Foto: Manuela Cavadas/Acervo SEAGRI PESQUISA AGRÍCOLA Avaliação da cultura da rúcula em cultivo hidropônico Jorge de Almeida1 Carlos Alan Couto dos Santos2 Anacleto Ranulfo dos Santos3 Clovis Pereira Peixoto3 Jamile Maria da Silva dos Santos4 Jorge de Almeida Filho5 1 — Engenheiro Agrônomo, D.Sc., EBDA; e-mail: [email protected] 2 — Engenheiro Agrônomo, Doutorando UFRB; e-mail: [email protected] 3 — Engenheiro Agrônomo, D.Sc., UFRB; e-mail: [email protected]; e-mail: [email protected] 4 — Engenheiro Agrônomo, Mestranda UFRB; e-mail: [email protected] 5 — Acadêmico em Ciências Biológicas UFRB; e-mail: [email protected] A rúcula (Eruca sativa Miller) é uma hortaliça folhosa herbácea pertencente à família Brassicaceae, de rápido crescimento vegetativo, ciclo curto, porte baixo, folhas relativamente espessas, divididas, tenras com nervuras verdearroxeadas (FILGUEIRA, 2003; AMORIM et al., 2007; HENZ; MATTOS, 2008). A espécie mais cultivada no Brasil é a Eruca sativa Miller, representada principalmente pela folha larga. Também se encontram cultivos em menor escala da espécie Diplotaxis tenuifolia 106 (L.) DC. conhecida como rúcula selvática. As principais cultivares de rúcula apresentam diferenças quanto ao tipo de folha, que podem ter bordas lisas até bastante recortadas (SALA et al., 2004). Em países da Europa a rúcula é muito apreciada sendo consumida em larga escala de diferentes maneiras. No Brasil, é consumida preferencialmente na forma de salada crua e em pizzas. O mercado consumidor dessa hortaliça é muito variável e regionalizado apresentando exigências diferentes de produtos. Certas regiões preferem para o consumo in natura folhas grandes e outras apreciam folhas pequenas. Além disso, a forma de utilização dessa hortaliça também dita como deve ser seu tamanho. Para a utilização em pizzas, onde as folhas são picadas, folhas grandes são preferíveis. Para utilização em restaurantes do tipo “self service”, onde existe a necessidade de folhas que caibam dentro dos recipientes onde são servidas, “rechaud”, folhas menores são mais interessantes (PURQUERIO; TIVELLI, 2009). A hidroponia é uma técnica alternativa de cultivo em ambiente protegido, na qual o solo é substituído pela solução nutritiva, onde estão contidos todos os nutrientes essenciais ao desenvolvimento das plantas. O termo hidroponia é de origem grega: Hydro = água e Ponos = trabalho, cuja junção significa trabalho em água. As primeiras tentativas de cultivo sem solo ocorreram por volta do ano de 1700, mas a hidroponia como técnica de cultivo comercial é recente. No Brasil, ela entrou em expansão no início da década de 90, em São Paulo. Hoje é bastante difundida, principalmente, próximo a grandes centros para a produção de hortaliças folhosas (SEDIYAMA; PEDROSA, 2007). A escolha da solução nutritiva deve ser formulada de acordo com as necessidades nutricionais da espécie (FURLANI et al., 1999). O sucesso do cultivo hidropônico está diretamente relacionado à solução nutritiva, atentando para o cálculo, o preparo e manejo, pois é ela quem determina o crescimento das plantas e a qualidade do produto final (GUERRA et al. 2009; Martinez, 1999). Deve ser monitorada periodicamente e promovendo-se ajustes no pH e na condutividade elétrica. O pH das soluções em geral, deve ser mantido na faixa de 5,5 a 6,5, sendo esta a mais adequada para absorção de nutrientes, pelas espécies vegetais (MORAES, 1997; SEDIYAMA; PEDROSA, 2007). Grande parte das soluções nutritivas não tem poder tamponante, consequentemente, quando utilizadas em cultivos hidropônicos comerciais observam-se variações contínuas de pH (FURLANI ET AL.,1999). Valores muito baixos de pH podem afetar a integridade das membranas celulares, favorecendo a redução na absorção de nutrientes, como também a instalação de doenças, pelo sistema radicular das plantas. Por outro lado, níveis de pH altos podem favorecer a precipitação de fósforo, boro, manganês e ferro nas soluções nutritivas utilizadas em hidroponia (MORAES, 1997). Armstrong e Armstrong (1999) estudando os ácidos orgânicos propiônico, butírico e capróico, concluíram que níveis baixos de pH da solução nutritiva aumentam a fitotoxidez desses ácidos. Segundo Marschner (1995), o principal efeito dos ácidos orgânicos diz respeito ao seu poder de lipossolubilidade das membranas celulares, que é aumentado quando estes 107 ácidos encontram-se na forma não dissociada. Para Jackson e Taylor (1970) e Lynch (1978), esta forma não dissociada destes ácidos está intimamente relacionada como pH do meio onde se encontram, sendo que cerca de 