírito Santo. SALVADOR 2011 Dedicatória Primeiramente a Deus por me proporcionar oportunidades maravilhosas; aos meus pais lindos que estão sempre ao meu lado; ao meu esposo Cezar Augusto pelo incentivo e carinho; e as minhas amigas e colegas de curso Naiane e Débora. RESUMO A cetoacidose diabética (CAD) é um distúrbio metabólico grave que decorre fundamentalmente da falta relativa ou absoluta de insulina. A glicemia normalmente está acima de 300mg/dl. O estado de consciência dos pacientes varia do normal ao coma. Em pacientes com diabetes do tipo 1 a cetoacidose é um sintoma de apresentação em 20 a 30% das crianças e adolescentes e cerca de 17% de adultos. O quadro clínico é conseqüência dos distúrbios metabólicos subjacentes: hiperglicemia (desidratação, hiponatremia e hipocalemia), acúmulo de corpos cetónicos (Cetose,náuseas, vômitos) e acidose (taquipneia). Este trabalho tem como objetivo evidenciar, a partir da literatura, a importância do atendimento ao paciente em CAD e as condutas frente a essa situação em unidades de emergência. Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica de abordagem qualitativa, visto que se utiliza instrumento de pesquisa válido e se tem como fonte de informação as literaturas mais atualizadas. Os resultados mostram que os profissionais de saúde que cuidam do paciente em cetoacidose devem compreender os mecanismos do mesmo, pois a rápida avaliação e resposta imediata são essenciais para a sua recuperação. Palavras-chave: Cetoacidose. Distúrbio. Insulina. Diabetes. ABSTRACT Diabetic ketoacidosis (DKA) is a severe metabolic disorder that arises primarily from relative or absolute lack of insulin. Glucose is usually above 300mg/dl. The consciousness of patients varies from normal to coma. In patients with type 1 diabetes ketoacidosis is a presenting symptom in 20 to 30% of children and adolescents and about 17% of adults. The clinical picture is a consequence of underlying metabolic disorders: hyperglycemia (dehydration, hyponatremia, hypokalemia), accumulation of ketone bodies (ketosis, vomiting) and acidosis (tachypnea). This paper aims to highlight the importance of CAD in patient care and conduct face this situation in the emergency room. This is a literature review of qualitative approach, since it uses valid research tool and as a source of information has the most current literature. The results show that health professionals who care for the patient in ketoacidosis should understand the mechanisms of the same, for the rapid assessment and immediate response are essential to their recovery. Keywords: Ketoacidosis. Disorder. Insulin. Diabetes. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 7 2 REVISÃO DA LITERATURA................................................................ 11 2.1 UNIDADE DE EMERGÊNCIA ........................................................... 11 2.2 DIABETES MELITUS ......................................................................... 15 2.2.1 Fisiopatologia ................................................................................ 16 2.2.2 Classificação ................................................................................. 17 2.2.3 Sinais e Sintomas ......................................................................... 17 2.2.4 Tratamento ..................................................................................... 18 2.3 CETOACIDOSE DIABÉTICA ............................................................. 19 2.3.1 Definição ........................................................................................ 19 2.3.2 Fisiopatologia ................................................................................ 19 2.3.3 Avaliação clínica ........................................................................... 21 2.3.3.1 Fatores precipitantes ................................................................... 21 2.3.3.2 Sinais e Sintomas ........................................................................ 22 2.3.3.2.1 Complicações............................................................................ 23 2.3.3.3 Achados Laboratoriais ................................................................. 24 2.3.4 Tratamento ..................................................................................... 25 2.3.4.1 Administração de Fluidos............................................................. 25 2.3.4.2 Insulinoterapia .............................................................................. 26 2.3.4.3 Reposição de Potássio ................................................................ 28 2.3.4.4 Reposição de Sódio ..................................................................... 29 2.3.5 Cuidados de Enfermagem............................................................ 29 2.3.6 Prevenção ...................................................................................... 31 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 34 4 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 36 7 1 INTRODUÇÃO Apresentação do Objeto de estudo O Diabetes Mellitus tem assumido importância crescente em termos populacionais no ultimo século. De maneira insidiosa, na maioria das vezes só é diagnosticada quando surgem as complicações. O conhecimento do indivíduo sobre a sua patologia e complicações é de fundamental importância no controle da doença, pois com a participação ativa do paciente é possível manter o nível de glicose sanguínea normalizado, evitando o comprometimento de outros órgãos. As perdas por morte ou por deficiência provocadas pela doença chegam a 25 milhões de anos de vida por ano, segundo a OMS, e a 23 milhões de anos de vida por ano, respectivamente, segundo a Federação Internacional da Diabetes. Ou seja, deixam de ser vividos ou vividos adequadamente, em função da morte ou das deficiências provocadas pela diabetes, cerca de 48 milhões de anos de vida. O maior problema da diabetes é o diagnóstico tardio ou o mau diagnóstico. A cetoacidose diabética (CAD) é uma complicação grave do diabetes. É mais freqüente no diabetes insulino-dependente e pode levar à morte se não for devidamente tratada. É uma circunstância que ocorre toda vez que não há insulina em quantidades suficientes para metabolizar a glicose. Ela pode ser desencadeada pela ingestão abusiva de carboidratos e por situações de stress físico ou emocional. Stress físico ocorre quando o paciente é acometido por outra patologia, por exemplo, uma amigdalite ou uma apendicite. Quando isso ocorre a pessoa sente-se muito mal. Pode ficar confusa, sua respiração torna-se mais rápida e profunda, o hálito tem cheiro de acetona, pode apresentar fraqueza intensa, náuseas, vômitos e dores abdominais. 