Edição 20 l ano 5 l R$ 54,00 www.revistamelhorespraticas.com.br OPINE PRÓS E CONTRAS DO PLANO DE SAÚDE POPULAR ENVOLVA MELHORES PRÁTICAS EM SAÚDE, QUALIDADE E ACREDITAÇÃO • REVISTAMELHORESPRATICAS.COM.BR A CONTRIBUIÇÃO DO CONSELHO CONSULTIVO DE PACIENTES MENOS É MAIS ANO 05 • NÚMERO 20 O que traz real valor para a saúde do paciente? EVASÃO E PERDAS Reduza desperdícios com o enxoval FALSAS CERTEZAS Mitos e verdades sobre o processo de acreditação NOVO PROTOCOLO Identificação precoce de instabilidade clínica A D’Or Consultoria é especialista em seguros e benefícios. Uma empresa associada à Rede D’Or São Luiz, maior grupo hospitalar do país. Nossa missão é auxiliar nossos mais de duzentos clientes na contratação, manutenção e renovação dos benefícios. É com orgulho que anunciamos a marca de 1 milhão de vidas administradas em pouco mais de dois anos de operação. A SAÚDE DOS SEUS COLABORADORES NÃO PRECISA COMPROMETER AS FINANÇAS DA SUA EMPRESA Acesse dorconsultoria.com.br e saiba mais | Editorial | PODE SER FEITO A A campanha Choosing Wisely, tema de capa dessa edição, estimula a revisão periódica das práticas diagnósticas e terapêuticas em uso, confrontando-as com novas evidências científicas para eliminar o que não traz valor para o paciente. Outra matéria conta como o Conselho Nacional de Justiça tira do papel estratégias para reduzir a judicialização na saúde, e na seção Entrevista, Dov Seidman defende que somente o propósito é capaz de engajar verdadeiramente um colaborador. São três tentativas de se fazer frente às incontáveis dificuldades para se criar um sistema de saúde mais sustentável e seguro. O olhar superficial pode levar a pensar que esses são assuntos ainda distantes do dia a dia dos hospitais. Nada poderia estar mais errado. É claro que o paciente ainda precisa ser educado a esperar por menos pedidos de exames em sua consulta, a usar de forma racional os recursos e não esperar um sistema paternalista de saúde para sempre. O mesmo vale para médicos, demais profissionais e gestores. Entretanto, uma nova onda de reflexão está tomando conta da sociedade, e é nesse ponto que discussões como as citadas contribuem. Para os que preferem o ceticismo, Jeffrey Braithwaite, autoridade mundial em segurança do paciente, em sua apresentação no Seminário Internacional de Segurança do Paciente eAcreditação em Saúde, organizado pela ONA com a parceria da Melhores Práticas, disse: “O mais extraordinário no cuidado da saúde não é a produção de eventos adversos em 10% dos casos, mas que 90% dos casos vão bem. Infelizmente, passamos os últimos 20 anos preocupados apenas com os 10%”. Em outras palavras, as soluções surgem a partir do foco naquilo que é benfeito. E esse é, mais uma vez, o alvo das matérias que selecionamos para você. Que possamos ser resilientes, olhar para o futuro e crer que é possível fazer ainda melhor. Esse é o desejo da nossa equipe para 2017. Gilmara Espino ENFRENTANDO DESAFIOS JUNTOS COM UMA ÚNICA VISÃO. STERIS oferece alta qualidade e tecnologia, aliadas a soluções e serviços integrados para tornar o seu CME um departamento de alta performance e produtividade. Um parceiro. Uma solução. Uma proposta integrada nos cuidados de saúde. Sócia-diretora da GPeS Gestão de Projetos em Saúde 4 Melh res Práticas STERIS América Latina Avenida Bem Te Vi, 77 - 3º andar, Moema CEP 04524-030 - SP - BRASIL +55 (11) 3372-9494 www.sterislatam.com INSTITUIÇÕES ACREDITADAS consultadas nesta edição Ano 5 | Número 20 | Dez/Jan/Fev/Mar 2017 Diretores da GPeS Alberto Ribeiro [email protected] Gilmara Espino [email protected] Conselho editorial José Roberto Guersola, vice-presidente da Rede D’Or São Luiz Andréa Righi, gerente de certificação da Organização Nacional de Acreditação (ONA) Rubens Covello, presidente do IQG Health Services Accreditation Núcleo de Apoio Técnico Maria Carolina, surveyor da ISQua Maria Magalhães, gerente da Qualidade e Segurança do Paciente das Instituições Afiliadas SPDM Renata Michele Macedo, gerente administrativa do Hospital Vila da Serra Redação Editora: Gilmara Espino Editor-assistente: Felipe César Santos [email protected] Design gráfico e diagramação Cauê Cremonini - D'Or Consultoria [email protected] Colaboradores Daniela Dias, Felipe César, Mauricio Barreira (Reportagem); Tamara Espino (Apoio e pesquisa); Rita de Cássia Calegari (estudo apresentado em Pesquisa); Adriana Freitas, Angela Zerbielli, Darciane Buso e Marivaldo Freitas (Editoria Patrocinada); Denise Ramos, Eliana Guglielmoni, Fernanda Borin, Marcos Hume e Pedro Lopes Ribeiro (Opinião); Carlos Figueiredo (Indico); Camila Lajolo (Indico Artigos); Alberto José N. Ogata (Saúde em um Clic) página 50 Hospital Bandeirantes São Paulo - SP página 72 Hospital Bartira Santo André - SP página 50 Hospital do Coração - HCor São Paulo - SP página 46 Revisão Cecilia Farias Publicidade Fabiana Dezan (11) 98206-0796 [email protected] Leandro Premoli (11) 95138-1615 [email protected] Assinaturas Tatiana Aguiar (11) 4119-2393 [email protected] Periodicidade Tiragem Distribuição Hospital Assunção São Bernardo - SP Hospital Estadual de Diadema Diadema - SP página 63 Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara Fortaleza - CE página 63 Hospital Israelita Albert Einstein São Paulo - SP páginas 20 e 52 Quadrimestral 10.000 exemplares Território nacional Hospital Johns Hopkins Maryland - EUA página 20 A Revista Melhores Práticas não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias que expressam apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios. A distribuição gratuita é limitada. A Anahp se responsabiliza pela distribuição de 1.000 unidades, encartadas com o Boletim Panorama. Política editorial: Zelando pela imparcialidade do conteúdo editorial, os nomes das empresas que fornecem produtos para hospitais não são mencionados nos textos, excetuando-se os casos em que a omissão possa comprometer o entendimento do leitor. Os contatos da empresa entrevistada poderão ser obtidos com a redação da revista. Hospital Márcio Cunha Ipatinga - MG página 20 Hospital Municipal M’Boi Mirim São Paulo - SP página 63 Hospital São Camilo São Paulo - SP página 24 GPeS - Gestão de Projetos em Saúde Rua Dr. Alceu de Campos Rodrigues, 229 - cj 211 Itaim Bibi - São Paulo - SP- CEP 04544-000 Tels. (11) 4119-2393 e (11) 2306.9473 www.revistamelhorespraticas.com.br Apoio Técnico e Editorial Apoio de Distribuição Hospital São Luiz Jabaquara São Paulo - SP página 50 Hospital São Rafael Salvador - BA página 28 Hospital Sírio-Libanês São Paulo - SP página 54 6 Melh res Práticas | Sumário | 28 10 14 Saiba o que é choosing wisely e como esse conceito tem ganhado força na saúde internacional • Lucas Zambon • Luiz Cláudio Correia • Rodrigo Olmos ENTREVISTA Autor do livro How aborda novo conceito de governança e fala sobre o impacto das lideranças nas organizações • Dov Seidman MERCADO Mapeamento da saúde suplementar do NE e os investimentos realizados • Bruno Dias • Flávio Ataliba Barreto • Antonio Carlos Abbatepaolo 14 18 20 24 26 32 8 CHOOSING WISELY 20 24 OPINIÃO Como aplicar a gestão de desempenho nas organizações • Denise Ramos • Eliana Guglielmoni • Fernanda Borin • Marcos Hume ENGAJAMENTO Conselhos de Pacientes ajudam a apontar como melhorar serviços • Adriana Quintela • Rita de Cássia Grotto • Tricia Willis PESQUISA Estudo mostra o que ‘pesa’ na hora de escolher uma instituição de longa permanência PONTO DE VISTA Afinal, plano de saúde popular é uma boa ideia? • José Cechin • Mário Scheffer LOGÍSTICA Indicadores de desempenho logístico para suporte à tomada de decisão • Pedro Lopes Ribeiro Melh res Práticas 34 38 42 46 LEAN Processos eficientes de higienização garantem giro de leito mais ágil e eficaz HOTELARIA Como gerenciar e reduzir desperdícios na gestão do enxoval AVALIAÇÃO Rótulos e mitos que dificultam o trabalho do avaliador • Mara Machado • Maria Carolina Moreno • Rubens Covello ASSISTÊNCIA Projeto Idoso Bem Cuidado da ANS • Bernardete Weber • Martha Oliveira 38 52 54 63 42 • Eudes Canuto • Ivonete Melo • Marcelo Boeger 46 ARQUITETURA Espaço físico planejado é fundamental para o bem-estar dos profissionais • Lara Kaiser JUDICIALIZAÇÃO Iniciativas dos tribunais para a gestão das demandas em saúde • Francisco Donizete Gomes • João Pedro Gebran Neto • Luciana Oliveira PREMIAÇÃO Vencedores do Prêmio Melhores Práticas 2016 |SEÇÕES| 58 PROTOCOLO ASSISTENCIAL Score para identificação precoce de deterioração clínica 68 INDICO Manual de compliance e outras publicações lançadas pela Anahp 69 LIVROS Leitura recomendada para ampliar o conhecimento 70 INDICO ARTIGOS Atualizações em Segurança do Paciente 71 AGENDA Eventos da área da saúde 72 RADAR Os movimentos do mercado mental dos profissionais 74 SAÚDE EM UM CLIC Saúde que atuam em hospitais Melh res Práticas 9 | Entrevista | A CULTURA QUE TRANSFORMA Por Felipe César Dov Seidman N a atual era da informação, todos têm acesso a perfis pessoais e profissionais de quem quer que seja, e no mundo dos negócios não é diferente. A reputação de uma empresa não fica mais debaixo do tapete. A forma como as organizações tratam seus funcionários e clientes não permanece mais disfarçada, tudo é público e notório nos dias de hoje. Há 20 anos, Dov Seidman fundou a LRN, consultoria norte-americana para educação corporativa, justamente com princípios e valores fundamentados na transparência, honestidade e relacionamento. Foi com essa visão que ele escreveu o livro Como - Por que o como fazer algo significa tudo…nos negócios e (e na vida), com o objetivo de motivar uma mudança de cultura organizacional que permite um novo modo de gerir as empresas, com foco na sustentabilidade e no alto desempenho. Nessa entrevista exclusiva, ele fala sobre um novo modelo de governança, o papel do líder em um novo cenário corporativo e a gestão baseada em princípios e valores. O trabalho precisa ter significado para o colaborador, e o cliente deve se identificar com a empresa com a qual se relaciona para fazer negócios. Esses são os novos desafios do novo século. • Fundador e CEO da LRN • Consultor e autor do livro 10 Como - Por que o como fazer algo significa tudo… nos negócios e (na vida) Melh res Práticas • Seidman está na lista dos 60 principais pensadores Globais da última década segundo o The Economic Times, e é considerado “o consultor mais aclamado no mundo corporativo” pela Fortune Magazine Seu livro, COMO, traz conceitos inovadores de governança corporativa e liderança. O que significa exatamente uma gestão baseada em valores? A gestão baseada em valores é mais eficaz do que a gestão com base em normas. Em uma organização apenas governada por regras, as pessoas podem agir de forma errada simplesmente porque não há uma lei específica contra aquilo. As lideranças e as pessoas em geral não sabem o verdadeiro significado da governança baseada em valores. Na verdade, refere-se a ter princípios. Você tem que ser firme, consistente, e até rigoroso em seus princípios, e muito poucos líderes e, portanto, empresas o são. Geralmente, as empresas se concentram somente na necessidade de evitar a violação de leis e políticas internas, essa é a preocupação básica. As empresas que incorporam valores em seu núcleo promovem resultados como inovação, fidelidade dos seus funcionários e desempenho financeiro superior. Esse tipo de liderança ajuda os funcionários a enxergarem uma conexão com a empresa, ter um propósito mais amplo em suas decisões e agirem com princípios. Como uma empresa pode implementar uma governança baseada em valores? Para fazer qualquer coisa em grande escala, você precisa de um sistema. Ninguém cria sistemas melhor do que a empresa: CRM, TQM, ERP, HRIS etc. Precisamos agora do que eu chamo de Sistema Operacional Humano. É um sistema em que a governança que maximiza os interesses comerciais de curto prazo e mede somente "quantos" negócios são feitos é substituída pela governança que leva responsabilidade à sociedade, objetivos de longo prazo, e que mede também como os negócios são feitos. É um sistema em que a cultura de “incentivo e punição”, com regras e políticas que ditam o que as pessoas podem e não podem fazer, é substituída por uma cultura de valores e princípios compartilhados que guiam o que as pessoas devem e não devem fazer. Por que as empresas devem seguir nessa direção? O HOW Report¹ é um dos projetos de estudo de longo prazo mais ambiciosos nos campos de eficácia organizacional, comportamento e liderança. Nós usamos dados de mais de 16.000 funcionários de 17 países. Especificamente os resultados que foram verificados, de forma independente pelo Center for Effective Organizations da University of Southern California, mostraram que as organizações com maiores pontuações em cada aspecto de desempenho (desde níveis de inovação e lealdade dos funcionários até satisfação do cliente e desempenho financeiro) foram aquelas baseadas em valores e inspiradas pelo propósito. O relatório sugere que os líderes que inspiram o comportamento de princípios estão mais preparados para criar resiliência e proporcionar o crescimento no atual mundo hiperconectado e cada vez mais transparente. Para ir do “o que fazemos” para “como fazemos” é preciso mudar a cultura da organização. Poderia falar mais sobre isso? A cultura é o ativo mais diferenciado de uma empresa. A cultura é o que permite às pessoas entrarem em uma jornada juntas, de maneira vigorosa, entusiasmada e, acima de tudo, Melh res Práticas 11 | Entrevista | duradoura. Mas não existe um atalho para criar ou recriar uma cultura corporativa. Criar o tipo certo de cultura exige uma jornada. A característica que define uma jornada é que ela é curvilínea, vai para cima e para baixo. Porém, a empresa insiste na linearidade, usando controle e planejamento de orçamento e análises, e pede constantemente que as pessoas produzam e implementem com base em planos lineares. Dov Seidman defende que estilos de gestão baseados na “obediência cega” e “aquiescência assumida” devem evoluir para a “autogovernança” O livro traz também dois conceitos de difícil implantação nas organizações: confiança e transparência. Como saber quando uma empresa “chegou lá”? A confiança é um catalisador que intensifica o desempenho, une as pessoas e molda a forma do relacionamento. As organizações de alta confiança estimulam a autonomia para que os funcionários possam assumir riscos, o que é necessário para que a verdadeira inovação ocorra. O HOW Report¹ nos mostra que, nas organizações em que os funcionários empregam os mais altos níveis de confiança entre si, a inovação é 11 vezes maior do que em organizações em que a confiança é tida como baixa. Muitas empresas estão profundamente estagnadas, não podemos apenas buscar lucros e retorno aos acionistas, temos que fazer mais. As organizações estão apenas começando a fazer a jornada de criar o sistema operacional humano que permitirá manter essa promessa, e que as levará à autogovernança, em que o sucesso e a significância as aguardam. De acordo com a obra, o significado é o fio condutor para o sucesso coletivo. É o significado dos valores que definirá o que cada empresa, equipe e indivíduo quer para si. Como inspirar as pessoas ou empresas a buscar o seu significado, os valores que importam para elas? O paradoxo da felicidade é que, se você busca felicidade, ela foge de você. Mas se você faz algo de significado e significância, pelo qual você é apaixonado, você cria espaço para a felicidade te encontrar. Nos negócios, funciona da mesma forma, deve-se trabalhar para que o sucesso nos encontre. Quando você está inspirado, você age de dentro para fora. Você é guiado pelas crenças que considera como fundamentais. Você busca uma missão que acha que vale a sua dedicação. A liderança hoje nas empresas tem que inspirar as pessoas, conectando-se a elas de forma significativa nesse nível de crença fundamental. 12 Melh res Práticas A cultura é o que permite às pessoas entrarem em uma jornada juntas, de maneira vigorosa, entusiasmada e, acima de tudo, duradoura As organizações de Obediência Cega são caracterizadas pelo comando e controle, liderança de cima para baixo e coerção. Os sistemas de Obediência Cega são baseados em regras e políticas, são transacionais, com foco em objetivos de curto prazo e pouca atenção na construção de relações duradouras no local de trabalho, no mercado ou na sociedade. As organizações de Aquiescência Assumida refletem as boas práticas de gerenciamento do século XX, como hierarquia, estrutura e processos de controle. Os funcionários seguem regras, políticas e procedimentos estabelecidos por uma equipe de gestão que eles acreditam ser qualificada. Os gerentes usam recompensas e punições baseadas no desempenho para motivar as pessoas. Os objetivos de longo prazo são importantes, mas muitas vezes dão espaço a situações de sucesso de curto prazo. E a “autogovernança”? Em organizações em que predomina a autogovernança, o conhecimento é transmitido de forma transparente, e as pessoas se comportam de acordo com os valores e princípios. Os funcionários de todos os níveis se empenham para se tornarem líderes, e a empresa está concentrada em seu legado e sustentabilidade de longo prazo. Essas organizações são guiadas por um conjunto de princípios e valores centrais que inspiram todos a se alinhar à missão da empresa. Mas a autogovernança não surge espontaneamente, e sua jornada não é fácil. Ao criar uma empresa com autogovernança, você está criando um ambiente de alto nível de confiança em que as pessoas têm a autonomia e o suporte necessários para atingir os resultados da forma que acharem melhor. Você terá que garantir a compreensão clara das pessoas que existe uma ligação entre o trabalho diário e os ideais que estão no coração da empresa. Para criar confiança e promover a boa reputação da sua empresa, você deve contar a verdade às pessoas, engajá-las em conversas francas sobre assuntos críticos e reconhecer a capacidade das pessoas de fazer a coisa certa. Em empresas com autogovernança, os funcionários valorizam o trabalho pelo que ele é, comunicam-se prontamente e facilmente entre si e são inspirados por um senso de propósito compartilhado. Referências 1- http://howmetrics.lrn.com/ – a LRN, empresa norte-americana, realiza análise estatística abrangente sobre o impacto dos diferentes tipos de governança corporativa, cultura e liderança no comportamento das organizações, seus líderes e pessoas. É um estudo com mais de 16.000 funcionários de 17 países. Melh res Práticas 13 | Mercado | NOVOS MERCADOS Por Gilmara Espino Retrato da saúde privada no Nordeste brasileiro. A região pode esperar mais investimentos? N o Brasil, o Produto Interno Bruto ( PIB) do Norte e Nordeste foi o que mais cresceu entre 2003 e 2006. No mesmo período, essas regiões experimentaram a saída de milhares de pessoas da linha da pobreza, por meio de programas sociais implantados pelo Governo Federal. O número de carteiras assinadas cresceu 4%, houve redução do trabalho infantil e migração de mão de obra da zona rural para a urbana, principalmente para atuar em Serviços1. O aumento do consumo atraiu investidores, e a região se tornou alvo também dos movimentos de fusões e aquisições no setor de saúde. De acordo com Bruno Dias, diretor executivo regional da Rede D’Or São Luiz, a parcela da população do NE coberta por planos de saúde era de 14 Melh res Práticas 8% no começo de 2007, frente à média nacional de 19,3%. De olho nesse potencial, os primeiros a chegar foram as companhias de medicina diagnóstica Dasa e Fleury (NKB), em 2004; seguidos pela Rede D’Or, Hapvida, Amil, e depois, United Health. "O mercado respondeu, e a quantidade de usuários de planos de saúde na região Nordeste cresceu 60,4% entre 2006 e 2016, enquanto a média no Brasil foi de 34,4%”, disse o executivo durante o V Congresso Norte-Nordeste de Gestão, realizado pela GPeS - Gestão de Projetos em Saúde em agosto desse ano, com a parceria da Revista Melhores Práticas2. De acordo com Dias, a entrada de beneficiários se deu especialmente no plano de tipo coletivo empresarial que passou de 6,5 milhões em 2000 para 33,3 milhões em 2015. Cenário atual Segundo analistas e imprensa, já no final de 2010 havia sinais claros de que o "voo brasileiro” seria curto. Decisões