Fonte: Elaboração do GCE a partir de dados do BC.

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Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
I PAINEL DE CONJUNTURA
ECONÔMICA
Março de 2013
Coordenadores:
Wilson Luiz Rotatori Corrêa
Paulo C. Coimbra
Sidney Martins Caetano
(PPGEA/UFJF)
(PPGEA/UFJF)
(PPGEA/UFJF)
Equipe Técnica:
Ciro Alves Pinto | Aline Caixeta
Ascânio Vasconcelos
João Guilherme | Thallis Macedo
(Economia Internacional)
(Política Fiscal e Monetária)
(Nível de Atividade)
Retrospectiva Econômica
2012
Apoio:
Pró-Reitoria de
Extensão
Faculdade de
Economia
1
Laboratório de Economia
ECONS
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
1. IPCA E INFLAÇÃO
Com a perspectiva de melhora do cenário econômicodoméstico a partirdos
estímulos dados pelo governo diante do quadro de baixo crescimento econômico e,
principalmente, com o aumento dos preços de commodities agrícolas, as projeções para
a inflação ao final de 2012 só se deterioraramno segundo semestre. Se no início de
julho, a mediana1 das expectativas de mercado se encontrava em seu menor patamar,
4,85%, o último relatório Focus2para a inflação de 2012 a projetou em5,73% (Gráfico
1). Assegurando, como já se esperava, a inconsistênciadas projeçõesdo Banco Central
até meados do ano, quando a instituição ainda acreditava em um possível processo de
convergência da inflaçãopara a meta projetada de 4,5% – com margem de 2 p.p. para
cima e para baixo– e ocorrendo “de forma não linear”. O Banco Central (BC), já ao
final de setembro, alterou sua expectativa de inflaçãode 4,7% para 5,2% ao final de
2012, bem como para 5,7% em dezembro.
Gráfico 1 – Evolução semanalda mediana de expectativas do mercado (FOCUS)
para a Inflação (%).
Fonte: Elaboração do GCE a partir de dados do BC.
O aumento dos preços agrícolas que impactou os índices de inflação a partir de
julho ocorreu devido a quebras de safras(choque de oferta) nos EUA de grãos, como o
milho e a soja, e nas regiões Sul e Nordeste do Brasil, advindas de adversidades
climáticas. O aumento inicialmente percebido no Índice de Preços do Atacado
(IPA),com elevação nas cotações desses grãos e nos custos de criações de suínos e aves,
foi posteriormenterepassado aos consumidoresvia aumento nos preços de carnes ede
outros bens.
1
A utilização do cálculo da mediana ocorre devido a sua vantagem perante a média. Ao contrário da
média, a mediana não é influenciada por valores extremos, visto que a mesma é uma medida
essencialmente vinculada à posição que ocupa no conjunto ordenado. Assim, se algum valor for
demasiado grande ou pequeno, este não afeta o cálculo da mediana, já que não altera a ordem.
2
Divulgado em 04 de janeiro de 2013 e que norteia as expectativas do mercado para variáveis
econômicas.
2
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
Com a disparada dos preços agrícolas, a inflação acumulada em 12 meses se
situou em 5,20% no mês de julho, revertendo a trajetória decrescente iniciada de
setembro para outubro do ano anterior ao passar de 7,31% para 6,97%,até junho de
2012, quando atingiu 4,92%, ainda acima da meta de 4,5% (Gráfico 2).
Gráfico 2 – Inflação acumulada nos últimos 12 meses (%).
Fonte: Elaboração do GCE a partir de dados do IBGE.
Mesmo com os choques que deterioraram as projeções para a inflação no
segundo semestre, os índices registrados no ano confirmaram as expectativas do início
do ano para uma inflação em 2012 inferior àquela registrada em 2011, na qual a taxa
acumulada do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fechou em 6,50%, no
teto da meta. Essas expectativas se apoiaramnos efeitosdesinflacionários da crise
externa que fizeram com que os preços das commoditiesfossemnegativamente
impactados no primeiro semestre;e no aumento dos níveis de endividamento e
deinadimplência no mesmo período, quando o mercado interno contemplava ritmo
moderado da atividade econômica doméstica no curto prazo, com expectativa de
aceleração somente ao longo do ano, haja vista que com os juros em queda e
desemprego nas mínimas históricas, a demanda tenderia a crescer.
Ainda assim, algumas variações mensais registradas por seus respectivos IPCAs
apresentaram resultados inesperados. São eles: o índice de março com leve alta de
0,21% (quando se esperava aceleração de 0,64%)devido ao declínio com gastos em
educação e alimentação que impactaram fortemente osíndices de fevereiro e janeiro,
respectivamente; o IPCA de abril com variação positiva de 0,64%, influenciado pelo
aumento dos gastos com serviços; a baixa variação de 0,08% em junho, repercutindo a
queda nos preços dos automóveis, proveniente da redução do IPI a partirde 21 de maio;
a forte aceleração do grupo alimentação e bebidas no IPCAa partir de julho; a
manutenção de um IPCA alto emoutubro, com variação de 0,59%, impactado tanto
pelos alimentos quanto pelo grupo vestuário, devido à troca de estação;e a variação de
0,79 % em dezembro, com forte elevação nos grupos vestuário e despesas pessoais
(como cigarros e empregados domésticos), o que evidenciou os serviços voltando a
3
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
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pressionar a inflação – como já havia sido observado em novembro.Veja as variações
mensaise por grupos em 2012 na Tabela 1:
Tabela 1 – Variações mensais e por grupos do IPCA em 2012.
Fonte: IBGE/GCE.
Como se constatou até junho de 2012, a preocupação do BC estava ao redor dos
serviços, devido ao mercado de trabalho aquecido e aos salários mais altos. Até então,
os alimentos eram um fator de alivio para a inflação no ano. Os serviçosvoltaram a
pressionar a inflação no fim do ano. De acordo com o IBGE, os custos com empregado
doméstico tiveram a maior variação no ano, com elevação de 12,73% e impacto de 0,45
ponto percentual no IPCA. Tal elevação se deu à falta de mão de obra e ao reajuste
salarial alto para a função. O grupo de alimentação e bebidas aparece em seguida, com
variação de 9,86% e sendo responsável por 38% da variação da inflação em 2012.
Com os dados acumulados até dezembro, a inflação oficial em 2012, medida
pela variação do IPCA, fechou em 5,84%, acima das expectativas do mercado e dentro
da margem de tolerância permitida pelo Conselho Monetário Nacional. Assim, desde
2009, quando a inflação registrou elevação de 4,31%,a mesma não registrou elevação
abaixo ou próxima do centro da meta. Além disso, o IPCA em 2012 poderia ter
registrado uma variação maior se não fossem as desonerações tributárias dadas pelo
governo; a mudança na ponderação do cálculo do índice pelo IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) que reduziu o impacto dos serviços na inflação oficial; os
reajustes contidos nas passagens de ônibus; as reduções nos preços de automóveis; e a
redução do Cide sobre combustíveis.
2. TAXA BÁSICA DE JUROS – SELIC
4
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
Mesmo sem deixar de lado o tripé de atuação econômicaem 2012(câmbio
flutuante, superávit primário de 3,1% do PIB e o sistema de metas para a inflação), o
BC evidencioua sua preocupação com a atividade econômica, colocando em segundo
plano o regime de metas para a inflação. Assim, as reduções da SELIC pelo COPOM
(Comitê de Política Monetária) foram fortemente influenciadas pela necessidade de se
aquecer a economia doméstica que fechou com um crescimento de apenas 0,9% no ano.
Como o primeiro semestre de 2012 foi um período ruim para a atividade
doméstica, com crescimento de apenas 0,6% se comparado a igual período de 2011,
principalmente como observado na produção, no emprego industrial e no consumo, a
manutenção do processo de redução da taxa básica de juros– a qual se esperava no
início de 2012que fosse mantida ligeiramente acima do, até então, patamar histórico de
8,5% ao ano, entre junho de 2009 e abril de 2010 –abriu espaço para um crescimento
maior do país, com maior geração de empregos e investimentos alocados no setor
produtivo, bem como para o controle da valorização do real no início de 2012. Auma
SELIC menor e, consequentemente, a taxas bancárias mais acessíveis, o acesso ao
crédito fora facilitado, fomentandoo investimento e, principalmente, o consumo. Este
último com parcela significativa no PIB.
Aproveitandoas demandas interna e externa em patamares baixos, o governo
traçou como meta reduzir a SELIC em termos reais a um nível historicamente baixo e
próximo aos 2% ao ano, fazendo-a ser compatível com as taxas de juros praticadas no
resto do mundo e possibilitando a economia brasileiraser mais competitiva. Apesar da
taxa de juros brasileira ainda ser uma das maiores do mundo, a manutenção tendeu a
desviar a entrada de capital especulativo para outros países, contribuindo para a redução
do envio de rendas ao exterior – componente importante do déficit em transações
correntes – e para a redução dos gastos com pagamento de juros da dívida.
A preocupação com a inflação voltou ao foco das análises do BC somente com a
elevação dos preços dos alimentos no segundo semestre. Assim, a projeção da SELIC
passou a estar sujeita à deterioração do índice inflacionário, mesmo havendo por parte
de alguns setores da economia certa pressão para novos cortes.
Assim, em novembro, após 10 cortes consecutivos na taxa básica de juros, o
COPOM resolveu manter a meta da SELIC em 7,25% ao ano.Como o próprio COPOM
reafirmou nas duas últimas atas de 2012, o processo de alívio monetário – iniciado em
agosto de 2011, com redução de 5,25 pontos percentuais e atingiu sua menor meta
desde dezembro de 1997–chegou ao seu fim. O COPOM assegurou que cortes
adicionais nos juros devem ser realizados com “máxima parcimônia”.O que fez a
instituição ser mais conservadora e cautelosa quanto aos juros,haja vista que os cortes
anteriores não proporcionaram efeito integral na economia, o que traria riscos à
inflação.OGráfico 3 apresenta o processo de afrouxamento monetário desde agosto de
2011, bem como a taxa de juros real, quando deduzida a taxa de inflação acumulada em
12 meses.
5
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
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Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
Gráfico 3 – Meta SELIC e Taxa de Juros Real (%).
Fonte: Elaboração do GCE a partir de dados do BC.
