universidade do vale do itajaí centro de educação de

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA
PATRÍCIA MADALOZZO TEIXEIRA
DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS E REPERCUSSÕES
EMOCIONAIS: um estudo exploratório
Itajaí, (SC) 2006
1
PATRÍCIA MADALOZZO TEIXEIRA
DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS E REPERCUSSÕES
EMOCIONAIS: um estudo exploratório
Monografia apresentada como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel em
Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí.
Orientadora: Profª. Giovana Delvan Stühler
Itajaí (SC), 2006
2
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a toda minha família por estar presente, me
apoiando em todos os momentos. Em especial meu pai, que teve papel fundamental
na realização desta monografia, o qual esta sempre do meu lado.
A minha orientadora Profª. Giovana Delvan Stühler, por seu conhecimento,
seu profissionalismo e compreensão que foram essências para a conclusão deste
estudo.
As minhas amigas, Karina, Cristiane, Leca e Mariana que mais uma vez foram
muito especiais e me apoiaram em mais essa etapa da minha vida.
As professoras que aceitaram participar da banca, Profª. Maria Celina Ribeiro
Lenzi e Profª. Josiane Aparecida Ferrari de Almeida Prado, por suas contribuições e
disponibilidade para o término deste estudo.
Enfim, gostaria de agradecer a todos que de alguma forma contribuíram
nessa caminhada.
3
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................05
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................................08
2.1 Processo saúde-doença......................................................................................08
2.2 Doença inflamatória intestinal (DII) .....................................................................11
2.2.1 Classificação ....................................................................................................12
2.2.2 Etiopatogenia ...................................................................................................12
2.2.3 Quadro clínico ..................................................................................................12
2.2.4 Tratamento .......................................................................................................14
2.3 Repercussões psico-sociais dos portadores de DII.............................................16
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...............................................................21
3.1Trajetória da pesquisadora................................................................................... 21
3.2 Sujeitos da pesquisa ...........................................................................................22
3.3 Instrumento .........................................................................................................23
3.4 Coleta de dados ..................................................................................................23
3.5 Análise e discussão dos dados ...........................................................................24
3.6 Procedimentos éticos ..........................................................................................25
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ......................................26
4.1 Apresentação e interpretação dos dados ............................................................31
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................52
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................56
7 ANEXOS ................................................................................................................60
8 APÊNDICES...........................................................................................................61
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DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS E REPERCUSSÕES
EMOCIONAIS: um estudo exploratório
Acadêmica: Patrícia Madalozzo Teixeira
Orientadora: Giovana Delvan Stühler
Defesa: novembro de 2006
Resumo:
A presente pesquisa teve como objetivo geral identificar as repercussões emocionais nos
pacientes portadores de doenças inflamatórias intestinais (DIIs). Estas dividem-se
principalmente em dois grupos: Retocolite Ulcerativa Inespecífica (RCUI) e Doença de
Crohn (DC). Ambas caracterizam-se por processo inflamatório intestinal e têm como
peculiaridade a cronicidade e ausência de cura até o presente momento. Sua etiopatogenia
ainda é indefinida, embora considerada de caráter multifatorial. Participaram desse estudo,
seis pacientes portadores de DIIs, sendo três pacientes diagnosticados com RCUI e outros
três pacientes diagnosticados com DC. O instrumento utilizado para coleta de dados foi uma
entrevista semi-estruturada. Na análise foram selecionadas noventa unidades de registro
distribuídas em seis categorias: Os Sintomas, que contém as manifestações verbalizadas
pelo indivíduo de um desconforto, informações essas que auxiliam na constatação da
situação orgânica e psíquica; A Doença, que evidencia o conhecimento que os pacientes
possuem acerca da DII; Os Antecedentes das Doenças que mostram o estilo de vida,
costumes, atividades realizadas pelos pacientes antes do diagnóstico de DII; As
Conseqüências das Doenças que demonstra as restrições e mudanças decorrentes dos
DII(s) na vida de seus portadores; O Tratamento, que refletem acerca da sensação de
impotência dos pacientes frente à doença, dos conhecimentos que possuem sobre
medicações, exames, alimentação; Os Sentimentos, que expressam angustia, nervosismo,
medo, ansiedade, entre outros, presentes ou não desde o momento que é identificado o
diagnóstico de DII. As categorias: Os Sentimentos e As Conseqüências da Doença
obtiveram um maior número de unidades de registro. Os resultados demonstraram que as
repercussões emocionais podem influenciar o quadro clínico dos pacientes com DIIs; que há
uma diversidade de emoções que abalam pacientes de DIIs, sendo a depressão a
repercussão emocional que predominou entre os sujeitos entrevistados; assim como a
importância da relação médico-paciente para o sucesso do tratamento.
Palavras-chaves:doenças inflamatórias intestinais, repercussões emocionais, saúde.
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1 INTRODUÇÃO
Este trabalho é referente à conclusão do Curso de Psicologia da Universidade
do Vale do Itajaí e teve como campo de investigação a análise específica de
pacientes portadores de Doença Inflamatória Intestinal (DII), patologia de relevada
importância na prática médica e cujo problema central reside na cronicidade e na
ausência de tratamento curativo até o presente momento.
Embora se dividam em patologias distintas constituídas em grupos e subgrupos, na presente pesquisa optou-se por fixar o estudo nas duas principais
doenças inflamatórias intestinais crônicas: Retocolite Ulcerativa Inespecífica (RCUI)
e Doença de Crohn (DC). Pois, durante o curso das DII(s), ambas provocam um
estigma semelhante entre seus portadores, devido um grande abalo emocional na
vida dos mesmos.
A realização desta pesquisa surgiu pelo fato de que, além da pesquisadora
pertencer a uma família de médicos, sempre mostrou interesse pela área da saúde.
Assim, de longa data a mesma observa comentários sobre doenças, tratamentos
referentes às Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs), suas manifestações e,
principalmente, o sofrimento destes pacientes. Na seqüência, após tomar
conhecimento mais técnico, e ter acesso à literatura médica, passou a desenvolver
curiosidade sobre este inusitado universo do sofrimento humano.
É sabido que as Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs) têm etiologia ainda
indefinida, considerando-se como possivelmente multifatorial e secundária a causas
genéticas, imunológicas e ambientais. No entanto percebe-se haver, com freqüência,
6
influência do estado emocional dos pacientes, na evolução da patologia (DAMIÃO,
2000).
Clinicamente estes pacientes sofrem importantes distúrbios nutricionais,
diarréias freqüentes e persistentes, dores, hipertermia, hemorragias, estenoses,
fístulas, abscessos, fissuras e, ainda mais grave, risco de doença tumoral maligna
(QUILICI, 2002).
Acrescente-se, ao citado, a problemática social e de relacionamentos
interpessoais causada pelo estigma do estado permanente de doença. Há que se
considerar que ao lado de cuidados medicamentosos torna-se de vital importância
uma adequada abordagem dos distúrbios da emocionalidade em toda sua gama de
variáveis. A literatura demonstra de forma clara a importância do contexto
psicológico no agravamento ou recidivas das crises inflamatórias. Trabalhos médicos
evidenciaram que, diante de manifestações ansiosas pode ocorrer aumento da
peristalse
intestinal
com
conseqüente
piora
sintomática.
Há
suficientes
comprovações cientificamente demonstradas da relação da psique e o soma. Sabese também que pessoas depressivas podem ter prejudicado seu sistema
imunológico (JEAMMET et al., 2000).
Observa-se que na maioria absoluta dos pacientes tratados há oferta de
cuidados médicos, sejam medicamentosos ou cirúrgicos. Mas, é deficiente a atenção
ao estado emocional dos mesmos. Ora, havendo tantas observações da influência
do psiquismo na evolução da doença, com agravamentos, recidivas ou mesmo
melhoras, justifica-se a proposta deste trabalho pela observação fática de casos
clínicos que, se previamente identificados no âmbito emocional, certamente
poderiam ter evolução clínica mais favorável. No exercício do atendimento médico
observam-se pacientes cuja história emocional coincide com a eclosão da doença ou
7
influencia sua evolução.
A realização desta pesquisa teve como objetivo identificar as repercussões
emocionais nos pacientes portadores de Doenças Inflamatórias Intestinais, a qual
será apresentada da seguinte forma: no capítulo referente à fundamentação teórica
será abordado o processo saúde-doença, aspectos da classificação das DIIs, sua
etiopatogenia, quadro clínico, seu tratamento, assim como as repercussões psicosociais dos portadores de DII. Em seguida, serão apresentados os procedimentos
metodológicos, contendo características dos sujeitos, a descrição do instrumento
utilizado, os procedimentos para coleta de dados e para análise e discussão dos
mesmos. No capítulo referente à apresentação e discussão dos resultados,
aparecerão as categorias encontradas e a discussão dos resultados fundamentados
teoricamente. Concluindo então, as considerações finais buscando realizar a
interpretação dos dados analisados.
8
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Processo saúde-doença
Inicialmente torna-se importante esclarecermos o conceito de saúde. O
entendimento moderno de saúde engloba valores que extrapolam o plano psíquico e
somático. É óbvia a compreensão dos pensadores gregos antigos de que, para terse um corpo bom é necessário também, e paralelamente, um devido equilíbrio da
emocionalidade. O inverso adequa-se perfeitamente no âmbito deste raciocínio. No
entanto, outros elementos fazem parte de um contexto maior indivisível para atingirse verdadeiro e pleno estado de sanidade. Etimologicamente saúde significa são,
inteiro, salvo, palavras derivadas de saluus, solidus e soldus, originadas do latim.
Para REZENDE (1989), a concepção de saúde busca em relação ao físico, a
adaptação do homem ao ambiente, e a doença seria a desadaptação e o mal estar.
Na área mental a adaptabilidade acaba sendo mais freqüentemente empregada,
utilizando as expressões adaptação psíquica e maturidade psíquica, supondo o
ajustamento aos modos desejáveis de vida. Na área social, buscar a saúde como
adaptação é negar a criatividade e a existência de conflitos. Surgiu, por ocasião da
VIII Conferência Nacional de Saúde no ano de 1986 conceito mais ampliado que
passamos a descrever: “Saúde é o resultante das condições de educação, renda,
meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso aos serviços
de saúde” (MINAYO, 1992, p.10).
Para REZENDE (1989, p.87), “saúde é uma postura humana ativa e dialética
frente às permanentes situações conflituosas geradas pelos antagonismos entre o
homem e o meio”.
