ROTAVÍRUS COMO CAUSA DE DIARRÉIA EM LEITÕES GISELDA MATOS XAVIER UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO CAMPOS DOS GOYTACAZES- RJ MARÇO – 2003 ROTAVÍRUS COMO CAUSA DE DIARRÉIA EM LEITÕES GISELDA MATOS XAVIER Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Animal Orientador: Prof. Carlos Eurico Pires Ferreira Travassos CAMPOS DOS GOYTACAZES- RJ MARÇO – 2003 ROTAVÍRUS COMO CAUSA DE DIARRÉIA EM LEITÕES GISELDA MATOS XAVIER Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Animal Aprovada em 24 de março de 2003 Comissão examinadora: Prof a. Vera de Souza Gouvea (PhD - Epidemiologia/Virologia) - UFRJ Prof a. Sílvia Regina Ferreira Gonçalves Pereira (Doutora-Microbiologia) - UENF Prof a. Rita Trindade Ribeiro Nobre Soares (Doutora-Zootecnia) - UENF Prof. Carlos Eurico Pires Ferreira Travassos (Doutor, Microbiologia) – UENF (Orientador) "Todo mundo é um cientista maluco e a vida é o Laboratório. A gente está sempre experimentando, tentando achar um jeito de viver, de resolver os problemas, de se livrar da loucura do caos”. -- David Cronenberg ii A Lucila Matos, Gisele Matos e familiares Dedico iii AGRADECIMENTO Agradeço a Deus pelas vitórias e, principalmente, pelas dificuldades enfrentadas durante a realização deste trabalho, pois, com certeza, foram estes os momentos em que mais precisei e notei Sua presença. À minha mãe Lucila amada que, mesmo sem entender quase nada do que eu fazia, sempre esteve disponível para ajudar-me. À Gisele Matos e minha “dinda” Jô, sempre prontas a ouvir explicações sobre Mestrado, Teses, etc. Ao Prof. Carlos Eurico Travassos, pelo exemplo de ética e profissionalismo que me incentivam a continuar trilhando o caminho da Pesquisa. À Profa. Sílvia Regina Pereira, pelas inestimáveis orientações, aulas ministradas e conselhos. À equipe de Virologia, que, mesmo tão pequena, mostra-se tão unida. A toda equipe do Laboratório de Virologia Molecular e Tropical da UFRJ, que muito me ajudou nestes momentos finais: profa. Vera Gouvea, André Domingues, Alexsandra Mendonça, Felipe Naveca e João. A Jamile dos Santos e Lucíula Kfuri, que, mesmo de longe, torceram por mim. A Iliani Bianchi, por “sofrer” junto comigo os desafios deste trabalho. A Isabel Bonna, Francimar Gomes e André Fernandes, pelos momentos de descontração muitas vezes vindos na forma de pizzas, crepes e churrascos. Aos professores Olney Motta, Francisco Carlos, Marcos Matta e Rita Trindade, pelas dicas de como desenvolver este e outros trabalhos. iv A Gina Nunes pela paciência e atenção em ouvir meus problemas. A Luciana Lemos, Rodrigo Crespo e Alessa Santos, pelo auxílio na Anatomia Patológica e pelo cafezinho. A Helaíne Haddad, que, mesmo em tão pouco tempo, já demonstrou ser uma boa amiga. A Etiene Ambrósio, que resolve quase tudo relacionado à pós-graduação, sempre com muita paciência e bom humor. A todos os suinocultores que permitiram o desenvolvimento deste trabalho. À FENORTE, pelo auxílio financeiro. A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a concretização deste trabalho. v BIOGRAFIA Giselda Matos Xavier, filha de Lucila Cruz Matos e Antonio Oliveira Xavier, nasceu em 26 de julho de 1972, na cidade do Rio de Janeiro – RJ. Desde 1992, desenvolve pesquisa na área de Microbiologia, iniciando-se em Microbiologia de Alimentos e estendendo-se à Microbiologia Parasitária. Em 1995, foi admitida no curso de Medicina Veterinária pela então Universidade Estadual do Norte Fluminense, onde continuou a dedicar-se à pesquisa na área de Microbiologia. Foi admitida, em março de 2001, no Curso de Pós-graduação em Produção Animal, Mestrado, Sanidade Animal, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), em Campos dos Goytacazes – RJ, submetendo-se à defesa de tese para conclusão do referido curso em março de 2003. vi CONTEÚDO RESUMO................................................................................................................ ix ABSTRACT............................................................................................................. x 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1 2. REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 4 2.1. Caracterização dos rotavírus............................................................................ 4 2.2. Epidemiologia................................................................................................... 7 2.3. Patogênese e Patologia ................................................................................... 8 2.4. Imunidade contra a infecção ............................................................................ 9 2.5. Manifestações clínicas ..................................................................................... 9 2.6. Diagnóstico....................................................................................................... 9 2.7. Rotavirose em crianças .................................................................................. 10 2.8.1. Rotavírus em suínos................................................................................... 11 2.9. Tratamento, prevenção e controle.................................................................. 11 3. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................. 12 3.1. Colheita das amostras.................................................................................... 12 3.2. Análise das fezes por eletroforese em gel de poliacrilamida (PAGE) contendo duodecil sulfato de sódio (SDS) ............................................................................ 14 3.2.1. Preparo das amostras fecais....................................................................... 14 3.2.2. Preparo dos géis e aplicação das amostras................................................ 14 vii 3.2.3. Corrida eletroforética ................................................................................... 15 3.2.4. Coloração do gel ......................................................................................... 15 3.3. Extração de RNA viral das fezes e RT-PCR .................................................. 16 3.3.1. Extração de RNA viral ................................................................................. 16 3.3.2. Preparo das amostras e RT-PCR (1a.amplificação) .................................... 18 3.3.2.1. RT-PCR baseada na especificidade de VP7 (genotipo G) ....................... 18 3.3.2.2. RT-PCR baseada na especificidade de VP4 (genotipo P) ....................... 18 3.3.3.Tipagem através de PCR a partir de cDNA (2a amplificação) ...................... 19 3.3.3.1. Tipagem através de PCR para VP7 ......................................................... 19 3.3.3.2. Tipagem através de PCR para VP4 ......................................................... 19 3.3.3.3. Adição de cDNA e PCR............................................................................ 19 3.3.4. Eletroforese em gel de agarose .................................................................. 