Ano 20 Edição 115 OUT•NOV•DEZ 2015 OBESIDADE: UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA O número de pessoas com sobrepeso ou obesidade tem alcançado índices alarmantes no mundo todo. Os bastidores de um hospital quando o assunto é medicação PÁG. 6 Protocolo de Sepse diminui risco de morte em hospitais PÁG. 10 Dor glútea profunda: uma queixa quase diária PÁG. 20 04 Foto: Fabiane Moraes EDITORIAL NOVAMENTE É FINAL DE ANO: HORA DE AGRADECER E ACREDITAR por Maciel Costa Diretor-superintendente Nem bem nos organizamos para realizar todos os compromissos assumidos no início de 2015 e já estamos falando em final de ano. O ano passou muito depressa e, ao escrever este editorial, alguns sentimentos como os de tristeza, alegria, gratidão e esperança nos levam a refletir. Sentimento de tristeza, porque mais um ano passou voando e, obviamente, algumas coisas que havíamos programado ficaram por fazer. De alegria, pelas várias conquistas obtidas em 2015 e por um novo ano pronto para ser construído, com suas diversas perspectivas e possibilidades. Alegria por um ano que finda marcado pela realização das principais metas estabelecidas, entre elas, o início das obras de expansão do hospital. O sentimento, certamente, é também de gratidão. Graças a muito trabalho, à dedicação e ao esforço de todos os nossos colaboradores, e também à confiança e à fidelidade dos nossos clientes e médicos, é que estamos conseguindo concluir mais um ano de forma exitosa. E, finalmente, um sentimento de esperança, pois há que se olhar sempre com otimismo e ousadia para os momentos de crise para transformá-los em oportunidades. Só assim contribuiremos para que estes sejam passageiros. É preciso continuar acreditando no potencial do nosso país, mesmo que alguns políticos insistam em tentar estragar a capacidade que temos de nos reinventar e, acima de tudo, de acreditar em um 2016 melhor. Pense positivo, o poder da nossa mente é fantástico. Que tenhamos um feliz e abençoado Natal e um próspero e revigorante 2016! Um ano que foi marcado pela realização das principais metas estabelecidas, entre elas, o início das obras de expansão do hospital. EXPEDIENTE A Revista Essência é uma publicação do Hospital Santa Catarina de Blumenau. Diretorsuperintendente: Maciel Costa. Diretor Técnico: Mário Celso Schmitt - CRMSC:1538 - RQE:1221. Projeto Gráfico: Seven Comunicação Total. Jornalista Responsável: Fabiane Moraes SC 4152. Foto de Capa: Banco de Imagem. Redação: Rua Amazonas, 301, Bairro Garcia, Blumenau – SC, CEP 89020-900, tel.: (47) 3036-6034, e-mail: [email protected]. Conselho Editorial: Maciel Costa, Ernandi D. S. Palmeira, Maurício de Andrade, Mário Celso Schmitt, Genemir Raduenz, Sirlete Aparecida Leite Krug. Anúncios: Luciane Mello, tel.: (47) 3036-6141, e-mail: luciane.mello@ hsc.com.br. Impressão: Tipotil Indústria Gráfica Ltda. Tiragem: 5 mil exemplares. A Redação não se responsabiliza pelos conceitos emitidos em artigos assinados. REVISTA ESSÊNCIA E VOCÊ Indique uma pauta ou solicite gratuitamente a revista pelo e-mail: [email protected]. Confira também novidades da Revista Essência nas redes sociais. Curta o Hospital Santa Catarina de Blumenau no Facebook e siga @hscblumenau no Twitter. NESTA EDIÇÃO 05 • COM LEVEZA Ouvir música alivia as dores 06 • EM QUESTÃO Os bastidores de um Hospital quando o assunto é medicação 12 • CAPA Obesidade: um problema de saúde pública 16 • DIÁLOGO ABERTO com Dra. Denise Machado 18 • INTERNAS 20 • ARTIGO Dor glútea profunda: Uma queixa quase diária 22 • CRÔNICA Dóda 05 COM LEVEZA OUVIR MÚSICA ALIVIA AS DORES por Fabiane Moraes SE VOCÊ está procurando algo para aliviar o estresse, ouça uma música boa e relaxe. É isso aí, ouvir música é mais do que entretenimento, é uma terapia. Um hobby prazeroso, capaz de aliviar as dores. Esses dois motivos já bastariam, mas a música ainda melhora a memória, estimula a atividade física e relaxa os músculos. Isso tudo porque ativa o centro de prazer no cérebro, causando a sensação de bem-estar e conforto. Induz o movimento – Já imaginou uma festa sem música? Pois é, ela motiva, alegra e movimenta. Por isso é uma ótima companhia durante as atividades físicas. Estimula a memória – Quer uma prova de que a música melhora a memória? Cante! A música estimula novos caminhos e conexões no cérebro. Fonte: G1.com.br Alivia a dor – Com a música, a pessoa consegue se distrair e mudar o foco, o que deixa a dor em segundo plano, causando a sensação de conforto. Acalma – Dependendo do ritmo, a respiração se torna mais calma, a pressão sanguínea diminui, os batimentos cardíacos se tornam mais fortes ou leves, o que mantém o corpo calmo e relaxado. Promove o autoconhecimento – A letra, a melodia, o momento, tudo isso faz a pessoa viajar por outros mundos e descobrir emoções e sentimentos próprios, enquanto escuta a sua música favorita. O que você está esperando? Vá logo ouvir as suas músicas favoritas. 