P á g i n a | 265 DISCUTINDO A GERONTOLOGIA PELA PERSPECTIVA DO MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO: UMA POSSIBILIDADE DE ANÁLISE Me Sheila Fabiana de Quadros (UNICENTRO/I) Dra Rita de Cássia da Silva Oliveira (UEPG) Resumo. O presente artigo trata de um estudo teórico acerca da gerontologia no contexto social e educacional, partindo da premissa de que a mesma surgiu de uma necessidade oriunda da existência de um número considerável de idosos na sociedade atual. Dessa forma, o texto foi organizado a partir do estudo de bibliografias acerca da temática gerontologia e gerontologia educacional, focando a educação dos idosos numa perspectiva de educação permanente. O trabalho consta de uma pesquisa parcial do Doutorado em Educação, a qual vem utilizando como enfoque metodológico e epistemológico o materialismo histórico dialético, de Karl Marx. O presente texto trata de uma pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa, justificada pelo fato de que os idosos vem ocupando diferentes espaços no cenário educacional e social, apesar das dificuldades nesse articulação, pois numa sociedade capitalista, se valoriza as relações de produção, materializadas pela relação entre educação e trabalho. Assim, o trabalho aparece como categoria de análise no corpo do texto. Por fim, o texto busca incitar uma análise da relação estabelecida entre a gerontologia e nosso atual contexto social, pois a mesma ainda é recente em termos de pesquisas e atuação profissional, visto que os idosos devem ser vistos como sujeitos ativos, promotores de sua própria existência, de sua intensa participação social e do exercício de seus direitos, sendo um deles a educação, tendo a longevidade como premissa desta realidade. Palavras-chave: Idosos; Gerontologia; Materialismo Histórico Dialético; Educação. Abstract. This article is a theoretical study of gerontology in the social and educational context, on the premise that it arose from a need arising from the existence of a considerable number of elderly in today's society. Thus, the text was organized from the study of bibliographies on the theme gerontology and educational gerontology, focusing on the education of the elderly in a lifelong learning perspective. The work consists of a partial search of the Doctorate in Education, which has been using as a methodological and epistemological approach the dialectical historical materialism, Karl Marx. This paper is a literature review of qualitative approach, justified by the fact that older people has been occupying different spaces in the educational and social scene, despite the difficulties in this joint, because in a capitalist society, appreciates the relations of REVISTA INTERLINGUAGENS Vol. 09 3ª ed 2016 I S S N 2 1 7 8 - 955X P á g i n a | 266 production, embodied by the relationship between education and work. Thus, the work appears as a category of analysis in the text. Finally, search text prompt an analysis of the relationship between gerontology and our present social context, because it is still new in terms of research and professional activities, as the elderly must be seen as active subjects, promoters of their own existence of their intense social participation and the exercise of their rights, one being education, and longevity as a premise of this reality. Keywords: Elderly; Gerontology; Dialectical Materialism History; Education. 1. Introdução A educação é processo, e como tal, preconiza que deve ocorrer a partir da relação dos sujeitos entre si e com a sociedade da qual fazem parte. Assim, pensar sobre a educação como construto humano é mais que meramente transcrever algumas idéias, teorias, desconectadas e isoladas, pois como produto da própria existência humana, se faz nas relações sociais que estabelecemos com os sujeitos com os quais construímos a nossa história. Dessa forma, se a educação é algo que se constrói na materialidade de nossas experiências individuais e coletivas, são produtos do meio, e como tal, deve ser analisada no bojo das produções sociais de cada contexto em sua historicidade. Nesse prisma, o presente texto trata de estudar a temática gerontologia articulada aos fatores sociais que a determinam em nosso meio, propondo uma análise teórica do tema em virtude desta surgir de uma antiga demanda e de uma necessidade emergente. A gerontologia aparece como produto de uma necessidade social, que é o idoso como sujeito social, e como tal, da