Ainda no primeiro semestre de 2012, a caderneta de poupança se configurou
comoobstáculo para a manutenção do processo de afrouxamento monetário. O governo
temiacom a redução da SELIC e, consequentemente, com a redução da rentabilidade de
títulos públicos e dos ganhos dos fundosde renda fixa que cobrem os riscos dessa
aplicação, que os agentes migrassem para a poupança, haja vista que esta se configura
como uma aplicação fácil e de rentabilidade segura. Aocontrário dos fundos que sofrem
tributação do Imposto de Renda (IR), bem como os bancos ainda cobram altas taxas de
administração (entre 1% e 3% a.a.) sobre os mesmos.O que desencadeou no mês de
maio, quando a SELIC atingiria 8,5% ao ano, a modificação do critério de rentabilidade
vigente3da poupança. Essa mudança teve que ser realizada, mesmo que os aplicadores
viessem a reprová-la, ainda mais ao se lembrarem do temorprovocado pelo confisco no
início da década de 90.
Contudo,a redução dataxa SELIC não afetou a demanda por fundos de renda
fixa,negando que os cortes recentes da SELIC provocariam a migração dos investidores
de papéis do governo – que financiam o déficit público federal – para a caderneta de
poupança. Os saldos de quotas de fundos de renda fixa em relação ao mês anterior
mantiveram variações semelhantes em relação a igual período de 2011 (Gráfico
4).Semelhantemente, a caderneta de poupançaem 2012 bateu recorde de captação desde
o início da série histórica do BC, mesmo com a redução em sua rentabilidade ao ser
atrelada à SELIC e com seu ganho real no ano de apenas 0,6%, quando descontada
daremuneração anterior a maio de 6,17 mais a TR (6,47%)4, a inflação acumulada em
2012 (5,84%). Essa captação recorde se deu pelo aumento da renda da população e pela
preferência dos agentes em manter o valor do seu dinheiro ao não o empregar em outras
3
Art. 12 da Lei nº 8.177, de 1º de março de 1991, com modificação dada pela Medida Provisória nº 567,
de 3 de maio de 2012, e art. 7º da Lei nº 8.660, de 28 de maio de 1993.
4
A estimativa da remuneração dos depósitos da caderneta da poupança anteriores à modificação do
critério de rentabilidade foi realizada pela Economática Consultoria.
6
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
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aplicações nos quais os riscos são maiores. No acumulado ao ano, os acréscimos da
caderneta de poupança e das quotas de fundos de renda fixa foram deR$76,3 e
R$273,5bilhões, respectivamente.
Gráfico 4 – Evolução dos saldos de Poupança e Fundos de Renda Fixa (%) –
base = maio de 2011.
Fonte: Elaboração do GCE a partir de dados do BC.
3. CRÉDITO, CONSUMO E INADIMPLÊNCIA
Diferente dos analistas que acreditaram na exaustão do modelo de crescimento
via consumo e crédito, o governo ainda confiou na expansão dos mesmos para alavancar
a retomada da economia em 2012, mesmo crescendo a um nível menor do que o
esperado. Segundo o Banco Central, o consumo do brasileiro estaria num patamar ainda
substancialmente inferior a economias maduras, mesmo com o crescimento dos últimos
anos. Ainda, de acordo com a ata do COPOM de outubro, a demanda ”tende a se
apresentar robusta, especialmente o consumo das famílias, em grande parte devido aos
efeitos de fatores de estímulo, como o crescimento da renda e a expansão moderada do
crédito”, o que, para o COPOM, são defasados e cumulativos.
O aumento do consumo no Brasil se deu ao maior dinamismo econômico, com
aumento da massa salarial e formalização do mercado de trabalho; ao aumento do
crédito e à reestruturação dos mercados financeiros e de capitais; à estabilidade dos
preços; eàs transferências governamentais e distribuição de renda.
Durante todo o ano, o Banco Central realizou 4 (quatro) ajustes técnicos que
simplificaram o recolhimento compulsório5(Gráfico 5) sobre recursos a prazo e à vista,
além da redução da exigibilidade adicional sobre depósitos, o que facilitou o acesso ao
crédito pelas famílias brasileiras, estimulando o consumo na economia; e proporcionou
maiores recursos e melhores condições às instituições financeiras para adotarem
5
O recolhimento compulsório refere-se aos valores recolhidos ao Banco Central e/ou mantidos pelas
instituições na forma de encaixe para fins de cumprimento das diversas normas prudenciais e de
controle monetário, estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional.
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Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
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políticas de concessão de crédito, principalmente em linhas de crédito rural e para
financiamento de veículos.
Gráfico 5 – Recolhimento Compulsório (R$ milhares).
Fonte: BC.
Baseando-se na concorrência de mercado, o Banco do Brasil (BB) e a Caixa
Econômica Federal (CEF) realizaram cortes “agressivos” nas taxas de juros,sendo
utilizados frequentemente pelo governopara darem impulso aos bancos privados a
também reduzirem suas taxas de juros e o spread, a fim de manterem competitividade. O
conjunto de medidas “Bom para Todos”, do BB, e “Caixa Melhor Crédito”, do segundo,
corresponderam a outras medidas de reduções nos custos das linhas de crédito para
pessoas físicas e à micro e pequenos empreendedores. O governo deixou claro que os
bancos não devem continuar cobrando a mesma taxa de juros às empresas e às pessoas
enquanto a taxa SELIC cai, sob o argumento de inadimplência.Entretanto, o volume de
crédito ofertado pelos bancos privados não aumentou, bem como suas taxas de juros
não decaíram. Por sua vez, os bancos públicos não conseguiram, mesmo cortando os
juros e ampliando seus montantes, compensar a carência dos bancos privados.
Assim, mesmo que a redução de 5,25 pontos percentuais na SELIC tenha sido
expressiva, a queda dos juros bancários foi aquém da desejada. Ao final de dezembro, a
taxa média de juros cobrada às pessoas físicas atingiu 34,6% a.a (Gráfico 6), reduzindose 9,15% em relação a dezembro do ano anterior.
Gráfico 6 – Evolução das Taxas de Juros cobradas à PF e à PJ e Taxa Média.
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Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
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Fonte: Elaboração do GCE a partir de dados do BC.
Duranteo ano de 2012, o crédito habitacional cujo financiamento tem como
fonte principal os recursos da caderneta de poupança e do FGTS apresentou ritmo
acelerado devido ao estímulo dado pelo governo ao programa Minha Casa, Minha Vida.
No acumulado ao ano, as operações de crédito habitacional evoluíram de 3,8%no início
de 2011 para 6,3% doPIB.Outro destaque foi o arrefecimento na modalidade
financiamentos de veículos que cresceu moderadamente devido à postura mais
conservadora por parte das instituições financeiras, justificada pela elevada
inadimplência para essacarteira e pela redução do IPI e suas prorrogações ao longo do
ano. Quanto ao crédito destinado à indústria, houve aumentosignificativo nas
concessões destinadas à retomada de sua atividade (Gráfico 7).
Gráfico 7 – Concessão de Crédito no SFN por segmentos (%).
Fonte: Elaboração do GCE a partir de dados do BC.
A demanda de pessoas físicas por crédito se manteve moderada devido aos
níveis de inadimplência e de endividamento ainda elevados, somados à rigorosa
seletividade na análise e aprovação de crédito por parte das instituições financeiras que
restringiram o acesso e limitaram os estímulos monetários e fiscais realizados pelo
governo, como a redução da SELIC e as reduções no Imposto sobre Produtos
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Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
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Industrializados (IPI), respectivamente. Deve-se ressaltarainda que os consumidores
continuam reticentes em elevar seus gastos.
A taxa de inadimplência geral das pessoas físicas e das empresas fechou 2012
em 5,82% (Gráfico 8), sendo o maior patamar para a série histórica desde junho de
2000. Os números contrariaram a perspectiva do governo durante o ano de que a
inadimplência iria recuar ao longo de 2012devido à redução das taxas de juros no
crédito, à portabilidade e à procura pela renegociação de dívidas, à seletividade na
concessão de crédito por parte dos bancos, à manutenção das taxas de desemprego em
níveis historicamente baixos e à renda em ascensão advinda dos ganhos salariais acima
da inflação. Os atrasos de pagamentos para pessoas físicas acima de 90 dias
encerraram2012 em alta de7,86% no acumulado ao ano, com elevação de 0,3 pontos
percentuais em relação à janeiro, enquanto a taxa para as empresas se manteveestável
aos 4% no mesmo período.
Gráfico 8 – Evolução da Inadimplência de PF, PJ e Taxa Geral (%).
Fonte: Elaboração do GCE a partir de dados do BC.
Em 2012, o cartão de créditocontinuou a ser o segmento com maior
inadimplência de pessoa física, alcançando 28,6%em atrasos superiores há 90 dias no
mês dedezembro. Em segundo lugar apareceram os débitos em atraso no cheque
especial e, em seguida, os atrasos no setor de aquisição de veículos, que vinham em um
ritmo de crescimento acelerado desde o início de 2011 e se estagnaram ao final do
primeiro semestre deste ano.Observe o Gráfico 9.
10
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
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Gráfico 9 – Inadimplência (acima de 90 dias) – Pessoa Física por segmentos(%).
Fonte: Elaboração do GCE a partir de dados do BC.
Dados do BC mostraram que, em relação à renda acumulada em 12 meses, o
comprometimento do orçamento doméstico com dívidas cresceu gradativamente,
situando-se em 44,55%ao final de 2012(GRÁFICO10).
Gráfico 10 – Evolução do comprometimento do orçamento doméstico com
dívidas em relação à renda acumulada em 12 meses (%).
Fonte: Elaboração do GCE a partir de dados do BC.
4. POLÍTICA CAMBIAL E RESERVAS INTERNACIONAIS
A grande responsável pela desvalorização do real frente ao dólar no anofoi a
intervenção do BC junto ao mercado cambial, não permitindo que a abundante liquidez
de dólares e euros no âmbito internacional apreciasse a moeda interna. As reduções
consecutivas da SELIC não contribuíram para o afastamento de capital externo do país,
pois além de o Brasil manter uma das maiores taxas de juros do mundo, o ambiente
interno continuou propício à atração de investimentos.Além de o Brasil
continuarcaptando com a mesma tendência suas reservas internacionais, mesmo com
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Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
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uma SELIC menor, de tal forma que atingiram US$378,6 bilhõesao final de dezembro
do ano passado(Gráfico 11),comsuperávit de US$26,6 bilhões em relação ao início do
ano.
Gráfico 11– Evolução das Reservas Internacionais (US$ milhões).
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do BC.
O resultado convergiu para a expectativa apresentada pelo BCno Relatório
Trimestral de Inflação de dezembro,em que as reservas internacionais totalizariam
US$378,6 bilhões ao final de 2012, R$16,8 bi a mais do que foi previsto no relatório do
primeiro trimestre do ano passado.
A desvalorização do real foi um incentivo à melhorada competitividade da
indústria doméstica no cenário internacional. Contudo, o real depreciado aumentou os
custosde insumos e maquinários aos empresários que incluíram a importação em suas
atividades produtivas. Custos que, possivelmente, foram repassados aos preços ao
consumidor de bens que são mais diretamente impactados pelo câmbio, independente se
a desvalorização se manteve em curto prazo ou médio prazo.