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Ora, se bem definido o conceito de saúde como estado derivado de múltiplos
valores e necessidades essenciais tais como bem estar físico e emocional, moradia,
emprego e renda justos, liberdade e tantos outros elementos indivisíveis, pode-se
concluir que doença diz respeito ao estado derivado de qualquer contrariedade à
coexistência destas múltiplas variáveis.
O vocábulo doença deriva do latim como dolentia, tendo sentido de processo
mórbido (PACIORNIK, 1969). Com o evoluir do tempo às pressões sociais, de
classes, sociedades profissionais e representações políticas, houve progressiva
inclusão social do homem, respaldada e amparada pelos tratados constitucionais.
Cada ser humano está intimamente relacionado com a doença, quer ela seja
vista como ameaça potencial, como realidade a ser vivida para si ou como
sofrimento de um ser querido. A doença adquire necessariamente sentido na história
da pessoa (JEAMMET et al., 2000).
No âmbito social e cultural há duas grandes correntes: a primeira refere-se a
uma concepção ontológica de doença que confere-lhe uma existência autônoma e a
segunda que considera a doença como uma reação do organismo e do indivíduo na
sua totalidade a uma perturbação de seu equilíbrio (JEAMMET et al., 2000).
Secular é o conhecimento da psique e do soma. O ser humano é o conjunto
de corpo e mente, indivisíveis e interreagentes. É fundamental distinguir alguns
elementos conceituais. As manifestações psíquicas de algumas afecções orgânicas
diferem do conceito restritivo de psicossomático.
Alguns autores consideram alcoolismo, tabagismo, toximania, restrição
alimentar voluntária e outras manifestações, como pertencentes às doenças
tipicamente
psicossomáticas,
mas
entendemos
que
são
nada
mais
que
conseqüências somáticas de algumas perturbações de condutas instintivas e de
10
comportamentos (JEAMMET et al., 2000).
O conceito clássico de psicossomático, no entanto, difere deste entendimento,
ou seja, trata-se de toda perturbação somática que comporta no seu determinismo
um fator psicológico, contribuindo, portanto de forma essencial à gênese da doença
(JEAMMET et al., 2000).
Durante muitos anos a maioria dos autores considerava seriamente a
possibilidade de haver forte influência na gênese da Doença Inflamatória Intestinal
os conflitos da emocionalidade, entendendo, desta maneira, como sendo patologia
caracteristicamente psicossomática.
Modernamente, no entanto, novos estudos sinalizam em direção oposta,
afastando a relação causal direta do psiquismo na gênese da doença, mas apenas,
interferência no aspecto evolutivo deste distúrbio multifatorial. Os conflitos
psicológicos podem, e mesmo costumam agravar sintomas, provocar recidivas ou,
ao contrário, melhorar a situação anterior (ANDRADE, 2002). Todos os indicadores
apontam para a importância do contexto emocional, dos conflitos psicológicos
capazes de interferir na doença em atividade ou mesmo latente, mas nunca como
fatores etiológicos primários.
Finalizando, lembramos à importância dos elementos psicossociais. O
sistema familiar funciona como um conjunto de leis que regem as trocas
interpessoais, problemas e desejos de cada um dos membros que, diante de doença
pode perder o equilíbrio.
O sistema familiar pode ser suave e aberto ou rígido e fechado. O primeiro
diante de alguma modificação, ou seja, frente ao adoecer, se adaptará à nova
situação. Já o segundo sistema terá a nova situação como uma ameaça para seu
equilíbrio tendo dois possíveis comportamentos: a rejeição do doente ou utilizando a
11
doença como parte integrante do sistema e necessária à sua manutenção
(JEAMMET et al., 2000).
A expressão da doença e sua aceitação pelo meio socio-profissional está
diretamente ligada à estrutura da sociedade. Situações sociais, profissionais,
econômicas e vida familiar conturbadas são fatores de desencadeamento de
doenças e determinantes de necessidade assistencial médica.
As mesmas relações comentadas no meio familiar podem ser encontradas no
contexto social e profissional.
2.2 Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs)
As Doenças Inflamatórias Intestinais há cerca de um século são descritas e
sua patogenia permanece controversa. Embora se dividam em patologias distintas
constituídas em grupos, sabe-se modernamente que apresentam-se em sub-grupos
identificáveis, acometem predominantemente pacientes jovens e atingem todos os
países. Sua principal característica é a cronicidade e ausência de cura com
tratamentos atuais (QUILICI, 2002).
Embora acometam a parede intestinal provocando severo processo
inflamatório e conseqüências graves tais como diarréias severas, hemorragias,
desnutrição, dores, cólicas, dificuldades alimentares, febre, estenoses, fístulas,
ulcerações e outros transtornos desta topografia, podem causar manifestações
extra-intestinais. O organismo pode ser afetado de maneira global, com lesão de
múltiplos órgãos e sistemas (QUILICI, 2002).
12
2.2.1 Classificação
Há duas principais doenças inflamatórias intestinais crônicas: Retocolite
Ulcerativa Inespecífica (RCUI) e Doença de Crohn (DC). A RCUI caracteriza-se por
severo processo inflamatório da mucosa do intestino grosso. Entende-se, como
intestino grosso, o cólon, reto e canal anal. Invariavelmente os pacientes acometidos
por esta patologia têm o reto como sede do processo e freqüentemente os
segmentos proximais de extensão variável. Os planos muscular e seroso da parede
do intestino são preservados (DANI et al., 1993).
A DC, por sua vez, traduz grave inflamação do tubo digestivo, podendo
acometer desde a boca até o canal anal. A grande distinção de ambas é que o
Crohn provoca processo inflamatório transmural da parede intestinal, ou seja,
atingindo todas as camadas da parede da víscera (CAMPOS, 2000).
2.2.2 Etiopatogenia
Atualmente persistem dúvidas acerca da etiologia da DII. Contudo há
consenso entre autores e pesquisadores de que o elemento causal é multifatorial:
genético, imunológico e infeccioso (ambiental). Patogenicamente estes elementos
determinantes induzem na mucosa intestinal respostas imunes anormais seja na
ativação ou na regulação (SANTOS, 2004).
2.2.3 Quadro Clínico
As manifestações clínicas da Doença Inflamatória Intestinal são polimorfas e
dependem de múltiplos fatores. Inicialmente a topografia e gravidade do processo
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inflamatório determinam manifestações sintomáticas.
A Retocolite Ulcerativa Inespecífica (RCUI) sendo caracterizada por processo
inflamatório da mucosa colo-retal, região em que ocorrem ulcerações, friabilidade,
edema e hemorragias, apresenta variáveis clínicas tais como diarréias de difícil
controle, cólicas e dores abdominais, hipertermia, emagrecimento, distúrbios
nutricionais e temeroso aumento do risco de neoplasias malignas (QUILICI, 2002).
Os pacientes apresentam-se aos serviços médicos astênicos, enfraquecidos,
desidratados, com capacidade laborativa prejudicada e freqüentemente impedida. A
diarréia costuma ser abundante muitas vezes sanguinolenta provocando importante
desconforto e não raro necessitando atendimento hospitalar (QUILICI, 2002).
Complicações sérias podem acontecer tais como, hemorragias volumosas
comprometendo gravemente a volemia e precisando transfusões sanguíneas para
manutenção da vida. Outra complicação temível é o Megacolon Tóxico, dilatação
aguda e progressiva do intestino, com risco eminente de necrose e capaz de
provocar toxemia e choque nos pacientes. Outro fator de risco que pode modificar
evolução clínica destes pacientes é o advento de tumores malignos, tanto mais
freqüentes quanto mais antiga a doença (DAMIÃO, 2000).
A Doença de Crohn (DC), por sua vez, caracteriza-se por processo
inflamatório transmural da parede das vísceras ocas, tendo como característica,
lesões associadas, intercaladas por segmentos normais. Desde a cavidade oral até
o canal anal pode haver comprometimento. Os sintomas assemelham-se aqueles da
RCUI com algumas distinções a seguir relatadas: estenoses, ou seja, diminuição do
calibre de forma anelar ou segmentar de partes da víscera, fístulas que são trajetos
anormais de comunicação entre órgãos. Assim, pode haver fenômeno de fecalúria
que é a perda de matéria fecal por via urinária. Se ocorrer uma fistulização do reto
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ou mesmo intestino com o canal vaginal, pode haver o desconforto de perder fezes
pela região genital. Não são raras as fístulas do reto com região glútea ou mesmo
coxas. Pode ainda haver fístulas êntero-enterais1, êntero-cólicas2 ou êntero ou colocutâneas3 (DANI et al.,1993).
Severas e múltiplas ulcerações podem ocorrer na via digestiva provocando
tais como na RCUI. Por outro lado, se ocorrer área de estenose a manifestação
clínica será de sub ou mesmo oclusão intestinal. Neste caso o paciente apresentará
dor abdominal de forte intensidade, cólicas intensas, náuseas e vômitos, distensão
abdominal e parada de flatos e evacuatória (QUILICI, 2002).
Muito importante é a possibilidade de manifestações extra-intestinais das DII.
São muito comuns comprometimentos de outros órgãos, regiões e sistemas.
Tomemos como exemplo, paciente que procura atendimento médico com queixa de
forte dor articular e febre. É possível tratar-se de artrite secundária a uma das
Doenças Inflamatórias Intestinais, ou seja, grave quadro inflamatório de uma
articulação dificultando a mobilização do membro. Doenças oftalmológicas, renais,
hepáticas, cutâneas e outras podem surgir nos doentes deste grupo (DANI et al.,
1993).
2.2.4 Tratamento
Em princípio o tratamento deverá ser clínico. Os objetivos são: diminuir a
atividade inflamatória da doença, compensar os desequilíbrios secundários, tratar
1
2
3
Fístula êntero-enteral: comunicação anômala de um segmento de intestino delgado com outro
segmento do mesmo órgão (os líquidos de uma parte do intestino delgado drenam para outra sem
conexão anatômica imediata).
Fístula Êntero-cólica: comunicação anômala de um segmento de intestino delgado com outro
segmento do Colon (os líquidos do intestino delgado drenam para o interior do Colon).
Fístula êntero-cutânea: comunicação anômala de um segmento de intestino delgado com a pele
(ocorre drenagem de matéria fecal através da pele).
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infecções, melhorar o estado nutricional e buscar alívio dos abalos emocionais.
Idealmente todas as medidas visam determinar remissão dos sintomas e possibilitar
a manutenção desta remissão. O problema fica na dependência de elevado índice
de recidivas em ambas as patologias, chegando a 60% de possibilidade
(GOLIGHER, 1990).