06 EM QUESTÃO OS BASTIDORES DE UM HOSPITAL QUANDO O ASSUNTO É MEDICAÇÃO por Fabiane Moraes UMA ESTRUTURA hospitalar é muito mais complexa do que eu e você podemos imaginar, caro leitor. Quando se está internado, a única coisa que vem à cabeça é ficar bom e voltar logo para casa. Partimos da ideia de que as coisas acontecem naturalmente e nos esquecemos dos detalhes e de como a nossa participação no cuidado é fundamental. É, nem tudo é tão simples como pensávamos. Veja um exemplo. Em casa, todos os dias pela manhã, depois do seu café, você toma o seu remédio da pressão – aquele que o seu médico receitou há, mais ou menos, cinco anos para controlar os níveis da sua pressão arterial. Até aí, nada de novo. Afinal, tomar o seu remedinho já é algo quase automático. Mas seria assim se você estivesse internado? Mais do que isso. Supondo que você tenha se lembrado de levar o remédio, será que ele não altera a eficácia do medicamento prescrito pelo médico durante o período de internação? Ou pior, será que esses medicamentos atuando juntos não representam uma bomba para a sua saúde? Algumas combinações entre os medicamentos são muito perigosas. É por isso que o Hospital Santa Catarina de Blumenau, até o momento o único na cidade, faz a conciliação medicamentosa. Um processo em que os medicamentos prescritos pelo médico são identificados e comparados à lista de medicamentos utilizados pelo paciente antes da sua internação. De acordo com a farmacêutica, Andiara Laurindo Florenço Neuwiem, o processo de concilia- ção medicamentosa inicia durante a admissão do paciente com a equipe de enfermagem e tem como objetivo garantir a segurança do paciente. “Assim que o paciente dá entrada no HSC Blumenau, a equipe de enfermagem o questiona sobre remédios de uso contínuo que esteja tomando e avalia. Se houver necessidade, aciona o setor de Farmácia que irá verificar a dose, o prazo de validade e se é necessário continuar usando esse medicamento”, explica. É nesse momento, que são identificados possíveis erros, inconsistências e interações medicamentosas que previnem potenciais eventos adversos e, consequentemente, danos à saúde do paciente. Por isso é fundamental a colaboração dos pacientes. “Uma das grandes vantagens da conciliação medicamentosa é a de poder educar o paciente quanto ao uso seguro dos medicamentos que, sem dúvida, impacta na sua recuperação e melhor qualidade de vida”, aponta a farmacêutica. Agora você já sabe: um cuidado seguro também depende de você. Auxilie a equipe que atua no seu cuidado, informe os medicamentos de uso contínuo que você está tomando e as reações adversas, combinado? Uma das grandes vantagens da conciliação medicamentosa é a de poder educar o paciente quanto ao uso seguro dos medicamentos, que, sem dúvida, impacta na sua recuperação e melhor qualidade de vida. 07 EM QUESTÃO FLORES, PERFUME E ALGUNS ESPIRROS! por Fabiane Moraes CONHECIDA como a estação mais bela do ano, a primavera também tem seus contratempos e costuma não ser assim tão linda aos olhos das pessoas que sofrem com alergias respiratórias. Sintomas como coceira e irritação no nariz, coriza e espirros – muitos espirros - são comuns nesta época do ano. A explosão de pólen, fenômeno típico da estação, é o pontapé para o início das reações. O clima seco, as oscilações de temperatura, a poluição, a poeira e os ácaros também contribuem para o aparecimento ou agravamento das crises. A resposta alérgica ocorre quando o pólen liberado pelas flores entra em contato com a mucosa respiratória de indivíduos sensíveis à substância, resultando em crises. As manifestações mais comuns são: asma, rinite, bronquite e sinusite. Fonte: ABC da Saúde Infelizmente não existe cura para alergias respiratórias, a única forma de evitá-las é fugir dos agentes causadores e tratar os sintomas, que variam de acordo com o tempo de duração das crises. A rinite, por exemplo, que afeta entre 75 e 80% da população, é tratada com broncodilatadores, que melhoram o fluxo de ar nas vias respiratórias, e com anti-inflamatórios. Então, já que não tem como escapar da estação das flores, o jeito é seguir algumas dicas para conviver melhor com as alergias: • Dê preferência aos pisos. Os carpetes não são bons aliados para quem sofre com as “ites”. • Evite varrer a casa para não espalhar poeira pelo ar. Substitua a vassoura por um pano úmido ou aspirador de pó. • Coloque as roupas ao sol com frequência, esse hábito ajuda a matar os ácaros e a purificar o ambiente. • Troque os travesseiros, no mínimo, a cada seis meses. • E prepara-se apenas para as boas surpresas que a primavera nos reserva. 