8 Apresentando esses sintomas o paciente deve procurar imediatamente seu médico ou um pronto socorro. O ideal é que a pessoa perceba quando a glicemia está subindo, antes de chegar à fase de Cetose, através de sintomas como poliúria, polidipsia, polifagia, perda de peso, sensação de fraqueza, mal estar, visão embaçada, etc. A terapia para o tratamento especifico do CAD inclui três fases seqüenciais: a correção do defcit de volume, a reversão do processo cetogênico e controle da glicose plasmática. (ORLAND, 1989). Complicações podem ocorrer como edema cerebral; hipoglicemia; hipocalemia; síndrome do desconforto respiratório agudo; tromboembolismo pulmonar; congestão pulmonar por sobrecarga hídrica; e dilatação gástrica aguda. Diante das inúmeras complicações da cetoacidose diabética, a equipe que lida com pacientes com risco de desenvolvê-la deve compreender os mecanismos deste distúrbio e reconhecer seus sinais e sintomas, pois a rápida avaliação e a resposta imediatas são essenciais para a sua recuperação. Justificativa O interesse pelo estudo surgiu após ter notado a incidência de diabéticos que chegaram às unidades de emergência que trabalhei. É grande o número de diabéticos que não controlam sua doença e, às vezes, nem sabem que a tem. Por esse motivo, resolvi realizar esta pesquisa de revisão bibliográfica, com a intenção de evidenciar a importância do atendimento ao paciente com cetoacidose diabética na emergência, disponibilizando esse trabalho para posteriores consultas. Problema Qual a importância do atendimento ao paciente com cetoacidose diabética na emergência? 9 Objetivo Evidenciar a importância do atendimento ao paciente em CAD e as condutas frente a essa situação em unidades de emergência. Metodologia A pesquisa é do tipo revisão bibliográfica de abordagem qualitativa, visto que se utiliza instrumento de pesquisa válido e se tem como fonte de informação as literaturas mais atualizadas. A pesquisa bibliográfica tem por finalidade conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se realizaram sobre determinado assunto ou fenômeno (OLIVEIRA, 1997). Para Severino (2007), a pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos. Utiliza-se de dados já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos. Estrutura do trabalho Este trabalho está constituído de três momentos. Primeiro, possui uma apresentação da Unidade de emergência, que é a porta de entrada para os pacientes que chegam com cetoacidose diabética e, entre outras doenças. Num segundo momento, fala da doença diabetes mellitus, que é um distúrbio causado pela falta de insulina no organismo, o que faz com que a glicose ingerida fique circulando pelo sangue em vez de se transformar energia. 10 Num terceiro e último momento, relata a cetoacidose diabética, que é uma conseqüência da diabetes mellitus mal tratada, mal acompanhada; os sinais e sintomas que os pacientes deverão ficar atentos, seu tratamento e prevenção. A cetoacidose diabética pode levar à morte se não for devidamente tratada. 11 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 UNIDADE DE EMERGÊNCIA As unidades de Emergência são locais apropriados para o atendimento de pacientes com afecções agudas específicas onde existe um trabalho de equipe especializado e podem ser divididas em: pronto atendimento, pronto socorro e emergência (WEHBE, 2011). Para Souza, 2006, é a unidade destinada à assistência de pacientes com ou sem risco de vida, cujos agravos à saúde necessitam de pronto atendimento. No Brasil as unidades de Urgência e Emergência, contrariando o que para elas havia sido planejado, tornaram-se principalmente, a partir da última década do século passado, as principais portas de entrada no sistema de atenção à saúde, eleitas pela população como o melhor local para a obtenção de diagnóstico e tratamento dos problemas de saúde, independentemente do nível de urgência e da gravidade destas ocorrências (FERRER, 2011). Nos Estados Unidos da América (EUA), os serviços de emergências médicas existem há aproximadamente cerca de vinte anos. A partir da década de 70, os hospitais sentiram necessidade de desenvolver a qualidade do atendimento de emergência e começaram a investir nos profissionais que atuavam neste setor, como médicos e enfermeiros (WEHBE, 2011). A área de Urgência e Emergência constitui-se em um importante componente da assistência à saúde. Nos últimos anos, o aumento dos casos de acidentes e da violência tem causado um forte impacto sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) e o conjunto da sociedade. Na assistência, esse impacto pode ser medido diretamente pelo aumento dos gastos realizados com internação hospitalar, internação em UTI e alta taxa de permanência hospitalar desse perfil de pacientes. 12 As Unidades de Urgência prestam atendimento imediato em casos que, em princípio, não ofereçam risco de vida, exigindo instalações e equipamentos mais simples, próprios de uma retaguarda de baixa e média complexidade (FERRER, 2011). As Unidades de Urgência / Emergência, por sua vez, são locais onde são praticados além dos procedimentos de menor complexidade, característicos das situações de urgência, procedimentos de maior complexidade, que podem oferecer risco de vida. Estas unidades, diferentemente das Urgências devem operar com um nível elevado de resolutividade, demandando uma retaguarda dotada de recursos de apoio ao diagnóstico (imagenologia, traçados gráficos, laboratório de análises clínicas etc.), tratamento (centro cirúrgico, centro obstétrico e UTIs), observação e internação compatíveis com a complexidade dos procedimentos nelas praticados ( Id, 2011). Segundo Ferrer (2011), ao projetarmos uma Unidade de Urgência e Emergência cabe ao arquiteto tomar, o que poderíamos chamar de “primeiros cuidados projetuais” para o aprimoramento do desenho destas complexas áreas funcionais, que têm como principais objetivos atender as urgências e emergências e todas as intercorrências que delas decorrem. Ainda para Ferrer (2011), em relação à planta física desta unidade dispomos: Acessos, Área de Desembarque de Ambulâncias e Estacionamentos: O dimensionamento, a sinalização e a localização destas áreas, externas à edificação, devem ser cuidadosamente estudados, devido à necessidade de garantir aos usuários um rápido acesso ao hall de entrada, fundamental nos casos que por sua gravidade exijam um atendimento imediato. Recepção: Local onde a ficha clínica é realizada. O balcão de recepção, onde é feita a admissão dos pacientes deve ser posicionado de forma a que possa controlar simultaneamente os dois halls, que devem ser servidos por sanitários de público para adultos de ambos os sexos, crianças e portadores de deficiências. 