emergência em se atendê-los em suas reais demandas, tais como a denominada educação permanente, ou ainda, educação ao longo da vida. Assim, pensar a educação gerontológica requer mais que planejamentos para esse segmento etário, mas sim, engloba analisá-la diante do contexto ao qual pertence. Inegavelmente, pertencemos a uma sociedade capitalista, e como tal, enfoca a produtividade como requisito em seu funcionamento e estruturação. Portanto, pensar a educação gerontológica requer analisar a modalidade de ensino a que se refere, que é a atenção aos idosos, que em tese, são improdutivos diante desse modelo de sociedade. REVISTA INTERLINGUAGENS Vol. 09 3ª ed 2016 I S S N 2 1 7 8 - 955X P á g i n a | 267 Num contexto geral, o presente artigo traz como premissa o estudo da gerontologia pelo viés do materialismo histórico dialético, trabalhando seus conceitos de forma a analisá-los num contexto maior, trazendo o sujeito idoso como principal protagonista dessa análise. 2. Conceituando a gerontologia no espaço educacional É certo que o termo gerontologia é algo praticamente “novo” no ambiente educacional, visto que a educação do idoso, ao qual se refere a terminologia é também uma preocupação que surgiu há pouco tempo em nosso contexto social. Como conceito principal, a gerontologia é a ciência que realiza o estudo do processo de envelhecimento humano, objetivando, prioritariamente, atender às necessidades físicas, emocionais e sociais do idoso. Assim, podemos ainda dizer que, nesse contexto, o idoso é um ser social imerso numa dada sociedade num determinado tempo e espaço. Como sujeitos sociais, é oportuno salientar que o idoso é, necessariamente, um sujeito social que possui suas experiências, vivências e que, acima de tudo, se insere num grupo/segmento etário que, diante dos ideais de uma sociedade capitalista, imprime determinados valores que até então não eram percebidos em sua totalidade. Assim, partindo do pressuposto de que vivemos em uma sociedade cercada de ideologias do capital, iniciamos nossa discussão situando o sujeito idoso nesse contexto. Historicamente, o idoso se constitui num segmento etário que não teve muita valorização e atenção, além de que as políticas públicas que existiam, previam questões de seguridade social, direitos vinculados à saúde, dentre outros que se enquadram nas questões previstas na legislação vigente. Porém, sabemos que as necessidades dos idosos não se encerram nesse contexto, mas abarcam as questões que envolvem a qualidade de vida dos mesmos bem como sua integração no meio ao qual fazem parte. Assim, percebemos que as primeiras iniciativas de maior atenção aos idosos se deu por conta das ações de lazer e de saúde, o que inevitavelmente, não dispunha de um planejamento prévio bem como de critérios de organização e de execução dessas ações. Nesse ensejo, surgem, em meados da década de 70, discussões que fomentavam sobre a dedicação ao público idoso, a qual foi posteriormente denominada gerontologia, que como vimos anteriormente, se traduz numa ciência de estudos e de atenção ao REVISTA INTERLINGUAGENS Vol. 09 3ª ed 2016 I S S N 2 1 7 8 - 955X P á g i n a | 268 público idoso, em outras palavras, se traduz numa perspectiva de estudos diante do processo de envelhecimento humano, sendo inevitável a qualquer um, pois desde que nascemos implicitamente estamos num processo de envelhecimento. Posteriormente, percebemos que o termo “gerontologia educacional” foi utilizado pela primeira vez em 1970, na Universidade de Michigan, por David Peterson, e assim, a definiu, especificamente em 1976, como a área responsável pelo estudo e pela prática das tarefas de ensino a respeito, bem como de ações orientadas a pessoas já envelhecidas e em processo de envelhecimento. Ou seja, tratava-se de uma iniciativa em prol da atenção aos idosos, em específico em condições planejadas de ação para com esse público. Dessa forma, a partir de 1980, tiveram maior ênfase as discussões acerca da tentativa de se mostrar a importância em se aplicar o que se conhece sobre a educação e o envelhecimento humano, em razão da melhoria da qualidade de vida dos idosos. Peterson (1980) realizou, por meio de seus estudos, uma espécie de classificação dos conteúdos que deveriam ser enfocados para a denominada educação gerontológica, ou gerontologia educacional, a qual, em tese, trataria das temáticas educação do idoso, educação em geral para a população sobre a velhice e por último