Existem variados esquemas medicamentosos no arsenal terapêutico.
Compostos nutricionais, complexos vitamínicos, derivados salicilados, corticóides,
imunomoduladores, todos indicados segundo critérios de gravidade da doença
(DAMIÃO, 2000).
Em casos específicos pode ser inevitável tratamento operatório. Se um
determinado paciente não desobstruir sua área de estenose poderá submeter-se à
enteroplastia4 ou mesmo ressecção segmentar. Outro exemplo de indicação
cirúrgica diz respeito aos casos de abscessos anais e peri-anais (QUILICI, 2002).
Na verdade há enorme variável de técnicas cirúrgicas para abordar pacientes
com DII. Uma das cirurgias mais comprometedoras e graves é a Procto-Colectomia5
total pelo radicalismo do procedimento. É indicada em casos refratários às medidas
medicamentosas, havendo persistente diarréia ou sangramento, bem como risco
eminente de câncer. A principal conseqüência será a perda da continência
evacuatória e colostomia6 definitiva (KEIGHLEY et al.,1999).
Mais modernamente tem sido realizada técnica de Procto-Colectomia com
Bolsa Ileal7. Esta possibilidade técnica permite confeccionar reservatório que se
4
5
6
7
Enteroplastia: manobra cirúrgica plástica executada no intestino delgado, reconstituindo o trânsito
anteriormente obstruído.
Procto-colectomia: operação cirúrgica que remove todo o colon e o reto.
Colostomia: técnica operatória que abre na pele um segmento do colon. Indicada para
desfuncionalizar áreas obstruídas ou com suturas intestinais frágeis. A colostomia pode ser
temporária ou definitiva.
Bola ileal: técnica cirúrgica que possibilita a constituição de um neo reto nas situações em que o
paciente é submetido à procto-colectomia total. A bolsa ileal é um reservatório criado com
segmento excluso de intestino delgado que substitui o reto amputado.
16
assemelha ao reto e manutenção do canal anal e seus esfincteres e, portanto, a
desejada continência evacuatória. (QUILICI, 2002).
2.3 Repercussões psico-sociais dos portadores de DIIs
Abre-se espaço para estudos investigativos em pacientes portadores de DIIs
no universo de sua emocionalidade e meio circundante. Vários estudos buscam
demonstrar as manifestações psicológicas nestes doentes peculiares, tentando
compreender o universo de sua problemática e suas reações diante da dor e
temores (DANI, 1993; COELHO, 1990; FOLKS et al., 2000; ANDRADE e
MESQUITA, 2000).
Durante anos, as Doenças Inflamatórias Intestinais, especialmente a RCUI,
foram consideradas como doenças psicossomáticas, em que as características de
personalidade, distúrbios psiquiátricos e fatores psicossociais teriam um importante
papel etiológico. Mais recentemente, a importância destes fatores na gênese da
doença tem sido muito questionada (ANDRADE E MESQUITA, 2000).
Diante do severo fator de estresse destes pacientes, são freqüentes
manifestações de ansiedade e depressão, inicialmente pelo conhecimento
diagnóstico da patologia e suas repercussões físicas, seguido pelas dificuldades
terapêuticas, bem como a inevitabilidade de gastos, o afastamento social e familiar,
o impedimento laborativo e, finalmente, o considerável índice de recidivas, além da
cronicidade habitual.
De acordo com a teoria cognitivo-comportamental (TCC), as pessoas podem
ser divididas em duas categorias na maneira como enfrentar as doenças: orientadas
para o problema ou orientadas para a emoção. As primeiras, ao lidarem com
17
situações de doença, tenderão a buscar informações, procurarão trocar idéias com
os médicos, amigos, grupos de auto-ajuda para alterarem suas concepções, seus
hábitos e as características do ambiente em que vivem. Tudo isso com a finalidade
de reassumirem o controle de suas vidas, tornando as conseqüências da doença
mais toleráveis. As segundas estarão mais preocupadas em lidar com suas
emoções, reduzindo-lhes o impacto. Terão mais dificuldades para se focalizar em
alternativas cognitivas. Tais pacientes responderão mais emocionalmente, usarão
mais mecanismos de defesa, sentirão mais desesperança, desamparo e depressão,
necessitando de estratégias de apoio psicológico vinda da família, de amigos e da
equipe assistencial (LAZARUS, 1976 apud BOTEGA, 2002).
A RCUI tem sido objeto de muitos estudos psicossociais de personalidade,
conflitos intrapsíquicos e de categoria de eventos da vida, possivelmente associados
com o início, agravamento ou remissão da doença (FOLKS et al., 2000).
Observa-se que vários dos processos metodológicos na literatura deixam
dúvida quanto ao significado dos padrões psicológicos de personalidade e
comportamento associados a esta doença.
Muitos estudos têm observado a presença de personalidades compulsivas na
figura dos pais, especialmente da mãe. Muitos pacientes são dependentes, imaturos,
sendo descritos como infantis e regredidos (FOLKS et al., 2000; ANDRADE e
MESQUITA, 2000).
Há distinção nos padrões de manifestação emocional dos pacientes
portadores de RCUI e DC. Os portadores de Retocolite Ulcerativa, embora grave e
multiconsequente, podem ter a doença debelada e resolvida com tratamentos
operatórios radicais, com prognóstco mais favorável. As cirurgias comportam
importante morbidade e de complicações, mas, quando definitivas, eliminam os
18
segmentos sede da patologia (FOLKS et al., 2000).
Os doentes acometidos por Doença de Crohn, ao contrário, são agredidos por
doença implacável, recidivante e passível de acometer distintas regiões, jamais
resolvida por qualquer técnica operatória. A remoção de segmentos doentes não
impede recidiva de novos focos em outras regiões do organismo. Ambas têm caráter
de cronicidade, mas procedimentos cirúrgicos múltiplos são mais freqüentes nos
portadores de Doença de Crohn do que naqueles com RCUI. Isto provoca
prevalência mais alta de doenças secundárias (FOLKS et al., 2000).
Dois estudos controlados por Helzer et al; (1982, 1984) apud Folks e Kinney
(2000) compararam ambas as patologias e concluíram que portadores de RCUI não
apresentavam maior incidência de distúrbios graves emocionais do que aqueles do
grupo controle. No entanto, pacientes com Crohn apresentaram expressiva
prevalência de depressão do que os indivíduos-controle. Observaram ainda, não
haver uma seqüência temporal consistente de envolvimento.
Outro estudo desenvolvido por McKegney e colaboradores (1970) apud Folks
e Kinney (2000) também investigou pacientes com DII e conclui-se não haver
diferença
significativa
dos
pontos
de
vista
psicossocial,
psicológico
e
comportamental. No entanto, foi observado maior índice de depressão naqueles
pacientes com incapacidades físicas mais graves.
Outra pesquisa desenvolvida por Andrews e colaboradores (1987) apud Folks
e Kinney (2000), concluíram que pacientes portadores de Crohn apresentaram maior
índice de distúrbios da emocionalidade do que aqueles com RCUI.
Tarter e colaboradores (1987) apud Folks e Kinney (2000) chegaram às
mesmas impressões do trabalho de Andrews.
O Hospital das Clínicas da UNICAMP desenvolveu estudo com portadores de
19
RCUI observando índice de depressão de 29% nos mesmos. Infelizmente não
comparam, neste trabalho, com os portadores de Doença de Crohn.
Addolorato et al. (1997) apud Andrade e Mesquita (2000), estudaram um
grupo de 43 pacientes com Crohn e 36 com RCUI. Concluíram os autores, que havia
índice de ansiedade de 83% e depressão de 55% dos pacientes com doença em
atividade. Naqueles pacientes em fase de remissão da doença, o percentual foi
respectivamente de 21% e 14%. Aventam, estes autores, a possibilidade da
influência dos distúrbios emocionais na patogênese da depressão. Há ainda que se
considerar os efeitos deletérios dos corticóides longamente utilizados por estes
pacientes, resultando em insônia, agitação, labilidade emocional e até psicose.
É fundamental, no manejo deste grupo de pacientes, a compreensão dos
conflitos sociais. Inicialmente o forte estigma da doença pode provocar conflitos no
sistema familiar, havendo absorção saudável e harmônica do universo de seu ente
ou atitudes de rejeição com conseqüente desarmonização da família. O meio social
relaciona de forma semelhante com o núcleo familiar (JEAMMET et al., 2000).
De acordo com a TCC é crucial o apoio social recebido pelo paciente. Apoio
social é um constructo teórico com muitos componentes, diferenciando o apoio de
fato disponível e a percepção que a pessoa faz em relação à adequação desse
apoio. Uma rede do apoio social adequada pode repercutir na redução do estresse
e, consequentemente, nos agravos à saúde (HENDERSON, 1990 apud BOTEGA,
2002).
O aspecto físico por vezes comprometido, associado ao emagrecimento e
odores desagradáveis gera insegurança e temores nestes pacientes. A ocorrência
de abscessos e fístulas provoca dores e odores acentuados (QUILICI, 2002).
A vida sexual deste grupo de pacientes pode ser drasticamente comprometida
20
quando houver acometimento ano-genital. Dores, fístulas com drenagem de
secreções purulentas e odores desagradáveis provocam inseguranças e inibição nos
doentes. Muitas vezes a atitude de repulsa, ou simples evitar do olhar, causa
profundo abalo na emocionalidade das pessoas portadoras (DANI, 1993).
21
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A presente pesquisa está baseada numa perspectiva qualitativa, a qual
possibilita a formação de questões para a pesquisa, usa a comunicação e
observação, busca particularidades.
Os elementos básicos da análise qualitativa são palavras e idéias que visam à
descoberta, descrição compreensão e interpretação partilhada, onde o pesquisador
participa do processo e o todo é mais do que as partes (TURATO, 2003).
A metodologia qualitativa visa identificar o que os sujeitos têm a dizer sobre
determinado assunto, o significado que dão ao mesmo. A descrição é realizada em
termos não numéricos (GREENHALGH e TAYLOR, 1997 apud TURATO, 2003).
Através da pesquisa qualitativa é possível coletar dados subjetivos além dos
objetivos, possibilita investigar sentimentos, reações, crenças sobre assuntos que
exigem uma maior aproximação do pesquisador com o participante (TURATO,
2003).
3.1 Trajetória da pesquisadora
O interesse em investigar esse tema surgiu a partir da convivência da
pesquisadora com familiares profissionais da área de gastroenterologia e
coloproctologia, assim como com psicólogos responsáveis por tais pacientes. Por
isso, a mesma teve a possibilidade de acompanhar esses pacientes portadores de
DIIs e assim obteve interesse pelo assunto, pois percebeu a inquietação dos
mesmos frente a problemática em questão.