08 EM QUESTÃO CHECK-UP: A GARANTIA DE UMA VIDA MAIS SAUDÁVEL A importância das consultas e exames de rotina na detecção de doenças em estágio inicial. por Fabiane Moraes NOS ÚLTIMOS ANOS, o nível de estresse dos trabalhadores aumentou consideravelmente. Um levantamento da Associação Internacional do Controle do Estresse aponta o Brasil como o segundo país do mundo com o maior nível de estresse. De cada dez trabalhadores, pelos menos três sofrem da chamada síndrome de Burn Out, esgotamento mental intenso causado por pressões no ambiente profissional. E não é só o estresse que anda tumultuando a vida dos brasileiros, outras doenças como hipertensão e diabetes estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia. Daí a necessidade de realizar exames e consultas de rotina pelo menos uma vez ao ano, independentemente da correria. Para isso, o Hospital Santa Catarina de Blumenau implantou, em 2004, o serviço de Check-up Executivo. Uma rotina rigorosa e abrangente de consultas e exames complementares, realizados em menos de um dia – das 06h45 às 16h. Para o médico coordenador do Check-up Executivo do Hospital Santa Catarina de Blumenau, Dr. Luiz Renato Faoro, o Check-up é uma programação ativa, rápida e objetiva, que visa diagnosticar precocemente eventuais problemas de saúde. “Em menos de 10 horas, o cliente realiza consultas com profissionais de sete especialidades e garante um diagnóstico ágil e preciso”, esclarece Dr. Faoro. Através dos exames preventivos realizados no Check-up Executivo, é possível detectar problemas, tais como: Doença Arterial Coronariana, Infarto, Câncer de Próstata, Câncer de Mama, Diabetes, Doenças Gastrointestinais, Hipertensão Arterial, entre outras. “Já tivemos casos em que o cliente saiu da consulta diretamente para uma Unidade de Internação”, destacou o coordenador. Quanto mais corrido o dia a dia, menor o tempo para cuidar da saúde, o que faz do Check-up Executivo algo indispensável. O serviço não tem cobertura de convênios e pode ser contratado tanto por empresas quanto por pessoas físicas. Com mais de 10 anos de existência, o Check-up Executivo do Hospital é voltado para qualquer pessoa que esteja à procura de saúde com agilidade. São diversos pacotes, que variam conforme a idade e a indicação de exames menos ou mais abrangentes. Para mais informações, basta entrar em contato com o serviço pelo telefone (47) 3036-6090 ou pelo e-mail [email protected]. 09 EM QUESTÃO NOSSOS EXAMES E CONSULTAS Conheça as especialidades e exames disponíveis no Check-up Executivo do Hospital Santa Catarina de Blumenau: EXAMES LABORATORIAIS: GLICEMIA HEMOGLOBINA GLICOSILADA HEMOGRAMA COLESTEROL TOTAL E FRAÇÕES TRIGLICERÍDEOS SÓDIO POTÁSSIO CÁLCIO UREIA MAGNÉSIO CREATININA TGO TGP GAMA – GT TSH URINA TIPO I VHS ÁCIDO ÚRICO PSA (MASCULINO, A PARTIR DE 41 ANOS) GRUPO SANGUÍNEO – FATOR RH (SOMENTE NO PRIMEIRO CHECK-UP) HBS AG (HEPATITE B) ANTI HBS ANTI HCV (HEPATITE C) PROTOPARASITOLÓGICO PESQUISA DE SANGUE OCULTO PROTEÍNA C REATIVA (ULTRASSENSÍVEL) VITAMINA D FERRITINA EXAMES COMPLEMENTARES: RAIO-X DE TÓRAX MAMOGRAFIA (A PARTIR DE 41 ANOS) ULTRASSONOGRAFIA DE MAMAS (FEMININO ATÉ 40 ANOS) ULTRASSOM DE ABDÔMEN TOTAL ULTRASSOM TRANSVAGINAL ULTRASSOM DE MAMAS (FEMININO, ATÉ 40 ANOS) ELETROCARDIOGRAMA TESTE ERGOMÉTRICO PROVA DA FUNÇÃO PULMONAR UROFLUXOMETRIA (MASCULINO A PARTIR DE 41 ANOS) PAPANICOLAU ECOGRAFIA DE CARÓTIDAS (A PARTIR DE 41 ANOS) ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA (OPCIONAL) COLONOSCOPIA (OPCIONAL) CONSULTAS: CLÍNICA GERAL CARDIOLOGIA UROLOGIA OU GINECOLOGIA OFTALMOLOGIA OTORRINOLARINGOLOGIA DERMATOLOGIA AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 10 EM QUESTÃO PROTOCOLO DE SEPSE DIMINUI RISCO DE MORTE EM HOSPITAIS Conhecida como infecção generalizada, a Sepse é a principal causa de morte dentro das UTIs e uma das principais causas da mortalidade hospitalar tardia. por Fabiane Moraes A CADA SEGUNDO uma pessoa morre de Sepse no mundo. Esse é um dos slogans da campanha de divulgação do Dia Mundial da Sepse, que ocorreu no dia 13 de setembro. De acordo com Instituto Latino Americano de Sepse (ILAS), hoje, no Brasil, a doença é responsável por mais óbitos que o câncer e o infarto agudo do miocárdio. Um estudo realizado recentemente em UTIs brasileiras mostrou que cerca de 30% dos leitos das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) no País são ocupados por pacientes com Sepse grave ou Choque Séptico, sendo que, aproximadamente, 50% destes são fatais. E o que mais