13 Sala de Espera: São ambientes extremamente importantes para a humanização do acolhimento dos pacientes e de seus acompanhantes. Nessas áreas devem ser instalados aparelhos de TV, utilizados tanto para distrair como para fornecer informações importantes sobre o funcionamento da unidade, cuidados com a saúde e, até mesmo para fazer a chamada dos pacientes. As áreas de espera podem ainda ser utilizadas para dar início ao processo de triagem, reduzindo o período em que o paciente aguarda o primeiro atendimento e agilizando seu encaminhamento; Sala de Triagem: O objetivo da sala de triagem é dar maior eficiência ao atendimento, efetuando uma primeira avaliação do paciente, para somente então encaminhá-lo às áreas de diagnóstico e tratamento. Esta avaliação pode ser feita pela equipe médica, ou eventualmente pela de enfermagem. Consultórios: O dimensionamento do número de consultórios depende do número de especialidades a serem oferecidas pela unidade e do tipo de atendimento que será praticado, isto é, atendendo apenas as situações de urgência e emergência, ou funcionando como ambulatório de seguimento, onde os pacientes atendidos em situações de emergência poderão ser acompanhados até a sua alta definitiva ou ainda como ambulatório aberto para qualquer tipo de atendimento. Sala de Gesso e Redução de Fraturas: Esta sala, anexa ao consultório de ortopedia, e sempre que possível próxima ao hall de emergência, deve ser projetada para a realização de procedimentos de redução de fraturas, inclusive sob anestesia geral, com a eventual utilização de que RX transportável. Seu dimensionamento deverá considerar a existência de bancada com cuba conectada a caixa de decantação de gessos, espaço para uma mesa ortopédica, depósito de material e negatoscópios. Sala de Suturas e Sala de Curativos: A sala de suturas, dependendo do porte da unidade, pode ser constituída por um único ambiente para atendimento individual ou ser subdividida em cubículos, separados por cortinas no caso de 14 atendimentos simultâneos. Para o seu perfeito funcionamento devem ser previstos apoio de enfermagem, lavabo cirúrgico, iluminação reforçada por focos de pé e chamadas de enfermagem, no caso do número de boxes ser elevado; Sala de Aplicação de Medicamentos: Nesta sala, geralmente de pequenas dimensões, dotada de lavatório e bancada com cuba, são aplicadas injeções e ministrados medicamentos. Nas unidades de menor porte não é necessário prever este ambiente, já que estes procedimentos são geralmente realizados nos próprios consultórios, na sala de observação ou nos demais ambientes de tratamento dos pacientes. Sala de Inalação: A sala de inalação necessita de um ambiente específico dotado de pontos de ar comprimido medicinal ou de oxigênio (um ponto por cadeira), lavatório, bancada com pia para lavagem do material após o uso, cadeiras ou bancos dispostos de tal forma que permitam, caso seja necessário, a presença de um acompanhante durante o procedimento; Posto de enfermagem: Local onde as medicações são preparadas e onde ocorre a passagem de plantão da equipe de enfermagem. Além dos postos de enfermagens exclusivos das salas de observação a unidade de emergência deve ser dotada de um posto de enfermagem central, que além de exercer uma atividade de controle de todo o funcionamento da unidade apóia, com o serviço de enfermagem, os diferentes atendimentos realizados na unidade; Sala de observação: Quando o paciente necessita de um período mais prolongado de observação. Cabe lembrar que, pela crônica insuficiência de leitos de internação providos da retaguarda necessária, muitas vezes os objetivos específicos das salas de observação e até mesmo dos corredores das unidades de emergência são desvirtuados, passando a funcionar como verdadeiras unidades de internação; 15 Sala de Pequenas Cirurgias: A realização de cirurgias de pequeno porte (cirurgias ambulatoriais) exige um ambiente com as mesmas características da sala de procedimentos invasivos, acrescido de vestiários barreira para a equipe de saúde; Salas de Emergência e de Politrauma: Nestas salas em que são oferecidos os primeiros cuidados aos casos de maior gravidade os pacientes são estabilizados e, de uma maneira geral seguem para o Centro Cirúrgico ou para a Unidade de Terapia Intensiva e, na pior das hipóteses para o necrotério. Ainda, para Ferrer (2011), além destes ambientes, complementam o programa funcional das unidades de urgência e emergência uma série de ambientes tais como a Unidade Transfusional, onde é feita a guarda e a distribuição de hemocomponentes, rouparia, copa, local para a guarda de aparelho de RX transportável, área para guarda de pertences de pacientes, sanitários de funcionários, estar e plantão médico, estar e plantão de enfermagem e de pessoal de apoio, estacionamento de ambulâncias com estar e sanitário anexo para motoristas, salas administrativas, posto policial, cantina, sala de utilidades, depósito de material de limpeza (DML), sala de armazenamento temporário de resíduos etc. 2.2 DIABETES MELLITUS A diabetes mellitus é um distúrbio causado pela falta de insulina no organismo, o que faz com que a glicose ingerida fique circulando pelo sangue em vez de se transformar em energia. A insulina é o hormônio necessário para a utilização do açúcar como fonte de energia necessária para o nosso dia-a-dia (GOWER, 2008). Atualmente, estima-se que cerca de 240 milhões de pessoas sejam diabéticas, o que significa que seis por cento da população tem diabetes. Segundo uma projeção internacional, a população de doentes diabéticos a nível mundial vai aumentar até 16 2025 em mais de 50 por cento, para 380 milhões de pessoas a sofrerem desta doença crônica (HOHL, 2008). Segundo Hirschheimer (2011), a diabetes mellitus ocorre em todo o mundo, mas é mais comum (especialmente a tipo II) nos países mais desenvolvidos. O maior aumento atualmente é esperado na Ásia e na África, onde a maioria dos diabéticos será visto em 2030. O aumento do índice de diabetes em países em desenvolvimento segue a tendência de urbanização e mudança de estilos de vida. 2.2.1 Fisiopatologia Um dos processos metabólicos do organismo é a conversão de alimentos em energia e calor dentro do corpo. Podemos retirar energia de qualquer uma das três categorias de alimentos (carboidratos, proteínas e gorduras), mas a glicose é especialmente importante porque é rapidamente convertida em energia quando necessário (FARIA, et al, 2004). No período após a ingestão de alimentos (estado alimentado), devido à grande