UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS DAIANE GARCIA DE ALMEIDA A DINÂMICA DAS EXPORTAÇÕES DO ESTADO DE MINAS GERAIS, 2000-2013 Varginha/MG 2014 DAIANE GARCIA DE ALMEIDA A DINÂMICA DAS EXPORTAÇÕES DO ESTADO DE MINAS GERAIS, 2000-2013 Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal de Alfenas, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas com Ênfase em Controladoria. Orientadora: Profª. Dr. Alinne Alvim Franchini Varginha/MG 2014 DAIANE GARCIA DE ALMEIDA A DINÂMICA DAS EXPORTAÇÕES DO ESTADO DE MINAS GERAIS, 2000-2013 A Banca examinadora abaixo-assinada aprova a monografia apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas com Ênfase em Controladoria da Universidade Federal de Alfenas. Aprovada em: ________________________________ Prof.ª Alinne Alvim Franchini ________________________________ Prof.ª Juliana Souza Scriptore ________________________________ Prof. Marçal Serafim Cândido Aos meus pais e minhas irmãs, pela dedicação, incondicional. apoio, carinho e amor AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter me dado saúde e força para superar as adversidades. À Universidade Federal de Alfenas, em especial o Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, pela oportunidade de aprendizado e crescimento oferecido. À professora orientadora Dr. Alinne Alvim Franchini, pela participação e apoio na elaboração deste trabalho, ajudando-me a organizar as ideias e manter-me calma. Aos meus pais, Valdemar e Edna, pelo apoio e por tudo o que sempre fizeram por mim, pela compreensão e força nos momentos mais difíceis e pelo amor incondicional me dado, sem vocês nada disso seria possível. Às minhas irmãs e melhores amigas, Nanci e Jaqueline, pelas trocas de confidências e conselhos, pelas broncas e apoio em todos os momentos, contribuindo diretamente para o meu crescimento e fortalecimento diante das dificuldades. Ao meu namorado Mariano que sempre me estimula a crescer e esteve comigo pacientemente me apoiando em todas as etapas deste trabalho. Ao meu cunhado Iracan pela força e estímulo ao longo desses anos. Às minhas companheiras de repúblicas e grandes amigas que me aguentaram durante esses quatro anos e meio e que levarei para a vida toda, Jessica, Janaína e Zamara. Aos meus demais amigos e parentes que me ajudaram, direta ou indiretamente, nesta conquista. RESUMO Com o processo de abertura da economia brasileira na década de 1990 e a consequente intensificação dos efeitos do processo de globalização, os agentes econômicos envolvidos nos processos produtivos e, sobretudo, aqueles participantes do comércio exterior, depararam-se com um novo cenário mais competitivo e dinâmico. No período pós-abertura da economia brasileira, o Estado de Minas Gerais manteve seu padrão no que se refere à pauta de exportação, isto é, aquele baseado nas atividades de extração mineral, agricultura e indústria básica. Entretanto, assim como as exportações brasileiras totais, as exportações mineiras também apresentaram crescimento para o período de 2000-2013. E ainda, tendo em vista que o Estado de Minas Gerais ocupa o segundo lugar em termos de participação relativa das exportações brasileiras totais, torna-se relevante um estudo acerca do mapeamento das exportações mineiras. Realizou-se, portanto, uma análise da pauta exportadora, utilizando para tal fim o Índice de Concentração por Produtos, o Índice de Concentração por Destino e o Coeficiente de Especialização Relativa para verificar a concentração da pauta mineira e constatou-se uma grave dependência e vulnerabilidade do Estado frente aos seus parceiros comerciais e produtos exportáveis. Palavras-chaves: Abertura Comercial; Pauta Exportadora de Minas Gerais e Índices de Concentração. ABSTRACT With the process of opening the Brazilian economy in the 1990s and the consequent intensification of the effects of globalization, the economic agents involved in the production processes, and especially those participating in foreign trade, have faced a new competitive landscape and dynamic. In the post-opening period of the Brazilian economy, the state of Minas Gerais maintained its standard with regard to the export list, ie the one based on mineral extraction, agriculture and basic industry activities. However, as Brazil's total exports, mining exports also showed growth for the period 2000-2013. And yet, given that the state of Minas Gerais ranks second in terms of relative share of total Brazilian exports, it becomes relevant to a study of the mapping of mining exports. Was held, therefore, an analysis of the export list, using for this purpose the Concentration Index for Products, the Concentration Index by Destination and the Coefficient of Relative Specialization to verify the concentration of the Minas Gerais staff and found out a serious dependency and vulnerability of the state to its trading partners and exportable products. Keywords: Trade Liberalization; Export Tariff of Minas Gerais and Concentration Index. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Exportações totais do Estado de Minas Gerais, em dólares, no período de 20002013. ......................................................................................................................................... 27 Gráfico 2: Principais destinos das exportações mineiras, participação relativa, no período de 2000-2013. ................................................................................................................................ 29 Gráfico 3: Evolução do valor exportado para os principais blocos econômicos, em dólares, no período de 2000-2013. .............................................................................................................. 33 Gráfico 4: Exportações totais de MG de Minério de ferro não aglomerado e seus concentrados. ............................................................................................................................ 35 Gráfico 5: Exportações totais de MG de Café não torrado, não descafeinado, em grãos. ....... 36 Gráfico 6: Exportações totais de MG de Ferronióbio............................................................... 37 Gráfico 7: Exportações totais de MG de Ouro em barras......................................................... 37 Gráfico 8: Exportações totais de MG de Produtos Semimanufaturados de ferro/aço. ............. 38 Gráfico 9: Exportações totais de MG de Açúcar de cana, em bruto. ....................................... 39 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Exportações mineiras: evolução do Índice de Concentração por Produto, 20002013. ......................................................................................................................................... 40 Tabela 2 - Exportações mineiras: participação dos principais produtos no valor das exportações (%), 2000-2013. .................................................................................................... 41 Tabela 3 - Exportações mineiras: evolução do Índice de Concentração por Destino, 20002013. ......................................................................................................................................... 42 Tabela 4 - Exportações mineiras: participação dos principais países de destino no valor das exportações (%), 2000-2013. .................................................................................................... 43 Tabela 5 - Coeficiente de Especialização Relativa. .................................................................. 44 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 11 2. OBJETIVOS ......................................................................................................................... 12 2.1 Objetivo geral ................................................................................................................. 12 2.2 Objetivos específicos ...................................................................................................... 12 3. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................. 13 3.1 Globalização ................................................................................................................... 13 3.2 O processo de abertura comercial no Brasil ................................................................... 17 4. METODOLOGIA................................................................................................................. 24 4.1 Índice de Concentração das Exportações por Produtos (ICXmg) .................................. 24 4.2 Índice de Concentração das Exportações por Destino (ICDmg) .................................... 25 4.3 Grau de Especialização das Exportações Mineiras ......................................................... 25 4.4 Fonte de Dados ............................................................................................................... 26 5. ANÁLISE DE RESULTADOS ............................................................................................ 26 5.1 Performance da pauta exportadora mineira .................................................................... 26 5.2 Índices de Exportações (X) ............................................................................................. 