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Acta Scientiae Veterinariae, 2012. 40(Supl 1): s1-s60.
ISSN 1679-9216 (Online)
Síncope associada a bloqueio atrioventricular completo em canino
Ananda da Rocha Pires1, Priscila Beatriz da Silva Serpa2, Daniele Pankowski Bezerra2, Ruben Lundgren
Cavalcanti2, Pedro Galant3, Marianne Lamberts2, Fernando Silvério da Cruz2, Karine Gehlen Baja3 & Cláudio
Corrêa Natalini4
RESUMO
Introdução: O bloqueio atrioventricular completo ou de terceiro grau é uma anomalia decorrente da ausência de condução
através do nodo atrioventricular e dos ventrículos. Existem causas variadas para o aparecimento do bloqueio, sendo que
afecções anatômicas do miocárdio, endocardite, intoxicação digitálica e degeneração miocárdica são as causas mais comuns. O marca-passo cardíaco surge abaixo da região do bloqueio. Quando o ritmo ventricular tem origem no miocárdio
ventricular (idioventricular), a frequência situa-se próxima a 65 bpm. Quando o marca-passo é juncional (idiojuncional)
a frequência fica em torno de 40-60 bpm. A terapia medicamentosa é sempre paliativa e nunca curativa. A implantação de
um marca-passo transvenoso atrial ou ventricular é a terapia curativa para a deficiência de ritmo.
Caso: Um canino macho, da raça labrador chocolate, com 10 anos de idade foi apresentado com histórico de síncopes
intermitentes e intolerância ao exercício. A ausculta a frequência cardíaca oscilava entre 20 e 25 bpm, com frequência respiratória de 20 mrpm e temperatura retal normal. Os exames laboratoriais estavam normais e o eletrocardiograma evidenciou
bloqueio atrioventricular completo ou de terceiro grau. Foi recomendada a implantação de um marca-passo ventricular
transvenoso. O animal foi internado para preparação para a cirurgia e tratamento sintomático da bradicardia. A terapia
medicamentosa incluiu teofilina (10 mg/kg PO 12/12 horas) e fosfato sódico de dexametasona (0.25mg/kg IM) dose única.
Após início da terapia a frequência cardíaca não se alterou. Foi administrado sulfato de atropina por via intramuscular na
dose de 0.05mg/kg também sem efeito sobre a frequência ventricular. A frequência atrial aumentou de 80 para 105 ondas
P. Após a administração de sulfato de atropina sem sucesso, foi iniciada a infusão contínua de isoproterenol 0.05µg/kg/
minuto, aumentando a frequência ventricular para 35 bpm. A preparação para o procedimento incluiu jejum de 12 horas
para alimentos sólidos e 3 horas para água. Foi administrado cefazolina sódica 20mg/kg por via IV, após instalação de
um cateter venoso. O paciente foi anestesiado com a associação diazepam (0.5mg/kg) e quetamina (10mg/kg) por via
venosa, intubado e mantido sob anestesia com isoflurano, mantido sob ventilação espontânea com oxigênio FIO2 = 1.0 e
infusão contínua de dopamina 5.0 µg/kg/minuto. Um marca-passo ventricular transvenoso com eletrodo de fixação ativa
foi implantado pela veia jugular direita até o ventrículo direito e ajustado para uma frequência ventricular de 100 bpm.
Discussão: Os casos de bloqueio atrioventricular completo ou de terceiro grau são raros em caninos e felinos. O tratamento
sintomático permanece como opção. A terapia medicamentosa deve incluir fármacos adrenérgicos e/ou anticolinérgicos
na tentativa de aumentar a frequência ventricular. Em geral os fármacos anticolinérgicos aumentam a frequência atrial,
mas não a ventricular como aconteceu no caso descrito. Os fármacos adrenérgicos são mais eficazes para o aumento da
frequência ventricular. Os derivados metilxantínicos como a aminofilina ou teofilina são menos eficazes que os agonistas
beta-1 diretos como o isoproterenol e a dopamina. No caso descrito, o isoproterenol produziu o aumento da frequência
ventricular de 25 para 35 bpm. Da mesma forma a administração transoperatória de dopamina, outro agonista adrenérgico
de ação direta, manteve a frequência cardíaca em 35 bpm durante a implantação do marca-passo transvenoso. Após a
implantação do marca-passo ventricular transvenoso, a frequência ventricular do paciente deve permanecer entre 90 a 120
bpm. No caso descrito a FC foi mantida em 100 bpm.
Descritores: marca-passo transvenoso, cardiologia, pequenos animais, emergência.
1
Graduanda em Medicina Veterinária, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS Brasil. 2Laboratório de Farmacogenética
Animal, UFRGS. 3Aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (PPGFisiologia), UFRGS. 4Professor, Departamento de Farmacologia,
UFRGS. CORRESPONDÊNCIA: C. C. Natalini [[email protected]].
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