relacionadas a políticas sociais, gestão do câmbio, subsídios setoriais, entre outras medidas governamentais estagnaram o desenvolvimento dos estados. A região Nordeste foi a última a desacelerar, mas agora o faz de modo mais intenso. Em entrevista3, Flávio Ataliba Barreto, diretor-geral do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), esclarece que a crise econômica atingiu primeiro o setor industrial, mais forte no Sul e no Sudeste, e que somente a partir de 2015 teria chegado mais fortemente ao comércio, serviços e construção civil, setores dos quais o Norte e Nordeste são mais dependentes. Saúde suplementar De acordo com a apresentação de Bruno Dias, o estado do Maranhão ainda apresenta a menor cobertura suplementar em comparação com o tamanho da população. Eram 3,6% em 2006 contra 7,2% atualmente. Isso equivale a 482 mil beneficiários, dos quais 318 mil ou 65% estão na capital, São Luís. Esse é um estado em que a oferta de planos de cooperativas médicas, seguradas e medicinas de grupo está bem equilibrada, sem concentração de mercado. O mesmo não ocorre no Ceará. Ainda que seja o terceiro estado do Nordeste com maior número de beneficiários, a Hapvida detém sozinha 39,9% da oferta de saúde suplementar. Outros exemplos de concentração são Alagoas e Paraíba, onde quase metade da população atendida é da Unimed. No Piauí, onde 53% do mercado é atendido pela medicina de grupo, 3,7% correspondem à Hapvida. Esse é o estado com menor número absoluto de beneficiários, 291 mil ou 9% da população. A participação das seguradoras ainda é pouco expressiva em Sergipe, Alagoas e Rio Grande do Norte. Melh res Práticas 15 | Mercado | Oportunidades de investimento As seguradoras, como Bradesco e SulAmérica, são as mais fortes na Bahia, com 23,5% da fatia de mercado. Isso é uma vantagem para os prestadores de serviços, uma vez que não é permitido que seguradoras tenham hospitais próprios, o que aumenta a dependência que essas fontes pagadoras têm de bons hospitais locais. De acordo com Bruno Dias, a oferta de leitos na Bahia ainda é deficitária, o que ajuda a posicionar esse estado como os que estão entre os de investimentos futuros mais prováveis. Pernambuco já ocupou essa posição. Durante a administração do governador Eduardo Campos, a região investiu na geração de empregos, o que contribuiu para o salto de 60,5% no número de beneficiários de planos de saúde entre 2000 e 2016. Esse estado, entretanto, tem uma particularidade em relação aos demais: não há deficit expressivo de leitos privados, o que aumenta a competição entre os prestadores e exige estratégias bem definidas de negócios. "Em Recife, mais do que em qualquer outra capital do Nordeste, ou se compete por preço ou por qualidade”, explica Dias. Em Sergipe, ainda que haja uma distribuição mais uniforme entre as fontes pagadoras, o número absoluto de indivíduos com acesso à saúde suplementar é pequeno, 317 mil vidas, e já há hospitais de referência para uma área coberta menor, o que inibe novos entrantes no mercado. “A Rede D’Or São Luiz evita investir em áreas com a predominância de um único plano de saúde pela dependência que ocasionaria de uma mesma fonte pagadora. Da mesma forma, preferimos fazer aquisições ou fusões com organizações em que se reconhece um ganho maior pela sinergia de processos”, explica o executivo. O perfil de aquisições da Rede, uma das maiores consolidadoras da área de saúde nos últimos anos, é de preferir hospitais que não possuam plano de saúde próprio, tenham mais de 100 leitos e faturamento superior a R$ 100 milhões por ano. Investidores estrangeiros e novos negócios Para Antonio Carlos Abbatepaolo, diretor-executivo da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), o mercado deve esperar a retomada dos investimentos no setor nos próximos anos. Entre 2000 e 2005, 18 operadoras de planos de saúde pediram cancelamento de registro na Agência Nacional de Saúde Suplementar por motivo de incorporação. Entre 2006 Linha do tempo - Aquisições e 2015, esse número saltou para 67 empresas, sendo 8 no Nordeste. Ainda é cedo para saber como um mercado que até 2014 era fechado para o capital externo (para operadoras, o impedimento terminou em 1998) irá se comportar diante de melhores condições para competir no Brasil. De todo modo, seja capital nacional ou não, com investimentos em modelos já existentes ou mais inovadores, como unidades particulares de baixo custo para serviços primários de saúde (Dr. Consulta é um exemplo), o sistema como um todo ainda precisará fazer seu dever de casa se quiser crescer e atrair investidores. Entre as necessidades, está discutir o modelo da cobertura assistencial que deseja (e consegue) garantir aos seus cidadãos, a microrregulação, a judicialização e os modelos de remuneração. Mesmo assim, Abbatepaolo é otimista e justifica : "o setor ainda é pouco presente no mundo virtual (ao passo que healthcare é o maior foco de venture capital em todo o mundo) e o envelhecimento da população continuará a aumentar a demanda por serviços de saúde. Além disso, o Brasil é o segundo maior mercado de plano de saúde no mundo e o maior da América Latina. Fatores que, em minha opinião, continuarão a atrair novos negócios”, finaliza. 2007 2008 2010 2009 Cerpe (PE) operadora Santa Helena (PE)e operadoras Excelsior e ASL respectivamente Operadoras Santa Clara e MMS Saúde (PE) •Rede D'Or São Luiz Hospitais Prontolinda e Esperança (PE) • DASA, HAPVIDA e Amil 2012 2014 2013 2015 2016 • HAPVIDA Hospital e Plano de Saúde Luis França (CE) • AMIL Hospital Promater (RN) . . Melh res Práticas •United Health AMIL • AMIL Hospital Monte Klinikum (CE) • Rede D'Or São Luiz Hospital Memorial São José (PE) . Referências 16 • HAPVIDA 2011 •Rede D'Or São Luiz e Fleury Diagson (BA) e Hospital São Marcos 4 •DASA e Medial Clínica Unimagem (CE) 1) INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios. Brasília, 2007. 2) Bruno Dias e Carlos Abbatepaolo foram ouvidos como palestrantes convidados do V Congresso Norte-Nordeste de Gestão, que teve a programação desenvolvida pela equipe da GPeS Gestão de Projetos em Saúde e parceria da Melhores Práticas. 3) CUCOLO, Eduardo (Ed.). Norte e Nordeste perdem fôlego e viram lanterna da economia. Folha de São Paulo. Brasília, p. 1-1. 6 mar. 2016. Disponível em: <http://folha.com/no1746914>. Acesso em: 1 dez. 2016. 4) MAURICIO OLIVEIRA. Abramge (Ed.). Remédio anticrise. Visão Saúde, São Paulo, v. 1, n. 1, p.18-23, jun. 2016. Disponível em: <https://goo.gl/8mprvO>. Acesso em: 1 dez. 2016. Melh res Práticas 17 | Opinião | GESTÃO DE DESEMPENHO Pesquisa relaciona clima organizacional e resultados em hospitais privados Autores: Especialistas da Korn Ferry Hay Group A Korn Ferry Hay Group, em parceria com a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), realizou uma pesquisa de clima com hospitais privados (30 hospitais participantes em 2014 e 43 em 2016) para conhecer como o ambiente hospitalar gera motivação e engajamento nas equipes. A metodologia utilizada foca em medir o quanto de suporte o hospital fornece aos colaboradores e quanto eles estão engajados com a instituição, gerando assim maior efetividade organizacional. Em 2016, o resultado geral da pesquisa teve uma evolução de 11,5% em relação a 2014. Neste ano, a média 18 Melh res Práticas de favorabilidade (quantidade de respostas favoráveis aos temas questionados na pesquisa) foi de 68%. Mesmo com esse aumento, o setor ainda está 12% abaixo das melhores práticas do mercado. Mesmo com essa evolução expressiva, o tema de gestão de desempenho (fundamental para garantir bom desempenho individual e alavancar os resultados de negócio - ver box) ainda é um grande desafio para o setor: apenas 60% dos colaboradores reconhecem esse tema de forma positiva. Dentro de um ciclo de gestão de desempenho, várias fases são fundamentais para garantir eficácia e sustentabilidade do processo: • Clareza de papéis e responsabilidades: para o setor hospitalar, esse é um dos temas de maior destaque na pesquisa – cerca de 90% dos colaboradores têm clareza sobre a contribuição do seu trabalho e o impacto do seu rendimento para o negócio. • Metas desafiadoras e busca da excelência: para garantir o alto desempenho das equipes, é fundamental que as metas organizacionais sejam desafiadoras e alinhadas à estratégia do negócio. Nos hospitais, 90% reconhecem que a excelência faz parte do trabalho. • Acompanhamento de metas e feedback: a partir dessa etapa do processo, desvios de desempenho podem ser mapeados e ajustados. O setor de hospitais já começa a apresentar barreiras significativas – apenas 52% dos colaboradores recebem feedback frequente e estruturado dos seus líderes. Quando comparamos com os mercados de alto desempenho no setor, esse número chega a 61%. Em outros segmentos, 70% dos colaboradores recebem feedback constante de suas equipes. • Gestão de consequência: para manter uma cultura de excelência, é fundamental que colaboradores com problemas frequentes de desempenho sejam gerenciados por seus líderes. Nos hospitais, isso é percebido apenas por 61% das pessoas. Esse resultado é de 72% em outros setores. • Meritocracia: ao final do processo, é fundamental que os colaboradores sejam reconhecidos com base nos resultados individuais obtidos. É importante também que a remuneração esteja atrelada ao desempenho. Isso é fundamental para garantir a sustentabilidade da alta performance esperada pelas equipes. Esse é o ponto mais crítico do setor hospitalar: apenas 32% dos colaboradores têm sua remuneração atrelada ao desempenho. Esse resultado é duas vezes menor que nos demais setores. Como o clima organizacional afeta a rentabilidade? Um estudo da Korn Ferry entre 2011 e 2015 comparou lucro líquido, vendas líquidas, rentabilidade do patrimônio e EBITDA de mais de 185 empresas de diversos setores e concluiu que: Para o setor evoluir em gestão de desempenho, é fundamental que esse seja o foco dos líderes dos hospitais. Além de um processo estruturado, os gestores são responsáveis por colocar o processo em prática e gerar um ambiente de alta performance: os líderes têm um impacto de até 70% na sua equipe direta. Nesse contexto, a liderança do setor hospitalar ainda tem muito a evoluir, principalmente quando olhamos para a alta liderança dos hospitais. Em geral, os diretores têm uma percepção mais positiva em relação à gestão de desempenho que recebem dos CEOs do que a percepção que geram nos seus gerentes diretos. Os diretores: • Recebem 27% mais feedback dos CEOs do que fornecem para seus gerentes. • Recebem 26% mais gestão de consequência dos CEOs do que realizam para seus gerentes. • Recebem 14% mais reconhecimento dos CEOs do que dão para os gerentes. Esses dados mostram que para sustentar o ambiente de excelência, se aproximar do mercado de alto desempenho em clima e, consequentemente, alavancar os resultados do negócio, os hospitais ainda têm um caminho importante para percorrer. Os hospitais que conseguirem engajar sua liderança nessa necessidade serão pioneiros e terão um diferencial competitivo no setor em relação a um ambiente de alta performance. • Empresas com alto desempenho em clima organizacional têm seus resultados financeiros alavancados de maneira significativa. • O aumento do desempenho financeiro está totalmente relacionado ao esforço individual de cada colaborador de uma organização. • Colaboradores mais engajados e motivados tendem a um desempenho diferenciado e, dessa forma, a gestão de desempenho se torna um fator fundamental para garantir um alto nível de engajamento das equipes. Melh res Práticas 19 | Engajamento | ESTRANHO NO NINHO Por Mauricio Barreira Conselho Consultivo de Pacientes ajuda a identificar oportunidades, mas é preciso estar preparado para mais esse compromisso I ndo além das pesquisas de satisfação, já considerou, de verdade, perguntar para o paciente como é possível servir melhor? A resposta pode surpreender. Apesar de ainda pouco usual no Brasil, muitos hospitais estrangeiros implantaram projetos que trazem o paciente para perto da instituição, valorizam o que ele têm a dizer e o tratam como membro importante de todos os padrões e processos de organização e atendimento. Chamado de Conselho Consultivo de Pacientes e Familiares (Patient and Family Advisory Council), o objetivo dessa ação é criar e manter laços entre instituição, profissionais do corpo clínico e administrativo, pacientes, ex-pacientes e seus familiares por meio de um conselho. Os membros passam a ser responsáveis por identificar, opinar e acompanhar melhorias em todos os campos e procedimentos do hospital com base nas preocupações, necessidades e experiências dos próprios pacientes e familiares. Nos EUA, o Hospital Johns Hopkins, em Baltimore, é um dos muitos que possui esse projeto. Eles definem o Conselho como uma oportunidade de instruir-se com perspectivas únicas e valiosas sob a ótica dos pacientes e seus respectivos familiares. O feedback dado durante as reuniões mensais ajuda o hospital a entender como seus padrões de atendimento são trabalhados na prática. "Nós também usamos as famílias para compartilhar suas histórias na educação de novos funcionários, incluindo médicos, estudantes de medicina, enfermeiros, assistentes sociais e de vida da criança”, explica Tricia Willis, coordenadora do Patient and Family Centered Care do Johns Hopkins. 20 Melh res Práticas Desde que aderiu ao programa, o hospital tem colhido resultados considerados satisfatórios. Para citar dois exemplos, o processo de aceleração da recuperação total pós-operatória (Enhanced Recovery After surgery – ERAs) e a sinalização hospitalar interna e externa da instituição (wayfinding) foram aprimorados com a ajuda de seu próprio Conselho. Tricia cita mais contribuições. “Outras ideias que implantamos foram os menus de hóspedes, perguntas de triagem de suicídio, itens de experiência do paciente de como fornecer uma calorosa recepção padronizada, transição de pacientes de pediatria para a ala dos adultos, telemedicina, entre outros.” Pelo lado do hospital, há representantes no Conselho de praticamente todas as áreas, como médicos, enfermeiros, seguranças, assessores, especialistas de serviços hospitalares e gestores. Os pacientes e ex-pacientes são escolhidos com base em pesquisas de perfil. O hospital prima por reunir membros totalmente diferentes, escolhidos segundo características que vão desde a idade, renda e localização geográfica até experiências pessoais durante o tratamento. Assim que são escolhidos, seus familiares mais próximos também garantem vaga para participarem. Os resultados obtidos pelo programa são compartilhados pelo Hospital Johns Hopkins com a Patient-Centered Outcomes Research Institute (PCORI), organização independente, sem fins lucrativos e não-governamental que atua diretamente em projetos destinados a melhorar o atendimento ao paciente por meio de pesquisa de eficácia centrada no paciente. Abertura aos pacientes e familiares “Os pacientes não são números, são pessoas que querem ser ouvidas e necessitam ser sempre respeitadas.” É dessa forma que Rita de Cássia Grotto, gestora dos Conselhos Consultivos de Pacientes e Familiares do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), em São Paulo, define como a instituição enxerga esse programa. O primeiro Conselho do hospital surgiu em 2009. Atualmente, o projeto já atinge quase todas as áreas da instituição e é composto por cinco Conselhos, com reuniões bimestrais. Eles são divididos pelas categorias de Interno, Externo, Idosos, Pediatria e Segurança do Paciente. Cada grupo é formado com no máximo 20 pessoas, entre pacientes, ex-pacientes, familiares e prof issionais do hospital. “Contar a experiência é terapêutico, por isso selecionamos os membros de cada Conselho de acordo com perfis distintos, para que haja o encontro de pessoas que tiveram experiências diferentes. São seres humanos cuidando de seres humanos, portanto é preciso ouvir o que todos têm a dizer”, explica Rita. Os Conselhos do HIAE conseguiram com esses encontros viabilizar melhorias no hospital, como o Espaço Einstein Acompanhante. Sugestões para criar e manter um Conselho Consultivo de Pacientes •Conversar com quem já implantou. Comece visitando instituições que já usam o modelo para ter certeza de que o seu hospital terá condições de criar um Conselho próprio. •Ideias criativas. De nada adianta manter um Conselho aberto se o grupo não propõe mudanças que façam a diferença. Concentre sua equipe em pensar em alternativas práticas. •Debater faz bem. O grupo reunido é um conjunto imenso de experiências e competências e, por isso, instigue-os a debater as melhores alternativas para o futuro do hospital. Saber aproveitar o conhecimento de cada um é crucial para o desenvolvimento de novas ideias. •Disponibilidade de ouvir. É preciso saber ouvir o que os pacientes têm a d i zer, mesmo que a queixa ou a ideia não seja válida. A visão do paciente é totalmente diferente de qualquer membro do hospital. •Saber dizer não. Esse ponto deve ser tratado com cautela. Nem todos reagem bem quando algo lhes é negado. Entretanto, quando a proposta não for interessante para os planos do hospital, seja do ponto de vista financeiro, estratégico ou clínico, não hesite em negar. Mas explique depois os motivos, nem que seja em particular. •Incentivar a aproximação. O grupo provavelmente só sobreviverá se existir a sensação de humanização e acolhimento. Abra espaço para que todos os membros falem. Essa ação propiciará momentos de muita emoção e, como consequência, tornará o grupo cada vez mais unido. Melh res Práticas 21 | Engajamento | Outra ideia que surgiu é um programa de educação que já ensinou pacientes com dificuldades em tecnologia a mexer com o conteúdo digital disponível pelo hospital, como a visualização de exames pela web. Além disso, o HIAE consulta o Conselho quando uma área é inserida no complexo, com o objetivo de colher sugestões para os processos naquele novo local. Em Minas Gerais, na cidade de Ipatinga, o Hospital Márcio Cunha (HMC), que faz parte da Fundação São Francisco Xavier (FSFX), criou seu Conselho em 2015, com um grupo formado por 30 participantes, reunidos trimestralmente e que também vão de pacientes e familiares a lideranças da instituição e profissionais da diretoria. A superintendente de gestão da FSFX, Adriana Leite Chaves Quintela, explica que o primeiro passo para criar o programa foi definir os critérios para escolher os integrantes. “Selecionamos no começo do projeto pacientes que tiveram experiências boas e ruins e os juntamos no Conselho. A renovação é anual, de modo a dar oportunidade para outros poderem agregar com pensamentos diferentes”, diz. Mesmo com pouco tempo de atuação, o Conselho do Hospital Márcio Cunha conseguiu melhorar o grau de satisfação de seus pacientes em curto prazo, além de separar o setor de atendimento da pediatria dos adultos. A ideia foi debatida e aprovada durante uma das reuniões, e hoje a ação é elogiada pelos frequentadores do hospital. Apesar de os Conselhos conseguirem colocar em pauta mudanças significativas na vida de quem frequenta o hospital, há também momentos em que as ideias não são aceitas e, para esses casos, a forma de conduzir a situação deve ser cautelosa. “Quando há uma negativa de uma ideia, explicamos os motivos de não poder colocar em prática aquele pedido. Esse tratamento é feito de forma transparente, por isso eles costumam entender o posicionamento do hospital”, detalha Rita, do Einstein. Para Adriana Quintela, quem se dispõe a ter um Conselho no hospital deve estar preparado para essas situações. Esclarecer ao paciente os motivos da recusa ou até de um problema que ele teve muda a forma como ele vê a instituição. “Há pacientes que chegaram a criticar o hospital e hoje elogiam nosso serviço depois de terem participado do Conselho. Soubemos pontuar para eles os motivos daqueles problemas acontecerem e o que fizemos para solucioná-los”, diz. Criar um Conselho Consultivo de Pacientes é abrir uma porta antes fechada Saiba lidar com os problemas Ter um Conselho Consultivo de Pacientes e Familiares exige que o gestor esteja 100% seguro de que é necessário e ideal para o momento de seu hospital. Caso a instituição opte em criar esse projeto, estar preparado para os problemas é item obrigatório. • Será natural surgir reclamações. Portanto, o hospital deve se preparar e saber lidar com elas quando o assunto surgir nas reuniões do Conselho. • Os pacientes trocam informações. Prometer em reunião e depois não cumprir pode levar à quebra de confiança. Fórmula distancia programa do Brasil Pode funcionar Experiências como as do HMC e HIAE são escassas no Brasil. Grande parte dos principais hospitais não conhece ou não se interessam em desenvolver seus serviços com um conselho nesses moldes. Instaurar esse projeto pode ser um fator complicador caso a instituição não esteja totalmente preparada para lidar com a complexidade que o programa exige. Lidar com pacientes e seus respectivos familiares já é um dos processos mais complicados na gestão hospitalar. Um conselho desse tipo pode ser benéfico se bem usado e planejado, entretanto, também é munição extra para quem sente que os serviços não estão correspondendo. Isso pode afastar as instituições que sentem o desejo de criar esse programa, mas que, ao mesmo tempo, têm medo de fazê-lo e gerar mais complicações. “Falar sobre humanização ainda é desaf iador no Brasil, que ainda não saiu da cultura de seguir um modelo tradicional e, por isso, não consegue implantar esse projeto na maioria dos casos. É necessário quebrar paradigmas tradicionalistas para que dê certo”, opina Rita. Afinal, criar o Conselho é também aceitar o desafio de abrir uma porta antes fechada. O Conselho de Pacientes não é um mecanismo voltado para agradar o cliente, pois visa à melhora do hospital de forma gradativa. Os problemas serão apontados e será necessário agir para administrar essa situação. Para Adriana Quintela, saber ouvir faz toda a diferença. “As palavras-chave para lidar com qualquer situação dentro do Conselho é ‘saber ouvir’, ou seja, é necessário ter disponibilidade e dar a oportunidade de enxergar o ponto de vista do outro”, pontua. Decidir se o projeto será benéfico ou trará ainda mais problemas está longe de ser uma decisão fácil de tomar. Saiba o que o Conselho Consultivo de Pacientes pode acrescentar ao hospital. • A iniciativa aproxima o paciente do hospital e, ao mesmo tempo, aumenta o grau de confiabilidade para os pacientes que ainda virão a se tratar na instituição. • Ouvir os familiares é também uma maneira de aprender mais sobre os processos médicos e administrativos. • O Conselho é uma ferramenta poderosa para aprender mais sobre as necessidades a partir do olhar do usuário. • Engajar-se em um projeto desse porte agregaria positivamente para a imagem do hospital. O Conselho cria e mantém laços entre instituição, profissionais do corpo clínico e administrativo, pacientes, ex-pacientes e seus familiares • Criar uma maneira organizada e justa para eleger os participantes do Conselho pode gerar mal-estar com outros que ficarem de fora. Esteja preparado para lidar com isso. • Fique atento ao que os pacientes que participam do Conselho falam nas redes sociais sobre as reuniões. 