12 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, QUARTA-FEIRA, 05 DE FEVEREIRO DE 2014 Cidades Pornografia tratada como doença JULIA TERAYAMA/AT Para especialistas, quem passa o dia inteiro vendo vídeos e fotos com conteúdo pornográfico precisa de tratamento Carlos Moisés Vieira ssistir a vídeos e ver fotos de pornografia exageradamente pode não ser apenas um hábito ou desvio de comportamento. Segundo médicos psiquiatras, a compulsão por pornografia é vista como uma doença, como a dependência química, por exemplo, que requer tratamento à base de psicoterapias e medicamentos. O médico psiquiatra Vicente de Paula Ramatis trata pacientes compulsivos e acredita que este transtorno é moderno e difícil de ser tratado. “Com o grande volume de material pornográfico à disposição por meio da internet, as pessoas têm maior propensão a de- A senvolver esse tipo de distúrbio comportamental, que é muito difícil de ser tratado, porque, em geral, as pessoas não conseguem reconhecer o problema”, disse. Segundo ele, poucos pacientes procuram ajuda espontaneamente. “A maioria dos pacientes vem porque está sendo pressionada pela família. As mulheres têm mais pudor para admitir esse tipo de comportamento”, disse. O psiquiatra Gilson Giuberti Filho também já tratou pacientes com esse tipo de compulsão. Ele preferiu não apontar uma causa específica para esse comportamento, mas disse que pode ser uma propensão hereditária, psicológica ou tratar-se de um hábito desenvolvido socialmente, que acaba se tornando um vício. “Alguns indivíduos perdem o controle e os limites de seus hábitos. Toda compulsão é doentia e tem características destrutivas para a vida da pessoa. O objeto de compulsão é só um gatilho que evidencia essa perda de controle”, disse o psiquiatra. VICENTE RAMATIS PSIQUIATRA O PSIQUIATRA VICENTE RAMATIS disse que a maioria dos pacientes busca ajuda ao sofrer pressão da família O QUE ELES DIZEM “É difícil achar uma causa” O médico psiquiatra Vicente de Paula Ramatis atende pacientes que apresentam compulsão por pornografia. A TRIBUNA – Existe diferença entre a compulsão por pornografia e demais compulsões? VICENTE RAMATIS – Não. A compulsão se caracteriza pela perda de controle sobre os hábitos e comportamentos. Isso acaba ocasionando prejuízos na vida social HOMEM em crise: terapia do paciente. > Quais as causas possíveis para uma pessoa desenvolver a compulsão? É difícil achar uma causa. Mas há estudos que apontam fatores hereditários, que tornam a pessoa propensa a algum tipo de compulsão. Há ainda a possibilidade de estar ligada a questões relativas ao desenvolvimento sexual ou mesmo a uma questão social. Cada caso é um caso. > Existe um perfil de pacientes que apresentam essa compulsão? Normalmente, são homens entre 20 e 40 anos, que dificilmente procuram tratamento espontaneamente. Geralmente, nos procuram sob a pressão de familiares ou esposas. E isso dificulta bastante o tratamento. > Como é o tratamento? Os pacientes são tratados com psicoterapias, mas precisam de remédio para controlar a depressão e a ansiedade. > O paciente pode apresentar crise de abstinência? Não. A crise abstinência é um sintoma de dependência orgânica. Mas a pessoa pode apresentar irritabilidade, depressão e ansiedade. PREJUÍZO E ADVERTÊNCIA ARQUIVO/AT O paciente demora a perceber o aspecto destrutivo da compulsão. Quem está em volta que percebe “ Gilson Giuberti Filho, psiquiatra Mulher compulsiva Um empresário de 40 anos procurou um psiquiatra para tratar da compulsão por pornografia, pois já estava tendo prejuízos financeiros por causa da necessidade, quase semanal, de formatar seu computador. Ele baixava conteúdo pornográfico que contaminava seu computador com vírus. Uma mulher de 40 anos consumia pornografia desde a adolescência. Ela procurou um especialista, pois começou a perceber que a temática de suas conversas com as amigas era sempre sexual. A gota d'água foi ser advertida por um funcionário, a quem ela pediu que comprasse material pornográfico. ACERVO PESSOAL Quem é A pessoa compulsivo troca a compulsiva tem família pela pornografia, uma insaciedade que, de depois tem uma crise alguma maneira, a faz de culpa tentar produzir prazer “ ” Cássia Rodrigues, psicóloga “ ” Paulo Bonates, psicanalista e professor SAIBA MAIS Principais sinais de vício em pornografia Compulsão por pornografia Segundo especialistas, todas as compulsões começam quando o objeto de desejo se torna uma muleta para combater os sentimentos de ansiedade, baixa autoestima, solidão, tédio, angústia ou raiva. Conheça os 10 sinais que caracterizam o compulsivo: Incapacidade de parar os comportamentos e o uso da pornografia, apesar de várias tentativas. A compulsão se torna mais forte do que a vontade. Raiva ou irritabilidade, se alguém sugere ou solicita que ele pare com o hábito. Esconde total ou parcialmente o uso da pornografia. O viciado tem uma vida dupla e costuma manter seus hábitos em segredo, gerando um sentimento de vergonha e culpa. 1 Vírus de computador ” DIVULGAÇÃO 2 3 Continua com o comportamento vicioso, apesar de consequências óbvias, como uma perda de relacionamento conjugal, queda de rendimento no trabalho ou distanciamento dos amigos. Perde-se no tempo consumindo a pornografia. Gasta sempre mais tempo do que o pretendido e prioriza o hábito. A pornografia passa a consumir os pensamentos. O compulsivo começa a ter fantasias constantes sobre sexo e tem a ilusão de satisfazê-las por meio de pornografia. Significativa distância emocional daqueles que o rodeiam e incapacidade emocional para ter um relacionamento íntimo com a vida real. Prefere a pornografia à companhia de amigos e familiares. Tem de assistir constantemente mais e mais a pornografia para sentir os estímulos que costumava sentir. É como buscar doses maiores ou drogas diferentes na tentativa de alcançar o mesmo prazer inicial. Usa a pornografia como uma forma de lidar com os estresses da vida. É uma espécie de substituição ou máscara de sentimentos cotidianos, com os quais a pessoa perde a capacidade de lidar, à medida que a compulsão evolui. Fica áspero ou exigente quando se envolve em relações sexuais ou fica emocionalmente distante durante o sexo. Fica irritado ou frustrado com relacionamentos, sexo e intimidade no mundo real. 4 8 5 9 6 7 10 Fonte: Ann H. Tolley, diretora do S.A Lifeline Foundation/familia.com.br.