Qualidade CMA - Protocolos Elaborado em 03/03/2014 Revisão em 2 anos. Revisão em 28/03/2016 PROTOCOLO CMA POSICIONAMENTO CIRURGICO INTRODUÇÃO O posicionamento cirúrgico do paciente anestesiado deve favorecer o acesso à área a ser operada, mas deve ser tolerado estruturalmente e fisiologicamente pelo paciente. A posição cirúrgica pode ter consequências danosas com lesões associadas ao período perioperatório, podendo ser graves e permanentes e levar a consequências médico-legais. A avaliação do correto posicionamento cirúrgico tem início já na avaliação pré-anestésica e todas as manobras de posicionamento cirúrgico, uso de coxins, dispositivos e apoios deve ser corretamente registrado na ficha de anestesia. FATORES DE RISCO: - anestesia geral – perda dos mecanismos compensatórios ficando suscetível a lesões musculares e/ou nervosas e dor. Os relaxantes musculares e analgésicos potentes podem retardar o diagnóstico de lesões com origem no intraoperatório; - idade - os pacientes em idade avançada ou muito jovens podem ter a pele mais sensível e maior probabilidade para desenvolver lesões cutâneas; - peso - Obesidade e o sobrepeso podem potencializar as complicações decorrentes do posicionamento e o baixo peso acarreta a exposição acentuada de proeminências ósseas do paciente, regiões mais suscetíveis ao aparecimento de lesões de pele; - imobilidade ou problemas de mobilização - além de dificultarem o posicionamento cirúrgico, favorecem a trombose venosa e surgimento de pontos de pressão; - hipotermia - aumento da demanda tecidual de oxigênio favorece a formação de necrose ou hipóxia dos tecidos Protocolos e Política de Qualidade CMA Página 1 Qualidade CMA - Protocolos - condições clínicas pré-existentes - diabetes mellitus, câncer, insuficiência renal, anemia no pré-operatório, doenças vasculares, respiratórias, cardiopatias ou que afetam o sistema imunológico aumentam a chance de complicações; - tempo cirúrgico prolongado - cirurgia com mais de 2 horas de duração pode acometer a oxigenação dos tecidos comprimidos e favorecer a formação de úlceras por pressão. PRINCÍPIOS: - Paciente sedado ou anestesiado deve ser colocado em posição que seja confortável enquanto desperto. - respeitar o alinhamento corporal; - implementar ações para as áreas de pressão, reduzir a fricção, cisalhamento e pressão; - checar proeminências ósseas; - selecionar e disponibilizar dispositivos de posicionamento de acordo com as necessidades de cada paciente e relacionar ao tipo e tempo cirúrgico; - Coxins de diferentes tipos de materiais (gel, silicone, pano) devem ser utilizados para aliviar e dissipar eventuais pontos de tensão sobre partes do corpo e tecidos; - realizar a movimentação, transporte e posicionamento com número adequado de profissionais de saúde e com equipamentos adequados, para que não ocorra lesões ocupacionais, bem como aos pacientes; - documentar na ficha posicionamento. de anestesia todos os procedimentos de Danos mais comuns - Membros com extremidades elevadas por tempo prolongado podem desenvolver hipoperfusão com potencial para síndrome compartimental - Flexão ou extensão excessiva da coluna por tempo prolongado pode levar ao desenvolvimento de isquemia da medula espinhal, com consequências desastrosas ao paciente. Protocolos e Política de Qualidade CMA Página 2 Qualidade CMA - Protocolos - Neuropatias periféricas com perda de função motora associada a perda sensitiva, são em geral mais prolongadas ou permanentes, quando comparadas a perda sensitiva isolada. AS POSIÇÕES CIRURGICAS 1)SUPINA - colocação de travesseiros ou apoios de cabeça e abaixo dos joelhos, os braços em ângulo máximo de 90° com o tronco, manter as pernas descruzadas, evitar hiperextensão dos pés. Complicações: - Alopecia por pressão: surge entre 3 e 28 dias de pós-operatório. Fatores de risco: ausência de coxins, hipotensão e hipotermia. - Úlceras de pressão: ocorre em regiões com proeminências ósseas salientes (tornozelo, cotovelos, região sacral, por exemplo). Fatores de risco: ausência de coxins, hipotensão, hipotermia. - Lesão plexo braquial: flexão lateral do pescoço, principalmente para o lado contra-lateral de um braço fixo junto ao corpo. - Luxação da cabeça do úmero: ocorre com