CASOS PROBLEMATICOS PARA UNA TIPOLOGIA VERBAL NOCIONAL MISTA:EVIDENCIA DOS CONTEXTOS LINGuiSTICO E PRAGMATICO Anilce Maria Simoes e Mauricio Dr! to de Carvalho Faculdade de Letras/UFNG. Em Carvalho fica~ao noclonal tabelecemos Simoes(1990), tradlclonal sete categorias categorizagao pllcamos & semantica essas mesmas dos predicados distintas texto. Neste de trabalho extraldos observamos mente aeeitos. e eonstatamos Veremos que m~smo do a necessidade roistas, para ex- tals categorias no rols outros lingUlstlco e pragm~ erttlco dos postulados anterio£ como nossa analise refor9a a hipotese 11ngUistico de coloca~ao r.ais. simples ou m1stas. e pragmatico de qualquer ds lingua. Alem d1sso, veremos tentativa exemplos dos verbos, no seu uso que os contextos zados quando da postulagao qualquer a diversos tambem de ~aira. a urn re-exame de que os.contextos A seguir, a- para dar conta de uma serie de Vamos mostrar tieo nos obrigam es- para dar conta da sub- sete categorias significa~ao tas nao sac adequadas exemplos do portugues, um~ serie de sUb-categoriza~oes plicar as nuanc~~ de uma elassi- dos verbos portugueses. romance Mairs, de Darcy Ribeiro, de postular partindo que 0 devem ser prior1- sUbeategor~za~ao uso metaforico dos verbos em classes verbal sub~erte nocio- (II) AS DUAS SUBCATEGORIZAC;OES SIMOES E CARVALHO Em Simoes ce Malra, nocional (1990) e Carvalho(1990), de Darcy Ribeiro, precisa VERBAlS DE ao examinarmos 0 roman- vimos que, para a caracterizacao de alguns verbos do texto, devertamos lar, alem de categorias verbais nocionais co categorias mistas, listadas em (1) e exemplifie~ nocionais simples, postu- tambem ci~ cadas em (2): (l )a. verbos de aeao/estado; b. verbos de acao/processo; c. verbos de acao/eogni9ao; d. verbos de ac;ao/percepc;ao sensorial; e. verbos de processo/estado. (2)a. "Fica urn minuto de pe diante do aroe." b. "... mas so aeordara c. "Anaea deeldlu de madrugada ••• que nesta n01 te •.• d. "Anaca olha em torno, demo ran do e. "Anaca esta sepultado. necessario 0 reconheoimento do para sa deserever II olhar .•." Logo morrera." de mais de uma matiz de significa- cada urn deles. (III) CASOS PROBLEMATICOS NOCIONAL 0 II PARA A ANALISE PROPOSTA. Vejamos, primeiramente, coes nas quais ocorrem verbos mais alguns exemplos de acao: de ora- (3)a. 0 torcedor b. Ela pedlu gritava para animar seu time. inrorma~ao ao chefe. e. Ela ferlu a ladrao com a rac~. d. Ele marcou nosso lugar. Os verbos subllnhados za~ao nocional em (3), aelma. encaixam-se proposta anterlormente. asaim sendo. os sujeltos superficials na caracteri Sao verbos de a9ao e, de (3.a-d) sao os agen- tes das ora90es. A situa~ao. mas analisar no entanto, se complica, quando tenta- estes mesmos verbos que aparecem em (3) em outro contexto lingUistico em (4), tiradas e pragmatico. Vejamos as urn oraGoes de Maira: E (4)a. urn zumbido de abelha apenas perceptivel,mas que grita no ailencio desta noite. b. Eles tambem sabem que aquele zumbido de abelha do macara pede silencio. c. Os homens •.. se revezam, abrlndo ... a cava de Anaca. Trabalham endureclda ponta a fogo, que ressoam ao ferir terra, marcando Os mesmos verbos devagar. com paus de que em (3) sao, indubl tavelmente. inst.a.ncias de verbos de a9Bo aparecern em (4) com urna carga nocional pletarnente dlstinta. pensar que 0 Em (4.a), por exemplo. corn- sera inapropriado verba grltar que all esta possa ser urn verbo de agao: a oragao ta noite" nao fo1 realizada. e da eituagao a um ritmo lugubre. "urn zurnbido de abelha .