EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA O uso de antidepressivos na profilaxia da enxaqueca (migrânea). Por que só alguns? The use of antidepressants in migraine prophylaxis. Why just some of them? Getúlio Daré Rabello Ambulatório de Cefaléias da Clínica Neurológica da Faculdade de Medicina da USP RESUMO Introdução: A enxaqueca é uma doença de sintomas recorrentes ou crônicos, cuja profilaxia freqüentemente se faz necessária. Apesar da grande quantidade de informações acumuladas nesta área, é sabido que a prescrição de profiláticos para enxaqueca por vezes carece de sistematização. Objetivos: Revisar a farmacologia clínica dos antidepressivos e discutir seu uso não apenas na profilaxia da enxaqueca como também nas possíveis condições psiquiátricas associadas. Métodos: A literatura pertinente foi revisada, e a informação foi organizada e condensada pelo autor, visando oferecer uma fonte prática de consulta. Conclusões: Diversos antidepressivos parecem ter efeito profilático na enxaqueca, através de mecanismos variados, sendo os tricíclicos aqueles mais bem estudados. É opinião do autor que a resolução dos sintomas psiquiátricos associados é igualmente importante na prevenção da enxaqueca. PALAVRAS-CHAVES Enxaqueca; migrânea; profilaxia; antidepressivos; co-morbidade. INTRODUÇÃO A enxaqueca é doença que afeta significativo percentual da população. O tratamento envolve medidas gerais (mudança de estilo de vida, controle de fatores desencadeantes, avaliação de utilização de drogas eventualmente utilizadas pelo paciente), tratamento de ataque (tratamento da crise aguda de enxaqueca) e tratamento profilático (no sentido de evitar ou pelo menos diminuir a freqüência das crises agudas de enxaqueca). No último item temos medidas não-farmacológicas (acupuntura e biofeedback) e farmacológicas. O uso de antidepressivos se insere no último item, sendo cada vez mais utilizados com essa finalidade. 116 Profilaxia é um vocábulo que se refere à parte da medicina que tem por objeto as medidas preventivas contra as enfermidades. A enxaqueca é uma doença que apresenta um caráter genético, com ampla difusão na população e sem um impacto na sobrevida de seus portadores. Nesse contexto, profilaxia não significa evitar o surgimento da doença mas contribuir para que, uma vez presente, seu impacto seja menor na vida do indivíduo. Gervil et al1 (1999), analisando gêmeos com enxaqueca sem aura, verificaram que ela é causada por fatores genéticos e ambientais. A taxa de concordância é maior em gêmeos monozigóticos que dizigóticos (0,43% e 0,31%, respectivamente). A predisposição para enxaqueca sem aura depende de fatores genéticos (61%, IC95% 49-71%) e fatores ambientais específicos para o indivíduo (39%, IC95% 29-51%). Aproximadamente a metade da variação fenotípica na enxaqueca sem aura é devida a fatores ambientais. Os autores admitem que vários dos fatores ambientais, desencadeadores de crises de enxaqueca sem aura, agem aumentando a chance de expressão da predisposição genética. Assim, a medicação profilática tenta atuar sobre essa predisposição genética aos estímulos ambientais. A profilaxia da enxaqueca envolve vários objetivos: diminuir a freqüência, intensidade e duração das crises; melhorar a eficiência das medicações de ataque; melhorar a funcionalidade do paciente; reduzir a incapacidade provocada pela doença.2 A profilaxia da enxaqueca não teve o mesmo desenvolvimento dos assim chamados tratamentos de ataque, que são aqueles que visam o tratamento sintomático da crise aguda da mesma. Apenas mais recentemente houve certo incremento de procedimentos farmacológicos e não farmacológicos com esse intento. Uma série de drogas é utilizada com essa finaliMigrâneas cefaléias, v.8, n.4, p.116-123, out./nov./dez. 2005 O USO DE ANTIDEPRESSIVOS NA PROFILAXIA DA ENXAQUECA (MIGRÂNEA). POR QUE SÓ ALGUNS? dade, porém faltam estudos amplos e controlados que comprovem a eficácia de tais terapêuticas. A utilização dessas drogas, na maior parte das vezes, baseia-se em opiniões pessoais e em séries pequenas, geralmente obtidas a partir de estudos abertos. Scarani e