quantidade de nutrientes no sangue, há predomínio de processos de armazenamento de nutrientes sobre os de quebra. Quando os níveis de glicose no sangue aumentam, a insulina é secretada (id, 2004). O pâncreas é o órgão responsável pela produção do hormônio denominado insulina. Este hormônio é responsável pela regulação da glicemia no nosso organismo. Visando manter a glicemia constante, o pâncreas também produz outro hormônio antagônico à insulina, denominado glucagon. O glucagon é o hormônio predominante em situações de jejum ou de estresse, enquanto a insulina tem seus níveis aumentados em situações de alimentação recente (HIRSCHHEIMER, 2011). Como a insulina é o principal hormônio que regula a quantidade de glicose absorvida pela maioria das células a partir do sangue (principalmente células musculares e de gordura, mas não células do sistema nervoso central), a sua deficiência ou a insensibilidade de seus receptores desempenham um papel importante em todas as formas da diabetes mellitus ( HOHL, 2008). 17 2.2.2 Classificação Existem dois tipos de diabetes: a do tipo I que resulta da destruição das células beta pancreáticas, por mecanismo mediado por células, ou seja, através de um processo auto-imune, encerrando a produção de insulina, sendo então as aplicações de insulina a única forma de tratamento (Id, 2008). A evolução clínica é rápida; o pico de incidência ocorre na infância e na adolescência, no restante dos portadores o início poderá acontecer em qualquer idade (GOWER, 2008). Na diabetes do tipo II há uma resistência à ação da insulina, em uma combinação com uma deficiência relativa de secreção de insulina. Pessoas classificadas inicialmente com este tipo de diabetes não precisam de insulina para alcançar um controle satisfatório. Acomete 90% da população com diabetes, dentre eles a maioria são obesos, hipertensos, sedentários e principalmente apresentam história familiar (HOHL, 2008). Ambos os tipos I e II tem fatores genéticos importantes, sendo o principal fator desencadeante de 20-30% dos casos de tipo I e de 5-10% dos casos de diabetes tipo II. Geralmente essa predisposição genética resulta em disfunção do pâncreas na produção de insulina. O tipo I é desencadeado mais cedo, atingindo crianças e adolescentes (principalmente por volta dos 10 aos 14 anos), justamente pelo fator genético. Pode ter tanto origem monogênica (um único gene defeituoso em áreas centrais da produção de insulina) quanto poligênica (vários genes em áreas secundárias) (HIRSCHHEIMER, 2011). 2.2.3 Sinais e sintomas Os sintomas do aumento da glicemia são: sede excessiva, aumento do volume da urina, aumento do número de micções surgimento do hábito de urinar à noite fadiga, fraqueza, tonturas visão (CZEPIELEWSKI, 2008). borrada, aumento de apetite, perda de peso 18 Quando não tratada adequadamente, causa doenças tais como infarto do coração, derrame cerebral, insuficiência renal, problemas visuais e lesões de difícil cicatrização, dentre outras complicações (HIRSCHHEIMER, 2011). 2.2.4 Tratamento A diabetes mellitus é uma doença crônica, sem cura por tratamentos convencionais, e sua ênfase médica deve ser necessariamente em evitar/administrar problemas possivelmente relacionados à diabetes, a longo ou curto prazo (HIRSCHHEIMER 2011). Embora ainda não haja uma cura definitiva para a/o diabetes, há vários tratamentos disponíveis que, quando seguidos de forma regular, proporcionam saúde e qualidade de vida para o paciente portador (Id, 2011). Os objetivos do tratamento do DM são dirigidos para se obter uma glicemia normal tanto em jejum quanto no período pós-prandial, e controlar as alterações metabólicas associadas. (CZEPIELEWSKI, 2008). O tratamento da maioria dos casos do tipo I baseia-se na aplicação de insulina, que é o hormônio responsável pelo transporte da glicose do sangue para as células. O tipo II pode ser tratado com uma alimentação saudável, exercícios e perda de peso, pois estes cuidados ajudam a baixar os níveis de glicose no sangue; porém após algum tempo pode ser necessário o uso de medicamentos para controlar a glicemia (FARIA et AL, 2004). É extremamente importante a educação do paciente, o acompanhamento de sua dieta, exercícios físicos, monitoração própria de seus níveis de glicose, com o objetivo de manter os níveis de glicose a longo e curto prazo adequados. Um controle cuidadoso é necessário para reduzir os riscos das complicações. (HIRSCHHEIMER, 2011). 19 2.3 CETOACIDOSE DIABÉTICA 2.3.1 Definição A cetoacidose é uma complicação grave do diabetes. É mais freqüente no diabetes insulino-dependente ( tipo I) e pode levar à morte se não for devidamente tratada. (FELDMAM, 2008). É a principal causa de mortalidade por diabetes mellitus (5 a 15%), relacionada às alterações próprias da cetoacidose (como os distúrbios cardiocirculatórios, hidroeletrolíticos e ácido-básicos), às complicações de seu tratamento (como o edema cerebral agudo, hipoglicemia e hipopotassemia) e às doenças desencadeantes ou associadas (MENDONÇA,2011). A cetoacidose diabética (CAD) é uma emergência médica caracterizada por uma deficiência relativa ou absoluta de insulina com conseqüente acúmulo de corpos cetônicos, ocasionando uma queda do pH arterial a menos de 7,25 e bicarbonato sérico a níveis inferiores de 10 a 15 mEq/l. Seu tratamento, mesmo em centros especializados, implica mortalidade de 5 a 15% (BARRETO,1993). Segundo (ROGERS, et al, 1992), os pacientes jovens com uma boa taxa de filtração glomerular podem ter uma acidose significativa, apesar de elevações de glicose não chegam a impressionar. Aproximadamente metade dos pacientes com CAD também estarão hiperosmolares, refletindo um maior grau de depleção de volume. Segundo (KNOBEL, 2007), há outras formas de cetoacidose, não-diabéticas, que podem acometer alcoólatras, gestantes em jejum prolongado e lactentes em carência calórica. 