•• grita no silencio e entendida como indicando que uma ag80 qualquer 0 conhecimento objetiva torna impossivel de.:! do texto (-contexto (-contexto tal classifica9ao pragmatico) lingUistico) aendo deacrita para "gr1tar" em (4.a).T1.- picamente. urn verba de aqao ocorre com sujeito agente, pressupoe, a nO$$O ver, voll~ao. "grita" e "urn zumbido Ora, em (4.a) 0 sujelto de abelha" (do maracazinho). e o uso de tal verbo na oraqao citada subverte a taxonomia Veja-se ana11sado dentro do contexte ventes. E momento sua 1ntenGao um momenta lenc10 dos vivos e 0 "um zumbido no 6ilenc10 Na verdade, e, como tal. de (4.a) so faz sent1do malar em que se insere. Estamos, em que 0 Tuxaua Anaca, dep01s de morrer, despede-se dos mairuns de vi- de tensao, de espera, marc ado pelo 51- e pelo som do maraca. 0 ruido do instrumento de abelha", assim, constante. ininterrupto. total da noite e do respeito dos mairuns e ele grita. 0 fata de que grlta questao. metaforico. de proposta. que todo 0 periodo no texto, v1vendo comunicar semantlca que 0 tambem da mais forGa a intransitivo, Mas calados, na exemplo em ideia. uma vez que nao ha um objeto para 0 qual a aqao se deslocaria. Em relaGao considerar, zumbldo a aI, 0 verbo oraqao (4.b) tambem nao pensarlamos pedlr como de aGao, ja que de abelha ••• pede s1lenc10" lingUlstico da ora~ao sendo investigada. 0 efeito literario autor consegue nificamente contrariando ao construir a expectativa "zumbicio de abelha do macara" analise lingUlsttca as 1mplicacoes nao passa efet1vamente pura e simples, do contexto, construcoes texto em que 0 verba especial. de urn verbo leva a resultados maiores ao menos explicar, eata oracao. mag- do leitor de que algo, e que torna 0 texto de Darcy Ribeiro vez a usa metaforlco mais, para fa- correta 0 Uma vez e pragmatico zer uma analise que "aquele nada tern a ver com 0 mes- mo pedir que em (4.b) ~oi assim classi~icado. cumpre invocar os contextos em ped1r Mais uma novos. A sem levar em cons1deraQ30 nao consegue abranger. como essas. Considerando roi empregado urn (seus argumentos, os 0 nem con- com- plementos da frase, etc.> e a sltua~ao sendo tratada no tex- to (aqui especificamente do mundo dos vivos) a cerlmonla nao e possive1 bo pedlr a categorlza9ao (4.c) exemp11fiea rir e marcar, tradieiona1. nas quais spareeem ambos tambem tipieamente rem em eontexto totalrnente atlpieo: cida ••• que ferem a terra, marcando eVldentemente, qualquer dieados que apareeem o daquela Anaca semelhan~a F1nalmente os verbos , fe- de a980 e que a1 oeor os "paus de pont a endureurn ri tmo 1ugubretl noeional nao tern, com os mesmos pr~ em (3.c) e (3.d). Em outras palavras."f'~ rir a terra" e "mar-car urn r1tmo" estao empregados d1terente de ap11car 'a analise do ver- semantica ora90es de desped1da esperada, exame dos eontextos canon1camente, I1ngUistlco de forma bem desses predlcados. e pragmat1co nos leva a de~ cobrlr uma nova ordem de c01sas; ordem eSSB que a analise noclonal r1g1da nao consegue justamente explicar a1 resida a novidade sao das expectativas, cursos 11ngUistiCOs Veja-se