cols,3 em 1987, estudando 500 pacientes portadores de cefaléia vascular (11%), cefaléia tipo tensão (39%), cefaléias mistas (48%), observaram que era utilizada uma enorme variedade de drogas. Em relação às drogas classicamente indicadas na profilaxia da enxaqueca, as mais utilizadas foram: flunarizina, pizotifeno, amitriptilina, metisergida, cinarizina e ciproheptadina. Nesse estudo ficou claro a pouca utilização de betabloqueadores e o uso extremamente freqüente de benzodiazepínicos, os quais são drogas hoje consideradas de pouca eficácia no tratamento da dor de forma geral e da cefaléia em particular, além de serem fatores responsáveis pela eclosão da cefaléia crônica diária. Embora este estudo já tenha mais de 20 anos, a falta de informação entre os profissionais da área médica pouco se modificou, reforçando as conclusões do mesmo: "Em conclusão, nosso levantamento mostra que o tratamento da cefaléia é bem menos esquemático e eficaz que o esperado da literatura. Dados coletados de documentos que refletem prática clínica podem ser considerados reflexo da percepção acumulada pelos médicos dos achados de pesquisa e o uso prático dos critérios de eficiência das drogas. Nossos dados indicam os defeitos dos métodos tradicionais para avaliação das drogas utilizadas no tratamento das cefaléias. Pacientes portadores de cefaléia parecem ser expostos à prescrição errônea e particularmente "casual", que é associada com discreta eficácia. Para avaliar melhor se e por quanto tempo esses pacientes "órfãos" podem esperar por um futuro terapêutico mais feliz, devem ser preparados ensaios clínicos mais apropriados, incluindo grandes grupos de pacientes não selecionados, de forma aleatória, com avaliações por tempo superior aos existentes na literatura, e fazendo análises estratificadas no sentido de identificar subgrupos potencialmente diferentes em suas respostas." Em 2002, a Sociedade Brasileira de Cefaléia reuniu uma gama de especialistas e elaborou documento denominado "Recomendações para o tratamento profilático da migrânea".4 Muitas das orientações abaixo explicitadas referem-se a esse documento. Ao preconizarmos o tratamento profilático para enxaqueca, algumas regras são fundamentais: 1) Indicações: • freqüência de crises superior a 2-3 crises/mês; • crises intensas que interferem com a vida normal, mesmo que com freqüência de crises inferior à anteriormente referida; Migrâneas cefaléias, v.8, n.4, p.116-123, out./nov./dez. 2005 • incapacidade psicológica de conviver com as crises; • medicações de ataque contra-indicadas ou ineficientes; • crises de enxaqueca com características especiais: enxaqueca basilar, hemiplégica, com aura prolongada, com auras freqüentes e atípicas e infarto enxaquecoso. 2) Regras gerais: • devemos avaliar se existe abuso de analgésico/cafeína associado. No caso de crises muito freqüentes, superiores a oito crises/mês, devemos pesquisar e tratar conjuntamente o quadro de abuso de analgésico, já que a eficácia das drogas profiláticas diminui significantemente com este fator associado; • o uso de múltiplas medicações deve ser evitado, premiando-se a monoterapia; • a escolha da droga deve ter alta taxa benefício/ risco; • aumento gradual das doses das medicações escolhidas, até que os efeitos terapêuticos ou tóxicos apareçam, ou a dose máxima seja atingida (eventualmente seis meses podem ser necessários); • informe o paciente sobre efeitos colaterais; • avaliação sistemática de outras medicações em uso; • tempo de tratamento: seis meses no mínimo, porém com duração ideal de pelo menos um ano. Deve-se tentar retirar a droga, mesmo que tenha havido sucesso; • uso prolongado eventualmente necessário; • mudança de medicação apenas com oito semanas de observação da droga; • dar atenção especial a situações particulares como gravidez, intenção de engravidar, amamentação, alergias e idade (crianças e idosos). Ao optarmos por uma medicação profilática, devemos levar em consideração uma série de fatores: a) perfil clínico do paciente: evidentemente um paciente portador de asma brônquica não deve ter o propranolol ou qualquer outro betabloqueador