chama a atenção nesse estudo é a diferença significativa de mortalidade entre instituições públicas (58,5%) e privadas (34,5%). “Grande parte desses números se deve ao desconhecimento da população sobre essa doença e os sinais e sintomas envolvidos, o que leva ao atraso no diagnóstico e, consequentemente, na realização do tratamento adequado”, é o que explica a médica intensivista e coordenadora do protocolo de Sepse do HSC Blumenau, Dra Rafaela M. C. Tridapalli. MAS AFINAL O QUE É SEPSE? Conhecida antigamente como septicemia ou infecção generalizada, a Sepse é uma resposta sistêmica a uma doença infecciosa, causada por bactérias, vírus, fungos ou protozoários. Em geral, o diagnóstico infeccioso se resume a um órgão 11 EM QUESTÃO ou sistema desencadeando, por exemplo, pneumonia, peritonite ou meningite, mas isso é suficiente para causar um processo inflamatório em todo o organismo, o que é chamado de Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SRIS). Tal síndrome pode ter causas não infecciosas, como é o caso da pancreatite aguda grave e de pós-operatórios de cirurgias de grande porte. “Apenas quando a SIRS tem causa infecciosa é chamada de Sepse”, afirma. QUAIS OS SINTOMAS? As diferentes definições como Sepse, Sepse Grave e Choque Séptico são fases evolutivas da síndrome séptica. Segundo a Dra. Rafaela, o ideal é tratar a Sepse durante a sua fase inicial, evitando o seu agravamento. “A equipe de enfermagem e a equipe médica devem sempre estar atentas aos sinais de SRIS e de disfunção orgânica, visando sempre realizar o diagnóstico e a intervenção precoce nos pacientes”, alerta. Qualquer pessoa pode ter Sepse, mas existem alguns grupos com maior risco: idosos, recém-nascidos, pacientes com Câncer, Diabetes, insuficiência renal e doenças que afetam a imunidade. Portanto é preciso ficar atento aos sinais: febre, aceleração do coração, pressão arterial baixa, falta de ar, sonolência ou confusão mental, agitação e diminuição da quantidade de urina. COMO EVITAR A SEPSE? Estudos comprovam que a aplicação de protocolos gerenciados para o diagnóstico precoce e tratamento da Sepse reduzem significativamente a mortalidade. E essa foi uma das medidas adotadas pelo Hospital Santa Catarina de Blumenau com a implementação do Protocolo de Sepse, que se desenvolveu em parceria com o ILAS e a Surviving Sepsis Campain (Campanha de Sobrevivência a Sepse) – uma campanha mundial que tem como intuito protocolizar ações para diminuir a mortalidade por Sepse no mundo. Segundo a coordenadora de Sepse, o objetivo do protocolo é aumentar ainda mais a segurança dos pacientes internados no HSC Blumenau. “O fluxo de atendimento ao doente, o Guia de Aplicação do Protocolo de Sepse e Antibioticoterapia Empírica assim como as discussões e os eventos realizados com a equipe médica e de enfermagem fazem parte do protocolo de Sepse e visam melhorar ainda mais o tempo de resposta entre o diagnóstico e o tratamento adequado”, ressalta. “Os pacientes com suspeita de Sepse devem receber intervenções precoces nas primeiras horas. Por isso a importância da implementação do protocolo, que direciona e instrui sobre quais medidas devem ser tomadas em cada etapa do cuidado”, alerta Dra. Rafaela. A INFORMAÇÃO É O CAMINHO O protocolo de Sepse é novo e ainda está se consolidando dentro das instituições hospitalares. Por isso quanto mais informação, melhor. No HSC Blumenau, uma das metas da enfermeira Kelly Aparecida Moreira de Souza e da Dra. Rafaela M. C. Tridapalli, responsáveis pelo protocolo de Sepse, é envolver cada vez mais os profissionais de saúde e conscientizá-los da importância do diagnóstico precoce e o impacto disso na recuperação do paciente. INTEGRAÇÃO DE PROTOCOLOS Para oferecer uma assistência médico-hospitalar segura e de qualidade, o HSC Blumenau vai muito além do protocolo de Sepse e gerencia diversos outros protocolos, entre eles, os de dor torácica, prevenção de trombose venosa, segurança na identificação do paciente/cliente, de segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos, de higienização das mãos, de prevenção de queda e o de cirurgia segura. SAIBA MAIS EM: www.ilas.org.br www.diamundialdasepse.com.br www.facebook.com/diamundialdasepse 12 CAPA OBESIDADE: UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA O número de pessoas com sobrepeso ou obesidade tem alcançado índices alarmantes no mundo todo. por Fabiane Moraes 13 CAPA NO BRASIL, mais de 100 milhões de pessoas estão acima do peso, o que corresponde a 52,5% da população e 17,9% destes são obesos. E os números não param de crescer. Mais preocupante ainda é a relação que a obesidade tem com Diabetes, Hipertensão e doenças cardiovasculares. A