39 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 44 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 46 1. INTRODUÇÃO A globalização apresenta diversos significados, caracterizando-se não somente pela integração econômica, como também política e cultural entre os diversos países. Tal fenômeno foi responsável pela introdução de diversas modificações em todo o mundo por meio da diminuição das barreiras geográficas, econômicas e políticas entre os países, assim como uma maior integração entre os próprios. Uma importante questão levantada por estudiosos do tema é basicamente referente ao papel da globalização, visto por muitos críticos como um evento que deixa os países ricos mais ricos e os países pobres mais pobres, já que defendem que o mesmo apresenta diferentes dimensões, as quais podem exercer distintos impactos sobre a distribuição de renda (SOUSA, 2011). Além da globalização, as reformas estruturais ocorridas no Brasil, ao longo da década de 1990, encontram-se relacionadas com a abertura comercial, uma vez que o processo de liberalização comercial iniciado em fins da década de 1980 estava praticamente concluído. Neste período, a estrutura tarifária comercial nacional já havia sofrido modificações significativas, com a redução das tarifas médias e máximas, fora a extinção de boa parte das barreiras consideradas como sendo não tarifárias (COHEN, 2002). A eliminação de tais barreiras, associada ao programa de reduções tarifárias, representa, então, a ruptura entre o regime fechado e o regime de economia aberta que vem caracterizando o desenvolvimento econômico brasileiro nos últimos anos. Através dessa redução tarifária e abertura econômica, as trocas comerciais foram intensificadas e a relação do País com o mercado internacional aprofundada (SOUSA, 2011). Apesar do Estado de Minas Gerais ter sido beneficiado por esse processo de abertura comercial, no que se refere especificamente a Minas Gerais, as modificações introduzidas pelo processo de globalização e abertura comercial não modificaram o padrão de especialização mineira pré-abertura, visto que o Estado continua apresentando sua estrutura fortemente marcada pelas vendas do complexo metal-mecânico e do setor agroindustrial. Contudo, assim como as exportações brasileiras, de uma maneira geral, as exportações mineiras têm apresentado crescimento nos anos 2000, sendo que o Estado ocupa o segundo lugar em termos de participação do total exportado pelo Brasil (OBALHE, 2007). Sendo assim, pelo exposto, pretende-se nesse estudo, acompanhar o desempenho da pauta exportadora mineira ao longo dos anos de 2000-2013, por blocos econômicos e por países de destino e verificar a concentração dos principais produtos exportados e países de 11 destino. Essas observações possibilitaram a formulação de diversas políticas de apoio, que podem ser realizadas tanto por parte do governo assim como do setor privado, permitindo ampliar o comércio internacional da região e consequentemente do País. Dessa maneira, para a realização desse trabalho, serão utilizados alguns índices de comércio internacional apresentados pela literatura internacional a respeito do referido tema. Os dados utilizados no presente trabalho são equivalentes aos valores de exportações dos produtos, países e blocos econômicos de destino registrados para o Estado de Minas Gerais, ao longo do período compreendido entre 2000 e 2013. Com base nos dados disponíveis pela Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Assim, o presente trabalho encontra-se dividido em quatro seções, além desta introdução e dos objetivos. Inicialmente apresenta-se uma revisão da literatura a respeito da globalização e da abertura comercial, para que seja possível analisar a pauta exportadora mineira após esses processos. Na segunda seção são descritas as metodologias e fontes de dados utilizados para calcular os índices. Já na etapa seguinte procede-se a análise dos resultados obtidos, assim como as discussões acerca dos índices. E finalmente, na última seção, destacam-se as principais conclusões do estudo. 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral O presente trabalho de conclusão de curso apresenta como objetivo estudar o desempenho do comércio exterior do Estado de Minas Gerais no que se refere às características da pauta de exportações, no período compreendido entre 2000-2013. 2.2 Objetivos específicos - Analisar a evolução histórica da abertura comercial brasileira e seus efeitos sobre a economia mineira. - Identificar e acompanhar a performance da pauta exportadora mineira, por blocos econômicos e países de destino; - Verificar a concentração dos principais produtos exportados e países de destino. 12 3. REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 Globalização A globalização não é um conceito novo, mas os processos identificados como tal, no entanto, são recentíssimos, pois apenas nos últimos cinquenta anos é que este movimento passou a descrever um conjunto relativamente inédito de novas transformações. Mas o que é globalização? Apoiando-se em uma definição mais direta, trata-se de um conjunto de mudanças através do qual diminuem os obstáculos geográficos (e seus vetores de tempo e de espaço) sobre os processos sociais, econômicos, políticos e culturais. Embora exista certa polêmica no que se refere à definição de globalização, para De Negri (2002), seu conceito pode ser resumido como a importante ampliação do comércio internacional e dos fluxos de capitais, acompanhado de significativo avanço tecnológico. Neste contexto torna-se interessante um detalhamento maior do século XIX. Conforme Cohen (2002), o final do século XIX foi caracterizado por uma drástica redução dos custos com transporte, por uma larga transferência de capital entre os países e por uma massa de imigrantes oriundos do “velho mundo” para o “novo mundo”. O fim da Segunda Guerra Mundial trouxe à tona uma nova economia capitalista mundial. Os países perdedores viram-se na dependência econômica norte-americana, enquanto os Estados Unidos emergiam como uma potência econômica credora. Atravessou-se um processo de globalização e regionalização. Este processo foi acompanhado pelo avanço da revolução científico-tecnológica e pela constituição de blocos geo-culturais. De uma forma geral, as reflexões sobre a globalização de períodos passados possuem ênfase no período entre guerras, onde o fluxo de capitais (em termos relativos) era maior, o fluxo comercial aumentava incessantemente (devido à queda de barreiras protecionistas nacionais), além do mercado de trabalho possuir àquela altura uma flexibilidade muito maior do que a dos dias atuais (CAMPOS, CANAZES, 2007). De fato, no século XIX assistiu-se a uma série de desenvolvimentos tecnológicos, principalmente nos transportes marítimo e rodoviário, fato que produziu profundos impactos no comércio internacional. E ainda, observa-se que as exportações de capitais do centro para a periferia foram bastante numerosas no final do mesmo século e avançaram no início do século seguinte. Na realidade, os mercados de capitais foram altamente integrados no final do século 13 XIX, desintegrados durante os períodos de guerra e apenas agora recuperaram os níveis de integração alcançados a partir de 1913 (COHEN, 2002). Nos dias atuais, uma importante questão é levantada por estudiosos do assunto resume-se em: o principal papel da globalização é o de promover uma posição equivalente entre os países ricos e os países pobres ou é fazer dos países ricos mais ricos e dos pobres mais pobres? Tal questão assumiu extrema importância, no século XX, com o surgimento da Organização Mundial do Comércio - OMC como uma força de liberalização do comércio internacional, com o crescimento da integração econômica da Europa, com o colapso do comunismo e com a especulação da formação da Área do Livre Comércio das Américas ALCA (SOUSA, 2011). A questão da globalização cada vez mais despertas oponentes a este processo. Contudo, os críticos da globalização, frequentemente, têm uma ideia incerta sobre o que de fato tal processo representa, além de não reconhecerem que a mesma possui diferentes dimensões, as quais podem exercer distintos impactos sobre a distribuição de renda. E ainda, não deve ser surpresa que as reclamações sobre o processo de globalização são ouvidas tanto nos países desenvolvidos como nos países menos desenvolvidos, uma vez que tal processo altera a distribuição de renda não só entre os países, mas também entre os agentes econômicos e setores dentro de um mesmo país. A maior surpresa talvez seja a constatação de que o mesmo medo sobre o aumento da desigualdade seja frequentemente expresso tanto pelos países ricos quanto pelos países mais pobres (COHEN, 2002). Entretanto, a globalização também está ligada a um conjunto de oportunidades e de riscos. Se por um lado, a expansão dos mercados e a disseminação da tecnologia podem provocar aumento de eficiência e melhorar os padrões de vida, por outro lado, também pode gerar instabilidade resultante da volatilidade de fluxos de capital estrangeiro, temor de perda de emprego e ameaças no ambiente global (THE WORLD BANK, 2000). A intuição comum sobre a relação entre integração das economias e distribuição de renda surge por meio de um importante modelo neoclássico de teoria de comércio, a saber: Modelo de Hecksher e Ohlin (H-O). Na realidade, este modelo apresenta uma nova versão para a teoria da Vantagem Comparativa, baseando-se na ideia de que as nações diferem em sua disponibilidade relativa de fatores de produção, sendo que essas diferentes ofertas de fatores influenciam os custos de produção de determinados bens. Desta forma, um país terá Vantagem Comparativa na produção daquela mercadoria que utiliza mais intensamente o recurso de maior abundância no país. 14 Como conclusão, o elo de ligação entre globalização e distribuição de renda para diferentes países é bastante ambíguo. Primeiramente, a globalização afeta o fator preço de forma distinta nos países, por razões que podem ser explicadas pelo Modelo H-O. Em outras palavras, as diferentes dimensões da globalização (como o comércio, o fluxo de fatores e o fluxo de capitais) podem produzir diferentes impactos sobre os preços dos fatores dos países. Em segundo lugar, as dimensões da globalização também podem produzir efeitos ambíguos no nível de preços dos países dependendo, entre outras coisas, do modelo de complementaridade ou substituibilidade entre os fatores de produção. Finalmente, os impactos sobre os preços dos fatores podem afetar a distribuição de renda, de acordo com a distribuição das dotações individuais de fatores nos países (COHEN, 2002). Argumentos baseados na teoria de comércio estática sugerem que a globalização afeta o setor preço num primeiro momento, produzindo posteriormente implicações sobre a distribuição de renda. Entretanto, a desigualdade entre países é preferivelmente discutida num contexto dinâmico da teoria do crescimento. Assim, modelos desenvolvidos na década passada são capazes de derivar os efeitos de uma série de políticas sobre as taxas de crescimento, incluindo políticas de comércio. A conclusão geral é de que as implicações de uma maior liberalização do comércio são, teoricamente, ambíguas. Muitos exemplos podem ser citados, mas dois específicos são suficientes. Stokey (1991) e Grossman e Helpman (1991), citados por COHEN (2002), assumem que o comércio Norte - Sul é conduzido pelas diferenças relativas das dotações de trabalho não - qualificado e trabalho qualificado. Ambos os modelos admitem que o comércio conduza a diferenças entre os preços dos fatores, com a desigualdade de salários aumentando no Norte e abaixando no Sul. No modelo de Stokey (1991) o mecanismo de crescimento é o investimento individual no capital humano. Grossman e Helpman (1991) definem a dotação de fatores como um fator exógeno e afirma que, desde que sejam feitos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, tal capital humano conduz ao crescimento do país. De acordo com um estudo realizado por Cohen (2002), a educação e o investimento em capital humano conduzem ao crescimento, os países que têm mantido aberto os sistemas de mercado e flexíveis os mercados de trabalho. Nos países em que não se encontram essas condições, a educação tem tido um efeito menor. Ressalta-se que uma grande desigualdade social somente estará relacionada com abertura