como opção para profilaxia; b) efeitos colaterais previsíveis: em paciente obeso, o uso de drogas que aumentem o peso deve ser desaconselhado (pizotifeno, ciproheptadina, antidepressivo tricíclico, flunarizina). Nessa situação, os betabloquadores e o topiramato são boas opções. Portanto, é fundamental uma correta avaliação clínica e o conhecimento de todos os potenciais efeitos colaterais das drogas utilizadas; c) morbidade associada: freqüentemente pacientes portadores de enxaqueca apresentam outras patologias associadas (hipertensão arterial, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo, vestibulopatia, epilepsia, pânico). Nesses casos, a escolha do medicamento deve levar em consideração estes aspectos, a fim de que um mesmo 117 GETÚLIO DARÉ RABELLO fármaco atue nos vários aspectos patológicos do paciente. O QUE SÃO ANTIDEPRESSIVOS A progressiva modificação do paradigma de tratamento das doenças mentais que ocorreu na segunda metade do século passado determinou, no final da década de 50, a síntese de drogas psicotrópicas que agiriam sobre os quadros depressivos, os assim chamados antidepressivos.5 Embora amplamente usadas em psiquiatria, mais da metade das prescrições de antidepressivos é feita por médicos não psiquiatras.5,6 Paoli e cols foram os primeiros a demonstrar a eficácia dos antidepressivos no tratamento dos estados dolorosos crônicos.5,7 Necessário ressaltar que quando a depressão precede ou coincide com a instalação da dor crônica, a melhora com antidepressivos é mais expressiva do que quando a depressão instala-se após o início da dor.5,8 QUAIS SÃO OS ANTIDEPRESSIVOS Os antidepressivos podem ser classificados pela sua estrutura química e pelas suas propriedades farmacológicas: inibidores não-seletivos da recaptura de monoaminas, inibidores de monoaminooxidase (IMAOs), inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs), inibidores seletivos de recaptação de noradrenalina (ISRNas), inibidores seletivos de recaptação de serotonina e noradrenalina (ISRSNs), antidepressivos noradrenérgicos e serotoninérgicos específicos, inibidores de recaptação de serotonina e antagonista alfa2, inibidores seletivos de recaptação de dopamina, estimuladores da recaptação da serotonina.5 • Inibidores não-seletivos da recaptura de monoaminas – Incluem os antidepressivos tricíclicos, que são os mais utilizados no tratamento das dores crônicas. Sua característica básica é ter estrutura molecular com três anéis, daí o seu nome. Eles se dividem em dois grandes grupos: aminas terciárias (imipramina, amitriptilina, doxepina) e as aminas secundárias (desipramina, nortriptilina, protriptilina, amoxapina, maprotilina). • Inibidores de monoaminooxidase (IMAOs) – A monoaminooxidase é uma enzima encontrada nos neurônios que atua sobre várias moléculas neurotransmissoras (noradrenalina, dopamina, serotonina). Existem dois tipos de MAO, a saber, tipo A (atuando na serotonina, noradrenalina, dopamina e tiramina) e tipo B (atuando na benzilamida, fenilitilamida, dopamina e tiramina). Existem IMAOs não seletivos e irreversíveis contra as isoenzimas A e B (fenelzina e tranilcipromina), IMAOs seletivos e reversíveis contra 118 isoenzima A (moclobemina) e IMAOs seletivos e reversíveis contra isoenzima B (selegiline, com uso na Doença de Parkinson). • Inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs) – Essas drogas bloqueiam seletivamente a recaptação de serotonina, mantendo esse neurotransmissor por mais tempo na fenda sináptica. Incluem a fluoxetina, paroxetina, sertralina, citalopran, escitalopran. • Inibidores seletivos de recaptação da noradrenalina (IRNas) – Inclui a reboxetina • Inibidores seletivos de recaptação de serotonina e noradrenalina (ISRSNs) – Essas drogas inibem seletivamente a recaptação da serotonina e noradrenalina. Esse grupo inclui a venlafaxina e o milnaciprano. • Antidepressivos noradrenérgicos e serotoninérgicos específicos – O único antidepressivo desse grupo é a mirtazapina e ela aumenta a neurotransmissão noradrenérgica e serotoninérgica, porem sem interferir na recaptação das aminas. É antagonista alfa2, provoca