prevenção é sem dúvida a melhor alternativa, principalmente quando o assunto é obesidade que, nos últimos anos, se tornou um problema de saúde pública. Beber água, comer de três em três horas, praticar atividade física regularmente, evitar ao máximo os alimentos não saudáveis e vigiar o próprio peso são as recomendações básicas para evitar o excesso de gordura e manter uma vida saudável. Só que, infelizmente, nos casos mais graves, aqueles em que a obesidade já é considerada mórbida, essas recomendações são apenas o primeiro passo de muitos que terão de ser dados em busca de mais qualidade de vida. É aí que entra a cirurgia bariátrica e todas as suas particularidades. OBESIDADE? Estar acima do peso é muito diferente de estar obeso ou obeso mórbido. Obesidade é uma doença crônica caracterizada pelo excesso de gordura no organismo. Para ser considerada obesa, a pessoa deve ter um Índice de Massa Corporal (IMC) maior ou igual a 30. O IMC é um cálculo entre o peso e altura ao quadrado. 14 CAPA A fórmula para esse cálculo é: IMC= peso ÷ altura x altura. Confira abaixo a tabela de classificação da obesidade, segundo o resultado do IMC. IMC CLASSIFICAÇÃO DA OBESIDADE 20 – 25 NORMAL 25 - 30 SOBREPESO 30 - 35 OBESIDADE GRAU I 35 - 40 OBESIDADE GRAU II 40 - 50 OBESIDADE GRAU III ACIMA DE 50 SUPEROBESIDADE QUANDO RECORRER À CIRURGIA? Apresentada como a solução para os casos de obesidade, a cirurgia bariátrica e metabólica tem uma série de restrições e só deve ser considerada quando todas as alternativas tenham sido esgotadas. De acordo com o cirurgião Dr. Rinaldo Danesi Pinto, a indicação cirúrgica deve ser decidida sob a análise de três critérios: IMC, idade e tempo da doença. • IMC – IMC acima de 40kg/m², independentemente da presença de doenças associadas e IMC entre 35 e 40kg/m² na presença de doenças associadas. • Idade – Abaixo de 16 anos, o Consenso Bariátrico recomenda que os riscos sejam avaliados pelo cirurgião e pela equipe multidisciplinar. A cirurgia precisa ser autorizada e acompanhada pela família. Entre 16 e 18 anos, a cirurgia deve ser realizada sempre que houver indicação e consenso entre a família e a equipe multidisciplinar. Entre 18 e 65 anos, sempre que houver indicação e, acima dos 65 anos, apenas com avaliação individual. • Tempo da doença – Apresentar IMC e doenças associadas à obesidade há, no mínimo, dois anos e não ter obtido sucesso com os tratamentos convencionais. 15 CAPA “Uma vez respeitadas todas as condições preestabelecidas conforme preceitos médicos, a cirurgia de redução de estômago, como é conhecida, é uma ótima opção, pois além da perda de peso, diminui o risco de mortalidade, aumenta a longevidade e melhora a qualidade de vida”, explica o cirurgião. PREPARANDO-SE PARA A CIRURGIA Fazer a cirurgia e começar uma vida nova: esse é o sonho de todas as pessoas que recorrem à técnica de redução de estômago. O período pré-operatório é um momento decisivo para quem opta pelo procedimento. Lidar com a ansiedade é apenas um dos desafios. É no pré-operatório que são avaliadas as condições físicas e psicológicas do paciente, a fim de garantir o sucesso do procedimento. Segundo o cirurgião bariátrico do Hospital Santa Catarina de Blumenau, Dr. Felipe Koleski, o pré-operatório otimiza a segurança e os resultados da cirurgia. “É através dele que conseguimos preparar o paciente antes do procedimento para melhorar as condições cirúrgicas e psicológicas. É nessa fase que o paciente reali- za exames de endoscopia digestiva, ultrassom abdominal, exames laboratoriais e consultas com cardiologista, psicólogo e nutricionista”, completa o médico. A TÉCNICA IDEAL Bem, para começar, o termo “técnica ideal” está relacionado com inúmeras variáveis. Ele depende do paciente, da idade, das doenças associadas, não existe uma técnica preestabelecida. Conforme Dr. Rinaldo, a escolha da técnica cirúrgica é feita pelo médico cirurgião, durante o pré-operatório, com o consentimento do paciente. “Somente o cirurgião saberá avaliar qual o melhor procedimento para tratar a obesidade e possíveis doenças associadas, sem oferecer grandes riscos ao paciente”, aponta. Atualmente as duas técnicas mais realizadas são a gastrectomia vertical e o by-pass gástrico. A gastrectomia vertical (sleeve gastric) é um procedimento que transforma o estômago em um tubo gástrico, com capacidade entre 80 e 100 milímetros, enquanto, no by-pass gástrico, parte do estômago é grampeada, e é feito o desvio do intestino delgado. Os pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, independentemen- te da técnica, perdem entre 40 e 45% do peso. As duas técnicas têm riscos? Claro, qualquer intervenção cirúrgica tem