a preocupação em se formar e qualificar recursos humanos para atuar junto aos idosos. Nesse contexto, ainda não havia uma definição exata de como e de onde esse processo educacional deveria ocorrer, sendo que, na atualidade, discutimos a respeito da educação permanente, que é a educação ao longo da vida, própria da educação do idoso, como um processo contínuo de formação humana. De acordo com Oliveira (1996) ainda não temos o hábito de perceber os idosos como sujeitos integrantes e integrados ao contexto social, pois ainda permanece a idéia de que, somente os indivíduos que produzem ou irão produzir são considerados sujeitos participativos, e portanto, merecedores de dada atenção e apreço, como, por exemplo, atenção especial no âmbito da educação. Dessa maneira, podemos dizer que, segundo Oliveira (1996) focalizando esse aspecto, temos em mente que a educação é um direito preconizado em lei, e que portanto, deve fazer parte de todas as fases da vida, tornando-se fundamental o desenvolvimento de projetos educacionais, pesquisas e profissionais atuantes nos REVISTA INTERLINGUAGENS Vol. 09 3ª ed 2016 I S S N 2 1 7 8 - 955X P á g i n a | 269 diferentes campos de interesse da gerontologia, capazes de promover e garantir a educação permanente. Em nosso país, o Brasil, o campo de estudo da educação gerontológica está avançando significativamente, principalmente pela oferta de cursos de formação em pós graduação em gerontologia e pela difusão das UATI´s-Universidade Aberta para a terceira idade, que se constitui num importante espaço (lócus) de projetos de pesquisa e de formação de recursos humanos direcionados para os idosos (CACHIONI; NÉRI, 2004). As UATI´s são consideradas um dos maiores espaços de formação em educação permanente, pois ofertam formação acadêmica aos idosos freqüentadores de seus programas, sendo estruturado trabalho pedagógico de diversas maneiras, dependendo do foco de cada universidade. As UATI´s são espaços de formação permanente, de caráter não-formal, que atende ao segmento idoso especificamente. Assim, de uma maneira muito simplista, uma das definições para a educação não formal seria como “toda atividade educacional organizada, sistemática, executada fora do quadro do sistema formal para oferecer tipos selecionados de ensino a determinados subgrupos da população” (La Belle, 1982, p.2 in Ledesma 2014, p.116). Não podemos negar a questão de que a educação do idoso avançou consideravelmente na última década devido ao fato da promulgação do Estatuto do Idoso (Lei 10.741 de 1° de outubro de 2003), o qual implica questões que anteriormente não eram valorizadas. A educação voltada à gerontologia educacional emerge articulada às questões da educação ao longo da vida, visto que a longevidade é questão imprescindível no que tange à formação integral dos sujeitos já envelhecidos. Sendo assim, Kachar (2001) contribui com essa discussão relatando que a abordagem educacional com idosos tem suas peculiaridades, e requer a imersão nesse universo para compreendê-lo e uma prática pedagógica específica. Portanto, deverá considerar as características dos mesmos, como, por exemplo, as condições físicas, as condições psicológicas, bem como as sociais dessa faixa etária. Vale ressaltar que com a criação e expansão das Universidades Abertas para a terceira idade, consegue se visualizar a educação do idoso e a gerontologia educacional, REVISTA INTERLINGUAGENS Vol. 09 3ª ed 2016 I S S N 2 1 7 8 - 955X P á g i n a | 270 atuando diretamente com os idosos. Assim, a educação gerontológica não é apenas um momento isolado, mas um elo a continuidade de atividades voltadas a esse público que envelhece, e tem direito a um processo de envelhecimento saudável, de qualidade. Diante do contexto apresentado, consideramos a importância da educação gerontológica, nos mais diversos aspectos, e da gerontologia educacional como um processo de formação a ser desenvolvido de forma que o idoso evite o isolamento e tenha um envelhecimento ativo, motivando a estruturação de políticas públicas que surjam para melhorar a qualidade de vida dessa população, que vem crescendo consideravelmente e aceleradamente em nossa sociedade. 