desinibição de neurônios noradrenérgicos e serotoninérgicos, aumenta a neurotransmissão mediada pela noradrenalina e serotonina nos receptores 5HT1A, e bloqueia receptores 5HT2 e 5HT3. • Inibidores de recaptação de serotonina e antagonista alfa2 – Incluem a nefazodona e a trazodona. • Inibidores seletivos de recaptação de dopamina – O único antidepressivo dessa classe é a bupropiona. • Estimuladores da recaptação da serotonina – Inclui a tianeptina. Na tabela 1 temos os principais dados referentes aos diferentes antidepressivos e na tabela II os efeitos colaterais dos principais tipos. COMO AGEM OS ANTIDEPRESSIVOS NO TRATAMENTO DA DOR O efeito dos antidepressivos no tratamento da dor aparentemente independe de seus efeitos nos transtornos do humor. Isso porque o efeito analgésico já começa a ocorrer durante a primeira semana. Por sua vez, o efeito antidepressivo ocorre em torno da terceira semana.5,9 Atualmente se admite que a atuação dos antidepressivos advenha de sua ação nos vários sistemas de neurotransmissores. Isso adveio da hipótese das aminas biogênicas para a depressão. No início da década de 50 foi observado que o uso do anti-hipertensivo reserpina (que depleta o sistema nervoso central de catecolaminas) causava enorme depressão. Por sua vez, a droga antituberculosa iproniazida (com ação na enzima MAO) e as anfetaminas poderiam determinar elevação do humor. A reserpina depleta os estoques de noradrenalina, dopamina e serotonina do Migrâneas cefaléias, v.8, n.4, p.116-123, out./nov./dez. 2005 O USO DE ANTIDEPRESSIVOS NA PROFILAXIA DA ENXAQUECA (MIGRÂNEA). POR QUE SÓ ALGUNS? Tabela 1 Principais Antidepressivos Nome Farmacológico Nome Comercial Dose na Dor Dose Máxima Tryptanol Amytril 10-25 mg 300 mg 25-100 mg 300 mg 25-100 mg 250 mg Pamelor 10-50 mg 150 mg Ludiomil 25-50 mg 300 mg Tolvon 30-90 mg 200 mg Parnate Stelapar (+ trifluoperazina) 10-20 mg 45 mg Moclobemida ISRS Aurorix 100 mg 600 mg Amineptina Survector 200 mg Fluoxetina Prozac Daforin Eufor Verotina Cipramil Denyl Alcytan Luvox Aminas Terciárias Amitriptilina Imipramina Clomipramina Aminas Secundárias Nortriptilina Tofranil Tofranil pamoato Imipra Anafranil Anafranil SR Heterocíclicos Maprotilin Tetracíclicos Mianserina Iinibidores de MAO Tranilcipromina 5-20 mg 80 mg 20 mg 60 mg 50 mg 300 mg 25 mg 200 mg 20 mg 60 mg Prolift 4-10 mg 10 mg Efexor Venlift 37,5 mg 375 mg Milnaciprano Antidepressivos noradrenérgicos e serotoninérgicos específicos Ixel 25 mg 100 mg Mirtazapina Remeron 15 mg 45 mg Citalopran Fluvoxamina Sertralina Paroxetina Zoloft Tolrest Serenata Aropax Pondera Cebrilin IRNa Reboxetina ISRSNs Venlafaxina Inibidores de recaptação de serotonina e antagonista alfa2 Nefazodona Serzone 200 mg 600 mg Trazodona Inibidores seletivos de recaptação de dopamina Bupropiona Donaren 50 mg 400 mg Wellbutrin Zyban Zetron 150 mg 300 mg Stablon 50 mg 200 mg Estimulantes da recaptação de serotonina Tianeptina Migrâneas cefaléias, v.8, n.4, p.116-123, out./nov./dez. 2005 sistema nervoso central. Por sua vez, as catecolaminas aumentam os níveis teciduais de noradrenalina e dopamina. Assim, reforçou-se a hipótese catecolaminérgica. Por sua vez, a hipótese indolaminérgica também foi reforçada, pois a reserpina depleta a serotonina e a iproniazida eleva os níveis de serotonina.10 Uma discussão é como a deficiência noradrenérgica e serotoninérgica determinaria a síndrome depressiva. Admite-se que as projeções corticais do locus coeruleus (noradrenalina) e dos núcleos da rafe (serotonina) teriam ação moduladora sobre o córtex, difusamente, mantendo o estado de humor normal. Esses mesmos mecanismos sobre vias noradrenérgicas e serotoninérgicas determinariam modulação sobre os mecanismos de dor. Os fenômenos dolorosos crônicos determinam uma série de modificações nos sistemas de condução sensitiva, que denominamos fenômenos de sensibilização periférica e central. O controle dos fenômenos de sensibilização central e periférica é, aliado à atuação sobre o sistema modulador central de dor proveniente da substância cinzenta periaquedutal, o mecanismo que explica a eficácia dos antidepressivos.11 