22 Melh res Práticas Melh res Práticas 23 | Pesquisa | O QUE IMPORTA PARA FAMILIARES NA ESCOLHA DE UM HOSPITAL DE CUIDADOS Metodologia: Pesquisa de campo, exploratória, descritiva e de abordagem quantitativa. Caso meu familiar precise permanecer sob cuidados de Enfermagem, sem contudo ter indicação de ficar internado em um hospital de grande porte, eu preferiria que ele recebesse esses cuidados de… 38 % 62% Home Care Hospital de cuidados prolongados 24 Melh res Práticas 34% 13% 08% 03% Profissionais não capacitados MENOS DE 7 CITAÇÕES O convênio dá cobertura. O local fica próximo ao metrô. Oferece oficinas de arte e entretenimento (sessão de filmes, festas, etc). Outras conclusões da pesquisa Nada Emocional do paciente e a distância dos familiares Aspectos econômicos Tem o padrão de atendimento humanizado, de excelência e com certificação de qualidade. Irrelevante Se o hospital de cuidados prolongados atender todas as suas expectativas, o que impediria você de aceitar esse tipo de serviço? ” 50 A 60 CITAÇÕES “A estrutura e a organização familiar influenciam o planejamento e a escolha do cuidado: como será realizado, onde, por quem e quando”. A afirmação é fruto de uma pesquisa realizada com 66 familiares de pacientes internados em três hospitais particulares, todos acreditados. O objetivo foi conhecer qual a percepção sobre um hospital de cuidados prolongados, identificando quais características mais impactam na escolha pelo serviço. Os resultados foram apresentados por Rita de Cássia Calegari, coordenadora psicossocial da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, durante o evento Desospitalização 2.0 - 3º Fórum “Negócios para a Cadeia de Atenção Domiciliar", com moderação da Revista Melhores Práticas. Muito importante PROLONGADOS Se seu familiar precisasse de cuidados de enfermagem, em um hospital de cuidados prolongados, como você classificaria a importância dos itens abaixo? Oferece atendimento de equipe multiprofissional (além de médicos e enfermeiros, psicólogos, assistente social, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, fisioterapia, nutricionista). São oferecidos treinamento e capacitação para os cuidadores (a equipe treina a família para realizar cuidados adequados no paciente) A percepção dos familiares entrevistados sobre hospital de cuidados prolongados demonstra preocupação com o aspecto emocional do paciente ao ficar distante dos familiares e reflete a valorização dos horários livres para visita nesse tipo de instituição. Essa preocupação foi mais citada nos hospitais em que houve a maior participação dos cônjuges nas entrevistas, reforçando a importância do laço afetivo do matrimônio. As questões econômicas também preocupam os familiares, sendo a cobertura do serviço pelo convênio um ponto decisivo na aceitação por este tipo de indicação. Referência CALEGARI, Rita de Cássia et al. PERCEPÇÃO DOS FAMILIARES NA ESCOLHA DE UM HOSPITAL DE CUIDADOS PROLONGADOS. São Paulo, 2016. Melh res Práticas 25 | Ponto de Vista | PLANO ACESSÍVEL É UMA BOA IDEIA? Por Gilmara Espino SIM ... O outro lado da questão defende a criação de um plano que dê aos cidadãos brasileiros a possibilidade de optar por um produto mais barato. De modo geral, acredita-se que os empregos perdidos com a crise econômica atual não serão retomados em curto prazo e que essa leva de desempregados não conseguirá reingressar no sistema suplementar, sobrecarregando ainda mais o SUS. Ou seja, o plano popular seria um caminho mais rápido. Da forma como está, a regulamentação da ANS não dá alternativas ao usuário e nem às operadoras, obrigadas a manter um nível mínimo de cobertura com todas as doenças da CID 10 (lista oficial da Organização Mundial da Saúde). Além disso, esses novos entrantes ajudariam a financiar não só as operadoras que perderam mais de 1,6 milhão de vidas entre 2014 e 2015, mas o próprio modelo baseado no mutualismo. De acordo com a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), das despesas assistenciais em 2015, 41% ou R$ 49 bilhões foram com internações, incluindo materiais e medicamentos, honorários médicos e 26 Melh res Práticas Desde agosto, representantes do Ministério da Saúde, Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSEG) se reúnem para estudar os impactos legais e financeiros da criação de um plano de saúde popular. Chamado de Plano Acessível, foi proposto pelo ministro Ricardo Barros para permitir que sejam ofertados planos de saúde com cobertura menor do que a definida na lista mínima obrigatória da ANS. Em contrapartida, os preços também seriam menores, como forma de aliviar a fila do SUS e o tempo de espera por atendimento. Diante das divergentes opiniões a respeito da proposta, a GVsaúde promoveu o debate Perspectivas do Setor Privado da Saúde e os Planos Populares, moderado por Walter Cintra Ferreira Junior, coordenador do CEAHS, FGV, EAESP e tendo de um lado José Cechin, diretor executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), e do outro, Mário Scheffer, vice-presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva). O evento aconteceu em setembro de 2016, em São Paulo, e teve o apoio da Revista Melhores Práticas. Nesta matéria, os destaques da discussão. terapias, entre outros. Assim, um plano com controle sobre o acesso e com protocolos bem definidos sobre encaminhamento ao especialista poderia contribuir para uma cobertura dentro da realidade individual de cada consumidor. O plano acessível não limitaria o acesso, apenas organizaria a “porta" dos que, hoje, procuram diferentes especialistas sem antes passar em um médico clínico que o direcione de forma mais resolutiva. Outra vantagem é que, como a rede credenciada oferecida seria mais seleta, é provável que se consiga um maior controle sobre o uso indevido de dispositivos médicos implantáveis (DMI ou OPME), hoje principais agressores dos altos custos com assistência. Ainda nessa linha, melhoraria-se a gestão sobre uso de materiais mais dispendiosos, sem efeitos nos desfechos clínicos. De acordo com o palestrante José Cechin, as condições críticas para viabilizar a iniciativa seriam: • Rede hierarquizada: acesso exclusivamente por médico de família (ou atenção primária) entre designados pela operadora. • Protocolos clínicos obrigatórios e bem definidos. • Reajustes por variação de custos e respeito a contratos. • Segunda opinião médica obrigatória em casos complexos. • Revisão dos prazos de atendimento conforme infraestrurura regional (ANS/259). NÃO ..Entre os que desaprovam o plano acessível, os principais argumentos são de que falta uma discussão mais ampla, transparente e participativa. Fora o que tem sido veiculado na imprensa, pouco se sabe sobre o que está sendo discutido no grupo de trabalho. Além disso, usuários, médicos e gestores do SUS não estão contribuindo. Outro ponto é que, antes da regulamentação do sistema suplementar pela ANS, os planos vendidos já limitavam internações, excluíam doentes e alguns procedimentos das coberturas. Como efeito, cresceu a judicialização, denúncias, desembolso das famílias e desassistência. Com a Lei 9.656/98, muitas lacunas continuaram existindo, mas a exigência de cobertura mínima obrigatória representou mais segurança para o usuário. O temor é que o plano acessível acabe por representar um retrocesso, em que a cobertura mínima obrigatória seria violada em sua essência. Sobre o valor que esse novo plano teria, mais discussão. De acordo a Pesquisa Nacional de Saúde (IBGE-2015), 60% dos planos de saúde em 2013 já custavam menos do que R$ 200,00 por mês e aproximadamente 30% custavam mais do que R$ 300,00. O questionamento é sobre que qualidade de assistência se pode oferecer com valores ainda menores. Além disso, já existe regulamentado o plano ambulatorial, que é mais barato e oferece apenas consultas e exames. Ainda assim, a adesão é baixa e apenas 4% dos beneficiários optam por esse modelo, segundo Mário Scheffer. Finalmente, há o argumento de que caso saia do papel, o plano acessível não seria constitucional e estaria contribuindo para fortalecer um sistema racionado, menor e complementar, contrário à ideia de universalização. “Depois de 28 anos de SUS, o desfecho tem que ser necessária e naturalmente o encolhimento/desmonte do SUS e a ampliação do mercado suplementar, por meio de planos populares? Nós não alcançamos um sistema único de qualidade, universal, um só sistema de todos os brasileiros, pobres e ricos, como vislumbrou a Constituição, mas será viável para o Brasil um sistema de saúde predominantemente privado? Essa escolha gerou sistemas caros e excludentes, como nos Estados Unidos e Colômbia”, provocou Scheffer, ao final de sua apresentação. Melh res Práticas 27 | Capa | Aspecto relevante Por Felipe César Campanha mundial incentiva sociedades de especialidades e médicos a se questionarem sobre o que traz real valor para a saúde do paciente E stima-se que 30% de todos os pedidos de exames laboratoriais são desnecessários e que outros 30% são subutilizados. Os dados são resultado de um estudo publicado1 por pesquisadores da Harvard Medical School – Beth Israel Deaconess Medical Center a partir da análise de 1,6 milhão de resultados dos 46 testes de laboratórios mais solicitados por médicos e instituições de saúde. Na mesma linha, um artigo publicado2 no jornal The New York Times em 2010 critica a solicitação de PSA (Antígeno Prostático Específico) para o rastreamento de câncer de próstata. Segundo o autor, ao receber um diagnóstico positivo para a doença, os homens norte-americanos têm uma chance de sobrevida de 16%, enquanto o risco de morte é de apenas 3%. “Isso ocorre porque a maioria dos cânceres de próstata cresce lentamente. Em outras palavras, homens com a sorte de chegar à idade avançada são muito mais propensos a morrer com o câncer do que devido a ele”. Enquanto isso, 30 milhões de norte-americanos são submetidos ao teste por ano ao custo de US$3 bilhões. Exames e tratamentos dispensáveis trazem desperdício para o sistema de saúde e são a contramão do cuidado 28 Melh res Práticas seguro e eficaz. A fim de mudar essa rota, a American Board of Internal Medicine Foundation (ABIM Foundation) lançou em 2012 a campanha Choosing Wisely, que em português significa “escolhendo sabiamente”. A proposta é estimular a discussão sobre a eficiência clínica e combater o que não tem evidência científica comprovada. Nos EUA, as especialidades médicas de todo o país foram convidadas a elaborarem uma lista com três recomendações do tipo "Choosing Wisely” e a assumirem o compromisso de reduzir em 20% a indicação de antibióticos para infecções virais em três anos nos hospitais3. Até agora, mais de 70 sociedades médicas já publicaram 400 recomendações. Diversos outros países já aderiram à campanha: Alemanha, Austrália, Canadá, Inglaterra, Itália, Nova Zelândia, Japão, Holanda, Suíça e, desde 2015, o Brasil. Por aqui, as primeiras sociedades a se envolver diretamente foram a Brasileira de Cardiologia (SBC) e a Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC). Ambas já formularam suas recomendações e publicaram em seus respectivos portais da internet 4. Recentemente, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica também anunciou a sua participação. Não é preciso começar do zero. A Academy of Medical Royal Colleges, que reúne 21 escolas de medicina do Reino Unido, publicou em outubro um relatório com 40 procedimentos médicos que trazem pouco ou nenhum benefício aos pacientes. Já a página da ABIM Foundation traz a lista de todas as especialidades e, também, recomendações para os pacientes. “O que dá aderência ao Choosing Wisely é o processo de fazer uma lista de recomendações, e não a lista em si. A elaboração induz à reflexão, e esse é o objetivo do conceito. O importante é que isso se torne um movimento transformador”, explica Luiz Cláudio Correia, professor-adjunto da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e membro da SBC. Para ele, só o fato de haver o diálogo sobre excesso de exames já é uma enorme quebra de paradigma. “O processo de Passo a passo para sociedades de especialidades no Choosing Wisely10 Cada sociedade é livre para determinar o processo de criação de sua lista Todo item da lista deve estar de acordo com o escopo de atuação da especialidade Deve-se priorizar testes, procedimentos ou tratamentos utilizados com bastante frequência e que podem prejudicar pacientes mais do que ajudar, ou que representem abordagens diagnósticas ou terapêuticas de baixo valor agregado Deve existir um bom corpo de evidências científicas que suporte a recomendação O processo de desenvolvimento da lista deve ser rigorosamente documentado e transparente mudança é lento e progressivo. Não se deve condenar o médico que solicita exames, o importante nesse momento é conversar com todos os envolvidos no processo assistencial para que, no longo prazo, aconteçam mudanças. Podem levar anos, mas o importante é que agora se iniciou uma discussão sobre o assunto, o que não acontecia anos atrás”, defende. No futuro, a visão de toda a sociedade se tornaria mais ampla sobre o tema. Para exemplificar a distância até essa maturidade, Lucas Zambon, diretor-científico do Instituto Brasileiro de Segurança do Paciente (IBSP), cita o mal uso comemorativo de datas como “outubro rosa” e “novembro azul”. “Estimula-se, através dessas campanhas, muito mais a realização de exames que estão associados à detecção daquela doença, e fala-se pouco da prevenção. São campanhas focadas no diagnóstico de quem já está doente, e muito menos em formas de evitar que essas doenças se desenvolvam. ” 1 2 3 toda recomendação com as expres6 Iniciar sões "Não" ou "Reflita muito antes de" lista deve ter pelo menos cinco 7 Arecomendações a formulação da lista, a sociedade 8 Após deve avisar imediatamente a coordenação 4 5 Importante: Toda sociedade de especialidade deve ter um membro ou staff designado para comunicação com a Choosing Wisely Brasil. As listas devem ser revisadas, no mínimo, anualmente. Mais informações na página oficial da campanha. da Choosing Wisely Brasil para divulgação no portal oficial da campanha, que tem o apoio de mídia da Proqualis Melh res Práticas 29 | Capa | Bahia sai na frente Localizado em Salvador, o Hospital São Rafael é a primeira unidade hospitalar do Brasil que montou uma força-tarefa para implementação do conceito Choosing Wisely em todas as especialidades médicas da instituição. Em meados de março desse ano, Luiz Cláudio Correia, que também é o coordenador científico do hospital, apresentou a ideia para o Núcleo de Qualidade e Segurança. “A partir dali, levamos o conceito para discussão com os líderes das especialidades, para que eles reunissem as suas equipes e trouxessem dois pontos nos quais seria possível aplicar o Choosing Wisely. Eles poderiam envolver tanto o aspecto do diagnóstico como o aspecto de tratamento”, conta. Meses depois, cada especialidade apresentou suas sugestões. Após algumas modificações, a última versão do projeto deu origem a uma lista com 42 recomendações, incluindo os cuidados de enfermagem. O corpo clínico do hospital tem acesso a todas as recomendações pelo prontuário eletrônico, além de por outras formas de divulgação interna. “Para que o projeto dê certo, o processo tem que ser simples, sem que tome muito tempo do profissional ou da equipe, ou a dificuldade da participação será maior”, ensina o coordenador. Na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, o conceito Choosing Wisely também começa a ser implementado. Cada coordenador de curso tem a missão de reunir a sua equipe de docentes e discentes com o objetivo de criar um núcleo Choosing Wisely dentro do curso. Esse núcleo é responsável por criar uma lista com 15 recomendações. Essa relação será avaliada por todos os professores, que darão uma nota, e as 5 recomendações com a melhor avaliação resultarão na lista Choosing Wisely do curso. No dia 14 de outubro, a universidade promoveu também um simpósio internacional sobre a racionalização das decisões médicas em prol do paciente. Overdiagnosis e overtreatment O Choosing Wisely está relacionado ao exagero no número de procedimentos para fim de diagnóstico (overdiagnosis) e à adoção de tratamentos desnecessários para fins terapêuticos (overtreatment). Na medicina, há situações em que fazer o "muito" é o correto. Entretanto, o Choosing Wisely prega que se identifique as situações em que esse “muito” já é uma dissociação entre a conduta ordinariamente aceita e a conduta baseada em evidências. Lucas Zambon, diretor-científico do Instituto Brasileiro de Segurança do Paciente (IBSP), cita a prática de check-ups. “Até pouco tempo, acreditávamos que essas iniciativas ajudariam a detectar precocemente as doenças. Porém, nos últimos anos, esses paradigmas caíram por terra porque, com o avanço dos tratamentos, ficou provado que o check-up tem pouco ou nenhum benefício para o paciente”. Outra consequência do overdiagnosis é o falso positivo. “Tratase de uma alteração no exame, mas não necessariamente significando doença. Um exame alterado normalmente motiva outras etapas diagnósticas e, eventualmente, até invasivas, como biópsias. No final, estamos trazendo ansiedade ao paciente e custo desnecessário ao sistema”, completa. O médico tem que tomar decisões baseado em razão e evidência científica, saber identificar quando fazer muito e quando fazer menos. Evidências “Na literatura médica, há um grande número de artigos que trata dos excessos de procedimentos na medicina. Esse problema, além de desviar recursos de pacientes graves para pessoas saudáveis, causa danos e gera eventos adversos”, disse Rodrigo Olmos, professor-assistente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, durante o Simpósio Internacional de Qualidade e Segurança do Paciente, promovido pelo IBSP em abril de 2016. Conheça alguns desses estudos: CASO 1 Rastreamento de câncer de próstata O c e nt r o a l e m ã o Harding Center for R i s k L it er a c y, de Berlim, comprovou que o diagnóstico precoce em alguns casos não passa de uma crença. Estudo7 com homens de 50 anos ou mais, acompanhados por 11 anos para câncer de próstata, mostrou que o rastreamento para a doença é inef icaz e ainda causa danos aos pacientes. Luiz Cláudio Correia 1) ZHI, Ming et al. The Landscape of Inappropriate Laboratory Testing: A 15Year Meta-Analysis. 