1 Cultivo de rúcula nas condições do Trópico Úmido em Belém Sérgio Antonio Lopes de Gusmão1; Paulo Roberto de Andrade Lopes; Walter Velasco Duarte Silvestre; Candido Ferreira de Oliveira Neto; Danielle Souza Pegado; Carla Letícia Pará da Silva; Loana Fernanda da Silva Santos; Sandra Gonçalves Ferreira. UFRA, Av. Tancredo Neves s/n, 66077-530 Belém-PA, e-mail:[email protected]; RESUMO A rúcula (Eruca sativa) é espécie bem adaptada a condições de temperaturas amenas. No Trópico Úmido, as altas temperaturas predominam, condição desaconselhável para o cultivo da espécies. Por sua forma de plantio e ciclo, a rúcula torna -se uma excelente alternativa aos produtores de hortaliças regionais. O presente trabalho visou determinar as possibilidades do cultivo de rúcula, nas condições tropicais. Foram avaliadas épocas de cultivo, densidades de plantio e ambiente de cultivo. Não foram observadas diferenças em épocas e ambientes de cultivo. Sabor e aroma não foram limitantes ao consumo. As densidades de cultivo se mostraram elevadas, comprometendo o desenvolvimento das plantas. A cultura se mostrou altamente promissora para cultivo em condições tropicais. Palavras chave: Eruca sativa, adaptação, produção, métodos de cultivo. ABSTRACT Evaluation of rocket salad crop on the Tropic Umid condictions Rocket salad (Eruca sativa) was evaluated in high temperature conditions. The yield was satisfactory . An increase in taste and flavor was observed. The insect Neocurtilla hexadactyla was an important factor limiting on the yield. This crop could be indicated as alternative vegetable crops in tropical region. Lower plant densities should be tested in future experiments. Keywords: Eruca sativa; adaptation, yield, cultivation metods. A produção de hortaliças nas cercanias dos maiores centros consumidores do estado do Pará, é pouco diversificada. Nos últimos anos vem crescendo significativamente o número de produtores, que concentram-se em pequenos núcleos de produção, aumentando a oferta de produtos como alface, couve e condimentares. Nessas propriedades, com cerca de 2500 m2 de área, são plantadas de 5 a 8 espécies. Essa situação tem levado a uma queda crescente no poder aquisitivo dos olericultores, com elevada oferta de poucas espécies de hortaliças e total ausência ou necessidade de importação da maioria dos demais produtos consumidos na região. 2 A rúcula (Eruca sativa), embora sendo planta mais adaptada a condições de clima temperado (FILGUEIRA, 2000), preenche requisitos importantes para ser aceita no cultivo regional. Seu ciclo e forma de condução se assemelham muito aos de espécies como alface e coentro, amplamente cultivados na região. De acordo com diversos autores ( CAMARGO, 1992; TRANI et al., 1992; SANTOS, et al., 2002), o ciclo de produção da rúcula é de 45 a 50 dias. Sua adubação é composta basicamente por adubos orgânicos e fósforo no plantio e coberturas nitrogenadas durante o ciclo (NARDIN et.al,2002a; REGHIN et al. 2002; SANTOS et al., 2002), condição semelhante à utilizada em alface. A possibilidade de semeadura direta (NARDIN, et al., 2002b; SANTOS et al., 2002) é muito importante, uma vez que os olericultores da região raramente fazem uso do processo semeio-transplantio. O mercado consumidor de rúcula, embora ainda pequeno, apresenta grande potencial de crescimento, a partir de ofertas mais regulares e preços mais baixos, uma vez que o maço de rúcula pode atingir valores acima de R$ 4,00 nos supermercados de Belém. O trabalho teve por objetivo avaliar o comportamento da rúcula, em condições do Trópico Úmido Amazônico, estabelecendo possíveis limitações de cultivo e sugerir pesquisas futuras MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi realizada no Setor de Horticultura da Universidade Federal Rural da Amazônia, em Belém do Pará, região de condições climáticas típicas do Trópico Úmido Brasileiro, no período de setembro de 2002 a março de 2003. No primeiro plantio, conduzido no período de setembro a outubro de 2002, a rúcula foi plantada em canteiros, sob condições de casa de vegetação, em sulcos distanciados de 15 cm, com densidade de 0,8g de sementes por metro linear de sulco. O segundo plantio foi conduzido em condições de campo, no período de novembro de 2002 a janeiro de 2003. Foi avaliado o sistema de cultivo em sulcos ou a lanço. Os sulcos foram distanciados em 20 cm entre si, com semeio de um grama de sementes por metro de sulco. No semeio a lanço foi utilizada a mesma proporção de sementes do semeio em sulcos, totalizando cinco gramas/m2. No terceiro plantio, realizado no período de fevereiro a março de 2002, foram avaliadas três densidades de plantio (distância de 10, 15 e 20 cm entre sulcos), em proteção de túnel baixo e em condições de campo. Foi utilizado 1 g de