I) Sensibilização Periférica. É devida principalmente à diminuição do limiar dos receptores nociceptivos, a descargas ectópicas e ao acúmulo anormal de canais de sódio. Daí o uso de moduladores de canais de sódio no sentido de diminuir a sensibilização periférica. Os antidepressivos tricíclicos têm ação nesses mecanismos, além de ter ação nos mecanismos centrais de controle de dor provenientes da substância cinzenta periaquedutal. II) Sensibilização Central. É devida ao contínuo bombardeio dos neurônios do núcleo trigeminal pelos estímulos provenientes dos neurônios periféricos. Isso determina através da ação desses neurotransmissores (glutamato, aspartato, substância P, neurocinina), agindo em receptores NMDA e NK1, entrada de cálcio no interior das células do corno posterior da medula espinal. O cálcio, como segundo men119 GETÚLIO DARÉ RABELLO aquedutal e que tem como principal neurotransmissor a serotonina; I-MAO b) sistema proveniente do locus coeruleus, na Hipotensão ortostática +++ ++ -+++ / - região pontina, e que tem como principal Efeitos cardíacos muscarínicos +++ ++ --neurotransmissor a noradrenalina. Efeito semelhante a quinidina ++ + --Esses sistemas se projetam sobre neurônios Efeito tiramina ---+++ / - Efeitos antimuscarínicos (boca inibitórios gabaérgicos que controlam a neuroseca, retenção urinária, +++ ++ --obstipação, distúrbios de transmissão dolorosa nos núcleos trigeminais e movimento, fadiga, mioclonia, corno posterior da medula espinal. A maior parte déficit de memória, delírio) Efeito "switch" +++ +/--dos antidepressivos age diminuindo o re-uptake Sedação +++ ++ -+/-dessas neurotransmissores e mantendo sua ativiDiminuição do limiar + ++ --dade sobre os neurônios gabaérgicos e mantendo convulsígeno Náusea e vômitos + + ++ + a inibição descendente. Tremor ++ ++ ++ ++ Existem três tipos de antidepressivos que atuGanho de peso ++ + + -am sobre esse sistema: Hepatotoxicidade ---++ / - a)- antidepressivos tricíclicos: em que temos a significantemente menor para os IMAO-R; b não se aplica para os IMAO-R; c d e os grupos das aminas terciárias (como a insônia com ISRS e IMAO-R; exclusivamente com IMAO hidrazina; capacidade da droga de induzir mudanças bruscas de humor, da depressão para a mania. imipramina, clomipramina, amitriptilina, doxepina, -- = observação ausente; que diminuem a recaptação da noradrenalina e +/- = observação rara; menos da serotonina aminas terciárias) e aminas + = observação infreqüente; secundárias (desipramina, nortriptilina, protriptilina, ++ = observação freqüente; amoxapina, maprotilina, que são mais seletivas no +++ = observação muito freqüente; bloqueio da recaptação da noradrenalina); IRSS - Inibidores de recaptação seletivos de serotonina b)- inibidores seletivos de recaptação de serotonina: como a fluoxetina, paroxetina, citalopran, sageiro, determina ativação da NO-sintase, aumenta a expressão dos gens precoces imediatos (c-fos e c-jun) e sertralina, escitalopran, que não tem atuação na modulação dos canais de sódio. determina fosforilação de receptores ao nível do corno posterior (receptores NMDA), com diminuição do limiar c)- inibidores seletivos de recaptação de noradrenalina e menos de serotonina: como a venlafaxina, mas diferentede ativação dos neurônios sensitivos secundários e aparecimento de descargas ectópicas. Esses fenômenos demente dos tricíclicos não tem ação sobre os canais de sódio. terminam o fenômeno da alodinia, por exemplo, bastante comum nas crises de enxaqueca (alodinia é a percepção MORBIDADE ASSOCIADA ENTRE DEPRESSÃO E como dor e sensação desagradável de estímulo não nociENXAQUECA ceptivo, como o dolorimento pelo mero roçar de mãos na cabeça durante crise de enxaqueca). Em contraste com A utilização de drogas antidepressivas no tratamento os modulares de canais de sódio na sensibilização periféda enxaqueca independe, como já frisamos, do quadro rica, agentes bloqueadores de receptores NMDA, psicopatológico do paciente. Existem, porém, vários estubloqueadores de receptores NK1 e moduladores canais dos na literatura mostrando morbidade associada entre de cálcio, são importantes