de mercado, naqueles países no qual o capital é escasso, a educação é limitada e o incentivo ao investimento é pequeno. O estudo também sugere que os retornos com capital humano caíram nos países desenvolvidos, a partir desse 15 novo processo de globalização ocorrido no século XX. Neste caso, exclui-se a possibilidade de que a mudança de tecnologia envolveu um uso mais intensivo em capital humano. Segundo CEPAL (2002), a distribuição de renda tem diferentes significados, a partir das diferentes medidas que se utiliza para descrevê-la. A teoria econômica tem se preocupado com a distribuição funcional da renda, com a identificação dos retornos dos fatores de produção e com suas respectivas proporções de renda na renda nacional de um determinado país. Nesse sentido, os discursos políticos estão mais preocupados com o tamanho da distribuição de renda, ou seja, com a fração de renda atribuída aos 10% mais ricos, por exemplo. Mais recentemente, também tem se preocupado com o tamanho da distribuição em termos de distribuição global, com atenção para o grupo de países que possui renda per capita mais elevada. Duas concepções de distribuição de renda são relatadas com base na prioridade dos fatores de produção, especialmente a terra, fator predominante nos países agrários e o capital, fator predominante nas economias modernas. Assim, se as propriedades de terra e capital estão distribuídas equilibradamente entre a população, então mudanças na distribuição de renda vão ter um pequeno impacto sobre a composição da mesma (CEPAL, 2002). Nos países abertos para a economia mundial, o nível e a composição do comércio internacional (tais como distribuição de renda, crescimento da produção e outras variáveis) são determinados pela estrutura política e tecnológica do país, pela dotação de fatores e pelas preferências do governo e do país em termos de outras possiblidades de consumo. A todo o momento, recursos são realocados e a estrutura de produção doméstica é alterada como resultado de uma mudança ou estímulo por parte do comércio internacional. Produtores domésticos podem deixar determinada produção em favor de uma atividade mais lucrativa, melhorando sua posição em termos de distribuição de renda. Tudo depende de quanto lucrativo à nova atividade é em relação à atividade anterior, e entre outras coisas, da abertura necessária para a nova exportação (CEPAL, 2002). Em termos mundiais, se um país é recentemente importador de uma nova mercadoria, outros países podem passar a exportá-lo e tal fato acaba por afetar o preço relativo do mesmo e consequentemente a distribuição de renda. Desta forma, observa-se que mudanças no âmbito do comércio internacional com realocações de fatores de produção acabam por afetar a distribuição de renda entre e dentro dos países. Na concepção de CEPAL (2002), uma vez que a realocação de recursos ocorre, o crescimento econômico pode não ocorrer significativamente se pelo menos um dos fatores 16 abaixo não forem observados: a distribuição de renda real aumenta a taxa da poupança nacional, conduzindo diretamente ou indiretamente a aumentos da taxa de investimento nacional; fluxos de investimentos estrangeiros produtivos entrarem no país em quantidades de uma base sustentável; a distribuição de renda e a nova pressão competitiva conduzam as pessoas a alcançarem altos índices de qualificação usualmente econômicos; as eficiências do capital e do trabalho sejam continuamente aperfeiçoadas, como resultado de novas importações de produtos e serviços, as quais devem levar informações de processos produtivos estrangeiros e exercer pressão competitiva sobre os produtos domésticos. Existe, no entanto, uma outra alternativa para o crescimento da economia, a partir do desenvolvimento das exportações. Os defensores dessa corrente argumentam que uma disponibilidade não adequada de determinado produto no comércio internacional poderiam compelir o aumento da produção desse mesmo bem em um país. Na realidade, o crescimento das exportações poderia levar a um crescimento da economia, estimulando o investimento. Nesse cenário, as exportações poderiam crescer em função de uma demanda não atendida ou pela capacidade do país em aumentar suas vendas a partir da combinação preço e qualidade (COHEN, 2002). 3.2 O processo de abertura comercial no Brasil O processo referente à abertura comercial na América Latina ocorreu nos anos 1980, em decorrência do esgotamento do modelo de substituição de importações que como frisa Bresser Pereira (1977) era um modelo de industrialização tardia que caracterizou os países latino-americanos nas décadas de 1930-1960. Originava-se do estrangulamento externo, caracterizando-se, portanto, pela redução constante do coeficiente de importação, ou seja, era um modelo que proporcionava um aumento da produção interna de um país, assim como a diminuição das suas importações. Tavares (1977) define esse modelo como sendo uma resposta às restrições do comércio internacional, como por exemplo, as experimentadas pelos países do chamado Cone Sul (Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile) nas quatro décadas posteriores ao pós-guerra, em que buscavam repetir aceleradamente e em condições históricas distintas, a experiência observada de industrialização dos países considerados desenvolvidos. Ainda conforme Bresser Pereira (1977), o declínio desse modelo de substituição de importações é observado quando os bens considerados de consumo simples já foram todos 17 substituídos, restando agora substituir a importação dos bens que empregam uma tecnologia mais complexa ou que apresentam economias de escalas elevadas, e em função dos mercados nacionais serem reduzidos não conseguem comportar. Fora isso, o modelo esgota-se quando não é mais economicamente viável a diminuição do coeficiente de importações (responsável por mensurar a participação das importações no consumo aparente do setor) uma vez que a característica primordial desse tipo de industrialização é o seu caráter introvertido, ou seja, fechado que busca a firme redução do coeficiente de importações. Logo: “O modelo de substituição de importações esgotou-se, portanto, porque já havia desenvolvido plenamente todas as suas virtualidades, porque reduzira ao mínimo possível para cada país o coeficiente de importações, porque substituíra todos os bens que os respectivos mercados internacionais eram capazes de absorver, porque desafiara até o limite a lei das vantagens comparativas do comércio internacional e a existência de economias de escala na produção industrial. Trata-se de um modelo estritamente de transição...” (BRESSER PEREIRA, 1997, p.127). Em decorrência desse esgotamento, acreditava-se que a abertura da economia era o mais correto a se fazer, uma vez que o livre comércio daria condições para o desenvolvimento do País, podendo proporcionar uma melhor qualidade de vida para a população, assim como um crescimento econômico resultante da melhor eficiência alocativa dos fatores de produção existentes nos países (AZEVEDO, PORTUGAL, 1998). Essa abertura foi realizada no País em um período em que a economia apresentava altos índices de inflação, divergindo neste aspecto dos demais países subdesenvolvidos, como por exemplo, China e Argentina. Assim, foi em parte decorrência da instabilidade presente na economia durante a década de 1980, onde existia um grande atraso tecnológico em relação aos demais países desenvolvidos, e este se refletia muito na obsolescência do ponto de vista produtivo, que ocorre quando um produto ou serviço deixa de ser útil, mesmo estando em bom estado, em decorrência de um novo produto tecnologicamente mais avançado, ou seja, mais desenvolvido (AZEVEDO, PORTUGAL, 1998). Esse processo de liberalização comercial teve início, segundo Averbug (1999), em fins da década de 1980, sendo observada nessa fase a eliminação dos controles quantitativos e também administrativos relativos às importações de mercadorias, assim como uma proposta de redução tarifária, que visava reduzir os custos de investimentos, bem como melhorias na infraestrutura de serviços do País. Mais tarde assistem-se também profundas e sucessivas alterações no tocante a estrutura e dinâmica desse novo ambiente competitivo, iniciado no governo do presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992). 18 Collor executou uma audaciosa política de privatizações e também de liberalização econômica, referente tanto ao fluxo de capitais quanto ao fluxo de mercadorias. Esse plano econômico do então presidente do Brasil marcou definitivamente uma ruptura da trajetória do País na década de 90, apresentando como objetivo conter a inflação existente com a elaboração de reformas que exprimissem um caráter estrutural na economia brasileira (GENNARI, 2001). Ainda durante o seu governo foi realizado uma profunda e ampla reforma no regime comercial do País, apresentando como diretrizes uma política econômica em prol de uma liberalização do comércio internacional, assim como uma redução do intervencionismo do Estado. Apresentava como objetivo impulsionar a modernização tecnológica do parque industrial brasileiro e a maneira de organização da produção e do trabalho existentes no Brasil, com o intuito de conceder uma exposição planejada da indústria brasileira à competição mundial (FERNANDES, 1997). Observa-se a partir dos anos de 1990 a ocorrência de uma intensificação dessa abertura comercial brasileira com a redução das tarifas nominais de importação (buscava-se com essa redução deixar os produtos importados mais baratos exigindo, portanto, que os produtores nacionais reduzissem seus preços e melhorassem a qualidade dos seus produtos, uma vez que estariam inseridos em um meio extremamente competitivo), e redução de várias barreiras consideradas como sendo não tarifárias (que são medidas e instrumentos de política econômica capazes de influenciar o comércio internacional sem utilizar os mecanismos tarifários, como tarifas ad-valorem ou específicas). Dessa maneira, a política comercial brasileira tinha por objetivo a ampliação e diversificação da capacidade produtiva, por meio das restrições e regimes especiais de importações, como isenções e subsídios. Em decorrência da elaboração do programa de liberalização comercial, ocorre uma eliminação dos incentivos setoriais até então concedidos e um impulso a uma maior competitividade entre as empresas (FERNANDES, 1997). Portanto, a liberalização comercial observada até a década de 1990 representou um momento de intensificação no processo de integração com o restante do mundo, no que se refere à comercialização com os demais países, em que com a abertura da economia e redução tarifária as trocas comerciais foram intensificadas e a relação com o mercado internacional aprofundada. Devido às denúncias de corrupção e de fracasso no Plano Collor II o então presidente