abdução do braço maior que 90°, com consequente compressão axilar neuro-vascular causando neuropatia e hipoperfusão membro. - Compressão do nervo radial: ocorre por compressão externa cerca de 3cm proximal ao epicôndilo lateral do úmero, geralmente causada por faixas para conter os braços ou manguitos descalibrados em longas cirurgias. - Neuropatia ulnar: flexão do antebraço maior que 110° graus, levando a compressão do nervo pelo retináculo do músculo flexor ulnar do carpo. É a neuropatia mais comum. Os fatores de risco são sexo masculino (90%dos casos, por fatores anatômicos), obesidade e história prévia de neuropatia do nervo ulnar. - Lesão perineal: específica para mesa de tração utilizada nas fraturas de fêmur. Posicionar o pino contra a pelve, entre a genitália e o membro fraturado. TRENDELEMBURG: Alterações hemodinâmicas: aumento do retorno venoso da parte inferior do corpo e congestão da parte superior, com aumento da pressão venosa cerebral. Pode Protocolos e Política de Qualidade CMA Página 3 Qualidade CMA - Protocolos haver, cefaleia, congestão conjuntival e da mucosa nasal, mesmo em procedimentos curtos. Alterações ventilatórias: alteração da relação ventilação/perfusão pulmonar. O posicionamento em céfalo-declive pode levar ao deslizamento cefálico do paciente. Os apoios sobre os ombros (ombreiras) são geralmente locados sobre a articulação acromioclavicular e aumentam a chance de neuropatias do plexo braquial e devem ser abandonados. 2) PRONA - proteger face, olhos, nariz, lábios e queixo, favorecer o acesso ao tubo traqueal, linhas de infusão de fluidos e equipamentos de monitorização, manter o alinhamento da cabeça, pescoço e tronco; colocar coxins em formato de rolos da clavícula à crista ilíaca e sob as pernas e pés, deixar as genitálias livres, proteger os pés de hiperflexão; Complicações - Lesões de olhos e nariz por compressão direta: Manter olhos e nariz livres de pressão com uso de coxins. - Abrasão de córnea é a complicação mais comum e a prevenção deve ser feita com oclusão ocular (principal) e uso de lubrificantes (discutível). Tratamento: lubrificantes e pomadas contendo antibióticos. - Edema conjuntival: cabeça posicionada em nível abaixo ao do coração, geralmente é transitória e sem consequências. - Edema da face e pescoço: transitórios. - úlcera ou necrose do queixo, principalmente em procedimentos prolongados. - Edema da língua com risco potencial de obstrução da via aérea - Cegueira: dois tipos principais: 1. Compressão externa: leva a oclusão do fluxo venoso da retina, com consequente isquemia retiniana. Manifesta-se como cegueira monocular com edema retiniano ao exame de fundo de olho. 2. Neuropatia óptico-isquêmica; Fisiopatologia ainda pouco esclarecida, ocorre provável isquemia do nervo óptico secundária à congestão venosa aguda do canal óptico. Fatores de risco: posição prona, cirurgia de longa duração, anemia, hipotensão, sexo masculino, obesidade, uso exclusivo de cristaloides para reposição volêmica. Protocolos e Política de Qualidade CMA Página 4 Qualidade CMA - Protocolos - Lesão de mamas: evitar deslocamento lateral das mamas; priorizar alocá-las medialmente. 3) CADEIRA DE PRAIA: Evitar rotação excessiva da cabeça para lado contra-lateral (risco de lesão de plexo braquial), evitar estiramento do nervo ciático (colocar coxim/travesseiro sob os joelhos, flexionar as pernas, utilizar meias elásticas e dispositivos de compressão intermitente, diminuindo estase venosa em membros inferiores. Alterações fisiológicas da elevação do decúbito: Pressão arterial – queda de 1mmHg para cada 1cm de elevação do dorso; Queda do retorno venoso, com 20 a 40% de diminuição do débito cardíaco; Queda de 20% do fluxo sanguíneo cerebral; Queda de 30% do fluxo sanguíneo renal; Aumento do tônus simpático; Aumento da resistência vascular periférica e pulmonar. Importante pesar risco-benefício deste posicionamento em pacientes com reservas funcionais comprometidas. 