2.1 Gerontologia e Materialismo Histórico Dialético: uma relação possível Conforme estamos percebendo, a educação gerontológica surge articulada a fatores de ordem social, e assim, a presente pesquisa, ainda em andamento conta com a raiz metodológica e epistemológica pautada no Materialismo Histórico Dialético, o qual se traduz numa teoria e num método de análise reciprocamente, sendo mediado pela dialética. Tomando como premissa o pensamento de Marx (1978) a respeito da materialidade da vida humana, é importante considerarmos as condições em que a educação do idoso se estabeleceu em nosso meio social. Dessa maneira, a dialética que aparece no pensamento de Marx emerge como uma tentativa de superação da dicotomia, da separação entre o sujeito e o objeto, sendo que a dialética surgiu muito antes do pensamento de Marx. Justificamos a escolha por essa raiz epistemológica para análise dessa pesquisa por conta de que a materialidade que envolve a educação do idoso se dá pelo meio social, pela forma com que suas vidas se estruturam no grande movimento social. Assim, pensar a educação gerontológica requer que pensemos e a situemos num determinado contexto social, ou seja, ela se encontra situada num momento histórico. Daí a importância de um caminho epistemológico, e de que esse fundamente o conhecimento para a interpretação da realidade histórica e social que o desafiava, REVISTA INTERLINGUAGENS Vol. 09 3ª ed 2016 I S S N 2 1 7 8 - 955X P á g i n a | 271 superando a ideia de descrição de um contexto real abrindo espaço para a dialética, conferindo-lhe um caráter materialista e histórico. Saviani(1991) ao discutir a passagem e a necessidade do educador passar do senso comum para a consciência filosófica na compreensão de sua prática educativa, aponta o método materialista histórico dialético como instrumento dessa prática, superando o conhecimento da realidade empírica da educação cedendo espaço a uma reflexão teórica, de movimento das abstrações, tomando consciência da historicidade que envolve o processo de construção concreto da educação, pensada, da realidade educacional plenamente compreendida. Segundo Saviani (1991, p.11), Com efeito, a lógica dialética não é outra coisa senão o processo de construção do concreto de pensamento (ela é uma lógica concreta) ao passo que a lógica formal é o processo de construção da forma de pensamento (ela é, assim, uma). Por aí, pode-se compreender o que significa dizer que a lógica dialética supera por inclusão/incorporação a lógica formal (incorporação, isto quer dizer que a lógica formal já não é tal e sim parte integrante da lógica dialética). Com efeito, o acesso ao concreto não se dá sem a mediação do abstrato (mediação da análise como escrevi em outro lugar ou “detour” de que fala Kosik). Assim, aquilo que é chamado lógica formal ganha um significado novo e deixa de ser a lógica para se converter num momento da lógica dialética. A construção do pensamento se daria pois da seguinte forma: parte-se do empírico, passa-se pelo abstrato e chega-se ao concreto. Segundo o autor, a lógica da dialética se traduz num processo de construção da vida material, da historicidade, da relação com o meio social. É oportuno salientar que a gerontologia surgiu nesse prisma, relacionada a uma necessidade social de uma antiga demanda que há tanto tempo foi desvalorizada pelas condições de produção em que o idoso se encontrou durante muitos anos, pela fragilidade com que as políticas públicas trataram a atenção a esse segmento etário, justificado pela ausência de produção diante da sociedade capitalista. Assim, seria inevitável nesse modelo de sociedade que a preocupação com a formação educacional do idoso fosse algo não prioritário, pois os investimentos deveriam ocorrer em outra modalidade de ensino, que pudesse traduzir a relação entre educação e trabalho, extremamente pertinente para a concepção de análise materialista, história e dialética. REVISTA INTERLINGUAGENS Vol. 09 3ª ed 2016 I S S N 2 1 7 8 - 955X P á g i n a | 272 Por um lado, a dialética permite e exige o movimento do pensamento, e junto desta, a materialidade histórica se refere à forma de organização dos homens no âmbito da sociedade por meio da história, em outras palavras, diz respeito às relações sociais construídas pelo homem ao longo de sua existência. De acordo com Nogueira (1990, p. 51) Em verdade, nem Marx nem Engels, pelo fato de não terem produzido um estudo mais analítico abordando especificamente a problemática da educação em seu todo, se referiram à questão, a não ser através de idéias esparsas, espalhadas ao longo de toda sua obra, sem a intenção de organizá-las de modo a constituírem um conjunto coerente e ordenado, em resumo, uma teoria. A