Fernando Collor sofreu um impeachment. Ao assumir a presidência da República Fernando 19 Henrique Cardoso (1995-2002) inicia a última fase do processo de abertura comercial, onde a estabilização econômica tornou-se o principal objetivo das políticas relacionadas ao desenvolvimento econômico do País. Dessa maneira, a intensificação dessa abertura esteve relacionada aos interesses conjunturais do Plano Real - Programa Brasileiro de Estabilização Econômica que, por sua vez apresentava com um dos seus objetivos mais imediatos, conter a inflação vigente (AZEVEDO, PORTUGAL, 1998). O Plano Real foi realizado em fins de julho de 1994, após o fracasso dos cinco programas de estabilização anteriores, a saber: Plano Cruzado (1986); Bresser (1987); Verão (1989); Collor I (1990) e Collor II (1991). Tais planos apresentavam suas particularidades, porém acabaram por diversos fatores não conseguindo estabilizar a economia. Sendo observada uma característica em todos eles, que era a referente ao congelamento de preços na economia. Este diminuía a inflação imediatamente, entretanto não conseguia manter essa redução o que acabava conduzindo a economia a uma rota hiperinflacionária. Já o Plano Real conseguiu atingir o objetivo da estabilização dos preços e o sucesso do mesmo baseou-se em grande parte nas etapas que o antecederam. Dessa maneira, a primeira etapa desse novo plano de estabilização econômica tinha como objetivo proporcionar condições macroeconômicas que fossem favoráveis à estabilização dos preços, já as etapas seguintes buscavam alinhar os preços relativos mais significativos da economia, pois a existência de contratos indexados com datas distintas ocasionava uma grande dispersão dos preços. Logo, o alinhamento dos preços relativos era muito importante para acabar com a inércia inflacionária. Dessa maneira, o Plano Real conseguiu eliminar a indexação retroativa da economia, sem precisar congelar os preços e salários como fora realizado pelos planos anteriores. Além disso, a junção da apreciação cambial com o processo de abertura comercial permitiu que o aumento dos preços fosse rigidamente controlado desde o início do plano, propiciando um controle efetivo da inflação vigente (GIAMBIAGI, GOSTKORZEWICS, PINHEIRO, 1999). De acordo com Soares (2010), tal plano de estabilização econômica contava também com um importante elemento que era a âncora cambial. Através da política cambial ficou estabelecido que um dólar americano valeria um real, com o objetivo de realizar uma valorização cambial para que fosse possível controlar a inflação vigente. A ancoragem cambial e, consequentemente, a valorização cambial não modificariam os preços das mercadorias produzidas domesticamente e sim reduziriam os preços das mercadorias que 20 seriam importadas, proporcionando dessa maneira, uma diminuição da demanda dos bens nacionais que apresentavam substitutos externos. Através dessa política cambial os produtos importados exerciam pressões competitivas sobre os produtos nacionais. E em função das firmas nacionais não quererem perder porções de mercado para seus concorrentes internacionais, muitas passaram por um processo de reestruturação produtiva, com ganhos de eficiência e consequente redução dos seus preços. Sendo, portanto, a competição oriunda das mercadorias externas um “apoio” ao controle inflacionário e um elemento fundamental do Plano Real (SOARES, 2010). Entretanto, vale ressaltar que apesar da inflação ter sido controlada, o conjunto de medidas adotas pelo governo para que fosse possível alcançar essa meta gerou vários desequilíbrios macroeconômicos, em especial aos relativos às contas externas e fiscais. A observação dos anos iniciais desse plano denota uma grande tendência de desequilíbrios na balança comercial, que depois passou a ser compensada pelos crescentes saldos positivos decorrentes da balança de capitais. Portanto, quando nos referimos ao setor externo desse plano, é possível notar que o mesmo foi bastante dependente da entrada de capitais financeiros vindos de fora do país, com o intuito de contrabalançar os resultados desfavoráveis obtidos na balança comercial (GALLE; BERTOLLIN, 2008). A alternativa encontrada pelo governo para preservar a entrada de capitais estrangeiros foi elevar as taxas de juros internas, conduzindo os especuladores financeiros a comprar os títulos de dívida pública dos países emergentes, uma vez que apresentava uma remuneração com altas taxas de juros, porém com um risco mais significativo. Sempre acompanhando o comércio internacional, variações no mesmo levavam os especuladores financeiros a retirarem seus ativos de um país que se encontrava sujeito à desestabilização econômica (GALLE; BERTOLLIN, 2008). Sendo possível observar essa instabilidade sistêmica após a primeira crise cambial internacional ocorrida no México em 1994. Em decorrência da desenfreada abertura econômica do Brasil no mercado mundial, sem um planejamento efetivo de fato, gerando um sucateamento dos setores produtivos nacionais. Dado o panorama descrito acima, constata-se que as novas modalidades de política externa, assim como de política econômica realizadas no País no decorrer dos anos noventa, apresentavam uma forma particular de execução, no que se refere ao comércio internacional. Constatam-se mudanças na direção da acumulação de capitais brasileiros, influenciadas pelas 21 estratégias neoliberais de desenvolvimento que foram realizadas pelos governos até então aqui citados (GENNARI, 2001). Ainda analisando as políticas econômicas relacionadas a um maior grau de abertura da economia brasileira, observam-se alguns dos efeitos que a mesma proporcionou para o País, tanto do ponto de vista positivo quanto do ponto de vista negativo. Do ponto de vista positivo, a abertura comercial realizada proporcionou a criação de um ambiente mais competitivo e dinâmico, com benefícios para as empresas nacionais (que passaram a realizar inúmeros esforços para adequarem seus produtos, serviços e processos no mercado internacional, fortemente competitivo) e para os consumidores (devido a maior disponibilidade de bens e serviços, com diferentes preços e tecnologias). Já no que diz respeito aos pontos negativos tem-se o efeito observado sobre o nível de emprego, uma vez que com a abertura da economia e aumento da competitividade muitas indústrias passaram a se especializar, utilizando menos mão de obra. Dessa maneira, observa-se que as políticas comerciais realizada nos governos Collor e FHC promoveram várias modificações na economia brasileira, indo de uma sistêmica política de abertura no mercado internacional até uma diminuição da interferência estatal na economia. Vale lembrar que essas mudanças descritas acima induziram também a ocorrência de transformações nas indústrias, proporcionando para algumas empresas modernizações (como exemplo a indústria automobilística) e para outras um encolhimento (exemplo da indústria têxtil) (FERNANDES, 1997). Descrito o cenário acima de abertura comercial, Britto (2002) considera que a importância da mesma é dupla, uma vez que ao mesmo tempo em que desempenha um papel significativo na condução da economia em direção à alocação mais eficiente dos seus fatores disponível, através das pressões competitivas sobre as empresas estatais, assim como privatizações e incentivos a vinda de Investimento Direto Estrangeiro (IDE), apresenta também um deslocamento da ênfase no mercado interno para o externo, como o principal impulsionador do crescimento econômico dos países. Entretanto, em decorrência da diferença existente entre o crescimento e desenvolvimento regional no Brasil, a abertura comercial ocorrida, assim como a integração econômica pode ser observada de forma distinta nos diferentes Estados e regiões do País, com algumas regiões expandindo mais o seu comércio internacional do que outras, pois o aumento da competição internacional acirrou as pressões sobre as estruturas produtivas das empresas. 22 Assim sendo, é possível observar os impactos que essa abertura apresentou na economia mineira após 1990. De modo geral, nota-se que Minas Gerais conseguiu beneficiar-se dessa abertura econômica, entretanto algumas questões devem ser consideradas nessa análise. Antes dessa abertura comercial, os seguimentos industriais mais relevantes na economia mineira eram os baseados nas atividades de extração mineral, agricultura e indústria básica, oriundas de setores intensivos em recursos naturais. Porém, o Estado apresentava disparidades regionais importantes em termos do Produto Interno Bruto (PIB) e era marcado pela concentração industrial em determinadas regiões (OBALHE, 2007). Segundo Lemos (2002) nesse período o complexo metal-mecânico era a cadeia industrial mais importante em Minas, sendo constituído pela indústria de metalurgia básica; mecânica; eletroeletrônica e material de transportes. Visualizam-se nesse período a existência de dois setores considerados chaves da economia no Estado, a saber: o agrupamento do complexo metal mecânico e o agrupamento do complexo agroindustrial: “O fato dos setores chaves da economia mineira estarem contidos nestes dois complexos não causa surpresa, considerando que as melhores oportunidades da industrialização estadual surgiram das bases de recursos naturais do território mineiro, tanto das minas que estabeleceram a base exportadora inicial para a estruturação do complexo metal-mecânico, como dos campos das gerais, que propiciaram a expansão da lavoura comercial e da pecuária” (LEMOS, 2002, p.47). Contribuindo com essa análise, Fernandez e Nogueira Júnior (2004) ressaltam que na segunda metade da década de 1990 o Estado apresentou uma pequena desconcentração industrial. Sendo esse processo consequência em grande parte da perda relativa de importância da atividade industrial da região Central mineira, em benefício das outras regiões, com destaque especial para o Sul de Minas, com exceção da Zona da Mata. Mas, apesar dessa modificação é na região Central, no Triângulo Mineiro e no Sul de Minas que se concentrou a grande parte da produção estadual, assim como as indústrias de maior porte, conteúdo tecnológico e investimentos produtivos. Embora tenha ocorrido com a abertura econômica uma desconcentração industrial, a mesma não rompeu com a concentração histórica e importante da região Central mineira. Observa-se, portanto, que não houve o rompimento do padrão da estrutura setorial baseada em grande parte na indústria extrativa, na indústria de bens intermediários e na indústria de bens de consumo, evidenciando que Minas Gerais não apresenta um núcleo forte na produção de bens de capitais. Neste aspecto a difusão da tecnologia torna-se mais 23 complicada tanto intersetorialmente quanto intrasetorialmente, assim como os setores produtivos mais fragilizados, resultando em uma pauta exportadora com remotas