22
Após, mantidos contatos com a equipe da Clínica Gastromed situada no
município de Foz do Iguaçu, Paraná, obteve-se autorização para a realização do
estudo (APÊNDICE 01). Tal local de coleta de dados justifica-se por ser esta a
cidade de origem da pesquisadora, tendo fácil acesso aos pacientes portadores de
DIIs.
As entrevistas foram agendadas a partir de contato informal com cada
paciente, os quais compareceram na clínica e mostraram-se muito à vontade para
colaborar com o presente trabalho. Alguns participantes se dispuseram a fornecer
maiores esclarecimentos sobre a sua doença e seu estado emocional e, para isso
após as entrevistas, ofereceram seus e-mails e telefones. Porém, não houve
necessidade de realizar nenhum contato posterior à coleta de dados.
3.2 Sujeitos da pesquisa
Os sujeitos da presente pesquisa foram seis pacientes portadores de doença
inflamatória intestinal (DII), consistindo em quatro mulheres e dois homens, sendo
três pacientes diagnosticados com retocolite ulcerativa inespecífica (RCUI) e outros
três pacientes diagnosticados com doença de Crohn (DC), conforme o quadro
abaixo:
Quadro 1- Identificação dos sujeitos da pesquisa
Identificação
Sexo
Idade
S1
S2
S3
S4
S5
S6
F
F
M
F
F
M
30 anos
37 anos
39 anos
76 anos
37 anos
40 anos
Diagnóstico
D.C.
D.C.
RCUI
D.C.
RCUI
RCUI
Tempo de
diagnóstico
13 anos
2 anos
10 anos
7 meses
10 anos
12 anos
23
3.3 Instrumento
Para a coleta de dados foi utilizada uma entrevista semi-estruturada como
uma técnica onde o entrevistador organiza um conjunto de questões, apoiada em
teorias e hipóteses sobre o tema estudado (APÊNDICE 02). Tal técnica oferece
liberdade e espontaneidade necessárias para o entrevistado falar livremente sobre
assuntos que vão surgindo, enriquecendo a investigação. Assim, o entrevistado
segue espontaneamente sua linha de pensamento e experiências a partir do foco
principal colocado pelo entrevistador e participa da elaboração do conteúdo da
pesquisa (MAZZOTTI, 1998; PÁDIA, 2000; TURATO, 2003; TRIVINOS, 1987).
3.4 Coleta de dados
A pesquisadora teve acesso aos pacientes diagnosticados com DIIs na clínica
Gastromed, através de contato com o médico e psicóloga, responsáveis por estes,
esclarecendo devidamente sobre os objetivos da pesquisa e apresentando o termo
de consentimento livre e esclarecido para que os participantes assinassem
autorizando a entrevista (APÊNDICE 03).
Após autorização foram agendadas as entrevistas, as quais foram realizadas
individualmente em uma sala reservada para grupo de estudos e reuniões na clínica
em questão. O resultado desta análise será encaminhado à psicóloga da clinica que
fará a comunicação do mesmo aos participantes, bem como poderá fazer uso do
material para o trabalho psicoterápico dos mesmos.
24
3.5 Análise e discussão dos dados
Os dados obtidos na presente pesquisa foram analisados pelo método de
análise de conteúdo proposto por Bardin (1977) apud Moraes (1999) e discutidos à
luz de alguns pressupostos da Teoria Cognitiva Comportamental (TCC).
A análise de conteúdo é uma metodologia usada para descrever e interpretar
conteúdos de documentos e textos. Tal análise permite uma interpretação e
compreensão das questões em um nível que supera a leitura comum (MORAES,
1999).
Na análise de conteúdo são apresentados as seguintes operações:
- Codificação: processo no qual os dados são transformados em categorias,
possibilitando uma descrição das características gerais do material.
Pode ser realizada a partir de recorte referente à escolha das unidades,
enumeração de acordo às regras de contagem, classificação e agregação em
relação à escolha das categorias (FRANCO, 1986; RODRIGUES e LEOPARDI,
1999).
- Unidade de Registro: seleciona-se o elemento correspondente ao segmento
de conteúdo a ser considerado como unidade de base. Pode ser um tema, uma
palavra ou uma frase desde que exprima pensamento completo (FRANCO, 1986;
RODRIGUES e LEOPARDI, 1999).
- Categorização: refere-se à classificação, agrupamento de dados por
semelhança ou analogia previamente estabelecidos ou definidos. Compreende o
inventário, que consiste em isolar os elementos e a classificação que é a divisão dos
elementos (FRANCO, 1986; RODRIGUES e LEOPARDI, 1999).
A teoria cognitiva comportamental (TCC) que servirá de base para presente
25
pesquisa, constitui-se de técnicas comportamentais e cognitivas e fundamenta-se no
pressuposto de que o afeto e o comportamento do indivíduo são determinados modo
como ele estrutura seu mundo em termos cognitivos. Sendo assim, a imagem que o
paciente faz da doença e de seu tratamento deve ser pesquisada em seus
elementos concretos e subjetivos (PETRIE e cols., 1996 apud BOTEGA, 2002).
3.6 Procedimentos éticos
A presente pesquisa está de acordo com a resolução 196/96 do conselho
nacional de saúde, pois exigiu a anuência por escrito dos sujeitos da pesquisa ou
seu representante legal, mediante explicação completa e pormenorizada sobre a
natureza da pesquisa, benefícios previstos, potenciais riscos e incômodos que
podem ocorrer em decorrência do estudo. Tal anuência é o termo de consentimento
livre e esclarecido.
26
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
No presente capítulo será apresentado às percepções gerais sobre os
sujeitos participantes da pesquisa, assim como a análise dos relatos apresentados e
fundamentados com embasamento teórico por diversos autores.
As categorias
De posse das entrevistas transcritas e analisadas, selecionou-se noventa
unidades de registro distribuídas em seis categorias.
A seguir serão apresentadas as categorias e as unidades de registro
pertencentes a cada uma delas, assim como a literatura necessária para a análise e
discussão dos dados encontrados.
1ª Categoria – Os Sintomas
Por sintoma entende-se uma forma de expressão manifestada pelo indivíduo
diante de um desequilíbrio orgânico e/ou psíquico. As falas dos pacientes revelaram
o caráter multifatorial referente a etiopatologia das DII(s).
2ª Categoria – A Doença
Nesta categoria, as falas evidenciam o conhecimento que os pacientes
possuem acerca da DII.
Refere-se conhecimento como toda e qualquer informação que se tenha
sobre um assunto em questão, é uma noção adquirida pelo estudo ou experiência
(FERREIRA, 2004).
27
3ª Categoria – Os Antecedentes da Doença
Esta categoria inclui as unidades de registro que mostram o estilo de vida,
costumes, atividades realizadas pelos pacientes antes do diagnóstico de DII.
4ª Categoria – As Conseqüências da Doença
Nesta categoria são expostas unidades de registro que evidenciam as
restrições e mudanças decorrentes dos DII(s) na vida de seus portadores, pois estas
complicações têm uma forte repercussão na história de vida das pessoas.
5º Categoria – O Tratamento
As falas nesta categoria refletem acerca da sensação de impotência dos
pacientes frente à doença, assim como demonstram a rigorosidade do tratamento a
que são submetidos, os conhecimentos que possuem sobre medicações, exames,
alimentação.
6ª Categoria – Os Sentimentos
As falas referentes a esta categoria, expressam sentimentos, como angustia,
nervosismo, medo, ansiedade, entre outros, presentes ou não desde o momento que
passa a se conhecer o diagnóstico de DII.
Nesta categoria serão apresentadas unidades de registro que mostram a
relação entre as DII (s) e possíveis repercussões emocionais.
A seguir será demonstrado um quadro referente à distribuição das unidades
de registro nas categorias conforme o diagnóstico, sendo especificado a
porcentagem encontrada em cada categoria a partir das entrevistas realizadas para
presente pesquisa.
28
Quadro 2- Distribuição das Unidades de Registro nas Categorias conforme o
Diagnóstico
Categorias
RCUI
DC
Porcentagem
Os Sintomas
7
7
15,55%
A Doença
5
5
11,11%
Os Antecedentes da Doença
5
3
8.88%
As Conseqüências da Doença
10
11
23,33%
O Tratamento
10
7
18,88%
Os Sentimentos
10
10
22,22%
Pelo quadro acima podemos observar uma semelhança na distribuição das
unidades de registro. Observa-se que durante o curso das DII(s), tanto a RCUI
quanto a DC provocam um estigma semelhante entre seus portadores, pois ambas
causam um grande abalo emocional na vida dos portadores, devido a todas as
restrições e mudanças decorrentes das mesmas, sendo estas já citadas
anteriormente.
Observa-se que as categorias: As Conseqüências da Doença e Os
Sentimentos foram as que mais se destacaram entre as demais discutidas na
presente pesquisa. Tal fato demonstra o grande impacto emocional que as DII(s)
provocam em seus pacientes.
Os pacientes acometidos da DII(s) apresentam fortes manifestações de
ansiedade e depressão, devido ao grande índice de estresse que os acompanha em
todo o processo. Desde o conhecimento do diagnóstico da doença, seguida pelas
mudanças inevitáveis em suas vidas, tais como: afastamento social, alterações
nutricionais, dificuldades terapêuticas, conseqüências físicas, aumento de gastos,
29
seguido pela cronicidade destas patologias, entre outros.
A partir desses dados é possível verificar a relação existente entre as DII(s) e
as repercussões emocionais. Percebe-se que o indivíduo doente precisa mudar sua
maneira de viver, suas relações, assim como seus pensamentos, pois tratando-se de
uma doença crônica, esta acarreta embaraços socias, afetam a qualidade de vida do
seu portador, interfere com seu trabalho, lazer e relacionamentos sociais e sexuais
(ANDRADE E MESQUITA, 2000).
30
Quadro 3 - Mapa das categorias encontradas em portadores de DII(S).
“Eu passava por vários
períodos
de
estresse
e
ansiedade onde priorizava tudo,
menos a mim mesma.”
“Hoje vivo assim, com medo do que
terei que enfrentar a cada dia.”
Os Antecedentes da Doença
As Conseqüências da Doença
“Uma doença
crônica que
não tem cura”
A Doença
DOENÇAS
INFLAMATÓRIAS
INTESTINAIS
(DIIs)
Os Sintomas
“O que está
acontecendo comigo?”