citação acima revela a grandeza da obra de Marx e do seu método de análise, pautado na vida material, portanto, jamais poderia traduzir-se numa única teoria educacional, pois a sociedade está em constante movimento, e esse define muito das transformações possíveis e necessárias. Ainda, para o pensamento marxista, a materialidade histórica propõe uma compreensão a partir de uma análise empreendida sobre uma categoria essencial, que é o trabalho. O trabalho em Marx (1978) é categoria central quando estamos analisando algo em educação, pois esta se relaciona estreitamente, e para o autor, não se trata de um conceito que se esgota no sentido literal da palavra, mas sim, surge articulado como categoria central nas relações sociais de produção, tratando-se do conceito filosófico de trabalho, é a forma mais ampla possível de se pensar o trabalho. Em suma, o trabalho é central nas relações dos homens com a natureza e com os outros homens, porque esta é a sua atividade vital. Segundo KOSIK (2002, p. 127) Na base do trabalho, no trabalho e por meio do trabalho o homem criou a si mesmo não apenas como ser pensante, qualitativamente distinto dos outros animais de espécies superiores, mas também como único ser do universo, por nós conhecido, que é capaz de criar a realidade. O homem é parte da natureza e é natureza ele próprio. REVISTA INTERLINGUAGENS Vol. 09 3ª ed 2016 I S S N 2 1 7 8 - 955X P á g i n a | 273 Isto significaria dizer que o caráter de uma espécie é definido pela atividade material que ela produz, e para produzir ou reproduzir a vida, esta atividade vital, essencial nos homens, é o trabalho — a atividade pela qual ele garante sua sobrevivência e por meio da qual a humanidade conseguiu produzir e reproduzir a vida humana (Marx, 1993). No contexto atual, se discute a centralidade da categoria trabalho, sendo que as modificações das relações de trabalho teriam o levado a perder a característica da estruturação das relações sociais, mas mesmo com todas as mudanças no mundo do trabalho, não significaram transformações profundas e emergentes nas próprias relações sociais. Num contexto geral, o trabalho constitui categoria central de análise da materialidade histórica da vida humana, porque é a forma mais simples, mais objetiva de se estruturar um sistema social. Enquanto as circunstâncias em que vive este indivíduo lhe não permitem senão o desenvolvimento unilateral de uma faculdade à custa de todas as outras e lhe não fornecem senão a matéria e o tempo necessários ao desenvolvimento desta única faculdade, este indivíduo só atingirá um desenvolvimento unilateral e mutilado. (MARX; ENGELS, 1978, p. 62.) De acordo com os autores acima, podemos dizer que a educação do idoso não ocorria tampouco era preocupação das políticas de atenção a esta demanda, porque a sua produtividade não se revelava na sociedade capitalista, que almeja focar atenção à produtividade, mas sim, focava nas relações de reprodução meramente capitalista, seria a lógica de que onde não há produção e lucratividade não precisa investir em conhecimento. Assim, na produção e reprodução da vida social, isto é, na criação de si mesmo como ser histórico-social, o homem produz: 1) os bens materiais, o mundo materialmente sensível, cujo fundamento é o trabalho; 2) as relações e as instituições sociais, o complexo das condições sociais; 3) e, sobre a base disto, as idéias, as concepções, as emoções, as qualidades humanas e os sentidos humanos correspondentes (KOSIK, 2002, p. 126). REVISTA INTERLINGUAGENS Vol. 09 3ª ed 2016 I S S N 2 1 7 8 - 955X P á g i n a | 274 Em suma, o que se pretendeu discutir ao longo desse texto é de que a gerontologia surge aliada à emergência de se pensar e estudar o processo de envelhecimento como algo inerente a qualquer e todo ser humano. De forma geral, a gerontologia vem crescendo bem como se transformando paulatinamente numa área especializada do conhecimento e de processos de intervenção que agrega profissionais numa esfera interdisciplinar. Especificamente em relação à educação gerontológica ou gerontologia educacional, estamos percebendo avanços consideráveis na área, visto AA previsão da longevidade bem como ao processo de educação permanente. De acordo com Cachioni e Neri (2004, p.112) “no Brasil, assistimos à construção do subcampo da educação gerontológica, de políticas acadêmico-científicas direcionadas à investigação das questões associadas ao processo de envelhecimento, à