possibilidades de apresentar produtos que sejam mais intensivos em tecnologia do que em recursos naturais (OBALHE, 2007). Souza (2002) afirma que o Estado não apresenta setores produtivos com fronteira tecnológica, uma vez que grande parte das suas firmas encontram-se ligadas as atividades que apresentam pouca intensividade tecnológica e que exibem uma forte concentração espacial. Logo, a estrutura produtiva de Minas Gerais deixa evidente a fragilidade da sua pauta exportadora, já que exporta commodities intensivas em produtos primários, minerais e intermediários que apresentam baixo valor agregado e que são, portanto, fortemente vulneráveis as oscilações de preços no comércio internacional, e por outro lado, adquire, fora do Estado e do País, os bens e serviços de maior conteúdo tecnológico e consequentemente maior valor agregado, ampliando o grau de dependência do mesmo (OBALHE, 2007). Sendo possível, portanto, notar que apesar do advento da globalização e abertura comercial da economia brasileira na década de noventa terem proporcionado a construção de um novo ambiente competitivo com sucessivas transformações em sua estrutura e dinâmica, no que se refere especificamente a Minas Gerais, essa diversificação manteve o padrão de especialização pré-abertura. O Estado de Minas continua apresentando uma estrutura setorial marcada principalmente pela industrial extrativa, indústria de bens intermediários e de bens de consumo, evidenciando a necessidade de uma maior diversificação e dinamização do comércio exterior mineiro, para que o próprio se torne mais competitivo perante os seus concorrentes nacionais e internacionais e passe a depender menos de grupos específicos. 4. METODOLOGIA 4.1 Índice de Concentração das Exportações por Produtos (ICXmg) Com o intuito de analisar a evolução do grau de concentração das vendas externas por produtos no Estado de Minas Gerais, foi utilizado o Índice de Concentração das Exportações chamado de coeficiente de Gini-Hirschman: 24 Onde X representa o total das exportações do Estado (Minas Gerais) e Xi o total das exportações do Estado do produto i. O valor desse índice de concentração das exportações, ICX, varia de 0 a 100. Quando o mesmo é igual à zero, ICX=0 revela uma baixa concentração das exportações evidenciando uma distribuição mais uniforme entre os diferentes produtos exportados. Já quando o ICX=100 o grau de concentração é mais intenso, revelando uma pauta exportadora concentrada em poucos produtos. 4.2 Índice de Concentração das Exportações por Destino (ICDmg) Da mesma maneira que o coeficiente de Gini-Hirschman foi utilizado para medir o grau de concentração das exportações mineiras por produtos, também é usado para verificar a evolução do grau de concentração das exportações de MG por destino. Esse índice pode ser expresso pela seguinte fórmula: Onde Xjp representa o total das exportações do Estado j (Minas Gerais) para o país p e Xj as exportações totais do Estado j. O valor desse índice pode assumir grandezas de 0 a 100. Se o índice apresentar um valor próximo a 100 estará ocorrendo uma alta concentração em torno dos países de destino, podendo evidenciar uma vulnerabilidade, em relação a barreira à entrada dos produtos, impostas pelos poucos parceiros comerciais em decorrência da grande concentração. Em contrapartida se o índice estiver mais próximo de zero estará ocorrendo uma maior diversidade de parceiros econômicos nessa economia, apresentando participações praticamente iguais na compra das exportações do Estado j. 4.3 Grau de Especialização das Exportações Mineiras Para medir o grau de especializações mineiras foi utilizado o Índice o Coeficiente de Especialização Relativa (CSRmg), que pode ser definido como: 25 Esse coeficiente é calculado pela razão entre Ximg que é a participação das exportações do produto i no Estado (Minas Gerais) e Xmg que são as exportações totais do Estado analisado e Xibr é a participação das exportações do produto i no País (Brasil) e Xbr as exportações totais do País. Se o CSRmg >1, estará ocorrendo uma maior especialização das exportações mineiras no produto estudado em relação ao Brasil. Já se o CSRmg < 1, ocorrerá uma menor especialização mineira no produto analisado em relação ao Brasil. 4.4 Fonte de Dados Para calcular os Índices ICXmg, ICDmg e o CSRmg foram utilizados dados referentes aos valores correntes em dólares (FOB) das exportações mineiras no período entre 2000-2013, disponíveis no Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior (AliceWeb), disponibilizados pela Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). 5. ANÁLISE DE RESULTADOS 5.1 Performance da pauta exportadora mineira O comércio exterior mineiro apresenta uma grande influência na economia do Estado, uma vez que dentre outras coisas o crescimento das exportações exerce um efeito multiplicador sobre o mercado interno, sendo considerado um suporte para o crescimento da região. O Estado de Minas Gerais ocupa o segundo lugar em termos de participação do total exportado pelo Brasil, perdendo apenas para o Estado de São Paulo. Analisando o Gráfico1 é possível observar algumas variações no desempenho das exportações mineiras no decorrer dos anos estudados. Em 2001 com relação ao período anterior ocorre uma diminuição no valor total exportado de 9,7%, quando as exportações do Estado passam de US$ 6.712 bilhões para U$$ 6.059 bilhões, porém um aumento na quantidade exportada de 17,62% no mesmo período. Já em 2002 ocorre uma recuperação das mesmas, sendo observado um aumento de 4,85%, em relação ao ano anterior. Em 2003 essas exportações continuam apresentando crescimento, passando de US$ 6.355 bilhões em 2002 para U$$ 7.440 bilhões em 2003, proporcionando um aumento de 17,07% no valor total exportado. Dando continuidade a essa análise, em 2004, esse valor total exportado cresce ainda mais, passando de U$$ 7.440 bilhões para U$$ 10.007 bilhões, exibindo um aumento 26 bastante significativo de 34,50% em relação ao ano anterior. Esse crescimento observado em 2004 decorre em grande parte do aumento do preço das mais importantes commodities no cenário internacional. Contínuos crescimentos são observados nos anos posteriores, com um aumento de 35,04% em 2005; 15,86 % em 2006 e 17,22% em 2007. Em 2008 o crescimento continua com as exportações mineiras exibindo um aumento de 33,17% em relação ao ano anterior, onde o valor das exportações desde 2000 mais do que triplicou. O acréscimo das exportações mineiras em 2008 foi maior do que a média brasileira no mesmo período que teve um crescimento de 22,49% em relação a 2007. Entretanto, esse crescimento foi interrompido em 2009 devido à crise econômica mundial, iniciada nos Estados Unidos em 2008, quando passaram de US$ 24.444 bilhões de 2008 para US$ 19.517 bilhões em 2009, correspondendo a uma queda de 20,15% na pauta mineira, sendo essa diminuição nas exportações menores do que a redução do valor das exportações nacionais que foram de 22,22% no mesmo período. 45.000.000.000 40.000.000.000 US$ FOB 35.000.000.000 30.000.000.000 25.000.000.000 20.000.000.000 15.000.000.000 10.000.000.000 5.000.000.000 0 Anos Gráfico 1: Exportações totais do Estado de Minas Gerais, em dólares, no período de 2000-2013. Fonte: AliceWeb (2014). Ainda de acordo com o Gráfico 1, os anos seguintes foram marcados por uma retomada no crescimento das exportações que apresentaram uma melhora significativa em relação a 2009, passando de U$$ 19.517 bilhões para U$$ 31.224 bilhões em 2010, o equivalente a um aumento de 59,98%, e em 2011 de 32,56% em relação ao ano anterior. Esse aumento no nível das exportações decorre principalmente do aumento das commodities com destaque para os produtos oriundos de minério de ferro e café. Já em 2012, as exportações sofrem uma redução de 19,67% em relação a 2011, configurando-se como um dos piores desempenhos no período analisado, só perdendo para a retração observada em 2009. No mesmo período, as exportações totais brasileiras também 27 apresentaram queda em seu valor, porém bem menos significativa equivalente a 5,42% em relação a 2011. Essa diminuição nas exportações ocorreu principalmente devido à crise econômica que aconteceu na União Europeia em 2011 e afetou o restante do mundo com diferentes intensidades, influenciando a queda dos preços das mais importantes commodities estaduais, com destaque especial para os produtos oriundos do café e minério de ferro, que tiverem uma redução na participação em 2012 de respectivamente 34,89% e 25,20%, além desses produtos houve também uma redução em outras matérias primas que constituem parcela significativa na pauta desse Estado. Em 2013, ocorreu um pequeno aumento nas exportações de 0,56% em comparação com os valores de 2012. De acordo com Oliveira (2013), em relação ao minério de ferro, fora o fato de Minas Gerais ter tido uma redução da quantidade exportada, a diminuição dos preços internacionais ao longo de 2011, influenciaram ainda mais para que as exportações dos produtos apresentassem uma queda bem acentuada em 2012. Entretanto, é necessário ressaltar que apesar do grande crescimento do valor exportado ao longo do período analisado (2000-2013) que as quantidades exportadas não aumentam na mesma proporção que o valor, revelando um crescimento menor que o observado desse trabalho. Segundo Prates (2007) ocorre uma alta no preço das commodities no período compreendido entre 2002-2005 que se encontra relacionado com diferentes fatores sobrepostos uns aos outros, tais como: recuperação econômica global, desvalorização do dólar, bolha especulativa, crescimento econômico chinês, dentre outros fatores. Continuando a análise das exportações mineiras é possível identificar também seus principais países de destino, que segundo o Governo de Minas Gerais (2012) são: China, Estados Unidos, Japão, Alemanha, Argentina, Países Baixos (Holanda), Itália, Reino Unido, Bélgica e Suíça. Através do Gráfico 2 tem-se as parcelas de participação acumuladas desses países na economia mineira no período em questão (2000-2013). A China caracteriza-se como o principal destino das vendas internacionais mineiras correspondendo a uma participação acumulada de 24,05% do total exportado pelo Estado, no período compreendido entre 2000-2013. Para o mesmo período de análise, na segunda colocação têm-se os Estados Unidos com 10,44%; acompanhado pelo Japão com 6,94% de participação; Alemanha 6,55%; Argentina 6,18%; Países Baixos (Holanda) 5,08%; Itália 3,78%; Reino Unido 2,93%; Bélgica 2,33% e Suíça 0,94%. No que diz respeito ao comércio bilateral Brasil-China, um ano em especial merece destaque. No ano de 2009, ocorre uma forte retração das exportações mineiras totais, com 28 uma queda de 20,15% em relação ao ano anterior, em decorrência da crise econômica iniciada em 2008 nos Estados Unidos. Especificamente com relação à