63 a 70% destes ácidos encontram-se nesta forma a um pH de 4,5 e conseqüentemente causando fitotoxidez. A absorção de nutrientes pela raiz é afetada pelo pH ou acidez do meio, que sendo eles de valores muito baixos ou muito altos influenciam negativamente no desempenho produtivo das plantas. Diante do exposto, a utilização da hidroponia é uma atividade que requer conhecimentos técnicos sobre o manejo da cultura, da solução nutritiva e do ambiente. Nesse sentido, este trabalho teve por objetivo, avaliar a influência dos níveis de pH em solução nutritiva de Hoagland e Arnon, no desenvolvimento de rúcula em cultivo hidropônico. METODOLOGIA O estudo foi realizado em casa de vegetação e no Laboratório de Fisiologia Vegetal do Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia UFRB, localizado no município de Cruz das Almas, Bahia. A rúcula utilizada foi a cultivar “folha larga” (Eruca sativa Miller) ciclo 40 a 45. O delineamento experimental RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados obtidos demonstraram efeito significativo para as variáveis altura de haste, massa seca de folhas e área foliar, indicando que as mesmas foram influenciadas pela variação do pH das soluções nutritivas. O crescimento das plantas pode ser estudado através de medidas de diferentes tipos quais sejam, lineares, superficiais, volumétricas, peso e número de unidades estruturais, para detectar diferenças entre os tratamentos estabelecidos (BENICASA, 2004). Assim sendo, utilizou-se a medida linear altura da haste, como um dos parâmetros de avaliação. As plantas de rúcula apresentaram aumento da altura da haste à proporção em que foram aumentados os níveis de pH da solução nutritiva. A cada pH 0,5 acrescentado ocorreu aumento 0,53 cm. A altura estimada de 2,71cm foi obtida no pH máximo estudado de 6,5 da solução nutritiva, representando um acréscimo de 98 % em relação a altura da haste 1,37cm observada no pH 4,0. No que diz respeito à área foliar, foi obtida 361,63 cm2 no pH 6,5 representando um incremento de 70,4% em relação a área de 212,2cm2 observada no pH 4,0. As plantas apresentaram aumento desta variável à proporção que foram aumentados os níveis de pH da solução nutritiva. A cada pH acrescentado de 0,5 ocorreu aumento de 59,75cm2 . Quanto a massa seca de folha, foi obtido 2,34g no tratamento onde a solução tinha pH 6,5 representando um incremento de 67% em relação a massa seca de 1,40 g observada no pH 4,0. As plantas apresentaram aumento desta variável à proporção que foram aumentados os níveis de pH da solução nutritiva. A cada pH acrescentado de 0,5 ocorreu aumento de 0,3744 para esta variável. As informações das quantidades de massa da matéria seca e da área foliar de uma planta, em função do tempo, são utilizadas na estimativa de vários índices relacionados ao desempenho da mesma espécie e das comunidades vegetais cultivadas em diferentes ambientes (BRANDELEIRO et al., 2002). A massa seca é o produto final da atividade fotossintética da planta que tem como matriz a área foliar. As folhas são as principais responsáveis pela captação de energia solar e pela produção de matéria orgânica através da fotossíntese (MAGALHÃES, 1985). A área foliar de uma planta constitui a matéria prima para a fotossíntese e como tal, é muito importante para a produção de carboidratos, lipídios e proteínas (PEIXOTO, 1998). Neste trabalho de pesquisa, conclui-se que o melhor desempenho da planta de rúcula quanto a altura da haste, massa seca de folhas e área foliar aconteceu com pH 6,0 e 6,5. Trabalhos de Sediyama e Pedrosa (2007) e Moraes (1997), indicam que em geral o pH deve ser mantido 5,5 a 6,5, pois esta é a faixa mais adequada na absorção de nutrientes, para a maioria das espécies vegetais. Foto: Manuela Cavadas/Acervo SEAGRI utilizado foi inteiramente casualizado, com seis tratamentos: pH 4,0, 4,5; 5,0; 5,5; 6,0; 6,5 e quatro repetições. Cada parcela foi representada por quatro plantas, sendo uma planta por vaso. A colheita ocorreu no 45º dias após a semeadura analisando-se as variáveis: comprimento da raiz (CR), altura da haste (AH), número de folhas (NF), massa seca da folha (MSF) e área foliar (AF). Os dados obtidos foram submetidos a análise estatística, aplicando-se a regressão polinomial para interpretação dos resultados (BANZAT; KRONKA, 1995), utilizando-se o programa estatístico SISVAR (FERREIRA, 2000). 108 Referências AMORIM, H. C; HENZ, G. P.; MATTOS,L. M. Caracterização de maços de rúcula comercializados no Distrito Federal e estimativa de perdas. 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