Para os empresários, o que teria causado a “desindustrialização” no país não
teria sido a taxa de câmbio apreciada, mas sim o baixo nível de investimento. Assim, o
real valorizado foi apenas um dos embargos à competitividade, juntamente com a carga
tributária e custos, infraestrutura precária, crédito restrito e desqualificação da mão de
obra. Para os mesmos, seria necessária uma desvalorizaçãoainda maior para o chamado
“equilíbrio industrial”. Assim,a desvalorização não provocou os efeitos esperados na
indústria, bem como a participação de produtos importados no consumo doméstico se
manteve em um patamar alto.
Tanto o governo quanto o BCrealizaram medidas que evitaram a apreciação da
moeda brasileira, em um primeiro momento, e a depreciação da mesma em outro, como
as ofertas de swaps cambiais no mercado e elevaçãona tributação do Imposto sobre
Operações Financeiras (IOF). O mercado convergiu ao acreditar que o BC teria um piso
e um teto para a taxa de câmbio, os quais a autoridade monetária negava. Este intervalo
se situaria entre R$2 e R$2,10. Para o governo, é necessário manter a taxa de câmbio
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Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
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Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
um pouco acima dos 2 reais. Contudo, uma depreciação maior ainda, seria benigna para
a inflação e nãotraria nenhum benefício para a competitividade.
5. MEIOS DE PAGAMENTOS E AGREGADOS MONETÁRIOS
O saldo de meios de pagamento restritos (M1) totalizou no mês de dezembro
R$313,1 bilhões, sendo R$145,7 bi correspondentes ao papel moeda em poder do
público e R$167,4 bi correspondentes a depósitos à vista. O resultado apresentou
crescimento de 11,6% em 12 meses.
Os meios de pagamento no conceito M2que correspondem ao M1 mais depósitos
para investimentos, depósitos de poupança e títulos privados, totalizaram no mesmo
mês R$1,8 tri. Esse resultado refletiu os avanços nos saldos de títulos privados e da
poupança que atingiram R$943,4bilhões e R$496,3bilhões, respectivamente.
O M3, que compreende o M2, as quotas de fundos de renda fixa e os títulos
públicos que lastreiam as operações compromissadas entre o público e o setor
financeiro, totalizou em 2012R$3,5 trilhões. O saldo das quotas de fundos de renda fixa
somou R$1,6 trilhão ao final do mês. O M4, conceito que compreende o M3 e os títulos
públicos de detentores não financeiros, totalizou em 2012R$ 4,1 trilhões, apresentando
variação de 15,5% em 12 meses.
6. POLÍTICA FISCAL
O ano de 2012 foi marcado por medidas anticíclicas6 para alavancar a retomada
da atividade econômica doméstica, bem como para incentivar os gastos com
investimentos, de forma aevidenciar a renúncia ou a incapacidade do governo em
realizar investimentos públicos, enquanto os gastos correntes aumentam.
Em fevereiro ocorreu o primeiro pacote de concessão de três aeroportos
brasileiros (Viracopos, Guarulhos e Brasília). Contudo, o governo já estuda um novo
processo de licitação para outros aeroportos, como o de Galeão (RJ) e o de Confins
(MG), que deve ocorrer em agosto de 2013. No mesmo mês, previu-se o
contingenciamento de R$55 bilhões para o cumprimento da meta de superávit primário.
Em abril, foi anunciado pelo governo uma série de medidas complementares ao
Plano Brasil Maior,como a expansão do crédito, o estímulo a investimentos públicos e
privados, a desoneração da folha de pagamentos para vinte setores da economia (em
especial à indústria), a redução do IPI para produtos da linha branca, móveis, materiais
de construção e automóveis, além da redução do IOF incidente sobre operações de
crédito para pessoas físicas.
6
Renúncia de receitas e/ou excessivos gastos para impedir desaceleração econômica, por parte do
governo.
13
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
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Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
Como medida de suporte a alguns setores industriais que apresentavam produção
e vendas em quedas, foi necessário ao governo, em junho, elevar as despesas em R$6,6
bilhões com compras governamentais de ônibus, caminhões, ambulâncias, carteiras
escolares, dentre outros bens. Em junho, a redução da alíquota do Cide realizada pelo
governo compensou o reajuste nos combustíveis de 7,83% anunciado pela
Petrobrás, fazendo com que o aumento não fosse repassado ao consumidor.
Em agosto, o governo retomou o programa de concessões ao anunciar um novo
pacote para ferrovias e rodovias. Através deste pacote, o governo desejou ampliar sua
parceria com o setor privado para amenizar os déficits de infraestrutura logística no
país, bem como reduzir a participação do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) nos projetos. De acordo com o governo, deverão ser
aplicados R$42,5 bilhões na duplicação de 5,7 mil quilômetros em sete trechos
rodoviários e R$91 bilhões em 10 mil quilômetros em 12 trechos ferroviários. Para o
Tesouro Nacional, a redução da SELIC e, consequentemente, a redução na atratividade
dos títulos públicos pode fazer com que “recursos sejam direcionados para o pacote de
concessões lançado pelo governo”.
No mesmo mês, outras medidas fiscais foram realizadas pelo governo. Trataramse da fixação da meta de superávit primário para 2013 em R$155,9 bilhões; da redução
no preço da energia elétrica para 2013 em torno de 16,2% para os consumidores e em
28% para o setor produtivo, cuja dedução maior para o setor produtivo se deu
objetivando maior competitividade aos produtos internos; e da prorrogação do IPI
reduzido para os setores anteriormente beneficiados. Para o governo, mesmo com a
gradual retomada da economia, a prorrogação do IPI foi necessária para o contínuo
processo de estímulos aos investimentos e ao consumo. A redução no preço da energia
também foi vista como positiva para o controle da inflação em 2013. (Deve-se
considerar que o governo no momento em que prometeu a redução da energia elétrica,
ainda não sabia como fazê-la).
Acerca ainda do incentivo ao investimento, só que agora estatal, houve a
necessidade de se elevar a capacidade de 18 estados de se endividarem, através de
revisões no Programa de Ajuste Fiscal (PAF), para que obras públicas como mobilidade
urbana, saneamento básico e habitação fossem realizadas pelo setor público. O
acréscimo de contratação de crédito inicial foiem torno de R$42 bilhões. Contudo, ao
longo de 2012, novos limites foram autorizados, totalizando um montante aproximado a
R$58 bilhões.
Em setembro, houve novasdesonerações na folha de pagamento para mais 25
setores da economia, além daqueles beneficiados no primeiro semestre. Uma nova
prorrogação do IPI para automóveis foi realizada no mês de outubro com vencimento
para 31 de dezembro de 2012. Essa prorrogação se tratoutambém de uma ação
prudencial para o controle inflacionário no término do ano. No mês de dezembro, o
governo manteve a prorrogação do IPI reduzido durante os primeiros meses de 2013,
bem como anunciou desoneração ao setor da construção civil.
14
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
7. RESULTADOS DO GOVERNO
Cogitou-se no segundo trimestre de 2012 a hipótese do governo reduzir a meta
de superávit primário para o ano com a observação do cenário econômico. Contudo, a
redução foi descartada. Para o governo, uma solidez fiscal favorável permitiria ao país
enfrentar melhor a crise, não sendo necessária nenhuma mudança na meta de superávit
primário das contas públicas para aumentar os investimentos e aquecer a economia.
Cumprir a meta de superávit primário de 3,1% do PIBtambém seria fundamental para a
política de corte da SELIC e manteria a “boa reputação” ou credibilidade do Brasil nos
mercados financeiros mundiais. Deixando-o menos suscetível a uma possível fuga de
capitais, ao ponto que a SELIC atingiu seu menor patamar desde 1997.
Segundo o BC, o superávit primário do setor público no primeiro semestre de
2012 fechouno acumulado ao ano,em 3,08% do PIB (e em 2,72% do PIB em 12 meses),
ou seja, abaixo da meta. A economia no período para pagar despesas com juros da
dívida atingiu R$65,659 bilhões, o que representou 47% da meta de R$139,8 bi para o
ano. No mesmo período de 2011, o resultado foi de R$78,2 bilhões (3,9% do PIB no
acumulado ao ano). O resultado do primeiro semestre de 2012 se deu pelas arrecadações
aquém das esperadas do Imposto de Renda (IR),com as restituições recordes, e da
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), esta última decorrente do
desaquecimento da indústria;pelo aumento dos gastos públicos e pela renúncia de
receitas,resultantes das medidas de estímulo ao crescimento econômico adotadas pelo
governo no período. Em 2012, segundo a Receita Federal, todas as desonerações dadas
pelo governo, desde as desonerações na folha salarial até a redução do Cide, reduziram
em R$ 46,4 bi as receitas do governo.
Ao fim do terceiro trimestre, o resultado primário atingiu R$75,8 bilhões (2,31%
do PIB em 12 meses), bem abaixo dos R$104,6 bilhões (3,17% do PIB) alcançados no
mesmo período de 2011 (Gráfico12).O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a
confessar no início de novembro que a meta fiscal não seria atingida. Para piorar as
perspectivas, houve déficit primário em novembro, fazendo com que o acumulado em
12 meses reduzisse para 1,93%,e tornando necessária uma economia em dezembro de
R$31,5 bilhões para o cumprimento da meta.
Além disso, os Estados e Municípios economizariam apenas R$19,9 bi dos
R$42,8 bilhões previstos para o ano. Para os estados, pesou a redução na arrecadação de
ICMS decorrente da atividade moderada. Em particular, o governo mineiro ficou bem
próximo da meta prevista de R$3,2 bi ao alcançar superávit de R$3,1 bilhões.
Assim, o cumprimento integral da meta de superávit anual de R$139,8 bilhões
para 2012 se tornou inviável, mesmo com o bom resultado fiscal do primeiro trimestre,
quando a arrecadação ainda se apresentava em um nível esperado.
Entretanto, o que o governo fez, foi realizarquatro movimentações contábeis
objetivando injetar receitas extras de última hora nas contas do governo.
Essa“contabilidade criativa”contou com a retirada deR$12,4 bilhões do Fundo Soberano
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Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
do Brasil (FSB) e com a antecipação de dividendos nos montantes de R$12,94 bi, R$7,7
bi e R$2,97 bi das empresas estataisBanco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil ao Tesouro Nacional,
respectivamente.
O aporte do Fundo Soberano ao governo, criado em 2008 com saldo inicial de
R$14,2 bilhões, reduziu seu montante em aproximadamente 81%. Se em dezembro de
2012, sua poupança era de R$15,250 bi, o FSB começa 2013 com R$2,5 bi de
patrimônio líquido.
