114 CRUZ, A. C. dos. et al., v. 05, nº 2, p. 114-127, JUL-DEZ, 2013. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) A CRISE NO SETOR SUCROENERGÉTICO E AS EMPRESAS DO MUNICÍPIO DE SERTÃOZINHO-SP CRUZ, Alvany Cordeiro dos Santos1 INÁCIO, Raquel Aparecida Carvalho2 MORAES, Rafael3 RESUMO O presente artigo tem como objetivo apresentar de forma exploratória as consequência da crise econômica de 2008 na indústria sucroalcooleira, em especifico no município de Sertãozinho no estado de São Paulo. Para tanto foram analisados artigos acadêmicos, entrevistas e reportagens jornalísticas produzidos entre os anos de 2008 e 2012. Com base nos documentos estudados foi possível concluir que um misto de fatores externos e internos públicos e privados contribuíram para o atual quadro de crise. Sendo assim, apenas uma saída compartilhada entre empresariado e setor público que leve ao aumento da produtividade, a novos investimentos e a diversificação podem solucionar o problema. Este estudo foi realizado a partir da abordagem qualitativa de caráter exploratório, pesquisa bibliografia e análise de conteúdo de publicações sobre a respeito do tema. Palavra-Chave: Crise. Economia. Indústria. Sertãozinho. Sucroenergético. ABSTRACT This paper aims to present an exploratory manner the result of the 2008 economic crisis in the sugar industry in the municipality of specific Sertãozinho in the state of São Paulo. Thereunto, academic articles, interviews and news reports produced between 2008 and 2012 were analyzed. Based on the documents studied was concluded that a mix of public and private, external and internal factors contributed to the current crisis. Thus, only one shared action among entrepreneurs and the public sector leading to increased productivity, new investment and diversification can solve 1 Graduanda em Administração pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Nossa Senhora Aparecida – UNIESP Sertãozinho-SP. 2 Graduanda em Administração pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Nossa Senhora Aparecida – UNIESP Sertãozinho-SP. 3 Doutorando em Desenvolvimento Econômico pela UNICAMP, Mestre e Graduado em Economia e Docente do Curso de Administração da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Nossa Senhora Aparecida – UNIESP Sertãozinho-SP. E-mail: [email protected] http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista/ 115 CRUZ, A. C. dos. et al., v. 05, nº 2, p. 114-127, JUL-DEZ, 2013. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) the problem. This study was conducted from a qualitative exploratory approach, literature search and content analysis of publications on the subject. Keywords: Crisis. Economy. Industry. Sertaozinho. Sugarcane. INTRODUÇÃO Os anos de 2005 a 2006 foram extremamente favoráveis ao setor sucroenergético. Contribuíram para este cenário não apenas a difusão do etanol como energia renovável e ambientalmente sustável, como o forte apoio governamental ao setor. O resultado de tal quadro foi a abertura de dezenas de novas unidades produtoras de etanol e açúcar, dinamizando todo o setor em seu entorno, com grande destaque para as indústrias de bens de capital. O município de Sertãozinho, localizado no interior do estado de São Paulo, foi positivamente atingido por este momento, tendo sua população assistido a expressiva melhoria de todos os seus indicadores econômicos. Tal fato espelha a grande participação das indústrias do município na produção de máquinas e equipamentos para usinas no Brasil e no exterior. O que foi positivo durante o período citado, tornou-se o principal problema do município nos anos mais recentes. A forte dependência da economia local quanto a indústria da cana, levou a que Sertãozinho fosse diretamente afetada pela crise que atingiu o setor, após 2008. Neste artigo, nosso objetivo consiste em apresentar brevemente os contornos da crise do setor sucroenergético, iniciada em 2008, bem como suas consequências para as empresas do município de Sertãozinho-SP. Para tanto, o estudo foi realizado a partir da abordagem qualitativa de caráter exploratório, pesquisa bibliografia e análise de conteúdo de publicações sobre a respeito do tema. De forma a concretizar nosso objetivo, o trabalho foi divido em duas seções, além desta introdução e das considerações finais. A CRISE INTERNACIONAL E A INDÚSTRIA NO BRASIL Após pelo menos três anos de forte dinamismo, a economia brasileira está em constante oscilação desde a crise de 2008, o que tem trazido incertezas quanto ao http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista/ 116 CRUZ, A. C. dos. et al., v. 05, nº 2, p. 114-127, JUL-DEZ, 2013. