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DISCUTINDO A GERONTOLOGIA PELA PERSPECTIVA DO
MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO: UMA POSSIBILIDADE DE
ANÁLISE
Me Sheila Fabiana de Quadros (UNICENTRO/I)
Dra Rita de Cássia da Silva Oliveira (UEPG)
Resumo. O presente artigo trata de um estudo teórico acerca da gerontologia no
contexto social e educacional, partindo da premissa de que a mesma surgiu de uma
necessidade oriunda da existência de um número considerável de idosos na sociedade
atual. Dessa forma, o texto foi organizado a partir do estudo de bibliografias acerca da
temática gerontologia e gerontologia educacional, focando a educação dos idosos numa
perspectiva de educação permanente. O trabalho consta de uma pesquisa parcial do
Doutorado em Educação, a qual vem utilizando como enfoque metodológico e
epistemológico o materialismo histórico dialético, de Karl Marx. O presente texto trata
de uma pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa, justificada pelo fato de que os
idosos vem ocupando diferentes espaços no cenário educacional e social, apesar das
dificuldades nesse articulação, pois numa sociedade capitalista, se valoriza as relações
de produção, materializadas pela relação entre educação e trabalho. Assim, o trabalho
aparece como categoria de análise no corpo do texto. Por fim, o texto busca incitar uma
análise da relação estabelecida entre a gerontologia e nosso atual contexto social, pois a
mesma ainda é recente em termos de pesquisas e atuação profissional, visto que os
idosos devem ser vistos como sujeitos ativos, promotores de sua própria existência, de
sua intensa participação social e do exercício de seus direitos, sendo um deles a
educação, tendo a longevidade como premissa desta realidade.
Palavras-chave: Idosos; Gerontologia; Materialismo Histórico Dialético; Educação.
Abstract. This article is a theoretical study of gerontology in the social and educational
context, on the premise that it arose from a need arising from the existence of a
considerable number of elderly in today's society. Thus, the text was organized from the
study of bibliographies on the theme gerontology and educational gerontology, focusing
on the education of the elderly in a lifelong learning perspective. The work consists of a
partial search of the Doctorate in Education, which has been using as a methodological
and epistemological approach the dialectical historical materialism, Karl Marx. This
paper is a literature review of qualitative approach, justified by the fact that older people
has been occupying different spaces in the educational and social scene, despite the
difficulties in this joint, because in a capitalist society, appreciates the relations of
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production, embodied by the relationship between education and work. Thus, the work
appears as a category of analysis in the text. Finally, search text prompt an analysis of
the relationship between gerontology and our present social context, because it is still
new in terms of research and professional activities, as the elderly must be seen as
active subjects, promoters of their own existence of their intense social participation and
the exercise of their rights, one being education, and longevity as a premise of this
reality.
Keywords: Elderly; Gerontology; Dialectical Materialism History; Education.
1. Introdução
A educação é processo, e como tal, preconiza que deve ocorrer a partir da relação
dos sujeitos entre si e com a sociedade da qual fazem parte.
Assim, pensar sobre a educação como construto humano é mais que meramente
transcrever algumas idéias, teorias, desconectadas e isoladas, pois como produto da
própria existência humana, se faz nas relações sociais que estabelecemos com os
sujeitos com os quais construímos a nossa história.
Dessa forma, se a educação é algo que se constrói na materialidade de nossas
experiências individuais e coletivas, são produtos do meio, e como tal, deve ser
analisada no bojo das produções sociais de cada contexto em sua historicidade.
Nesse prisma, o presente texto trata de estudar a temática gerontologia articulada
aos fatores sociais que a determinam em nosso meio, propondo uma análise teórica do
tema em virtude desta surgir de uma antiga demanda e de uma necessidade emergente.
A gerontologia aparece como produto de uma necessidade social, que é o idoso
como sujeito social, e como tal, da emergência em se atendê-los em suas reais
demandas, tais como a denominada educação permanente, ou ainda, educação ao longo
da vida. Assim, pensar a educação gerontológica requer mais que planejamentos para
esse segmento etário, mas sim, engloba analisá-la diante do contexto ao qual pertence.