Contudo, as receitas das estatais financeiras não são mais contabilizadas na atual
metodologia de apuração do resultado fiscal primário do setor público pelo BC. Assim,
a contabilidade criativa, apesar de injetar receitas, não possibilitariaao governo atingir a
meta “cheia” do superávit primário.
Sendo assim, o governo se utilizou do abatimento de R$39,3 bi dos
investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento no superávit primário.
Montante maior que os R$25,6 bi previstos em novembro. Ainda assim, o limite
previsto para alcançar a meta era de R$40,6 bilhões.
Assim, o governo conseguiu atingir o novo piso da meta de superávit primário
em 2012ao atingir saldo de R$104,95 bilhões (23,7 bilhões de reais a menos do que o
registrado em 2011) e R$34,85 bi a menos que o previsto na meta “cheia”. O valor
representa 2,38% do produto no acumulado ao ano.
O governo afirmou que os recursos utilizados no cumprimento da meta de
superávit primário em 2012 foram legais, mesmo com as críticas recebidas pela
maquiagem contábil e pelo não reconhecimento na piora do resultado. Contudo, a forma
como o país conseguiu alcançar a meta de superávit não o deixa com menor
credibilidade quanto ao pagamento da dívida.
Gráfico 12– Necessidade de Financiamento do Setor Público (NFSP) Primário –
acumulado em 12 meses - (% do PIB).
Fonte: Elaboração do GCE a partir de dados do BC.
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Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
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No acumulado em 2012, os juros nominais 7 alcançaram R$213,8 bilhões,
equivalente a 4,85% do PIB e abaixo de R$236,7bilhões (5,71% do PIB) registrados no
mesmo período de 2011. A queda nos juros nominais teve influência,durante todo o
ano,da trajetória de redução da Selic, bem como pela menor variação do índice de
preços ao consumidor em relação a 2011 (ambos indexadores significativos na dívida
pública).
O resultado nominal que representa o superávit primário somadoaos juros
nominais apropriadosmelhorou ao acumular saldo deficitário de R$108,9 bilhões
(2,47% do PIB no acumulado ao ano) atédezembro, reduzindo0,14p.p. do PIB em
relação ao mesmo período do ano anterior (Gráfico 13).
Gráfico 13– Necessidade de Financiamento do Setor Público (NFSP) Nominal–
acumulado ao ano - (% do PIB).
Fonte: Elaboração do GCE a partir de dados do BC.
A Dívida Líquida do Setor Público (DLSP 8) atingiu R$1,5trilhões (35,13% do
PIB)em dezembro, ante 36,41% registrado ao final de 2011. A redução de 1,28p.p.,ao
longo do ano, se deupelo crescimento moderado, e menor que o esperado, do PIB;pela
redução da SELIC e pela desvalorização cambial. Esta última proporcionou a
valorização das reservas (R$ 378,6 bi) em termos reais e que foram abatidas na dívida
bruta. Oberve o Gráfico 14.
O BC, em setembro, previa que a DLSP em relação ao PIB ao final deste ano
fechasseem 34,8%. No início do ano, esta perspectiva rondava os 35,0%.
7
Refere-se ao fluxo de juros, apropriados por competência, incidentes sobre a dívida interna e externa.
Engloba os juros reais e o componente de atualização monetária da dívida. Corresponde ao componente
financeiro do resultado fiscal.
8
Corresponde ao saldo líquido do endividamento do setor público não financeiro e do Banco Central
com o sistema financeiro (público e privado), o setor privado não financeiro e o resto do
mundo.Entende-se por saldo líquido o balanceamento entre as dívidas e os créditos do setor público
não financeiro e do Banco Central.
17
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
Gráfico 14 – Dívida Líquida do Setor Público - Interna e Externa.
Fonte: Elaboração do GCE a partir de dados do BC.
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2013
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
NÍVEL DE ATIVIDADE ECONÔMICA
Diante do cenário econômico mundial em janeiro de 2012, com países da zona
do euro, como Grécia, Irlanda, Espanha e Itáliaapresentandoelevado desemprego,
desequilíbrio fiscal e não transparência de bancos, problemas nítidos vividos pela zona
do euro. Seguido dos Estados Unidos que não demonstrava a solidez de sua recuperação
da crise de 2009 devido ao seu déficit fiscal ainda elevado, a recuperação muito lenta do
setor imobiliário e consumo retraído. E da China, maior parceiro comercial brasileiro,
com uma política de restrição ao crédito, pressão inflacionária e desaquecimento de sua
demanda interna fez com que o governo brasileiro reavaliasse seus principais desafios
para o ano de forma a atenuar os reflexos desta crise em nossa economia.
Assim o governo, através do pronunciamento do ministro da fazenda Guido
Mantega feito na TV Senado e jornais de grande circulação como a Folha de São Paulo,
tomou como principal objetivo para o ano de 2012, no âmbito de sua atividade
econômica:
-Acelerar o crescimento num cenário mundial adverso;
-Dinamizar os investimentos;
-Fortalecer o mercado interno;
-Reforma tributária;
-e reduzir o custo da energia, logística e infraestrutura.
Através destes principais pontos adotados pelo governo federal avaliaremos as
medidas tomadas ao longo do ano e a sua eficácia.
1. O CRESCIMENTO
O PIB (Produto Interno Bruto) começou o ano com uma previsão de crescimento
de 3,5% divulgado pelo Banco Central do Brasil em janeiro e março de 2012, havendo
uma redução para 2,5% em junho, e finalmente em setembro no ultimo relatório
divulgado pelo BACEN este crescimento foi revisado para 1,6% onde a contribuição da
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Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
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demanda interna para a expansão do PIB em 2012 é estimada em 1,8 p.p. e a do setor
externo, em -0,2 p.p., sendo que este valor ainda diverge do previsto pelo FMI (Fundo
Monetário Internacional) que é de 1,5% para este ano.
Este declínio de 3,5% para 1,6% se deu através da revisão dos três componentes
do PIB, onde a agropecuária nos dois primeiros trimestres do ano apresentou recuo de
1,5% no ano. A expansão industrial teve uma retraída em seu crescimento para 1,9%
antes previsto um crescimento de 3,7% o que mostra o fraco desenvolvimento do setor
industrial no ano e o setor de serviços de 3,3% esperado para 2,2% influenciado pelos
sinais de desaquecimento da demanda interna, de acordo com o ultimo relatório
divulgado.
PIB trimestral acumulado no ano (%)
4
2
0
-2
Agropecuária
-4
Indústria
-6
Serviços
-8
-10
I
II
III
IV
Fonte: BCB/Contas Nacionais
Mesmo com a crise, se analisarmos o crescimento brasileiro dos anos anteriores
em relações às crises internacionais ocorridas ao longo da década e a otimista previsão
de crescimento do ministério da fazenda para os próximos anos, fica evidenciado a
solidez da economia brasileira com o passar do tempo diante de adversidades. Porém o
crescimento baixo e as incertezas das economias avançadas estão afetando o Brasil e os
outros países emergentes por meio dos canais financeiros e comerciais, além do próprio
enfraquecimento do mercado interno brasileiro que era o maior suporte para não sofrer
com a crise externa.
O Fundo Monetário Internacional (FMI), no início do segundo trimestre do ano,
reduziu de 3,5% para 3,3%, a previsão de crescimento para a economia global em 2012.
Para 2013, a expectativa também ficou menor, recuando de 3,9% para 3,6%%. A média
20
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
do crescimento brasileiro após o surgimento de uma crise internacional mostra
expressiva melhora, graças às reformas e investimentos, a junção das políticas fiscal e
monetária ocorrida assim como a maturação da economia.
Crescimento do PIB (% a.a.)
Cris
Crise
Média
5.7
Média 1,7%
4.3
7.5 Crise
Média
6*
5,5*
6.1 Média
5.2
4
3.2
2.7
1.3
0
Crise
2.7
1,6*
1.1
0.3
-0.3
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Fonte: IBGE
* Estimativas do Ministério da
O recente aumento nos preços das commodities agrícolas levantou preocupações
a respeito dos impactos sobre a inflação, em especial de mercados emergentes, onde os
alimentos têm participação relevante na cesta de consumo. A tendência de alta nos
preços internacionais das commodities agropecuárias iniciou-se em meados de 2001. A
evolução dos preços ao longo da década foi influenciada pela aceleração da atividade
econômica em importantes economias do mundo, com ênfase no impacto do
crescimento da renda nos mercados emergentes, sobretudo nos asiáticos, onde o
aumento da demanda por produtos primários evidenciou modelo de crescimento
intensivo em commodities básicas. Vale ressaltar, no entanto, que movimentos pontuais
exercem impacto relevante sobre a demanda e a oferta das commodities básicas,
condicionando a trajetória desses preços no curto prazo.
Quanto à evolução da indústria brasileira, neste ano até o terceiro trimestre,
através dos dados divulgados pela PIM-PF (Pesquisa industrial mensal- Produção física)
fica nítido que foi o setor que mais sofreu com o negativo cenário externo. O setor
industrial, ao recuar 2,8% no terceiro trimestre do ano, sustenta resultados negativos há
quatro trimestres consecutivos, mas com redução no ritmo de queda o que demonstra
uma melhor expectativa dos agentes para o ano de 2013 e a retomada do crescimento da
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Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
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indústria brasileira assim como ocorrido até o ano de 2008, antes da crise norte
americana, momento este que a partir daí a indústria ficou estagnada e com uma
recuperação muito lenta em comparação aos seus grandes passos rumo ao decréscimo
da produção.
Nos nove meses de 2012, frente a igual período do ano anterior, o recuo foi de
3,5% para o total da indústria, com taxas negativas em todas as categorias de uso,
dezessete dos vinte e sete ramos, 48 dos 76 subsetores e 59,6% dos 755 produtos
investigados. Os itens mais expressivos da pesquisa vieram de veículos automotores,
apesar do setor já estar obtendo melhor resultado graças à política implementada pelo
governo, como veremos mais a frente, com queda de 15,4%permaneceu exercendo a
maior influência negativa na formação do índice geral, pressionada em grande parte
pela redução na produção na maioria dos produtos pesquisados no setor
(aproximadamente 85%), com destaque para a menor fabricação de caminhões,
caminhão-trator para reboques e semirreboques, automóveis, chassis com motor para
caminhões e ônibus, autopeças, veículos para transporte de mercadorias e motores
diesel para caminhões e ônibus.
