Fábio Teixeira D / GASTROENTEROLOGIA Remédios da nova era Indivíduos que sofrem com a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa têm um novo aliado na árdua batalha que travam contra estas debilitantes enfermidades A doença de Crohn (DC) e a retocolite ulcerativa (RCU) são caracterizadas por uma inflamação crônica no trato alimentar, podendo se manifestar desde a boca até o ânus. Quando as bactérias nocivas presentes no nosso intestino saem do controle do organismo, o sistema imunológico (células de defesa) entra em ação na tentativa de eliminar os agentes agressores. No entanto, nos portadores dessas doenças inflamatórias, uma vez ativado, o sistema de defesa nunca se desativa; isso leva a uma agressão de células boas do nosso corpo. A esse mecanismo se dá o nome de doença autoimune. “As inflamações causadas por estas enfermidades costumam inviabilizar uma vida normal para seus portadores. Internações constantes, dores, deterioração da saúde em geral, tanto no aspecto físico quanto no psicológico, sem contar as cirurgias, são dramas que os doentes têm que lidar diariamente. Trabalho e vida social quase inexistem” atenta o gastroenterologista e proctologista Fabio Vieira Teixeira. Contudo, há cerca de uma década o protocolo de tratamento da doença de Crohn e da retocolite ulcerativa sofreu uma mudança revolucionária que promete devolver a qualidade de vida para seus usuários. A chamada terapia biológica, baseada em anticorpos, vem mostrando na prática que pode diminuir drasticamente as avassaladoras inflamações características dos portadores destes males. NOVO TRATAMENTO Para aqueles que possuem a pré-disposição genética para desenvolver DC ou RCU, o sistema imunológico não consegue se “desligar”, mesmo depois que as bactérias nocivas morrem, o que causa a forma crônica da doença. Contudo, a nova terapia biológica promete revolucionar o tratamento destas doenças. “Antes fadados ao sofrimento, pacientes agora apresentam melhoras substanciais em poucos meses. As inflamações crônicas hoje podem ser controladas, permitindo que o paciente leve uma vida normal”, informa o especialista. O TNF-alfa (TNF, do inglês: tumoral necrosis factor – fator de necrose tumoral) é o grande responsável pela revolução no tratamento. Desde meados da década de 1990 se passou a conhecer seu importante papel como mediador da resposta inflamatória no intestino humano. “O TNF é tido como o maestro da orquestra da resposta imune, que nestes pacientes é descontrolada; bloqueá-lo não levaria a parada completa da sinfonia da resposta inflamatória, porém, causaria um desarranjo suficiente para impedir o andamento da música, quer dizer, parar as células de defesa que estão des- Antes e depois controladas”, afirma Teixeira. Nos Estados Unidos, o infliximabe foi aprovado pelo FDA (Food and Drugs Administration) para o uso em portadores de Crohn no ano de 1998. No Brasil, a droga foi aprovada pela ANVISA (Agência Nacional de Saúde – Ministério da Saúde) para uso em doença de Crohn em 2000, e para uso em portadores de retocolite ulcerativa em 2006. O adalimumabe, outro agente anti-TNF, foi aprovado pela ANVISA para uso na DC em 2007. No início da experiência clínica com esse novo tratamento, essas drogas eram usadas em último caso. Normalmente quando o paciente já se encontrava em um estado clínico muito ruim. Contudo, recentemente, estudos clínicos evidenciaram que, em alguns casos, devemos utilizar essas drogas biológicas mais precocemente – o que se passou a chamar terapia top-down. Hoje existe evidência científica que as drogas biológicas podem mudar a história natural da DC e da RCU. “O objetivo de cada cientista, cada pesquisador, cada médico, pelo menos neste caso, foi alcançado. O paciente, antes incapacitado, pode voltar a trabalhar; o quadro clínico, em geral, tem uma melhora real; as temidas cirurgias devido as complicações das doenças podem finalmente ser evitadas”, conclui o especialista. Fábio Vieira Teixeira é gastroenterologista com título de especialista pela Federação Brasileira de Gastroenterologia e proctologista com título de especialista pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia. É mestre em cirurgia pela UNESP e doutor em cirurgia pela Mayo Clinic, Estados Unidos. O curriculum Lattes de Teixeira, que contém dados completos é encontrado na íntegra no endereço http://lattes.cnpq.br/1601076010930392. 63 D SAÚDE