China, segundo De Negri e Alvarenga (2011), apesar da crise, tal país se consolidou como o principal parceiro comercial do Brasil, assim como um dos principais países de destino das exportações mineiras. Constata-se um aumento no valor das exportações mineiras para a China de 40,28% nesse ano em relação ao ano anterior. Ainda nos anos analisados observa-se a ocorrência de um progressivo crescimento das exportações de Minas neste país, sendo os principais produtos exportados para os chineses aqueles com predominância de baixo valor agregado. Em 2000, a China representava apenas 3,53% de participação das exportações totais mineiras e os Estados Unidos 18,01%, seguido do Japão com 9,50% e da Alemanha com 8,97%. No decorrer dos anos, essa participação dos países de destino das exportações mineiras foi se alterando, com a China ultrapassando os Estados Unidos em 2007, de acordo com os dados do MDIC (2014), se tornando o principal destino mineiro. China 2,93 6,18 5,08 3,78 2,33 Estados Unidos 0,94 Japão Alemanha 6,55 Argentina 6,94 24,05 10,44 Países Baixos (Holanda) Itália Reino Unido Bélgica Suíça Gráfico 2: Principais destinos das exportações mineiras, participação relativa, no período de 2000-2013. Fonte: AliceWeb (2014). Sendo assim, é possível observar que o comércio bilateral Brasil-China apresenta uma considerável evolução nas últimas décadas, assim como o existente entre Minas Gerais e os chineses. A participação da China enquanto destino das exportações do Estado mais do quadriplicou nos últimos anos, passando de 3,53% em 2000 para 34,88% de participação em 29 2013. Em contrapartida, os Estados Unidos, assim como Japão, Alemanha, Argentina e Itália foram perdendo participação. Dessa maneira, continuando a análise dos principais países de destino, é possível observar variações de crescimento nos mesmos. As exportações mineiras para a China, entre 2000 e 2001, por exemplo, passaram de U$$ 236 milhões para U$$ 471 milhões. Já em 2002, o valor saltou de U$$ 471 milhões para U$$ 675 milhões, correspondendo a um aumento de 43,31% em relação ao ano anterior. Em 2003, o valor exportado segue apresentando crescimento e neste ano ocorre um aumento de 30,51%, sendo possível observar através do valor exportado uma melhora de participação da China no que se refere às exportações de MG. Prosseguindo com esse estudo, em 2004, é verificado um aumento de 13,96%, com o valor exportado passando de U$$ 881 milhões em 2003 para U$$ 1.004 bilhões em 2004. Contínuos crescimentos são constatados nos anos posteriores, com um aumento de 50,19% em 2005; 37,66 % em 2006 e 41,32 % em 2007. Em 2008, o valor exportado continua crescendo passando de U$$ 2.934 bilhões em 2007 para U$$ 4.036 bilhões em 2008, apresentando um aumento de 37,55%. No ano de 2009, apesar de ter ocorrido uma retração no comércio internacional em função da crise de 2008, as exportações chinesas continuaram apresentando avanços, transpondo de U$$ 4.036 bilhões para U$$ 5.662 bilhões em 2009, evidenciando a forte relação existente entre Minas Gerais e a China. No ano seguinte, as exportações saltaram de U$$ 5.662 bilhões para U$$ 9.284 bilhões em 2010, sendo possível observar um aumento de 63,97%. Já no ano de 2011, tem-se um crescimento das exportações de 43,58% em relação ao ano anterior. Entretanto, em 2012, ocorre uma queda nesse crescimento, em decorrência da crise iniciada em 2011 na União Europeia, com as exportações reduzindo de U$ 13.330 bilhões em 2011 para U$$ 10.548 bilhões em 2012. Em 2013, ocorre uma retomada do crescimento, com o mesmo sendo de 10,59%. Ainda analisando a China, nota-se que dentre os principais produtos exportados para os chineses encontram-se os primários, com destaque especial para o minério de ferro não aglomerado e seus concentrados, em segundo lugar os produtos intensivos em recursos naturais, com ênfase no açúcar de cana bruta e por fim, os intensivos em economia de escala, sendo o principal o ferronióbio, que é uma liga de ferro e magnésio (APEX-BRASIL, 2013). Porém, é necessário salientar como frisa Libânio (2008), que apesar do fato de Minas ter se beneficiado da expansão chinesa nos últimos anos, a estratégia mineira de desenvolvimento contribui para aprofundar o caráter primário-exportador da economia brasileira, o que pode ocasionar taxas de crescimento pouco satisfatórias a longo prazo. 30 Outro importante país de destino mineiro é a economia americana. Em 2000, os EUA apresentavam uma participação importante em termos das exportações mineiras, em que o valor exportado para esse país era de U$$ 1.209 bilhões (18,01%). Entretanto, em 2001, ocorre uma diminuição de 23,98%, em relação ao ano anterior. Já em 2002, é possível observar uma recuperação desse valor exportado, passando as exportações de U$$ 919 milhões de 2001 para U$$ 1.186 bilhões em 2002, apresentando um crescimento de 29,05%. Nos anos seguintes (2003, 2004, 2005 e 2006), os valores exportados continuam progredindo, aumentando respectivamente 12,56%; 45,16%; 23,73% e 11,17%. Já em 2007, ocorre uma pequena diminuição das mesmas, equivalente a uma queda de 4,91%. Neste mesmo ano, o país é ultrapassado pela China em termos de participação no comércio exterior mineiro. E em 2008, ocorre uma modesta recuperação do valor exportado que passa de U$$2.535 bilhões em 2007 para U$$ 2.551 bilhões em 2008. Em 2009, as mesmas sofrem uma forte queda correspondente a 51,15%, em decorrência da crise econômica iniciada no país em 2008. Nos dois anos posteriores, 2010 e 2011, são observados crescimentos de 69,11% e 37,97%, respectivamente. Entretanto, em 2012, o valor exportado cai novamente em função da crise econômica iniciada no ano anterior na U.E, passando de U$$ 3.045 bilhões em 2011 para U$$ 2.514 bilhões em 2012, equivalente a uma diminuição de 17,43%. No ano seguinte, novamente é observado uma queda no valor exportado, com as mesmas passando de U$$ 2.514 bilhões para U$$2.117 bilhões. Sendo possível, portanto, constatar através dessa evolução que os Estados Unidos foram ao longo dos anos perdendo participação para a China. Além disso, é possível observar também que os produtos exportados para os EUA diferem significativamente em relação aos observados na China, pois não são os produtos primários os mais importantes e sim os intensivos em economia de escala que dominam a pauta norte-americana. Dentre eles merecem destaque os semimanufaturados de ferro/aço e o ferronióbio, em função do grande valor exportado dos mesmos. O segundo grupo são os produtos primários, sendo o mais significativo o café não torrado, não descafeinado, em grãos e com uma participação pequena os classificados como sendo intensivos em recursos naturais (APEX-BRASIL, 2013). Prosseguindo com o estudo, tem-se a evolução do Japão no período em questão. Em 2000, as exportações japonesas correspondiam a U$$ 637 milhões, porém em 2001 houve uma diminuição das mesmas, equivalente a uma queda de 20,40%. Entretanto, nos anos seguintes são observados avanços em relação ao valor exportado, com o mesmo passando de U$$ 507 milhões em 2001 para U$$ 512 milhões em 2002. Em 2003, ocorre um aumento das 31 exportações de 10,15% e em 2004 o valor exportado permanece praticamente constante, em relação ao ano anterior. Nos anos posteriores, sucessivos crescimentos são evidenciados. Em 2004, as exportações passam de U$$ 565 milhões para U$$ 799 milhões em 2005, apresentando um aumento de 41,41%. Já em 2006, ocorre um crescimento de 26,53%, com as exportações saltando de U$$ 799 milhões para U$$ 1.011 bilhões. Em 2007, é observado um modesto crescimento das exportações japonesas, correspondente a 2,47%. Em 2008, no entanto, as mesmas voltam a apresentar altas taxas de crescimento, com o valor total exportado de U$$ 1.036 bilhões em 2007 para U$$ 1.546 bilhões, equivalente a um aumento de 49,22%. Contudo, esse crescimento é interrompido em 2009 e o valor exportado para o Japão se altera de U$$ 1.546 bilhões para U$$ 1.243 bilhões apresentando, portanto, uma queda de 19,59%. Em 2010 é constatada uma recuperação das exportações, saindo de U$$ 1.243 bilhões para U$$ 2.507 bilhões. Em 2011 assiste-se a um crescimento de 30,83% em relação ao ano anterior. Já em 2012, ocorre novamente uma queda das exportações em decorrência da crise econômica iniciada na União Europeia, com as mesmas reduzindo de U$$ 3.280 bilhões para U$$ 2.278 bilhões e em 2013 não são constatadas melhorias nas exportações que apresentam neste ano uma queda de 9,21% em relação a 2012. As exportações predominantes nesse país são as de produtos primários com o minério de ferro não aglomerado e seus concentrados, dominando a pauta de destino desse país. Em seguida o outro grupo importante são os referentes aos produtos intensivos em economia de escala, com o ferronióbio sendo o mais significativo e finalmente os intensivos em recursos naturais, apresentando uma participação bem pequena na pauta japonesa (APEX-BRASIL, 2013). Descrito os principais países de destino mineiros, tem-se agora segundo pesquisas realizadas os principais blocos econômicos de destino, que são: Ásia, União Europeia, BRIC’s, NAFTA, Estados Unidos (inclusive Porto Rico), América Latina e Caribe, e MERCOSUL. Através do Gráfico 3 é possível observar a evolução do valor exportado dos principais blocos de destino mineiro, no período compreendido entre 2000-2013. 