2.3.2 Fisiopatologia 20 A insulina é o hormônio responsável pelo aproveitamento da glicose no organismo, funcionando como uma chave de abertura das células permitindo a entrada do açúcar. Quando ocorre, por qualquer razão, uma carência de insulina, as células se vêem privadas de seu principal combustível, ou seja, da glicose. Nesta situação o organismo vai exigir outras fontes de energia que não necessitem da insulina para seu aproveitamento, recorrendo aos depósitos de gordura. Para esse aproveitamento da gordura corporal como fonte energética, ela é então transformada em ácidos, conhecidos como corpos cetônicos, que serão utilizados como fonte de alimento para as células (REIS, 2008). Quando a insulina está em extrema falta na corrente sanguínea (como no caso dos diabéticos tipo 1 que não tomaram insulina, ou que ainda não sabem que são diabéticos) a glicose não consegue „entrar' nas células e fornecer energia. Infelizmente, nosso organismo não entende que está faltando insulina e para não ficar sem energia lança mão de outras maneiras de produzir glicose e outros compostos também energéticos (MINICUCCI, 2009). Além da falta de insulina, que limita a captação de glicose pelas células, levando ao aumento da glicemia, têm fundamental importância os hormônios contra-reguladores que são glucagon, catecolaminas, cortisol e hormônio de crescimento. A liberação desses hormônios aumenta em resposta ao estresse físico ou emocional. Como conseqüências induzem glicogenólise e gliconeogênese máximas e prejudicam a utilização periférica de glicose, provocando hiperglicemia; ativam também, o processo de cetogênese, iniciando o desenvolvimento de acidose metabólica (CHAGAS, 2006). É assim que os hormônios cortisol, adrenalina e glucagon entram em ação e promovem a formação de mais glicose pelo fígado através da utilização do tecido adiposo (gordura). Nesse processo de quebra da gordura são produzidos alguns compostos chamados corpos cetônicos que também fornecem energia, juntamente com os ácidos B- hidroxibutírico e o ácido acetoacético. Esses dois últimos acidificam o sangue e é isso que traz enorme risco a vida (MINICUCCI, 2009). 21 Com o aumento dos hormônios contra-reguladores o equilíbrio de vários órgãos fica alterados; como no fígado, que ocorre a depleção de insulina e um aumento da produção hepática de glicose (gliconeogênese) e conseqüentemente uma hiperglicemia. Além disso, a presença do glucagon leva a produção de corpos cetônicos (acetoacetato e B-hidroxibutirato) e aumenta a oxidação de ácidos graxos livres (AGL) ( ROGERS, et al, 1992). Ainda, segundo Id, (1992), no tecido adiposo, a ausência de insulina promove uma maior atividade da lípase tecidual, que catalisa a conversão de triglicérides (TG) em AGL e glicerol. A excreção renal alterada dos íons hidrogênio agrava ainda mais a acidose metabólica. O acúmulo de cetonas pode provocar vômitos, que pioram a depleção do volume intravascular. A acidose prolongada pode comprometer o débito cardíaco e reduzir o tônus vascular. O resultado pode ser um colapso cardiovascular severo com formação de ácido lático, que então se associa à acidose metabólica já existente (ENDOCRINOLOGIA, 2008). 2.3.3 Avaliação Clinica 2.3.3.1 fatores precipitantes Para a instalação de cetoacidose diabética quase sempre existem fatores desencadeantes ou precipitantes. A interrupção da injeção diária de insulina é um dos fatores mais importantes em pacientes com diabetes mellitus do tipo 1 ( CHAGAS, 2006). Pode ser desencadeada pela ingestão abusiva de carboidratos e por situações de stress físico ou emocional. Stress físico ocorre quando o paciente é acometido por uma outra patologia, por exemplo uma amigdalite ou uma apendicite. Em situações de stress o corpo libera uma grande quantidade de hormônios hiperglicemiantes, isto é, hormônios que fazem o açúcar sangüíneo se elevar. Como não existe insulina em 22 quantidade suficiente, as gorduras e proteínas armazenadas começam a ser quebradas, produzindo paralelamente substâncias ácidas conhecidas como corpos cetônicos (FELDMAN, 2008). Outros fatores merecem ser ressaltados, como acidentes cerebrovasculares e cardiovasculares, pancreatite, gravidez, trauma e hipertireoidismo. Erros ou excessos dietéticos e estresse emocional podem facilitar a descompensação. Em aproximadamente um terço dos casos não se detecta fator precipitante. (CHAGAS, 2006). Para Feldman (2008), ainda existem: excesso de substâncias (álcool, cocaína);Medicação utilizada:corticosteróides, diuréticos (tiazídicos, clortalidona), agentes simpaticomiméticos (albuterol, dopamina, dobutamina, terbutalina, ritodrina), bloqueadores α-adrenérgicos, bloqueadores β- adrenérgicos, pentamidina, inibidores de protease, somatostatina, fenitoína, antipsicóticos atípicos (loxapina, glucagon, interferon, bloqueador de canal de cálcio, clorpromazina, diazóxido, cimetidina, encainida, ácido etacrínico). Para Brunner & Suddarth 2005, as três principais causas de cetoacidose diabética são a dose diminuída ou omitida de insulina, doença ou infecção, e o diabetes não diagnosticado e não tratado. Um déficit de insulina pode resultar de uma dosagem insuficiente de insulina prescrita ou da insulina insuficiente que esta sendo administrada pelo paciente. Os erros na dosagem de insulina podem ser feitos pelos pacientes doentes e, quando se supõem estarem ingerindo menos ou vomitando, devem diminuir suas doses. Ainda, segundo Id (2005), As outras causas potenciais de insulina diminuída incluem o erro do paciente na aspiração ou injeção de insulina (sobretudo nos pacientes com comprometimentos visuais), omissão intencional das doses de insulina (sobretudo nos adolescentes com diabetes que estão tendo dificuldade em lidar com a doença ou com outros aspectos da sua vida), ou problemas com os equipamentos (oclusão do equipo da bomba de insulina) 2.3.3.2 Sinais e Sintomas 23 O espectro da gravidade da CAD abrange desde pacientes assintomáticos a pacientes que apresentam choque ou coma. (ORLAND, 1989). Quadro clínico clássico: poliúria, polidipsia, perda de peso, respiração de Kussmaul, desidratação com diminuição do turgor da pele, fraqueza, hálito cetônico e alterações variáveis do nível de consciência podendo chegar ao coma (REIS, 2008). A Cetose e acidose características da CAD causam sintomas gastrintestinais como anorexia, náuseas, vômitos e dor abdominal. A dor abdominal e os achados físicos ao exame podem ser tão graves a ponto de criar a suspeita de um processo intraabdominal que necessitará de uma intervenção cirúrgica. Os pacientes podem ter hálito cetônico (um odor característico), que ocorre com níveis elevados de cetona. (BRUNNER e SUDDARTH, 2005). É importante a atenção aos sintomas descritos para possibilitar a pronta correção. Atualmente, são disponíveis no mercado uma variedade de fitas que detectam a presença dos corpos cetônicos, urinários e sanguineos. O usuário de insulina, ao sentir dor abdominal, odor de acetona no hálito e taxas de glicemia persistentemente elevadas (acima de 250 mg/dl) devem verificar a presença de corpos cetônicos na urina ou no sangue. Evidenciada a hiperglicemia com corpos cetônicos, positivos na urina ou sangue devem buscar imediato auxílio médico para correção da cetoacidose (GOWER, 2008). 