Inegavelmente, pertencemos a uma sociedade capitalista, e como tal, enfoca a
produtividade como requisito em seu funcionamento e estruturação. Portanto, pensar a
educação gerontológica requer analisar a modalidade de ensino a que se refere, que é a
atenção aos idosos, que em tese, são improdutivos diante desse modelo de sociedade.
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Num contexto geral, o presente artigo traz como premissa o estudo da gerontologia
pelo viés do materialismo histórico dialético, trabalhando seus conceitos de forma a
analisá-los num contexto maior, trazendo o sujeito idoso como principal protagonista
dessa análise.
2. Conceituando a gerontologia no espaço educacional
É certo que o termo gerontologia é algo praticamente “novo” no ambiente
educacional, visto que a educação do idoso, ao qual se refere a terminologia é também
uma preocupação que surgiu há pouco tempo em nosso contexto social.
Como conceito principal, a gerontologia é a ciência que realiza o estudo do processo
de envelhecimento humano, objetivando, prioritariamente, atender às necessidades
físicas, emocionais e sociais do idoso. Assim, podemos ainda dizer que, nesse contexto,
o idoso é um ser social imerso numa dada sociedade num determinado tempo e espaço.
Como sujeitos sociais, é oportuno salientar que o idoso é, necessariamente, um
sujeito social que possui suas experiências, vivências e que, acima de tudo, se insere
num grupo/segmento etário que, diante dos ideais de uma sociedade capitalista, imprime
determinados valores que até então não eram percebidos em sua totalidade.
Assim, partindo do pressuposto de que vivemos em uma sociedade cercada de
ideologias do capital, iniciamos nossa discussão situando o sujeito idoso nesse contexto.
Historicamente, o idoso se constitui num segmento etário que não teve muita
valorização e atenção, além de que as políticas públicas que existiam, previam questões
de seguridade social, direitos vinculados à saúde, dentre outros que se enquadram nas
questões previstas na legislação vigente. Porém, sabemos que as necessidades dos
idosos não se encerram nesse contexto, mas abarcam as questões que envolvem a
qualidade de vida dos mesmos bem como sua integração no meio ao qual fazem parte.
Assim, percebemos que as primeiras iniciativas de maior atenção aos idosos se deu
por conta das ações de lazer e de saúde, o que inevitavelmente, não dispunha de um
planejamento prévio bem como de critérios de organização e de execução dessas ações.
Nesse ensejo, surgem, em meados da década de 70, discussões que fomentavam
sobre a dedicação ao público idoso, a qual foi posteriormente denominada gerontologia,
que como vimos anteriormente, se traduz numa ciência de estudos e de atenção ao
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público idoso, em outras palavras, se traduz numa perspectiva de estudos diante do
processo de envelhecimento humano, sendo inevitável a qualquer um, pois desde que
nascemos implicitamente estamos num processo de envelhecimento.
Posteriormente, percebemos que o termo “gerontologia educacional” foi utilizado
pela primeira vez em 1970, na Universidade de Michigan, por David Peterson, e assim,
a definiu, especificamente em 1976, como a área responsável pelo estudo e pela prática
das tarefas de ensino a respeito, bem como de ações orientadas a pessoas já
envelhecidas e em processo de envelhecimento. Ou seja, tratava-se de uma iniciativa
em prol da atenção aos idosos, em específico em condições planejadas de ação para com
esse público.
Dessa forma, a partir de 1980, tiveram maior ênfase as discussões acerca da
tentativa de se mostrar a importância em se aplicar o que se conhece sobre a educação e
o envelhecimento humano, em razão da melhoria da qualidade de vida dos idosos.
Peterson (1980) realizou, por meio de seus estudos, uma espécie de classificação dos
conteúdos que deveriam ser enfocados para a denominada educação gerontológica, ou
gerontologia educacional, a qual, em tese, trataria das temáticas educação do idoso,
educação em geral para a população sobre a velhice e por último a preocupação em se
formar e qualificar recursos humanos para atuar junto aos idosos.