2013. Disponível em: <https://goo.gl/FOLtM4>. Acesso em: 15 nov. 2016 3) ABIM FOUNDATION (EUA). Melh res Práticas COM RASTREAMENTO homens morreram de câncer de próstata morreram de outras causas fizeram biópsia após resultado do PSA. Exame comprovou que não havia doença; PSA deu falso positivo foram diagnosticados e tratados para câncer de próstata desnecessariamente 007 203 160 020 SEM RASTREAMENTO homens morreram de câncer de próstata morreram de outras causas 007 203 Real efeito da mamografia Relatório publicado pela Comissão Médica da Suíça em fevereiro de 2014 reconheceu que a mamografia pode evitar cerca de apenas 1 morte atribuída ao câncer de mama por cada 1000 mulheres examinadas. Estudo8 foi publicado pela The New England Journal of Medicine em maio de 2014. Uma revisão da Cochrane 9 com 10 ensaios envolvendo mais de 600 mil mulheres mostrou que não havia evidência dos resultados da mamograf ia no índice de mortalidade. Ou seja, o exame para rastrear o câncer de mama não teve inf luência no resultado f inal. Esse estudo leva a uma perg unta: qual o real benef ício para as mulheres da realização da mamografia sem qualquer sintoma? Referências 2) ABLIN, Richard J. The Great Prostate Mistake. 2010. Disponível em: <https://goo.gl/tdqKy5>. Acesso em: 18 nov. 2016 30 CASO 2 Choosing Wisely. Disponível em: <https://goo.gl/PpMjjE>. Acesso em: 31 out. 2016. Acesso em: 28 out. 2016. 4) SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA (Brasil). Choosing Wisely SBC Brasil. Disponível em: <https://goo.gl/xtLVIU>. Acesso em: 28 out. 2016. 5) ACADEMY OF MEDICAL ROYAL COLLEGES (UK). Forty treatments that bring little or no benefit to patients. Disponível em: <https://goo.gl/0YSOfG>. Acesso em: 24 out. 2016. SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE (Brasil). Choosing Wisely Brasil. Disponível em: <https://goo.gl/DNHNmp>. 6) ABIM FOUNDATION (EUA). The Choosing Wisely lists. Disponível em: <https://goo.gl/OKCv8P>. Acesso em: 28 out. 2016. 7) HARDING CENTER FOR RISK LITERACY. Charted: The Tricky Trade-Offs of Cancer Screenings and Treatments. Disponível em: <https://goo.gl/OCBFW3>. Acesso em: 18 nov. 2016. 8) BILLER-ANDORNO, Nikola; JÜNI, Peter. Abolishing Mammography Screening Programs? A View from the Swiss Medical Board. 2014. Disponível em: <https://goo.gl/6HjGpd>. Acesso em: 18 nov. 2016. 9) GØTZSCHE PC, JØRGENSEN KJ. Screening for breast cancer with mammography. Cochrane Database Syst Rev 2013;6:CD001877. 10) CHOOSING WISELY BRASIL (Brasil). Princípios básicos para elaboração da Lista. Disponível em:<https://goo.gl/6coLGs>. Acesso em: 28 out. 2016. Melh res Práticas 31 | Logística | Pedro Lopes Ribeiro Empresário com mais de 18 anos de experiência em automação logística, fundador da Slidelog e Picklog Indicadores de desempenho logístico para suporte à tomada de decisão precisam ser definidos, implementados e compartilhados entre os setores N o que diz respeito ao desempenho, ao compromisso, ao esforço, à dedicação, não existe meio-termo. Ou você faz uma coisa benfeita ou não faz.” (Ayrton Senna)" É precisamente essa cultura de “desejar fazer bem” que tanto se anseia nas organizações, em especial no universo hospitalar pelos riscos e custos envolvidos. Usando o exemplo da administração da medicação, essa excelência passa no mínimo pelo cumprimento dos 6 Rs (1. Right individual, 2. Right medication, 3. Right dose, 4. Right time, 5. Right route, 6. Right documentation , ou seja, administração ao indivíduo correto, do medicamento certo, na dose certa, no tempo certo, na rota e documentação certas). Portanto, referimo-nos a fluxos logísticos físicos e informacionais, apesar de ainda alguns enfermeiros, médicos e assistentes não compreenderem exatamente do que isso se trata, impossibilitando a sua total consciência do seu papel único no resultado do todo. O nível de qualidade e eficiência acima referido é muito ambicionado pelos hospitais, mas alcançado por poucos devido, entre muitas outras coisas, à ausência de indicadores de desempenho, instrumentos fundamentais para a definição estratégica em termos operacionais e tomada de decisões coerentes com a mesma. No entanto, de nada valem se não forem devidamente definidos, implementados, utilizados como suporte à tomada de decisão e entendidos por todos como fundamentais para a eficiência e sucesso da organização. Sobretudo quando se aspira à acreditação hospitalar. Indicadores de desempenho logístico, tais como o nível de serviço, taxa de ruptura, giro de estoque, custo de não-conformidades, encontram-se bastante divulgados e com reconhecida pertinência, mas o desafio é conseguir implementá-los (exemplo: sistemas de informação fiáveis e consistentes), bem como melhorá-los, podendo constituir aqui a interdisciplinaridade da logística um problema ou uma aliada. Imagine o caso do nível de ruptura de estoque de material médico hospitalar do setor “ABC” de um hospital (ruptura é o índice que mostra a porcentagem de produtos em falta em relação ao total de itens de um estoque). Num f luxo Indicadores de desempenho logístico, tais como o nível de serviço, taxa de ruptura, giro de estoque, custo de nãoconformidades, encontram-se bastante divulgados e com reconhecida pertinência, mas o desafio é conseguir implementá-los tradicional, a farmácia abastece o referido setor determinada quantidade de vezes por semana, e este setor consumirá o necessário. Em função dos consumos informados à farmácia, esta reporá o referido material nas quantidades necessárias. Fica claro que um correto fluxo de informação é fundamental para impedir falta de material. Se esse indicador estiver unicamente imputado à farmácia, corre-se o risco de a equipe de enfermagem não estar totalmente focada em garantir a qualidade e fiabilidade dos registros de consumos e dos desvios de estoque. Caso o hospital implemente um indicador partilhado entre a farmácia e o setor que seja reportado a todo o hospital, ambas as equipes trabalharão para um objetivo comum, específico e mensurável; logo, haverá uma preocupação acrescida dos usuários de enfermagem em garantir que nenhum registro de consumo foi esquecido, ou assinalar devidamente situações de exceção ocorridas que possam ter impacto no movimento do material. Tanto material médico como medicamentos têm custos elevados para os Saiba mais___ Referências 1) Messeder, A. M., Osorio-de-Castro, C. G. S., & Camacho, L. A. B. (2007). “Projeto Diagnóstico da Farmácia Hospitalar no Brasil: uma proposta de 32 Melh res Práticas hospitais (aproximadamente 30% de acordo com o Observatório Anahp 2015), pelo que, apesar da simplicidade do exemplo, alerta-se para a importância da integração dos indicadores de desempenho logístico para aumentar o “empenho grupal de fazer o correto”. Veja-se o exemplo do estudo de Messeder, Osorio-de-Castro e Camacho (2007)1 que hierarquizou os hospitais com base no desempenho das farmácias hospitalares, levando em consideração as atividades logísticas. Verificou-se que a logística estava mais presente quanto maior fosse o grau de complexidade do setor, tendo concluído que falhas da logística e da seleção do medicamento podem acarretar desperdícios de recursos humanos e financeiros, dificultando ou impedindo o adequado fornecimento dos medicamentos e de materiais. Pelo exposto, falar de segurança hospitalar é não esquecer a importância da logística, podendo ser os indicadores de desempenho um instrumento de apoio à promoção de uma mudança rápida e sustentada, quer em termos de procedimentos, quer em termos da qualidade do trabalho em equipe. hierarquização dos serviços”. “The Hospital Pharmacy Survey in Brazil: a proposal for hierarchical organization of”. Cad. Saúde Pública, 23(4), 835-844. Na edição anterior da Melhores Práticas, Pedro Lopes Ribeiro escreveu sobre a relação direta entre logística e rentabilidade. Leia em http://bit.ly/PEDROLOPES Melh res Práticas 33 | Lean | Planejamento Por Gilmara Espino Como o giro de leito se beneficia com processos mais eficientes de higienização E nquanto estão vazios, aguardando que sejam liberados para internação de um novo paciente, os leitos bloqueados criam gargalos nas áreas de emergência e centro cirúrgico, afetando todo o bom funcionamento do hospital. De forma objetiva, a gestão inadequada de leitos impacta o potencial de resultado financeiro, sem falar na percepção de qualidade do paciente e do médico assistente que não esperam ter que aguardar “por uma vaga", principalmente em casos em que a internação é eletiva. Agora, imagine se fosse possível marcar o solado do profissional que executa a limpeza terminal de um leito, a que acontece após a alta. E que esse solado fosse “carimbando" todo o trajeto feito. O que você teria? Uma trilha organizada sem vai e vem ou uma mais parecida com a que ilustra as páginas dessa matéria? De acordo com Eudes Canuto, especialista em Lean aplicado à saúde, entre os processos necessários à liberação do leito são gastas em média 4 horas, apenas entre as atividades de higienização, hotelaria e lavanderia, considerando desde a abertura de um chamado até a conclusão da tarefa. Metade desse tempo é usado pela equipe de higiene. “Essa etapa poderia ser muito mais eficiente. Não é incomum haver um hospital em que a limpeza terminal é concluída em 90 minutos, mas que o colaborador levou mais de 30 minutos para chegar”, explica Canuto. “Além disso, há muito retrabalho. Recentemente, acompanhamos um cliente em que 5% das higienizações precisavam ser refeitas após entrada da manutenção, 3% por indicação da hotelaria e 9% após tratamento de piso. Esse percentual não é aceitável ”, complementa. Há muitas causas para isso, uma delas, segundo Canuto, é o hábito de a enfermagem liberar altas em lote. “O enfermeiro vai reunindo a informação das altas do andar naquele intervalo de horário para então voltar ao posto e fazer todos os imputs no sistema de uma só vez. O colaborador da limpeza que já poderia estar trabalhando em um leito, recebe três chamados juntos, é óbvio que o tempo até a conclusão do último será pouco produtivo. Isso sem falar na falsa sensação de que o quadro de funcionários está sempre insuficiente ”. O processo de higienização requer planejamento antes mesmo da entrada no quarto. O carro de limpeza já estava preparado e próximo ao local onde seria usado brevemente? Trazia todos os materiais organizados por ordem de uso/prioridade? E, o mais importante, o colaborador estava bem treinado sobre o fluxo que deveria seguir quando entrasse no ambiente? Canuto sugere uma sequência, mas esclarece que ela varia de de hospital para hospital, de acordo com o tamanho do quarto e mobiliário, por exemplo. “Fazer check-list, retirar lixo, limpar teto, janela e parede. Em seguida, móveis e chão, higienizar banheiro e trocar enxoval”, ordena. Outras sugestões é que o controle de qualidade do leito seja por amostragem e que hotelaria e limpeza trabalhem juntas, preferencialmente parte de uma mesma equipe. Para reduzir os desperdícios, um gestor precisa, antes de tudo, reconhecer onde eles estão, para então discutir ações de melhoria com todos aqueles que são impactados pelo processo. Soluções inovadoras e simples podem surgir desse exercício. Canuto dá algumas pistas: “Por que a própria colaborada da limpeza não poderia ser a responsável por fazer a cama, poupando a presença de uma funcionária da hotelaria ou, por que não entrarem juntas nos quartos?” O caso prático a seguir demonstra um mapeamento real realizado em um processo de higienização de um leito de enfermaria. Foram classificadas as atividades que eram indispensáveis à tarefa e outras que as que não agregavam valor. Esse foi o ponto de partida para a definição das metas de redução de desperdício e do desenvolvimento do plano de ação, tendo como objetivo inicial o redimensionamento do quadro de colaboradores. Atividades segundo Lean • Agregam valor: são as atividades que, aos olhos do consumidor final, agregam valor ao produto ou serviço. O consumidor percebe que está pagando por elas. • Necessárias que não agregam valor: Aos olhos do consumidor não significam nada, mas são fundamentais ao processo. • Não agregam valor: São desnecessárias em qualquer circunstância. Estas atividades são nitidamente desperdícios e devem ser eliminadas a curto prazo. Fonte: GIULIANO VITOR XAVIER (Minas Gerais). Ietec - Instituto de Educação Tecnológica (Ed.). Lean Production e mapeamento do fluxo de valor. Disponível em: <https://goo.gl/t91W5C>. Acesso em: 1 dez. 2016. 34 Melh res Práticas Melh res Práticas 35 | Lean | Caso Prático Higienização em Leito de Enfermaria - Hospital estudado Grifado em amarelo atividades que não agregam valor Atividades observadas Tempo Inicial Tempo de execução Passos Metros 1 Ligou para informar início da higienização 2 Pegou as luvas e calçou 3 Pegou o saco Colocou as roupas no saco 5 Levantou a cama 6 Dirigiu-se para colocar água no balde e voltou 7 Começou a limpeza da cama 0m 6s 0m 7s 0m 17s 0m 20s 0m 26s 0m 34s 8m 49s 4 3 4 4 0m 10s 0m 16s 0m 23s 0m 40s 1m 0s 1m 26s 2m 0s 3 0 7 2.6496 1.9872 2.6496 1.9872 0 4.6368 52.3296 8 Saiu do quarto para pegar pano no depósito e voltou 10m 49s 0m 50s 79 57.6288 9 Molhou pano e passou na cabeceira da cama 11m 39s 0m 18s 87 3.312 10 Limpeza da régua 11 Retirada do produto da cama 12 Limpeza do criado mudo 13 Foi trocar a água do balde 14 Enxugue da cama e passar álcool 15 Despejar água na pia 16 Higienização da cadeira 11m 57s 13m 20s 14m 0s 16m 13s 16m 46s 33m 18s 34m 0s 1m 23s 0m 40s 2m 13s 0m 33s 16m 32s 0m 42s 1m 0s 5 4 5 24 6 116 6 2.6496 3.312 15.8976 3.9744 76.8384 3.9744 5.2992 17 Deixar o saco verde e pegar perfez no depósito 35m 0s 1m 58s 8 55.6416 18 Retornou e foi colocar água 19 Enxaguar a cadeira 20 Varrer 21 Pegar o mini lock 22 Pegar rodo no depósito e lavar o piso 23 Passar o MOP 24 Retirar a aparadeira do banheiro Lavagem do banheiro 0m 14s 2m 28s 2m 10s 0m 30s 3m 38s 3m 2s 0m 25s 12m 35s 26 Avisar sobre fim da higienização / Total 84 8 10 32 26 120 80 24 745 5.2992 6.624 21.1968 17.2224 79.488 52.992 15.8976 25 36m 58s 37m 12s 39m 40s 41m 50s 42m 20s 45m 58s 49m 0s 49m 25s 62m 0s 36 Melh res Práticas 25 anos de experiência e inúmeros projetos desenvolvidos para empreendimentos na área da saúde. A INOAH tem a solução inovadora e acessível que você procura. Ligue para 11 4420 3080. 493.488 www.inoaharq.com.br Conclusões • Do total de 1 hora e 2 minutos, 61% do tempo (quase 29 minutos) foram desperdiçados com ações desnecessárias ou que poderiam terem sido melhor planejadas para evitar que execução durante o bloqueio do leito. PROCURANDO NOVAS FORMAS PARA VIABILIZAR O SEU PROJETO DE ARQUITETURA? • O hospital estudado definiu, entre outras metas, redimensionar o processo para fazer a higienização nos apartamentos no total de 33 minutos. • Ao final, conclui-se não haver necessidade de ampliar o quadro de colaboradores da higiene. | Hotelaria | Gerenciar com organização e bom custo-benefício é o grande desafio para prolongar a vida útil dos enxovais nos hospitais e reduzir desperdícios com evasão e perdas A s semelhanças entre as gestões do enxoval hospitalar e do enxoval hoteleiro existem praticamente apenas no nome. Enquanto no hotel o camareiro é praticamente um dos únicos manipuladores da roupa de cama e toalhas, em um hospital, essa tarefa passa por enfermagem, técnicos e colaboradores da rouparia. Quase ninguém lembra, mas administrar a roupa que entra e sai da instituição é tão vital quanto o abastecimento adequado de medicamentos. A escassez pode, em questão de horas, parar, por exemplo, o centro cirúrgico e a unidade de emergência. O enxoval sujo, ao contrário do que ocorre nos hotéis, não pode ser contado no momento de retirada dos leitos por determinação da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), estabelecida em janeiro de 2012, o que impacta diretamente na manutenção do estoque das peças. 38 Melh res Práticas Faltas são extremamente comuns, pois muitas peças ou se perdem durante o processo de lavagem e transporte, ou são levadas por familiares ou acompanhantes dos pacientes. “O maior problema da gestão da rouparia é a evasão do enxoval. O ideal é que a evasão ou perda não ultrapasse 3% ao ano, entretanto, o que se vê é esse número girar em torno de 8%”, diz Ivonete Melo, consultora de Hotelaria e diretora da Sociedade de Hotelaria Hospitalar do Rio de Janeiro. Como não é permitido manipular as peças que são enviadas à lavanderia, o material recolhido é pesado antes de sair da instituição. Porém, é normal haver controvérsias acerca do peso enviado e do peso recebido. “A roupa suja quando é coletada vem com inúmeras substâncias que a deixam mais pesada. Ela pode estar molhada, com sangue ou medicamentos. Isso significa que, se enviarmos 100 kg de enxoval, provavelmente receberemos menos do que isso quando essas roupas voltarem, porque a roupa limpa é mais leve”, explica Ivonete. Segundo Marcelo Boeger, presidente da Sociedade Latino-Americana de Hotelaria Hospitalar, cada paciente gera entre 7 e 10 kg de roupa suja por dia, ao custo médio para lavagem de R$ 3,00 o quilo. Instituições com orçamentos apertados tendem a optar por enxovais de qualidade inferior, o que mais tarde resulta em gasto extra para repor o material que durou menos do que o esperado. E não é só a qualidade que interfere diretamente no custo-benefício e na vida útil do enxoval hospitalar. A quantidade também é vital. A recomendação é de cinco a seis mudas por leito. “Infelizmente, são poucos os hospitais que trabalham com essa média, e, por isso, a rouparia tende a ter peças que rapidamente se desgastam”, diz Ivonete. A lógica das cinco ou seis mudas é baseada na rotatividade desse material. Tais medidas garantem o uso de cada muda por um período médio de um ano. A fórmula é simples: a primeira está em uso, no quarto do paciente. A segunda acabou de ser retirada do leito porque estava suja. A terceira está em processo de lavagem, e a quarta está para ser devolvida ao hospital pela lavanderia. Por fim, a quinta está em repouso de 12 a 24 horas após voltar da lavagem, o que é recomendado para não danificar as fibras das roupas, e a sexta e última está disponível para substituir a muda que está em uso no leito. Nesses casos, conhecer o processo de logística da lavanderia pode ajudar a melhorar a rodagem do enxoval no dia a dia. “Há cidades como São Paulo, por exemplo, onde há restrições de tráfego de caminhões em determinados horários, ou seja, é preciso estudar os horários em que haverá a coleta do material sujo e a qual hora ou dia esse material será devolvido. Esse processo deve ser pensado visando o custo-benefício da operação, levando também em consideração o tempo entre uma entrega e outra, sem correr o risco de a instituição ficar sem estoque”, explica Boeger. O departamento de compras também é parceiro fundamental. É imprescindível que o comprador entenda as necessidades da rouparia do hospital e opte por um produto que contenha características específicas para as atividades que aquela peça será utilizada, como a recomendação que diz que as roupas devem conter 100% de