O Tratamento
“com medicamentos é
difícil, sem eles seria
terrível.”
Os Sentimentos
“São muitos sentimentos, uma confusão”
31
4.1 Apresentação e interpretação dos dados
1ª Categoria – Os Sintomas
“O que está acontecendo comigo?”
Entende-se por sintomas a manifestação verbalizada pelo indivíduo de um
desconforto, assim como manifestação sensitiva de uma disfunção, lesão ou
patologia.
Pelos seus sintomas, sinais e/ou exames diversos pode-se chegar ao
conhecimento ou determinação de uma doença (FERREIRA, 2004).
Nesta categoria, observou-se o caráter multifatorial das DII(s). Conforme as
falas abaixo:
“Descobri que meu pai estava traindo minha mãe...Fiquei muito revoltada,
triste e fui direto contar para minha mãe, mas ela não acreditou em mim e
pior, ficou brava comigo...Imediatamente eclodiu a Doença de Crohn, muito
grave” (S1).
Não se sabe com certeza a causa para essas doenças, mas verifica-se que
fatores genéticos, infecciosos, imunológicos e psicológicos podem ter ligação com o
surgimento dos sintomas.
Na fala relatada acima se observa um caso onde a tensão emocional
desencadeou a doença, pois o sujeito passou por um estresse e em seguida eclodiu
a Doença de Crohn.
Pesquisas revelam que fatores emocionais podem ser considerados
precipitadores da doença, mesmo que não possam ser considerados agentes
causadores. Estes devem ser vistos como fortes elementos contribuidores da melhor
ou pior fase da doença (AIRES, 2006).
32
A pessoa cuja tensão acaba causando problemas digestivos é um exemplo
típico de como a ansiedade e o estresse exarcebam problemas clínicos. O estresse
entre tantos órgãos e sistemas que atua, também pode levar a ulceração do trato
gastrintestinal, provocando sintomas como os DII(s) (AIRES, 2006).
Nos relatos a seguir percebe-se um elemento causal diferente das falas
citados anteriormente.
“Comecei a ter crises de vomito e diarréia” (S2).
“... Tive diarréia crônica, por mais de um mês, muito aquosa” (S2).
“Fiquei internada um tempo no hospital porque as crises não passavam, fiz
vários exames até que descobriram que eu tinha Crohn” (S2).
“As crises se agravaram com problemas alimentares e infecção generalizada,
fiquei muito tempo internada e quase morri” (S4).
“Me sentia muito fraca” (S5).
As DIIs apresentam manifestações clínicas dependentes de diferentes
fatores. Os portadores geralmente procuram o médico enfraquecidos, pois a diarréia
costuma ser abundante às vezes sanguinolenta. Fato que causa grande desconforto
e assim pode necessitar de atendimento hospitalar (QUILICI, 2002).
“Percebi um muco estranho nas fezes quando eu ia ao banheiro, depois
surgiu pus no reto” (S3).
“... depois de exames como colonoscopia, endoscopia e vários outros, foi
comprovado o diagnóstico de RCUI” (S3).
“Antes da doença em alguns dias sem motivo nenhum começava umas
cólicas intermináveis. Pensava que era uma coisa da idade... “(S4).
“Senti dores abdominais e anais com forte febre...” (S4).
“Procurei um médico gastroenterologia que me pediu um batalhão de exames,
entre eles o de colonoscopia e o resultado foi de Retocolite Ulcerativa
Inespecífica” (S5).
33
“Há doze anos comecei a ter diarréia com sangue, muito grave” (S6).
“... Tive uma febre que passou a ser mais constante e um emagrecimento
exagerado” (S6).
“Enfrentei uma maratona de médicos... Até que o que eu tinha era Retocolite
Ulcerativa Inespecífica” (S6).
Sabe-se
que
a
fisiopatologia
das
DIIs
não
está
estabelecida,
compreendendo provavelmente fatores ambientais como agentes infecciosos e
dietéticos, fatores imunológicos, fatores genéticos e fatores estressantes
(ANDRADE e MESQUITA, 2000).
O organismo pode ser acometido por inteiro nas DIIs, embora causem um
processo inflamatório primário na parede do intestino e assim ter conseqüências
como às citadas, anteriormente, alem de hemorragias, dores, cólicas, dificuldades
alimentares, febre, fístulas, entre outros, podendo provocar, até mesmo,
manifestações extra intestinais. Tais possibilidades dificultam o diagnóstico, pois
muitas vezes são confundidos com problemas de outras áreas médicas (DANI et
al., 1993).
2ª Categoria – A Doença
“Uma doença crônica que não tem cura”
As DIIs têm como principal característica a cronicidade e ausência de cura
com tratamentos atuais. Embora acometa a parede intestinal provocando severo
processo inflamatório e conseqüências graves, o organismo pode ser afetado de
forma geral, com manifestações até mesmo extra intestinais (QUILICI, 2002).
Segundo Zozoya apud Santos e Sebastiani (1996), a doença crônica é um
estado que apresenta uma ou mais das características a seguir: que seja
permanente; que deixe incapacidade residual, que produza alterações patológicas
34
não reversíveis, que requeira reabilitação ou que necessite períodos longos de
observação, controle e cuidados, assim como quando os recursos terapêuticos
existentes são insuficientes para assegurar a cura.
As doenças crônicas podem dificultar o retorno do paciente ao mercado de
trabalho, gerar problemas financeiros, comprometer a relação do paciente com seus
familiares e diminuir o prazer de diferentes atividades (SMITH, NICASSIO e
TAYLOR apud GUIMARÃES, 1999).
A doença emerge como uma agressão abala a condição do ser humano e
torna o futuro incerto. (SANTOS e SEBASTIAN, 1996).
Ser sujeito de uma doença, de um infortúnio, para quem quer que seja, é um
fato infinitamente injusto e que necessita de sentido, de compreensão a partir de
uma cadeia de causas e efeitos, isto é, precisa ser explicado (SINDZINGRE, 1991,
apud CREPALDI, 1999).
Nesta categoria observa-se o conhecimento que os pacientes entrevistados
possuem acerca da DII. A maioria revela que ao receberem o diagnóstico não
sabiam do que se tratava, mas pesquisaram sobre o tema. Como aparece a seguir:
“Eu não sabia do que se tratava...” (S5).
“Comecei a pesquisar na Internet, converso muito com meu médico, procuro
sempre outras pessoas que também sofrem dessa doença para trocar idéias
e receitas” (S5).
“Hoje, sei que é uma doença crônica que não tem cura...” (S5).
“Pesquiso muito sobre esta doença” (S1).
“Comprei livros, entro sempre na Internet e sou sócia da Associação Brasileira
de Crohn” (S1).
“Pesquisei bastante sobre essa doença” (S2).
“Sempre converso muito com meu médico e junto da minha família
procuramos nos informar através da Internet e lendo revistas sobre o assunto”
(S2).
35
Uma preocupação fundamental do ser humano esta, a na tentativa de
atribuição de sentido para a doença (CREPALDI, 1999).
A partir do conhecimento apropriado sobre a doença, percebe-se uma
melhora significativa no estado de saúde do paciente. Este tem direito irrestrito de
ser informado a respeito da sua patologia, medicações prescritas, procedimentos
necessários, riscos, contra-indicação e prognóstico. Tal direito encontra-se no código
de Ética do Hospital Brasileiro e no Código de Ética Médica (CAMPOS, 1995).
Outros pacientes expressaram certa insegurança quanto ao conhecimento
referente de seu diagnóstico, como:
“Pelo que sei é uma doença que causa infecção nos intestinos, não sei muita
coisa” (S6).
“Não sei muita coisa, sei que é uma inflamação que destrói todas as camadas
do intestino” (S4).
“Sei que é uma doença inflamatória do intestino e que não possui cura
atualmente, somente um tratamento que faz com que o paciente viva melhor”
(S3).
“Parece que alguns casos pode melhorar com cirurgia” (S3).
A falta de informações pode desencadear estado de ansiedade, medo,
insegurança e angustia. Ao contrário, o individuo mais informado acaba realizando
de forma mais adequada o tratamento (SANTOS e SEBASTIAN, 1996).
Segundo Ferreira (2004), crônico é tudo aquilo que dura muito tempo. No
caso das doenças são aquelas que têm longa duração.
Sabendo que as DIIs são crônicas, o paciente vivência mudanças radicais em
sua vida e não pode ficar alheio a estas doenças, pois estas apresentam sintomas
que podem debilitar (SGANZERLA, 2003).
36
3ª Categoria – Os Antecedentes da Doença “eu passava por vários
períodos de estresse e ansiedade onde priorizava tudo, menos a mim mesma”.
O tipo da doença e a época da vida em que adoece têm muito haver com a
história do individuo. A biologia de cada paciente explica as suas possibilidades de
adoecer (PEREZ, 1992, apud DIAS, 1994).
Nas falas a seguir verifica-se tal fato:
“Minha vida antes da doença, antes de descobrir que tinha Crohn era mais
voltada para o trabalho, eu passava por vários períodos de estresse e
ansiedade onde priorizava tudo, menos a mim mesma” (S2).
A ansiedade é definida como um estado de humor desconfortável, uma
apreensão negativa em relação ao futuro, uma inquietação interna desagradável.
Repetidos momentos de ansiedade indicam elevados níveis de estresse. Este pode
causar distúrbios em todos os órgãos e sistemas. No trato gastrintestinal, múltiplas
desordens são passíveis de acometimento: anomalias motoras, lesões da mucosa
das vísceras ocas, alterações secretórias, ocorrências estas, capazes de agravar
uma DII(ATKINSON et al., 2000).
“Sempre tive uma vida muito estressante” (S5).
O estresse, segundo Lazarus e Folkman (1984) apud Guimarães (2001), é
uma relação entre a pessoa e o ambiente, avaliada por ela como exigente ou
excedente a seus recursos pessoais de enfrentamento e ameaçadoras de seu bemestar.
37
“Minha vida antes? Eu podia comer muita coisa, hoje eu não posso, eu tinha
menos problemas, apesar do estresse que sempre me acompanhou” (S5).
“Antes era muito boa a minha vida, normal como qualquer outra pessoa. Meu
estresse era no casamento, brigava muito com minha mulher. Por isso tive até
uma relação fora do casamento” (S3).
Percebe-se com os depoimentos anteriores a presença constante de estresse
na vida de tais pacientes.
Os aspectos psicológicos representam um fator importante nas DII(s).