Nesse contexto, ainda não havia uma definição exata de como e de onde esse
processo educacional deveria ocorrer, sendo que, na atualidade, discutimos a respeito da
educação permanente, que é a educação ao longo da vida, própria da educação do idoso,
como um processo contínuo de formação humana.
De acordo com Oliveira (1996) ainda não temos o hábito de perceber os idosos
como sujeitos integrantes e integrados ao contexto social, pois ainda permanece a idéia
de que, somente os indivíduos que produzem ou irão produzir são considerados sujeitos
participativos, e portanto, merecedores de dada atenção e apreço, como, por exemplo,
atenção especial no âmbito da educação.
Dessa maneira, podemos dizer que, segundo Oliveira (1996) focalizando esse
aspecto, temos em mente que a educação é um direito preconizado em lei, e que
portanto, deve fazer parte de todas as fases da vida, tornando-se fundamental o
desenvolvimento de projetos educacionais, pesquisas e profissionais atuantes nos
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diferentes campos de interesse da gerontologia, capazes de promover e garantir a
educação permanente.
Em nosso país, o Brasil, o campo de estudo da educação gerontológica está
avançando significativamente, principalmente pela oferta de cursos de formação em pós
graduação em gerontologia e pela difusão das UATI´s-Universidade Aberta para a
terceira idade, que se constitui num importante espaço (lócus) de projetos de pesquisa e
de formação de recursos humanos direcionados para os idosos (CACHIONI; NÉRI,
2004).
As UATI´s são consideradas um dos maiores espaços de formação em educação
permanente, pois ofertam formação acadêmica aos idosos freqüentadores de seus
programas, sendo estruturado trabalho pedagógico de diversas maneiras, dependendo do
foco de cada universidade.
As UATI´s são espaços de formação permanente, de caráter não-formal, que
atende ao segmento idoso especificamente. Assim, de uma maneira muito simplista,
uma das definições para a educação não formal seria como “toda atividade educacional
organizada, sistemática, executada fora do quadro do sistema formal para oferecer tipos
selecionados de ensino a determinados subgrupos da população” (La Belle, 1982, p.2 in
Ledesma 2014, p.116).
Não podemos negar a questão de que a educação do idoso avançou
consideravelmente na última década devido ao fato da promulgação do Estatuto do
Idoso (Lei 10.741 de 1° de outubro de 2003), o qual implica questões que anteriormente
não eram valorizadas.
A educação voltada à gerontologia educacional emerge articulada às questões da
educação ao longo da vida, visto que a longevidade é questão imprescindível no que
tange à formação integral dos sujeitos já envelhecidos.
Sendo assim, Kachar (2001) contribui com essa discussão relatando que a
abordagem educacional com idosos tem suas peculiaridades, e requer a imersão nesse
universo para compreendê-lo e uma prática pedagógica específica. Portanto, deverá
considerar as características dos mesmos, como, por exemplo, as condições físicas, as
condições psicológicas, bem como as sociais dessa faixa etária.
Vale ressaltar que com a criação e expansão das Universidades Abertas para a
terceira idade, consegue se visualizar a educação do idoso e a gerontologia educacional,
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atuando diretamente com os idosos. Assim, a educação gerontológica não é apenas um
momento isolado, mas um elo a continuidade de atividades voltadas a esse público que
envelhece, e tem direito a um processo de envelhecimento saudável, de qualidade.
Diante do contexto apresentado, consideramos a importância da educação
gerontológica, nos mais diversos aspectos, e da gerontologia educacional como um
processo de formação a ser desenvolvido de forma que o idoso evite o isolamento e
tenha um envelhecimento ativo, motivando a estruturação de políticas públicas que
surjam para melhorar a qualidade de vida dessa população, que vem crescendo
consideravelmente e aceleradamente em nossa sociedade.