20 3.4. Isolamento de rotavírus em células MA-104 .................................................. 20 3.4.1. Cultura de células........................................................................................ 20 3.4.2. Tratamento das fezes.................................................................................. 21 3.4.3. Inoculação ................................................................................................... 21 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 23 4.1. SDS - PAGE................................................................................................... 23 4.2. Caracterização através de PCR ..................................................................... 26 4.3. Cultivo celular................................................................................................. 28 5. CONCLUSÕES ................................................................................................. 29 6. RECOMENDAÇÕES......................................................................................... 30 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 31 viii RESUMO XAVIER, Giselda, M., Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; março de 2003; Rotavírus como causa de diarréia em leitões; Professor Orientador: Prof. Carlos Eurico Pires Ferreira Travassos. Professoras Conselheiras: Sílvia Regina Ferreira Gonçalves Pereira, Rita da Trindade R.N. Soares e Vera de Souza Gouvea. O crescimento da produção interna e da exportação de carne suína depende da sanidade das granjas brasileiras. Leitões com rotavírus podem sobreviver à infecção, mas o número de refugos e os gastos com medicamentos geram prejuízos aos produtores. De 226 amostras de fezes de leitões testadas através de PAGE, quatro foram positivas para rotavírus e caracterizadas através de RT-PCR em G3P[7]; G1G5P[7]; G5P[7] e G5P[5]. Uma das amostras caracterizou-se por mistura de duas espécies diferentes de rotavírus. Palavras-chave: diarréia, leitões, PAGE, RT-PCR. ix ABSTRACT XAVIER, Giselda M., M.S., Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; março de 2003; Rotavirus causing diarrhea in piglets; Adviser: Carlos Eurico Pires Ferreira Travassos. Counselor: Sílvia Regina Ferreira Gonçalves Pereira, Rita da Trindade R.N. Soares e Vera de Souza Gouvea The growth of internal produce and of pork meat exportation depend on the health conditions of Brazilian farm animals. Piglets contaminated by rotavirus could survive but the number of refusals and the costs on veterinary drugs is considered. Of two hundred and twenty-six fecal specimens from piglets were positive to group A rotavirus and characterized by RT-PCR in G3P[7]; G1-G5P[7], G5P[7] and G5P[1]. One of fecal samples presented a case of mixed infection involving two different strains of rotavirus. Key words: diarrhea, piglets, RT-PCR, PAGE. x vii 1 1. INTRODUÇÃO O Brasil ocupa a quarta colocação em exportação de carne suína, sendo superado apenas pelos Estados Unidos, Canadá e União Européia. Somente no ano de 2002, o país contribuiu com cerca de 320 mil toneladas de carne suína exportada. Apesar da considerável participação brasileira no mercado exterior, o consumo de carne suína no país ainda é baixo. A título de ilustração, enquanto nos EUA e na Europa o consumo desta carne por habitante/ano é de 24,00 e 42,00 kg, respectivamente, no Brasil, este consumo só atinge 10,09 kg/habitante/ano (DESOUZART, 2003). Dentro do mercado brasileiro, a região Sul ainda responde pela maior representação numérica, econômica e tecnológica dentro da suinocultura, contribuindo com 34,53% de todo o rebanho suíno brasileiro. As regiões Sudeste e Centro Oeste também têm recebido destaque em relação à produção de suínos, respectivamente, com 18,93% e 15,87% de toda a produção (IBGE, 2001). O manejo apropriado em granjas suinícolas pode aumentar o desempenho reprodutivo, reduzir a mortalidade entre os animais (SOBESTIANSKY et al., 1998) e, conseqüentemente, favorecer o crescimento da produção interna e do volume de exportação. O manejo sanitário de uma granja suinícola pode ser dividido em dois grupos: 2 a) Manejo sanitário dirigido aos animais – consiste no monitoramento clínico e laboratorial dos animais, visando não somente à prevenção, mas também ao tratamento e controle de doenças. b) Manejo sanitário dirigido ao ambiente – inclui desde controle da qualidade do ar, temperatura e ventilação da granja até controle de moscas, roedores e outros agentes potencialmente transmissores de doenças (SOBESTIANSKY et al., 1998). Um manejo inadequado, bem como alterações ambientais, fatores nutricionais e fisiológicos e uma grande gama de agentes etiológicos contribuem para a síndrome de diarréias em suínos (GREGORI et al., 2000). Em criações de sistema intensivo da região Sul do Brasil, por exemplo, a taxa de mortalidade média de leitões lactentes varia de 15 a 20%, sendo o esmagamento, a inanição e as diarréias as principais causas dessas perdas (TAGLIARI e BRITO, 1998). A diarréia é uma das principais enfermidades que afetam leitões lactentes (BRITO et al., 1999). Sua etiologia é complexa, sendo primariamente um quadro induzido pelo estresse do desmame, onde vários agentes infecciosos como bactérias, protozoários e vírus podem estar envolvidos (SILVA et al., 1999). Os rotavírus têm sido reconhecidos como os principais agentes causadores de gastroenterite aguda em humanos e animais (SANDERS, 1985). São encontrados isolados ou associados a outros agentes patogênicos (KAMINJOLO e ADESIYUN, 1994), o que agrava em muito a sua manifestação, como ocorre em infecções mistas entre rotavírus e Cryptosporidium (BARBOSA et al., 1998). A importância econômica das diarréias causadas por rotavírus, isolados ou associados a outros agentes infecciosos não se deve somente à morte dos leitões, mas, principalmente, ao comprometimento de seu desenvolvimento até o momento do abate (TAGLIARI e BRITO, 1998). Um exemplo disto é que Svensmark et al. (1989), citados por BRITTO et al. (1999), observaram que leitegadas com diarréia pré-desmame apresentavam menor uniformidade e pesavam, em média, 400g a menos aos 30 dias em comparação com leitegadas sem diarréia. Ainda que leitões infectados por rotavírus possam sobreviver, o número de refugos e os gastos com medicamentos aumentam consideravelmente, gerando prejuízos significativos aos suinocultores (TAGLIARI e BRITO, 1998). Diante da importância que as diarréias assumem em relação à produtividade das granjas suinícolas, o presente estudo teve por objetivo principal avaliar a 3 presença de rotavírus em suínos através da técnica de eletroforese em gel de poliacrilamida com duodecil sulfato de sódio (SDS-PAGE). A partir das amostras positivas, foram traçados os seguintes objetivos: • Caracterizar os eletroferotipos por PAGE. • Isolar e adaptar o vírus em culturas de células. • Caracterizar os genotipos utilizando a técnica de reação em cadeia de polimerase RT-PCR (reverse transcriptase – polymerase chain reaction). 