pornografia vicia igual a cocaína, jogo e álcool

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6 | VIDA & FAMÍLIA
DOMINGO, 20 DE NOVEMBRO DE 2016
PORNOGRAFIA VICIA IGUAL
A COCAÍNA, JOGO E ÁLCOOL
Ciência investiga como conteúdo sobre sexo mexe com cérebro
VITOR JUBINI
LÉO SOARES
[email protected]
Fotos e vídeos de sexo explícito à disposição de
usuários de todas as idades, no celular ou computador. Como esta oferta
tão fácil de conteúdo sexual mexe com o nosso cérebro? É o que a ciência
ainda tenta comprovar.
A falta de estudos do cérebro que comprovem o
dano bioquímico, como já
foi feito em relação ao uso
da cocaína, segue um problema. Em 2009, uma pesquisa do gênero fracassou
pela impossibilidade de se
formar um “grupo controle”. Ou seja: não foi possível encontrar homens
adultos que nunca tivessem consumido material
sexualmente
explícito.
Outro desafio é encontrar
uma definição universal
para a pornografia, diferenciando-a do erotismo,
para nortear os estudos.
Mas uma coisa já é certa: além de causar dependência, a pornografia é absorvida pela mente da
mesmaformacomoovício
em álcool, droga ou jogo.
“Esse tipo de conteúdo entra no cérebro, é visto como algo que proporciona
prazer e gera um ciclo vicioso”, afirma o psiquiatra
Matheus Cheibub, especialista em vícios.
“A pornografia hardcore (aquela com cenas de
sexo explícito) está intimamente ligada a casos de
pedofilia, voyeurismo e
exibicionismo, que são reflexos da dependência”,
explica o psiquiatra.
COMO FUNCIONA
Assim que uma foto ou
um vídeo íntimo são vistos,
as informações chegam ao
cérebroesãodecodificadas
imediatamente. Segundo
Cheibub, esse estímulo vai
diretamente para o sistema
límbico, a região cerebral
que identifica se algo é prazeroso. “É o bastante para
que sejam liberados neurotransmissores que vão confirmar ao restante do corpo: gerou prazer”.
O problema é que, assim como nos outros vícios, os estímulos precisa-
—
“Quando você
menos percebe,
já deixou os
namoros de
lado e não vê
mais graça
nas pessoas”
MARCOS
NOME FICTÍCIO
rão ser cada vez maiores
para alcançar aquele mesmo nível de prazer inicial.
Xeque-mate: você está dependente da pornografia.
“Assim é o nosso sistema
de recompensa. Se você
come chocolate e adora, o
cérebro não vai mais deixar você esquecer”.
Foi o que aconteceu
com Marcos (nome fictício), de 26 anos. O que pareciaserdiversãovirounecessidade e até o relacionamento chegou ao fim.
“Eu não achava graça nas
pessoas, passava horas
acessando sites durante a
madrugada. Não tinha
controle mais”, conta ele.
E se os danos ao cérebro
ainda não são comprovados, os prejuízos sociais e
afetivos são inegáveis,
lembra a professora e psiquiatra Gilda Paoliello,
que desenvolve estudos
sobre comportamento e
sexualidade. “O vício prejudica a vida social, afeti-
MOTIVAÇÃO
“Qualquer estímulo
externo pode dar
início à dependência:
o vídeo na internet,
uma simples foto ou
mesmo o som, como
nos tempos do
disque-sexo”
MATHEUS CHEIBUB
PSIQUIATRA
va, sexual e até a profissional. Nesse último caso, o
funcionário perde o senso
crítico e tenta acessar vídeos durante o expediente”, exemplifica Gilda.
E uma informação que
pode surpreender muita
gente: embora a faixa etária que mais acesse sexo
pela internet seja a dos
adolescentes, o vício se
pulveriza cada vez mais
em outras fases da vida.
“Há casos desde crian-
ças de 10 anos de idade
até idosos. Aliás, graças à
dificuldade e ao preconceito com relação à idade, é cada vez mais comum encontrar casos de
idosos que acabam se tornando dependentes de
pornografia por medo de
buscarem conhecer novas pessoas, ter um relacionamento real”, alerta
a psiquiatra.
Para tratar o problema, é
preciso vencer o mesmo
obstáculo de todos os outros vícios: a aceitação.
“Maisummotivoparacomprovar que dependência é
dependência e pronto, sem
distinção para o cérebro.
Esse viciado vai precisar
passar por todos os processos de conscientização, comoosdependentesdeálcool e drogas. O tratamento
vai ser o mesmo: acompanhamento psicoterápico e
consultas com um psiquiatra”, explica Cheibub.
(Com informação da Veja)
SINAIS DO VÍCIO EM SEXO NA WEB
Isolamento cada vez
mais frequente
tornando indiferentes
(provocando no outro a
vontade de separação).
t
Costuma ser o primeiro
dos sinais. A pessoa
passa a se isolar e
começa a preferir as
relações virtuais do que
as reais.
t Longa permanência em
sites com sexo explícito
Voltar várias vezes ao
mesmo site e ficar nele
por um longo período
também são indícios de
que a descontração já
gerou prejuízos.
Irritabilidade quando
não há conexão por perto
t
Quando a pessoa não
encontra condições para
acessar esse tipo de
conteúdo (por falta de
conexão ou bloqueio
desses sites no trabalho),
fica irritada mais
facilmente. A qualquer
pequeno estímulo ela age
de forma violenta.
t Fim da relação afetiva
sem motivo aparente
Viciados em pornografia
tendem a abrir mão de
relacionamentos, se
afastando do cônjuge
sem ter motivo ou se
Trocar o dia pela noite e
“escapar” na madrugada
t
É muito comum trocar o
dia pela noite, pois é
quando as pessoas
encontram maior
tranquilidade para
acessar esse tipo de
conteúdo. Outro sinal é
quando a pessoa espera
o parceiro dormir e sai
do quarto para ver esse
tipo de conteúdo em
outro cômodo da casa.
Fonte: Ipemed
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