2.1 Gerontologia e Materialismo Histórico Dialético: uma relação possível
Conforme estamos percebendo, a educação gerontológica surge articulada a fatores
de ordem social, e assim, a presente pesquisa, ainda em andamento conta com a raiz
metodológica e epistemológica pautada no Materialismo Histórico Dialético, o qual se
traduz numa teoria e num método de análise reciprocamente, sendo mediado pela
dialética.
Tomando como premissa o pensamento de Marx (1978) a respeito da materialidade
da vida humana, é importante considerarmos as condições em que a educação do idoso
se estabeleceu em nosso meio social.
Dessa maneira, a dialética que aparece no pensamento de Marx emerge como uma
tentativa de superação da dicotomia, da separação entre o sujeito e o objeto, sendo que a
dialética surgiu muito antes do pensamento de Marx.
Justificamos a escolha por essa raiz epistemológica para análise dessa pesquisa por
conta de que a materialidade que envolve a educação do idoso se dá pelo meio social,
pela forma com que suas vidas se estruturam no grande movimento social. Assim,
pensar a educação gerontológica requer que pensemos e a situemos num determinado
contexto social, ou seja, ela se encontra situada num momento histórico.
Daí a importância de um caminho epistemológico, e de que esse fundamente o
conhecimento para a interpretação da realidade histórica e social que o desafiava,
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superando a ideia de descrição de um contexto real abrindo espaço para a dialética,
conferindo-lhe um caráter materialista e histórico.
Saviani(1991) ao discutir a passagem e a necessidade do educador passar do senso
comum para a consciência filosófica na compreensão de sua prática educativa, aponta o
método materialista histórico dialético como instrumento dessa prática, superando o
conhecimento da realidade empírica da educação cedendo espaço a uma reflexão
teórica, de movimento das abstrações, tomando consciência da historicidade que
envolve o processo de construção concreto da educação, pensada, da realidade
educacional plenamente compreendida.
Segundo Saviani (1991, p.11),
Com efeito, a lógica dialética não é outra coisa senão o processo de
construção do concreto de pensamento (ela é uma lógica concreta) ao
passo que a lógica formal é o processo de construção da forma de
pensamento (ela é, assim, uma). Por aí, pode-se compreender o que
significa dizer que a lógica dialética supera por inclusão/incorporação
a lógica formal (incorporação, isto quer dizer que a lógica formal já
não é tal e sim parte integrante da lógica dialética). Com efeito, o
acesso ao concreto não se dá sem a mediação do abstrato (mediação
da análise como escrevi em outro lugar ou “detour” de que fala
Kosik). Assim, aquilo que é chamado lógica formal ganha um
significado novo e deixa de ser a lógica para se converter num
momento da lógica dialética. A construção do pensamento se daria
pois da seguinte forma: parte-se do empírico, passa-se pelo abstrato e
chega-se ao concreto.
Segundo o autor, a lógica da dialética se traduz num processo de construção da vida
material, da historicidade, da relação com o meio social.
É oportuno salientar que a gerontologia surgiu nesse prisma, relacionada a uma
necessidade social de uma antiga demanda que há tanto tempo foi desvalorizada pelas
condições de produção em que o idoso se encontrou durante muitos anos, pela
fragilidade com que as políticas públicas trataram a atenção a esse segmento etário,
justificado pela ausência de produção diante da sociedade capitalista. Assim, seria
inevitável nesse modelo de sociedade que a preocupação com a formação educacional
do idoso fosse algo não prioritário, pois os investimentos deveriam ocorrer em outra
modalidade de ensino, que pudesse traduzir a relação entre educação e trabalho,
extremamente pertinente para a concepção de análise materialista, história e dialética.
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Por um lado, a dialética permite e exige o movimento do pensamento, e junto desta,
a materialidade histórica se refere à forma de organização dos homens no âmbito da
sociedade por meio da história, em outras palavras, diz respeito às relações sociais
construídas pelo homem ao longo de sua existência.
De acordo com Nogueira (1990, p. 51)
Em verdade, nem Marx nem Engels, pelo fato de não terem produzido
um estudo mais analítico abordando especificamente a problemática
da educação em seu todo, se referiram à questão, a não ser através de
idéias esparsas, espalhadas ao longo de toda sua obra, sem a intenção
de organizá-las de modo a constituírem um conjunto coerente e
ordenado, em resumo, uma teoria.