32 70.000.000.000 60.000.000.000 50.000.000.000 40.000.000.000 30.000.000.000 20.000.000.000 10.000.000.000 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Ásia (exclusive Oriente Médio) NAFTA MERCOSUL União Europeia América Latina e Caribe BRIC'S EUA (inclusive Porto Rico) Gráfico 3: Evolução do valor exportado para os principais blocos econômicos, em dólares, no período de 20002013. Fonte: AliceWeb (2014). Utilizando o Gráfico 3 é possível notar que os blocos econômicos que representam a maior fatia de participação dos bens exportáveis na economia mineira são: a Ásia (exclusive Oriente Médio) e a União Europeia, contudo a participação dos mesmos foi se alterando ao longo dos anos analisados. Analisando a trajetória de participação da Ásia no comércio internacional de Minas Gerais, é possível observar que as exportações para esse bloco aumentaram significativamente ao longo dos anos (2000-2013). Em 2001, ocorreu um aumento de 3,65% em relação ao valor total exportado do ano anterior, quando as exportações passaram de U$$ 1.450 bilhões em 2000 para U$$ 1.503 bilhões em 2001. No ano seguinte novos crescimentos são observados com as exportações para esse bloco aumentando em 20,29%. Em 2003, as mesmas continuaram apresentando expansão, porém nesse ano o crescimento foi de 19,52% em relação a 2002. Para o ano de 2004 ocorre um aumento de 15,87% em relação ao ano anterior, com o valor das exportações passando de U$$ 2.161 bilhões em 2003 para U$$ 2.504 bilhões em 2004. No que diz respeito ao ano seguinte também são observados crescimentos em relação às exportações, com as mesmas passando de U$$ 2.504 bilhões em 2004 para U$$ 3.741 bilhões em 2005, equivalente a um aumento de 49,40%. Já nos anos posteriores, sucessivos aumentos são assistidos, sendo de 13,01% em 2006; 25,18% em 2007 e 51,76% em 2008. Em 2009, as exportações passam de U$$ 8.033 bilhões para U$$ 8.544 bilhões, apresentando um aumento de 6,36%. Já nos anos seguintes, 2010 e 2011, são observados 33 respectivamente crescimentos de 66,18% e 37, 97 %. Porém, no ano de 2012, os valores das exportações apresentaram uma queda de 20,38%. Entretanto, no ano de 2013, as exportações aumentam e um crescimento de 6,30% em relação ao ano anterior é observado. Descrito essa evolução da Ásia é possível observar que a mesma foi aumentando bastante a sua participação nas exportações de MG, uma vez que o valor exportado em 2000 era de U$$ 1.450 bilhões e em 2013 de U$$ 16.581 bilhões, apresentando esse bloco uma grande evolução participativa. Já a União Europeia, apesar de ser o segundo principal bloco econômico de destino das exportações mineiras, não aumentou sua participação no total exportado pelo Estado na mesma proporção que a Ásia. Em 2000, os valores das exportações com destino à União Europeia eram de U$$ 2.593 bilhões e com destino à Ásia de U$$ 1.450 bilhões, mas com o passar dos anos foi ocorrendo uma inversão de participação com a Ásia ultrapassando a União Europeia em 2008, segundo os dados do MDIC (2014). Em 2000, o valor exportado para a União Europeia era equivalente a U$$ 2.593 bilhões, já em 2001 ocorre uma queda do mesmo que passa para U$$ 2.096 bilhões, apresentando uma diminuição de 19,16% em relação ao ano anterior e em 2002 as exportações permanecem praticamente constantes em relação a 2001. Já em 2003 apresentam um crescimento de 15,14%. Nos anos seguintes as exportações continuam exibindo aumentos, que são de respectivamente 28,07% em 2004; 32,42% em 2005; 11,48% em 2006; 31,85% em 2007 e 29,48%, em 2008. Porém, em 2009, ocorre uma interrupção deste crescimento em decorrência da crise iniciada nos Estados Unidos, e neste ano as exportações passam de U$$ 7.509 bilhões em 2008 para U$$ 5.280 bilhões em 2009, correspondendo a uma queda de 29,68%. Já em 2010 ocorre uma recuperação das exportações para a U.E, com as mesmas saindo de U$$ 5.280 bilhões em 2009 para U$$ 8.121 bilhões em 2010, apresentando um aumento de 53,80% e em 2011 ocorre um aumento de 24,84%. Já em 2012 ocorre uma ruptura do crescimento em decorrência da crise econômica iniciada neste bloco econômico em 2011, nesse período as exportações passam de U$$ 10.139 bilhões para U$$7.488 bilhões e em 2013 novas diminuições são verificadas com as exportações passando de U$$ 7.488 bilhões em 2012 para U$$ 7.255 bilhões em 2013. Dessa maneira, é possível notar que apesar da Ásia e União Europeia apresentarem oscilações em suas participações são os principais blocos de destino das exportações mineiras e exibem, portanto, uma grande importância para o comércio exterior mineiro. 34 Descrito os principais países de destino e blocos econômicos tem-se agora à análise dos principais produtos exportados pelo Estado de Minas Gerais que são: o minério de ferro não aglomerado e seus concentrados; café não torrado, não descafeinado, em grãos; ferronióbio; ouro em barras; açúcar de cana, em bruto e produtos semimanufaturados de ferro/aço não ligados. Tradicionalmente o grupo referente aos produtos de minérios metalúrgicos se mantém na liderança (Governo de Minas, 2012). O minério de ferro não aglomerado e seus concentrados é um dos principais produtos de exportação de Minas Gerais e apresenta uma grande evolução no decorrer do período estudado, conforme pode ser observado no Gráfico 4, tendo em vista que o seu valor exportado passa de U$$ 1.153 bilhões de 2000 para U$$ 15.526 bilhões em 2013. Esse aumento decorre principalmente da absorção crescente desse produto pelos principais parceiros comerciais mineiros, sendo a China e o Japão os que mais compram minério de ferro e consequentemente os que mais contribuem para o aumento da quantidade exportada do mesmo. Pelo Gráfico 4 é possível notar que as mudanças mais significativas no desempenho desse produto ocorrem em 2009 e 2012, em decorrência das crises econômicas que tiveram início respectivamente nos Estados Unidos em 2008 e na Europa em 2011. 20.000.000.000 18.000.000.000 16.000.000.000 US$ FOB 14.000.000.000 12.000.000.000 10.000.000.000 8.000.000.000 6.000.000.000 4.000.000.000 2.000.000.000 0 Anos Gráfico 4: Exportações totais de MG de Minério de ferro não aglomerado e seus concentrados. Fonte: AliceWeb (2014). Outro produto que compõem a pauta exportadora mineira é o café não torrado, não descafeinado, em grãos. Este também apresenta uma tendência de crescimento significativo ao longo dos anos, conforme pode ser observado no Gráfico 5, passando de U$$ 986 milhões 35 em 2000 para U$$ 3.094 bilhões em 2013, sendo a Alemanha o maior comprador do mesmo. Os períodos de diminuição das exportações do café decorrem, assim como os do minério de ferro, das crises econômicas mundiais ocorridas nos últimos anos. 7.000.000.000 6.000.000.000 US$ FOB 5.000.000.000 4.000.000.000 3.000.000.000 2.000.000.000 1.000.000.000 0 Anos Gráfico 5: Exportações totais de MG de Café não torrado, não descafeinado, em grãos. Fonte: AliceWeb (2014). Apesar do crescimento importante dessa atividade econômica nos últimos anos, a cafeicultura deixa o produtor na dependência do preço que está sendo realizado no mercado, para que então consiga comercializar a sua produção e esse preço é mais suscetível às mudanças decorrentes de crises no cenário mundial, sendo o mesmo um produto de baixa competitividade internacional. Ainda analisando a pauta mineira tem-se o ferronióbio, que é uma liga de ferro e magnésio, utilizada em vários ramos da indústria, como um produto de destaque em Minas Gerais. Esse produto conforme observado no Gráfico 6, apresenta ao longo dos anos um crescimento contínuo de 2000 a 2007, porém bem pequeno. Em 2008 aumenta bastante a sua participação equivalendo a um salto de 56,94% em relação ao ano anterior, mas em decorrência da crise de 2009 essa participação cai consideravelmente em 42,16%. No entanto, nos anos seguintes, a participação do mesmo aumenta, sofrendo uma pequena retração em 2013. Como já foi mencionado anteriormente, os principais compradores desse produto, os Estados Unidos, o Japão e a China. 36 1.800.000.000 1.600.000.000 1.400.000.000 US$ FOB 1.200.000.000 1.000.000.000 800.000.000 600.000.000 400.000.000 200.000.000 0 Anos Gráfico 6: Exportações totais de MG de Ferronióbio. Fonte: AliceWeb (2014). Encontra-se também dentre os principais produtos exportados pelo Estado, o Ouro em barras, que exibe no decorrer dos anos analisados um crescimento contínuo até 2011, como pode ser observado no Gráfico 7. Entretanto, em 2012, ocorre uma ruptura desse crescimento e nesse período as exportações passam de U$$ 1.430 bilhões em 2011 para U$$ 1.373 bilhões em 2012, equivalente a uma redução de 3,98% do valor total exportado. No ano seguinte, 2013, não ocorre recuperação das exportações com as mesmas continuando em queda. 1.600.000.000 1.400.000.000 US$ FOB 1.200.000.000 1.000.000.000 800.000.000 600.000.000 400.000.000 200.000.000 0 Anos Gráfico 7: Exportações totais de MG de Ouro em barras. Fonte: AliceWeb (2014). 37 Já através do Gráfico 8 é possível observar a evolução dos produtos semimanufaturados de ferro/aço. Nota-se que o crescimento desse produto ao longo dos anos foi se modificando. De 2000 a 2007 as exportações apresentaram um desempenho relativamente fraco, porém em 2008, as exportações mineiras desse grupo tiveram um salto quando passaram de U$$ 115 milhões em 2007 para U$$ 447 milhões em 2008, entretanto, no ano posterior caem significativamente. Nos anos seguintes (2010, 2011 e 2012) apresentam pequenos crescimentos. Sendo os Estados Unidos o principal comprador desse U$$ FOB produto. 500.000.000 450.000.000 400.000.000 350.000.000 300.000.000 250.000.000 200.000.000 150.000.000 100.000.000 50.000.000 0 Anos Gráfico 8: Exportações totais de MG de Produtos Semimanufaturados de ferro/aço. Fonte: AliceWeb (2014). E por fim, observa-se no Gráfico 9, a evolução do Açúcar de cana, em bruto. Nota-se que as exportações apresentaram ao longo dos anos um crescimento contínuo. Entretanto, em 2012 ocorre uma diminuição significativa do valor exportado quando as mesmas passam de U$$ 1.208 bilhões em 2011 para U$$294 milhões em 2012. Como já descrito, salienta-se a China o principal comprador desse produto. 38 1.400.000.000 1.200.000.000 U$$ FOB 1.000.000.000 800.000.000 600.000.000 400.000.000 200.000.000 0 Anos Gráfico 9: Exportações totais de MG de Açúcar de cana, em bruto. Fonte: AliceWeb (2014). Os principais produtos exportados descritos correspondem juntos, segundo o MDIC (2014), a mais da metade do total de destino da pauta exportadora mineira no somatório dos anos analisados, sendo possível constatar a vulnerabilidade permeando a economia mineira, que depende em grande parte dos seus parceiros comerciais, além da sua produção destinada ao comércio internacional ser composta, em parte, por commodities e produtos de baixo valor agregado. 5.2 Índices de Exportações (X) Através da Tabela 1 é possível observar que o Índice de Concentração por Produtos (ICXmg) vai aumentando ao longo do período analisado, passando de 22,88 em 2000 para 47,67 em 2013. O crescimento do mesmo decorre principalmente do aumento do índice relativo do minério de ferro que passa de 2,96 em 2000 para 21,56 em 2013. O aumento desse índice nos últimos anos indica uma menor diversificação da pauta exportadora mineira, concentrada em poucos produtos, o que proporciona efeitos negativos para a economia do Estado e consequentemente do País. Destaca-se que a participação das exportações e consequentemente os efeitos multiplicadores das mesmas sobre a atividade produtiva ficam fortemente vulnerável ao comércio exterior, uma vez que caso ocorra uma diminuição da demanda desses principais produtos no cenário internacional, essa redução será repassada em grande escala para a economia mineira, com impactos negativos. 39 Tabela 1 - Exportações mineiras: evolução do Índice de Concentração por Produto (ICXmg), 2000-2013. Ano Minério de ferro Café Ferronióbio Açúcar Ouro em barras Semimanufaturados de ferro/aço ICXmg 2000 2,96 2,16 0,09 0,00 0,03 0,00 22,88 2001 3,68 1,85 0,11 0,00 0,06 0,00 23,90 2002 4,11 1,61 0,12 0,01 0,07 0,01 24,33 2003 3,86 1,45 0,10 0,01 0,07 0,02 23,47 2004 3,74 1,54 0,06 0,01 0,08 0,03 23,36 2005 4,52 1,90 0,08 0,02 0,06 0,01 25,66 2006 5,27 1,79 0,09 0,03 0,07 0,01 26,96 2007 6,35 1,90 0,27 0,02 0,08 0,00 29,38 2008 7,92 1,49 0,38 0,01 0,06 0,03 31,47 2009 10,95 2,19 0,20 0,08 0,17 0,01 36,87 2010 17,31 1,71 0,20 0,08 0,14 0,00 44,10 2011 20,68 1,96 0,17 0,09 0,12 0,00 47,97 2012 17,93 1,29 0,24 0,01 0,17 0,00 44,32 2013 21,56 0,86 0,18 Fonte: Elaborado pela autora com base em AliceWeb (2014). 