Gráfico Produção Física Industrial
(% igual período do anoBens
anterior)
de
Bens
Consumo Semi
Indústria Geral Bens de Capital Intermediários e Não Duráveis
4
Bens de
Consumo
Duráveis
1.4
0
0
-4
-1.5
-1.7
-3.4
-3.1 -4.5 -2.8
2º trim
-1.6 -1.6
3º trim
-8
-7.1
-12
-16
-13.3
-11.6
-11.7 -12.2
22
1º trim
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Utilização Média da Capacidade Instalada
86
85.5
85
84.5
84
83.5
83
82.5
JAN
Fonte: FGV
FEV
MAR ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT NOV
DEZ
JAN
2. OS INVESTIMENTOS
O fraco desempenho do investimento, que pode ser 1,5% menor que no ano
passado, está na raiz do baixo ritmo de expansão do PIB. Esses números evidenciam
que há limites ao modelo de crescimento via consumo, adotado pelo governo até então,
e à capacidade de políticas anticíclicas reajustarem o dinamismo da economia brasileira
e, em especial, da indústria antes da crise. Desde 2010, após a forte recuperação da
crise, a produção industrial deixou de crescer e encontra-se atualmente em nível 3%
inferior ao observado há um ano, o que levou a uma nova percepção de uma
necessidade imediata da mudança estratégica.
A crescente importância que vem sendo dada ao esforço de redução do custo de
produzir no Brasil é um reconhecimento do problema de competitividade dos produtos
nacionais. Nesse sentido, as políticas que afetam as condições de oferta devem ser
encaradas como prioritárias.
As principais medidas recentes: ampliação da desoneração da folha, redução do
custo de energia e o novo modelo da infraestrutura, como verão mais a frente, terão
efeitos concretos apenas no próximo ano. Essas medidas são primordiais para a
recuperação da confiança do empresariado industrial, com impactos diretos na
propensão a investir.
23
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
A redução dos custos de produção é condição indispensável ao estímulo do
investimento nos projetos do setor privado. Uma variável macroeconômica crítica é,
sem dúvida, o investimento. A atual taxa de investimento (estimativa de 18,7% do PIB
para 2012, segundo a Confederação Nacional da Indústria) é insuficiente para gerar um
ritmo médio de crescimento entre 4 e 5%.
As medidas de estímulos do governo, assim como a política monetária
expansionista, foram bem sucedidas para incentivar o consumo, porém não trouxeram
qualquer impulso aos investimentos no setor produtivo. A queda dos investimentos nos
últimos quatro trimestres seguidos é resultado direto da fraca atividade industrial.
Os estoques excedentes da indústria e a queda da utilização da capacidade
instalada do parque industrial dificultam uma recuperação mais intensa dos
investimentos em 2012. Esse componente do PIB deverá recuar 1,5% em 2012.
Os estoques de produtos finais da indústria se mostram acima do planejado
desde o início de 2011. No entanto, o ajustamento desses estoques parece estar perto do
fim, principalmente em setores que tiveram a redução de IPI prorrogada, como veículos.
Em agosto, o indicador de estoques efetivo, sondagem realizada pela CNI caiu
expressivamente demonstrando novo folego para produção no ano de 2013.
O PAC 2(Programa de aceleração do crescimento), conjunto de medidas
tomadas pelo governo federal coma finalidade de gerar infraestrutura, aumento da
produtividade, maior competitividade da indústria, aperfeiçoamento do sistema logístico
e de habitação, foi uma das principais medidas de resposta do governo para alavancar os
investimentos diante da crise. Dado que o setor privado encontra-se temeroso quanto ao
futuro, a administração federal entrou como o maior agente para impulsionar o
investimento no Brasil neste período.
Em um ano e meio, a execução global do PAC2 injetou R$ 324,3 bilhões na
economia do País. Com isso, o Programa atingiu 34% do total previsto até 2014. Essa
execução, em 2012, é 39% superior à do primeiro semestre de 2011. Até o primeiro
semestre de 2012, 29,8% das ações previstas até 2014 foram finalizadas, totalizando R$
211 bilhões.
Com a inserção do programa Minha Casa, Minha Vida mais de R$ 108 bilhões
foram disponibilizados para construção, aquisição ou reforma de moradias.
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Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
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Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
Evolução dos gastos com o PAC 2
3. O MERCADO INTERNO
A palavra chave para o crescimento do PIB em 2012 foi o mercado interno, o
consumo das famílias representa a maior parcela da equação básica do PIB (Y = C+
I+G+X-M), assim o governo através de sua politica impulsionou o consumo das
famílias a fim de aquecer a demanda interna e garantir o crescimento para a economia.
O desemprego atuou de forma favorável mantendo-se em nível baixo desde o
inicio do ano. A taxa de desocupação, medida pela PME – IBGE (Pesquisa Mensal de
Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no conjunto das regiões
metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto
Alegre, começou o ano em 5,5%, vindo de uma alta esperada em relação a dezembro de
2011, dado os grandes números de contratações temporárias de dezembro, algo comum
no final do ano, com o aumento na demanda proveniente do décimo terceiro e datas
comemorativas, a partir daí a taxa subiu até atingir seu pico no ano, em março (6,2%).
Daí por diante a taxa caiu levemente puxada por aumentos significativos da população
ocupada na construção civil em abril e no setor de serviços públicos em maio (dados das
PMEs – IBGE em comparação com o mês imediatamente anterior). Mas sempre
próxima a 6%. Até que em junho cai para o patamar de 5,4%%, chegando a 5,3% em
agosto, quando houve geração líquida de 100 mil postos de trabalho nas indústrias de
transformação, extrativa e distribuição de eletricidade gás e água. Então a taxa seguiu
em queda no segundo semestre com a geração de empregos puxada pela construção,
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Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
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saúde, educação e administração pública, outros serviços. E não foram registradas
influências negativas da indústria, que apesar do fraco nível de atividade, manteve certa
estabilidade no nível de emprego da mão de obra. Com isso, a taxa de desocupação
atingiu 4,6% em dezembro (nível mais baixo da série iniciada em março de 2002) e
fechou na média do ano em 5,5% (nível mais baixo da série desde 2003, primeiro ano
inteiramente coberto pela atual metodologia da PME).
Dos três setores da economia (agricultura, indústria e serviços) destaque para os
Serviços que foi o único a ter pelo menos um subsetor citado em todas as PMEs
lançadas este ano como destaque na geração de empregos.
E destaca-se que os trabalhadores com carteira assinada no setor privado
chegaram 49,2% da população ocupada, na média do ano para o conjunto das seis
regiões metropolitanas cobertas pela pesquisa. É a maior proporção desde 2003.
Taxa de Desocupação (%)
2011
Dez
Nov
Out
Set
Ago
Jul
Jun
Maio
Abr
Mar
Fev
Jan
Dez
Nov
Out
Set
Ago
Jul
Jun
Maio
Abr
Mar
Fev
Jan
7
6
5
4
3
2
2012
Fonte:PME-IBGE
O rendimento médio real habitual da população ocupada (RMRH), calculado
também pela PME – IBGE (nas mesmas regiões metropolitanas supracitadas) encerrou
o ano com uma queda de 0,9% em relação a novembro, registrando R$1805,00, porém é
3,2% maior do que o registrado em dezembro de 2011. Na média do ano (média das
estimativas mensais) o RMRH ficou em R$1793,96, o que representa a maior média de
rendimento do trabalhador para o conjunto das seis regiões metropolitanas da série, cujo
primeiro ano completo é 2003.
É preciso destacar que o crescimento dos setores de serviços e construção civil
nessas regiões metropolitanas tem aumentado a demanda de emprego, reduzindo a
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Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
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parcela de desocupados, tanto em quantidade, haja vista, a baixa taxa de desocupação,
quanto em qualidade, pois com o alto nível de emprego, a parcela razoavelmente
qualificada da mão de obra já se encontra empregada obrigando as empresas a
oferecerem condições de trabalho cada vez mais custosas, dado o acirramento da
concorrência entre as firmas pelos profissionais mais qualificados. A construção civil
segue em alta graças ao pico imobiliário no país, que tem sido impulsionado pelo
programa como o Minha Casa, Minha Vida e aos eventos esportivos que ocorrerão no
país em 2014 e 2016. Mesmo a indústria que registrou pífio crescimento no primeiro
trimestre do ano contra igual trimestre do ano anterior (0,1%) e retração no segundo e
terceiro (recuo de 2,4% e 0,9% respectivamente, na mesma base de comparação)
registrou crescimento de 4,3% na folha de pagamento real, no índice acumulado do ano
de 2012, apesar de o mesmo tipo de índice para o emprego industrial ter caído 1,4%%,
indicando um maior custo unitário da mão de obra. (dados dessazonalizados da PIMES
- Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salários do IBGE de dezembro de 2012).
Rendimento médio real habitual
Jan
Fev
Mar
Abr
Maio
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Maio
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
R$ 1850.00
R$ 1800.00
R$ 1750.00
R$ 1700.00
R$ 1650.00
R$ 1600.00
2011
2012
Fonte:PME/IBGE
Segundo o INEC (Índice Nacional de Expectativas do Consumidor) calculado
pela CNI (a partir de pesquisa de opinião encomendada ao IBOPE, com 2002 pessoas),
o consumidor encerrou este ano mais confiante do que em dezembro de 2011
(crescimento de 1,6% no índice), porém o índice recuou em relação a novembro, após
dois meses consecutivos de alta nesse tipo de comparação, fechando o ano em 115,2.
Contribuindo para esse recuo em relação a novembro, a maior disseminação entre os
respondentes de uma expectativa negativa quanto ao mercado trabalho, um maior
27
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
pessimismo quanto à inflação, queda na expectativa de renda pessoal e intenção de
compras de maior valor.
Ao longo do ano, verificou-se certa estabilidade no índice geral de expectativas
do consumidor. Porém ao analisar o índice de expectativa de inflação (componente do
INEC), havia um crescente otimismo por parte do consumidor em relação aos preços,
até o índice calculado em maio, quando a proporção dos respondentes que acreditavam
na alta da inflação nos próximos seis meses caiu de 60,7% (em abril de 2012) para
55,3%. A partir de então o índice só se deteriorou até se recuperar parcialmente em
outubro, porém voltou a se deteriorar nos últimos dois meses do ano, indicando
crescente preocupação do consumidor com aumento de preços no primeiro semestre de
2013. Outro destaque é o índice de intenção de compras de maior valor, que vinha
oscilando no começo do ano, mas mantendo um nível mais alto que em 2011, apesar do
crescente endividamento do consumidor. Porém com a piora da expectativa de renda
pessoal e continuo endividamento, a intenção de compras de maior valor começou a
cair. Chegou a seu menor patamar em julho, se recuperou até setembro, terminando o
ano após algumas oscilações em 144,6, pouco acima de seu nível em setembro. (o
horizonte de expectativas são os seis meses consecutivos ao mês sobre o qual foi
calculado o índice).