na sensibilização central. enxaqueca e distúrbios mentais. Na tabela 3 mostramos os As drogas que agem na sensibilização central são: resultados de um estudo feito na área de Detroit, citado a) antagonistas de receptores NMDA: dextrometorfan, por Breslau e col.12 ketamina e metadona; Como vemos, existe uma morbidade associada imb) antagonistas de canais de cálcio N e P: gabapentina, portante com distúrbios depressivos. Nesta situação, a utilamotrigina, oxcarbazepina e levetiracetan; lização de drogas com melhor ação nos distúrbios c) antagonistas de receptores NK1: ainda não temos psicopatológicos, principalmente se tiverem também uma antagonistas desses receptores na prática clínica. ação na enxaqueca, deve ser preconizada. Stewart e col13 observaram morbidade associada com distúrbios do pâniIII) Vias Inibitórias Descendentes. Existem dois granco. Neste caso, valproato, por exemplo, que tem ação nas des sistemas descendentes de vias que se projetam do duas entidades, pode ser utilizado. encéfalo para os núcleos trigeminais e medula espinal e No Ambulatório de Cefaléias da Clínica Neurológica modulam os sistemas de neurotransmissão dolorosa: da Faculdade de Medicina da USP, durante o período de a) sistema proveniente da substância cinzenta periTabela 2 Efeitos colaterais das 4 classes de antidepressivos Antidepressivos Atípicos Efeito Adverso IRSS Tricíclicos (não IRSS) a b e c c d 120 Migrâneas cefaléias, v.8, n.4, p.116-123, out./nov./dez. 2005 O USO DE ANTIDEPRESSIVOS NA PROFILAXIA DA ENXAQUECA (MIGRÂNEA). POR QUE SÓ ALGUNS? Tabela 3 The Detroit Area Study Idade=21 a 30 anos; Amostra inicial=1.200 pacientes; Pacientes entrevistados=1.007; Prevalência de enxaqueca = 128/1.007 (12,8%) - Mulheres=16,3%; Homens=7%; Prevalência (%) durante a vida de distúrbios afetivos em pessoas com e sem enxaqueca Enxaqueca (n=128) Controle (n=879) Odds ratio (95% CI) Depressão maior* 26,6% 9% 3.7 (2.3-5.8) Distimia 9,4% 2,3% 4.4 (2.1-9.3) Episódio maníaco 4,7% 0,9% 5.4 (1.8-15,7) Doença bipolar 3,9% 0,8% 5.1 (1.5-16.2) *73,4% dos pacientes com depressão maior e enxaqueca preencheram critérios para um ou mais distúrbios ansiosos (pânico, distúrbio obsessivo-compulsivo, distúrbio ansioso generalizado, fobia). Nos pacientes sem enxaqueca esta proporção foi de 63,1%. Tabela 4 Morbidade psiquiátrica em pacientes portadores de enxaqueca transformada (n= 602*) Idade 41,6 + 13,1 (14 - 80) N % 80 522 13,3 86,7 146 69 34,3 16,2 Transtorno do humor Depressão Distimia) 133 29 31,2 6,8 Transtorno somatoforme 48 11,3 Gênero Masculino Feminino Diagnósticos psiquiátricos Transtorno ansioso Retardo mental Outros * Pacientes avaliados: n=369; Diagnósticos psiquiátricos: n=425 2/2000 a 5/2005 foram atendidas 1.723 pacientes. Desses, 812 (47,1%) apresentaram cefaléia crônica diária. A forma mais comum de cefaléia crônica diária foi a assim chamada enxaqueca transformada (602/812, 74%). Foi observada morbidade psiquiátrica associada significativa, a qual encontra-se apresentada na tabela 4. Assim, evidentemente, a opção de medicação que possa agir no fenômeno doloroso e na psicopatologia associada é paradigma racional. OS ANTIDEPRESSIVOS NO TRATAMENTO DA ENXAQUECA Embora tenhamos uma grande variedade de drogas antidepressivas, apenas algumas delas foram adequadamente estudadas no tratamento da enxaqueca. Migrâneas cefaléias, v.8, n.4, p.116-123, out./nov./dez. 2005 Amitriptilina. Trata-se da única droga bem estudada. Aparentemente seu efeito não se relaciona com sua ação antidepressiva, já que é eficaz em doses bem inferiores àquelas usadas nos distúrbios do humor.14,15 Além disso, sua ação inicia-se em torno do 4º ao 5º dia, diferentemente da ação antidepressiva, que se inicia apenas após a 3ª semana. A amitriptilina tem uma potência como inibidora da recaptação da 5-HT um pouco superior à sua capacidade de inibir a recaptação da noradrenalina. Seus mecanismos de ação são variados: • ação antagonista em receptores 5-HT2; • ação inibidora sobre o aumento da atividade neuronal da alça que une o córtex órbito- frontal e o tálamo, potencial mecanismo de desencadeamento das crises