velhice e aos idosos, e de políticas acadêmicas voltadas para a formação do profissional que trabalha com o segmento idoso”. Por fim, pensando na gerontologia na perspectiva do materialismo histórico dialético, podemos dizer que os desafios vão desde a compreensão histórica da área de investigação até os desafios educacionais de sua implantação nas universidades, visto que é uma modalidade de ensino diferenciada, que é a educação de idosos, os quais surgiram num contexto de marginalização por conta das condições materiais e sociais de sua existência. O desafio maior está colocado em virtude da heterogeneidade de necessidades, motivações e interesses de investimento na área, bem como no aprimoramento das ações voltadas a este segmento etário, pautando-se no desejo de fazer fluir e se materializar uma educação de qualidade que priorize de fato a formação integral e permanente dos indivíduos, fazendo do idoso agente promotor de aprendizagens e assim, um ator social de sua própria vida. 3. Considerações finais O presente trabalho tratou de abordar a temática da gerontologia educacional num contexto da sociedade capitalista, que demorou longo tempo para assumir REVISTA INTERLINGUAGENS Vol. 09 3ª ed 2016 I S S N 2 1 7 8 - 955X P á g i n a | 275 posicionamento em relação à existência de sujeitos idosos e da necessidade de um processo de educação para os mesmos. Os idosos sempre existiram, o que está sendo mudado gradativamente é a forma com que a sociedade, por meio de seus pares, trata esses indivíduos, no que tange aos seus direitos preconizados em lei, e ainda, da maneira com que os mesmos são vistos e tratados. Dessa forma, o idoso passa de um papel de expectador para um sujeito ativo, promotor de sua existência, participativo, enfim, assume papéis, se promove e promove o meio do qual faz parte. Para essa discussão, foi buscado uma estreita articulação com o método dialético, especificamente o Materialismo Histórico Dialético, que, além de se constituir uma teoria de Karl Marx, é também método de análise. Portanto, partiu-se de uma pesquisa em andamento, buscando elaborar uma análise teórica a partir dos conceitos que envolvem a gerontologia e em específico a gerontologia educacional. Justifica-se o fato desse método por conta de que a temática existe contextualizada a um histórico, que é social, que é relacional, e que, portanto, requer que se considere a gerontologia junto a outros fatores que a compõe. Por fim, em virtude da heterogeneidade de necessidades, motivações e interesses da área do conhecimento, é pertinente que se gerem particularidades, mas é imprescindível que estas somem à totalidade, de necessidades, de anseios e de desafios para que a educação gerontológica ocorra em diferentes espaços, fazendo de seus sujeitos aprendizes os promotores de seu processo de aprendizagem, e assim, da promoção individual e coletiva do idoso na sociedade da qual faz parte. 4. Referências CACHIONI, Meire; NÉRI, Anita Liberalesso. Educação e Gerontologia: Desafios e Oportunidades. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, v. 1, n. 1, p. 99-115, jan./jun. 2004. REVISTA INTERLINGUAGENS Vol. 09 3ª ed 2016 I S S N 2 1 7 8 - 955X P á g i n a | 276 KACHAR, Vitória. A Terceira Idade e o Computador: Interação e Produção no Ambiente Educacional Interdisciplinar. 206f. Tese (Doutorado em Educação) – Pontifícia Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. KOSIK, K. Dialética do concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. KOSIK, Karel. Dialética do concreto. 7 ed. Tradução de Célia Neves e Alderico Toribio. São Paulo: Paz e Terra, 2002. LEDESMA, Maria Rita Kaminski. Organização do trabalho pedagógico na gestão educacional. Guarapuava: Unicentro, 2014 MARX, K. A ideologia alemã. São Paulo: Hucitec, 1979. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich.Crítica da educação e do ensino. Introdução e notas de Roger Dangeville. Lisboa, Portugal: Moraes, 1978. Nogueira, M.A. Educação, saber, produção em Marx e Engels. São Paulo:Cortez, 1990. OLIVEIRA, Paulo de Salles. Universidade aberta e co-educação de gerações. A Terceira Idade, São Paulo, n.12, p. 6-9, 1996. SAVIANI, D. Introdução. In: ____________ Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1986. _____________ Pedagogia histórico crítica: primeiras aproximações. São Paulo: Autores Associados, 1994. SILVA, T.T. (org). Trabalho REVISTA INTERLINGUAGENS Vol. 09 3ª ed 2016 I S S N 2 1 7 8 - 955X