4 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Caracterização dos rotavírus Estes vírus são classificados como um gênero pertencente à família Reoviridae (RAMIG, 1994), que contém ainda outros oito gêneros distintos (KAPIKIAN e CHANOCK, 1996). Os rotavírus não são envelopados e possuem simetria icosaédrica (RAMIG, 1994). A partícula viral completa mede cerca de 70 nm de diâmetro e é constituída de dois capsídeos, conhecidos como capsídeo externo e interno. No interior do capsídeo interno existe uma terceira camada, o core (ou cerne), que contém o genoma viral consistindo de 11 segmentos de RNA fita dupla (dsRNA). O termo rotavÍrus é derivado da palavra em Latim “rota”, que significa “roda”,e foi sugerido devido ao formato definido do capsídeo externo quando observado por microscopia eletrônica de transmissão (KAPIKIAN e CHANOCK, 1996). Os segmentos de RNA podem ser divididos em quatro classes com pesos moleculares diferentes. Esta distribuição pode ser evidenciada através de PAGESDS (RAMIG, 1994). Os segmentos de RNA de 1 a 4 são denominados como grupo I, os segmentos 5 e 6 como grupo II, os segmentos 7 a 9 como grupo III e os segmentos 10 e 11 como grupo IV (ESTES et al., 1984), formando, ao final da análise, uma migração característica denominada eletroferotipo (SILVA et al., 2001), que, no caso do rotavírus do grupo A, assume o padrão IV-II-III-II (4-2-3-2). Cada 5 segmento de RNA codifica, pelo menos, uma proteína específica, sendo seis delas estruturais e cinco não-estruturais (PRASAD e CHIU, 1994). Com base nas características antigênicas presentes na proteína VP6, codificada pelo segmento 6 do RNA e presente no capsídeo interno do vírus, os rotavírus podem ser classificados em grupos (ou sorogrupos). Rotavírus do grupo A já estão bem estabelecidos como agentes causadores de diarréia em animais e humanos jovens. Os vírus pertencentes ao grupo B têm sido associados a epidemias de diarréia aguda em adultos na China (ESTES, 1996). De acordo com trabalhos de Saif & Jiang, 1994; Morin et al., 1990; Saif, 1980; Saif et al., 1980 citados por KIM et al. (1999), os rotavírus do grupo C têm sido relatados como causa de diarréia esporádica em leitões nas fases de amamentação e creche. A propriedade antigênica de VP6 permite ainda a classificação dos rotavírus do Grupo A em subgrupos, representados por algarismos romanos, que indicam uma migração eletroforética no gel de poliacrilamida curta (subgrupo I) ou longa (subgrupo II), conforme descrito por KAPIKIAN e CHANOCK, 1996. A caracterização sorotípica do grupo A de rotavírus é baseada nos determinantes de neutralização, localizados nas proteínas do capsídeo externo, VP4 e VP7, que são segregadas independentemente. A VP4 é uma proteína não glicosilada, sensível à ação de proteases (tripsina, por exemplo), que é codificada pelo segmento quatro do genoma viral e determina o sorotipo P (protease). A VP7, por sua vez, é uma glicoproteína codificada pelo segmento 7, 8 ou 9, dependendo da linhagem viral,que determina o sorotipo G (glicoproteína) (ROSEN et al., 1994). Ensaios de neutralização com soro hiperimune permitem a identificação de 14 sorotipos G (G1 a G14), sendo seis (G1 a G5 e G9) descritos tanto em porcinos como em humanos (Ciarlet et al, 1995 citados por PONGSUWAANA et al.,1996) e um (G11) descrito exclusivamente em porcinos (KAPIKIAN e CHANOCK, 1996). Dentre os sorotipos encontrados em suínos, G5 tem sido o mais prevalente (SANTOS et al., 1999). Uma classificação, baseada em ensaios de neutralização, permite também a identificação de 11 sorotipos P, sendo dois específicos de porcinos (P9 e P2B) (KAPIKIAN e CHANOCK, 1996). Entretanto, a classificação sorológica dos sorotipos P tem sido dificultada pela indisponibilidade de soro hiperimune que distinga os tipos P individuais (GOUVEA et al., 1994 b). 6 Através de técnicas de seqüenciamento, hibridização e amplificação de ácidos nucléicos, é possível, ainda, classificar os rotavírus em, pelo menos, 15 tipos P diferentes de acordo com a especificidade de VP4 (GOUVEA et al., 1994 b), e 11 tipos G distintos em relação à VP7 (KAPIKIAN e CHANOCK, 1996). Dentre os tipos P, dois têm sido identificados em linhagens porcinas OSU e Gottfried (Estes e Cohen, 1989, Negesha et al., 1993, Rosen et al., 1992, citados por GOUVEA et al., 1994 b). Desde 1985, a técnica de amplificação de DNA utilizando a reação em cadeia de polimerase (PCR) tem sido uma ferramenta muito valiosa em biologia molecular (KAWASAKI, 1990). O método simula o fenômeno de replicação do DNA in vivo, onde, a partir de uma fita molde de DNA, é produzida uma nova fita complementar ao molde (ROLFS et al., 1992). A partir de 1987, quando o PCR foi utilizado para amplificar seqüências de mRNA a partir de cDNA, aumentou em muito a sensibilidade de detecção do ácido nucléico, além de ter possibilitado a análise de RNA a partir de amostras contendo poucas quantidades de RNA molde (KAWASAKI, 1990). Neste caso, o RNA deve ser transcrito a cDNA antes da amplificação. A partir daí, o DNA é amplificado enzimaticamente através de vários ciclos de PCR, cada ciclo envolvendo três etapas: a) Desnaturação da fita molde de DNA, resultando na separação das fitas. b) Anelamento dos primers à seqüência de DNA. c) Duplicação e extensão do DNA (ROLFS et al., 1992). A técnica de tipagem de produtos de PCR (PCR-Typing) para classificar tipos G humanos de rotavírus foi desenvolvida por GOUVEA et al.(1990) e estendida para incluir a classificação de tipos P humanos por GENTSCH et al. (1992), e G e P animal por GOUVEA et al. (1994 a e b, respectivamente), contribuindo, sobremaneira, para a caracterização genômica do vírus. Uma das vantagens do PCR no diagnóstico molecular de rotavírus é sua aplicabilidade para caracterizar linhagens virais difíceis de serem adaptadas em cultura de células (SANTOS et al., 2002). Entretanto, a presença do RNA viral na amostra não prova que a mesma seja infecciosa (GRATACAP-CAVALLIER et al., 2000). Por esta razão, a adaptação e propagação de rotavírus em cultivos celulares devem ser sempre requeridas para: facilitar o preparo de grandes quantidades de vírus para uma caracterização adicional (incluindo PCR); estudos comparativos; 7 encontrar linhagens virais candidatas à produção de vacinas; e desenvolver novos sorotestes adequados (THEIL et al., 1978). Células de rim de macaco Rhesus (Linhagem MA-104) têm sido empregadas na propagação de rotavírus de origem humana e animal (KITAMOTO et al., 1991). O sucesso do isolamento de rotavírus humanos (WARD et al., 1984) e animais (RÁCZ et al., 1993) tem sido relativamente alcançado com meio de cultura contendo tripsina e estando livre de soro (WARD et al., 1984). Entretanto, em alguns casos são necessárias várias passagens cegas em culturas de células, objetivando o isolamento do vírus (RAMOS, 1996, THEIL et al., 1978). Isto porque não é raro o vírus produzir um efeito citopático (CPE) moderado (THEIL et al. 1977) ou até mesmo não se adaptar à cultura (SESTÁK e MUSILOVÁ, 1994). 