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) andamento do mercado e a queda nos investimentos, principalmente por parte da indústria (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2012). O setor industrial brasileiro está em um momento preocupante, pois não vem apresentando perspectivas de ampliação da produção e ainda dá indícios de uma provável baixa expansão ou até estagnação. Essa tendência do mercado influencia diretamente na estimativa para o emprego industrial, com uma esperada redução na oferta de vagas, tendo, portanto expectativa de melhora apenas para os próximos anos. Na figura 1, que segue, ilustra a situação da produção no auge da crise (outubro a dezembro de 2008) Figura 1: Gráfico com a Variação da Produção Industrial Brasileira Fonte: G1 (2013). Diante da referida crise, a indústria foi pega de surpresa, principalmente devido à volatilidade do câmbio e à queda nas exportações. Somaram-se a este quadro o grande volume de importados que ingressaram no mercado brasileiro, vindos especialmente da China. Dificuldades enfrentadas com os juros elevados e a carga tributária alta, também eram apontados como entraves aexpansão da economia industrial (VALOR ECONÔMICO, 2011). Frente a essa instabilidade econômica e temendo uma complicação influenciada também pela crise fiscal na Europa, o governo lançou mão de políticas http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista/ 117 CRUZ, A. C. dos. et al., v. 05, nº 2, p. 114-127, JUL-DEZ, 2013. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) de incentivo à demanda para aquecer a economia nacional e consequentemente aumentar o investimento nas indústrias de transformação. O resultado foi uma recuperação rápida do consumo, mas não dos investimentos. O problema, considera-se, está na falta de medidas complementares para melhorar a competitividade da indústria nacional e as condições para o investimento, pois a indústria de transformação nacional vem apresentando um desempenho pouco satisfatório e tem cedido espaço aos produtos importados (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2012). Uma das ações esperadas do governo com relação a essa evolução, eram medidas de estímuloà produção e aos investimentos, inclusive com o compromisso de adquirir mercadorias de fornecedores brasileiros em pelo menos 25% das compras governamentais (VALOR ECONÔMICO, 2011). A construção civil é uma das poucas exceções no quadro de desaceleração generalizada, pois contribui de forma positiva no segmento, com um aumento significativo no setor, ficando atrás apenas da produção e distribuição de energia, gás e água. O setor segue em alta e com estabilidade devido ao crescimento nominal do crédito direcionado, com programas do governo como Minha Casa, Minha Vida, além das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e das obras, principalmente as de demanda esportiva, como estádios, e obras de transporte urbano. Sendo de grande ajuda para minimizar a queda dos investimentos, já que corresponde a uma boa parte da economia nacional e também ajuda a manter o nível de emprego no país (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2012). Se por um lado o incentivo da demanda interna pode auxiliar na retomada do crescimento, por outro, o temor do governo em incentivá-la excessivamente, está no risco da retomada da inflação. Neste caso, é importante destacar que a estimativa de alta da inflação se dá principalmente pela variação dos preços dos alimentos, dos serviços e itens administrados pelo governo. Sendo assim, os preços industriais não representam uma influência tão direta ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), já que a alta nos preços foi menor que a dos demais grupos que compõem o índice. A perspectiva para os próximos anos é de maiores gastos públicos nas medidas e ações que visam estimular a retomada da expansão do Produto Interno Bruto (PIB) (VALOR ECONÔMICO, 2011). http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista/ 118 CRUZ, A. C. dos. et al., v. 05, nº 2, p. 114-127, JUL-DEZ, 2013. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) Medidas como a capitalização de recursos para a Caixa Econômica Federal e o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que visam dar maior autonomia para essas instituições financeiras, favorecendo a liberação de créditos e financiamentos para consequentemente estimular o investimento, juntamente com medidas fiscais, como a unificação das alíquotas para minimizar a guerra fiscal entre os Estados e diminuição das alíquotas de alguns impostos como o IPI, IOF entre outros, foram tomadas para alavancar a economia, dando maior estabilidade e aumentando as chances de obter um crescimento econômico para o país (BRASIL ECONÔMICO, 2011). O SETOR SUCROENERGÉTICO EM SERTÃOZINHO DIANTE DA CRISE. O município de Sertãozinho está localizado no interior do estado de São Paulo, faz parte de uma região que se caracteriza como um dos principais polos produtores de cana-de-açúcar do país e do mundo. Nos últimos anos, no entanto, diante da crise vivida pelo setor, a região passa por dificuldades.A crise que se iniciou em 2008, atingiu o setor ao mesmo tempo em que os canaviais da região têm enfrentado uma expressiva queda na produtividade. O ano 2011 foi muito difícil para o setor, sendo considerado como um dos piores em 24 anos. A UNICA (União das indústrias de cana-de-açúcar) relatou que a safra em 2011/2012 chegou a ter uma redução assustadora de 18% em relação à média histórica (FOLHA SP, 2011). Pode-se visualizar na Figura 2, que segue a oscilação na produção de cana de açúcar no Brasil entre 2004 e 2013. http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista/ 119 CRUZ, A. C. dos. et al., v. 05, nº 2, p. 114-127, JUL-DEZ, 2013. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) Brasil 700.000 602.193 620.409 569.216 600.000 559.215 588.478 495.723 500.000 427.658 400.000 385.199 385.129 300.000 200.000 100.000 0 2004/2005 2005/2006 2006/2007 2007/2008 2008/2009 2009/2010 2010/2011 2011/2012 2012/2013 Figura 2: Gráfico da Produção de cana de açúcar no Brasil (em mil toneladas) Fonte: ÚNICADATA (2013) Pesquisadores apontam que os maiores responsáveis pelo baixo rendimento são as condições climáticas, a renovação inadequada dos canaviais e a falta de investimento nas lavouras, fatores determinantes da crise que o setor enfrenta. Essa falta de estruturação reduziu a competitividade do setor no país (FOLHA SP, 2011). Ainda o mesmo autor complementa que diante deste cenário, a qualidade da cana-de-açúcar tem sido afetada, reduzindo a produtividade por hectare. Com um volume menor da cana, em média 488 milhões de toneladas, a produção de etanol sofreu um déficit no abastecimento o que estimulou o consumidor a optar pela gasolina. Além disto, indústrias do setor sofrem com a queda nas vendas. A falta de investimento nas usinas desde 2008 tem gerado prejuízo, e o pior é que não há sinais de reversão deste cenário em curto prazo. Segundo Sérgio Leme, as usinas estão focadas no investimento dos canaviais e não na construção de novas indústrias. A capacidade industrial para moer a cana está entre 620 e 650 milhões por safra, no entanto, foram produzidas apenas 490 milhões de toneladas. O que na verdade está em falta é a cana (matéria-prima) e não as usinas, por isso se faz necessário o investimento nos canaviais (BATISTA, 2011). http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista/ 120 CRUZ, A. C. dos. et al., v. 05, nº 2, p. 114-127, JUL-DEZ, 2013. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) Diante deste quadro, as empresas da cidade passam por momento de contenção de custos, em face da queda nas vendas e do grande número de falências. Com isto o desemprego se eleva comprometendo a economia da cidade. Os fatores indicam que é preciso ser feito algo para modificar esse cenário e retornar ao nível alto de produção. O setor sucroalcooleiro vem enfrentando diversos problemas desde 2008, que o afetou não apenas em curto prazo, mas comprometeu a produção para os próximos anos. Como vemos, diversos fatores influenciaram nessa queda de produção, mas deve-se destacar que o entusiasmo com os bons resultados atingidos nos anos anteriores, levou o setor a um “comodismo” quando os investimentos ficaram em segundo plano,o que aliado a problemas climáticos agravaram ainda mais os efeitos da crise. Toda essa oscilação no setor afeta diretamente os canaviais, que sentiram essa pressão e não se mostraram capazes de atender a expectativa de alta produtividade que vinha oferecendo nos últimos anos. Para se recuperar desse baque e voltar a produzir