seus riscos de complicações. Esses riscos dependem da experiência da equipe cirúrgica, da tecnologia disponível e da gravidade e quantidade das doenças associadas à obesidade. Conforme Dr. Rinaldo, a mortalidade atual da cirurgia bariátrica é de 0,3% e o índice de complicações severas é pequeno, por volta de 1 a 2%. As complicações mais comuns são os vazamentos do grampeamento, as chamadas fístulas, trombose e a embolia pulmonar. UMA VIDA TOTALMENTE NOVA Perder muitos quilos, deixar o sedentarismo de lado, usar roupas de tamanhos menores, voltar a ter autoestima. Para viver esse momento, é preciso ter muita determinação. Os meses posteriores à cirurgia são complexos, mas superáveis. É só começar devagar. Viver um dia de cada vez e seguir firme todas as recomendações médicas, psicológicas e nutricionais. Prepare-se. Uma nova etapa vai começar! 16 DIÁLOGO ABERTO com DRA. DENISE MACHADO O CÂNCER é uma doença com incidência crescente em todo o mundo, principalmente em função do aumento da longevidade das pessoas. A expectativa de vida do brasileiro que, em 1960, era de 48 anos, hoje é de 74,9. A estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA) é de mais de 580 mil novos casos para 2015, o que exige das Instituições hospitalares ambientes cada vez mais modernizados e confortáveis. Para falar disso, convidamos para um Diálogo Aberto a oncologista do Hospital Santa Catarina de Blumenau, Dra. Denise Lopes Ferreira Machado. Foto por Fabiane Moraes 17 DIÁLOGO ABERTO QUANDO SURGIU O ONCO HSC? O setor de oncologia do Hospital Santa Catarina de Blumenau, o mais antigo da cidade, surgiu em agosto de 1995, inicialmente em um espaço menor, mas já com uma Câmara de Fluxo Laminar para o preparo de quimioterapias. A Câmara de Fluxo Laminar é um equipamento projetado para criar áreas de trabalho estéreis para manipulação de materiais biológicos ou estéreis para que não sofram contaminação do meio ambiente, garantindo assim a segurança dos pacientes e colaboradores. Logo em seguida, tivemos a contratação de profissionais especializados na área oncológica: enfermeira, farmacêutica, nutricionista, psicóloga e assistência espiritual. Durante esses 20 anos, o Centro de Oncologia passou por momentos importantes, entre eles algumas reformas e ampliações que, em 2011, inspiraram a criação de um novo nome, o ONCO HSC. UM SERVIÇO DE 20 ANOS TEM MUITAS CONQUISTAS. QUAIS FORAM AS MAIS IMPORTANTES? O paciente oncológico é muito complexo e necessita da abordagem de profissionais de diferentes áreas da saúde atuando no seu cui- dado. No ONCO HSC, além de uma equipe multidisciplinar integrada, o paciente tem à disposição toda a infraestrutura do Hospital. E isso, para nós, representa uma grande conquista. Das conquistas recentes, podemos destacar a criação da comissão de cuidados paliativos e o ingresso da Dra. Lidiane Nitsche, um reforço para nossa equipe multidisciplinar. A EQUIPE MULTIDISCIPLINAR FOI DESTACADA PELA SENHORA COMO UMA CONQUISTA IMPORTANTE. NESSE CASO, ELA PODE SER CONSIDERADA TAMBÉM COMO O DIFERENCIAL DO ONCO HSC? A nossa equipe multidisciplinar é uma conquista muito importante, mas estar dentro de um complexo hospitalar com Pronto-Atendimento, Unidade de Terapia Intensiva, Clínica de Diagnóstico por Imagem, Comissão de Controle de Infecção Relacionada à Saúde, entre outros serviços, é nosso principal diferencial. Diria até que o nosso grande diferencial é a integração entre essas duas coisas. Sem uma infraestrutura adequada, a equipe multidisciplinar não conseguiria prestar um atendimento de forma tão segura e competente. Assim como uma infraestrutura completa como a nossa não surtiria efeitos sem profissionais especializados naquilo que fazem. QUAIS FORAM OS PRINCIPAIS DESAFIOS DO ONCO HSC AO LONGO DOS ANOS? A área da saúde é uma das mais complexas do mundo, o que a torna um desafio diário. A oncologia, por sua vez, é uma das áreas médicas com os maiores avanços. Portanto manter um serviço desses funcionando exige muito comprometimento. Durante esses 20 anos, os desafios se tornaram incontáveis. No momento, nossas principais metas são manter a qualidade, usando medicamentos de laboratórios de referência e investir cada vez mais no trabalho interdisciplinar. VAMOS FALAR DO FUTURO. QUAIS OS PROJETOS DO ONCO HSC PARA OS PRÓXIMOS ANOS? Há cinco anos, o setor de oncologia foi ampliado. Mas, com a crescente demanda, iniciaremos a nova reforma em janeiro de 2016 para realizarmos a ampliação do serviço, que ocupará todo o 3° andar do Hospital. Com a ampliação, o ONCO HSC vai poder expandir os seus atendimentos e oferecer aos clientes um ambiente ainda mais confortável. 