2.2. Epidemiologia A transmissão do vírus ocorre intraespécies e interespécies através, principalmente, da via fecal-oral (MASCARENHAS, 1999), com um período de incubação que pode variar de 1 a 4 dias, sendo que, em geral, a doença ocorre em menos de 48 horas (KAPIKIAN e CHANOCK, 1996) caracterizando-se por febre, vômito e diarréia. Vale ressaltar que o período de incubação pode chegar a 10 dias, conforme observado no surto de diarréia aguda de camundongos lactentes da Universidade de Harvard em 1944, que tornou conhecido o vírus como EDIM (vírus da epizootia da diarréia em ratos infantis) (FLEWETT e WOODE , 1978). Um dado interessante referente à epidemiologia de rotavírus é o fato da possibilidade de reassortment (reagrupamento), que pode ocorrer quando células são infectadas por dois ou mais vírus de diferentes linhagens, de modo que a progênie decorrente dessa infecção poderá ter segmentos genômicos originados dos dois vírus progenitores, formando uma nova constelação genômica (GOMBOLD e RAMIG, 1994). Tal reagrupamento pode amplificar a transmissão interespécies, além de aumentar a capacidade infecciosa do rotavírus a partir da emergência de novas linhagens de rotavírus (SANTOS et al.,1999). Os rotavírus mostram um padrão sazonal de infecção em países desenvolvidos de picos epidêmicos ocorrendo nos meses mais frios do ano (KAPIKIAN e CHANOCK, 1996), podendo, inclusive, variar muito em diferentes anos (PARASHAR et al., 1998). No Brasil, a maior incidência de diarréias provocadas por 8 rotavírus, segundo observações de Cardoso et al., 1992, citados por LINHARES (2000), ocorre nos meses mais secos do ano nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul e nas demais regiões se mantém em torno de 20% durante todo o ano (PEREIRA et al., 1993). 2.3. Patogênese e Patologia Os vírus liberados nas fezes podem chegar à ordem de 109-1011 partículas infecciosas por mililitro de fezes (FLEWETT e WOODE, 1978), sendo que a excreção máxima ocorre entre o 3º e 4º dia após o início dos sinais clínicos (MASCARENHAS, 1999). Água, alimentos e fômites contaminados funcionam como fontes de infecção (MURPHY, 1995) tanto para o homem como para os animais. A alta taxa de liberação viral nas fezes, associada à estabilidade que os rotavírus possuem frente a diversos fatores ambientais, garante a grande transmissibilidade deste vírus, o que, de um modo geral, dificulta em muito o seu controle. Por exemplo, rotavírus presentes em fezes de bovinos conservam sua infecciosidade por sete meses quando mantidos à temperatura ambiente (KAPIKIAN e CHANOCK, 1996) e rotavírus suínos mantidos nas fezes originais por 32 meses a 10oC ainda são infecciosos (RAMOS et al., 2000). Uma vez no hospedeiro, os vírus resistem ao pH ácido do estômago e alcançam o trato intestinal, onde replicam nos enterócitos de revestimento das vilosidades do intestino delgado (RAMIG, 1994), no duodeno e porção anterior do jejuno (FLEWETT e WOODE , 1978). A partir da replicação, são liberadas novas partículas virais que irão infectar outras células ou serão eliminadas através das fezes, contaminando outros animais. Em pouco tempo, as lesões determinam a atrofia e fusão das vilosidades intestinais, infiltração da lâmina própria por células mononucleares, distensão das cisternas do retículo endoplasmático, turgidez e diminuição de mitocôndrias, dentre outras lesões. Como conseqüência, ocorrerá redução da área de absorção, impedindo a digestão de lactose e o transporte celular de nutrientes e sais minerais, culminando com o quadro de diarréia (MARECO e KROEFF, 2000). 9 2.4. Imunidade contra a infecção Os mecanismos imunológicos de proteção contra a diarréia provocada pelos rotavírus envolvem a participação de anticorpos presentes no intestino, principalmente imunoglobulinas das classes A e G (IgA e IgG) (MASCARENHAS, 1999). Os anticorpos produzidos protegem, parcialmente, contra reinfecções futuras, de modo que estas tenderão a se tornarem não muito severas (OFFIT, 1994). Além disso, a imunidade adquirida contra rotavírus parece ser sorotipoespecífica. Assim, em infecções onde o sorotipo envolvido seja G5 (protótipo OSUOhio State University), por exemplo, a proteção alcançada para futuras infecções será para G5, mas não para G4 (protótipo Gottfried) (SOLARTE et al., 1999). 2.5. Manifestações clínicas A infecção por rotavírus produz vários tipos de respostas, que variam de infecções subclínicas a doença severa e ocasionalmente fatal (KAPIKIAN e CHANOCK, 1996). Inicialmente, observa-se febre e, em seguida, diarréia, podendo ocorrer com ou sem vômito microorganismos (FLEWETT e agravar-se quando associada a outros e WOODE, 1978) . A desidratação está freqüentemente presente e o óbito ocorre de modo ocasional (KAPIKIAN e CHANOCK, 1996). 2.6. Diagnóstico O diagnóstico de rotavirose não pode ser fundamentado apenas na observação dos sinais clínicos, uma vez que muitas patologias provocam sinais semelhantes. Dessa forma, torna-se necessária a detecção do vírus ou do antígeno viral e/ou a manifestação da resposta sorológica (KAPIKIAN e CHANOCK, 1996), através de provas tais como: SDS-PAGE, microscopia eletrônica, PCR, imunofluorescência, ELISA e aglutinação em látex. Dentre elas, a microscopia eletrônica e o SDS-PAGE são as mais utilizadas, sendo a última freqüentemente empregada em estudos epidemiológicos de infecções por rotavírus em humanos e animais, com o objetivo de identificar as diferentes espécies do vírus envolvidas na infecção (DANIEL et al., 1996). 10 2.7. Rotavirose em crianças Em países desenvolvidos, tais como EUA, Austrália e Japão, estima-se que entre 39 e 63% das hospitalizações de crianças com diarréia aguda deve-se à infecção por RV (SANDERS, 1985). Em países em desenvolvimento, este vírus também representa a causa mais isolada de diarréia aguda (NETO, 1987), sendo responsável pela morte de 600.000 a 870.000 crianças por ano, o que corresponde a 20-25% do total de óbitos por doença diarréica (LINHARES, 2000). No Brasil, em particular, vários estudos foram realizados objetivando determinar a prevalência das diarréias causadas por rotavírus entre crianças com menos de seis anos de idade. Os índices de positividade variaram de 11,6% no Rio de Janeiro a 42% no Rio Grande do Sul (LINHARES, 2000). Estudos mostram uma alta prevalência de diarréias causadas por rotavírus nos meses mais frios do ano (NETO, 1987). De acordo com Pereira et al., (1983), citado por LINHARES (2000), nas regiões Centro-Oeste e Sudeste/Sul, observa-se maior incidência de diarréia por RV nos meses mais frios e mais secos: cerca de 20% nos meses de maio a setembro, com picos de aproximadamente, 40% entre junho e julho. Em contrapartida, nas regiões Norte e Nordeste tal sazonalidade não foi observada, tendo sido encontrada prevalência em torno de 15% durante todo o ano. Apesar do possível perfil sazonal das infecções por rotavírus, não se exclui a ocorrência de surtos por este agente viral em meses do ano que não são caracteristicamente frios e/ou secos. 