de enxaqueca. Welch16 sugeriu que as crises de enxaqueca se devem à alteração vascular secundária a processo que se origina no córtex frontal. Esta teoria, biocomportamental, explica porque fatores como estresse, menstruações, idade, podem desencadear as crises. O córtex órbito-frontal ativado desinibe o tálamo, que facilita nova ativação do córtex frontal. Isto vai levando à progressiva ativação da área, até que, a partir desta, existe ativação de centros no tronco encefálico (locus ceruleus), determinando a liberação de noradrenalina no manto cortical, pelas projeções difusas desse sistema. Esta liberação induz uma onda de despolarização no manto cortical, especialmente no córtex occipital (depressão alastrante de Leão). Esta despolarização pode ser produto do aumento de K+ extracelular, causada pela redução da recaptação de K+ pela glia mediada por receptores β-adrenérgicos. Os efeitos colaterais mais importantes da amitriptilina são: sonolência, boca seca, ganho de peso, reações cutâneas, hipotensão ortostática, náusea, obstipação. Excepcionalmente pode causar insônia. Contra-indicações são: glaucoma de ângulo fechado, retenção urinária, gravidez, amamentação, uso concomitante de IMAO. Devemos iniciar com doses baixas (10 a 12,5 mg/ noite), com aumento gradual da dose. Doses acima de 100 mg/dia normalmente não são úteis no tratamento da enxaqueca. Não existe vantagem no uso associado com outras drogas profiláticas. Apenas no caso de enxaqueca associada à cefaléia tipo tensão, a associação amitriptilina e propranolol parece ser eficiente. A melhor indicação para a amitriptilina é em pacientes portadores de enxaqueca e cefaléia tipo-tensão (eventualmente com o uso associado de propranolol), em pacientes com psicopatologia e em pacientes portadores de enxaqueca transformada com abuso de analgésicos.17 Neste último caso, estes autores utilizaram associadamente, por duas semanas, dexametasona. 121 GETÚLIO DARÉ RABELLO OUTROS ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS E ANTIDEPRESSIVOS ATÍPICOS (NÃO IRSS) Não existem estudos adequados destas drogas em enxaqueca. Podem eventualmente ser utilizados, quando os efeitos colaterais da amitriptilina são importantes. A imipramina e a nortriptilina são as mais utilizadas. Inibidores de monoaminooxidase (IMAO) Existem vários grupos dessas drogas: 1) Inibidores irreversíveis da MAO-A: neste grupo se incluem a fenelzina e a tranilcipromina. Existem alguns estudos mostrando eficácia desta medicação. Devido aos efeitos colaterais só devem ser utilizadas em casos extremamente resistentes. 2) Inibidores irreversíveis da MAO-B: neste grupo existe a selegiline, utilizada no tratamento da Doença de Parkinson. Provavelmente devido à sua ação predominantemente em vias dopaminérgicas, ativando-as, não tem ação na enxaqueca. 3) Inibidores reversíveis da MAO: neste grupo existe a moclobemida. Não existem estudos controlados sobre sua eficácia na enxaqueca. Inibidores de recaptação seletivos de serotonina (IRSS) Desse grupo farmacológico, a fluoxetina é a que tem alguns estudos controlados. Os resultados são controversos, com alguns estudos mostrando eficácia e outros não, em doses em torno de 20 a 40 mg/dia. Recente revisão18 demonstrou que o uso dessas drogas acima de dois meses de tratamento, não demonstra eficácia superior a placebo em pacientes com enxaqueca. Nos pacientes portadores de cefaléia tipo tensão, os IRSS são menos eficazes que os antidepressivos tricíclicos. Por outro lado, os antidepressivos tricíclicos têm maior incidência de efeitos colaterais, em relação aos IRSS. Esses dados não podem ser extrapolados para tratamentos de longo prazo. É importante frisar que: "Os IRSS podem ser úteis para cefaléia em alguns pacientes. Porém, podem desencadear cefaléia em alguns pacientes e agravar o quadro em outros. Em pacientes com cefaléia de difícil controle e uso desses inibidores de recaptação seletiva de serotonina, devemos ter isto em mente". Fraqueza, hiperreflexia, falta de coordenação, tremores, hemibalismo, ansiedade, taquicardia, sudorese, febre têm ocorrido em alguns pacientes utilizando