A citação acima revela a grandeza da obra de Marx e do seu método de análise,
pautado na vida material, portanto, jamais poderia traduzir-se numa única teoria
educacional, pois a sociedade está em constante movimento, e esse define muito das
transformações possíveis e necessárias.
Ainda, para o pensamento marxista, a materialidade histórica propõe uma
compreensão a partir de uma análise empreendida sobre uma categoria essencial, que é
o trabalho.
O trabalho em Marx (1978) é categoria central quando estamos analisando algo em
educação, pois esta se relaciona estreitamente, e para o autor, não se trata de um
conceito que se esgota no sentido literal da palavra, mas sim, surge articulado como
categoria central nas relações sociais de produção, tratando-se do conceito filosófico de
trabalho, é a forma mais ampla possível de se pensar o trabalho.
Em suma, o trabalho é central nas relações dos homens com a natureza e com os
outros homens, porque esta é a sua atividade vital.
Segundo KOSIK (2002, p. 127)
Na base do trabalho, no trabalho e por meio do trabalho o homem
criou a si mesmo não apenas como ser pensante, qualitativamente
distinto dos outros animais de espécies superiores, mas também como
único ser do universo, por nós conhecido, que é capaz de criar a
realidade. O homem é parte da natureza e é natureza ele próprio.
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Isto significaria dizer que o caráter de uma espécie é definido pela atividade material
que ela produz, e para produzir ou reproduzir a vida, esta atividade vital, essencial nos
homens, é o trabalho — a atividade pela qual ele garante sua sobrevivência e por meio
da qual a humanidade conseguiu produzir e reproduzir a vida humana (Marx, 1993).
No contexto atual, se discute a centralidade da categoria trabalho, sendo que as
modificações das relações de trabalho teriam o levado a perder a característica da
estruturação das relações sociais, mas mesmo com todas as mudanças no mundo do
trabalho, não significaram transformações profundas e emergentes nas próprias relações
sociais.
Num contexto geral, o trabalho constitui categoria central de análise da
materialidade histórica da vida humana, porque é a forma mais simples, mais objetiva
de se estruturar um sistema social.
Enquanto as circunstâncias em que vive este indivíduo lhe não
permitem senão o desenvolvimento unilateral de uma faculdade à custa
de todas as outras e lhe não fornecem senão a matéria e o tempo
necessários ao desenvolvimento desta única faculdade, este indivíduo só
atingirá um desenvolvimento unilateral e mutilado. (MARX; ENGELS,
1978, p. 62.)
De acordo com os autores acima, podemos dizer que a educação do idoso não
ocorria tampouco era preocupação das políticas de atenção a esta demanda, porque a sua
produtividade não se revelava na sociedade capitalista, que almeja focar atenção à
produtividade, mas sim, focava nas relações de reprodução meramente capitalista, seria
a lógica de que onde não há produção e lucratividade não precisa investir em
conhecimento.
Assim, na produção e reprodução da vida social, isto é, na criação de si mesmo
como ser histórico-social, o homem produz:
1) os bens materiais, o mundo materialmente sensível, cujo fundamento
é o trabalho;
2) as relações e as instituições sociais, o complexo das condições
sociais;
3) e, sobre a base disto, as idéias, as concepções, as emoções, as
qualidades humanas e os sentidos humanos correspondentes (KOSIK,
2002, p. 126).
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Em suma, o que se pretendeu discutir ao longo desse texto é de que a gerontologia
surge aliada à emergência de se pensar e estudar o processo de envelhecimento como
algo inerente a qualquer e todo ser humano. De forma geral, a gerontologia vem
crescendo bem como se transformando paulatinamente numa área especializada do
conhecimento e de processos de intervenção que agrega profissionais numa esfera
interdisciplinar.
Especificamente em relação à educação gerontológica ou gerontologia educacional,
estamos percebendo avanços consideráveis na área, visto AA previsão da longevidade
bem como ao processo de educação permanente.