18 INTERNAS HSC BLUMENAU PROMOVE V SEMANA DE HUMANIZAÇÃO por Fabiane Moraes UMA ESTRUTURA física confortável e adequada é apenas um dos princípios da humanização que engloba, além do ambiente, o paciente, a comunicação com o paciente, os familiares e a relação entre a equipe de saúde. Para a supervisora de Hotelaria, Keity Karina Goll, humanizar não é uma técnica, arte ou artifício. “É uma maneira de agir, por isso todo esforço é válido”, explica. Segundo Keity, esse é um dos motivos que levou o Hospital Santa Catarina de Blumenau a promover a Semana de Humanização que, este ano, chega à quinta edição. “Com o tema “Um sorriso deixa tudo mais leve”, a V Semana de Humanização do HSC Blumenau colocou as pessoas para refletirem sobre situ- ações e atitudes que deixam não apenas o dia, mas a vida mais leve. E conseguiu alcançar o seu objetivo que era mexer com toda a Instituição, levando a todos um pouco mais de leveza”, finaliza. HOSPITAL PARABENIZA MÉDICOS COM CAFÉ ESPECIAL por Fabiane Moraes PARA COMEMORAR o Dia do Médico, celebrado oficialmente no dia 18 de outubro, o Hospital Santa Catarina de Blumenau promove, no próximo dia 22 de outubro, um café da manhã especial, no auditório Dr. Anton Hafner. Além de celebrar a data e promover a integração entre os profissionais da área médica, o evento tem como objetivo presenteá-los com um final de semana em um resort, que será sorteado entre os médicos participantes. Para mais informações sobre o sorteio, acesse o site do HSC Blumenau. 19 EM QUESTÃO COMO ESTÁ A SUA ALIMENTAÇÃO? Cortar carboidrato, comer só proteína, comer apenas frutas, faz bem? Estudos relatam os perigos das dietas da moda. por Fabiane Moraes E AÍ, você é daquelas pessoas que comem de tudo moderadamente ou costuma fazer as dietas da moda? Comer só proteína, esquecer os carboidratos, comer apenas frutas, esses são alguns dos exemplos das dietas restritivas que, aposto, você conhece muito bem. Mas será que isso faz bem para a saúde? “A maioria das dietas da moda elimina algum tipo de alimento do cardápio, a Dukan, por exemplo, restringe rigorosamente o carboidrato, privilegiando a proteína, o que faz com que o corpo busque energia na gordura. Resultado? A pessoa emagrece. O problema é que o corpo não consegue diferenciar a gordura da massa magra, e isso acaba acarretando perda da massa muscular, queda do metabolismo e risco de contrair infecção.” A alimentação feita apenas à base de frutas também não é uma boa opção. As frutas não promovem saciedade e não têm todos os nutrientes fundamentais para o corpo. Além disso, o organismo precisa ingerir, por dia, entre 10 e 15% das calorias só de proteína. “A dieta sem proteína é prejudicial A dieta sem proteína é prejudicial à saúde porque pode causar sarcopenia, a redução de músculo, o que leva a quadros de demência e diabetes. à saúde porque pode causar sarcopenia − redução de músculo − o que leva a quadros de demência e diabetes.” De forma geral, nenhuma dessas dietas conhecidas como milagrosas é saudável. “É o tipo de emagrecimento que não compensa. Estudos revelam que quase dois terços do peso perdido são recuperados em 1 ano e que nove em cada dez pessoas que emagrecem com essas dietas recuperam todo o peso ou mais, ao longo dos anos. Esqueça as famosas frases do tipo ‘perca cinco quilos em dois dias’, não prejudique a sua saúde. Os efeitos dos quilos a menos, nesse caso, podem ser irreversíveis.” 20 ARTIGO DOR GLÚTEA PROFUNDA: UMA QUEIXA QUASE DIÁRIA por Dr. Rodrigo Monari - Médico Ortopedista QUEIXA COMUM no consultório ortopédico, a dor no quadril tem inúmeras causas e pode acarretar limitação física, afastamento das atividades esportivas e do trabalho, desde que não diagnosticada e tratada precocemente. Na população em geral, as artrites (dores articulares), bursites, tendinopatias e compressão nervosa são as principais causas de dor. Já em pacientes com maior atividade física, incluindo atletas amadores, a dor pode ser causada pelos impactos diretos e indiretos, assim como por doenças relacionadas ao uso excessivo. Diagnosticar precocemente as lesões do quadril irá ajudar no tratamento, evitando que a lesão se cronifique, aliviando a dor e trazendo qualidade de vida aos pacientes. A cirurgia do quadril evoluiu muito nos últimos anos com o melhor entendimento anatômico, principalmente após a cirurgia videoartroscópica, a melhor compreensão do exame físico e métodos de imagem. Tal evolução tem ajudado nos diagnósticos e tratamento de dores intratáveis anteriormente. A dor glútea profunda (dor na nádega) é afecção comum no consultório médico e que, geralmente, está relacionada à compressão de estruturas na região glútea, em especial do nervo ciático. Os principais sintomas são dor para sentar e dor ciática irradiando para a coxa e perna. Os pacientes que sofrem com o problema, na maioria das vezes, abandonam atividades físicas mais intensas e podem ter sua qualidade de vida significativamente reduzida, sobretudo, considerando-se a dor crônica tipo neuropática. Dificilmente os pacientes conseguem ficar sentados por mais de 20 minutos. Eles se inclinam para evitar o peso sobre a área glútea doente, sentando-se em uma posição típica de proteção do lado afetado. São frequentes a história de trauma e a piora dos sintomas na posição sentada. 