algodão. Boeger acredita que a rouparia é muito mais que uma vestimenta ou peça de trabalho nos processos hospitalares. “A roupa também humaniza o atendimento no hospital, afinal, ela gera conforto, segurança e bem-estar”, diz. Melh res Práticas 39 | Hotelaria | Tecnologia é uma saída. Engajamento também Saber o quanto o hospital possui de roupa em estoque é crucial e, por isso, o indicado é fazer contagens regularmente. Isso é bastante complexo porque, ao mesmo tempo, há peças nas camas, em alguns armários de quartos, “escondidos” para situações urgentes nos postos de enfermagem, na rouparia, nos expurgos, na lavanderia e em trânsito. Uma tendência é fazer uso da tecnologia para ajudar nesse controle, como o RFID (Identificador por Radiofrequência), um sistema seguro e que possibilita o gerenciamento do enxoval com bastante precisão. “A roupa enviada à lavanderia continua indo por peso, porém, ela é identificada pelo chip que a acompanha e, mesmo com várias peças juntas, consegue-se precisar quantas toalhas, lençóis, fronhas e demais itens foram enviados à lavanderia. Quando o enxoval retorna limpo ao hospital, a equipe consegue ter o controle exato da quantidade de peças que foram devolvidas”, explica Boeger. Para Ivonete, o alto custo ainda afasta boa parte dos hospitais brasileiros de fazerem uso de sistemas como o RFID. Ela conta que, há alguns anos, o uso do código de barras foi testado e não deu certo muito por conta do preço alto e, também, por uma limitação sobre onde fazer a gravura do código de barras. “O fato de o profissional não poder manusear as peças dificultou encontrar uma solução de onde esse código de barras devia ser inserido. O profissional correria muitos riscos se ficasse procurando em qual ponta do lençol ou da toalha de banho se encontra esse código para fazer o registro de saída.” Por enquanto, a opção mais barata e efetiva continua sendo investir no treinamento de todas as áreas envolvidas. Isso se aplica principalmente aos hospitais que não possuem camareiras, considerado um serviço caro e nem sempre efetivo, o que obriga os profissionais de enfermagem a fazerem as trocas de enxoval nos leitos. “Os profissionais de enfermagem precisam estar conscientes de que o enxoval gera gastos 40 Melh res Práticas e que é possível evitar o desperdício e cuidar melhor desse material se houver maior engajamento de todos”, diz Ivonete. Uma forma de estimular o engajamento é separar o centro de custo por andar do hospital. Dessa forma, os enfermeiros que gerenciam cada um desses andares seriam os responsáveis diretos pelo consumo de roupa daquele setor. O controle do que sai e entra de roupa passaria a ser organizado, além de ser possível identificar quais andares gastam mais enxoval e, assim, instruir os profissionais desses setores a gastar menos. Outro método é orientar os profissionais de enfermagem a evitar que peças fiquem sobrando no quarto. Ivonete aposta em reuniões entre as lideranças da Rouparia e da Enfermagem. “É comum a Enfermagem trocar o enxoval e deixar no quarto muitas peças sobrando. Isso colabora com os índices de evasão e, por isso, orientamos que eles façam a retirada do que está sobrando no leito”, esclarece. Aumentando a vida útil do enxoval hospitalar Reaproveite o material, se possível. Quando houver manchas que não saem ou rasgos, tente aproveitar parte do restante desse material. Uma toalha de banho pode, por exemplo, se tornar um pano ou uma toalha de rosto se for bem aproveitada. Descanso. Se a média for abaixo de 5 ou 6 enxovais por leito, provavelmente seu hospital não respeitará a orientação de que o material após a lavagem necessita de 12 a 24 horas de descanso, fator crucial para manter a vida útil do enxoval. Evitar contato com solas de borracha dos calçados. O contato de um tênis ou sapato com sola de borracha prejudica as composições do material do enxoval. Mesmo após a lavagem, a composição química da borracha fica impregnada no tecido, e é inviável usá-lo novamente. Lençol com nó, nem pensar. O material ao ser recolhido para lavagem não pode estar com nós. Se isso ocorrer, ele será lavado assim, e o nó dificilmente será desatado. Adéque o enxoval para as características climáticas de sua região. Se o hospital fica em regiões com predominância de temperaturas altas, por exemplo, não há necessidade da compra de cobertores grossos. Eles podem ser facilmente substituídos por mantas e lençóis mais finos. Essa medida também reduzirá o custo da lavagem. Como melhorar a gestão do enxoval do meu hospital? Processos: Tenha um sistema bem definido de obrigações para que todas as áreas que dependem desse serviço possam colaborar. Logística: Defina em reuniões com as lideranças do hospital e das áreas de Enfermagem, Rouparia e Lavanderia as estratégias para melhorar a logística de recolhimento e entrega dos enxovais sujos e limpos. Entender o que o hospital necessita e em qual medida e quais horários esse serviço é necessário fará diferença no orçamento. Inventário regular: Contar e registrar de tempos em tempos quantos enxovais o hospital possui dá trabalho, mas é extremamente útil. Estabeleça uma cultura de fazer inventário de acordo com o período que melhor se encaixar à sua instituição. Legislação: Conhecer as leis e as regras que regem essa área é de extrema importância. Esteja atento às novas regulamentações e ao que a Anvisa pede como padrão. Água: Poucos sabem, mas a água também interfere na qualidade do processo de lavagem. O ideal é visitar as lavanderias e questionar qual a composição química da água utilizada. Melh res Práticas 41 | Avaliação | Por Felipe César Rótulos e mitos que reduzem o potencial de aproveitamento do processo de avaliação D esde o início dos anos 2000, o movimento de acreditação vem crescendo no Brasil. Atualmente, há 611 instituições de saúde acreditadas entre hospitais, clínicas, serviços odontológicos, diagnóstico por imagem, atenção domiciliar, entre outros. Desses, 511 são acreditados pela Organização Nacional de Acreditação (ONA), 48 pela Certificação Canadense Qmentum DiamondInternationale 62 pela Joint Comission International. Durante um processo de acreditação, ocorrem visitas periódicas de preparação, avaliação e manutenção. Só no mês de setembro de 2016, o IQG Health Services Accreditation, instituição acreditadora da ONA e do Qmentum, organizou mais de 100 equipes para as visitas em todo o Brasil, de acordo com Rubens Covello, presidente do IQG. Nas equipes, a formação profissional é variada. Há médicos, engenheiros e administradores hospitalares. 42 Melh res Práticas “No IQG, mantemos um banco de avaliadores com mais de 1500 nomes que, de acordo com cada expertise e treinamento, podem ser acionados para formar as equipes de avaliação”, diz Covello. “Por meio das avaliações, busca-se saber, por exemplo, se os objetivos traçados foram atingidos de forma adequada e eficaz, se os processos de desenvolvimento das intervenções revelaram seu mérito ou qualidade intrínseca, se as ações realizadas e os serviços prestados podem ser associados a algum tipo de impacto para os beneficiados, comunidade, prestadores, compradores e demais interessados”, explica Mara Machado, diretora executiva do IQG. O êxito da avaliação implica em uma relação de confiança e colaboração entre o avaliador e a organização de saúde. Entretanto, em um primeiro momento, nem sempre essa conexão acontece de forma espontânea. Parte disso se explica pelos rótulos e mitos que cercam o avaliador, o avaliado e o próprio processo de avaliação. Eis as crenças mais comuns: 1 Avaliados são resistentes à avaliação Verdade em muitos casos. Para Mara, "a implantação de políticas de avaliação é quase sempre permeada de certa resistência, geralmente associada ao sentimento de que as evidências produzidas e o conhecimento mais ampliado de informações possam acarretar mudanças, aumento da cobrança e do volume de trabalho, punições ou perda de poder”. A alta gestão e o avaliador têm um papel complementar para vencer essa barreira. Se, por um lado, superar a resistência depende quase que exclusivamente da capacidade dos gestores em articular os envolvidos em torno de uma proposta, por outro, é recomendável que o avaliador que estará à frente em instituições mais resistentes tenha um perfil agregador, com inteligência emocional para lidar com conflitos. "A organização precisa enxergar sentido nas mudanças sugeridas pelo avaliador dentro dos processos. Nesse caso, o que vale é o relacionamento, saber se comunicar com o outro para, então, transpassar a barreira da resistência”, explica Maria Carolina Moreno, que foi superintendente executiva da ONA. “Se o avaliador permanece dois ou três dias dentro da organização sendo exigente e apontando problemas de forma truculenta, sem pensar o que determinada colocação pode significar para a organização, ao final da avaliação metade do que foi apontado, por mais que seja real e necessário ser melhorado, será desconsiderado e desvalorizado pela organização, simplesmente pela forma como foi comunicado aos colaboradores e lideranças”, complementa. 2 3 O foco da avaliação é o certificado Mito. De acordo com Mara, “a avaliação não permite somente a produção de informações para a certificação, mas melhora a eficiência e oferece a possibilidade de transformação dessa prática à luz dos interesses dos envolvidos”. Depois da visita, tudo voltará a ser como antes Mito. O papel do avaliador é ser educativo, levando a organização a identificar suas prioridades, e, aos poucos, as organizações adquirem maturidade em diversas questões. “Os avaliadores são agentes de mudança, eles são provocadores, e não os executores. Existe uma limitação no papel do avaliador. Ele precisa mostrar as fragilidades de uma maneira bastante objetiva e contundente, mas levando a organização a se questionar e solucionar problemas, assim se consegue uma transformação na gestão. Esse caminho não tem volta”, ressalta Maria Carolina. Melh res Práticas 43 | Avaliação | 5 O avaliador é um auditor Mito. O processo de avaliação não tem nada a ver com auditoria. Vale lembrar que a acreditação é realizada de forma voluntária, é a organização que escolhe ou não passar por esse processo. “Reforçamos para que os avaliadores não usem a palavra auditoria. Quem faz auditoria é aquele profissional que vai verificar as contas. O nosso processo é baseado na construção de uma gestão com foco na melhoria em conjunto com a organização”, destaca Maria Carolina. De acordo com Mara Machado, diretora executiva do IQG, a confusão teve início no começo dos anos 1990, quando o assunto ainda era novo, e os gestores de saúde estavam mais acostumados com avaliações estruturadas no modelo de regulamentação. "Uma vez entendido que o processo era crível e que poderia ser um diferencial de gestão, esses atores começaram a valorizar a acreditação como um diferencial competitivo e se autodenominarem avaliadores", conta. 6 7 O erro está nos processos e não nas pessoas Verdade, e o conceito está mais maduro. “Quando fazemos análise dos eventos, nem consideramos a questão de quem foi, e sim o processo. Perguntamos ‘o que foi modificado na assistência passado o que aconteceu?’. Valorizamos as modificações geradas a partir do erro ao invés de investigar quem estava envolvido em determinado evento. O importante é que a organização aprenda a gerar melhoria no dia a dia, e não apontar culpados”, diz Maria Carolina. Uma discussão atual é a diferença entre culpar e responsabilizar. Indivíduos precisam estar engajados, capacitados e se sentirem responsáveis pelas ações que executam. Quando cada um sabe o seu papel e o que é esperado dele, é mais fácil discutir melhorias no processo. As organizações não utilizam o relatório do avaliador adequadamente Depende muito da organização. Essa é uma questão que ainda necessita de mais experiência e aprendizado, tanto do ponto de vista da instituição acreditadora como da organização de saúde. “As organizações estão aprendendo a olhar o relatório de uma forma mais abrangente e sistêmica, porque o que se costuma fazer é a liderança receber o relatório e dividi-lo entre as áreas, sem um olhar global. Acho também que nós, como metodologia de acreditação, precisamos aprender a gerar relatórios com maior valor agregado. É o que estamos fazendo aqui na ONA nos últimos seis meses. São esses relatóriosquede fato trazem oportunidades de melhoria para as organizações”, conclui Maria Carolina Moreno. Mesmo que seja inegável o valor das avaliações para a melhoria da eficiência da gestão, instituições ainda têm dificuldade em “apropriar-se" dos resultados que são apontados - Mara Machado, diretora executiva do IQG 44 Melh res Práticas PROGRAMA SAFETY ZONE • Projeto assistencial focado na qualidade e segurança do paciente hospitalizado. • Gerenciamento e redução do risco de TEV no ambiente hospitalar. • Alinhado com as metodologias das agências acreditadoras. O paciente pode estar imobilizado. Nós não podemos. Entre em contato e saiba mais sobre o projeto: [email protected] SABR.ENO16.0 7.0752 - Agosto/2016 4 Lideranças que não aderem precisam ser substituídas Não é assim que funciona. “Primeiro, é preciso avaliar se esse líder entendeu o que precisava ser feito, depois, se a alta liderança da organização promoveu um ambiente favorável para que a média liderança consiga implantar as melhorias sugeridas e de forma sustentável. Além disso, essa alta liderança precisa ter maturidade para compreender todas essas questões”, declara Maria Carolina. | Assistência | A integração do cuidado é feita por meio da figura do navegador ou coordenador do cuidado. É esse profissional que recebe e acompanha o idoso e sua família a partir do Nível 2. A avaliação funcional breve, feita na entrada do paciente no sistema, permite um marco zero de monitoramento e parâmetro para acompanhamento do plano terapêutico entre os diferentes pontos da rede de saúde. “Esse profissional cuida da transição do cuidado entre os serviços e reavalia anualmente, ou quando necessário, a capacidade funcional da pessoa, incentivando-a a participar do processo de cuidado”, explica Martha. E completa: “Para manter a qualidade da assistência, recomenda-se que, para cada coordenador, haja um grupo sob sua responsabilidade, como forma de garantir o estabelecimento da confiança e vinculação com o idoso, valores inerentes a uma assistência qualificada.” Por Felipe César Conheça o novo programa da ANS para a atenção integrada A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) lançou neste ano o projeto Idoso Bem Cuidado. A ideia do projeto é monitorar a saúde, e não a doença, por meio da implementação de um modelo de cuidado mais organizado e eficiente, com foco na avaliação funcional e na atenção primária. “Para que isso seja possível, é preciso que haja uma reorganização da prestação do serviço, com a coordenação do atendimento prestado desde a porta de entrada no sistema e ao longo de todo o processo de cuidado”, afirma Martha Oliveira, diretora de Desenvolvimento Setorial da ANS. O modelo proposto é formado por cinco níveis de cuidado: acolhimento, núcleo integrado de cuidado, ambulatório geriátrico e cuidados complexos de curta e longa duração (ver quadro). O objetivo é fortalecer os três primeiros níveis da estrutura de atendimento. 46 Melh res Práticas Para que essa estrutura funcione de forma adequada, antes é preciso fazer o monitoramento dessa população idosa e informatizar o registro dos pacientes. O projeto propõe que as organizações façam a implantação do Registro Eletrônico de Saúde (RES) para armazenar as informações de saúde de cada indivíduo e que possam ser acessíveis em qualquer sistema de informação. Para hospitais que não têm condições de implantar o RES nesse momento, uma alternativa viável é o CMD – conjunto mínimo de dados da atenção à saúde. Baseado no conceito norte-americano Minimum Dataset Healthcare – MDH, o CMD permite o registro de informações essenciais para avaliação da saúde da população, gestão dos serviços e processos administrativos. Caso prático Níveis de atendimento nas instituições de saúde – proposta da ANS NÍVEL 1 Acolhimento NÍVEL 2 Centro Sócio-Sanitário, Ambulatório Clínico e Centro Dia NÍVEL 3 Ambulatório Geriátrico, Atenção Domiciliar e Reabilitação NÍVEL 4 CURTA DURAÇÃO Atenção Domiciliar, Emergência e Internação de Casos Agudos, Hospital Dia e Hospice (cuidados paliativos) NÍVEL 5 LONGA DURAÇÃO Unidade de Reabilitação, Residência Assistida e Instituição de Longa Permanência de Idosos (ILPI) A ANS recebeu 74 projetos de hospitais e operadoras de saúde. Foram selecionadas 64 instituições, entre elas o Hospital do Coração (HCor), situado em São Paulo. Para Bernardete Weber, superintendente de Qualidade e Responsabilidade Social do HCor, a participação é uma forma de sistematizar um conjunto de ações já existentes no hospital. “Nós temos há cinco anos um programa que trata do infarto agudo do miocárdio e um programa de insuficiência cardíaca. Esses dois programas têm a característica do monitoramento, ou seja, quando o paciente não está hospitalizado, ele é monitorado para assegurar que não haja internação e/ ou que o tratamento não seja recomeçado. São dois programas em que a maioria dos pacientes se encontra na faixa dos 60 anos ou mais”, diz. O Hospital criará um ambulatório chamado Centro de Atenção Melh res Práticas 47 PRÁTICAS ASSISTENCIAIS | Assistência | Editoria Patrocinada Caso prático: HCor ao Idoso, “no qual nós executaremos ações de educação, promoção à saúde, prevenção de doenças evitáveis e um cuidado precoce em reabilitação e agravamento de acordo com a classificação de risco do idoso”, conta Bernardete. Para o Centro de Atenção ao Idoso do HCor, a diretoria estruturará as equipes com processos focados na pessoa idosa, de acordo com a classificação de riscos, necessidades e protocolos específicos. “Nós teremos idosos que receberão a prevenção primária, ou seja, manejo de fatores de risco, e idosos que terão a educação e prevenção primária em todos os níveis, mas também a reabilitação. O conceito de reabilitação significa mantê-los em condições de realizar as atividades diárias. O cotidiano ativo do idoso determina o quanto ele é autônomo no seu autocuidado e níveis de fragilidade”, finaliza a superintendente. saiba mais Para entender melhor o modelo Idoso Bem Cuidado, a ANS recomenda a leitura do livro Idosos na Saúde Suplementar: Uma Urgência para a Saúde da Sociedade e Sustentabilidade do Setor. O download é gratuito em http://bit.ly/ANSlivro Objetivos: identificação de risco precoce; oferta de uma atenção integrada para reduzir o impacto das doenças crônicas nas funcionalidades; monitoramento da saúde e não da doença, mitigando as fragilidades e sustentando a autonomia ao longo da vida. A linha de cuidado adotada pelo HCor é fundamentada no atendimento personalizado, baseado em três pilares: 1) Transição do cuidado – informações de saúde compartilhadas com o paciente, ou seja, o idoso que der entrada no HCor terá a portabilidade das suas informações. Será uma espécie de caderneta com o resumo da história clínica do paciente, que pode ser usada sempre que o idoso passar por atendimento em qualquer unidade de saúde. 2) Projeto multidimensional – atende a dimensão física ou biológica, a dimensão psicológica e a social, uma vez que existe uma vulnerabilidade social dessa população. 3) Acesso à saúde – elaboração de um fluxo que contempla a população de idosos fora do ambiente hospitalar. A ideia é que a unidade de saúde tenha condições de reduzir a hospitalização e o tempo de permanência dos pacientes com medidas na alta pós-hospitalar e ações de prevenção. Autores O QUE MUDOU APÓS A ACREDITAÇÃO? Acreditação, qualidade e melhoria contínua se tornaram uma parte intrínseca do discurso e atividades dos serviços de saúde. Internacionalmente, datados de 1970, programas de Acreditação de cuidados de saúde e organizações de Acreditação surgiram e se desenvolveram. Embora seja justo dizer que o envolvimento na Acreditação é variável, agora é, em muitas partes do mundo, um elemento aceito e importante nas atividades de melhoria de qualidade. No Brasil, a certificação ainda é um campo a ser explorado, visto que somente 5% das instituições são acreditadas. Faltam ainda incentivos que sinalizem a Acreditação como estratégia válida e reconhecida para a qualificação da rede hospitalar e de serviços. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em 28/03/2016, divulgou uma lista de hospitais que atendem a critérios de qualidade importantes para aferir o padrão de assistência prestada à população, sendo um dos critérios a Acreditação nacional nível 3 ou internacional. A ANS também divulgou uma lista de hospitais que estão sujeitos ao Fator de Qualidade – índice de reajuste aplicável nos contratos entre os estabelecimentos e as operadoras de planos de saúde. O Fator de Qualidade faz parte de um novo modelo de remuneração implantado para hospitais e profissionais da área médica que atendem a saúde suplementar e foi estabelecido pela Lei nº 13.003/2014 e regulamentado pela Instrução Normativa nº 61/2015. É aplicado nas situações em que não há negociação entre operadoras e prestadores, e quando não há um índice previsto no contrato ou acordo entre as partes. A qualidade e a segurança são prioridade para a Rede D’Or São Luiz, e a participação no processo de certificação é incentivada pela alta liderança como forma de estimular a melhoria contínua e a transparência nas instituições. Hoje, 9% dos hospitais acreditados no Brasil são da Rede D’Or, que tem 87% dos seus hospitais já certificados na metodologia ONA, JCI ou Qmentum. Os profissionais são sistematicamente estimulados a identificar vulnerabilidades, seja através do sistema de gerenciamento de riscos, análise de resultados dos processos e/ou de protocolos 48 Melh res Práticas Melh res Práticas 49 PRÁTICAS ASSISTENCIAIS Editoria Patrocinada Observamos uma melhoria dos resultados assistenciais quando é adotada a metodologia da Acreditação nos hospitais adquiridos pela Rede D’Or. Como exemplo, podemos citar o Hospital São Luiz Jabaquara, adquirido pela Rede D’Or em 2012 e certificado pela ONA em 2014. O hospital teve diminuição de 93% no seu resultado de infecção de sítio cirúrgico de 2013 comparado a 2016, e o aumento da adesão a antibioticoprofilaxia cirúrgica em 137%. Outra melhoria evidenciada foi com relação ao Protocolo de Sepse que aumentou a sensibilidade de abertura em 490% (passou de 121 protocolos abertos por ano em 2013 para 718 em 2016), realizando a identificação precoce e aumentando a efetividade na prevenção do óbito por sepse em 22%. Para Adriana Freitas, supervisora de Qualidade do Hospital São Luiz Jabaquara, a unidade vem desenvolvendo um trabalho impulsionado pela Acreditação pautado na sensibilização, na conscientização e na valorização do envolvimento de todos os profissionais. Houve um grande investimento na remodelação dos processos de trabalho, na adaptação de protocolos assistenciais e em treinamento de pessoas, trabalho este que permanecem desenvolvendo. A unidade acredita que o maior desafio é realizar mudanças necessárias de maneira simples, visando sistematizar o trabalho evitando burocracia. A criatividade dos profissionais envolvidos foi fundamental em todo o processo de construção, divulgação e implantação de todas as mudanças citadas. E, para sustentar a cultura de segurança, a dedicação diária se faz necessária. Os profissionais são sistematicamente estimulados a identificar vulnerabilidades, seja através do sistema de gerenciamento de riscos, análise de resultados dos processos e/ou de protocolos para que possíveis falhas possam ser corrigidas ou mitigadas antes de causar grandes prejuízos ao sistema. Marivaldo Freitas, supervisor de Qualidade do Hospital Assunção, corrobora dizendo que uma mudança organizacional é definida como sendo “uma transformação de um sistema de ação, na qual são alteradas as relações entre os seus participantes, bem como seus mecanismos de regulação”. Portanto, para que ocorra esse tipo de mudança, é preciso que toda a instituição trabalhe em consonância em torno do novo processo, com a colaboração de todos os envolvidos na empresa, inserindo-a de forma gradativa, a fim de que todos consigam entender e acompanhar o que está ocorrendo e quais as consequências. Essa definição exprime muito bem as experiências vividas na unidade que vem trabalhando os pilares de uma política de segurança do paciente, com maior tenacidade e resiliência desde 2010, após aquisição pela Rede D’Or, sendo acreditada pela ONA em 2013 e recertificada com excelência em 2015. A unidade Assunção vem demonstrando uma melhoria contínua na redução de infecções relacionadas a dispositivos: redução de 36% nas infecções primárias de corrente sanguínea, 74% na infecção do trato urinário, e 48% nas pneumonias associadas ao uso de ventilação mecânica. Além disso, a unidade registrou uma diminuição importante nas reinternações menores ou iguais a 24 horas na terapia intensiva (89%). A unidade vem desenvolvendo um importante trabalho com relação à sensibilização dos colaboradores para a cultura de segurança e envolvimento do paciente no cuidado, diminuindo com isso o número de processos judiciais em 96%. Implementar mudanças estratégicas, estruturais, operacionais ou táticas está longe de ser uma tarefa simples. Percebemos o quanto requer o acompanhamento constante e transparência na condução do processo para que todos os envolvidos sejam capazes de compreender e se engajar. “Conduzir essas mudanças de maneira eficaz e consolidar as metas propostas se faz necessário para a agilidade organizacional, a maturidade para enfrentar os desafios e a qualidade de práticas de gestão da mudança”, refere Darciane Buso, supervisora de Qualidade da unidade Bartira, que há aproximadamente um ano vem se preparando para o processo de certificação. Diante dessa proposta de transformação, o hospital Bartira está evoluindo muito no desenvolvimento de pessoas, buscando as atividades relacionadas aos processos de formação da personalidade, da melhoria da capacidade de compreender e interpretar o conhecimento. "Nessa fase de implantação, sentimos que essa mudança pode acontecer muito rápido, mas os primeiros a sentirem o impacto dessa mudança são nossos colaboradores das áreas operacionais. Por isso, estamos trabalhando fortemente com o time de liderança e a importância de estarem atentos, na comunicação eficiente e no apoio a todos, a fim de permanecerem alinhados aos objetivos e metas organizacionais.", diz Darciane. A unidade já vem observando o resultado dessa preparação aumentando significativamente o número de notificações de eventos adversos e diminuindo o número de incidentes com dano de 48% para 2% em 2016. O que faz um hospital ter melhor resultado assistencial não é o fato de ter ou não um selo que o certifica, mas, sem dúvida, o processo para obtenção e manutenção do mesmo, o que cria um ambiente de cultura de segurança, motivação das equipes e de melhoria contínua dos processos. Todos esses são fatores que resultam em mais qualidade, controle e melhor reputação. Evolução no número de unidades acreditadas na Rede D'Or São Luiz SP | 2 HOSPITAIS EM PREPARAÇÃO PARA DEZ.2016 100 57 % 0 50 Melh res Práticas 2012 74 % 2013 83 % 2014 87 % 2015 87 % 2016 JOINT COMMISSION INTERNATIONAL (JCI) ORGANIZAÇÃO NACIONAL DE ACREDITAÇÃO (ONA) ACCREDITATION CANADA INTERNATIONAL Hospital Copa D'Or Hospital Memorial São José Hospital Rios D'Or Hospital São Luiz Itaim Nível 3: Hospital Assunção,Hospital Badim, Hospital da Criança, Hospital Esperança Olinda e Hospital Oeste D'Or Hospital Barra D'Or Hospital Esperança Hospital e Maternidade Brasil Hospital Quinta D'Or Hospital São Luiz Morumbi Hospital Vivalle Nível 2: Hospital Caxias D’Or, Hospital Coração do Brasil, Hospital Jabaquara, Hospital Niterói D'Or, Hospital Norte D'Or, Hospital Santa Helena, Hospital Santa Luzia e Hospital Villa Lobos Nível 1: Hospital São Marcos, Hospital Sino Brasileiro e IFOR Em processo: Hospital Bartira e Hospital Bangu Melh res Práticas 51 | Arquitetura | Por Daniela Dias CONFORTO QUE GERA EFICIÊNCIA Pequenas mudanças no layout de áreas físicas melhoram o bem-estar e afetam o humor da equipe Situações limítrofes e estressantes são parte do cotidiano do ambiente hospitalar. Por isso, planejar um espaço mais confortável, do ponto de vista arquitetônico e paisagístico, ultrapassa questões puramente estéticas e tem um papel fundamental na funcionalidade e na relação de profissionais da saúde com seu local de trabalho e desempenho de suas tarefas. Planejar o ambiente é considerar os aspectos multifatoriais que fazem parte da rotina de um hospital, como as jornadas de trabalho, acústica, o impacto das informações visuais e olfativas, as condições de iluminação, a ergonomia, a aclimatação e o manejo de substâncias químicas. E mais, compreender o objetivo de cada setor e as atividades que serão desenvolvidas ali, incluindo a responsabilidade do colaborador naquele espaço. Essas especificações capazes de proporcionar um ambiente seguro para o paciente, funcional e ao mesmo tempo propício para a execução de tarefas especializadas são, inclusive, contempladas pela Resolução RDC n. 50, de 21 de fevereiro de 2002, que “dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de Projetos Físicos de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde”. Para informar sobre como atender a esses requisitos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), coordenadora do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), orienta tecnicamente a construção desses espaços. Conta para isso com o “Manual do Conforto Ambiental em Estabelecimentos Assistenciais de Saúde”, publicado em 2014 pela instituição. O documento traz um estudo detalhado de como a percepção de conforto influencia na qualidade de vida do colaborador e na atenção que presta. Na prática, segundo a especialista Lara Kaiser, diretora operacional e líder em healthcare de empresa de arquitetura e design interdisciplinar, é possível Em 2006, o pesquisador, arquiteto e professor Romano Del Nord, da Universitá de Firenze, Itália, publicou a pesquisa “O ambiente e os fatores perceptivo-sensoriais”, na qual revela como o conforto é capaz de produzir relevantes resultados para a humanização da assistência à saúde. Confira como: • Promover a redução do estresse e da fadiga dos profissionais de saúde e melhoria da eficácia assistencial. • Melhorar a segurança do paciente. • Reduzir o estresse no paciente e ampliar a possibilidade do êxito clínico. • Promover melhoria ampla da qualidade da prestação da assistência. Fonte: http://conforlab.com.br/legislacao/manual_conforto_ambiental.pdf conseguir bons resultados com o planejamento dos ambientes. “Na área interna, através das cores e design de interiores, pode-se conseguir um ambiente que não remeta à sensação de estar dentro de um hospital, especialmente nos quartos e até mesmo no corredor”, diz. Obviamente, isso é mais difícil em unidades intensivas e centro cirúrgico. Ainda assim, o bom-senso e a funcionalidade devem dar o tom das escolhas, no sentido de encontrar o equilíbrio entre bem-estar e concentração. “Em um espaço de internação, aquele profissional não está ali, naquele momento, para descansar, mas precisa de um ambiente onde possa se sentir melhor e produzir melhor. Se ele está sem nenhum conforto, isso afeta seu rendimento. É preciso trabalhar um conjunto de elementos, as cores adequadas, materiais de qualidade e um bom design. Há, contudo, que observar que algumas escolhas nascem da funcionalidade do local. Uma internação infantil pode ter elementos mais chamativos do que um espaço onde um paciente está se recuperando de um problema pulmonar, que precisa de tranquilidade, por exemplo”, explica. Uma opção é planejar além do espaço de trabalho, investindo em áreas de descanso externas para que o colaborador veja a luz do dia. Se possível, até com plantas. Um local para respirar um pouco depois de momentos mais intensos no trabalho. Também no que se refere à integração de equipes, a experiência com áreas externas tem se mostrado interessante. No Hospital Israelita Albert Eistein há uma área verde, com acesso à cafeteria, um espaço amplo para onde naturalmente se dirigem não apenas médicos, enfermeiros, administrativos e terceirizados, mas também pacientes e visitantes. “Em hospitais, a maioria dos espaços são de ar condicionado. Então, você pode ter essa experiência durante alguns minutos do seu dia, ir para o lado de fora, sentir o ar natural. Ver um pouco de verde, uma paisagem, pode ser bastante relaxante, mesmo que por pouco tempo”, reflete Lara Kaiser. saiba mais Leia na edição 12 da MP como fazer da Pediatria uma unidade mais acolhedora para pacientes e familiares. Acesse: http://bit.ly/para_cuidar_e_brincar 52 Melh res Práticas Melh res Práticas 53 | Judicialização | Por Daniela Dias Saiba o que tem sido feito para reduzir os efeitos deletérios do excesso de processos ligados ao direito à saúde A s decisões sobre quem tem ou não direito a determinado medicamento, tratamento ou estrutura de internação se deslocaram, de forma nunca antes vista, das esferas legislativa e executiva para a judicial. De acordo com estudos, a estimativa é que, apenas em 2016, os gastos com a judicialização da saúde atinjam R$ 7 bilhões, dois bi a mais do que o valor gasto no ano passado. Um rombo e um risco tanto para os orçamentos públicos como para operadoras e prestadores de serviços. A escalada parece não ter fim e inclui liminares para internações não emergenciais, tratamentos experimentais e no exterior. No meio do joio, há muito trigo, representado por demandas individuais de quem só encontra na Justiça o meio de fazer valer o que lhe assegura a Constituição Federal do Brasil. 54 Melh res Práticas É nesse ponto que se evidenciam os limites do papel do Poder Judiciário. “O direito à saúde, ainda que seja o mais sensível dos direitos fundamentais sociais, também está inserido na lógica quanto aos limites de atuação judicial. Questões importantes como separação dos poderes, princípio republicano, orçamento público e legitimidade para confecção das políticas sociais estão no seio dessa discussão. Isso sem falar em dignidade da pessoa humana e mínimo existencial”, explica o desembargador federal João Pedro Gebran Neto. Avaliar os incontáveis casos que chegam diariamente exige uma visão ampla do funcionamento dessas esferas. “As consequên- cias mais desafiadoras residem na construção de uma racionalidade que dê conta desses problemas, de modo que o Poder Judiciário saiba distinguir as diferentes demandas em saúde”, diz o desembargador. Comitês de Saúde Em março de 2010, o CNJ editou a Recomendação Número 31, que instruía os tribunais a adotar medidas para dar mais subsídios aos magistrados e demais operadores do direito e, dessa forma, assegurar maior eficiência na solução das demandas judiciais ligadas à assistência à saúde. Em abril do mesmo ano, com a Resolução n.107, o CNJ instituiu o Fórum Nacional com o objetivo de elaborar estudos e propor medidas concretas e normativas para o aperfeiçoamento de procedimentos, reforço à efetividade dos processos judiciais e à prevenção de novos conflitos. O Fórum é coordenado pelo Comitê Executivo Nacional e é constituído por Comitês Estaduais. Estes têm como função subsidiar com informações estatísticas os trabalhos do Fórum. Também foi criado um sistema eletrônico de acompanhamento das ações judiciais que envolvem a assistência à saúde. Após realizar dois encontros nacionais, o Fórum da Saúde ampliou sua área de atuação para incluir a saúde suplementar e as ações resultantes das relações de consumo. Nos estados, os comitês possuem dinâmicas diferentes, mas com um ponto em comum: promover o debate na busca de medidas para dar maior efetividade às demandas judiciais e evitar a judicialização quando possível. Não há uma estrutura própria dos comitês, nem espaço físico, como explica Luciana da Veiga Oliveira, juíza federal, coordenadora do Comitê Executivo da Saúde do CNJ no Paraná. “Via de regra, um juiz é indicado como coordenador e convida membros dos órgãos e entidades envolvidos de alguma forma nas questões de direito à saúde. O CNJ determina que participem do comitê ao menos representantes do Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil ou Defensoria Pública da União, além de gestores e magistrados. Então a composição varia de estado para estado”, explica. A juíza conta que, no Paraná, procura promover a composição mais heterogênea possível para que o debate seja mais aprofundado e plural, com reuniões mensais regulares. Ela já observa uma mudança significativa nos últimos três anos no que se refere à redução da judicialização e melhor encaminhamento dos casos. Ainda nesse estado, foram criados canais de comunicação diretos com os Conselhos de Medicina e de Farmácia. Para Luciana, a experiência do comitê demonstra que o diálogo pode gerar resultados positivos e efetivos. “Como está fora do ambiente judicial, o espaço do comitê acaba por se tornar um local de diálogo franco, em que os envolvidos podem ser ouvidos e se expor sem os freios característicos das discussões judiciais, permitindo ajuste de condutas.” Uma das vantagens é que, embora as conclusões do comitê não tenham força coercitiva, servem de direção não somente para os magistrados, mas também para os gestores e demais operadores do direito. Sempre que há consenso nos temas discutidos, são editados enunciados e recomendações para orientar a atuação de magistrados e operadores do direito. “Seguindo na linha do acesso à informação, alguns comitês promovem encontros regionais, levando a discussão do direito à saúde e as iniciativas dos comitês ao interior”, diz a juíza. Melhores Práticas Melh resPráticas 55 | Judicialização | Núcleos de Avaliação de Tecnologia em Saúde (NATS) Na recomendação do CNJ também está previsto que sejam criados os NATs para apoiar os magistrados com informações médicas, técnicas, comparações com outros tratamentos e medicamentos e estudos baseados em evidências científicas. A ideia é que o núcleo, composto normalmente por médicos e farmacêuticos, possa ser consultado durante o processo. “Não se trata de uma perícia e tampouco impede que essa seja realizada, o paciente em si também não é analisado, mas traz elementos que podem elucidar detalhes sobre o medicamento ou procedimento solicitado”, analisa Luciana. No Paraná, por exemplo, o NAT foi criado pelo Comitê Estadual e funciona dentro do Tribunal de Justiça. Mais consultivo em alguns estados, mais aberto a discussões em outros, os NATs já têm apoiado muitas decisões. Em documento publicado pelo CNJ, “Judicialização no Brasil – dados e experiências”, é possível verificar relatos anônimos de juízes comentando a importância dos NAT regional no dia a dia do tribunal. Um deles revela como esse recurso é importante em Araguaína, Tocantins. “(…) não é porque um cidadão tem cadastro para receber mensalmente um medicamento que ele precisará deste para sempre. O NAT é importantíssimo no acompanhamento e avaliação das necessidades em saúde ao longo do tempo de cada cidadão, inclusive evitando o desperdício nos casos de morte, para que não sejam mais enviados medicamentos”, destaca a publicação. Varas Federais especializadas em Saúde Implementadas entre abril e maio deste ano pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), as Varas da Saúde são dedicadas a julgar todas as ações relacionadas ao tema. Por enquanto, há quatro delas em Porto Alegre e uma em Curitiba. Pela implementação recente, ainda não há resultados mensurados, mas uma perspectiva de que haja mais dinamismo, organização e efetividade no julgamento dos processos. Segundo o site do TRF, no Rio Grande do Sul, as quatro unidades também têm competência regionalizada para receber os processos de saúde provenientes das cidades de Canoas e Gravataí, sejam de Justiça comum ou dos Juizados Especiais Federais ( JEFs). Ainda segundo o site, as unidades mantêm a competência cível e, também, a exclusiva em matéria de saúde. A iniciativa atende à Recomendação Número 43 do CN J, que sol icit a aos Tribunais de Justiça e aos Tribunais Regionais Federais que promovam a especialização de varas para processar e julgar ações que tenham por objeto o direito à saúde pública e priorizem o julgamento dos processos relativos à saúde complementar. Uma das razões de a implementação ter começado pela região é o alto número de processos dessa natureza, como conta o juiz Francisco Donizete Gomes, titular da 2ª Vara Federal de Porto Alegre. “O estado do Rio Grande do Sul tem historicamente um grande volume de processos de saúde. As principais causas que levam à judicialização são a gestão, quando se pede uma prestação que está prevista no SUS mas não foi alcançada pelo usuário, e a prescrição de medicamentos não incorporados ao SUS ou incorporados para situações clínicas diferentes da vivenciada pelo usuário. O CNJ recomenda a especialização de Vara da Saúde em nível estadual e federal, portanto, acredito que a medida irá se generalizar”, analisa. saiba mais Hospital ajudará na criação de banco de informações para suporte a juízes O Hospital Sírio-Libanês é parceiro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em projeto de suporte técnico aos juízes em processos envolvendo o setor da saúde. No dia 07/11, aconteceu a primeira oficina para consultoria e assessoria técnica aos Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais. Essa parceria irá apoiar os Núcleos de Avaliação Tecnológica (NAT) do Ministério da Saúde e do Judiciário, no sentido de fortalecer as evidências Melhores Práticas 56 Melh res Práticas científicas dos pareceres que apoiam as decisões judiciais. Também prevê o apoio ao CNJ para a criação de uma base de dados e ferramentas de consulta que permitirão maior eficiência na gestão dessas informações. “Nós estamos apoiando com conhecimento para impedir a má judicialização, que é aquela judicialização fruto de um privilégio, e não de um direito. O Sírio-Libanês analisa a base de dados e instrumenta os NATs, que produzem pareceres para orientar o juiz. Com o tempo, constitui-se um banco de dados e uma jurisprudência para decisão”, explicou Paulo Chapchap, diretor-geral do Hospital. MBA Executivo em Gestão de Saúde Certificate in Healtcare Management Einstein - Insper Uma formação sólida para lidar com um ambiente complexo e dinâmico. A prática da mediação na área de saúde foi assunto da edição 16 da Melhores Práticas. http://bit.ly/Mediacao INSCRIÇÕES ABERTAS PARA TURMAS DE 2017 | Protocolo assistencial | Por Felipe César Protocolo em 3 passos: 1.Dentro da primeira hora de admissão do paciente, avaliar frequência respiratória, oxigenioterapia suplementar, temperatura, pressão arterial sistólica, frequência cardíaca e nível de consciência. 