Índice Nacional de Expectativas do
Consumidor
120.00
115.00
110.00
105.00
100.00
95.00
90.00
2011
2012
nov
Set
Jul
Maio
Mar
Jan
Nov
Set
Jul
Maio
Mar
Jan
Expectativa de inflação
Intenção de compras de
bens de maior valor
Expectativa de renda
pessoal
Fonte: INDICADORES ECONÔMICOS - BCB
No começo do ano o empresário industrial vinha ganhando confiança no setor e
em seu próprio negócio. Quadro que se manteve até março, porém a partir de abril com
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Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
os resultados do primeiro trimestre indicando estagnação no setor e com um segundo
trimestre sem indicações de melhora, (na verdade se mostrou que o setor recuou no
período) o índice recuou, até voltar a indicar melhora em agosto e setembro. Contudo
em outubro puxado pela perda de confiança dos empresários da construção e da
indústria extrativa o índice voltou a cair. Recuperou-se em novembro puxado pela
expectativa de melhora no cenário da indústria no início de 2013 e pela boa notícia de
que o índice de condições atuais voltou a indicar otimismo (acima de 50 pontos) após
registrar falta de confiança dos empresários desde maio de 2011. Entretanto o índice
fechou o ano em 57,4, recuando um ponto em relação a novembro (mas 2,4 pontos
acima de dezembro de 2011), sendo as razões para esse recuo: o fim das encomendas de
fim de ano (que a CNI classificou como efeito sazonal) e o lento e incerto ritmo de
recuperação do setor. O índice de condições atuais ficou no limite entre a confiança ou
não do empresário para com o cenário econômico (50 pontos) e a Construção e a
Indústria Extrativa, foram as que fecharam o ano com maior confiança, destaque para a
Extração de minerais metálicos, cujos empresários registraram um índice de confiança
de 64,7.
Índice de Confiança do Empresário Industrial
70.00
60.00
50.00
40.00
Condições atuais
30.00
Expectativa
jan
fev
mar
abr
mai
jun
jul
ago
set
out
nov
dez
jan
fev
mar
abr
maio
jun
jul
ago
set
out
nov
dez
20.00
2011
2012
Fonte: CNI
29
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
4. A REFORMA TRIBUTÁRIA E DESONERAÇÕES
O Ministério da Fazenda a fim de estimular o consumo da economia no ano
visto que o primeiro trimestre de 2012 foi um fracasso, no dia 21 de maio tomou uma
série de medidas que pretendiam alcançar as famílias brasileiras ainda neste ano e
impulsionar o seu consumo mesmo com toda a incerteza instaurada na economia
mundial.
O pacote teve uma desoneração fiscal no valor de 2,1 bilhões de reais até agosto
de 2012, além de pouco mais de 600 milhões de reais com a redução de juros menores
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
As medidas foram:
Consumo
Redução da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para linhas
de crédito voltadas a pessoa física de 2,5 por cento para 1,5 por cento. Tendo uma
renuncia prevista em 900 milhões, que acorreram até agosto desde mesmo ano.
Setor Automotivo
Liberação de 18 bilhões de reais em depósito compulsório pelo Banco Central
sobre recursos a prazo, para financiamento de automóveis e de veículos comerciais leve.
Redução da alíquota do IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) válidas até 31 de
agosto, sendo prorrogado ate 31 de outubro posteriormente, para automóveis dentro do
regime automotivo: Até 1.000 cilindradas, de 7 % para 0%; De 1.000 a 2.000
cilindradas flex, de 11 % para 5,5 %; De 1.000 a 2.000 cilindradas a gasolina, de 13 %
para 6,5 %; Utilitários, de % para 1 %; Para automóveis produzidos fora do regime
automotivo, 30 % a mais na alíquota do IPI para os similares que fazem parte do
regime.
A renúncia fiscal esperada foi de1, 2 bilhão de reais em 3 meses, no período de
prorrogação não houve nota por parte do Ministério da Fazenda do montante que
deixará de ser arrecadado. O setor automotivo comprometeu-se a dar descontos sobre as
tabelas de preços que já estão valendo: Até 1.000 cilindradas, 2,5 %; De 1.000 a 2.000
30
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
cilindradas, 1,5 %%; Utilitários: 1,0 %. Além do compromisso das montadoras de
fazerem promoções especiais e não haver demissões e dos bancos a se comprometer em
aumentar o volume de crédito e o número de parcelas, e reduzir a entrada para aquisição
dos veículos.
Bens de Capital
O governo facilitou o acesso a linhas de financiamento através da redução da
taxa de juros do BNDES nos Programa de Sustentação do Investimento (PSI)
exportação pré-embarque de 9% para 8%; Aquisição de ônibus e caminhões, redução de
7,7% para 5,5% ao ano, com prazo de até 120 meses; Aquisição de máquinas e
equipamentos para grandes empresas, de 7,3 % para 5,5 % ao ano. No Programa
Proengenharia, de 6,5 % para 5,5 % e o Programa Procaminhoneiro estendido o prazo
de 96 meses para 120 meses. Com estas mudanças o custo de equalização estimado foi
em 619 milhões de reais.
No gráfico abaixo fica evidente os gastos do governo neste ano. As maiores
partes das desonerações realizadas por ele incidem sobre o consumo enquanto que o
investimento apesar de também ser beneficiado não é tão enérgico como no caso do
consumo, o que ajudou ao longo do ano à deterioração da indústria brasileira nestes
últimos dois anos. Ao passo que os investimentos privados realizados não são
suficientes e o governo opta por uma ação mais branda para estimulá-lo é sinal de que
problemas futuros surgirão a cerca deste tema.
Desonerações Tributárias
(em bilhões)
39.2
29.3
Total de
desonerações
tributárias
12.6
7.4
2
2007
35,9*
6.9
2008
3.8
2009
9.4
6.9
2010
11.4
2011
10,9*
Desonerações do
Investimento
2012
* até julho de 2012
Fonte: Ministério da Fazenda
31
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
Energia, Logística e Infraestrutura
O transporte da produção brasileira interna e externamente é um dos fatores com
que faz que os produtos brasileiros percam competitividade frente ao comércio
internacional e leva ao encarecimento do produto para o consumidor final.
A fim de solucionar este problema, o governo federal através principalmente do PAC 2
iniciou uma série de obras com o intuito de obter uma infraestrutura melhor e mais
barata.
Foram concluídas 909 km de Rodovias em todo o Brasil. Estão em andamento
intervenções em 6.299 km, sendo 2.100 km de obras de duplicação e adequação e 4.199
km de construção e pavimentação.
Em Ferrovias, são 3.061 km de obras em andamento, que contemplam, por
exemplo, os 1.301 km da Norte-Sul, 874 km da Nova Transnordestina e 247 km da
Ferronorte. Nessa última, 99% da infraestrutura do segmento dois, com 163 km de
extensão, estão concluídos.
Na análise dos aeroportos doze obras foram concluídas e vinte e uma estão em
andamento neste ano de 2012 além das concessões realizadas a fim de agilizar a
estruturação deste setor para os eventos esportivos que ocorrerão no país. Os contratos
de concessão dos aeroportos de Guarulhos e Campinas, em São Paulo, e do aeroporto de
Brasília foram assinados em junho deste ano. Essas três concessões somando-se à de
São Gonçalo do Amarante (RN) vão gerar investimentos previstos de R$ 16,8 bilhões.
Ninguém discute a importância dos portos brasileiros para o desenvolvimento
econômico do país. Eles foram responsáveis por 95% do fluxo do comércio exterior e
apresentaram aumento crescente em sua movimentação em 2011. A expansão dos
portos e otimização do espaço foram assuntos discutidos ao longo do ano pelo
Ministério dos Transportes que já aponta à importância de se rever a infraestrutura atual,
pois o escoamento existente possivelmente se tornará um gargalo da economia brasileira
daqui alguns anos se nada for feito neste momento. Foram concluídas cinco obras até
junho deste ano e outras 16 obras estão em andamento em toda a extensão da costa
brasileira.
As mudanças na forma de tarifação e de controle da distribuição de energia
elétrica em todo o país começam a ser feitas neste ano de 2012 e devem ser concluídas
32
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
até 2014, quando todas as 63 distribuidoras do Brasil deverão realizar uma revisão
tarifária, que permita ao consumidor optar pela cobrança convencional ou pela tarifa
diferenciada.
Por decisão da diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em
novembro do ano passado, serão aplicadas tarifas diferenciadas por horário de consumo,
de maneira a estimular o uso de energia nos períodos em que o sistema é menos
utilizado pelos consumidores, das 22h às 17h.
Após a revisão tarifária de cada distribuidora, o consumidor poderá optar por
continuar sendo cobrado pela tarifa convencional ou pela chamada tarifa branca. Se
escolher por esta última terá três faixas de tarifação, para o uso de segunda a sexta-feira:
das 22h às 17h, pagará 50% da tarifa convencional; das 17h às 18h, e das 21h às 22h,
estará na faixa da tarifação intermediária, equivalente a 150% da cobrança
convencional; e entre as 18h às 21h, horário de pico, pagará 250% do valor
convencional. Aos finais de semana e feriados, a tarifa mais barata será empregada.
5. ECONOMIA REGIONAL
A economia mineira começou o ano mostrando sinais de fraqueza, porém
crescendo acima da nacional. Registrou no primeiro trimestre de 2012, crescimento de
2,1% em comparação com o primeiro trimestre de 2011, sendo a variação do valor
adicionado (VA) a preços básicos, nessa mesma base de comparação de 1,5% (no Brasil
o acréscimo no VA foi de 0,6%), refletindo principalmente o desempenho dos serviços
(único a registrar crescimento em relação ao primeiro trimestre de 2011), mais ligado ao
cenário doméstico e menos suscetível a oscilações externas.
No segundo trimestre a economia mineira deu sinais de melhora, dessa vez
puxada pelo bom desempenho da agropecuária. No terceiro a agropecuária registrou
queda de 2,6% em relação ao segundo trimestre, puxada pelo fraco desempenho da
extração vegetal, silvicultura e pecuária, porém registrou crescimento contra igual
período do ano passado de 2,5% graças ao bom desempenho das safras colhidas no
terceiro trimestre. A indústria segue com fraco desempenho tendo acumulado no ano,
até o terceiro trimestre de 2012, crescimento no VA de 0,3% em relação ao mesmo
33
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
período em 2011. E os serviços interromperam sua sequência de altas na série trimestre
contra trimestre imediatamente anterior (com ajuste sazonal), registrando leve queda de
0,1%, porém registraram crescimento de 2% no setor em comparação com o terceiro
trimestre de 2011. (Dados dos Informativos sobre PIB trimestral mineiro do Centro de
Estatísticas e Informações – CEI- da Fundação João Pinheiro - FJP).