0,12 0,00 47,67 Os dados da Tabela 2 mostram a evolução da participação relativa dos principais produtos exportados pelo Estado de Minas Gerais. Ao longo do período analisado (20002013), alguns desses produtos aumentaram a sua participação no comércio exterior enquanto outros reduziram. O minério de ferro ao longo dos anos foi aumentando consideravelmente a sua participação passando de 17,19% em 2000 para 46,43% em 2013, evidenciando o grande peso do mesmo para a economia mineira, em contra partida o café não torrado, não descafeinado, em grãos foi diminuindo a sua participação passando de 14,69% em 2000 para 9,25% em 2013. Salienta-se que, em 2013, todos os produtos apresentados na Tabela 2, 40 exceto o açúcar, corresponderam a aproximadamente 64% do total exportado por Minas Gerais, o que vai de encontro com os resultados evidenciados na Tabela 1. Tabela 2 - Exportações mineiras: participação dos principais produtos no valor das exportações (%), 2000-2013. Ano Minério de Ferro Café não torrado Ferronióbio Ouro em barras Açúcar Semimanufaturados de ferro/aço 2000 17,19 14,69 2,95 1,74 0,05 0,49 2001 19,18 13,6 3,35 2,41 0,54 0,61 2002 20,28 12,66 3,5 2,55 0,78 0,86 2003 19,65 12,04 3,18 2,55 0,99 1,3 2004 19,32 12,41 2,51 2,83 1,06 1,58 2005 21,24 13,78 2,77 2,46 1,42 1,04 2006 22,94 13,39 3,04 2,65 1,77 1,1 2007 25,2 13,79 5,22 2,81 1,38 0,62 2008 28,14 12,19 6,16 2,52 1,2 1,83 2009 33,09 14,79 4,46 4,12 2,84 0,88 2010 41,6 13,08 4,49 3,71 2,85 0,61 2011 45,47 13,99 4,07 3,45 2,91 0,46 2012 42,34 11,34 4,94 4,13 0,88 0,65 9,25 4,26 3,41 - 0,5 2013 46,43 Fonte: AliceWeb (2014). A Tabela 3, por sua vez, apresenta a evolução do Índice de Concentração por Países de Destino (ICDmg). Observa-se um crescimento desse índice ao longo do tempo, com o mesmo passando de 26,34 em 2000 para 37,58 em 2013. Esse aumento decorre principalmente do crescimento do índice relativo da China, pois o mesmo cresce consideravelmente no período estudado, passando de 0,12 em 2000 para 12,17 em 2013, e em contra partida os Estados Unidos diminuem bastante seu índice relativo indo de 3,25 em 2000 para 0,40 em 2013. 41 Um crescente aumento do ICDmg revela uma menor diversificação nos destinos das exportações mineiras. Como os principais destinos das exportações mineiras correspondem a esses poucos países, evidencia-se a grande vulnerabilidade da economia desse Estado que dependente dos seus principais parceiros comerciais. Em função dessa dependência, mais uma vez, o Estado mineiro fica mais sensível às flutuações da demanda, que ocasionam mudanças repentinas nas receitas de exportações. Tabela 3 - Exportações mineiras: evolução do Índice de Concentração por Destino, 20002013. Ano Estados Unidos China Japão Alemanha Reino Unido Argentina Países Baixos Itália Bélgica Suíça ICDmg (Holanda) 2000 3,25 0,12 0,90 0,81 0,03 0,44 0,12 1,12 0,16 0,00 26,34 2001 2,30 0,60 0,70 0,77 0,05 0,59 0,17 0,49 0,13 0,00 24,08 2002 3,49 1,13 0,65 0,76 0,03 0,10 0,16 0,27 0,17 0,00 25,98 2003 3,22 1,40 0,58 0,61 0,03 0,19 0,17 0,30 0,14 0,00 25,77 2004 3,75 1,01 0,32 0,56 0,02 0,30 0,10 0,28 0,14 0,00 25,45 2005 3,15 1,25 0,35 0,48 0,03 0,31 0,16 0,28 0,08 0,00 24,69 2006 2,90 1,76 0,42 0,51 0,02 0,33 0,12 0,23 0,09 0,00 25,26 2007 1,91 2,56 0,32 0,83 0,03 0,38 0,22 0,21 0,08 0,00 25,55 2008 1,09 2,73 0,40 1,16 0,06 0,45 0,19 0,14 0,08 0,00 25,11 2009 0,45 8,42 0,41 0,62 0,21 0,38 0,14 0,08 0,04 0,02 32,81 2010 0,50 8,84 0,65 0,58 0,12 0,43 0,22 0,07 0,05 0,01 33,86 2011 0,54 10,37 0,63 0,23 0,13 0,45 0,43 0,10 0,03 0,02 35,95 2012 0,57 10,07 0,47 0,14 0,13 0,37 0,39 0,06 0,03 0,03 35,02 0,39 0,45 0,08 0,02 0,02 37,58 2013 0,40 12,17 0,38 0,09 0,12 Fonte: Elaborado pela autora com base em AliceWeb (2014). 42 Dando sequência a análise, tem-se na Tabela 4 a participação dos principais países de destino mineiro. Em 2000, a participação da China era de apenas 3,53%, a dos Estados Unidos de 18,01% e a do Japão 9,50%. Porém, no decorrer dos anos, a participação chinesa foi aumentando e ultrapassando a japonesa em 2002 e a norte-americana em 2007, se tornando o principal destino das exportações mineiras, o que evidencia o crescimento do Índice Relativo de Concentração da China e a diminuição do Índice Relativo dos Estados Unidos e do Japão (Tabela 3). Tabela 4 - Exportações mineiras: participação dos principais países de destino no valor das exportações (%), 2000-2013. Países Alemanha Argentina Baixos Itália Reino Unido Bélgica Suíça 3.53 10.57 1.64 3.95 0.33 7.65 4.14 7.02 2.22 3.53 0.25 8.70 3.23 3.94 5.16 1.65 4.13 0.36 7.58 7.81 4.33 4.10 5.52 1.84 3.69 0.20 19.36 5.64 7.46 5.45 3.13 5.28 1.54 3.80 0.27 11.16 17.74 5.91 6.94 5.59 4.01 5.26 1.70 2.90 0.28 2006 13.23 17.03 6.46 7.16 5.74 3.41 4.83 1.55 2.94 0.19 2007 15.98 13.81 5.64 9.08 6.16 4.71 4.58 1.72 2.75 0.24 2008 16.51 10.43 6.32 10.76 6.68 4.34 3.79 2.51 2.89 0.59 2009 29.01 6.68 6.36 7.87 6.18 3.74 2.82 4.63 1.89 1.29 2010 29.73 7.06 8.03 7.60 6.54 4.68 2.65 3.47 2.19 1.18 2011 32.20 7.35 7.29 4.78 6.69 6.56 3.19 3.54 1.77 1.27 2012 31.72 7.56 6.85 3.78 6.11 6.27 2.48 3.59 1.65 1.61 2013 34.88 6.33 6.18 3.00 6.23 6.70 2.82 3.43 1.30 1.42 Ano China E.UA Japão 2000 3.53 18.01 9.50 8.97 6.60 2001 7.77 15.17 8.37 8.75 2002 10.62 18.67 8.06 2003 11.84 17.94 2004 10.03 2005 Fonte: AliceWeb (2014). 43 Por fim, tem-se na Tabela 5 a análise da especialização relativa dos produtos estudados, utilizando para tal fim o cálculo do Coeficiente de Especialização Relativa (CSRmg). Esse tipo de análise é importante porque permite captar em quais produtos o Estado de Minas Gerais revelou-se especializado em relação ao Brasil, no período de 20002013. Dentre os seis produtos exportados pelo setor, apenas um (açúcar) apresentou CSRmg<1, evidenciando que o produto não possui especialização relativa quando comparado com o Brasil. No restante, todos os cinco produtos (minério de ferro, café não torrado, ferronióbio, ouro em barras e semimanufaturados de ferro/aço) apresentaram especialização relativa, evidenciando que esses produtos são mais representativos nas exportações mineiras do que nas exportações brasileiras, revelando que o Estado apresenta certa vantagem nesses produtos quando comparado à economia nacional. Tabela 5 - Coeficiente de Especialização Relativa (CSRmg). Ano Minério de ferro Café Ferronióbio Açúcar Ouro Semimanufaturados de ferro/aço 2000 3,23 3,28 4,21 0,02 2,37 2,91 2001 3,80 4,27 5,04 0,15 2,73 2,94 2002 4,09 4,32 5,33 0,29 2,98 3,66 2003 4,37 4,69 5,74 0,37 3,95 3,74 2004 4,14 4,63 5,53 0,46 4,47 3,74 2005 3,80 4,34 5,19 0,48 4,25 1,96 2006 3,72 4,26 5,22 0,42 3,76 2,45 2007 3,93 4,52 5,44 0,49 3,94 1,91 2008 3,60 4,17 5,29 0,47 3,45 4,03 2009 3,64 4,57 4,89 0,55 3,46 3,59 2010 3,05 3,95 4,52 0,48 3,25 3,34 2011 2,90 3,55 4,49 0,51 3,13 3,17 2012 3,38 3,77 5,18 3,40 3,35 4,59 - 2,95 3,13 2013 3,29 3,72 4,89 Fonte: Elaborado pela autora com base em AliceWeb (2014). 44 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho teve como objetivo principal analisar a dinâmica do setor exportador mineiro, entre os anos de 2000-2013. Buscou-se identificar e avaliar a estrutura atual da pauta de exportações do Estado e sua dinâmica de concentração no período. Neste intuito, fez-se uma avaliação do processo de abertura comercial brasileira, para que fosse possível a construção do contexto no qual se insere o desempenho da economia mineira. Após essa avaliação o comportamento do Estado foi analisado para verificar se houve mudanças do padrão da estrutura setorial. Discutidos os resultados, são aqui relembradas, as principais conclusões acerca desse estudo. Observa-se um crescimento das exportações mineiras no período analisado, evidenciando a grande importância desse Estado para a economia brasileira, sendo que as mesmas sofrem retrações apenas em 2009 e 2012, em função das crises econômicas que tiveram início respectivamente nos Estados Unidos em 2008 e na União Europeia em 2011. Entretanto, apesar desse crescimento e de Minas Gerais ocupar o segundo lugar em termos de participação do total exportado pelo Brasil, o Estado apresenta uma pauta exportadora concentrada no que se refere aos seus países de destino e produtos exportáveis. A partir dos dados levantados verificou-se que o minério de ferro é o produto que apresenta a maior participação no valor exportado pelo Estado, seguido do café não torrado, não descafeinado, em grãos e do ferronióbio (liga de ferro e magnésio). Fato preocupante, uma vez que o mineiro de ferro apresentou uma participação de 46,43% em 2013 na economia mineira, revelando como o Estado é dependente desse produto e devido a isso, torna-se vulnerável às mudanças ocorridas no cenário internacional. Fora isso, o crescimento dos índices de concentração por produtos (ICXmg) e por países de destino (ICDmg), refletem um cenário de dependência econômica relativa a determinadas atividades produtivas, objeto de estudo do presente trabalho. Salienta-se, assim, que Minas Gerais apresenta especialização relativa em cinco dos produtos analisados nesse trabalho, evidenciando que esses produtos são mais representativos nas exportações do Estado em questão do que no País e essa vantagem em relação ao Brasil deve ser aproveitada para diminuir essa dependência e não para ampliá-la. Sendo assim, através do comportamento do comércio exterior mineiro, fica evidente a necessidade de novas formulações de políticas públicas, que visem uma maior diversificação e dinamização da pauta exportadora mineira, além da busca de novos parceiros comerciais. A 45 ideia é que o Estado se torne mais competitivo perante os seus concorrentes e passe a depender menos de grupos específicos e modifique a sua estrutura setorial marcada em grande parte pela indústria extrativa, indústria de bens intermediários e de bens de consumo, que apresentam, em parte, baixo valor agregado e são mais suscetíveis às variações nas demandas de exportação e consequentemente deixam o comércio exterior mineiro mais vulnerável no cenário internacional. 46 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APEX-BRASIL. Perfil exportador do Estado de Minas Gerais. 2013. Disponível em: http://www2.apexbrasil.com.br. Acesso em: 22 abr. 2014. AVERBUG, André. Abertura e integração comercial brasileira na década de 90. In: GIAMBIAGI, F., MOREIRA, M.M (orgs.). A economia brasileira nos anos 90. Rio de Janeiro: BNDES, 1999. AZEVEDO, André Filipe Zago de; PORTUGUAL, Marcelo Savino. Abertura comercial brasileira e instabilidade da demanda de importações. Nova Economia, 1998, vol. 8, edição1. 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