2.Preencher o Escore (Fig.1) e somar os pontos obtidos pelo paciente. Recomendações adicionais: • Padronizar a avaliação clínica e monitorização dos pacientes adultos. • Utilizar o escore junto com escalas de avaliação validadas, como a escala de Glasgow, ou escalas para condições específicas. • A percepção da equipe clínica deve sempre ser considerada quando o profissional de saúde julgar necessário aumentar o nível de cuidados. • Definir os médicos responsáveis pela resposta e avaliação clínica de pacientes classificados como médio e alto risco numa escala de 24 horas / 7 dias por semana. • Monitorar indicadores relacionados à aplicação e resposta ao sistema de pontuação, medindo, por exemplo, tempo de resposta, desfecho dos casos de médio e de alto risco avaliados, auditoria clínica da aplicação e análise do escore, etc. • O escore é de utilização complementar e NUNCA deve substituir o julgamento clínico. • Este escore NÃO SE APLICA a menores de 16 anos, gestantes e pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) por terem alterações de parâmetros fisiológicos basais que devem ser considerados na avaliação do escore. Pacientes em cuidados de final de vida (terminalidade) não serão considerados para a aplicação do escore. 1 2 O projeto Sentinela da Segurança, que faz parte do Programa Brasileiro para Segurança do Paciente (PBSP), publicou relatório referente ao 1º semestre de 2016. Foram recebidas 1.931 notificações de segurança de diversas organizações de saúde espalhadas pelo Brasil. O que chamou a atenção nesse relatório foi o número de eventos que resultaram em dano ao paciente. Os dados consolidados mostram 63% de eventos com dano (1.208), desses, 33% tiveram como causa principal a falha na identificação precoce de instabilidade clínica e na detecção precoce da sepse. A identificação precoce de instabilidade clínica é uma tarefa feita por um técnico de enfermagem com a tomada de decisão de um enfermeiro. É um fundamento básico do cuidado e de fácil execução. Não deveria, portanto, estar entre os processos que ainda levam à ocorrência de eventos adversos na assistência. “Há uma banalização das medidas dos parâmetros fisiológicos. Os profissionais entram no automático e realizam o trabalho de forma rotineira somente com o registro das informações, sem uma análise dos dados”, avalia Felipe Folco, diretor de projetos do IQG Health Services Accreditation. Para auxiliar e incentivar as organizações de saúde a rever o modelo de identificação precoce de instabilidade clínica, o PBSP lançou recentemente um protocolo somente para esse fim. É uma linha de cuidado baseada no MEWS – Modified Early Warning Score, do sistema de saúde inglês NHS, e tem o objetivo de promover o reconhecimento precoce de deterioração dos pacientes em unidades de internação ou de emergência e a cada transferência interna. Essa identificação é fundamentada em parâmetros fisiológicos que são avaliados durante o cuidado. 3 3.Adotar a conduta adequada, conforme fluxo, e documentar. No caso de suspeita de infecção, é indicado utilizar o protocolo de sepse. Fig. 1: Escore de instabilidade clínica PONTUAÇÃO Parâmetros Fisiológicos Novo protocolo dá ênfase à ferramenta de identificação precoce de deterioração clínica Frequência Respiratória Oxigenioterapia Suplementar Temperatura Pressão Arterial Sistólica Frequência Cardíaca Nível de Consciência* 3 2 ≤8 Sim 1 0 9 - 11 12 - 20 Não 1 2 3 21 - 24 ≥ 25 ≤ 35 35.1 – 36.0 36.1– 38.0 38.1– 39.0 ≥ 39.1 ≥ 200 ≥ 220 <90 91 - 100 101 - 110 111 - 199 ≤ 40 41 - 50 51 - 90 91 - 110 111 - 130 ≥ 131 Confusão A V,Pou U *A) Alerta; V) Resposta a estímulo verbal; P) Resposta a estímulo de dor; U) Inconsciente; Confusão: Refere-se a quadro confusional de início recente ou alteração do estado atual. 58 Melh res Práticas Melh res Práticas 59 | Protocolo assistencial | BAIXO RISCO CLÍNICO REAVALIAÇÃO APÓS 1h MONITORIZAÇÃO MÉDIO RISCO CLÍNICO 0 1e 3 AÇÃO IMEDIATA PONTUAÇÃO Fluxo após a classificação do escore 4e5 OU QUALQUER PARÂMETRO ≥ 3 SISTEMA EPIMED MONITOR ACTION ALTO RISCO CLÍNICO ≥6 Avaliação do enfermeiro Avaliação urgente do médico (até 30 minutos) Acionar TRR (Fluxo de emergência) Considerar Avaliação Médica Considerar TRR Revisar Plano de Cuidado Considerar acionar TRR Revisar Plano de cuidado - Notificar médico assistente Transferência para UTI (unidade de terapia intensiva) Reavaliar após 1h. Manter monitorização mínima a cada 3h Reavaliar de hora em hora até definição do novo Plano de cuidado Checklist, Metas diárias e Passagem de Plantão A Epimed Solutions está lançando uma nova ferramenta, inteiramente Mobile, que permite o acesso rápido aos principais dados do paciente, a realização de checklists, o estabelecimento de metas diárias e a assistência nas passagens de plantão. As funcionalidades do Metas Diárias e Passagem de Plantão simplificam e organizam os procedimentos, auxiliando a equipe na continuidade do cuidado do paciente. Funcionalidades Reavaliar após 1h. Manter monitorização mínima a cada 3h Caso mantenha ou aumente escore - acionar médico Monitorar medidas iniciais. Considerar transferência para UTI (unidade de terapia intensiva) Monitorização contínua Visão Geral Checklist Diário Metas diárias Passagem de Plantão Principais informações do paciente, como diagnóstico, escores de gravidade e estimativa do tempo de permanência na UTI Facilita a aderência às melhores práticas de cuidado e prevenção de complicações em UTIs Organização das metas diárias definidas para cada paciente, com indicação de status e prioridade Histórico estruturado do quadro clínico do paciente para a passagem de plantão Monitorização contínua Leia também A íntegra do Escore de Identificação Precoce de Deterioração Clínica (Versão N° 1 Fevereiro – 2016) pode ser solicitada gratuitamente pelo site do Programa Brasileiro de Segurança do Paciente: segurancadopaciente.com 60 Melh res Práticas Entre em contato com a Epimed para habilitar seu acesso ao Epimed Action ) 21 3550 5125 * www [email protected] www.epimedsolutions.com | Prêmio Melhores Práticas | N o dia 3 de setembro, durante o 2º Seminário Internacional de Segurança do Paciente e Acreditação em Saúde, promovido pela Organização Nacional de Acreditação (ONA), foi realizado o Prêmio Melhores Práticas em Destaque, com o apoio da Revista Melhores Práticas em Saúde, Qualidade e Acreditação. Realizado em São Paulo, essa foi a segunda edição do prêmio, que contou com número recorde de inscrições. A comissão científica avaliou 127 trabalhos inscritos, sendo os três primeiros colocados o Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara, de Fortaleza/CE, com o projeto “A Utilização do Escore de Charlson na Análise dos Desfechos do Protocolo Sepse”; o Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch M’Boi Mirim, com “BAEM: Busca Ativa de Erros de Medicação”, e o Hospital Estadual de Diadema, com o projeto “Elogio”. O objetivo da premiação é valorizar e difundir as práticas inovadoras realizadas em instituições de saúde do Brasil, com foco na segurança do paciente, gestão hospitalar e no cuidado prestado nas organizações acreditadas. 1º Lugar Título: A Utilização do Escore de Charlson na Análise dos Desfechos do Protocolo Sepse | Autor: Jonisvaldo Pereira Albuquerque | Coautores: Fernanda Colares de Borba Netto, Ulysses Vieira Cabral, Virgínia Angélica Lopes Silveira | Organização Acreditada: Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara Situação Identificada: Após três anos de execução do Protocolo Sepse, foi visto que, embora a adesão tenha aumentado consideravelmente ao longo do tempo, a mortalidade ainda apresentava padrão oscilante, sem que se pudesse verificar o impacto das ações. A hipótese era de que as comorbidades apresentadas pelos pacientes pudessem interferir com esse padrão de mortalidade, visto o Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara (HGWA) ser um hospital de referência em atenção a pacientes crônicos, idosos, com diversas dependências. Plano de Ação: O perfil dos casos atendidos aparece como fator que dificulta a avaliação do desempenho hospitalar. Para discutir tal problemática, foi criado um grupo de trabalho multidisciplinar, que pesquisou fatores que pudessem influenciar na letalidade de pacientes com sepse. A literatura traz o Índice de Comorbidades de Charlson (ICC) como uma ferramenta a ser empregada nesse tipo de análise. O ICC é um método de classificação de gravidade que utiliza dados dos diagnósticos secundários para atribuir risco de morte ao paciente, consistindo em uma lista de 19 condições clínicas, para as quais são atribuídas pontuações que, combinadas à idade, geram um escore único. Esse escore atribui risco de óbito e permite estimativa da sobrevida em 10 anos. Assim, os médicos da equipe ficaram responsáveis pela análise dos prontuários com o cálculo do ICC correspondente. O assessor da qualidade ficou responsável por compilar os dados e planilhá-los. A análise dos resultados foi realizada em equipe. Melh res Práticas 63 | Prêmio Melhores Práticas | Execução/Implantação: O grupo de trabalho realizou uma busca ativa dos prontuários físicos dos pacientes em que foi acionado o Protocolo Sepse de 01 de janeiro a 31 de maio de 2016, sendo calculado, retrospectivamente, o ICC desses pacientes correspondente ao dia em que foi acionado o protocolo sepse, o que representou uma amostra de 173 pacientes. Os critérios de elegibilidade foram pacientes com protocolo sepse aberto no período mencionado, acima de 18 anos, internados nas clínicas abertas do eixo adulto do HGWA. Foram identificados os desfechos (alta, transferência e óbito) desses pacientes no prontuário eletrônico, considerando o período de 28 dias contados a partir do acionamento, conforme descrito no protocolo. Os pacientes foram categorizados em grupos de risco para desfecho em óbito de acordo com a pontuação do ICC calculada, a saber: nenhum risco (pontuação zero), risco baixo (pontuação 1 a 2,9), risco moderado (pontuação 3 a 4,9) e alto risco (acima de 5 pontos). Em seguida, gráficos foram construídos para melhor análise dos dados. Principais Dificuldades: Resgate das informações nos prontuários, especialmente nos pacientes com menor permanência e com falhas nos registros. Atividade que consome tempo quando realizada de maneira retrospectiva. Resultado/Conclusão: Dos 173 pacientes avaliados, 19 pacientes não apresentaram risco (10,98%), 25 pacientes baixo risco (13,87%), 32 pacientes risco moderado (18,50%) e 98 pacientes apresentaram alto risco (56,65%). A letalidade geral foi de 30,63% (53 pacientes). No grupo que não apresentou risco, a letalidade foi de 5,26% (N=1); no baixo risco, 16,67% (N=4); no grupo de risco moderado, 18,75% (N=6) e, no grupo de alto risco, a letalidade foi de 42,86% (N=42). Observa-se que a maioria que abriu protocolo sepse já apresentava ICC com alto risco, e que a letalidade se concentrou nos pacientes desse grupo. Destaca-se que 57,14% dos pacientes de alto risco apresentaram desfecho favorável. Como oportunidade de melhoria, estabeleceu-se que os óbitos dos pacientes dos grupos sem risco e de baixo risco seriam encaminhados à Comissão de Revisão de Óbitos para análise na categoria de Óbito Duvidoso. Além disso, o ICC será inserido na ficha de admissão de todos os pacientes do eixo adulto do HGWA. 64 Melh res Práticas 2º Lugar Título: BAEM – Busca Ativa de Erro de Medicação | Autor: Sabrina Marques Rodrigues | Coautores: Fábio Eugênio, Tatyana Akine, Rose Mara Miranda | Organização Acreditada: Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch M'Boi Mirim : Situação Identificada Em 2013, houve a reformulação da ferramenta de coleta BAEM, baseada em três auditorias realizadas. Foram necessárias adaptações para a realidade HMMD. Com base nessa reformulação, foram revisados os valores do indicador para as coletas anteriores, sendo considerados: 7,7% para a 1ª coleta, 2,6% para a 2ª coleta, 1,7% para a 3ªcoleta, 5,8% para a 4ª coleta, 10,3% para a 5ª coleta. Observa-se uma alteração no perfil dos tipos de erros identificados, conforme gráfico abaixo, e significativa oportunidade de melhoria. Plano de Ação: Instalar impressora a laser; validar PM com período de 24 horas; revisar os medicamentos padronizados no sistema; identificar medicamentos high-alert e estabelecer segmento de rótulos autoadesivos nas ampolas de medicamentos injetáveis e frascos; verificar a sistematização quanto a PME de psicotrópicos; ajustar e sincronizar as tabelas de controle de saldo, inventário simultâneo; rever treinamentos específicos, dinâmicas, eficiência de divulgação e informação quanto aos processos; informatizar o formulário em sistema de PM para medicamentos não padronizados; treinar profissionais diversos para utilização do sistema e erro de medicação, e quanto às restrições do sistema relacionado ao aprazamento; identificar as tomadas ligadas ao gerador e inserir no gerador os refrigeradores não ligados; corrigir o período de aprazamento para 48 horas e falta de sincronismo; alterar o fluxo do mensageiro que atenda à farmácia; abrir Farmácias Satélites. Execução/Implantação: • Revisão do intervalo cadastrado no sistema para medicamentos S/N, criando uma barreira obrigatória para o médico preencher a indicação da medicação. • Treinamento por meio de multiplicadores com foco em erros prevalentes nas unidades e divulgação para o Corpo Clínico quanto aos erros de medicação. • Inclusão de aula específica para erros de medicação, ética profissional e modelo assistencial no processo admissional. • Revisão dos medicamentos padronizados em sistema quanto a frequência, apresentação e via de administração para diminuir prescrições incorretas. • Revisão de todo o sistema quanto a apresentação, via de acesso, intervalo de medicamentos para padronização da prescrição médica. Divulgação do manual e testes do novo padrão/sistema. • Plano de estudo em conjunto com RH para aquisição e reestruturação do quadro de farmacêuticos e alteração do fluxo quanto aos processos da Farmácia Clínica e Assistencial. Principais Dificuldades: Falta de: sinalização no mapa de medicamentos não padronizados; bloqueio no sistema quando o medicamento é prescrito com apresentação, via de administração e posologias divergentes; conferência após baixa dos medicamentos; conhecimento técnico e insegurança do profissional; sinalização da frequência dos medicamentos prescritos (se dor, se febre, ACM, se agitação) no campo correto; profissional assistencial. Além de: medicamentos com rótulos parecidos; prescrição médica alterada manualmente; paciente pós-cirúrgico sem PM eletrônica de psicotrópico; alta rotatividade de colaboradores; atraso na entrega do medicamento ou o não recebimento; computadores insuficientes; falta de local para recebimento de medicamentos; refrigeradores fora do gerador; auxiliar de farmácia e técnico de enfermagem não conferem a PM; falha na definição no sistema WPD relacionados a dose/volume dos medicamentos no momento da elaboração da prescrição pela equipe médica; comunicação ineficiente quanto a indisponibilidade dos medicamentos. Resultado/Conclusão: • Controle de estoque. • Diminuição de subestoque nas UTIs, 3° andar e Medicação Adulto. • Possibilidade de maior tempo à beira-leito (próximo ao paciente) pela Equipe Assistencial; • Descentralização do fluxo e diminuição de retrabalho à Farmácia. • Relocação de um auxiliar de farmácia em cada turno, sem a necessidade de aumento de quadro. • Trabalhar com farmácias satélites no período noturno para facilitar a assistência. • Usar a Farmácia Central no período noturno como plano de contingência, para aquisição de material e medicamentos. • Controle de dispensação de psicotrópicos e garantia de rastreabilidade de material e medicamentos. • Integração e confiabilidade do farmacêutico na Equipe Multiprofissional. • Diminuição expressiva dos Erros de Medicação na Instituição. • Inserção e melhoria no banco de dados do sistema de PM para segurança do paciente em todos os processos do fluxo de medicamentos (prescrição, dispensação e administração). Melh res Práticas 65 | Prêmio Melhores Práticas | 3º Lugar Título: Projeto Elogio | Autor: Marco Aurélio Vitorino Cunha | Coautores: Marcia Maiumi Fukujima, Roberto Bernasconi, Larissa Jardini | Organização Acreditada: Hospital Estadual de Diadema. Situação Identificada: Durante a pesquisa de cultura de segurança realizada em 2014, foi identificada uma oportunidade de melhoria na implantação da cultura justa no que concerne ao feedback positivo aos colaboradores. Este projeto contribui para a conformidade de critérios Nível 3 de Gestão e Liderança. Plano de Ação: Em nosso grupo de trabalho multiprofissional dedicado à disseminação da cultura de segurança do paciente, foram discutidas as possíveis causas para a baixa percepção encontrada na pesquisa, descritas abaixo: • não era prática frequente a realização de feedback positivo pelos líderes; • a realização de feedback positivo era realizada de maneira rápida e informal aos colaboradores; • o feedback positivo não era registrado no prontuário funcional dos colaboradores, enquanto a punição era registrada, reforçando a cultura punitiva ao invés da cultura justa; • frequentemente os melhores colaboradores eram os que recebiam o maior nível de cobrança por parte dos líderes; • as punições alcançavam visibilidade em níveis mais altos da hierarquia do hospital do que os elogios. Com base nessas informações, foi proposta uma intervenção, o projeto elogio, objetivando a incorporação por parte dos líderes do feedback positivo em sua prática diária e a valorização das boas práticas executadas pelos colaboradores. Melh res Práticas Execução/Implantação: A implantação do projeto constituiu-se de três intervenções principais: Obrigatoriedade pelos gestores da realização de elogio ao longo de um ano para no mínimo 10% dos colaboradores vinculados a cada setor, com a finalidade de incorporar a prática do elogio na rotina dos líderes. Essa meta é dividida mensalmente, bimestralmente, trimestralmente ou semestralmente dependendo do número de colaboradores em cada setor. Realização dos elogios com presença da alta direção do hospital: dar aos melhores colaboradores reconhecimento e visibilidade do mais alto nível hierárquico do hospital. Registro dos elogios no prontuário do colaborador e entrega de cópia para o mesmo: deixar permanentemente registradas as contribuições do colaborador no hospital e no seu currículo. O projeto foi apresentado à alta liderança e, após sua aprovação, foi levantado pela equipe do setor de RH (Recursos Humanos) o número de colaboradores vinculados a cada setor e estabelecida uma meta a cada gestor. O projeto foi então apresentado à média gerência, bem como suas metas. O seguinte fluxo foi definido: 1) O gestor identifica um colaborador que merece um elogio por seu desempenho ou ação de destaque. 