De acordo com Cachioni e Neri (2004, p.112) “no Brasil, assistimos à construção do
subcampo da educação gerontológica, de políticas acadêmico-científicas direcionadas à
investigação das questões associadas ao processo de envelhecimento, à velhice e aos
idosos, e de políticas acadêmicas voltadas para a formação do profissional que trabalha
com o segmento idoso”.
Por fim, pensando na gerontologia na perspectiva do materialismo histórico
dialético, podemos dizer que os desafios vão desde a compreensão histórica da área de
investigação até os desafios educacionais de sua implantação nas universidades, visto
que é uma modalidade de ensino diferenciada, que é a educação de idosos, os quais
surgiram num contexto de marginalização por conta das condições materiais e sociais de
sua existência.
O desafio maior está colocado em virtude da heterogeneidade de necessidades,
motivações e interesses de investimento na área, bem como no aprimoramento das
ações voltadas a este segmento etário, pautando-se no desejo de fazer fluir e se
materializar uma educação de qualidade que priorize de fato a formação integral e
permanente dos indivíduos, fazendo do idoso agente promotor de aprendizagens e
assim, um ator social de sua própria vida.
3. Considerações finais
O presente trabalho tratou de abordar a temática da gerontologia educacional num
contexto da sociedade capitalista, que demorou longo tempo para assumir
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posicionamento em relação à existência de sujeitos idosos e da necessidade de um
processo de educação para os mesmos.
Os idosos sempre existiram, o que está sendo mudado gradativamente é a forma
com que a sociedade, por meio de seus pares, trata esses indivíduos, no que tange aos
seus direitos preconizados em lei, e ainda, da maneira com que os mesmos são vistos e
tratados.
Dessa forma, o idoso passa de um papel de expectador para um sujeito ativo,
promotor de sua existência, participativo, enfim, assume papéis, se promove e promove
o meio do qual faz parte.
Para essa discussão, foi buscado uma estreita articulação com o método dialético,
especificamente o Materialismo Histórico Dialético, que, além de se constituir uma
teoria de Karl Marx, é também método de análise. Portanto, partiu-se de uma pesquisa
em andamento, buscando elaborar uma análise teórica a partir dos conceitos que
envolvem a gerontologia e em específico a gerontologia educacional.
Justifica-se o fato desse método por conta de que a temática existe contextualizada a
um histórico, que é social, que é relacional, e que, portanto, requer que se considere a
gerontologia junto a outros fatores que a compõe.
Por fim, em virtude da heterogeneidade de necessidades, motivações e interesses da
área do conhecimento, é pertinente que se gerem particularidades, mas é imprescindível
que estas somem à totalidade, de necessidades, de anseios e de desafios para que a
educação gerontológica ocorra em diferentes espaços, fazendo de seus sujeitos
aprendizes os promotores de seu processo de aprendizagem, e assim, da promoção
individual e coletiva do idoso na sociedade da qual faz parte.
4. Referências
CACHIONI, Meire; NÉRI, Anita Liberalesso. Educação e Gerontologia: Desafios e
Oportunidades. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo
Fundo, v. 1, n. 1, p. 99-115, jan./jun. 2004.
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KOSIK, K. Dialética do concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
KOSIK, Karel. Dialética do concreto. 7 ed. Tradução de Célia Neves e Alderico
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MARX, K. A ideologia alemã. São Paulo: Hucitec, 1979.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich.Crítica da educação e do ensino. Introdução e notas
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Nogueira, M.A. Educação, saber, produção em Marx e Engels. São Paulo:Cortez,
1990.
OLIVEIRA, Paulo de Salles. Universidade aberta e co-educação de gerações. A
Terceira Idade, São Paulo, n.12, p. 6-9, 1996.
SAVIANI, D. Introdução. In: ____________ Educação: do senso comum à
consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1986.
_____________ Pedagogia histórico crítica: primeiras aproximações. São Paulo:
Autores Associados, 1994. SILVA, T.T. (org). Trabalho
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