21 ARTIGO O diagnóstico da dor glútea profunda é feito através de história clínica e exame físico, associado ao diagnóstico de exclusão, após avaliação de outras patologias que podem causar os mesmos sintomas. O exame físico inclui testes diagnósticos inespecíficos e não existe um exame (clínico ou de imagem) característico, no qual a fonte da dor possa ser comprovada. As queixas lombares e de síndrome miofascial podem ocorrer simultaneamente, complicando ainda mais o quadro clínico. Os exames de imagem são utilizados para excluir outras possíveis causas dos sintomas apresentados na dor glútea profunda. Não é incomum que pacientes com problemas na região glútea sejam submetidos, sem sucesso, a cirurgias na articulação do quadril ou na coluna. Muitas vezes é difícil determinar a origem dos sintomas. Além do mais, problemas na coluna lombar e na articulação do quadril podem coexistir com problemas glúteos. O tratamento inicial é realizado com fisioterapia, medicações para a dor e injeções guiadas ao nervo ciático/ músculo piriforme. Quando, após um tempo prolongado do tratamento fisioterápico, o paciente não apresenta melhora do quadro, pode se indicar tratamento cirúrgico, realizado preferencialmente através da técnica artroscópica. 22 Foto: Marion Rupp CRÔNICA DÓDA por Dr. Cezar Zillig Neurocirurgião O TONINHO entrou no quarto e encontrou-a sen- católica, mas costumava aceitar convites de amigas tada na cama, com a gaveta do criado-mudo sobre os para ir a templos de outras seitas. Às vezes ia to- joelhos. Ela fazia uma faxina na papelada e naque- mar “passes”. Todas as religiões são boas, dizia. Por la mixórdia de objetos das mais variadas naturezas uns tempos, visitou uma igreja evangélica aprovei- e origens, como soe acontecer em potes, caixinhas, tando convites e caronas. Para lhe provocar, disse- vasos, gavetas. Esses objetos vão misteriosamente se mos: Dóda, na igreja da Mica não se pode mentir. Eu juntando em locais assim, tais quais sobrenadantes não minto! Só minto quando é preciso e aí não faz em remoinhos. Bem, Dona Anita já estava sentada “már”. Ah, ia me esquecendo de dizer que ela falava lá há um bom tempo, “tirando uma linha” pela quan- trocando eles e esses por erres, assim como falam tidade de papéis espalhados pelo chão. A propósito, os caboclos. era comum ouvi-la dizer “tirar uma linha”, o que sig- Dóda era minha avó materna, e fui eu, seu neto nifica “basear-se”; também pode ser olhar, observar mais velho, quem lhe botou esse apelido. Havia tam- discretamente sem ser notado. O Toninho se curvou bém o Dodô, que era o que melhor me saia quando e juntou do chão umas notas vistosas e perguntou- tentava dizer “vovô” em minhas primeiras falas. Es- -lhe: o que é isto aqui, Dóda? Ah, isso aí é propaganda ses apelidos foram um sucesso em termos publicitá- de banco. Nada disso, Dóda, é o Cruzeiro Novo, é di- rios, pois grudaram como chiclete em sola de sapato. nheiro! (Acontece que, antes do lançamento da nova E, desde então, em momentos de reminiscências, a moeda, fez-se uma campanha publicitária. Nos ban- família só se refere a eles por Dóda e Dodô. cos, havia cartazes mostrando o aspecto das novas A Dóda foi uma personalidade marcante em nos- cédulas e, quando estas finalmente chegaram, Dona sas vidas, protagonista de episódios dignos de nota Anita continuou achando que eram propaganda). e relato; histórias contadas e recontadas na famí- Ela não era analfabeta. Lia o suficiente para se lia quando bate a saudade; uma forma de cultuá-la. virar: ler o obituário no jornal, ler seu devocioná- Como a história do “Pére!”. Certa feita ela punha a rio, tomar ônibus, etc. Nunca a vi lendo um livro. À mesa, e os netos afoitos se atiraram sobre a comida sua maneira, era muito inteligente, perspicaz, ladina quando ela deu um tapa na mão de um deles gritan- mesmo. Tinha um talento incrível para comandar do: pére! Não sabem o que é pére?! e conseguir o que queria. Costumava mentir com frequência; nada sério. Mentirinhas de varejo. Era Essa e outras histórias da Dona Dóda, você vai conhecer na próxima edição da Essência.