sementes por metro linear de sulco. Nos três plantios a adubação constou de cinco litros de cama de aviário curtida e 100g de yoreen por m2 de canteiro, incorporados superficialmente no solo. A irrigação 3 utilizada foi por microaspersão, sendo feita diariamente no período sem chuvas. Não foi efetuado nenhum controle fitossanitário preventivo. No primeiro e terceiro plantios, as plantas foram colhidas aos 45 dias após a germinação. No segundo ensaio, a colheita foi efetuada aos 60 dias após a germinação. Foram colhidos dados gerais do crescimento das plantas, além de avaliada a produção por área e ocorrências no cultivo. RESULTADOS E DISCUSSÃO A condução dos três plantios, em diferentes condições de cultivo, permitiu estabelecer pontos importantes a serem observados para a cultura da rúcula, quando cultivada em alta temperatura e umidade do ar. Não foi observada nenhuma doença limitando o cultivo, ainda que a planta tenha sido cultivada em área com mais de cinco anos de cultivo de hortaliças. Por outro lado, a paquinha (Neocurtilla hexadactyla), considerada uma das pragas mais importantes na olericultura regional, promoveu danos consideráveis ao cultivo. No terceiro plantio, as parcelas cultivadas em condições de campo, foram totalmente perdidas por ação desse inseto. Observou-se ainda que, até os 30 dias de germinação, o inseto ainda provocava danos, situação pouco freqüente, uma vez que normalmente a praga só ataca plantas nos primeiros dias após a germinação. A densidade de semeadura utilizada nos três plantios foi bem superior àquela recomendada na literatura (TRANI et al., 1992; GRANJEIRO et al., 2002; REGHIN et al., 2002). Não foram observadas diferenças nos plantios em relação às épocas de cultivo. Isso pode ser justificado por não terem ocorrido variações climáticas significativas, a ponto de influenciar diferentemente no comportamento das plantas. FILGUEIRA (2000), cita que em cultivos levados a efeito em épocas quentes, as plantas emitem precocemente pendão floral e as folhas tornam-se menores e rijas. Neste trabalho, não ocorreu floração de plantas, mesmo naquelas que permaneceram até 60 dias em campo. Por outro lado, a redução no tamanho das plantas pode ser creditada, principalmente à elevada densidade de plantio, (Tabela 1), uma vez que, plantas que cresceram em maiores espaçamentos, em razão das parcelas terem sido muito afetadas por paquinhas, tiveram desenvolvimento normal, comparável aos de regiões de temperaturas amenas. A avaliação das características qualitativas se deu através de opiniões de consumidores de hortaliças, os quais não viram restrições alimentares de sabor, aroma ou textura das folhas. De acordo com CAMARGO (1992), em altas temperaturas as plantas podem tornar-se mais pungentes, além de terem aroma e sabor acentuados. 4 O trabalho mostrou que a rúcula poderá ser uma nova opção de cultivo para os olericultores amazônicos, os quais não necessitarão de maior incremento tecnológico para condução do plantio. LITERATURA CITADA CAMARGO, L. de S.A. As hotaliças e seu cultivo, 3 ed. Campinas, Fundação Cargill, 1992, 252p. FILGUEIRA, F. A. R. Novo manual de olericultura. Viçosa, Editora UFV, 2000, 369p. GRANJEIRO, L.C. et al. Produção de rúcula em hidroponia, com diferentes concentrações de cobre na solução nutritiva. Brasília, Horticultura Brasileira, v. 20, n.2, julho 2002 (suplemento 2). NARDIN, R.R.; CASTELAN, F.; CECÍLIO FILHO, A. B. Efeito da consorciação sobre as produtividades de rúcula e da beterraba estabelecida por transplantio de mudas. Brasília, Horticultura Brasileira.v.20, n.2, julho 2002 a(suplemento 2). _____________________________________________ Efeito do cultivo de rúcula e beterra estabelecida por semeadura direta, sobre as produtividades das culturas. Brasília, Horticultura Brasileira.v.20, n.2, julho 2002b (suplemento 2). REGHIN, M.Y. et al. Uso da cobertura do solo e da proteção das plantas na produção de rúcula. Brasília, Horticultura Brasileira.v.20, n.2, julho 2002 (suplemento 2). SANTOS, H.S.; ZATARIM, M.; GOTTO,R. Influência da densidade e do sistema de semeadura na produção de rúcula. Brasília, Horticultura Brasileira.v.20, n.2, julho 2002 (suplemento 2). TRANI, P.E.; FORNASIER, J.B.; LISBÃO, R. S. Cultura da rúcula. Boletim técnico do Instituto Agronômico. Campinas, Instituto Agronômico, n.146, 1992. 8p. Tabela 1. Efeito da densidade de semeio no crescimento de plantas de rúcula, cultivadas sob cobertura com filme de polietileno, em condições de alta temperatura. BelémPa. 2003. Distância entre linhas No de folhas/planta Massa de 10 plantas No de maços/m- 100 g 10 cm 5,9 a * 36,99 a 1,43 b 15 cm 7,0 a 76,26 b 2,02 a 20 cm 6,8 a 68,09 b 2,68 a * Médias seguidas da mesma letra na vertical, não diferem entre si pelo teste de Tukey- 5%