2.8. Rotavirose em animais Enterites em animais são freqüentemente multifatoriais e a interação de outros agentes infecciosos com fatores imunológicos, ambientais e nutricionais pode exacerbar a doença (MURPHY, 1995). Rotavírus já foram descritos em bovinos, ovinos, suínos, eqüinos, caninos, felinos, lagomorfos, roedores, símios e espécies aviárias (MURPHY et al., 1995). Em aves, já foram relatados em frangos, pombos e patos (GARCIA et al., 1999). 11 2.8.1. Rotavírus em suínos Devido ao fato da infecção por rotavírus ser restrita tipicamente à célula do intestino delgado, tanto a imunidade passiva como a ativa é mediada por anticorpos locais. Entretanto, os leitões nascem sem anticorpos maternos, pois não há transferência transplacentária de anticorpos em suínos, apesar de serem imunocompetentes. A proteção alcançada pela ingestão de colostro tão logo o leitão nasça pode abreviar ou prevenir a doença em recém-natos, principalmente se a ingestão ocorrer durante o período de absorção máxima do colostro pelo intestino, nas primeiras 24-36 horas de vida do leitão (WARD et al., 1996). 2.9. Tratamento, prevenção e controle O tratamento baseia-se na reposição imediata das perdas hidroeletrolíticas, preferencialmente por via oral (NETO, 1987), através da administração de soluções contendo glicose. A aplicação de antibióticos para controle de infecções bacterianas secundárias pode auxiliar na recuperação do animal, além da melhoria das condições de higiene da maternidade, através, por exemplo, de limpeza das celas duas vezes ao dia, desinfecção semanal e colocação de uma espessa camada de maravalha para proteger os leitões da umidade e do frio (EMBRAPA, 1987) e contribuir bastante para a diminuição da incidência de infecções por rotavírus. Uma vacina eficiente é a principal meta a ser alcançada para controlar e prevenir a doença, tanto em países desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento, uma vez que medidas sanitárias resultam em impacto inexpressivo em relação à morbidade causada pelo vírus (LINHARES, 2000). 12 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. Colheita das amostras A baixa representatividade do Estado do Rio de Janeiro como produtor de suínos dificultou a localização de granjas nas regiões Norte e Noroeste fluminense; principalmente granjas onde algum tipo de manejo fosse empregado visando a um maior aumento da produtividade e prevenção de doenças. Sendo assim, outras granjas foram rastreadas, além do estado do Rio de Janeiro, em diferentes localizações. Foram colhidas 226 amostras de fezes entre o período de março de 2001 e janeiro de 2003, a partir de leitões com idade variando de dois a 60 dias. Os locais de colheita são mostrados na Tabela 1. As amostras de fezes foram colhidas diretamente da ampola retal dos animais, através de massagem abdominal ou estímulo com “swabs” e em condições que inviabilizaram estes procedimentos foram colhidas das superfícies das instalações, desde que as fezes fossem, evidentemente, recentes. 13 Tabela 1: Locais de colheita das amostras fecais Municípios (Estado) Número de amostras colhidas Campos (RJ) 16 Itaocara (RJ) 10 Carapebus (RJ) 14 Itaperuna (RJ) 29 Quissamã (RJ) 01 São João da Barra (RJ) 06 Magé (RJ) 06 Rio das Ostras (RJ) 07 Macaé (RJ) 01 São Francisco de Itabapoana (RJ) 01 Amparo do serra (MG) 39 Muriaé (MG) 50 Limeira (MG) 07 Guarapari (ES) 13 Castelo (ES) 19 Cachoeiro de Itapemirim (ES) 03 Venda Nova do Imigrante (ES) 04 Total 226 As fezes foram classificadas de acordo com sua consistência, em líquidas (53 amostras), pastosas (101 amostras) e firmes (72 amostras). Após a colheita e identificação, as amostras foram transportadas em isopor contendo gelo até o Setor de Virologia Veterinária do Laboratório de Sanidade Animal da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, onde foram armazenadas em freezer a –20oC, até o processamento. 14 3.2. Análise das fezes por eletroforese em gel de poliacrilamida (PAGE) contendo duodecil sulfato de sódio (SDS) 3.2.1. Preparo das amostras fecais Cada amostra de fezes estocada a –20oC foi parcialmente descongelada, de modo que uma alíquota pudesse ser retirada e homogeneizada em uma concentração aproximada de 10% (p/v) em 600 µL de tampão fosfato salina (PBS) pH 7,4. A mistura foi, então, centrifugada (Centrifuge 5402 Eppendorf) a 8.000 x g durante 4 minutos e à temperatura de 4o C. Após a centrifugação, 15µL de sobrenadante foram transferidos para um tubo tipo “eppendorf” contendo 5µL de tampão de tratamento da amostra (TA: 4 mL de H2O destilada; 1 mL de Tris-HCL pH 6,8; 800 µL de glicerol; 1,6 mL de SDS a 10%; 400 µL de 2-β-mercaptoetanol; 400 µL de azul de bromofenol a 1%). A amostra foi, então, incubada em banho-maria a 56o C durante 30 minutos. 3.2.2. Preparo dos géis e aplicação das amostras Os géis foram preparados conforme descrito por LAEMMLI (1970), com modificações. Para a corrida eletroforética foram utilizadas concentrações diferentes de poliacrilamida para formação dos géis (4% para o gel de concentração e 10% ou 7,5% para o de resolução) (Tabela 2), que foram mantidos em repouso por, pelo menos, 30 minutos para completa polimerização. Tabela 2: Preparo de um gel de poliacrilamida para mini-cuba 10 X 10 cm com espaçadores de 0,5 mm de espessura Soluções Concentração do gel Água destilada (dH2O) Tris-HCl SDS 10% Persulfato de Amônia Acrilamida/Bis TEMED Volume total Volumes para cada concentração do gel 4,0 4,5% 10% 1,5 mL 2,4 mL 2,0 mL (0,5 M-pH 6,8) (1,5 M-pH 8,8) (1,5 M-pH 8,8) 1,25 mL 1,25 mL 625 µL 25 µL 50 µL 50 µL 25 µL 50 µL 50 µL 1,25 mL 1,65 mL 325 µL 5 µL 10 µL 10 µL 2,5 mL 5 mL 5 mL 15 As amostras previamente incubadas a 56 oC/10-15 min. com TA foram aplicadas individualmente no volume de 20 µL. Em cada gel foi aplicado um controle positivo com rotavírus Wa, obtido a partir de cultivo celular e cedido pelo Laboratório de Virologia Molecular e Tropical da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O controle aplicado foi adicionado a TA e incubado juntamente com as amostras. 