2.3.3.2.1 Complicações As complicações agudas do diabetes em geral são dramáticas, pois os pacientes estão bem e, em pouco tempo, parecem estar gravemente enfermos. O lado bom é que, se bem cuidados, em pouco tempo voltam a estar bem de novo (FELDMAN, 2008). As complicações da CAD incluem hipotermia, hipotensão, choque, atonia gástrica, sangramento gastrointestinal, aspiração pulmonar, trombose e diátese hemorrágica (coagulação intravascular disseminada) (ROGERS, et AL,1992). 24 Segundo Barreto (1993), além das complicações acima citadas, podem ocorrer outras complicações como o edema cerebral, que surge em geral 14 a 16h após o início do tratamento, especialmente em pacientes jovens; e a síndrome da angustia respiratória, que quando estabelecida não se deve retardar o início das medidas específicas. Para Chagas (2006) as manifestações clínicas do edema cerebral em geral são súbitas, podendo haver rápida progressão para herniação cerebral, mesmo quando o quadro clínico é reconhecido e tratado agressivamente. O edema cerebral geralmente ocorre 4 a 12 horas após o início do tratamento e no momento em que a acidose, desidratação e hiperglicemia, bem como o estado geral do paciente, estão melhorando. Os sinais e sintomas iniciais são cefaléia e diminuição da consciência, que evoluem rapidamente para deterioração do sensório, pupilas dilatadas, bradicardia e parada respiratória. Em alguns casos, pode ser precedido por um período de alteração de comportamento associado ou não a cefaléia e vômitos. Em até 40% das crianças com quadro clínico de edema cerebral, a tomografia cerebral inicial pode ser normal (Id, 2006). Para Knobel (2007), na fase inicial, a preocupação é a ocorrência do choque, apesar do tratamento adequado; isso pode ser devido à sepse, infarto agudo do miocárdio ou hemorragia. Na fase posterior, há preocupação com o desenvolvimento de edema cerebral, que pode evoluir com conseqüências catastróficas. O quadro é mais comum em crianças e tem causa desconhecida, podendo sugerir a correção muito rápida dos distúrbios metabólicos. 2.3.3.3 Achados laboratoriais Ao se estabelecer o diagnóstico clínico, devemos iniciar a confirmação e avaliação laboratorial. E importante que o enfermeiro perceba que a gravidade da CAD não 25 esta necessariamente relacionada ao nível de glicose sanguínea (BRUNNER e SUDDARTH, 2005). O diagnósticos é confirmado pela presença de hiperglicemia, usualmente de 200800mg%, hipercetonemia (aumento de acido beta-hidroxibutirico, acetoacetico e acetona), diminuição do PAH, HCO³ e PCO², glicosúria de mais de 2¢ e cetonúria (CHAGAS, 2006). Os níveis de sódio e potássio podem ser baixos, normais ou altos, dependendo da quantidade de água perdida (desidratação). Níveis elevados de creatinina, nitrogênio da uréia sanguinea (BUN), hemoglobina, e o hematócrito, também podem ser vistos na desidratação. Após a reidratação, uma elevação continuados níveis de creatinina e BUN sérico estarão presentes no paciente com insuficiência renal subjacente (BRUNNER e SUDDARTH, 2005). Leucocitose de até 15.000 leuc/mm3, inclusive com desvio à esquerda, é comum em decorrência da acidose e reverte rapidamente com a correção do distúrbio. Aumento de enzimas séricas, especialmente a amilase, pode ser observado ( GROSS, 1993). 2.3.4 TRATAMENTO Restaurar o metabolismo intermediário, pela administração de insulina; corrigir os estados de desidratação e acidose; e tratar as complicações são os objetivos do tratamento. (CHAGAS, 2006). Assim como para Knobel (2007), a base do tratamento da cetoacidose é a rápida administração de quantidades adequadas de insulina, com a correção dos distúrbios hidroeletrolíticos; e deve-se concomitantemente intercorrente que possa ter precipitado o quadro. 2.3.4.1 Administração de fluidos tratar qualquer patologia 26 A intervenção primaria na CAD é a reposição de fluidos para correção de hipovolemia, hemoconcetraçao e desidratação. Sinais vitais, valores laboratoriais e balanço hídrico precisam ser cuidadosamente monitorizados. (ROGERS, et al 1992). A reposição do volume tem dois objetivos e duas fases distintas. O objetivo inicial é restaurar o volume circulatório e, portanto, nessa fase rápida do tratamento utiliza-se soluções isotônicas. Solução salina a 0,9% é adequado e administra-se um litro na primeira meia a uma hora e, a seguir, um litro na hora seguinte. Esse ritmo rápido é determinado pela hipotensão, a qual se persistir, impõe a utilização de fase rápida adicional. Expansores de volume coloidais podem ser necessários em pacientes com choque (KNOBEL, 2007). Ainda, segundo Knobel (2007), o segundo objetivo é a reposição das perdas intracelulares e corporais totais, a qual é corrigida mais lentamente nas próximas 8 a 12 horas. Para Brunner e Suddart (2005), após as primeiras horas, a solução fisiológica a 0,45% é o líquido de escolha para continuar a reidratação, desde que a pressão sanguínea esteja estável e o nível de sódio não esteja baixo. A monitorização do volume de líquido envolve a verificação freqüente dos sinais vitais (incluindo o controle das alterações ortostáticas na pressão sanguínea e batimento cardíaco) e a avaliação pulmonar. Enquanto a desidratação for sendo corrigida, a diurese será melhor em relação à administração intravenosa de líquidos. Os expansores de plasma podem ser necessários para a correção de uma hipotonia grave que não responda ao tratamento intravenoso com liquidos. A monitorização de sinais de superidratação é especialmente importante para o paciente mais idoso ou com risco de insuficiência cardíaca congestiva (Id, 2005). 2.3.4.2 Insulinoterapia 27 A reposição de insulina só será iniciada após a primeira fase de hidratação, uma vez que a glicemia de admissão pode ser reduzida em muito apenas com expansão do volume vascular e aumento da filtração renal (GOWER, 2008). Não há evidências de que grandes doses de insulina sejam necessárias para o tratamento da cetoacidose diabética. Por outro lado, essas grandes doses aumentam os riscos de hipoglicemia e hipopotassemia. A taxa de queda de glicose em diabéticos não-controlados é uniformemente rápida, com concentrações plasmáticas de insulina de 20-200mU/ml, que podem ser atingidas por infusão EV contínua, ou administradas em pequenas doses IM ou SC, aproximadamente a cada duas horas (CHAGAS, 2006). Já Knobel (2007), diz que, as doses de insulina recomendadas para o tratamento da CAD, são altas se comparadas à secreção de 24 horas de um individuo normal, ou com a dose de insulina administrada em pacientes durante a crise de CAD. Para Hohl (2008) as doses de insulina variam com o tamanho da pessoa, o horário das atividades e refeições, o tipo e a quantidade de alimentos consumidos e a intensidade de atividade física. Pode variar ainda na presença de doenças e mesmo de abalos emocionais. A insulinização poderá ser feita de modo contínuo (IV) ou intermitente (IM). A escolha depende da presença de recursos humanos e de aparelhagem técnica apropriados no local do atendimento. (endocrinologia,2008). A via de administração de insulina é importante para o sucesso da terapêutica. Sabe-se que a meia-vida plasmática da insulina é de 4-5 minutos. Logo para qualquer esquema que utilize a via EV intermitente, devem ser preconizadas injeções freqüentes para que seja efetivo; assim mesmo poderão ocorrer grandes flutuações nas concentrações plasmáticas. Esses problemas são eliminados pela administração venosa contínua de pequenas doses. A insulina regular por via subcutânea é mais lentamente absorvida e apresenta uma meia-vida de 4 horas; por via intramuscular tem meia-vida de 2 horas. Apesar do início de ação mais retardado, ambas podem ser utilizadas (CHAGAS, 2006). 