Pesquisas indicam que o estresse exerce efeito adverso diretamente sobre o trato
gastrintestinal. O estresse é desencadeador de 75% dos ataques de RCUI, mas há
fortes componentes emocionais, em outras ocasiões, que não desencadeiam um
ataque da doença. Percebe-se que os fatores emocionais devem ser vistos como
elementos com contribuidores e precipitadores da melhor ou pior fase da doença.
(AIRES, 2006).
Na doença de Crohn é a ansiedade, a emoção com maior influencia nos
indícios científicos. Repetidos momentos de ansiedade indicam altos níveis de
estresse. O estresse pode levar a ulceração do trato gastrintestinal provocando,
como já citado anteriormente, sinais de DII (AIRES, 2006).
O grau em que a pessoa experimenta sofrimento psicológico, ou má saúde
após situação potencialmente estressante, é determinado pelas vulnerabilidades e
virtudes biológicas e psicológicas que elas trazem para estas situações (ATKINSON
et al., 2000).
Um entrevistado relatou ser depressivo há algum tempo, como observamos a
seguir:
“... já sou depressiva há algum tempo” (S4).
38
Depressão é um transtorno de humor caracterizado por tristeza e abatimento,
diminuição da motivação e interesse pela vida, pensamentos negativos e sintomas
físicos como perturbação do sono, perda de apetite e fadiga. Sabe-se que a
depressão não resolvida pode resultar em doença e constata-se sua presença em
uma grande parcela de pacientes com doenças gastrintestinais (ATKINSON et al.,
2000).
Em outras entrevistas há relatos de vida aparentemente normal:
“Antes da doença eu era mais otimista, não tinha medo do futuro, mas vivia
sem grandes sonhos, expectativas. Eu achava que poderia conseguir tudo o
que me depusesse ir atrás” (S1).
“Eu nunca havia tido nenhum problema de saúde” (S1).
“Trabalhava bastante, comia bem, vivia bem na medida do possível” (S6).
4ª Categoria – As Conseqüências da Doença: “Hoje vivo assim, com medo
do que terei que enfrentar a cada dia”.
As conseqüências da doença referem-se às mudanças ocorridas na vida dos
pacientes decorrentes do DII.
Tais conseqüências incluem desde mudanças nos hábitos de vida cotidiana,
como alterações alimentares, alterações físicas, assim como mudanças na maneira
de pensar e suas repercussões emocionais.
Alguns pacientes relatam insegurança diante do futuro, pois dependem de
como será a evolução de seu problema de saúde.
O paciente passa a viver em função da doença. Tudo fica sem graça, vazio, o
desânimo toma conta e assim inibe suas atividades (LIMA et al., apud SANTOS e
39
SEBASTIAN, 1996).
“Com a doença veio à depressão primeiramente, tive anorexia nervosa e não
queria mais nem sair de casa” (S1).
“Atualmente devido aos medicamentos, as quantidades excessivas de
medicações, assim como o excesso de evacuações, dor intensa, não consigo
ter uma vida normal” (S3).
É interessante ressaltar que tanto os comportamentos quanto os
sentimentos a esses relacionados, apresentados pelos portadores de alguma
doença, são provenientes do processo psicológico envolvido no adoecer, que
abrange a reconstrução da identidade social desses indivíduos (GUIMARÃES,
1999).
“Estou sempre angustiado, com medo, inseguro diante da possibilidade de
piora” (S3).
“Com a medicação me sinto muito sonolenta, tonteiras, muitas vezes a
memória fica lenta” (S4).
“Isso tudo me trouxe uma depressão” (S5).
Ao tratar um paciente deprimido, nunca se deve desconsiderar a gravidade de
sua perda, a limitação de sua capacidade de sentir prazer e a intensidade de sua
tristeza, pois esse experimenta vibrações extremas de emoções desagradáveis.
Sendo assim, os indivíduos deprimidos distorcem suas interpretações dos
acontecimentos, de modo que eles mantêm visões negativas de si próprio, do
ambiente e do futuro (BECK, 1997, BARLOW, 1999).
“Minha vida se tornou uma batalha” (S5).
“Eu desabei” (S5).
“Hoje vivo assim, com medo do que terei que enfrentar a cada dia” (S3).
40
“Sou depressiva, dependente dos meus filhos” (S4).
“Fico muito angustiada de ter que tomar remédios meu sonho é me livrar de
tudo isso” (S5).
A doença é muitas vezes percebida pelo paciente como sofrimento, limitação
física, ataque à integridade e impedimento a realização das atividades normais,
rotineiras, além de colocar o individuo numa condição de dependência a outras
pessoas (JEAMMET et al., 2000).
Segundo Angerami-Camon (1995), o desenvolvimento do quadro clínico de
uma doença crônica torna seu portador alguém socialmente excluído da competitiva
sociedade atual. Assim, o indivíduo acometido por uma enfermidade crônica,
geralmente entra em desespero frente a sua nova realidade.
O individuo precisa adaptar-se a novas rotinas, mas a experiência de ter que
modificar alguns hábitos é particular, pois cada pessoa percebe e reage de uma
maneira.
Assim, percebe-se na presente pesquisa, que algumas pessoas têm menor
dificuldade para lidar com as mudanças do que outros com o mesmo problema,
como constatamos nas unidades de registro a seguir:
“Hoje por causa ou graças à doença, mudei bastante o meu modo de vida’
(S2)”.
“Houve também uma mudança na forma de pensar, passando a ser
extremamente a paz de espírito e o equilíbrio” (S2).
“Ironicamente tenho uma qualidade de vida que me faltava anteriormente”
(S2).
“Agora faço terapia. Tenho planos, o que não permitia ter e vivo uma vida
normal como qualquer outra pessoa” (S1).
“Estou revivendo anos que me restringi e hoje vejo que não precisava ter me
poupado tanto” (S1)
41
Com base nos relatos acima, verifica-se que embora as DII(s) provoquem
inúmeras restrições e cuidados aos seus portadores, é possível a adaptação dos
mesmos a nova realidade.
Em alguns relatos, os pacientes assumem uma posição de passividade, de
conformismo diante do seu prognóstico como podemos conferir a seguir:
“Esteticamente não estou no meu normal, mas tenho plena consciência que
vai passar. Não se tem como fazer omelete sem quebrar os ovos” (S1).
“Sei que me faz mal e procuro evitar para meu próprio bem” (S6).
Segundo Stedeford apud Fongaro e Sebastiani (1998), a aceitação é uma
avaliação realística da situação clínica, com a determinação de se ajustar da forma
mais adequada possível. Dessa maneira, o indivíduo adquire uma postura ativa no
decorrer do tratamento.
“Agora sei o que tenho e vou me cuidar” (S4).
“Hoje, para mim é levar uma vida normal, tive que fazer algumas restrições,
mas consegui me adaptar dentro do possível” (S6).
“Tive que por na cabeça que não posso cometer exageros com a
alimentação” (S6).
“Minha vida esta próxima do normal, apenas procuro tomar alguns cuidados”
(S6).
A adaptação do paciente ao estado clínico só será possível a partir da
conscientização do mesmo acerca de sua doença, e da necessidade de tratamento
permanente, com mudanças na alimentação e nos comportamentos. Sendo assim, é
interessante que o paciente tivesse apoio psicológico, um clima favorável para falar
de seus medos e perdas. Pois, tende conseqüentemente a ampliar a possibilidade
42
de melhoria na qualidade de vida (MACIEL, 2002).
5ª Categoria – O Tratamento “Com medicamentos é difícil, sem eles seria
terrível”.
O tratamento das DIIs tem como objetivo tratar infecções, diminuir a atividade
inflamatória da doença, melhorar o estado nutricional, tentar aliviar os abalos
emocionais, buscando uma melhor qualidade de vida sempre. Isto visando à
remissão dos sintomas e a manutenção da mesma (GOLIGHER, 1990).
A Organização Mundial da Saúde através do Grupo Qualidade de Vida definiu
mesma como a percepção do indivíduo da sua posição na vida, no contexto do
sistema cultural e de valores em que ele vive e em relação a seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações (FLECK , 2000).
De acordo com a gravidade da doença é indicado um vasto arsenal
terapêutico, como compostos nutricionais e corticóides, entre outros. Em casos
específicos pode ser necessário o tratamento operatório, o qual é composto por
diversas técnicas e cirúrgicas (QUILICI, 2002).
Observa-se que durante o curso das DII(s), tanto a RCUI, quanto a DC
provocam um estigma semelhante entre seus portadores durante o curso das DIIs. A
partir da literatura verifica-se que tal fato se diferencia somente quando as DIIs
evoluem para quadros extremos. Pois, em alguns casos restritos da RCUI, aqueles
muito graves, os quais não respondem ao tratamento ou quando há sangramento ou
diarréia em demasia, ou até mesmo risco de câncer, os pacientes têm a
possibilidade de uma alternativa extrema que é uma operação cirúrgica conhecida
como Procto-colectomia total com bolsa ileal. Esta compreende uma técnica que
remove todo o cólon e o reto e a bolsa ileal realiza o papel de um reservatório que
43
possibilita a constituição de um novo reto, permitindo a continência evacuatória.
Mas, esta técnica é indicada somente em situações extremas, pois embora atinja um
bom resultado, é uma intervenção de elevada morbidade (KEIGHLEY et al., 1999).
Porém, mesmo diante do grande risco que acompanha o radicalismo do
procedimento descrito acima, esta é uma alternativa que possibilita certa diminuição
do estigma que afeta os portadores de RCUI, pois estes quando atingem o sucesso
cirúrgico, conseguem ter uma sobrevida melhor. Já em relação aos indivíduos
acometidos por DC, isso não ocorre, pois estes em situações de extrema gravidade
não podem ser beneficiados pela mesma intervenção. Isso se explica pela região
anatômica que tais patologias acometem, sendo que a DC engloba todo o tubo
digestivo, ou seja, da boca até o canal anal. Desta forma fica impossibilitada de
realizar tal procedimento aumentando o estigma diante da imprevisibilidade da
doença.
Por ser um tratamento muito rigoroso o paciente passa por várias restrições,
provocando sensação de impotência diante a doença. Como podemos observar nos
relatos abaixo:
“Sei que vou ter que fazer tratamento sempre” (S2).
“Terei que fazer tratamento à vida toda, sempre buscando uma melhor
qualidade de vida” (S3).
A avaliação da qualidade de vida valoriza a perspectiva do paciente em
relação a várias dimensões da sua existência, e não só em relação à intensidade
dos sintomas da doença (FLECK, 2000).