3.2.3. Corrida eletroforética As amostras processadas foram analisadas em cuba vertical (Mini-Protean 3, Bio-Rad) contendo solução tampão de corrida 1x (tampão concentrado 10x: 30g Tris-Base; 144,1g glicina; 10g SDS) e utilizando-se uma fonte elétrica (modelo FB 300, Fisher Scientific). A corrida eletroforética foi realizada obedecendo-se às condições descritas abaixo: • Gel com 10% de poliacrilamida ⇒ a corrida foi realizada a 100v, durante 30 minutos e, após este tempo, a voltagem foi elevada para 150v. Depois da saída do corante azul, a corrida ainda prosseguiu por mais 2 horas. • Gel com 7,5% de poliacrilamida ⇒ a corrida foi realizada a 100v, durante 30 minutos e, após este tempo, a voltagem foi elevada para 150v. Depois da saída do corante azul, a corrida ainda prosseguiu por mais 1 hora. 3.2.4. Coloração do gel Depois da corrida eletroforética, o gel foi impregnado com nitrato de prata para observação das bandas de RNA viral (HERRING, 1982). Inicialmente, o gel foi agitado em solução fixadora (10mL de etanol; 0,5mL de ácido acético glacial; 100mL de água destilada - dH2O) durante 30 minutos e, após este período, foi rapidamente lavado com água destilada, sendo em seguida mantido sob agitação em uma solução de nitrato de prata (0,16g de AgNo3; 100mL de dH2O) durante 30 minutos. Novamente, o gel foi rapidamente lavado com água destilada e mantido sob agitação em solução reveladora (10mL de NaOH 7,5M; 16 750µL de formaldeído; 100mL de dH2O) até o aparecimento das bandas de dsRNA. O aparecimento destas foi possível através do monitoramento do controle positivo. Quando o gel apresentou a coloração desejada, foi rapidamente lavado em água destilada e colocado sob solução de parada (5mL de ácido acético glacial; 10mL de etanol; 1mL de Glicerol; 100mL de dH2O), permanecendo nesta solução por, no máximo, 24 horas. Em seguida, o gel foi dessecado entre duas folhas de papel celofane em suporte de vidro. 3.3. Extração de RNA viral das fezes e RT-PCR 3.3.1. Extração de RNA viral A maior dificuldade no processo de extração de RNA é evitar a ação de ribonucleases (RNases). Estas enzimas são muito estáveis e não requerem cofatores para suas atividades. Por isso, todo material usado deve ser esterilizado e livre de RNases, bem como o uso de luvas é imprescindível para que a contaminação por microrganismos (que podem funcionar como fontes de RNases) seja evitada (ROLFS et al.,1992). Em tubo eppendorf contendo 400µL de isotiocianato de guanidina (GITC) 4M foram adicionados cerca de 10% de fezes (p/v), sendo a mistura homogeneizada em agitador de tubos (modelo AAP 56- Phoenix) por pelo menos dois minutos e em seguida centrifugada (Biofuge Haemo- Heraeus Instruments) a 9000 x g durante 15 minutos. O sobrenadante clarificado foi transferido para outro tubo e igual volume de fenol-clorofórmio foi adicionado, sendo a mistura homogeneizada e centrifugada a 10000 x g durante 5 minutos. O sobrenadante foi transferido para outro tubo e igual volume de Clorofórmio foi adicionado, sendo a mistura homogeneizada e centrifugada a 10000 x g durante 1 minuto. A fase aquosa foi separada em outro tubo e NaCl 5M foi adicionado, de modo que a concentração final alcançada fosse de 0,2M. Feito isto, dois volumes de etanol P.A., previamente estocado a –20oC, foram adicionados e a mistura homogeneizada e incubada “overnight” a –20oC. 17 Após a incubação, a mistura foi centrifugada (Micro Table Top Refrigerated Centrifuge CR 15T- Hitachi) a 6500 x g durante 20 minutos a 4oC e o sobrenadante desprezado. Ao sedimento foi adicionado 1mL de etanol a 75%, previamente acondicionado a –20oC, sendo a mistura homogeneizada e centrifugada a 6500 x g e 4oC durante 20 minutos. O sobrenadante foi desprezado e o sedimento seco em forno de hibridização (Fisher Scientific Isotemp) a 37oC. Em seguida 400 µL de água de milliQ estéril foram adicionados ao sedimento e a mistura homogeneizada. Um volume de 50 µL de hidroxiapatita foi adicionado ao tubo e a mistura homogeneizada durante 30 minutos em homogeneizador de sangue Phoenix, modelo AP22. Em seguida, a mistura foi centrifugada a 6000 x g durante 1 minuto e 1mL de solução KP 10 mM foi adicionado. A mistura foi, então, homogeneizada, durante, pelo menos, um minuto e centrifugada, em seguida, a 6000 x g rapidamente (1 minuto). Em seguida, o sobrenadante foi descartado e 200 µL de solução KP 200 mM adicionados. Esta mistura foi então homogeneizada, incubada em forno de hibridização a 37OC durante 10 minutos e centrifugada rapidamente a 6000 x g (1 minuto), sendo o sobrenadante transferido para outro tubo (tubo1). Ao tubo contendo a hidroxiapatita precipitada foram adicionados 200µL de solução KP 200 mM e a mistura homogeneizada, incubada a 37oC durante 10 minutos e rapidamente centrifugada, sendo o sobrenadante adicionado ao tubo que já continha igual volume de sobrenadante (tubo1), perfazendo um volume final de 400 µL de solução. Ao volume final de 400µL foram adicionados 65µL de hexadeciltrimetilbrometo de amônio (CTAB) 5%, 40 µL de NaCl 5 M e 40 µL de EDTA 0,5 M. A mistura foi homogeneizada, incubada em banho-maria a 56oC durante 30 minutos e centrifugada a 10000 x g durante 5 minutos, sendo o sobrenadante desprezado em seguida. Ao sedimento foram adicionados 400 µL de água de milliQ estéril e a mistura foi homogeneizada por pelo menos 2 minutos. O volume de 40 µL de NaCl 5M e 1 mL de Etanol P.A. gelado foi adicionado à suspensão, sendo a mesma incubada a – 20oC “overnight”. Após incubação, a suspensão foi centrifugada a 10000 x g, durante 10 minutos e o sobrenadante desprezado. Este procedimento foi realizado novamente, 18 sendo, por fim, o sedimento seco em forno de hibridização a 37oC e adicionado de 40 µL de água de milliQ estéril, sob forte agitação. 3.3.2. Preparo das amostras e RT-PCR (1a.amplificação) Em fluxo laminar (modelo FLV-Trox), eppendorfs foram adicionados de 1,5 µL de dimetilsulfóxido (DMSO) e 4 µL de cada amostra de dsRNA, previamente extraídas. Cada tubo foi incubado em banho-seco a 94OC durante 3 minutos e imediatamente repousado em banho de gelo. 3.3.2.1. RT-PCR baseada na especificidade de VP7 (genotipo G) Em tubo eppendorf foi preparada uma mistura de reação padrão (Mastermix), conforme preconizado por GOUVEA et al. (1990), com as seguintes modificações: 17 µL de água de milliQ estéril; 0,75 µL de MgCl2 50 mM (Gibco-BRL); 2,5 µL de 10X PCR Buffer sem Mg ++ (Gibco-BRL); 0,5 µL dNTP 10 mM; Primer G (gene 9, Beg9-End9); 0,1 µL de RT-AMV (Promega) e 0,25 µL de Platinum-Taq Polimerase (Gibco-BRL). O volume de 20,5 µL da reação padrão foi adicionado a cada tubo mantido em banho de gelo, sendo a mistura homogeneizada e colocada em termociclador (Gene Amp PCR System 2400- Applied Biosystems). A amplificação em PCR a partir de dsRNA (primeira amplificação) foi realizada segundo a metodologia descrita por Gouvea et al. (1990) com modificações: incubação inicial durante 50 minutos a 45oC; ativação de PT-Taq durante 2 minutos a 94oC, seguida por 35 ciclos de PCR com temperatura e tempo de desnaturação, anelamento e extensão iguais, respectivamente a 94oC por 30 segundos, 45oC por 60 segundos e 70oC durante 90 segundos, seguida de uma incubação final de 70oC durante 7 minutos e outra de 25oC. 3.3.2.2. RT-PCR baseada na especificidade de VP4 (genotipo P) O procedimento realizado foi o mesmo descrito anteriormente, exceto pelo primer que, neste caso, correspondeu ao segmento do gene 4 (Con2-Con3). 19 3.3.3.Tipagem através de PCR a partir de cDNA (2a amplificação) A tipagem (PCR-Typing) foi realizada a partir do dsDNA obtido com a 1a amplificação, conforme descrito por GOUVEA et al. (1990), com algumas modificações. 