28 Uma dose inicial de dez unidades EV, em bolus, embora não mandatória, estabelece rapidamente o nível terapêutico, enquanto se prepara a infusão continua. Deve-se preparar solução concentrada de insulina (pelo menos 1UI por 5ml de soro fisiológico a 0,9%). A solução deve ser trocada a cada seis a oito horas para evitar a inativação da insulina, que pode ocorrer devido ao pH inadequado da solução diluente (Knobel, 2007). Ainda, segundo Knobel (2007) se as facilidades para a utilização de insulina EV não forem disponíveis, pode-se alternativamente administrar 10UI, em bolus EV de insulina regular, seguida de 5 a 10UI intramuscular, a cada hora, atingindo-se o mesmo nível insulínico após cerca de três horas. Monitorize os níveis de glicose sérica a cada hora. Esteja preparado para administrar glicose no evento de hipoglicemia. Para evitar a hipoglicemia por excesso, glicose 5% deve ser dada quando a glicose sérica esta abaixo de 250mg/dl (BRUNNER & SUDDARTH,2005). 2.3.4.3 Reposição de potássio Para Brunner & Suddarth (2005), o principal eletrólito durante o tratamento da CAD é o potássio. Embora a concentração plasmática inicial possa ser baixa, normal, ou mesmo alta, há grande perda de potássio dos estoques corporais. Alem disso o nível de potássio irá diminuir durante o curso do tratamento da CAD e, portanto deve ser freqüentemente monitorizado. Deve-se iniciar a administração de potássio quando o ECG indicar a resolução de hipercalemia. A infusão IV periférica deve conter cloreto de potássio para fornecer 20-40mEq K+/litro. Se a concentração plasmática de potássio for inferior a 4,0 mEq/litro, o tratamento deve ser mais agressivo; se houver necessidade, a infusão de cloreto de potássio pode ser aumentada para 15 mEq/h. è necessário monitorar o debito urinário, devendo-se acompanhar a terapia com potássio, com atenção particular nos pacientes oligúricos (ORLAND,1989). 29 A reposição de potássio, cautelosa, porém adequada, é vital para evitar disritmias cardíacas graves que podem ocorrer com a hipocalemia. Para uma infusão segura de potássio, o enfermeiro deve se certificar de que, não existem sinais de hipercalemia no ECG (ondas T em pico, altas); valores laboratoriais de potássio são normais ou baixos e se o paciente esta urinando, ou seja sem bloqueio renal (BRUNNER & SUDDARTH,2005). 2.3.4.4 Reposição de sódio Recomenda-se a administração de bicarbonato nos casos em que a CAD é acompanhada de choque ou coma, pH arterial inicial de menos de 7,1 ou hipercalemia grave. Deve-se evitar a administração na forma de bolus, a não ser que ela seja considerada como medida indispensável para a sobrevida do paciente. Podem-se adicionar duas ampolas de bicarbonato de sódio a um litro de solução salina a 0,45% (ORLAND,1989). Já Barreto (1993), diz que a administração adequada de fluidos e insulina é a melhor terapia para a correção da acidose, sendo o uso do bicarbonato desnecessário, uma vez que pode provocar hipernatremia e hipocalemiaaguda, alcalose tardia e deslocamento da curva de dissociação da hemoglobina para a esuqerda, provocando hipóxia tissular. Para Brunner & Suddarth (2005), também não é necessária a infusão de bicarbonato para a correção da acidose durante o tratamento da CAD, pois isso precipita diminuições súbitas (e potencialmente fatais) dos níveis de potássio sérico. A infusão continua de insulina geralmente é suficiente para reverter a acidose da CAD. 2.3.5 Cuidados de Enfermagem Segundo Silva (2008), o enfermeiro emergencista deve reconhecer o quadro clínico da cetoacidose diabética e iniciar as medidas de suporte para evitar as complicações. Deve-se estar atento aos estados de choque hipovolêmico, distúrbios 30 eletrolíticos e ácido-básicos, pois o paciente quando chega na emergência geralmente encontra-se num grau avançado de desidratação. A abordagem terapêutica é dividida em medidas gerais e medidas específicas no atendimento de admissão de um paciente com cetoacidose diabética na emergência. As medidas especificas já foram detalhadas acima. Entre as medidas gerais estão os cuidados de enfermagem (Id, 2008). Para Barreto (2008), deve ser feito a verificação dos sinais vitais, estado mental, grau de desidratação e diurese horária até que ocorra melhora significativa. O débito urinário é monitorado para garantir a função renal adequada antes que o potássio seja administrado, para evitar a hipercalemia. O eletrocardiograma é monitorado para as arritmias que indicam os níveis anormais de potássio. Os sinais vitais, gasometria arterial e outros achados clínicos são registrados em uma planilha de fluxo ou fluxograma (BRUNNER & SUDDARTH, 2005). Ainda, segundo Id (2005), a enfermeira registra os valores laboratoriais do paciente e as freqüentes alterações nos líquidos e medicamentos que são prescritos, monitorando as respostas do paciente. Segundo Silva (2008), é necessário assegurar o “ABCD” primário verificando as condições clínicas do paciente; avaliar o nível de consciência chamando o paciente pelo nome e avaliar sua capacidade de resposta e instalar cateter de oxigênio a 2 L/min mediante a avaliação do padrão respiratório. Carpenito (1999), reforça na necessidade do enfermeiro monitorar os sinais e sintomas como glicose sanguínea maior que 300mg/dl; o hálito cetona; cefaléia; anorexia, náuseas e vômitos; desidratação mascarada pela mucosa seca e pele pouco túrgida, monitorar o paciente e ficar atento a possíveis arritmias devido a espoliação de potássio. Para Silva (2008), deve-se obter um ou mais acessos venosos calibrosos, pois geralmente o paciente encontra-se num grau severo de desidratação e a reposição 31 volêmica endovenosa é a prioridade; contactar com setores de apoio, como laboratório e RX e iniciar dieta zero até que o paciente esteja consciente, sem náusea, vômito ou distensão abdominal. Ainda para Silva (2008), pode–se avaliar a necessidade da passagem de SNG devido diminuição do nível de consciência com risco de aspiração, vômitos incoercíveis, distensão abdominal, íleo paralítico, e a passagem de sonda vesical para controle do balanço hídrico. Barreto (1993), reforça que se devem considerar os riscos e benefícios da sonda vesical de demora ou de alívio e proceder a sondagem em pacientes sem micção espontânea, comatosos ou em choque circulatório. Tão logo o paciente tenha condições, deverá ser iniciada a ingestão de líquidos (suco de frutas, chás)e, a seguir, dieta de sal na forma de caldos, sopas; no dia seguinte dieta normal para diabético com as calorias apropriadas para a idade e o peso (CHAGAS, 2006). 