a “plenos vapores” os canaviais precisam de pelo menos mais cinco anos, que somados aos cinco anos de baixa produtividade e instabilidade do setor, somam dez anos de convivência com os efeitos colaterais da crise. Um dos principais efeitos da crise foi sentido no caixa de muitas usinas do país, que viram o volume da produção cair, muitas vezes paralisando a moagem. O custo dessa baixa produção se elevou, e para manter a competitividade do etanol, muitas usinas se endividaram para se manterem na ativa. O maior concorrente do etanol, a gasolina, vem mantendo o seu preço ao longo dos anos, o que segundo as usinas tem obrigado o setor a reduzir sua rentabilidade, pois a elevação dos custos não podem ser transferidas para os preços sob o risco de comprometer sua competitividade (POPOV, 2012). Primeiramente, se faz necessário problematizar a própria concepção causal acerca de que o que possibilitou o novo ciclo de consumo do etanol tenha sido a invenção dos motores flexfuel, que permitem que o usuário escolha abastecer com gasolina ou etanol, conforme o que for economicamente mais viável. Vale dizer que, dado o menor rendimento do segundo frente ao primeiro combustível, só fica mais vantajoso consumir o etanol quando ele for menos de 70% o preço da gasolina (PITTA; MENDONÇA, 2010, p. 6). http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista/ 121 CRUZ, A. C. dos. et al., v. 05, nº 2, p. 114-127, JUL-DEZ, 2013. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) Uma importante e eficaz ferramenta utilizada pelo governo para comandar e equilibrar a disputa entre o etanol e a gasolina é a tributação diferenciada entre esses combustíveis, até 2007 era cobrada a CIDE. Até 2007, eram recolhidos R$0,28 por litro de gasolina, referentes à CIDE, a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, um imposto regulatório. A partir de 2007, o governo passou a utilizar esse tributo para impedir que aumentos nos preços da gasolina e do diesel chegassem ao consumidor. Aos poucos, a CIDE foi sendo removida ao mesmo tempo em que aumentos nos preços dos combustíveis fósseis eram autorizados para a Petrobras na mesma proporção, evitando impactos nos preços na bomba. Esse procedimento foi mantido até 2012, quando a CIDE sobre a gasolina foi zerada (UNICA, 2013). Foi então que entre 2007 e 2012 houve a desoneração total desse imposto que incidia somente sob a gasolina, os tributos incidentes no etanol não se alteraram o que afetou a sua competitividade. O congelamento do preço da gasolina, por imposição do governo a partir de 2005 foi apenas mais uma das dificuldades enfrentadas pelo setor sucroalcooleiro, a falta de uma definição do papel do etanol na matriz energética brasileira, prejudica e causa insegurança para os produtores, não favorecendo um planejamento que é tão importante para o bom desenvolvimento dos negócios (UNICA, 2013). Mesmo com as dificuldades que o setor vinha apresentando ao governo, para alcançar algum incentivo ou subsidio, somente com o agravamento da crise é que o governo se posicionou de forma favorável a situação, e medidas como a desoneração do pagamento do PIS /COFINS pagos pelas usinas foram apresentados para ajudar de maneira emergencial o setor a se reerguer. Com isto, o governo parece estar dando um fôlego a mais para o combustível tentar alcançar a escolha de alguns consumidores diretamente nas bombas, por comparação de preços, e devolve a competitividade a esse combustível. Para controlar essa situação, o setor tem a expectativa de que a alta carga tributária imposta para o combustível seja reduzida ou até isentada, já que o etanol é uma fonte de “energia verde”. Porém, o governo não vem se mostrando tão preocupado com esse cenário, já que a possibilidade de início da extração de petróleo na camada pré-sal vem oferecendo uma possibilidade de combustível em abundância para os próximos anos (POPOV, 2012). http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista/ 122 CRUZ, A. C. dos. et al., v. 05, nº 2, p. 114-127, JUL-DEZ, 2013. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) Durante os anos anteriores à crise a política do governo Federal para com a s empresas do setor eram bem mais vantajosas, como fica claro na citação de Pitta e Mendonça (2010, p. 8), transcrita abaixo: O fomento para a ampliação da oferta internacional de etanol partiu principalmente do BNDES. Sob a perspectiva de que Estados Unidos, Japão e União Europeia seriam potenciais consumidores4, enormes montantes de crédito foram destinados ao setor. Durante o governo Lula, o financiamento para a indústria da cana chegou a R$ 28,2 bilhões. Em 2010, foram destinados R$ 7,4 bilhões para financiar desde o cultivo (R$ 953 milhões) até a produção de açúcar e álcool (R$ 5,6 bilhões) e a co-geração de energia (R$ 665 milhões). O montante destes empréstimos é maior do que o fornecido a outros setores da economia naquele ano, como as indústrias de papel, celulose e extrativista juntas (R$ 3,1 bilhões), mecânica (R$ 5,3 bilhões), metalúrgica (R$ 4,9 bilhões), e têxtil e vestuário (R$ 2,1 bilhões). Ao longo de 2008, em razão da crise financeira, até capital de giro das empresas em dificuldades financeiras foi financiado. Diante deste cenário, as empresas do município de Sertãozinho veem reduzidos seus faturamentos e sua perspectiva de crescimento para os próximos anos. Na euforia dos investimentos em etanol no país em 2008, a Dedini S/A, grande empresa do município, chegou a faturar 2,2 milhões, e agora, com um faturamento bem inferior, em torno de 900 milhões, a empresa passa por grandes problemas relacionados com dívidas e demissões (BATISTA, 2011). A Dedini, mesmo com diversificação na sua atuação, prevê um faturamento baixo, para os próximos anos. A crise ainda marca a empresa com uma inadimplência dos clientes que chega a 80 milhões, número que já melhorou bastante se comparado com o início da crise quando chegou a uma inadimplência de 250 milhões. A Sermatec S/A considerada como a segunda maior indústria fabricante de equipamentos para as usinas da região, sofre também com demissões e grande diminuição do faturamento. Segundo o presidente da empresa, 2012 foi mais um ano muito difícil, suas expectativas de um início de recuperação são apenas para os anos 2013/2014, sendo que essa recuperação ainda é duvidosa (BATISTA, 2011). Para as empresas do setor, o que poderia minimizar esse prejuízo e ampliar a competição seria um incentivo do governo. Esse incentivo viria da cooperação do próprio governo, que ao invés de comprar de fabricantes externos fora do país, http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista/ 123 CRUZ, A. C. dos. et al., v. 05, nº 2, p. 114-127, JUL-DEZ, 2013. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) poderia usar o seu poder de aquisição dentro do próprio país, como por exemplo, a compra dos uniformes do exército brasileiro, que atualmente é adquirido da China (VALOR ECONÔMICO, 2011). A reivindicação contra a crise realizada na última Fenasucro, em Sertãozinho, no ano de 2013, expõe a opinião dos representantes do setor sucroalcooleiro que solicitaram a elaboração de um marco regulatório para o setor, visando a acabar de vez com a crise que se estende por cinco anos. Eles querem a criação da equidade em relação ao etanol e a gasolina, igualdade nos investimentos e segurança para os investidores (G1, 2013). Mesmo com a expectativa satisfatória para safra de 2013/2014, os produtores ainda sentem dificuldades em obter recursos para retomar o crescimento. A economia da região está bastante afetada e nas indústrias de Sertãozinho houve em média, entre 2008 e 2013,uma perda de cinco mil postos de trabalho, afetando drasticamente toda a população, sendo um dos principais fatores da estagnação na economia da região (G1, 2013). As usinas de açúcar e álcool não conseguem girar o capital e obter um resultado satisfatório. A região de Ribeirão Preto também enfrenta muitas dificuldades no setor. Em todas as regiões o problema é o mesmo, a falta de investimentos. Com a redução na produtividade o desemprego se expandiu. Mesmo sendo uma região rica, com um solo de alta qualidade e um clima favorável suas atividades econômicas decaíram. Para redução do prejuízo muitos produtores estão diversificando a cultura, ponto positivo para equilibrar a situação (MORALES, 2013) Para ajudar os produtores, o Governo Federal ofereceu um novo pacote de benefícios para o setor de açúcar e álcool. O aumento do etanol na gasolina foi um dos benefícios oferecidos pelo governo, outro benefício muito importante foi à isenção do PIS e COFINS na tributação do etanol. Nas palavras do presidente da ÚNICA: Sem dúvida, são medidas importantes, que dão alívio na cadeia produtiva, especialmente o etanol. Quando você baixa imposto e também reduz a taxa de juro, você cria uma condição boa para o investimento para que haja condição pra avançar. Ocorre que são medidas pontuais. Não são medidas estruturais. Nós precisamos de uma política de longo prazo, com regras claras e condições de retorno para o investimento [Sérgio Prado – representante da UNICA] (MORALES, 2013) http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista/ 124 CRUZ, A. C. dos. et al., v. 05, nº 2, p. 114-127, JUL-DEZ, 2013. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) O maior investimento das usinas nos últimos anos foi na mecanização da colheita, estimulada pelo protocolo firmado em 2007 entre as Secretarias de Meio Ambiente (SMA) e de Agricultura e Abastecimento (SAA) de São Paulo, em parceria com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), que determinou prazos legais para o fim da queima controlada da palha da cana nos canaviais paulistas. Com isso o mercado de máquinas como colheitadeiras, caminhões, semirreboques, dentre outros diversos tipos de equipamentos necessários para a implantação da colheita mecanizada, ficou aquecido e as empresas que investiram na área de equipamentos agrícolas foram beneficiadas e registraram um importante aumento nas vendas. Diante da crise, os projetos de mecanização foram em grande parte paralisados. Essa mecanização é importante não só para preparar as usinas para a retomada do setor que está sendo ansiosamente aguardada, mas também representa um importante benefício ambiental e ecológico para o país, pois a indústria do etanol e do açúcar era vista como uma das mais poluidoras e gerava certa contradição já que o etanol é taxado de “energia verde”. Depois do protocolo, em torno de 85% das usinas estão mecanizadas, o que beneficia a qualidade de vida, gerando menor impacto ambiental com a redução das queimadas, e ainda contribui para melhorar a imagem e a credibilidade dos produtos (UNICA, 2013). Para uma melhor dimensão da importância do setor para a economia do país podemos destacar alguns números e dados, como o volume de colheita por safra que gira em torno de 520 milhões de toneladas, sendo responsável pela produção de, em média, 34 milhões de toneladas de açúcar, e 22 bilhões de litros de etanol, sendo 13 bilhões de litros de etanol hidratado e 9 bilhões de litros de anidro (ÚNICA, 2013). O faturamento médio da indústria destinado à produção de açúcar gira em torno de R$ 106,00 por tonelada de cana. Já para a indústria que destina seu produto a fabricação do etanol, o faturamento médio chega a R$ 93,00 por tonelada de cana (ÚNICA, 2012). Esse faturamento já corresponde a uma significativa queda na lucratividade para os produtores deixando o setor produtivo em uma situação delicada, visto que os custos só fazem aumentar e o endividamento de algumas usinas, comprometeram o seu funcionamento, e muitas empresas estão deixando de http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista/ 125 CRUZ, A. C. dos. et al., v. 05, nº 2, p. 114-127, JUL-DEZ, 2013. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) processar cana, o que vem causando impacto considerável na capacidade de produção do setor (UNICA, 2012). CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o presente artigo, de caráter exploratório, foi possível notar como a crise iniciada em 2008, terminou por afetar o setor sucroenergético, no Brasil. Vimos que o período da crise afetou o setor que se encontrava em momento de forte expansão, reduzindo as vendas e os investimentos em novas usinas. Vimos também que a baixa produtividade dos canaviais e a mudança das políticas setoriais do governo federal tem reduzido a competitividade do etanol, frente à gasolina, seu principal concorrente. Diante deste quadro, as empresas do município de Sertãozinho, altamente dependentes do setor têm sentido os efeitos da crise. Redução no faturamento, demissões e falências tem sido assim, comuns na cidade e na região. Encontrar soluções que levem a retomada da economia local, passa, assim, não apenas por políticas públicas do Governo Federal, como clamam os empresários, mas também por ações empresariais voltadas para o aumento da produtividade e a diversificação da carteira de investimentos. Gestão e inovação, mais que nunca colocam-se como imperativo não apenas ao setor público, mas também a iniciativa privada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATISTA, G. 2011, Usinas voltam a frustrar Indústria de base. 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