3.3.3.1. Tipagem através de PCR para VP7 Duas soluções foram preparadas do mesmo modo, variando apenas no conjunto de primers empregados. Um conjunto continha primers tipo-específico para tipos G humanos (G/H), enquanto que o outro era composto de primers G animal (G/A). Nos dois casos foram adicionados 18,38 µL de H2O de milliQ estéril; 1,75 µL de DMSO (Sigma); 2,5µL de Thermophilic DNA Polymerase 10XPCR Buffer minus Mg++ (Gibco-BRL); 7,5 µL de MgCl2 25 mM (Promega); 0,5 µL de dNTP; 0,125 µL de Taq DNA Polymerase Storage in Buffer A (Promega). Em seguida, 0,25 µL do pool de G/H foram adicionados em um dos tubos e a mesma quantidade de pool de G/A adicionada ao outro tubo. 3.3.3.2. Tipagem através de PCR para VP4 Para genotipar os produtos da RT-PCR com base na especificidade de VP4, foi realizado o mesmo procedimento descrito anteriormente, sendo utilizados pool de primers P humano (P/H) e animal (P/A). 3.3.3.3. Adição de cDNA e PCR O produto da primeira amplificação foi adicionado aos tubos contendo as reações com misturas de primers específicos para os tipos G predominantemente encontrado em humanos (G/H) e em animais (G/A), ou para os tipos P encontrados em humanos (P/H) e em animais (P/A). Em seguida, as amostras foram submetidas ao termociclador para 30 ciclos de 94oC durante 30 segundos, 50oC durante 50 segundos e 72oC durante 60 segundos, com períodos de incubação inicial de 94oC durante 60 segundos e final de 72oC durante 7 minutos e 25oC. 20 3.3.4. Eletroforese em gel de agarose Os produtos de PCR podem ser visualizados em gel de agarose corado com Brometo de Etídio (EtBr) em baixas concentrações. O EtBr é um corante que se intercala entre as fitas de dupla hélice de DNA e, como é altamente mutagênico, deve ser manuseado com luvas e extremo cuidado (SAMBROOK et al.,1989). Um volume de 8µL de cada amostra amplificada anteriormente foi adicionado de 2 µL de tampão “loading” concentrado 6x (0,25% de azul de bromofenol e 40% de sacarose (p/v) diluída em dH2O) e aplicado no gel de agarose 0,6% contendo EtBr (5µL/100mL). Em poços adjacentes foram aplicados 8 µL de marcador de peso molecular (100bp) como controle. A corrida eletroforética foi realizada em meio contendo solução tampão TrisAcetato-EDTA (TAE: 48,4 g Tris-Base; 11,42 mL Ácido Acético; 20 mL EDTA; pH8,0) e com voltagem de 100 volts até que o azul de bromofenol tivesse percorrido 2/3 do gel. Depois da eletroforese, o gel foi observado em transiluminador com luz ultravioleta e posterior à leitura das bandas fluorescentes, o gel foi fotografado com câmera digital e filtro especial, sendo congelado em seguida. 3.4. Isolamento de rotavírus em células MA-104 3.4.1. Cultura de células As monocamadas de células foram preparadas conforme descrito por RÁCZ et al. (1993), com modificações. Células de rim de macaco rhesus (linhagem Ma-104) foram cultivadas em tubos de ensaios (13 x 100mm) na presença de meio mínimo essencial de Eagle (MEM-Eagle) suplementado com 10% de soro fetal bovino (SFB) penicilina, estreptomicina, fungizona e glutamina. O meio de manutenção das células foi o mesmo, exceto pela ausência de SFB. 21 3.4.2. Tratamento das fezes Foram adicionados 100 µL de MEM em eppendorfs e quantidade de fezes suficientes para obtenção de uma suspensão a 10%. A mistura foi homogeneizada em agitador de tubos e centrifugada a 10000 x g durante 15 minutos a uma temperatura de 4oC. O líquido clarificado (sobrenadante) foi transferido para um novo tubo e adicionado de 100 µL de Freon, sendo homogeneizado e centrifugado a 10000 x g, durante 3 minutos a 4oC. A fase aquosa foi, então, transferida para novo tubo e adicionada de 150 µL de MEM contendo uma quantidade cinco vezes maior que o normal de Penicilina, Estreptomicina, Fungizona e Tripsina, sendo a mistura incubada em banho-maria a 37oC, durante no mínimo uma hora. Um tubo contendo apenas MEM concentrado e suplementado foi incubado juntamente com as amostras, servindo de controle de tripsina (CT). 3.4.3. Inoculação Antes de receberem o inóculo (rotavírus), as células foram lavadas duas vezes com solução de Hank’s e incubadas em estufa a 37oC durante, no mínimo, uma hora entre cada lavagem. A solução de Hank’s da segunda lavagem deve ser desprezada antes da adição de 1 mL de MEM. Cada inóculo (200µL de solução total) foi dividido para dois tubos contendo as monocamadas celulares previamente lavadas e incubadas, Um dos tubos de cada amostra foi submetido à incubação em estufa a 37oC, enquanto que o outro foi incubado à mesma temperatura, entretanto em “roller”. As culturas foram diariamente observadas em microscópio invertido, quanto à presença ou não de efeito citopático (CPE). Uma semana após a inoculação, os tubos foram congelados e descongelados por duas vezes, com a finalidade de otimizar a liberação viral através da lise celular. 22 Tripsina T-USO foi diluída em 1:10 em meio MEM, sendo 20 µL desta solução transferidos para tubos que receberam 200 µL de inóculos e foram incubados a 37oC durante 30 minutos, para promover a ativação do vírus. Novos tubos contendo monocamadas celulares foram lavados como descrito anteriormente e adicionados de 1 mL de MEM, sendo o vírus ativado inoculado nestes tubos e novamente incubados a 37oC em estufa e em “roller”. Esta etapa consiste na primeira passagem (P1). Pretende-se, ao final da 5a passagem (P5), testar as amostras quanto à presença de RV através de PAGE. 23 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO As granjas visitadas caracterizaram-se por apresentarem diferentes padrões tecnológicos, variando da produção rústica (38 granjas) à tecnificada (11 granjas), estas últimas com restrição de entrada de pessoas estranhas. Das 38 granjas de produção rústica, 17 não possuíam qualquer tipo de manejo voltado a um aumento de produtividade ou prevenção de doenças. Nestas granjas as condições de criação foram consideradas extremamente precárias, inclusive pelo fato dos animais não receberem qualquer tipo de tratamento contra bacterioses, parasitoses ou viroses. Conseqüentemente, o índice de produtividade e sanidade eram baixos. 4.1. SDS - PAGE Para verificar a presença de rotavírus em fezes de leitões criados nas microrregiões citadas na Tabela 1, foi utilizado o PAGE, considerado um método sensível e amplamente utilizado em estudos epidemiológicos de rotavírus (DANIEL et al., 1996). Das 226 amostras de fezes de leitões examinadas, quatro (1,77%) foram positivas para rotavírus. Do total de amostras testadas, 53 (23,45%) foram classificadas como diarréicas, 101 (44,69%) como pastosas e 72 (31,86%) foram classificadas como firmes. 