sumatriptan e IRSS. Esta síndrome é denominada síndrome serotoninérgica. Em um paciente foi observado aumento da freqüência das crises de enxaqueca e diminuição da eficácia do sumatriptan, quando do uso associado com 122 fluoxetina. Por outro lado, existem vários ensaios em que houve utilização simultânea, sem nenhuma alteração clínica. Além disso, têm sido realizados trabalhos associando tricíclicos (amitriptilina) com IRSS (citalopram), sem efeitos colaterais tipo serotoninérgicos e com eficácia terapêutica.19 Desta forma, a utilização associada pode ser feita, pela raridade das complicações, porém sempre com observação atenta do paciente. Inibidores seletivos de recaptação de serotonina e noradrenalina Dentre os novos antidepressivos, a venlafaxina tem sido bastante estudada. Em recente estudo,20 diferença significativa foi observada entre venlafaxina 150 mg e grupo placebo no número de crises de cefaléia. A análise da satisfação dos pacientes mostrou-se favorável à venlafaxina. Cerca de 80% dos pacientes no grupo 75 mg e 88,2% no grupo de 150 mg mostraram benefício bom ou muito bom. Antidepressivos noradrenérgicos e serotoninérgicos específicos A mirtazapina mostrou-se eficiente na prevenção da enxaqueca em baixas doses. Porém em altas doses existiu piora do quadro.21 Carbonato de Lítio A utilização do carbonato de Lítio no tratamento da enxaqueca tem sido preconizada nas assim chamadas enxaquecas cíclicas.22 Nesses casos, crises de enxaqueca quase diárias ocorrem por uma média de seis semanas e então desaparecem por várias semanas. Os ciclos se repetem em torno de cinco vezes ao ano. Em estudo de Medina e Diamont, 22/27 pacientes responderam ao carbonato de Lítio. EXPERIÊNCIA PESSOAL COM O USO DE ANTIDEPRESSIVOS NO TRATAMENTO PROFILÁTICO DA ENXAQUECA Ao revisarmos a literatura, existe evidentemente uma falta de grandes estudos utilizando as várias drogas antidepressivas descritas previamente. A cada trabalho realizado nota-se que os novos antidepressivos podem ter ação como profiláticos da enxaqueca. O grande problema é que a enorme morbidade associada entre os transtornos psicopatológicos e a enxaqueca torna qualquer avaliação bastante prejudicada. Ao tratarmos paciente com enxaqueca, notadamente os casos em que a profilaxia se faz necessária, notamos que a psicoMigrâneas cefaléias, v.8, n.4, p.116-123, out./nov./dez. 2005 O USO DE ANTIDEPRESSIVOS NA PROFILAXIA DA ENXAQUECA (MIGRÂNEA). POR QUE SÓ ALGUNS? patologia é elemento fundamental na transformação de uma enxaqueca episódica para uma enxaqueca freqüente ou crônica. Dessa forma, as drogas que interferem na psicopatologia terão eficácia na enxaqueca. Em nosso ambulatório, pacientes com formas refratárias de enxaqueca são avaliados por psiquiatra com experiência em dor. A opção da melhor droga para o tratamento da psicopatologia nos orienta no antidepressivo que eventualmente usaremos para a enxaqueca. Essa forma pragmática de opção pelo melhor antidepressivo tem mostrado significativa vantagem em relação à escolha de antidepressivos meramente citados como de eficácia no tratamento da enxaqueca. Dessa forma, termino minha exposição com uma nova pergunta: "O uso de antidepressivos na profilaxia da enxaqueca. Por que não todos?" REFERÊNCIAS 1. Gervil M, Ulrich V, Kaprio J, Olesen J, Russel MB. Genetic and environmental factors in migraine. Neurology 1999;53:995-9. 2. Silberstein SD, Freitag FG. Preventive treratment of migraine. Neurology 2003;60(Suppl. 2):S38-S44. 3. Scarani G., Beghi E., Tognoni G. Pharmacological treatment of primary headache: analysis of current practice from a drug utilization study. Headache 1987;27:345-50. 4. Comite AD Hoc da Sociedade Brasileira de Cefaléia - Recomendações para o tratamento profilático da migrânea. Arq Neuropsiquiatr 2002;60(1):159-69. 5. Jales Junior LH, Teixeira MJ. Antidepressivos no tratamento da dor. In: Teixeira MJ (ed.). Dor: Contexto Interdisciplinar. Editora Maio: Curitiba; 2003, p. 613-31. 6. Moreno RA. Antidepressivos. revisão. Rev Bras Med 2000; 3:249-72. 7. Paoli F, Darcourt G, Corsa P. 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