XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 06 a 08 de novembro de 2006. Análise comparativa de metodologias: abordagem orientada para a pesquisa das engenharias simultânea e convencional no âmbito de edificação residencial, com estudo de caso ilustrativo José Paulo Saes Filho (CESUMAR) [email protected] Moacir José da Silva, Dr (Universidade Estadual de Maringá) [email protected] Resumo Pesquisas na área da construção civil, no setor de edificações, mostram que as perdas são grandes em termos de desperdício de recursos materiais e humanos. O trabalho aborda como compatibilizar projetos usando engenharia simultânea, que trata da antecipação de conflitos com conseqüente redução de não-conformidades de projetos e, para confirmar tal afirmação, será feita uma estimativa dos custos adicionais causados pela sua não utilização. O objeto de estudo será um edifício de vinte e três pavimentos, situado na cidade de Maringá, noroeste do Paraná, sendo que dezoito pavimentos são apartamentos de alto padrão, três pavimentos de subsolo e dois pavimentos de lojas comerciais, em cuja construção não foi usada a metodologia de engenharia simultânea. Neste estudo serão detectados os problemas decorrentes da não utilização desta metodologia. Palavras-chave: Compatibilização de Projetos; Engenharia Simultânea; Gestão de Projetos. 1. Contexto histórico Na busca por métodos para diminuir o custo final de um empreendimento, muitas empresas investem em pesquisas, visando melhorar o processo de desenvolvimento do produto. A engenharia simultânea é um método usado para agilizar o processo de projeto e tem como objetivo, assim como outras tecnologias, aumentar a produtividade, considerando todos os conceitos da qualidade e reduzindo, assim, o custo final do produto. Conforme Casarotto Filho et. al. (1999), a engenharia simultânea teve início quando as indústrias bélicas e aeroespaciais norte-americanas almejavam diminuir seu tempo de projeto. A partir desse fato, a implantação deste método foi indispensável para projetos de grande porte, devido ao sucesso adquirido por empresas que o utilizaram. Após a popularização dos princípios da engenharia simultânea, ela passou a ser utilizada também na construção civil como meio de compatibilização de projetos. A redução de tempo na fase de projeto foi o início para que grandes empresas se interessassem pelo método que, posteriormente, se consagrou pelo fato de diminuir, também, o tempo da fase de execução das obras. Atualmente a indústria da construção civil passa por um processo de busca por características de industrialização. Na tentativa de eliminar desperdícios relacionados à mão-de-obra e recursos materiais, está implantando conceitos de organização e montagem, o que permite a diminuição de custos, afim de participar da concorrência do mercado atual. Essa tendência abre caminho para a engenharia simultânea, que começou a ser utilizada na construção civil para antecipar os conflitos de projetos, assim como desenvolvê-los mais rapidamente. Os resultados obtidos através da utilização deste método foram a otimização do tempo na fase de elaboração de projetos, principal objetivo, e a agilização na parte de execução. XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 06 a 08 de novembro de 2006. Desta maneira estudos dessa natureza são de grande importância para se comprovar, nas fases de projeto e de execução, as vantagens da engenharia simultânea sobre o método convencional da engenharia seqüencial. 2. Engenharia simultânea Existem diversos métodos para administrar processos de execução e/ou elaboração de projetos, cada um com suas diferentes peculiaridades. O método da engenharia simultânea é um processo de execução paralela aos projetos necessários para a concretização do produto. Para Winner et al. (apud PETRUCCI, 2003), a engenharia simultânea pode ser definida como uma abordagem sistemática para o projeto integrado e simultâneo de produtos e seus processos correlatos, incluindo a manufatura e a manutenção. Esta maneira de conduzir o processo leva em conta, desde o início, todos os elementos do ciclo de vida do produto, desde a concepção até o descarte, incluindo a qualidade, custo, prazos e requisitos do usuário. Essa preocupação faz com que, atualmente, os princípios da engenharia simultânea sejam conhecidos universalmente e quase sempre adotados para solucionar problemas relacionados ao tempo, como relata Kerzner (2002). A engenharia, a pesquisa e o desenvolvimento, a produção e o marketing devem ser integrados desde o começo do projeto. Ao respeitar a complexidade de uma implantação em engenharia simultânea, é necessário um planejamento de projeto de alta qualidade, a fim de evitar riscos nas fases posteriores do projeto. A Chrysler Motors pode ser tomada como um exemplo de empresa que utilizou a engenharia simultânea, com a gestão de projetos desde a definição do conceito até o lançamento no mercado do seu carro esporte Vipers. Analisando os parágrafos dos autores citados anteriormente, podemos dizer que a engenharia simultânea propõe reduzir tempo na produção do produto melhorando sua qualidade pelo processo de produção através de gestão de projetos e, conseqüentemente, cumprindo prazos e diminuindo custos, satisfazendo tanto operadores quanto usuários do produto. 