24 Durante o período de colheita, foram visitadas 49 propriedades, sendo que em 27 propriedades não foram observados casos de diarréias entre leitões no dia da visita. Das amostras positivas para rotavírus (n=4), duas eram diarréicas (amostras 204 e 211) e duas eram pastosas (amostras 79 e 179) no momento da colheita. Com exceção da amostra de número 79 (colhida no mês de junho de 2002), as demais amostras foram colhidas durante o mês de janeiro de 2003, após longos períodos de chuva. Este resultado difere do padrão sazonal de distribuição que o vírus assume na região Sudeste do Brasil, segundo dados de Cardoso et al. (1992) citados por LINHARES, 2000 e os achados de PEREIRA et al. (1993), onde infecções causadas por rotavírus podem ocorrer de modo endêmico em todo o país. Na faixa etária de 0 a 15 dias, foram testadas 94 amostras, sendo duas positivas para rotavírus (amostras 79 e 204), enquanto que entre as 88 amostras testadas de animais com idade entre 16 e 30 dias, duas foram positivas para rotavírus (amostras 179 e 211). A Figura 1 mostra a distribuição total das amostras colhidas de acordo com a faixa etária dos animais e a ocorrência de diarréia segundo o mesmo parâmetro. 25 Figura 1: Distribuição das amostras colhidas de acordo com a faixa etária dos animais (A) e da ocorrência de diarréia entre as faixas representadas (B). Ainda que o número de amostras positivas tenha sido baixo em relação a dados da literatura, o fato de duas amostras positivas terem apresentado consistência pastosa (amostras 79 e 179) e não diarréica reforça a importância de se pesquisar a presença de rotavírus, também neste tipo de fezes. As amostras positivas para rotavírus, de acordo com PAGE, apresentaram os 11 segmentos de dsRNA, distribuídos de acordo com o padrão 4-2-3-2, característico do grupo A. Entretanto, a amostra de número 179 apresentou uma banda extra entre os segmentos 3 e 4 após coloração do gel (Figura 2). 26 79 179 204 211 K8 Figura 2: Análise de PAGE das amostras fecais de suínos sendo K8 o controle positivo. 4.2. Caracterização através de PCR Após identificação através do PAGE, as amostras positivas foram submetidas à caracterização genotípica através de RT-PCR. O resultado é mostrado na Tabela 3. Tabela 3: Caracterização dos rotavírus através de PCR das amostras positivas por PAGE. Amostra de fezes 79 179 204 211 Consistência das fezes pastosas pastosas líquidas líquidas Idade dos animais 9 dias 21 dias 9 dias 21 dias Caracterização por PCR G3P[7] G1-G5P[7] G5P[7] G5P[1] A amostra caracterizada como G1-G5 foi a mesma que apresentou uma banda extra de dsRNA revelada através do PAGE. O tipo G5 de rotavírus em sido descrito em vários países, tais como, Colômbia (SOLARTE et al., 1999), Estados Unidos (ROSEN et al., 1994), Venezuela e Argentina (Ciarlet et al., 1995 citados por PONGSUWAANA et al.,1996), sendo 27 predominantemente de suínos. No Brasil, G5 aparece relacionado a infecções em humanos e suínos, reforçando a hipótese de que o reagrupamento genômico interespécies ocorra naturalmente (GOUVEA e BRANDTLY, 1995). O sorotipo G1 é caracteristicamente humano, apresentando-se amplamente distribuído em todo o mundo, mas também já foi descrito em suínos no Brasil (SANTOS et al., 1999). A mistura G1-G5 foi também observada por SANTOS et al. (1999) em um estudo desenvolvido no Brasil com amostras provenientes do Paraná, onde, de 10 amostras analisadas, uma demonstrou o caso de infecção mista em suínos, entretanto, não foi possível relacionar o surgimento de banda extra a um padrão eletroforético diferente de 4-2-3-2 observado no grupo A de rotavírus. O sorotipo G3 também foi descrito para rotavírus suínos, sendo antigenicamente relacionado ao mesmo sorotipo humano. O tipo P[7], encontrado em três das quatro amostras positivas (79, 204 e 211), já havia sido identificado na linhagem OSU de rotavírus suíno, bem como o tipo P[1], identificado em linhagens NCDV (Neonatal Calf Diarrhoea Vírus) de bovinos (Estes e Cohen, 1989, Negesha et al., 1993, Rosen et al., 1992, citados por GOUVEA et al., 1994 b). Informações relacionadas à diversidade sorotípica e prevalência de rotavírus em suínos têm relação direta com a eficiência no desenvolvimento de novas vacinas (ROSEN et al., 1994), já que linhagens distintas do vírus comportam-se de diferentes maneiras em vários locais do mundo, induzindo, assim, diferentes respostas no sistema imune do hospedeiro. O fato de apenas quatro amostras de 226 terem sido positivas para RV, sendo duas diarréicas, pode ser explicado por três motivos básicos: o Provavelmente, no momento da colheita, em casos onde os rotavírus pudessem estar presentes, a excreção viral máxima não tenha sido alcançada, ou seja, o animal poderia ter eliminado o vírus antes ou vir a eliminá-lo depois da obtenção das amostras. Como o pico de liberação viral máxima ocorre 3 a 4 dias após o início dos sinais clínicos (MASCARENHAS, 1999), o momento da colheita torna-se um fator importante para detecção dos rotavírus. o O fato de diarréias serem relativamente comuns entre leitões faz com que muitos produtores não notifiquem seu aparecimento, a menos que 28 muitos animais venham a óbito, os gastos com tratamento veterinário sejam altos ou que o retardo no crescimento do animal seja acentuado (SOLARTE et al., 1999), o que termina por comprometer os estudos relacionados à ecobiologia do vírus. 4.3. Cultivo celular O efeito citopático (CPE) do vírus sobre as células MA-104 não foi observado, entretanto, passagens cegas têm sido realizadas objetivando este fim. A dificuldade observada neste trabalho, em relação à propagação dos rotavírus em cultura de células, encontra-se em acordo com resultados de alguns autores que relatam o sucesso na adaptação e propagação do vírus após, pelo menos, três passagens cegas (SESTÁK e MUSILOVÁ, 1994; THEIL et al., 1978; RAMOS, 1996). 29 5. CONCLUSÕES O pequeno número de amostras positivas para rotavírus não diminui a importância de se estudar a presença deste agente como causador de gastroenterite entre animais de produção. A aplicação de técnicas de Biologia Molecular como diagnóstico para rotavírus provou ser de grande utilidade, pois viabilizou a determinação de diferentes genotipos G e P circulantes entre a população estudada. 30 6. RECOMENDAÇÕES A continuidade dos estudos, não somente nas microrregiões citadas neste trabalho, é essencial para o conhecimento da epidemiologia dos rotavírus entre suínos e outras espécies, de modo a identificar os sorotipos circulantes e detectar a introdução de novos sorotipos. A faixa etária compreendida até 30 dias é a de eleição para a colheita de espécime fecal visando à detecção de rotavírus. A colheita de fezes consideradas normais (sejam de consistência pastosa ou firme) não deve ser descartada, uma vez que, de acordo com resultados encontrados neste trabalho, das quatro amostras positivas para rotavírus, duas apresentavam consistência pastosa (que pode ser considerada normal de acordo com a alimentação do animal). 31 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, E.F., FIGUEIREDO, H.C.P., GARCIA, A.M., LOBATO, Z.I.P., LAGE, A.P. (1998) Rotavírus do grupo A em bezerros lactentes no Estado de Minas Gerais. Ciência Rural, Santa Maria, 28 (3): 435-439. 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