“Deve ser tratada, pois não há cura e pode levar a morte” (S4).
44
“Tenho que tomar remédios e me cuidar o tempo todo” (S6).
“Estou me tratando há alguns anos e penso que se com medicamentos é
difícil, sem eles seria terrível, bem pior” (S3).
O problema de adesão ao tratamento é mais evidente nas doenças crônicas,
pois a relação da doença com a possibilidade de tratamento tem forte impacto no
estilo de vida do seu portador (KERBAUY, 2001).
É importante para o paciente fazer o tratamento para que as crises não
voltem, ou se isso acontecer, que os intervalos entre elas sejam mais prolongados.
Pois esses indivíduos estão sempre em estado de alerta contra novas crises o
tempo todo (SGANZERLA, 2003).
Segundo Dattilio e Freeman (1994) apud Miyazaki et al. (1998), aplicação da
terapia cognitiva comportamental é útil para intervenções em crises semelhantes.
Envolvem contexto de apoio, informações sobre a doença, e o tratamento,
desenvolvimento de estratégias de enfrentamento e relaxamento. Desta maneira é
necessário compreender o impacto da doença crônica sobre o paciente,
desenvolvendo estratégias que procurem aumentar sua qualidade de vida.
A boa relação médico paciente tem provado ser um prenúncio de uma melhor
evolução para os pacientes com DIIs, pois o sucesso do tratamento está diretamente
ligado à qualidade da relação terapêutica.
O portador de uma enfermidade crônica necessita de constantes cuidados
exigidos pelo tratamento. Assim requer contato freqüente com seu médico, por isso,
é fundamental que se estabeleça um bom relacionamento entre o profissional e
paciente para que o tratamento seja realmente eficaz. Pois, faz com que o individuo
sinta-se mais seguro (SANTOS e SEBASTIÃO, 1996).
Segundo Meleiro (1999), a qualidade da relação médico-paciente depende da
45
estrutura psicológica de ambos. A relação deve ser adequada a cada paciente,
variando também de acordo com as modificações que a doença provocar na
situação vital do mesmo.
As habilidades do paciente e do médico são importantes para estabelecer
relacionamentos positivos e aliança para o tratamento. Esta aliança implica interação
pós-social entre médico e paciente, acesso do profissional a um conjunto de
informações sobre os modos de lidar com a doença e tomadas de decisão mútua
sobre o manejo de dificuldades encontradas pelo paciente e sua família, para seguir
o tratamento (MELEIRO, 1999).
Nos relatos abaixo os pacientes expressaram essa importância da relação
médico/paciente:
“O meu tratamento é confiar no meu médico” (S1).
“Eu confio no meu médico” (S5).
“O negocio é fazer o que o médico mandar” (S6).
“No meu tratamento tenho que ter paciência, coragem e confiança no meu
médico” (S4).
Um outro aspecto a ser observado refere-se aos efeitos psicológicos do uso
de corticóides que vão desde insônia, agitação, habilidade emocional, aumento de
peso entre outros, como fica evidente nas falas abaixo:
“Sei que passei a tomar cortisona e essa medicação me incha muito. Perdi
minhas roupas” (S5).
“O tratamento que fui submetida é à base de corticóides, mas tive problemas
por causa da ulcera” (S4).
“Meu tratamento é a base de cortisona, foi bastante chocante” (S1).
Devido à complexidade do tratamento dos DIIs e das possíveis complicações
46
clinicas, o paciente acaba demonstrando forte abalo emocional diante das diversas
formas de intervenções, como observação nas falas a seguir:
“Já usei há cinco meses, bolsa de colostemia”. É degradante, enlouquecedor’
(S1).
“Sempre procurando um tratamento menos traumatizante e eficaz” (S1).
“Faço acompanhamento psicológico também” (S1).
De acordo com a teoria cognitiva comportamental, se analisarmos a doença e
a saúde, vemos que existe o evento claro que é o diagnóstico confirmado. Assim
avalia o que é possível fazer em um futuro próximo ou distante, de acordo com as
descobertas científicas disponíveis. Em seguida observa como a pessoa percebe e
descreve sintomas físicos em intensidade e interferência na vida, depois como a
própria pessoa, e o ambiente relacional, reage diante das soluções possíveis, se
reclamam, aceitam, encorajam ou rejeitam. Dessa forma, o psicólogo através de
tarefas, questionamentos e observações, pode favorecer a eficácia de um
tratamento (KERBAUY, 2001).
“Fui submetida a uma cirurgia para retirada de um segmento do intestino
delgado” (S2).
“Há anos atrás passei por uma cirurgia que remove todo cólon e o reto, eu
acho que é isso” (S6).
De um modo geral o clinico deve se conscientizar de que esses pacientes
necessitam de uma relação com seus médicos que valorize os transtornos afetivos
emocionais. O acolhimento, a capacidade de escutar as angústias de tais pacientes,
o esclarecimento e até saber encaminhá-los ao acompanhamento psicológico, no
momento certo, pode facilita uma evolução mais satisfatória para estes enfermos
47
(ANDRADE e MESQUITA, 2000).
6ª Categoria- Os Sentimentos “São muitos sentimentos, uma confusão”
Correspondem às repercussões emocionais relacionadas às DIIs.
Sentir não é agir, a ação é resultado de uma escolha. Sentir é a interação do
organismo sujeito com o ambiente. Para que se compreenda essa interação existe
uma palavra chave: a comunicação (ANDRETTA, 2003).
Skinner (1995) apud Andretta (2003) observa que, sensorialmente, sabemos
o que estamos sentindo, pois existem contradições corporais ocorrendo. Sendo o
sentimento um estado corporal, e um privado, ele adverte que não se trata de
estímulos
determinantes
do
comportamento,
mas
sim
subprodutos
das
contingências de reforçamento.
De acordo com a análise do comportamento, os sentimentos relatados e
descritos, indicam o que tem ocorrido na história pessoal e o que a pessoa pode
fazer, ou precisa apreender, além de como está à desorganização de seu
comportamento após o diagnóstico. Muitas vezes o paciente se revolta até aceitar
um diagnóstico e entra em processo de combate a doença (KERBAUY, 2001).
“Meus sentimentos se misturam. Sinto insegurança, desconforto, medo,
angustia um pouco deprimida, como se estivesse de mãos amarradas diante
da própria vida” (S3).
“Me sinto muito angustiada” (S4).
“O primeiro e mais forte sentimento que surge é o medo” (S2).
“A ansiedade também me acompanha” (S2).
“Me sinto um pouco perdida e angustiada” (S5).
“Fico muito ansiosa” (S5).
48
Segundo Folks et al., (2000), a tensão emocional pode influir no curso e na
evolução das DIIs. A ansiedade é uma das manifestações mais freqüentes na
emocionalidade das pessoas.
Segundo Keller e Schoenfeld (1950) apud Kerbauy (2001), em uma situação
de doença diagnosticada, mas nem sempre aceita, e com conseqüências claras para
a programação da vida do indivíduo, este costuma usar uma linguagem carregada
de palavras que descrevem emoção, e não ação.
“São muitos sentimentos, uma confusão” (S5).
“Eu sinto um forte estigma que tudo pode voltar” (S6).
“Sinto uma certa angustia com cada sinal novo” (S6).
“Fiquei muito revoltada, cheguei até não colaborar com o tratamento no inicio”
(S5).
“Às vezes choro, em outras vezes me conformo” (S5).
Como podemos observar, nos relatos acima, os pacientes da DIIs enfrentam
um índice elevado de estresse, inicialmente pelo diagnóstico da patologia e suas
conseqüências físicas, seguidas pelas dificuldades terapêuticas, o índice de
recidivas e ainda a cronicidade (QUILICI, 2002).
A resposta mais comum a um extressor, é a ansiedade. Por ansiedade,
entende-se a emoção desagradável caracterizada por palavras como preocupação,
apreensão, tensão e medo. É uma das emoções mais perturbadoras que as pessoas
podem sentir (ATKINSON et al, 2000).
Percebe-se que o paciente com DII apresenta medo diante ao estigma da
doença, assim como a ansiedade citada anteriormente. Porém medo e ansiedade
não são sinônimos. O medo é um sentimento de inquietude, um sinal de alerta frente
49
uma ameaça conhecida, não conflituosa, A ansiedade é sentido diante de uma
ameaça, tendência de esquiva e fuga, é uma resposta a situações percebidas como
estressantes, ameaçadoras (ARNOLD, EYSENCK e MEILI, 1982, CABRERA e JR,
2002, KAPLAN, 1997, GUIMARÃES, 2001).
A partir do surgimento de uma doença crônica, o paciente sofrerá uma série
de perdas, levando-o a um esfacelamento total de sua vida, tanto física, orgânica,
quanto social. Assim instala-se uma situação traumática na vida do paciente
(MACIEL, 2002).
De acordo com a teoria comportamental e cognitiva, a doença crônica envolve
ameaças e mudança no estilo de vida, criando uma situação de estresse para seus
pacientes. A adaptação à doença, e a forma que o paciente a enfrenta, dependem
de vários fatores, como dor, mudanças na aparência e tipo de tratamento necessário
(SERAFINO, 1994, apud MIYAZAKI et al., 1998).
O sentimento se torna uma pista para a realização da análise funcional,
indicando as condições que o afetaram, o comportamento presente e as condições
que afetarão no futuro (ANDRETTA, 2003).
A angustia é outro sentimento muito presente no paciente de DII. É uma
sensação de mal estar intenso, desespero, diante de um perigo vago. Pelo qual a
pessoa se sente impotente (SILLAMY, 1998).
Os pacientes acometidos por DIIs são submetidos a indesejáveis mudanças,
as quais podem provocar uma ameaça a sua identidade. Assim observa-se o
isolamento social como uma das reações emocionais. A fala a seguir demonstra tal
fato:
“Me sinto limitada” ( S1).
50
“No começo eu não conseguia sair de casa, tinha medo de eclodir outra crise”
(S1).
“No inicio foi bastante chocante” (S1).
“Fico com medo de ser surpreendida por uma nova crise” (S4).
A partir de diversos estudos verificamos nas DII(s), que a cronicidade da
doença, e o quadro clínico, acarretam conflitos sociais e freqüentemente afetam a
qualidade de vida destes pacientes interferindo com seu trabalho, lazer e
relacionamento sociais, e sexuais (ANDRADE e MESQUITA, 2000).
As DIIs podem levar seus portadores a distúrbios emocionais e mesmo a
depressão, fato que fica evidente nos relatos a seguir:
“Com a doença veio à depressão primeiramente” (S1).