3. Engenharia Simultânea versus Engenharia Seqüencial A engenharia simultânea, quando utilizada para elaboração de projetos de engenharia civil, elimina alguns processos extraordinários indispensáveis para a engenharia seqüencial. Para o desenvolvimento de um produto muitas fases necessitam ser realizadas seqüencialmente, tornando o tempo total do projeto muito longo. Na engenharia simultânea, muitas etapas são feitas paralelamente e, segundo Castellano (apud PETRUCCI, 2003), apesar de muitas delas não poderem ser feitas ao mesmo tempo, por depender da outra anterior, o tempo total é menor. A falta de compatibilização de projetos pode causar incompatibilidade durante a execução, o que ocasiona o retrabalho: uma ação implementada sobre um produto não-conforme que não atende aos requisitos especificados. Tal problemática pode ocorrer em qualquer fase de um projeto e, caso seja na fase de execução, poderá gerar resultados de difícil correção. 4. Pesquisa de Campo XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 06 a 08 de novembro de 2006. 4.1. Descrição da Obra O objeto de estudo foi um edifício de vinte e três pavimentos, sendo três subsolos, dois pavimentos de loja e dezoito pavimentos de apartamentos alto padrão. O terreno possui 1.263,52 m² e comportará 14.040,69 m² de construção que terá uma altura final de 60,80 m do nível do piso térreo. Serão quatro unidades residenciais por pavimento totalizando 62 apartamentos que contam com 634,75 m² de área comunitária. O levantamento de recursos financeiros para execução deste edifício foi através do sistema a preço de custo, ou seja, o proprietário é um condomínio constituído de contribuintes os quais pagam parcelas mensais, e a construtora recebe 13% sobre o valor gasto na execução do empreendimento. 4.2. Metodologia No estudo foi selecionada uma obra convencional, ou seja, formada de pilar, viga e laje moldados in loco com fechamento de alvenaria. Esta obra foi acompanhada durante um período de quatro meses, sendo observados os problemas ocorridos pela falta da antecipação de conflitos. Para tanto, serão mostradas as falhas e as opções do engenheiro residente, que utilizou a engenharia seqüencial; além disso as ações realizadas pela engenharia seqüencial serão comparadas com a possibilidade da antecipação de conflitos, estimando os custos adicionais das perdas de tempo para tomada de decisões e relativas ao retrabalho. Neste acompanhamento foram registradas as soluções adotadas na obra quando utilizada a engenharia seqüencial para desenvolvimento dos processos. Com isso, foi analisada na obra a importância da engenharia simultânea como método facilitador da fase de projetos que resulta em melhores condições para execução da obra. Durante o processo de levantamento dos dados, a obra evoluiu do pavimento térreo ao início da primeira laje do pavimento tipo. Não foi selecionado um item específico para análise, já que foram observados todas as fases e processos compreendidos no período de avaliação. Para melhor caracterização dos problemas foram feitos registros fotográficos, e os tempos necessários para tomar as devidas soluções foram acompanhados pessoalmente. 4.3. Problemas decorridos pela falta de utilização da engenharia simultânea No levantamento dos dados, realizado em quatro meses, foram observados todos os itens, pois como a engenharia simultânea busca a totalização do processo, focalizar somente um ou outro item significaria negar o princípio da própria proposta metodológica. Os problemas graves identificados foram: a) Viga não concretada para passagem da torre do elevador; b) Pé-direito inferior ao necessário para passagem dos veículos segundo a legislação vigente no município. 4.4 Estimativas dos custos adicionais XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 06 a 08 de novembro de 2006. Para o cálculo dos custos adicionais considerou-se o tempo necessário para o engenheiro tomar a decisão e a mão-de-obra adicional utilizando a Tabela de Composição de Preços para Orçamentos – TCPO, conforme mostra a Tabela 01. Tabela 1 – Custo adicional Item Custo Tempo Adicional Custo Material Adicional Valor Total de Perda a) R$ 400,00 R$ 500,00 R$ 900,00 b) R$ 500,00 R$ 900,00 R$ 1.400,00 Na coluna Custo Tempo Adicional foram considerados os gastos relativos ao período em que a mão-de-obra estava ociosa e os honorários dos engenheiros de tomada de decisão, responsáveis pelo cálculo e pela execução do edifício. Para cálculo do custo do material adicional, foram utilizadas cotações regionais das matériasprimas para confecção dos elementos construtivos. Não estão incluídos os custos para correção das possíveis patologias causadas pela falta de utilização da compatibilização de projetos. 