4) Litotomia: manter os braços sobre apoio num ângulo máximo de 90º, acolchoar quadril, nádegas e laterais do corpo, utilizar a menor elevação das pernas pelo menor tempo possível e minimizar o grau de abdução do quadril, respeitando característica individual do paciente. Flexionar e elevar simultaneamente os membro e ao final, as pernas devem ser trazidas simultaneamente ao plano sagital e então abaixadas. Essas manobras diminuem o stress de tração sobre a coluna lombar. Manter a flexão entre tronco e pernas em cerca de 90°. Flexões exageradas levam a extensão dos ligamentos inguinais, com possível isquemia do nervo cutâneo femoral lateral e podem levar ao estiramento do nervo ciático. Lesão do nervo fibular comum por compressão direta por perneiras, logo abaixo da cabeça da fíbula. Litotomia prolongada (duração maior que 5 horas): risco aumentado para síndrome compartimental dos membros inferiores no pós-operatório imediato. Lesões e amputações de dedos da mão nessa posição com o braço fixo junto ao corpo e longe da visão da equipe. Utilizar coxins ou campos envolvendo mão como “luvas de boxe”. Recomendação: utilizar perneiras inteiriças com coxins (“tipo botas”), que diminuem compressão na fossa poplítea e distribuem melhor a pressão nos membros. Estas além de diminuir complicações como neuropatias, ulceras e alterações Protocolos e Política de Qualidade CMA Página 5 Qualidade CMA - Protocolos vasculares, permitem mobilizar os membros inferiores durante o ato cirúrgico, sem contaminação ao campo operatório. 5) LATERAL - manter o alinhamento espinhal, observar orelhas, colocar apoio sob a cabeça, tórax superior e entre as pernas, manter a perna inferior flexionada sobre o quadril e a superior esticada e com coxim entre elas. Riscos: Lesão do plexo braquial e lesões nervosas por estiramento; Paralisias por compressão direta de nervos; Alterações da relação de ventilação/perfusão pulmonar – zonas não dependentes são melhores ventiladas que as dependentes; Lesões do braço em posição inferior: compressão da artéria axilar - colocar coxim sob tórax superior e não diretamente sob axila, diminuindo a pressão sobre o ombro. Avaliar a perfusão e pulso do membro. Angulação cervical excessiva – utilizar coxins adequados para correto alinhamento cervical. 6) Posicionamento cervical e da cabeça Em qualquer posição adotada durante o procedimento anestésico cirúrgico, especial atenção deve ser dada ao posicionamento cervical e da cabeça. Consequencias graves e irreversíveis como quadriplegia e isquemia cerebral podem ocorrer. Avaliar durante a visita pré-anestésica a capacidade de flexão, extensão, lateralização e rotação da cabeça. No posicionamento evitar hiperflexão, hiperextensão, flexão lateral excessiva e rotação excessiva. Hiperflexão da cabeça e pescoço: redução do fluxo das artérias vertebrais e carótidas com hipoperfusão cerebral e isquemia medular (tetraparesia e tetraplegia). Hiperflexão lateral: diminuição de fluxo sanguíneo ispsilateral a flexão. Rotação: sempre que for necessária uma rotação maior que 45° em relação ao tronco, deve ser usado um coxim sob o ombro contralateral. REFERÊNCIAS Protocolos e Política de Qualidade CMA Página 6 Qualidade CMA - Protocolos 1 – Lopes CMM, Galvão CM. Posicionamento cirúrgico: evidencias para o cuidado de enfermagem. Ver. Latino-AM. Enfermagem. Mar-abr 2010 [acesso em 18 mar 2014]; 18(2): 08 telas. Disponivel em http://www.scielo.br/pdf/rlae/v18n2/pt_21.pdf 2 – American Society of Anesthesiologists Task Force on Perioperative Blindness. Anesthesiology 2006; 104: 1319 3 – American society of Anesthesiologists Task Force on Prvention of Perioprtative Peripheral Neuropathies: Pratice advisory for the prevention of perioperative peripheral neuropathies. Anesthesiology 2000; 92: 1168 4 – Warner AM. Patient positioning and related injuries. In Barash PG, ed. Clinical Anesthesia. 6th ed: Lippincott Williams & Wilkins, 2009. 5 – Rozet I, Vavilala MS. Risks and Benefits of Patient Positioning During Neurosurgical Care. Anesthesiol Clin. 2007 September ; 25(3): 631–x. 6 – Edgcombe H, Carter K, Yarrow S. Anaesthesia in prone position. Br. J. Anaesth. 2008. 100(2):165-83. 7 - American Society of Anesthesiologists Task Force on Perioperative Visual Loss. Practice Advisory for Perioperative Visual Loss Associated with Spine Surgery. Anesthesiology 2012; 116:274 –85 8 – Schubert A. Positioning in anesthesia: an update. Advances in Anesthesia 26 (2008) 31–65. Protocolos e Política de Qualidade CMA Página 7