14.0
PIB trimestral - Variação (%) trimestre contra
mesmo trimestre do ano passado
12.0
10.0
8.0
6.0
Brasil
4.0
Minas
2.0
0.0
Fonte: CEI/FJP & IBGE
A Agropecuária e a Indústria, sendo mais suscetíveis ao setor externo que
iniciava o ano ainda sobre fortes reflexos da crise e cheio de incertezas, tiveram pior
desempenho no primeiro trimestre do ano. A Indústria mineira (recuou 0,4% em relação
ao primeiro trimestre de 2011) praticamente acompanhou a estagnação da indústria
nacional (acréscimo de 0,1% em relação ao primeiro trimestre de 2011). E a
agropecuária mineira recuou 1% muito influenciada por fatores climáticos que
prejudicaram a produção de batata-inglesa, feijão soja e banana, produtos importantes
para a agropecuária do estado, porém com desempenho melhor que a agropecuária
nacional que recuou 8,5%, afetada por secas em importantes regiões produtoras.
No segundo trimestre a economia mineira teve melhor desempenho, dessa vez
puxada pela agropecuária (crescimento de 7,7% em relação ao segundo trimestre de
2011), que deve seu bom desempenho às boas colheitas da maioria dos principais
produtos agrícolas do estado. Que se beneficiaram do estado ter sido menos afetado por
extremos climáticos (secas e enchentes) que outras regiões do país.
34
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
Os serviços reduziram um pouco o ritmo de crescimento (comparando trimestre
contra mesmo trimestre do ano anterior) de 2,7% para 2,2%, devido principalmente a
redução nas margens operacionais do comércio e dos transportes (0,2% e 0,8%
respectivamente). A principal contribuição positiva para o setor de serviços ficou por
parte da administração pública que teve crescimento com o valor adicionado com a
prestação de serviços de segurança. Saúde e educação públicas, da ordem de 2,3%, fato
que se repetiu no terceiro trimestre e com um crescimento ainda mais acentuado, da
ordem de 4,1% em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior.
A Indústria seguiu estagnada no segundo trimestre. Contudo na desagregação
vemos que o grande problema está nas indústrias de transformação e extrativa mineral
que registraram recuo na produção em ambos os trimestres. Por outro lado as indústrias
de construção civil e distribuição de energia, gás e água registraram ganhos de
produção. Destaque para a Construção Civil que foi responsável por 20% do valor
adicionado da indústria do estado (dados do informativo CEI PIB-MG 2ºtrimestre) teve
crescimento consistente desde o 3ºtrimestre de 2011. Já no terceiro trimestre a indústria
se recuperou um pouco crescendo 0,6% e com recuperação da extrativa mineral que
voltou a crescer na comparação com igual trimestre do ano anterior, após dois trimestres
consecutivos de queda, porém a indústria de transformação voltou a registrar recuo, e a
construção e a energia e saneamento (produção e distribuição de energia, gás e água)
registraram crescimento menos intenso (comparações com mesmo trimestre do ano
anterior).
Variação (%) do PIB mineiro por setores trimestre contra mesmo trimestre do ano
anterior
30.0
20.0
Agropecuária
10.0
indústria
0.0
-10.0
I
II
III
2010
VI
I
II
III
2011
VI
I
II
2012
Fonte: CEI/FJP
35
III
Serviços
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
A taxa de desocupação para a região metropolitana de Belo Horizonte (RMBH)
medida pela PME – IBGE chegou ao seu menor nível no ano e para a série desde seu
início em março de 2002, em dezembro, em 3,5%. A taxa teve queda na passagem de
agosto para setembro com o aumento do contingente de ocupados em serviços
domésticos e serviços prestados as empresas, da ordem de 10,5% e 6,7%
respectivamente e desde então vinha com certa estabilidade em torno de 3,9%.
A taxa começou o ano em 4,5%, subiu até a maior taxa registrada no ano para a
região, em março, mesmo mês do pico nacional, porém a taxa foi bem mais moderada,
de 5,1%, (enquanto a do conjunto das regiões metropolitanas pesquisadas foi de 6,2%),
o que, aliás, tem sido a tendência, indicando maior aquecimento da economia mineira
perante a nacional, o que se confirma pelos dados do PIB do primeiro semestre, em que
a economia mineira cresceu mais, em proporção, do que a nacional.
O grupamento de atividade mais citado como destaque na geração de empregos
nas PMEs para RMBH foi Educação, Saúde e Adm. Pública que registrou crescimento
no contingente de trabalhadores ocupados, na comparação mês contra mesmo mês do
ano anterior, nos meses de janeiro, fevereiro, abril e maio (7,1%; 7,9%; 10,3%; 9,2%).
Destaque também para a construção, que na mesma base de comparação, registrou
aumentos de 10,1% em janeiro, 9,3% em abril e 15,2% em maio.
Taxa de Desocupação (%)
7
6
5
4
3
2
Jan
Fev
Mar
Abr
Maio
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Maio
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Brasil
2011
Minas
2012
Fonte: PME-IBGE
Junto com as baixas taxas de desemprego, temos visto ganhos reais na renda do
trabalhador. O rendimento médio real do trabalhador para a RMBH chegou a R$1784,
36
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
90,em dezembro de 2012, com queda de 1,1% em relação a novembro último e
crescimento de 6,8% no ano. Em comparação com dezembro de 2011 apenas os
militares ou funcionários públicos estatutários registraram queda em seu rendimento
médios reais, da ordem de 5,3%. Nos grupamentos de atividade destaque para os
trabalhadores da Construção, cujo rendimento médio real habitual cresceu 8,2% frente a
novembro de 2012 e 24,1% em relação a dezembro de 2011, denotando dificuldade de
as firmas encontrarem pessoal qualificado disponível para ocupar uma vaga. E também
para a saúde, educação e administração pública, que apesar de ter sido grande geradora
de empregos em 2012, foi o único grupamento a registrar queda de rendimento médio
real do trabalhador em relação a dezembro de 2011 (-3,8%).
Rendimento Médio Real Habitual
R$ 1900.00
R$ 1800.00
R$ 1700.00
R$ 1600.00
Geral
R$ 1500.00
RMBH
R$ 1400.00
Jan Mar Maio Jul
Set Nov Jan Mar Maio Jul
2011
2012
Set Nov
Fonte: PME-IBGE
O Índice de confiança do empresário industrial mineiro esteve todo ano abaixo
do nacional, indicando que os empresários industriais mineiros estiveram e estão menos
confiantes que os industriais do Brasil de forma geral. Contudo o índice tem seguido as
mesmas tendências do nacional. Assim, o industrial mineiro também começou o ano
ganhando confiança mês a mês e como dizemos em nosso primeiro boletim (março)
deste ano, muito puxado pela confiança na própria empresa. Porém em nosso segundo
boletim três meses mais tarde via que os industriais mineiros estavam assim como os
industriais brasileiros de forma geral, perdendo confiança tanto na própria empresa,
como no cenário da economia brasileira, dado o quadro de estagnação do setor visto no
primeiro semestre. Contudo o que vimos nos meses seguintes foi melhora da confiança
(assim como no ICEI nacional). E novamente seguindo a tendência nacional o índice
37
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
caiu em outubro em relação a setembro. A queda foi de 2,1 pontos (de 57 para 54,9). E
por fim descolou-se um pouco do índice nacional e fechou o ano em 54,4 pontos.
Os empresários se mostraram insatisfeitos com a situação atual do próprio
negócio, com a conjuntura econômica do estado e também com a conjuntura brasileira,
dado que os índices referentes a esses tópicos ficaram todos abaixo dos 50 pontos.
Porém no que se referem aos próximos seis meses, os industriais mineiros se
mantiveram confiantes em relação aos mesmos tópicos.
Dessa forma o que vimos ao longo do ano, foi insatisfação com as condições
atuais, porém, confiança, mesmo com tendência incerta, em relação ao quadro que se
formaria nos seis meses futuros. E destaca-se que as médias empresas foram as que
fecharam o ano com maior confiança (57,6 pontos)
Índice de Confiança do Empresário Industrial
de Minas Gerais
Jan
Fev
Mar
Abr
Maio
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Maio
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
65
60
55
50
45
2011
2012
Fonte: FIEMG & CNI
38
Minas Gerais
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
ECONOMIA INTERNACIONAL
1. CRISE DA DÍVIDA PÚBLICA EUROPEIA
1.1.“A Crise europeia está no início do fim, mas longe dele.”
O ano de 2012 foi marcado pela continuação da situação de risco dos países da
Europa, com deterioração da situação política e social devido à crise da dívida soberana.
Os países da região endividaram-se excessivamente a taxas de juros baixas após a
entrada na união monetária que deu origem à moeda regional, o Euro; porém, as
cláusulas que diziam respeito à manutenção de uma política fiscal responsável não
foram observadas. A partir da crise norte-americana das hipotecas, houve um aumento
das taxas de juros dos empréstimos, o que afetou em sequência os países mais frágeis e
menos responsáveis nos quesitos fiscal e de supervisão bancária e financeira da região,
os PIIGS (na sigla em inglês, criada pela imprensa, Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e
Espanha), causando dificuldades de financiamento.
O pior caso observado foi o grego, com moratória de seus títulos governamentais
e suspensão de pensões e mesmo serviços públicos básicos. A crise social instalada
estendeu-se ao campo político, o que torna difícil a adoção das medidas de austeridade
econômica advogadas como solução e ao mesmo tempo condições de ajuda externa,
principalmente do Banco Central Europeu. As taxas de desemprego gregas continuaram
sua elevação espetacular no ano de 2012, atingindo 25,63% ao final de dezembro
(Gráfico 1.1). A recessão grega é equivalente às observadas durante a Grande
Depressão, se acumulados os valores de decrescimento desde 2009. ¹9
Situação similar enfrenta a Espanha. Ainda que as taxas de desemprego
espanholas tenham sido elevadas frente aos outros países europeus por um bom tempo,
por questões estruturais do mercado de trabalho, o agravamento da crise grega e a crise
hipotecária fizeram com que o desemprego disparasse a partir de julho de 2011,
atingindo 25,9% ao final do ano de 2012 (Gráfico 1.1). A solvência do sistema bancário
espanhol foi colocada em dúvida com os pedidos de socorro financeiro no final do ano,
e o mesmo caos social está instalado no país. O caso português acompanha o espanhol,
ainda que em menor intensidade no caso do desemprego, mas a crise afeta igualmente o
ambiente sócio-político português, com trocas de ministros constantes e agitação
popular.