5. Análise dos resultados Em um período de quatro meses pôde-se observar não-conformidades ocasionadas pela não antecipação de conflitos, conforme Tabela 02. Conceitos como a qualidade e a produtividade aumentam com a utilização de compatibilização de projetos. As decisões tomadas pela equipe multidisciplinar devem ser realizadas antecipadamente e em locais apropriados, possibilitando que melhores soluções sejam tomadas se comparado com as tomadas no canteiro-de-obra, sem a realização de um estudo preliminar. A Tabela 02 mostra as soluções adotadas e as possíveis decisões de uma equipe da engenharia simultânea. O custo total de perda estimado, mostrado na Tabela 1, é de R$ 2.300,00. Considerando que os problemas ocorreram durante um período de quatro meses, pode-se estimar que, em um prazo de execução de sessenta meses, este valor chegaria a R$ 34.500,00. Neste edifício orçado em um valor de R$ 10.000.000,00, tem-se 0,345%, sobre o valor absoluto de execução, de perdas ocasionadas pela não-utilização da engenharia simultânea. Tabela 2 – Soluções adotadas versus possíveis soluções Item Problemas Identificados Soluções Adotadas Possíveis Soluções a) Viga não concretada Não concretar a viga para passagem da torre do elevador Locar a torre tomando como base de decisões o projeto estrutural compatibilizado b) Pé-direito inferior ao regulamentado Execução de viga adicional para posterior locação de uma viga invertida Compatibilizar projetos com o intuito de antecipar conflitos XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 06 a 08 de novembro de 2006. Esse valor apresentado como adicional reincide direta e imediatamente sobre o valor da obra, porém há os custos adicionais indiretos, tais como patologias causadas pela tomada de decisões sobre pressão de curto prazo, retardamento do cronograma da obra e a falta de utilização de uma gestão de projetos que deixa de agregar valor ao empreendimento. Tais custos não foram apresentados, já que são resultados de uma avaliação pós-ocupacional. Considerando todos esses fatores, pode-se estimar uma perda de recursos financeiros de até 2% sobre o valor da obra pela não utilização de uma gestão de projetos no empreendimento. 6. Conclusão A busca por conceitos de organização, planejamento, qualidade e produtividade em obras na construção civil gera características de industrialização, um dos objetivos atuais de empresas da área. Pôde-se perceber que a principal falha na obra analisada neste estudo de caso é a falta de planejamento. A engenharia simultânea utilizada como ferramenta para planejamento do processo de elaboração dos projetos resulta em economia de recursos financeiros; no estudo apresentado chegou-se ao montante de 0,345% sobre o valor total do edifício residencial/comercial. É importante considerar que o uso da engenharia simultânea na gestão de processos agrega valor ao empreendimento e também elimina problemas pós-ocupacionais. Através da análise comparativa entre as soluções adotadas e as possíveis soluções, apresentadas na Tabela 02, observou-se que a tomada de decisões se mostra mais eficiente quando realizada sem pressão de prazo. E, independentemente das soluções adotadas por um engenheiro, a compatibilização de projetos pelo método da engenharia simultânea otimiza tempo e serviço executados, não permitindo que a empresa fique à mercê de decisões individuais e profissionais experientes. Assim, pôde-se observar que a compatibilização de projetos é indispensável aos empreendimentos da construção civil e que a engenharia simultânea na gestão de projetos agrega valor ao produto final, facilita o processo de execução, elimina gastos adicionais, reduz custos e otimiza o tempo de execução. Referências CASAROTTO FILHO, N.; SEVERINO, F.; ESCOSTEGUY, J. E. Gerência de Projetos/Engenharia Simultânea. São Paulo: Atlas, 1999. KERZNER, H. Gestão de Projetos: as Melhores Práticas. Porto Alegre: Bookman, 2002. PETRUCCI JÚNIOR, R. Modelo para Gestão e Compatibilização de Projetos de Edificações, Usando Engenharia Simultânea e Iso 9001. Dissertação de Mestrado – Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis-SC, 2003. SAES FILHO, J.; Compatibilização de Projetos Usando Engenharia Simultânea.2005. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Departamento de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, 2005. TABELA de Composição de Preços para Orçamento – TCPO 2000. São Paulo: Ed. Pini, 1999.