da obra 1iteraria: na subver- no lrnprevisivel, no uso lncomum de re- conhecidos. que gua oral coloquial. ferir tipicamente satisfatoriarnente, Talvez , 0 Em seu lugar usamos machucar. tern sUjeito anlmado Al~m disso, (humano au nao) e ha re~ trl~oes quanto ao seu objeto. Voce pode ferlr-se, parte do seu corpo, . verbo terir nao e muito comum em lin- ferir a1guma ferir um anlmai. Ou voce pade ferir os sen Alnda em rela<;ao a (4.c). urn aspecto sern dUvida. contexto. analise Quando Anaca" 0 "ritmo lugubre". detalhada 0 papel do rltmopaetlco 0 leitor. pelo uso do gerundlo. transmltldo paus de ponta endureclda POl' uma linguagem a rogo. que ressoam. urn ri tmo lugubre". Ha se pode realmente e marcado, tral. com sentiI' 0 0 ao ferir a ter- _ A t"orr;;a poetiea "ritmo lugubre" 0 de se preparar o autor desereve ritmica. poetl- •• fechaClas em "lugubre". a cova de Anaca. ritual do enterro uso de recursos para 0 as vogals nasais. he. as vo- I gals no "os homens ••• se revezam ••, abrlndo a cova de autor prepara ra. marcando e que merecerla. e tao grande. que com que 0 0 ritual Tuxaua da tribo. de Anaea de forma magis- ling6~sticos simples. mas de gr~ de efelto podtico. A questao que se poe, entao. e a seguinte: se as 0- ra<;oes em (4) nao eontem verbos de a<;ao. que tipo de verbos elas contem? Podertamos esperar que essas oragoes pertences- sem a uma das categorias mistas exemplificadas teee, porem. que aquelas categorias valores nocionais das ora~oes plo. vemos que "urn zumbido e acao/estado. sensorial ou prooesso/estado. em nenhuma propostas. 0 mesmo ocorre bOB ped1r, e ~erlr tambem nao retratam em (4). Tomando os (4,a) como ex em de abelha .•• grita no silenc1o"nao aqao/proceSBo, se encaixa em (3). Acon- agao/cogn1qao, Parece. das categorias &gao/percep<;ao portanto, noeionais que (4,a) nao anteriormente em relacao a (4.b) e (4.0): os ver- e marcar, como eatao sendo usados naqueles A l1nguagem adiciona inesperadas noc10nal classico. l1teraria. complicaQoes e hipotese de que, para de rnetafora, estabelecer simples ou rnistas, nao ra vai alem das caracteriza90es tanques. Nao para urnrnodelo lingUistico a Isso nos leva analise de construQoes cionais rigidas. com seu ernprego metaforico. possivel semanticas trabalhar sern coloca-lo no contexto. bem ordenada e generalizada e ° verbo e tudos lingUisticos. descontextualizada categor1as no adequado. A metafotradicionais, Alern disso, pretender urna analise para a metafora pode nao de primordial que conse- 0 estudo lrnportancia para os e~ Enquanto persistirmos em urna categoriza9ao nao lograremos analises verdadeiramente o romance Maira apresenta farta exemplificaQao verbos usados atipicamente crenQa de que qualquer conta os contextos es- de forma iaolada , De tudo lsta se conclui. nitidamente, de lingua em contexto a a riqueza expressiva de em contextos atipicos. analise lingUistica lingUlstlco dados sob investigaQao a- tern de levar e pragmatico, nos quais se encontrarn. Acreditamos em os tambem que da linguagem literar1a subverte a rigi- dez de sUbcategoriza~ao proposta com base na lingaugem nao- literaria. SIMOES, A.M. & CARVALHO, M.B.de. Para Urna nova tipologia ver- bal:evidencia ENCONTRO da linguagem oral literaria. In.:A~AIS DO II NACIONAL DO GEL-ES. JfES. V1tbria,ES.1990.(a sair)