2.3.6 Prevenção Apesar da melhora dos recursos diagnósticos e terapêuticos, não se observou diminuição na mortalidade por CAD nas últimas duas décadas. Portanto, o principal objetivo do manejo de pacientes com DM insulino-dependente deve ser a prevenção de episódios de CAD através de um alto índice de suspeição com monitorização rigorosa de sintomas (SILVA, 2008). A prevenção da recorrência de episódios de CAD, principalmente em adolescentes, exige uma eficiente participação e vigilância por parte da família e da equipe de saúde. Episódios repetidos de CAD devem ser considerados como falha no tratamento a longo prazo. A eficiente prevenção de CAD envolve o reconhecimento de sinais precoces de descompensação do diabetes; identificação de eventos que possam precipitar o aumento da necessidade de insulina; intervenção precoce; e 32 intervenção agressiva no núcleo familiar de pacientes com episódios recorrentes de CAD (Id, 2008). De acordo com Brunner & Suddarth (2005), os pacientes devem ser orientados quanto às regras de conduta para os “dias de doença”. O item mais importante a ensinar aos pacientes consiste em não eliminar as doses de insulina quando ocorrerem náuseas e vomitos. Eles devem receber a dose usual de insulina e tentar consumir pequenas quantidades de carboidratos. È importante ingerir líquidos a cada hora. A prevenção de CAD no momento do diagnóstico de novos casos de DM envolve o conhecimento, por parte dos médicos, das manifestações iniciais da doença, bem como um alto índice de suspeição por parte dos mesmos. O diagnóstico precoce de diabetes e a instituição do tratamento evitam a progressão para CAD. É importante salientar também que, sempre que se estabelece o diagnóstico de DM, devemos também caracterizar se o DM é ou não insulino-dependente (SILVA, 2008). Em crianças e adolescentes, em princípio, todos os casos são insulino-dependentes. Nesta situação, todos os pacientes com DM devem ser tratados desde o início com insulinoterapia, não estando indicado o uso de hipoglicemiantes orais, que dependem da existência de secreção pancreática de insulina para sua ação (Id, 2008). Para Reis (2008), algumas regras ajudam na prevenção do estabelecimento da cetoacidose como: manter sempre em casa um frasco de insulina de ação rápida para correção de descompensações do diabetes; estar sempre atento ao uso correto da dosagem de insulina e estar seguro de que não omitiu doses; diante da presença de uma infecção conhecida, como dor de garganta, infecção urinária, resfriados ou presença de febres, realizar 3 a 4 vezes ao dia o controle da glicemia e pesquisar corpos cetônicos, na urina ou sangue. As habilidades de autogerenciamento do diabetes (inclusive administração de insulina e o teste da glicose sanguínea) devem ser avaliadas para garantir que não 33 ocorra um erro na administração da insulina ou no teste da glicemia. O aconselhamento psicológico é recomendado para os pacientes e membros da família quando alteração intencional na dosagem de insulina foi a causa da cetoacidose diabética (BRUNNER & SUDDARTH, 2005). 34 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da realização deste trabalho, permite-se concluir a importância do conhecimento teórico sobre os riscos da cetoacidose diabética, assim como as condutas frente ao paciente acometido por essa situação, visto que, trata-se de uma emergência e, portanto o doente encontra-se em risco de morte, necessitando ser atendido e cuidado por profissionais preparados, com embasamento científico para agir e reverter o quadro da cetoacidose. Como foi citado em Hohl, 2008, em 2025, neste estudo provavelmente teremos 380 milhões de pessoas a sofrerem desta doença, e sabe-se que, a maioria não tem conhecimento sobre ela, seus sintomas e tratamento. Compreende-se, a partir deste estudo, que os indivíduos portadores de diabetes mellitus tipo I necessitam de adequadas instruções e melhores informações sobre a doença e os riscos a que estão expostos pelo descaso com o controle glicêmico e pelo desconhecimento das complicações advindas com a evolução da doença. Com Feldman, 2008, foi visto que a cetoacidose pode ser desencadeada pela ingestão abusiva de carboidratos e por situações de stress físico ou emocional, e que se manifesta através de sintomas fáceis de serem identificados como: poliúria, polidipsia, perda de peso, desidratação com diminuição do turgor da pele, fraqueza, hálito cetônico. É importante a atenção aos sintomas descritos para possibilitar a pronta correção e as complicações não se instalarem. Para isto, se faz necessário o acompanhamento com a equipe de saúde, aproveitando esse momento para obterem informações sobre a doença, esclarecerem dúvidas e assim se conscientizarem da necessidade da adesão ao tratamento. Conclui-se, com este estudo, que é de fundamental importância que os profissionais sejam capacitados, mantendo-se sempre atualizados para assumirem suas responsabilidades e transmitirem informações indispensáveis ao paciente sobre sua 35 enfermidade, pois à medida que os indivíduos são instruídos, tornam-se ativos no seu tratamento, podendo reduzir dessa forma, os danos causados pela doença. 36 REFERÊNCIAS BRUNNER; SUDDARTH. Tratado de enfermagem médico-cirúgica. 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. CARPENITO, Lynda Juall. Plano de cuidados de enfermagem e documentação :diagnósticos de enfermagem e problemas colaborativos. 2 Ed. Porto Alegre: Artmed, 1999. CHAGAS, Antonio José das. Cetoacidose Diabética. In: Pires, Marco Túlio Baccarini. Erazo Manual de urgências em pronto socorro. 8 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. CZEPIELEWSKI, Mauro Antônio. Diabetes Mellitus. 2008.Disponível em: WWW.abcdasaude.com.br/artigo.php?127. Acesso em 05 abr. 2011. ENDOCRINOLOGIA. 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