“Sou muito depressiva” (S4).
“No começo me deprimiu muito, fiquei mal” (S5).
As queixas gastrintestinais fazem parte da constelação de sintomas
somáticos presentes em grande parte dos pacientes com depressão. A influência
dos distúrbios emocionais, sobre a função gastrintestinal, foi demonstrada
inicialmente através da observação de pacientes com erosões e ulcerações
gástricas e, posteriormente, através de estudos da psicofisiologia gastrintestinal. O
sistema nervoso central, e o trato gastrintestinal, interagem de forma bidirecional. Da
mesma maneira que as informações ambientais, e psicológicas, afetam o
funcionamento do trato gastrintestinal, alterações nas condições gastrintestinais
poderão afetar o SNC influenciando a percepção da dor, o humor e outras funções
mentais (ANDRADE e MESQUITA, 2000).
Observa-se também que é fundamental manter a esperança do paciente, pois
51
esse é um fator que favorece a recuperação, possibilitando prognóstico melhor ao
mesmo (ABRÃO, 1987 apud CAMPOS, 1995).
É possível verificar isto nas seguintes falas:
“Mas ao mesmo tempo me sinto com uma enorme vontade de buscar uma
nova maneira de conviver essa doença” (S3).
“Com o tempo fui me conformando” (S5).
52
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo procurou identificar as repercussões emocionais nos pacientes
portadores de Doenças Inflamatórias Intestinais e, ao final do mesmo, constatou-se
que:
•
As repercussões emocionais podem influenciar o quadro clínico dos
pacientes com DIIs.
•
A maioria das falas demonstrou insegurança diante da imprevisibilidade do
seu prognóstico, pois os pacientes se sentem limitados, apresentam
isolamento
social
decorrente
das
crises
inesperadas,
sendo
assim
transformam seu cotidiano numa batalha repleta de sofrimento.
•
Há entre os sujeitos estudados, maneiras diferentes de reagir frente às
restrições impostas pelas DIIs. É válido destacar o relato de um paciente que
demonstra, por mais incrível que possa parecer, que sua qualidade de vida
melhorou após o diagnóstico de DII, pois, alterou toda sua forma de ver a
vida, inclusive sua maneira de pensar.
•
Fatores emocionais podem ser considerados precipitadores da doença
quando negativos, mas devem ser vistos também como fortes elementos
contribuidores de melhora, quando positivos.
•
Cada indivíduo percebe e reage de diferentes maneiras, confirmando que
pensamentos influenciam comportamentos e sentimentos das pessoas e,
embora essas patologias provoquem muitas restrições na vida de seus
53
portadores, é possível haver adaptação à nova vida.
•
O caráter crônico e as dificuldades terapêuticas relacionadas às DIIs, causam
aos pacientes um constante estresse emocional, pois eles necessitam
adaptar-se a uma nova realidade, uma nova rotina.
•
Há uma diversidade de emoções que acometem os pacientes das patologias
em questão. A ansiedade, angustia, medo, insegurança entre outras, estão
presentes no dia a dia destes pacientes.
•
A depressão foi à repercussão emocional que predominou entre os sujeitos
entrevistados.
•
Considerando que as DIIs têm caráter multifatorial, a análise dos dados
demonstrou que há casos onde os antecedentes podem influenciar na
eclosão da doença, pois a época da vida em que adoece tem muito a ver
com a história do individuo. Um exemplo está no caso de um dos
entrevistados onde a tensão emocional desencadeou a doença, pois o sujeito
passou por um estresse e em seguida eclodiu a Doença de Crohn.
•
Os portadores são acometidos por um estigma extremamente elevado que
acompanha todo processo de desenvolvimento da doença, desde o
conhecimento do diagnóstico, seguido pelas modificações e restrições que os
mesmos necessitam realizar em suas vidas, pelas dificuldades terapêuticas,
além da cronicidade destas patologias.
•
O curso das DII(s), tanto a RCUI, quanto a DC provocam um estigma
semelhante entre seus portadores durante o curso das DIIs. Neste estudo a
semelhança na distribuição das unidades de registro encontradas, confirma
54
este fato.
•
O tratamento das DIIs visa uma melhor qualidade de vida dos pacientes
tentando alcançar a remissão dos sintomas e possibilitar a sua manutenção.
Nos relatos dos pacientes entrevistados, os mesmos demonstraram forte
abalo emocional e dificuldades com o tratamento.
•
O indivíduo quando ciente do seu diagnóstico e tratamento conseguirá
maiores chances de sucesso em seu quadro clínico, pois realiza de maneira
mais adequada o seu tratamento.
•
Pacientes que não possuem as informações corretas demonstram certa
insegurança diante a imprevisibilidade do seu problema.
•
A falta de informações pode desencadear estado de ansiedade, medo,
insegurança e angustia e assim acaba atrapalhando o processo do
tratamento.
•
A importância da relação médico-paciente é vista como garantia para o
sucesso do tratamento, pois considerando que as DIIs são crônicas é
necessário estar em constante contato com o médico. Dessa forma é
fundamental que o indivíduo confie no seu médico para obter melhores
resultados e sentir-se mais seguro.
Diante dos dados analisados, e considerando que as DIIs apresentam fortes
estigmas médicos e sociais, torna-se fácil concluir o quanto são vastas as
possibilidades de repercussões psicológicas. Assim, arrisca-se concluir que os
pacientes portadores de DIIs apresentam fortes abalos emocionais por seus
aspectos limitantes e caráter incurável, afetando o indivíduo de forma social.
55
Negativas reações emocionais e clínicas são ainda habituais nos citados
pacientes. Obvio, portanto, valorar-se o fato da influência maléfica, ou benéfica
dos fatores psicológicos.
Segundo Dattilio e Freeman (1994) apud Miyazaki et al. (1998), a aplicação
da terapia cognitiva comportamental (TCC) é útil para intervenções em casos
semelhantes. Envolvem contexto de apoio, informações sobre a doença, e o
tratamento, desenvolvimento de estratégias de enfrentamento e relaxamento. Desta
maneira é necessário compreender o impacto da doença crônica sobre o paciente,
desenvolvendo estratégias que procurem aumentar sua qualidade de vida, assim
como auxiliá-lo a identificar seus pensamentos, atitudes, crenças e comportamentos
pouco adaptativos.
Sendo assim, acredita-se na importância do trabalho do psicólogo junto aos
pacientes de DIIs. Pois, um trabalho terapêutico tem como função básica à
promoção de mudanças comportamentais que levam a diminuição do sofrimento, e
ao aumento de contingências reforçadoras (VERMES E MEYER, 2001).
Este profissional pode atuar visando à promoção do bem-estar psicológico da
pessoa que está enfrentando a doença, compreendendo os mecanismos usados
para tratá-la, contribuindo, dessa forma, para maior adesão ao tratamento e
humanização do atendimento aos portadores. Porém, há ainda muitos caminhos a
serem percorridos e, a partir das questões referentes a essa temática, a
necessidade de outros estudos torna-se importante como forma de ampliar ainda
mais o conhecimento que a Psicologia pode dar e também como forma de promover
a troca de experiências com as demais áreas envolvidas.
56
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60
7 ANEXOS
61
8 APÊNDICES
62
APÊNDICE 01
A Clínica Gastromed situada à Rua Engenheiro Rebouças, número 614 na
cidade de Foz do Iguaçu está ciente de que serão realizadas entrevistas a fim de
identificar as repercussões emocionais em pacientes portadores de doenças
inflamatórias intestinais (DIIs). Os dados coletados poderão ser utilizados tanto para
fins acadêmicos, como para publicação em eventos e/ou revistas científicas por
professores idôneos no ensino de seus alunos do Curso de Psicologia da UNIVALI.
Por serem voluntários não terão direito a nenhuma remuneração, e os dados
referentes a estes profissionais serão mantidos em sigilo.
Local:_______________________________________Data:_________________
Assinatura (de acordo):________________________
63
APÊNDICE 02
Entrevista n _______________
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
- Sexo:
- Idade:
- Grau de instrução:
- Profissão:
- Estado civil:
- Procedência
- Diagnostico médico:
( ) Retocolite Ulcerativa Inespecifica ( ) Doença de Crohn
ROTEIRO DE ENTREVISTA:
1 Há quanto tempo você possui este diagnóstico?
2 Qual o conhecimento que você possui desta doença?
3 Como é para você ser portador desta doença?
4 Fale a respeito de como era sua vida antes da doença e como é sua vida
atualmente.
5 Qual seu conhecimento sobre o tratamento ao qual será submetido?
6 Quais os sentimentos que surgem frente ao tratamento indicado?
64
APÊNDICE 03
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Gostaria de convidá-lo (a) para participar de uma pesquisa cujo objetivo é
identificar as repercussões emocionais em pacientes portadores de doenças
inflamatórias intestinais (DII).
Sua tarefa consistirá na participação em uma entrevista versando sobre
tempo de diagnóstico, conhecimento sobre a doença e sobre o tratamento e
aspectos da sua vida passada e atual.
Quanto aos aspectos éticos, gostaria de informar que:
a) seus dados pessoais serão mantidos em sigilo, sendo garantido seu anonimato;
b) os resultados da pesquisa serão utilizados somente com finalidade acadêmica
podendo vir a ser publicado em revistas especializadas, porém, como explicitado no
item (a) seus dados pessoais serão mantidos no anonimato;
c) não há respostas certas ou erradas, o que importa é sua opinião;
d) a aceitação não implica que você estará obrigado a participar , podendo
interromper sua participação a qualquer momento, mesmo que já tenha iniciado ,
bastando, para tanto, comunicar a pesquisadora;
e) você não terá direito a remuneração por sua participação, ela é voluntária;
f) durante a participação, se tiver alguma reclamação, do ponto de vista ético, você
poderá contar com o responsável por esta pesquisa.
g) os resultados da pesquisa serão repassados à psicóloga responsável pelo
atendimento psicoterápico na clínica que o colocará a par dos mesmos.
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IDENTIFICAÇÃO E CONSENTIMENTO
Eu_________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Declaro estar ciente dos propósitos da pesquisa e da maneira como será realizada e
no que consiste minha participação. Diante dessas informações aceito participar da
pesquisa.
Assinatura:__________________________________________________________
RG:_______________
Pesquisadora responsável: Prof. Giovana Delvan Stühler
Assinatura:_______________________________________
UNIVALI – CCS – Curso de Psicologia
Rua Uruguai, 438 – bloco 25b – sala 401
F.(047)99284041 E-mail:[email protected]
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