2) Preenche-se o formulário de elogio padronizado. 3) Convoca-se o colaborador para uma reunião na qual se entrega o elogio junto com o diretor do setor explicando ao colaborador o motivo do elogio. Principais Dificuldades: A principal dificuldade encontrada é a incorporação da rotina de elogiar o colaborador por parte dos gestores. É necessária ainda uma cobrança por parte do RH para a realização de elogios formais em alguns setores. Resultado/Conclusão: Em oito meses de projeto, já foram aplicados 51 elogios: 11 à administração (3,0% do total de colaboradores) 34 à enfermagem (7,2% do total de colaboradores) 1 a médico (0,4% do total de colaboradores) 5 a técnicos (5,7% do total de colaboradores) A grande maioria dos colaboradores, ao serem chamados para reunião, achava que seria punida ou advertida, o que refletia o predomínio da cultura punitiva sobre a cultura justa. A percepção dos gestores é que houve grande comoção, sentimento de valorização e reconhecimento por parte dos colaboradores ao serem elogiados. Após os elogios, os gestores notaram que os colaboradores passaram a se empenhar mais no trabalho, sentindo-se mais motivados. Da esq. p/ direita: Sabrina Marques; Fernanda Colares de Borba Netto; Jonisvaldo Pereira Albuquerque; Maria Carolina Moreno e Marco Aurélio 4) O colaborador assina o formulário do elogio dando ciência. 5) Uma cópia do elogio assinada pelo gestor e diretor fica com o colaborador, e outra é enviada ao prontuário funcional do colaborador no RH. Melh res Práticas 67 | Indico | ANAHP LANÇA NOVAS PUBLICAÇÕES DURANTE O 4° CONAHP Abordando temas como compliance, gestão de pessoas, organização assistencial, segurança do paciente e da informação, as publicações são voltadas para colaboradores de hospitais associados e mercado em geral Durante o 4º Congresso Nacional de Hospitais Privados – Conahp, que aconteceu no mês de novembro em São Paulo, a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) lançou cinco publicações com abordagens distintas, porém, todas com foco no sistema de saúde e como torná-lo mais sustentável e eficiente. Manual do Programa de Compliance Anahp: publicação orientativa e que apresenta os elementos básicos e fundamentais para o estabelecimento de um programa de Ética e Compliance nas organizações. | Livros | Carlos Figueiredo Administrador, pósgraduado em políticas públicas e especialista em regulação. Na ANS desde 2005, atuou na Diretoria de Normas e Habilitação de Operadoras e na Diretoria de Desenvolvimento Setorial, coordenando a área de recuperação econômico-financeira das operadoras de planos de saúde, os Grupos de Trabalho sobre remuneração de hospitais, honorários médicos e o Programa de Qualificação dos Prestadores de Serviços de Saúde (QUALISS). Atualmente é diretorexecutivo da Anahp. Cartilha de Segurança do Paciente: o guia traz orientações sobre os cuidados que um paciente será submetido durante a internação, ou em uma simples consulta médica. Aborda procedimentos básicos que devem ser seguidos pelo paciente, familiares, visitantes e por toda a equipe de profissionais da instituição. Segurança da Informação para Hospitais: traz recomendações e melhores práticas para proteger a privacidade do paciente e confidencialidade das informações do hospital. 68 Melh res Práticas 02 Protocolos Assistenciais Obcecados por Servir O advogado Dagoberto J.S. Lima lançou em setembro sua biografia: Os bastidores da saúde suplementar no Brasil. O livro retrata o surgimento e regulação da saúde privada no país, envolvendo o Código de Defesa do Consumidor, a Lei da Filantropia, a normatização dos planos de saúde e a criação da ANS. A obra vem para atualizar o Manual das Normas Assistenciais, utilizado na Clínica de Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Dentre as abordagens, acrescentam também os temas: Avaliações Antenatal, Procedimentos Especiais, Intercorrências Clínicas, Intercorrências Obstétricas, Parto Puerpério, entre outros. O livro Obcecados por Servir – Construindo valor a partir da experiência do paciente, conta a construção da “experiência do paciente” na Cleveland Clinic. No livro, James Merlino conta como, em 10 anos, o hospital norte-americano conseguiu se tornar líder na área de atendimento e ser reconhecido como ícone em “experiência ao paciente”. Protocolos Assistenciais. 5ª Edição | Autores: Marcelo Zugaib, Roberto Eduardo Bittar e Rossana Pulcineli Vieira Francisco | Editora: Atheneu Obcecados por Servir – Construindo valor a partir da experiência do paciente | James Merlino | Editora: Atheneu Saúde Suplementar Os bastidores da saúde suplementar no Brasil | Autor: Dagoberto Lima 04 Organização Assistencial - melhores práticas entre as instituições Anahp: o livro reúne cases com experiências relacionadas às melhores práticas do cuidado, produtividade, gestão de pessoas, qualidade e segurança, cultura organizacional e modelos assistenciais. Gestão de Clima Organizacional: aborda aspectos como acompanhamento de novos colaboradores, engajamento e clima. Além de casos de sucesso, a publicação também apresenta os resultados da pesquisa de clima organizacional aplicada nos anos de 2014 e 2016. 01 Para ler acesse: http://anahp.com.br/ publicacoes-anahp/livros. 03 Segurança do Paciente 05 DEF Medicamentos 06 A publicação é resultado de um amplo debate realizado por profissionais e instituições de vários segmentos. Como resultado, a obra oferece um diagnóstico inédito e proporciona uma reflexão abrangente sobre as melhores práticas e os caminhos a serem trilhados para que a discussão sobre o tema realmente avance no país. O Dicionário de Especialidades Farmacêuticas é uma referência de consulta para méd icos e demais prof issionais de saúde do Brasil. Construindo seus diferenciais na revisão e atualização das informações, oferece uma dinâmica de leitura e consulta fácil e interativa. Risco e Segurança do Paciente | Autores: Enis Donizetti Silva e Claudia Marquez Simões | Editora: Pólen Editorial DEF Medicamentos. 44ª Edição | Produção: Editora Epub A primeira edição introduziu a noção revolucionária de que as reclamações dos clientes não são incômodos a serem evitados, negados ou esquecidos, mas ao invés disso são valiosas peças de feedback que podem ser usadas para melhorar os produtos e serviços de uma organização. Esta nova edição foi completamente revista e atualizada, com uma riqueza de novos exemplos, ferramentas e estratégias. Uma queixa é um presente A complaint is a gift | Autores: Janele Barlow e Claus Moller | Editora: Berrett-Koehler Melh res Práticas 69 | Indico Artigos | | Agenda | Cuidado de saúde resiliente: virando a segurança do paciente de ponta cabeça Braithwaite J, Wears RL, Hollnagel E. Resilient health care: turning patient safety on its head. Int J Qual Health Care. 2015 Oct; 27(5): 418-20 3 Os números variam, mas geralmente aceita-se que aproximadamente 10% dos pacientes sofram algum evento adverso durante sua internação2. Na tentativa de reduzir “a um mínimo aceitável o risco de dano desnecessário associado ao cuidado de saúde”, conforme definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) para segurança do paciente1, temos obstinadamente focado nos 10% que dão errado e esquecido dos 90% que dão certo. Neste artigo, os autores fazem uma reflexão provocativa sobre as definições e abordagens atuais para segurança do paciente, argumentando que são baseadas em um modelo linear, portanto insuficientes para contemplar a complexidade do cuidado de saúde. Eles defendem que o foco deve mudar de “evitar que as coisas deem errado” para “permitir que o máximo possível dê certo”. E que a chave é compreender que o cuidado de saúde é resiliente e capaz de ajustar seu desempenho sob condições variadas. Em parte, é desse ajuste constante que nasce a segurança. Para Hollnagel, segurança é mais do que a ausência de dano, assim como para a OMS, saúde é mais do que a ausência de doença. Referências (1) PROQUALIS. Marques PM. Taxonomia – Classificação Internacional para a Segurança do Paciente (ICPS). Disponível em slides em http://pesquisa.proqualis.net/ resources/000000656 [Acesso em: 20 set 2016] 70 Melh res Práticas (2) de Vries EN, Ramrattan MA, Smorenburg SM, Gouma DJ, Boermeester MA. The incidence and nature of in-hospital adverse events: a systematic review. Quality and Safety in Health Care, 2008; 17(3): 216-23. (3) https://goo.gl/bjXOGd [Acesso em: 24 set 2016] 05 a 06 08 XIX Curso de Formação de Avaliadores do Sistema Brasileiro de Acreditação IBES/ONA O curso tem como objetivo capacitar o profissional de saúde para atuar como avaliador do Sistema Brasileiro de Acreditação (ONA) e realizar avaliações do sistema de gestão da qualidade. Em São Paulo (SP). Informações: https://goo.gl/Htn7Pl 1º Seminário IBSP de Farmácia Hospitalar e Clínica O evento discutirá os modelos de gestão em farmácia hospitalar e clínica, incluindo gestão de indicadores, farmácias satélites e modelos de distribuição/dispensação de medicamentos, além de estimular o saber farmacêutico como parte integrante do cuidado multidisciplinar e na segurança do paciente. Em São Paulo (SP). Informações: https://goo.gl/eQ9iDm 30 3º Encontro de Avaliadores ONA A ONA – Organização Nacional de Acreditação realizará o 3º Encontro de Avaliadores, com o objetivo de atualizar e alinhar conceitos, métodos de avaliação e análise crítica de indicadores voltados para a segurança do paciente. Em São Paulo (SP). FEVEREIRO Camila Lajolo é médica hematologista formada pela Unicamp, com título de Master in Public Health pela Harvard School of Public Health, de Improvement Advisor pelo Institute of Healthcare Improvement e MBA em economia e gestão em saúde pelo CPES/ UNIFESP. Atualmente é assessora técnica científica da coordenação do Centro Colaborador para Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (Proqualis) do ICICT/Fiocruz, e gerente médica corporativa para qualidade e segurança do paciente na Associação Congregação de Santa Catarina. JANEIRO Camila Lajolo MARÇO Neste editorial, os autores discutem a expansão do perímetro da segurança do paciente conforme mais eventos adversos (EAs) são considerados como evitáveis. EAs são incidentes que causam dano ao paciente. Já dano associado ao cuidado de saúde é aquele “surgido por ou associado a planos ou ações realizadas durante o cuidado de saúde ao invés de a uma doença de base ou lesão”1. Na área da saúde, ao contrário de outras indústrias em que a segurança também é crí- tica, como a aviação civil, por exemplo, as definições de “dano” e “evitabilidade” têm mudado conforme ocorrem inovações tecnológicas e melhoria nos padrões de cuidado. O exemplo mais claro dessa evolução são as infecções relacionadas à assistência à saúde, que na década de 1980 eram consideradas inevitáveis, e que atualmente são classificadas como EAs, em sua maioria evitáveis. A consequência da expansão daquilo que é considerado como EA impõe um desafio adicional à mensuração da melhoria ao longo do tempo. Como saber se estamos nos tornando mais seguros se o alvo a ser atingido está em constante mutação? 13 11º Encontro Anual de OPME/DMI O encontro de 2017 abordará propostas e ações do setor para fortalecer a transparência e competitividade do mercado brasileiro. Em São Paulo (SP). Informações: https://goo.gl/RZxLuI 13 a 16 20 a 22 SAHE – South America Health Exhibition Qualihosp A SAHE surge como uma feira de produtos médicos, hospitalares e serviços de comércio alternativo para visitantes e expositores, apresentando o que há de mais novo no mercado de saúde. Em São Paulo (SP). Informações: www.sahe.com.br ABRIL Vincent C, Amalberti R. Safety as a moving target. BMJ Qual Saf 2015; 24:539540. DEZEMBRO Segurança como um alvo em movimento O tema para 2017 é “Inovação para Qualidade e Sustentabilidade na Saúde”, e será realizado no Centro de Convenções Rebouças. Em São Paulo (SP). Informações: www.fgv.br/qualihosp 26 a 28 II Simpósio Internacional de Qualidade e Segurança do Paciente Trata-se de um simpósio que abordará os principais assuntos relacionados à segurança do paciente. Em sua segunda edição, o evento conta com palestrantes renomados nacional e internacionalmente. Em São Paulo (SP). Informações: www.simposio-ibsp.com.br Melh res Práticas 71 | Radar | Instituições brasileiras são certificadas pela ISQua Durante a 33ª Conferência da ISQua (International Society for Quality in Health Care), realizada em Tóquio entre os dias 16 e 19 de outubro, o Instituto Brasileiro para Excelência em Saúde (IBES) e a Organização Nacional de Acreditação (ONA) receberam a certificação internacional da organização. A ISQua é a única instituição do mundo a certificar organizações acreditadoras. Já o Instituto Qualisa de Gestão (IQG) agora tem um representante no Conselho de Acreditação da ISQua. Rubens Covello, CEO do IQG, foi indicado para integrar o conselho responsável por fazer recomendações ao Programa Internacional de Acreditação. GPeS lança novo Programa de Parceria A GPeS - Gestão de Projetos em Saúde promoveu no dia 7 de dezembro, um café da manhã para lançar seu mais novo Programa Institucional de Parceria com Fornecedores - 2017. "Foi um momento muito especial para nossa equipe. Apresentamos aos clientes o programa de parcerias com a Rede D'Or São Luiz", conta Alberto Ribeiro, sócio-diretor da GPeS. A cerimônia foi realizada no auditório do Hospital São Luiz Itaim, em São Paulo. Investimento em comunicação Recentemente, o setor de saúde ganhou mais duas publicações especializadas: a revista Visão Saúde e a revista Fehoesp 360. A Visão Saúde chegou em julho com a proposta de noticiar as novidades das operadoras de saúde e odontologia. É realizada pela Associação Brasileira de Planos de Saúde – Abramge e o Sindicato das Empresas de Odontologia de Grupo (Sinog). Com a sua 1ª edição lançada em setembro, a Fehoesp 360 é uma publicação da Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo. A revista tem também a opção de ser baixada por aplicativo no celular. Manual da ONA inteiramente revisado A Organização Nacional de Acreditação (ONA) lançará até o final de 2017 a versão revisada do Manual Brasileiro de Acreditação. Entre as mudanças, estão em discussão formas de tornar os requisitos descritos mais objetivos tanto para o avaliador quanto para a organização avaliada. Termos e conceitos utilizados estarão alinhados à taxonomia da Organização Mundial de Saúde, e o conteúdo também será mais explicativo, com glossário e lista de referências utilizadas, com layout intuitivo para o leitor. Ao final, a revisão do manual ficará disponível no portal da ONA por um mês para consulta pública. O novo manual entra em vigor a partir de 2018. Convenção Nacional da Unimed com foco na sustentabilidade A Unimed do Brasil, maior cooperativa de saúde do mundo, realizou a 46ª Convenção Nacional no Centro de Convenções de Natal, entre os dias 25 e 28 de outubro. O encontro reuniu dirigentes das 349 cooperativas do Sistema, especialistas em saúde, cooperativismo, empreendedorismo, política e economia, além de influenciadores da mídia nacional para discutir o tema “Cuidar para Transformar”. O centro das discussões foi o modelo de atendimento assistencial com foco na atenção primária, a chamada Atenção Integral à Saúde (AIS) nas unidades do sistema Unimed. Hospital inaugura a Casa do Colaborador O Hospital Bandeirantes, em São Paulo, inaugurou em outubro um amplo espaço dedicado aos colaboradores da instituição. A Casa do Colaborador conta com academia, salão de beleza, sala de cinema, refeitório com cozinha, vestiário com armários, sala de descanso, espaço com massoterapia e bicicletário, tudo exclusivo para quem trabalha no hospital. Você pode conferir o novo espaço na página do hospital no Facebook. Cofen reformula regra de dimensionamento de enfermagem O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) aprovou no dia 03/11 nova resolução sobre os parâmetros mínimos para dimensionamento quantitativo das equipes de enfermagem nos estabelecimentos de saúde. Acesse o portal do Cofen e veja as novas regras da resolução nº 0527/2016. 72 Melh res Práticas Grupo Omint lança app para clientes Empresa lançou, em outubro, o aplicativo Omint Saúde, com uma série de serviços para facilitar a comunicação entre associado e operadora. Disponível na App Store e no Google Play, o aplicativo permite pesquisar a rede credenciada, cadastrar solicitações e obter informações sobre o plano, além de acompanhar as solicitações de reembolsos, autorizações e consultar faturas. O diferencial do app está na integração com a Central de Atendimento e com o CRM. No canal Atendimento ao Associado, é possível cadastrar solicitações e acompanhar o status. Melh res Práticas 73 | Saúde em um Clic | Alberto José N. Ogata • A depressão é a segunda principal causa • A depressão e outras condições mentais de incapacidade no Brasil, de acordo com e emocionais estão associadas a maiores estatísticas internacionais; taxas de perda de produtividade, faltas e acidentes no trabalho. Além disso, au• Um estudo feito pela USP demonstrou menta o risco de erros no trabalho, afeta que cerca de 30% dos paulistanos posa qualidade do atendimento aos clientes suem algum tipo de distúrbio mental ou e compromete a produtividade; emocional. Essa taxa foi maior do que as outras 14 cidades estudadas; • Assim, a abordagem e prevenção da depressão deve estar incluída na estratégia • A depressão pode complicar doenças da gestão em saúde nos hospitais. Ela físicas. Por exemplo, ela pode dobrar o pode ser feita através do rastreamento risco de desenvolver doenças coronarianas nos exames periódicos de saúde, rastrear ou outras condições crônicas. Constata-se e abordar o uso abusivo do álcool, realizar que as pessoas com depressão são menos programas de qualidade de vida, com ações ativas fisicamente e têm maior chance de que ajudem os profissionais a melhorar serem obesas; o seu bem-estar e intervenções precoces • Algumas condições de trabalho nos hose adequadas nos casos diagnosticados, pitais, como as exigências do cuidado, a inclusive na prevenção do suicídio. pressão, o acúmulo de tarefas, o trabalho em turnos aumentam a exposição ao Problemas desaúde saúdemais mais Problemas de estresse e ao risco de depressão; relacionados com invalidez invalidez relacionados com Proporção de pessoas que referem diagnóstico de depressão por profissional de saúde mental 12.6 8.4 7.6 7.2 74 Sul Sudeste Norte Brasil 0 Nordeste 5.0 3.1 Centro-Oeste 16 % Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional de Saúde 2013. Melh res Práticas variação em % (2005~2015) Ranking em 2015 1 Dor lombar e dor no pescoço 11.8% 2 Transtorno depressivo -0.8% 3 Doenças relacionadas aos sentidos 18.6% 4 Transtorno de ansiedade 10.4% 5 Doenças de pele -2.7% 6 Enxaqueca 3.5% 7 Anemia ferropriva -9.0% 8 Diabetes 27.4% 9 Outras doenças muscoloesqueléticas 17.4% 10 Asma -12.4% Fonte: IHME Presidente-eleito da Associação Internacional de Promoção da Saúde no Ambiente de Trabalho (IAWHP) e Coordenador do Laboratório de Inovação Assistencial da Organização Panamericana da Saúde (OPAS) com Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) Melh res Práticas