9
Com a crise em 1929 e 1932, a produção industrial americana foi reduzida em 54%.As taxas de
desemprego subiram de 9% em 1930 para 16% em 1931. E em outubro de 1933 o desemprego atingiu
27% da população economicamente ativa dos EUA, o que representava 13 milhões de desempregados.
39
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
30.0
25.0
20.0
15.0
10.0
5.0
0.0
Alemanha
Irlanda
Grécia
2008M01
2008M04
2008M07
2008M10
2009M01
2009M04
2009M07
2009M10
2010M01
2010M04
2010M07
2010M10
2011M01
2011M04
2011M07
2011M10
2012M01
2012M04
2012M07
2012M10
2013M01
%
1.1- Taxas de Desemprego
Espanha
França
Itália
Portugal
Fonte: Eurostat- Março 2013
A Irlanda, apesar de mostrar recuperação nos casos do desemprego e da
proporção dívida/PIB 10 preocupa quanto ao sistema financeiro e sua capacidade de
solvência, sendo necessários pacotes monetários para manter o sistema bancário
funcionando adequadamente.
Porém, pela magnitude de seu PIB (é uma das dez maiores economias do
mundo), o destaque é a Itália. Com desemprego em alta ao final de 2012 e razão
dívida/PIB na casa dos 100% (Gráfico 1.2), o aumento do spread entre os títulos
soberanos italianos e os alemães (tomados como referência regional) fezcom que essa
dívida, ainda que estável no ano, ficasse com seus pagamentos de juros mais elevados, o
que apertou o orçamento italiano no ano. Os cortes governamentais feitos pelo governo
de Mário Monti, ainda que sinalizassem para a estabilização e austeridade
recomendados e condicionantes de ajuda externa foram recebidos com frieza pela
população italiana, a qual retaliou o partido nas urnas. Com a saída de Monti, cuja
política de austeridade e saneamento era clara, o futuro italiano é novamente incerto,
com um cenário político dividido e tensão social crescente. Segundo o chefe da coalizão
de centro-esquerda italiana Pier Luigi Bersani, após a clara mensagem das urnas, A
Itália tem a tarefa de reformular seu sistema político e promulgar medidas voltadas para
resolver os problemas sociais causados pela mais longa recessão no país desde o pósSegunda Guerra.
.
.
10
O principal objetivo do ajuste das contas de um país é permanecer estabilizado a dívida em relação ao
PIB. Através, dessa estabilização, sabe-se que a inflação é reduzida.
40
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
1.2- Dívida Pública (%PIB)
200
França
150
Alemanha
100
Grécia
50
Irlanda
Itália
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Fonte: International Monetary Fund, World Economic Outlook Database, October 2012
Portugal
Espanha
1.2.Resposta tardia: o Mecanismo de Estabilização Europeu
Como resposta à situação delicada de alguns de seus membros, a União
Europeia, por meio de seu Banco Central, buscou formalizar as decisões tomadas ad
hoc em um mecanismo permanente de estabilização da zona de união monetária. O
resultado foi a reforma do Fundo de Estabilidade Europeu para o Mecanismo de
Estabilização Europeu. As diferenças residem em distintas percepções do mesmo
problema: além de prover os países membros com a ajuda monetária – o fundo possui
cerca de 700 bilhões de Euros, sendo 500 bilhões emprestáveis e 300 bilhões destes,
recursos alemães (CITAR!) -o fundo também busca fiscalizar e regulamentar os setores
bancário e financeiro. Isso ocorreu porque o Banco Central Europeu passou a entender
os riscos do descolamento das políticas monetária e fiscal: ainda que o compromisso
fiscal fosse uma das condições para a entrada na união monetária, este dificilmente era
respeitado. A moeda única também exclui a alternativa da política cambial unilateral.
Sendo assim, além de emprestador, o MEE é também fiscalizador do uso desses
recursos. A formulação do MEE foi tema de intenso debate em Bruxelas,
principalmente quanto à maneira da regulação adotada: abrangente ou localizada nos
maiores bancos. As medidas de austeridade, ponto centrale condicionante das ajudas,
foram mantidas e reforçadas como meio de estabilidade contínua e prevenção frente a
choques futuros. 11
11
O objetivo abrangente do pacote legislativo (diretiva e regulamento requisitos de Fundos próprios) é
reforçar a capacidade de resistência do setor bancário da UE, assegurando ao mesmo tempo que os
bancos continuem a financiar a atividade económica e o crescimento
41
Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
2. PANORAMA MUNDIAL
2.1.A vida em um mundo dividido
O ano de 2012 mostrou, do ponto de vista macroeconômico geral, a manutenção
da divisão dos países em dois grupos: países de elevado crescimento e países com
crescimento pequeno ou recessivo. Apesar do padrão mantido e previsível de países já
desenvolvidos crescerem a taxas menores 12 o choque entre a lenta recuperação
americana e o estrondoso crescimento chinês passou a afetar o ambiente econômico
global. Enquanto em 2012 os países do G7 cresceram entre 0 e 2% no ano, com
recessões no Reino Unido – 0,3% - e na Itália – 2,3% . Como reflexo dos apertos fiscais
pelos quais os países da Zona do Euro estão passando (Gráfico 1.3).
1.3 - Taxa de crescimento do PIB real (%) - G7 (2006-2012)
6%
Canadá
4%
França
2%
Alemanha
0%
-2%
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Itália
-4%
Japão
-6%
Reino Unido
-8%
Estados Unidos
Fonte: FMI - World Economic Outlook Database - October 2012
3. TAXAS DE INFLAÇÃO PARA PAÍSES EMERGENTES
Convencionou-se nos últimos anos o nome de BRICs para o grupo de países
com maiores perspectivas e possibilidades de crescimento econômico, os quais seriam,
dadas as manutenções de suas trajetórias de crescimento recentes, as grandes economias
na segunda metade do século XXI. Inicialmente, o acrônimo fazia referência a Brasil,
Rússia, Índia e China – países díspares na formação de seus produtos internos brutos,
mas similares no quesito de crescimento acelerado com alguma sustentação – seja o
12
FROYEN, RICHARD T. Macroeconomia. Saraiva
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Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
2013
Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
comércio de commodities energéticas na Rússia, seja o gigantismo brasileiro no
comércio de commodities agrícolas e minerais mundial.
Esses países são parte do grupo que sustentou taxas de crescimento ou pelo
menos evitou grandes recessões no conturbado período seguinte à crise do subprime
norte-americano. Assim, é feita uma análise de seus índices de preços em conjunção
com a série de índice de preços de commodities.
3.1. A queda que não ocorreu – continuação da alta das commodities em 2012
Segundo as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), os preços
dascommodities no ano de 2012 seguiriam de seus patamares elevados pós-crise norteamericana 13 rumo à níveis estáveis. Porém, na metade do ano a seca histórica e a
consequente quebra de safra nos Estados Unidos, grande produtor mundial de grãos,
acabou por reverter a tendência de queda observada. A partir de julho, os preços do
petróleo também voltaram a subir, refletindo as crises políticas por que passam os
países do Oriente Médio e norte africanos após a Primavera Árabe.
Dessa forma, a partir de julho a tendência é invertida novamente para a alta dos
preços, sendo observada certa estabilidade até o fechamento do ano. Isso trouxe
benefícios para a sustentação dos países produtores, como nos casos brasileiro e russo.
Os russos foram beneficiados por um inverno rigoroso atípico na Europa, o que
aumentou a venda do gás encanado para o oeste do continente. Os minérios industriais
(discriminados sob matérias primas industriais) apresentaram queda até o final do ano,
com temores de um menor crescimento chinês. Porém, a continuidade do empenho dos
dirigentes do Partido Comunista chinês em manter o crescimento elevado e o foco na
construção de um mercado interno alavancou os preços ao final do ano, principalmente
pelo canal do uso do aço na construção civil e pública chinesa.
13
A alta pós-crise ocorreu quando os investidores procuraram a diversificação de suas carteiras de
investimento rumo a produtos consumidos e produzidos em países em desenvolvimento, onde os
efeitos da crise econômica foram mais leves. Uma das commodities mais procuradas foi o ouro, que
atingiu altas históricas por ter a tradicional função de reserva de valor na economia. Porém, mesmo os
índices que desconsideram o ouro – como os aqui analisados – apresentaram comportamento
semelhante.
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Boletim – Retrospectiva Econômica 2012
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Grupo de Conjuntura Econômica (GCE)
1.4 - Índice de preços de commodities - mensal - jan2006-jan2013
(jan2006 = 100)
250
200
150
100
50
2006M01
2006M04
2006M07
2006M10
2007M01
2007M04
2007M07
2007M10
2008M01
2008M04
2008M07
2008M10
2009M01
2009M04
2009M07
2009M10
2010M01
2010M04
2010M07
2010M10
2011M01
2011M04
2011M07
2011M10
2012M01
2012M04
2012M07
2012M10
2013M01
0
Índice Geral
Alimentos e Bebidas
Matérias-primas Industriais
Petróleo
Fonte: FMI - Commodities Team, Research Department- February 2013
3.2. Índices de preços para países emergentes, e os “novos BRICs”
O ano foi de contenção inflacionária na maior parte do mundo emergente, os
quais tiveram que lidar com o choque de oferta negativo nos alimentos oriundo da crise
agrícola norte-americana e da alta sustentada de seus principais produtos primários. Nas
previsões para 2013, toma destaque a alta dos preços russos, puxados pela elevação do
preço do gás natural e do petróleo. Vários dos países adotaram medidas antiinflacionárias no decorrer do ano de 2012, visando atenuar o efeito desses choques e se
beneficiar da alta dos preços primários.
Outro destaque do ano foi a atenção da mídia e do meio acadêmico a um grupo
de países de médio desenvolvimento, mas que vem crescendo a taxas crescentes mesmo
em meio à crise econômica. São diversos os acrônimos criados, sendo citados México,
Indonésia e Tailândia, por exemplo. Nos gráficos, são mostrados para efeito de
comparação o México, pela presença na América Latina e forte intercâmbio comercial
com os EUA e a África do Sul, cogitada para ser a letra “S”, formando a nova sigla
BRICS (South Africa). Apesar do fato ser justificado pelo destaque da África do Sul no
continente africano, vale frisar que apesar de serem agrupados em uma mesma sigla,
esses países são bastante heterogêneos quanto às vias que buscam para a sustentação de
seu crescimento, com igual disparidade na formação de seus índices de preços.14
14
Por exemplo, as elevadas taxas de inflação indianas são em parte devido ao efeito de restrição dos
mercados consumidores e perdas de safras decorrentes das monções, um fenômeno climático típico do
sul da Ásia e que vem se tornando mais extremo com o aquecimento atmosférico antropogênico. Os
centros urbanos indianos estão entre os mais poluídos e insalubres do mundo.
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